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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE

SAÚDE
(ISCISA)

TEMA:
AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA E DO PROCESSO DE
ENCAMINHAMENTO DAS CRIANÇAS COM SEQUELAS DA
PARALISIA CEREBRAL DE 0-5 ANOS DO DEPARTAMENTO
DA PEDIATRIA DO HCM PARA FISIOTERAPIA DO HCM DE
JANEIRO À NOVEMBRO DE 2019

CANDIDATA: SUPERVISOR:
FAUSTA FERNANDO DA SILVA AUGUSTO Dr. JEREMIAS MATSINHE
CÓDIGO Nº: TFCSPFA23/19 (FISIOTERAPEUTA ‘’A’’)

MAPUTO, JULHO DE 2020


Sumário

 Introdução
 Objectivos (geral e específicos)
 Revisão da literatura
 Metodologia

 Resultados e Discussão
 Conclusão e Recomendacões

 Referências Bibliográficas
Introdução

Paralisia Cerebral (PC) é um conjunto de desordens da postura e


do movimento secundário a uma lesão não progressiva do
cérebro em desenvolvimento e os sintomas ocorrem devido a um
distúrbio que acontece durante o desenvolvimento de cérebro, na
maioria das vezes antes do nascimento.
(Miura & Petean, 2012)
Enunciado do problema e questão de partida

A PC é a principal causa mais comum de incapacidade motora


na infância e deficiência física grave que acomete crianças,
resultando em limitações funcionais.
(Brandão, 2007)

Por essa razão, a Fisioterapia desempenha um papel


fundamental quanto à reeducação funcional, acompanhando a
criança em todos os estágios de programa de reabilitação.
Enunciado do problema e questão
de partida

Portanto, observou-se durante estágios profissionais que, a


demora da referência dessas crianças com sequelas de PC aos
serviços de Fisioterapia, faz com que muitas crianças tenham
complicações as vezes de difícil reversão.

Diante desta situação o estudo pretende responder a seguinte


questão: Quantas crianças de 0 à 5 anos têm sequelas da
Paralisia Cerebral e dessas quantas foram referenciadas a
Fisioterapia?
Justificativa

O presente estudo revela se importante porque:


 Os profissionais de saúde irão encaminhar as crianças com
sequelas de PC para Fisioterapia de forma precoce;
 Haverá menor custo sócio-económico da família e do Estado;

 Irá minimizar as complicações;

 Melhorar a qualidade de vida dessas crianças e da família e


 Os resultados deste estudo poderão ser uteis para profissionais de
saúde e os demais.
Objectivos

Geral
 Avaliar a frequência e o processo de encaminhamento das

crianças com sequelas da Paralisia Cerebral de 0 à 5 anos do

Departamento de Pediatria do Hospital Central de Maputo (HCM)

para Fisioterapia do HCM de Janeiro à Novembro de 2019.


Objectivos Específicos

 Identificar o número de casos da PC em crianças de 0-5 anos do


Departamento da Pediatria;
 Identificar o número de crianças com sequelas de PC da
Pediatria, referenciadas à Fisioterapia;
 Identificar o método de referência das crianças com sequelas de
PC para a Fisioterapia;
 Verificar o tempo da referência das crianças com sequelas de PC
para a Fisioterapia.
Revisão de Literatura
Causas da PC

Actualmente foram encontrados diversas causas que interagem

entre sí, sugerindo que a PC seja uma condição multifactorial, isto

é, não foi encontrado nenhuma causa específica para ela.

As causas da PC são organizadas em três (3) fases:

Fase I

Fase II

Fase III
Classificação da PC

1. Disfunção motora
 Espástico

 Discinético (atetóide, coréico e distónico)


 Atáxico ou cerebeloso
 Hipotónico ou flácido
 Misto.
2. Topográfica

Paralisias Parciais Totais


 Monoparésia  Monoplegia
 Paraparésia  Paraplegia
 Diparésia  Diplegia

 Hemiparésia  Hemiplegia
 Tetraparésia  Tetraplegia
3. Grau de incapacidade

 Leve
 Moderado
 Severo/Grave
Metodologia
 Tipo de estudo
 População e amostra

 Variáveis do estudo
 Critérios de inclusão e exclusão
 Técnica e instrumento de recolha de dados

 Procedimentos de recolha de dados


 Método de análise e processamento de dados
Resultados e Discussão
Caracterização sócio-demográfica

