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Dora Ribeiro

Nasceu em Campo Grande, Mato Grosso


do Sul, em 1960. Publicou os livros de
poemas Ladrilho de palavras (coedição
com Lélia Rita Figueiredo Ribeiro, 1984);
Começar e o fim (Fundação Catarinense
de Cultura, 1990); Bicho do mato (7 letras,
2000); Taquara rachada (7 letras, 2002) e
O poeta não existe (Angelus Novus-
Cotovia, Portugal, 2005). Viveu em Lisboa
entre 1983 e 2006, e mora em Pequim.
quero falar uma língua nova
principiada na carta do teu
corpo
sem escrita lúcida nem
modos genitivos

quero uma língua


já gasta
gentilizada
versada em todos os
paganismos sórdidos e
elegantes
imagino-a já enciclopédica
ruminante e
devoradora de esperas

língua sem contenção


musa de labirintos
uma
deliciosa coincidência
de bichos
ocorre quando o meu
corpo esbarra nos cantos
da tua casa
e mancha-se de negro

descubro que max ernst


tinha as mesmas fixações:
falsos animais e o arizona

uma deliciosa lembrança


pinta o teu
hálito de água e limão
e a tua mão no meu joelho
cobre toda a mudez e as
minhas melhores tenções
O mergulbo umbilical
faz parte da insubordinação de que te falo
é assunto de ser sem evitar
quer dizer conviver com a sujídade
e seus frutos
aqui aprende-se também a perplexidade
 
e o odor das coisas sem boca
como por exemplo o teu desenho de ponte
por onde passei mil anos e muitos
 
(De Começar e o fim, 1990)
o traçado do teu jardim
ignora parágrafos
para avançar nas
delicadezas do imprevisto
e da inexatidão

à procura do engenho do desejo


invoco a ingenuidade do belo:

deslizante caça dialética

Teoria do Jardim

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