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Pensamento Contrafactual e Julgamento de

Intencionalidade em leitores com diferentes


perspetivas

Tese submetida como requisito parcial


para a obtenção do grau de: Mestre em Aluna: Maria Deserto – Nº 20027
Psicologia
Especialidade: Psicologia Clínica Orientadora da Dissertação:
Ano: 2021 Professora Doutora Ana Cristina Quelhas
Coordenadora do Seminário de Dissertação:
Professora Doutora Ana Cristina Quelhas
Pensamentos Contrafactuais
Alternativas imaginadas para uma situação passada, vivida
ou observada, que concorrem para um outro desfecho final,
que elimina, substitui ou distorce os seus antecedentes
temporais ou causais (Roese & Olson, 1993), comparando
aquilo que foi com o que poderia ou deveria ter sido
(McEleney & Byrne, 2000).
“Se ele não tivesse
Proposição condicional que terá como falso o seu embarcado naquele avião
antecedente (Byrne & Quelhas, 1999). então ele estaria aqui”
Surgem cedo na vida e continuam a desenvolver-se ao longo
da infância (Byrne, 2005).

Fenómeno transcultural (Gilovich, Wang, Regan, & Nishina, 2003).


Os primeiros estudos : Lógicos e Psicólogos
(Mandel, Hilton & Catelani, 2005).
Atribuição de Culpa Intencionalidade
A atribuição de culpa depende da sua
interação com a valência do resultado As habilidades que
permitem a deteção
(Knobe, 2003).
de conteúdo
A culpa pode ser dissociada da ação do intencional, são
agente (Knobe, 2003, b). construídas por meio
da experiência de
mundo dos bebés
(Malle, 2003).

Realizar uma ação intencional, requer que se tenha pelo menos uma perceção
consciente mínima do que se está a fazer. Tal perceção é mais sutil e específica do
que a mera vigília consciente (Malle & Knobe , 1997).

