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DO CONTRATO DE MANDATO

• Noções Introdutórias
 
Contrato de Mandato é aquele por meio do qual uma das partes
outorga poderes à outra para que esta pratique atos ou
administre interesses em nome da primeira.
 
A base do contrato de mandato repousa na figura da
representação, instituo afeto à parte geral do Direito Civil (arts.
115 ao 120). É que o mandato ensejará aquilo que se denomina
representação convencional, não se confundindo com a
representação legal, que é aquela operada por pais, tutores e
curadores.
 
O mandato pode decorrer de ofício de profissão (despachante,
advogado, representante comercial, etc), ou não.
• Partes no Contrato de Mandato
No contrato de mandato as partes serão o mandante, aquele que outorga
poderes, e mandatário, aquele que se compromete a praticar atos ou
administrar interesses do mandante.

• Natureza Jurídica
O contrato de mandato pode se manifestar como um contrato unilateral
ou bilateral. Será unilateral se for um mandato não remunerado, caso em
que apenas ao mandatário caberá o cumprimento da obrigação de
representar o mandante. Será bilateral, quando for estipulada alguma
remuneração para o mandatário. Desse modo, caberá ao mandante pagar
a remuneração ao mandatário e a este, por sua vez, caberá a obrigação de
representar o mandante.
Poderá ser considerado um contrato ainda gratuito ou oneroso,
dependerá mais uma vez da remuneração a ser acertada ou não. Podendo
ser consensual, com simples consenso das partes e intuito personae, se
for para determinada pessoa a execução do que lhe foi confiado.
• Da Procuração

A procuração, conforme preceitua a parte final do art. 653 CC, é o instrumento


do mandato. Não se pode confundir a procuração com o mandato. O mandato é
o contrato, enquanto a procuração, o modo pelo qual o contrato se
instrumentaliza.
Como o mandato é um contrato, há nele um acordo de vontades. Já a
procuração não é um contrato, sendo apenas um negócio jurídico unilateral, pois
contém apenas a vontade do mandante, sendo, pois, ato dispensável, enquanto
o mandato pode ocorrer até mesmo tacitamente (art. 659, CC).
Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento
particular, que valerá desde que tenha assinatura do outorgante (art. 654, CC).
Desse modo, os absoluta e relativamente incapazes, desde que representados e
assistidos, poderão outorgar mandato, desde que escritura pública.
Quanto ao instrumento particular, este deverá conter a indicação do lugar onde
foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da
outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos, sendo que o
terceiro com quem o mandatário poderá exigir que a procuração traga a firma
reconhecida.
• Do Substabelecimento

