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Modernismo em Portugal

Modernismo português
Começa com a publicação da Revista Orpheu em 1915.

O movimento é dividido em quatro fases:

Orfismo (1915-1927)
Presencismo (1927-1940)
Neorrealismo (1940-1974)
Surrealismo (1947-1974)
Revista Orpheu
Teve apenas duas edições.
Mario Sá-Carneiro
Nasceu em Lisboa, no dia 19
de maio de 1890. Cometeu
suicídio em um hotel em
Nice, na França, no dia 26 de
abril de 1926.
Considerado um dos maiores
escritores da literatura
portuguesa. Em sua obra,
temas como a melancolia e o
descontentamento são
recorrentes.
Dispersão
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida


Um astro doido a sonhar,
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,


Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
[...]
Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa a 13
de junho de 1888. Perdeu o pai aos 5 anos. Viajou com a
mãe e o padrasto para a África do Sul ainda criança e viveu
por lá parte de sua adolescência.
Trabalhou como tradutor e publicou em vida apenas dois
livros: “35 sonnets” e “Mensagem”. Este apresenta o glorioso
passado de Portugal e tenta encontrar um sentido para a
antiga grandeza e a decadência existente no seu país na
época.
Outra obra de Pessoa, publicada postumamente, foi
Cancioneiro, na qual são explorados temas, como solidão,
saudade, infância, vida, arte, tédio, ceticismo.
Pessoa faleceu em 30 de novembro de 1935.
Ortônimo e Heterônimos
No dia 8 de março de 1914, Fernando Pessoa deu origem a
três diferentes poetas: um mestre bucólico (Alberto
Caeiro), um neoclássico estoico (Ricardo Reis) e um poeta
futurista (Álvaro de Campos).
Ele afirma: “E tudo me parece que fui eu, criador de tudo,
o menos que ali houve”.
O objetivo dos heterônimos era formar em si uma unidade:
“Sentir tudo de todas as maneiras, Viver tudo de todos os
lados, Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao
mesmo tempo, Realizar em si toda a humanidade de todos
os momentos Num só momento difuso, profuso, completo
e longínquo”.
Estilo de Fernando Pessoa - Ortônimo

Características Temáticas

Consciência do absurdo da existência;


Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência,
sonho/realidade;
Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade,
esperança/desilusão;
Antissentimentalismo: intelectualização da emoção;
Estados negativos: solidão, ceticismo, tédio, angústia,
cansaço, desespero, frustração;
Inquietação metafísica, dor de viver;
Autoanálise.
Características Estilísticas

Musicalidade: aliterações;
Verso, geralmente, curto (2 a 7 sílabas métricas);
Linguagem simples mas muito expressiva (cheia de
significados escondidos);
Comparações, metáforas originais, paradoxos;
Uso de símbolos;
É fiel à tradição poética “lusitana” (quadra popular).
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Alberto Caeiro
O Pai dos heterônimos, o “mestre”.
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa, em abril de 1889, e
na mesma cidade faleceu, tuberculose, em 1915. Passou quase a
vida inteira numa quinta de Ribatejo. Lá escreveu O Guardador
de Rebanhos e uma parte de O Pastor Amoroso, que não foi
completado. No mesmo local, escreveu ainda alguns poemas
de Poemas Inconjuntos, vindo este a se completar já em Lisboa,
quando lá o autor voltou, já no final da vida.
Caeiro faz uma poesia da natureza, uma poesia dos sentidos, das
sensações puras e simples. Foi por isso que procurou, na serra,
sentir as coisas simples da vida com maior intensidade.
Características temáticas

Objetivismo;
Sensacionismo;
Antimetafísico (recusa do conhecimento das coisas);
Panteísmo naturalista (adoração pela natureza).
Características estilísticas

Verso livre, métrica irregular;


Linguagem simples, familiar;
Pontuação lógica;
Predomínio do presente do indicativo;
Frases simples;
Predomínio da coordenação;
Comparações simples e raras metáforas.
Guardador de rebanhos
Álvaro de Campos

Álvaro de Campos, nasceu em Tavira no dia 15 de outubro de


1890. Teve uma educação de Liceu comum qualificada de vulgar
pelo próprio Fernando Pessoa. Posteriormente, foi para a Escócia
estudar engenharia, primeiro mecânica, e depois naval.
Entre todos os heterônimos, Campos foi o único a manifestar
fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Começa a sua
trajetória como um decadentista (influenciado pelo Simbolismo),
mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista.
Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia
niilista ou intimismo.
Características temáticas

Decadentismo - cansaço, tédio, busca de novas


sensações;
Futurismo - corte com o passado, exprimindo em arte o
dinamismo da vida moderna. O vocabulário
onomatopaico pretende exaltar a modernidade;
Sensacionismo - corrente literária que considera a
sensação como base de toda a arte;
Pessimismo – última fase.
Características estilísticas

Verso livre;
Assonâncias, onomatopeias, aliterações;
Grafismos expressivos;
Mistura de níveis de língua;
Enumerações excessivas, exclamações, interjeições,
pontuação emotiva;
Estrangeirismos, neologismos;
Subordinação de fonemas;
Construções nominais, infinitivas;
Metáforas ousadas, paradoxos, personificações, hipérboles.
Ode Triunfal

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!(...)”
Tabacaria

Não sou nada.


Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe
quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos
homens [...]
Ricardo Reis

O Heterônimo Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto,


Portugal, no dia 19 de setembro de 1887.
Estudou em colégio de jesuítas e formou-se em Medicina.
Era monarquista e exilou-se no Brasil, em 1919, por
discordar da Proclamação da República Portuguesa. Foi
profundo admirador da cultura clássica, tendo estudado
latim, grego e mitologia.
Características temáticas

Epicurismo - procura do viver do prazer;


Estoicismo - crença de que o Homem é insensível a todos
os males físicos e morais;
Horacionismo - seguidor literário de Horácio;
Paganismo - crença em vários deuses;
Neoclacissismo - devido à educação clássica e estudos
sobre Roma e Grécia antigas.
Características estilísticas

Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita


corresponde uma expressão perfeita;
Forma métrica: ode;
Estrofes regulares em verso decassílabo;
Verso branco;
Recurso frequente à assonância, à rima e à aliteração;
Uso frequente do hipérbato;
Uso frequente do gerúndio e do imperativo;
Uso de latinismos;
Metáforas, eufemismos, comparações;
Estilo construído com muito rigor e muito denso.
Segue o Teu Destino

Segue o teu destino,


Suave é viver só.
Rega as tuas plantas,
Grande e nobre é sempre
Ama as tuas rosas.
Viver simplesmente.
O resto é a sombra
Deixa a dor nas aras
De árvores alheias.
Como ex-voto aos deuses.
A realidade
Mas serenamente
Sempre é mais ou
Imita o Olimpo
menos
No teu coração.
Do que nos queremos.
Os deuses são deuses
Só nós somos sempre
Porque não se pensam.
Iguais a nós-proprios.
Bernardo Soares

Bernardo Soares é ajudante de guarda-livros na cidade de


Lisboa.
É Fernando Pessoa quem aponta Bernardo Soares como
semi-heterônimo. «É um semi-heterônimo porque, não
sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha,
mas uma simples mutilação dela», escreve na Carta a
Adolfo Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935.
Livro do Desassossego

“Invejo — mas não sei se invejo — aqueles de quem se


pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a
própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo,
narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos,
a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se
nelas nada digo, é que nada tenho que dizer.”

“Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas,


ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes
encantados podem passear nos seus parques entre
mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico
reverso. Crochet das coisas... Intervalo... Nada...”

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