Tabela 1: Quanto ao sexo

Sexo Frequência %

Masculino 19 65.5%

Feminino 10 34.5%
Total 29 100%

O estudo mostra maior predominância as crianças do sexo masculino


do que as crianças do sexo feminino, estando em concordância com
Sherrill (1998); Cesa et al (2014) e Matos e Lobo (2009), que afirmam
que, a PC afecta mais as crianças do sexo masculino do que as
crianças do sexo feminino.
Caracterização sócio-demográfica
Tabela 2: Quanto a idade:

Idade Frequência %
1 6 20.7%
2 7 24.1%
3 7 24.1%
4 4 13.8%
5 5 17.2%
Total 29 100%

Estes resultados, assemelham-se com Cesa et al (2014), que


realizaram um estudo em crianças com sequelas de PC cuja, idade
varia de 6 mêses a 7 anos de idade.
Caracterização Sócio-demográfica
Gráfico 3: Quanto a idade gestacional
Idade gestacional
S/Registo
10.3%
Termo
Prematuro
10.3%

Prematuro

S/Registo
Termo
79.3%

Estes resultados corroboram com estudo do Carmo (2006), que


verificou que, a maioria das crianças com sequelas de PC
correspondente à 60.7% foram consideradas a termo, nascidas entre
37ª à 42ª semanas de gestação.
Caracterização Sócio-de mográfica

Gráfico 4: Quanto ao índice de Apgar

ĺndice de Apgar

Normal

Moderado

Leve

Grave

S/Registo

O estudo apresenta o índice de Apgar normal, mas Cunha et al


(2004), constataram que, a maioria dessas crianças têm o índice de
Apgar leve e/ou moderado.
Caracterização Sócio-demográfica
Tabela 5: Peso de nascimento

Peso de Frequência %
Nascimento
Normal 23 79.3%
Baixo 4 13.8%
Sem Registo 2 6.9%
Total 29 100%

Esses resultados, não estão de acordo com estudo do Carmo


(2006), que verificou que, 64.2% das crianças com BP apresentam
mais PC do que, as crianças com peso normal que apresentam PC
em 35.8%, ainda Silveira e Procianoy (2005), que confirmam que, a
maioria dos neonatos com BP, apresentam a PC em 62% à 100%
dos casos.
Caracterização Sócio-demográfica
Gráfico 6: Idade da mãe
Idade das mães das crianças com sequelas da PC em faixa etária

10.3% 3.4%
10-19.
3.4%
24.1% 20-24
25-34
35-50
58.6% S/Registo

Neste estudo, a maior parte das crianças com sequelas de PC,


nasceram de mães com idade ideal para ter filho, o que não está de
acordo com Monteiro (2011), que constatou que a frequência da PC é
menor nas crianças de mães de 25 à 34 anos de idade e maior entre
crianças de mães com 40 anos ou mais.
Caracterização Clínica da PC
Gráfico 7: Causas da PC em crianças de 0-5 anos

Causas da PC em criança de 0-5 anos


Asfixia

Convulsão

Encefalite

Meningite

O estudo encontra como causa principal a convulsão e a segunda


causa asfixia, mas Lima e Fonseca (2008) e Cavalcante et al
(2017), encontraram como causa mais comum da PC asfixia
neonatal em 52.5%.
Classificação da PC em crianças de 0-5 anos

Tabela 8: Classificação funcional ou disfunção motora:


Disfunção Motora Frequência %
Espástico 14 48.3%
Distónico 2 6.9%
Atetóide 2 6.9%
atáxico 2 6.9%
Hipotónico 9 31%
Total 29 100%

Neste estudo, o tipo mais predominante é o espástico com 48.3%,


estando em concordância com Matos e Lobo (2009); Lourenço
(2013); Cavalcante et al (2017); Pomin e Palácio (2009), que
verificaram que, o tipo espástico da PC é a forma mais frequente na
maioria dos casos.
Gráfico 9: Classificação topográfica

Classificação topográfica da PC
Tetraplegia Monoparésia
13.8% 6.9%
Hemiparésia
20.7%

Tetraparésia Paraparésia
41.4% 13.8%

3.4%

Estes resultados confirmam o estudo de Leite e Prado realizado em


2004, que notou que, a tetraparésia é a forma mais frequente que
ocorre em 43% dos casos, pelo contrário, Matos e Lobo (2009), que
constataram que, o tipo hemiparético é o mais frequente com 43.6%,
enquanto que, para Gilroy (2005), a forma topográfica mais comum
da PC é a diplégica.
Classificação da PC em crianças de
0-5 anos
Tabela 10: Grau de incapacidade