O substabelecimento ocorre quando o mandatário


transfere os poderes que lhe foram outorgados a um
terceiro, podendo manter-se como mandatário ou afastar-
se de tal condição.
O substabelecimento poderá ocorrer com ou sem reserva
de poderes. Se houver o substabelecimento com reserva
de poderes, tal ato significará a conservação dos poderes
ao substabelecente ao mesmo tempo em que são
transferidos poderes ao substabelecido. Se o
substabelecimento for sem reserva de poderes, o
substabelecente se retirará da representação transferindo
por completo os poderes ao substabelecido.
• Modalidades de Mandato
– Quanto ao Procurador
Mandato Singular: os poderes são doados a um único
procurador.
Mandato Plural: os poderes são conferidos a mais de um
procurador. Poderá se manifestar das formas adiante descritas:
Mandato Conjunto: os procuradores poderão somente agir
conjuntamente, ou seja, a prática de todos os procuradores.
Mandato Solidário: os procuradores poderão agir
isoladamente em nome de todos.
Mandato Fracionário: cada procurador tem uma fração de
poder e atuação perfeitamente delimitada.
Mandato Sucessivo: deve ser observada uma ordem de
nomeação para que os procuradores possam agir.
• Quanto à Extensão
Mandato Geral: é o mandato que envolve todos os negócios do mandante.
Mandato Especial: é o mandato que envolve determinado negócio do mandante.
• Quanto ao Conteúdo
Mandato em termos gerais: é aquele em que os poderes são outorgados para a prática
de atos genéricos de administração (art. 661, caput, CC).
Mandato com Poderes Especiais: é aquele em que são outorgados poderes para alienar,
hipotecar, transigir ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem a administração
ordinária. (art. 661, § 1º, CC).
• Quanto à Finalidade
Mandato ad negotia: é aquele em que o mandatário atuará fora da esfera judicial.
Mandato ad judicia: é aquele em que o mandatário atuará dentro da esfera judicial. De
acordo com o art. 692, CC “o mandato judicial fica subordinado as normas que lhe dizem
respeito, constantes da legislação processual e supletivamente, às estabelecidas neste
Código”.
Mandato em Causa própria: é aquele em que o mandatário age para si próprio, podendo
celebrar um negócio com ele mesmo. Exemplo: mandato concedido pelo promitente-
vendedor de um imóvel em contrato de promessa de compra e venda cujo valor já foi
integralmente pago, para que o promitente adquirente atue em seu nome (alienante),
celebrando contrato definitivo e providenciando o registro junto ao cartório.
• Direitos e Obrigações do Mandatário
• As obrigações do mandatário estão previstas nos arts.
667 a 674 do Código Civil e são as que seguem:
– Primeiramente, o mandatário é obrigado a aplicar toda sua
diligência habitual na execução do mandato, bem como agir
em nome do mandante em estrita observância aos poderes
e instruções recebidos (art. 667, primeira parte, CC).
– É obrigado o mandatário a informar constantemente seu
mandante sobre tudo que se passa acerca da
representação, mormente acerca das obrigações e riscos
assumidos.
– O mandatário é responsável pelo substabelecimento dos
poderes que recebeu do mandante, de acordo com as
circunstâncias do caso.
– O mandatário é obrigado a apresentar o instrumento de
mandato a terceiros com quem tratar em nome do mandante.
O terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatário,
com ele celebrar negócio jurídico exorbitante, não tem ação
contra o mandatário, salvo se esse lhe prometeu ratificação do
mandante ou se responsabilizou pessoalmente pelo ato
praticado fora do alcance do mandato (art. 673, CC).
– Deve o mandatário também enviar ao mandante a soma das
quantias que recebeu em seu nome. Caso tenha o mandatário
empregado referidas somas em seu proveito próprio, deverá
restituir ao mandante o importe principal acrescido de juros
desde o momento do abuso (art. 670, CC).
– O mandatário é obrigado a prestar contas de sua atuação ao
mandante, transferindo-lhe qualquer vantagem que tenha
obtido com a gerência, a que título seja.
– Está proibido o mandatário de compensar os prejuízos a
que deu causa com os proveitos que, por outro lado,
tenha granjeado ao seu constituinte. Isso, pois, como já
estudado nesta obra, a compensação exige a existência
de créditos recíprocos, líquidos e exigíveis, o que não
ocorre no mandato, haja vista que os créditos são de
titularidade do mandante e não do mandatário (art. 669,
CC).
– O mandatário também é obrigado a representar o
mandante por dez dias subsequentes à notificação de sua
renúncia, de modo a lhe evitar prejuízos (art. 112, CPC).
– Por fim, frisa-se que embora ciente da morte, interdição
ou mudança de estado do mandante, deve o mandatário
concluir o negócio já começado, se houver perigo na
demora.
• Direitos e Obrigações do Mandante
• O mandante também possui obrigações relacionadas ao
contrato de mandato, conforme disposto nos arts. 675 e 681
do Código Civil.
• A primeira e mais importante obrigação do mandante é
satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário,
na conformidade do mandato conferido, e adiantar a
importância das despesas necessárias à execução dele,
quando o mandatário lho pedir. Na hipótese em que não
forem adiantadas as despesas ao mandatário, poderá
ocorrer a renuncia ao mandato.
• Está obrigado o mandante, também, a remunerar os