Uma ação com resultado negativo, representa um dilema. A meta é positiva


enquanto o resultado é negativo e, em um dilema o protagonista faz escolhas
entre prioridades. E por avaliarem que existe essa possibilidade de escolha, as
pessoas tendem a julgar que a ação com resultado negativo foi intencional e que
a ação com resultado positivo não foi intencional, por não apresentar um dilema
(Ndubuisi & Byrne, 2013).
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas - Estudo
Objetivos do estudo - Analisar, como as pessoas, em diferentes perspetivas - Turista, Residente e Neutro
– atribuem elogio e culpa, e julgam a intencionalidade do dirigente da comunidade, relacionada aos
resultados positivos de ajuda, e aos resultados negativos de prejuízo do ambiente.
Dilema, replicado do estudo de Ndubuisi e Byrne (2013) - Intentionality and Choice, inspirado nos
estudos de Knobe (2003a) - Intentional action in folk psychology: An experimental investigation.
Tema utilizado - A exploração do lítio - um tema de cariz nacional ecológico, atual e polémico, devido ao
grande impacto que a exploração desse metal provoca no meio ambiente.
  Participantes - 90 adultos, voluntários, devidamente informados, com idades compreendidas entre os
17 e 73 anos, ( = 42; S`= .15), dos quais 56, 7% (51), eram do género feminino e 43,3% (39), do género
masculino. Habilitações literárias: ensino obrigatório = 6,7%, ensino secundário ou equivalente = 21,1%,
licenciatura = 48,9%, mestrado = 17,8% e doutoramento = 5,6%.
Delineamento do estudo - Desenho fatorial 3 X 2: 3 perspetivas : (turista, residente e neutro) X 2
situações (positiva e negativa). A variável Perspetiva é entre participantes e a variável Situação é Intra
participantes. Foram definidas as seguintes variáveis dependentes: atribuição de elogio. Julgamento de
Intencionalidade, atribuição de culpa.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas
Hipóteses Gerais Hipóteses especificas – Situação de ajuda ao
H:1 Espera-se que os participantes,
ambiente
independente da sua perspectiva, julguem que
H:3 Espera-se que o Turista apresente um
o Presidente prejudicou intencionalmente o
resultado para intencionalidade na situação de
ambiente, mais do que ajudou
ajuda, inferior aos grupos Residente e Neutro.
intencionalmente o ambiente, para a situação
de ajuda.
H:4 Espera-se que o Turista apresente um
resultado para a atribuição de elogio, inferior aos
H:2 Espera-se que os participantes,
grupos Residente e Neutro.
independente da sua perspectiva, atribuam
mais culpa para o resultado negativo do que
de elogios para o resultado positivo. Pensamos que o Turista, terá as suas expectativas
frustradas, uma vez que aprecia a paisagem local natural
de vale Formoso e mesmo que ela seja reconstruída, para ele
não será a mesma de antes das obras e, portanto, terá
dificuldade em considerar que a ajuda do Presidente na
reconstrução, foi uma ajuda intencional, porque vai
lembrar que a paisagem original foi destruída mesmo que
depois tenha sido reconstruída.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas
Hipóteses especificas – Situação de prejuízo do Análise dos Pensamentos Contrafactuais
ambiente
Relativamente à sua Estrutura (aditiva, subtrativa
H:5 Espera-se que o grupo Residente, apresente um e substitutiva), e Direção (ascendente,
resultado superior aos grupos Turista e Neutro, e
descendente e indefinida ( indeterminada).
julgue mais que os outros, que o Presidente prejudicou
intencionalmente o ambiente.
Com o objetivo de perceber se os sujeitos nas
H.6 Espera-se que o grupo Residente apresente um diferentes perspetivas, focam aspetos diferentes
resultado superior aos grupos Turista e Neutro para a a partir das avaliações dos resultados das duas
atribuição de culpa. decisões tomadas pelo Presidente da
comunidade.
Pensamos que o grupo Residente, apesar do
interesse na criação dos postos de trabalho, será
o grupo mais diretamente afetado pelas obras e
pelos efeitos deletérios resultantes das mesmas,
e também pelo prejuízo que a comunidade terá
com a perda das atividades turísticas.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em leitores com
diferentes perspetivas
Material e procedimento
Orientações específicas
Orientação do grupo Turista: “Imagine agora que é um Turista, e que
Dois cenários hipotéticos de frequenta com a sua família, a cada dois anos, um lugar chamado Vale
“ajuda” e “prejuízo” Formoso. É para si um lugar de sonho, onde sente estar em harmonia com a
natureza para além de adorar fotografar as belezas naturais daquele lugar. Hoje,
Os participantes foram
distribuídos aleatoriamente
quando está a planear a próxima viagem, lê esta história num noticiário:”
nos respetivos grupos,
receberam e leram duas Orientação do grupo Residente: “Imagine agora que é residente de um lugar
versões das histórias de forma chamado Vale Formoso. É para si um lugar bom de morar, tanto pelas suas
contrabalançada na sua belezas naturais, como pela sua riqueza mineral, que se for explorada, dará
ordem de apresentação. empregos aos moradores da região. Agora, quando está a jantar com a família,
vê no noticiário o seguinte relato:”
Eram duas histórias curtas,
antecedidas da orientação
para lerem cuidadosamente,
Orientação do grupo Neutro: “De seguida, irá ler uma história sobre um lugar
respondendo às perguntas chamado Vale Formoso, conhecido tanto pelas suas belezas naturais, como pela
na ordem em que foram riqueza mineral, que se for explorada, dará empregos aos moradores da
dadas e completarem todas região.”
as questões antes de
passarem para a próxima.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em leitores com
diferentes perspetivas Cenário de “prejuízo” - resultado negativo ( 3º e 4º parágrafos)
Cenário de “ajuda” - resultado positivo No entanto, o Presidente acrescentou: “Eu não tenho nenhum
O Presidente da comunidade de Vale formoso, comunicou desejo de afetar o ambiente, mas não será possível
que decidiu assinar um contrato de concessão para a minimizar a destruição das áreas florestais com a adoção
exploração de lítio, cujo objetivo é criar "cerca de 370 postos de medidas de recuperação ambiental e paisagística,
de trabalho, com mão de obra local, até 2021”. porque não há dinheiro”.