Grau de incapacidade Frequência %


Leve 4 13.8%
Moderado 14 48.3%
Severo/Grave 11 37.9%
Total 29 100%

O estudo encontra o grau de incapacidade moderado como primeiro


e em segundo o severo/grave, mas do Carmo (2006), encontrou o
grau de comprometimento motor grave como primeiro,
correspondente à 51.8% e seguido de comprometimento motor
moderado correspondente à 29.4%.
Informação sobre a Fisioterapia
Tabela 11: Referência das crianças com sequelas de PC para
Fisioterapia

Referência para Frequência %


Fisioterapia
Sim 22 75.9%
Não 7 24.1%
Total 29 100%

Estes resultados, não confirmam o estudo realizado por Almeida


(2008), que confirmou que, cerca de 77% das crianças com
sequelas de PC, necessitam dos tratamentos Fisioterapêuticos, mas
apenas 2% dessas crianças são encaminhadas para Fisioterapia.
Informação sobre a Fisioterapia
Gráfico 12: Métodos utilizados na referência dessas crianças para
Fisioterapia
Método de referência dessas crianças para Fisioterapia

24.1% 31.0%
Diário clínico
Guia de
transferência
Interconsulta
10.3% Pedido de
consulta
6.9% 13.8% 10.3% Processo clínico
Processo de
3.4% internamento

Esses resultados assemelham-se com a Prefeitura Municipal de


Florianópolis (2010), que constatou que, para ter acesso ao serviço
de Fisioterapia, o paciente deve ser encaminhado pelo profissional
responsável através de: diário clínico, processo de internamento e
de consulta.
Informação sobre a Fisioterapia
Tabela 14: Relatório Fisioterapêutico

Relatório Frequência %
Fisioterapêutico
Sim 7 24.1%
Não 15 51.7%
S/Referência 7 24.1%
Total 29 100%

Estes resultados, não corroboram com Prefeitura Municipal de


Florianópolis (2010), que diz que, os responsáveis em receber
pacientes referenciados de outras áreas para Fisioterapia, deviam
reencaminhar ao profissional responsável que inicialmente
encaminhou o caso a Fisioterapia e que esse acto deve ser vice-
versa.
Conclusão
A PC afecta mais crianças do sexo masculino do que as crianças do
sexo feminino e a maioria delas nasceram com idade gestacional a
termo (79.3%), índice de Apgar normal (44.8%), peso de nascimento
normal (79.3%) e a suas mães tinham idade ideal para tê-los, o que
carece de mais avaliação e investigação.

No que se refere a informação sobre a Fisioterapia, conclui-se que a


maioria das crianças correspondente à 75.9%, foi referenciada à
Fisioterapia, enquanto que, 24.1% não foi referenciada, mostrando
que, há algo ainda a se fazer mais, para que todas crianças sejam
tratadas de igual modo.
Conclusão
Em relação ao tempo da referência, apenas 24.1% das crianças,
foram referenciadas dentro de 1 mês e 15 crianças que
corresponde à 51.7%, foram referenciadas de 2 à 6 mêses após o
diagnóstico, período considerado tardio para o encaminhamento,
um dos motivos pelo qual, as crianças chegarem tarde nos
serviços de Fisioterapia com sequelas gravadas.

A troca de informações entre profissionais de saúde é de extrema


importância, pois, se for mantida e feito de forma eficaz nas
diferentes áreas de saúde, permite a criação de um ambiente
favorável a abordagem do paciente como um todo.
Recomendações
Para o MISAU:
 Criação de programas ou sistemas de registo de dados
estatísticos das doenças de forma particular para facilitar o controlo
dessas doenças;

 Criação de programas de palestras sobre as causas e a


prevenção da PC, a serem realizadas nas comunidades;

 Desenvolvimento de estratégias de prevenção da PC (por


exemplo, colocação de um efectivo da Fisioterapia nas consultas
pré e pós natais nos Hospitais ou nas unidades sanitárias para
cuidar das mulheres grávidas.
Recomendações
Para os Profissionais de saúde:
 Encaminhar as crianças com sequelas da paralisia cerebral para
a Fisioterapia, o mais precoce possível;

 Disponibilizar tempo para comunicar a suspeita ou o diagnóstico


de paralisia cerebral aos cuidadores, assim como esclarecer
algumas dúvidas;

 Comunicar sempre com a equipe multidisciplinar, no sentido de


trocar experiências ou fornecer algumas informações pertinentes a
equipe, sobre o caso em questão.
Referências Bibliográficas
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