serviços prestados pelo mandatário, todas as vezes que
assim ficar pactuado, mesmo que o negócio não tenha
surtido os efeitos esperados.
• O mandante é obrigado, também, a reembolsar todas as
despesas incorridas com a execução do mandado, na
hipótese de não adiantamento. Além destas despesas, está
o mandante obrigado a reembolsar o mandatário as somas
adiantadas, para a execução do mandato, com acréscimo
de juros desde a data do desembolso. O mandatário
poderá, na hipótese de não pagamento das despesas por
parte do mandante, exercer direito de retenção sobre a
coisa de que tenha a posse em virtude do mandato.
• Pode ocorrer que durante a execução do mandato sofra o
mandatário determinadas perdas, conhecidas como ad
mandantum, que deverão ser indenizadas pelo mandante,
desde que não resultem de culpa do mandatário ou
excesso de seus poderes (art. 678, CC).
• Mesmo que o mandatário contrarie as instruções que
lhe foram passadas pelo mandante, caso não reste
configurado excesso de poderes está obrigado a
respeitas as relações jurídicas travadas pelo
mandatário com terceiros, hipótese que lhe socorrerá
ação contra o mandatário por perdas e danos
decorrentes da inobservância das instruções.
• Na hipótese de o mandato ser outorgado por dois ou
mais mandantes para negócio comum, cada um deles
ficará solidariamente responsável ao mandatário por
todos os compromissos e efeitos do mandato. O
mandante que pagar sozinho as quantias terá ação de
regresso contra os demais mandantes.
• Da Extinção do Mandato
 O contrato de mandato pode ser extinto nas seguintes
hipóteses:
 Revogação (resilição por parte do mandante);
 Renúncia (resilição por parte do mandatário);
 Morte ou interdição de uma das partes;
 Mudança no estado que inabilite o mandante a
conferir os poderes ao mandatário;
 Término do prazo ou conclusão do negócio.
• O contrato de mandato extingue-se pela revogação, hipótese na
qual o mandante, total ou parcialmente, cancela os poderes
outorgados ao mandatário de forma unilateral.
• Para que ocorra a revogação de forma válida, essencial que o
mandatário e terceiros interessados sejam cientificados do ato, que,
uma vez efetivado, passa ao próprio mandante a gestão do negócio.
• A renúncia por parte do mandatário também dá ensejo à extinção
do contrato em comento, hipótese na qual deverá ser o ato
comunicado ao mandante de modo a lhe possibilidade substituir o
mandatário sem qualquer prejuízo.
• Na eventualidade do mandante ser prejudicado pela sua
inoportunidade da renúncia, ou pela falta de tempo, a fim de prover
a substituição do procurador, será indenizado pelo mandatário. Este,
contudo, não deverá prestar indenização se provar que não podia
continuar no mandato sem prejuízo considerável, e que não lhe era
dado substabelecer (art. 688, CC).
• A morte de qualquer dos contratantes também
acarreta a extinção do mandato, por ser típico
contrato personalíssimo. São, contudo, válidos os atos
com que o mandatário ajustar com terceiros
contratantes de boa-fé, enquanto ignorar a morte do
mandante.
• Se falecer o mandatário, pendente o negócio a ele
cometido, os herdeiros que tenham ciência do
mandato, avisarão o mandante, e resguardarão os
seus interesses. A atuação dos herdeiros, contudo,
será limitada à conservação da situação, não sendo
obrigados a dar continuidade aos negócios. O
contrato de mandato também se extingue pela
interdição de qualquer das partes.
• A mudança de estado que inabilite o mandante
a conferir os poderes, ou o mandatário de os
exercer também acarreta a extinção do
contrato, haja vista a impossibilidade física no
exercício da representação.
• Caso o mandato tenha prazo determinado, será
extinto no termo.
• A conclusão do negócio, por consequência
lógica, enseja a extinção do mandato, que não
mais terá objeto.
• Causas de irrevogabilidade do mandato
• O Código Civil traz algumas circunstâncias que impedem seja
o mandato revogado por parte do mandante.
• Nesse sentido, sabe-se que caso haja no mandato cláusula
de irrevogabilidade, o mandante não poderá revogar os
poderes outorgados (art. 683, CC). Inobstante a proibição,
caso o mandante venha a revogar o mandato, tendo em
vista que ninguém pode ser obrigado a manter-se em uma
relação jurídica contra sua vontade, deverá prestar perdas e
danos ao mandatário, bem como a remuneração que houver
sido ajustada.
• Entretanto, quando a cláusula de irrevogabilidade for
condição determinante de um negócio bilateral, ou tiver
sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a
revogação do mandato será ineficaz (art. 684, CC).
• Se o mandado foi conferido em causa própria, sua
revogação será ineficaz e não se extinguirá pela morte
de qualquer dos contratantes, ficando o mandatário
dispensado de prestar contas e podendo transferir para
si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato,
obedecidas as formalidades legais.
• A revogação do mandato notificada somente ao
mandatário não surte efeitos a terceiros que, ignorando-
a, de boa-fé, trataram com o mandatário. Nesta
hipótese, ficam salvas ao constituinte as ações que no
caso lhe possam caber contra o procurador. É, contudo,
irrevogável o mandato que contenha poderes de
cumprimento ou confirmação de negócios iniciados pelo
mandatário ou mandante, aos quais se ache vinculado.

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