Disse ter conhecimento do estudo sobre o impacto Avançou-se então para a exploração do lítio em Vale
ambiental na região, e considerou que: "a maioria dos Formoso, e com a ausência de medidas de recuperação, o
impactos sobre a paisagem, decorrentes das fases de ambiente foi prejudicado.
preparação e exploração, seriam negativos e contribuiriam Questões apresentadas:
para a degradação do terreno, e no impacto visual”, “Nessa história, determine quanto elogio/Culpa o
(inviabilizando as atividades turísticas). presidente merece pelo que fez”
No entanto, o Presidente acrescentou: “Eu não tenho “Responda o quanto acha que o presidente
nenhum desejo de prejudicar o ambiente e é possível ajudou/prejudicou intencionalmente o ambiente”
minimizar a destruição das áreas florestais com a adoção
de medidas de recuperação ambiental e paisagística”. Os participantes indicaram a quantidade de culpa, elogio e
intencionalidade numa escala de 7 pontos ancorando o 0
Avançou-se então para a exploração do lítio em Vale em [nenhuma culpa e elogio] e o 6 em [muita culpa e
Formoso, e com as medidas de recuperação adotadas, o muitos elogios]. O 0 em [não intencional] e o 6 em
ambiente foi ajudado. [intencional].
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas
Após a leitura da história, foram instruídos a
Codificação dos Contrafactuais e Acordo
completarem com os pensamentos que lhes viessem
inter-juízes
à cabeça, as frases iniciadas com “Se…, então...”

Foi dada a seguinte instrução: Após uma análise de conteúdo, com o objetivo de
classificar em categorias as respostas dadas pelos
Perante situações deste género, as pessoas muitas participantes, As respostas, foram codificadas por
vezes imaginam que: “Se algo tivesse acontecido dois juízes e um terceiro juiz foi convidado para
de maneira diferente, então o resultado classificar os contrafactuais que suscitaram dúvidas,
também teria sido diferente”. Que criando-se ao final do acordo inter-juízes, três
pensamentos desse tipo lhe ocorrem sobre a categorias para a Estrutura: aditiva = 1, subtrativa =
história que acabou de ler? No espaço em 2, substitutiva= 3 e três categorias para a
baixo escreva por favor um pensamento desse Direção: ascendente=1,descendente=2 e indefinida
tipo que lhe ocorra a propósito da situação que (indeterminada)= 0
leu, seguindo o modelo “Se…então” …, ou seja,
Se algo tivesse sido diferente, então o resultado
teria sido…
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas - Resultados
Resultados das hipóteses gerais:

H:1 Não existem diferenças estatisticamente significativas para o


julgamento de intencionalidade na situação de prejuízo entre os
grupos em estudo: (F (2;87) =2,647; p=0,077; ή2=0,057).

Os resultados obtidos sustentam a hipótese de que os


participantes nas três perspetivas julgaram que o Presidente
prejudicou intencionalmente o ambiente, mais do que o ajudou
intencionalmente.

H:2 Existem diferenças significativas entre, pelo menos, dois dos


grupos em estudo, para a variável atribuição de culpa na situação
de prejuízo: (F (2;52,604) =4,827; p=0,012; ή2=0,072).

Os resultados obtidos, sustentam a hipótese de que os


participantes, independentemente da sua perspectiva, atribuiriam
valores mais elevados de culpa para o resultado negativo do
que de elogios para o resultado positivo.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade
em leitores com diferentes perspetivas - Resultados
Hipóteses especificas – Situação de ajuda ao ambiente
H:3 Não existem diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos em estudo para a variável julgamento de
intencionalidade na situação de ajuda: (F (2;87) =3,040;
p=0,053; ή2=0,065).
Embora não existam diferenças estatisticamente significativas,
o Turista apresentou uma média com tendência de
julgamento de intencionalidade pela ajuda, inferior aos
grupos Residente e Neutro, como esperado na hipótese.

H.4 Existem diferenças estatisticamente significativas entre, pelo


menos, dois dos grupos em estudo para a variável elogio na
situação de ajuda:(F (2;87) =3,634; p=0,031; ή 2=0,078).
O Turista apresentou uma média com tendência para a
atribuição de elogio, inferior aos grupos Residente e Neutro,
como esperado na hipótese.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas - Resultados
Valores cruzados da Atribuição de elogio e Intencionalidade na
situação de ajuda
26% dos participantes, afirmam que o 27% dos participantes, afirmam que a ajuda do
Presidente não merece elogio (nível 0) Presidente não foi intencional (nível 0)

6,7% (nível 1) 7,8% (nível 1)


13,3% (nível 2) 11,1% (nível 2)
12,2% (nível 3) 20,0% (nível 3)
16,7% (nível 4) 11,1% (nível 4)

Para 49% o Presidente merece pouco Para 50% a ajuda do Presidente foi pouco
elogio intencional
O Turista, elogiou muito menos que o Apenas 11% (10 pessoas), afirmaram que o
Neutro e, elogiou menos que o Residente. Presidente, ajudou intencionalmente o ambiente
(nível 6)
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas - Resultados
Hipóteses especificas – Situação de prejuízo do ambiente:
H.5 Existem diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos em estudo para o julgamento de intencionalidade na
situação de prejuízo, (F (2;87) =2,647; p=0,077; ή2=0,057).

O Residente não apresentou os valores mais elevados, de


julgamento de intencionalidade para a situação de prejuízo do
ambiente, como esperado na hipótese, no entanto, apresentou
valores máximos de julgamento de intencionalidade iguais ao
Neutro.
H.6 Existem diferenças estatisticamente significativas para a
atribuição de culpa, na situação de prejuízo, entre pelo menos,
dois dos grupos em análise (F (2;52,604) =4,827; p=0,012;
ή2=0,072). O Residente não apresentou um resultado superior
aos demais grupos como esperado na hipótese, no entanto,
apresentou valores elevados de culpa iguais ao Turista.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas - Resultados

Valores cruzados da Atribuição de Culpa e Intencionalidade na situação de


prejuízo

51,1% dos participantes 47% dos participantes


atribuíram ao Presidente julgaram que o prejuízo foi
Muita Culpa Intencional
pelo prejuízo
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas - Resultados
Análise da estrutura dos pensamentos contrafactuais nas três perspetivas
A estrutura aditiva foi a mais produzida, nos três grupos
tanto para o a resultado positivo ( de ajuda = 41%), quanto para
o resultado negativo (de prejuízo = 46%). O Residente realizou
mais contrafactuais Aditivos para o resultado positivo (18%),
e o Neutro realizou mais contrafactuais Aditivos para o
resultado negativo (18%).

A estrutura subtrativa, foi a segunda mais produzida com


38% para o a resultado positivo e 30% para o resultado
negativo. O Turista obteve percentuais mais elevados tanto
para o resultado positivo (17%), quanto para o resultado
negativo (14%).

A estrutura substitutiva, foi a terceira estrutura produzida, , com


20% para o resultado positivo (de ajuda) e 23% para o resultado
negativo (de prejuízo. O Residente obteve os percentuais mais
elevados, de 9% na situação de ajuda e 12% na situação de
prejuízo.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas – Resultados
Análise da direção dos pensamentos contrafactuais nas três perspetivas

A direção ascendente, foi majoritária nos três grupos, com 59%


para o resultado positivo e 85% para o resultado negativo.

A direção descendente, em segundo lugar, respondeu por 40%


dos contrafactuais para o resultado positivo e 13% para resultado
negativo.

A direção indefinida (indeterminada) foi produzida apenas pelo


grupo Neutro com 3%.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas – Resultados

Valores cruzados da Estrutura e Direção dos Pensamentos


Contrafactuais

O Turista produziu o maior número de PCFs


subtrativos ascendentes para o resultado negativo
(35%)
e subtrativos descendentes para o resultado
positivo(39%).

A violação da expectativa pode ser um determinante


da ativação contrafactual (Roese & Olson, 1995;
Sanna & Turley, 1996). Nessa perspectiva, o Turista,
estava a planear as suas férias, quando tomou
conhecimento das obras pelo noticiário.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas – Discussão dos resultados
Os resultados foram consistentes com a O resultado prejudicial foi julgado intencional, mesmo quando
proposta de que num dilema, as pessoas os participantes tiveram a oportunidade de culpar o
protagonista, ou de outra forma atribuir responsabilidade ao
tendem a julgar que houve
protagonista separadamente (Knobe 2003 b).
intencionalidade para o resultado negativo
(situação de prejuízo), mas que não houve O resultado prejudicial foi julgado intencional, mesmo quando o
intencionalidade para o resultado positivo protagonista não foi julgado culpado (Sverdlik, 2004).
(situação de ajuda) (Ndubuisi & Byrne,
2013). O protagonista recebeu mais elogios e mais culpa pelas ações
consideradas intencionais do que pelas ações consideradas não
Resultados encontrados: intencionais (Shaver, 1970).
Os níveis de culpa atribuídos ao Presidente,
seguiram os níveis de julgamento de No cômputo geral, quem mais
intencionalidade pelo prejuízo. Independente reconheceu a ajuda do Presidente como
da perspetiva, as pessoas atribuíram mais
intencional foi o grupo Neutro. Isso
culpa ao presidente pelo prejuízo do que
elogios pela ajuda e julgaram que o prejuízo
poderia ser explicado pelo distanciamento
pelo resultado negativo foi mais intencional do do Neutro da situação local ou pela falta
que a ajuda. de expectativas em relação à situação.
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em
leitores com diferentes perspetivas – Discussão dos resultados
Procuramos explicar através de teorias sobre atribuição de culpa e intencionalidade, em que medida, a
valência do resultado modulou os julgamentos de intencionalidade e quais foram as semelhanças
encontradas relacionadas com os resultados obtidos relativamente às atribuições de elogio e culpa:

Na relação entre elogio, culpa e


intencionalidade, os resultados obtidos Embora a atribuição de culpa tenha sido
revelaram que a culpa pelo resultado negativo, elevada nos três grupos, o grupo Residente
teve valores mais homogéneos e mais não apresentou os valores mais elevados na
elevados que o elogio pelo resultado positivo, atribuição de culpa. Culpou igual ao Turista.
corroborando as seguintes afirmações:
Os resultados podem ser demonstrativos de
A culpa é máxima quando um agente
uma tendência que pode estar relacionada
poderia ter agido de outra forma, mas
ao dilema em que vive: se por um lado, quer
mesmo assim intencionalmente, executa um
preservar Vale Formoso, por outro lado,
comportamento negativo (Weiner, 1995).
também quer os postos de trabalho.
Os agentes recebem mais culpa quando falham
em prevenir danos, mas recebem muito mais Estes resultados também vão no sentido
culpa quando causam o dano intencionalmente dos estudos de Ndubuisi & Byrne (2013).
(Darley & Shultz, 1990)
Pensamento Contrafactual e Julgamento de intencionalidade em leitores com
diferentes perspetivas – Dificuldades , limitações e questões
A Identificação dos participantes com os cenários apresentados – O Para os próximos estudos - Sugerimos
neutro se diferencia dos outros dois grupos (é mais assertivo). Será que avaliar a variável responsabilidade, antes da
uma variável relacionada que não foi prevista, mediou os seus culpa e da intencionalidade.
contrafactuais? Por exemplo o distanciamento da situação, ou a falta de
expectativas relativamente ao lugar descrito?
Uma abordagem ecológica – Tornou-se inviável por não existir
Síntese
(felizmente) um lugar assim em Portugal. Poderia dar mais robustez aos Os resultados desse estudo, são
resultados (que já foram satisfatórios obtidos com os cenários)? concordantes com investigações
anteriores (Knobe, 2003b); Ndubuisi &
As histórias apresentam um dilema com um tema sensível, polémico
e atual - Mesmo quando a situação é de ajuda e o Presidente adota as Byrne, 2013). Não revelaram diferenças
medidas, o ambiente é afetado, temporariamente, induzindo as pessoas significativas para as diferentes
a acharem que o melhor seria buscar outra solução. Estará aí também a perspectivas dos sujeitos. Alguns dos
explicação para os PCFs aditivos ascendentes e subtrativos resultados, contudo, apontam tendências
ascendentes? no sentido esperado para os grupos
Relativamente à produção de pensamentos contrafactuais para esse Turista e Residente, que podem ser
estudo – A teoria da opção de escolhas de Ndubuisi e Byrne (2013), sugestivos de resultados mais
evidencia-se como a explicação mais plausível dos padrões encontrados significativos caso fosse adotada uma
nas atribuições de elogio e culpa e no julgamento da intencionalidade do abordagem ecológica.
Presidente. Pensar sobre as escolhas requer que as pessoas imaginem
alternativas.
Referências
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