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Perícia psicossocial:

subsídios em decisões
judiciais
P Segundo o Dicionário Houaiss,
etimologicamente peritia, ae é o
E conhecimento adquirido pelo uso

R
Numa definição de efeito mais
Í pragmático, define-se uma perícia
como um exame de situações ou fatos,
C relacionados a coisas ou pessoas,
realizado por um ou mais especialistas
I na matéria, com o objetivo de elucidar

A determinados aspectos técnicos.


O perito está genericamente definido no artigo 145
do CPC, nos §§ 1.o, 2.o e 3.o, que se transcrevem:

• “Art. 145 – Quando a prova do fato depender de conhe- cimento


técnico ou científico, o juiz será assistido por pe- rito, segundo o
disposto no art. 421.
• § 1.o – Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível
universitário, devidamente inscritos no órgão de clas- se competente,
respeitado o disposto no Capítulo VI, se- ção VII, deste Código.
• § 2.o – Os peritos comprovarão sua especialidade na ma- téria sobre
que deverão opinar, mediante certidão do ór- gão profissional em
que estiverem inscritos.
• § 3.o – Nas localidades onde não houver profissionais qua- lificados
que preencham os requisitos dos parágrafos ante- riores, a indicação
dos peritos será de livre escolha do juiz
O Código de Ética do Psicólogo
• art. 23, § 1o, ressalta que, nos casos de perícia, o
psicólogo deverá tomar as precauções para relatar
somente o necessário para o esclarecimento do caso.

• É vedado ao psicólogo ser perito, avaliador ou


parecerista nas situações em que seus vínculos pessoais
ou profissionais (atuais ou anteriores) possam afetar a
qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade
aos resultados da avaliação.
avaliação psicológica
Processo pelo qual através de instrumentos
apropriados chega-se a conclusões a respeito de
aspectos do funcionamento psicológico de um
indivíduo
Avaliação Psicológica Pericial
ou
perícia psicológica forense

A perícia psicológica
se diferencia de P
E
outros tipos de Psicologia
r
Í Psicologia
avaliação psicológica forense C clínica
I
pelo fato do seu A

objetivo ser subsidiar


decisões judiciais.
Finalidade:
fornecer ao juiz ou a outro agente judicial que
solicitou a perícia, informações técnicas que
escapam ao senso comum e ultrapassam o
conhecimento jurídico

IMPORTANTE:

Na perícia psicológica, todo o processo de


avaliação (a obtenção dos dados através de
instrumentos adequados, a análise dos dados e
a comunicação dos resultados) deve ser
direcionado aos objetivos judiciais
perícia psicológica

É considerada um meio de prova no âmbito forense


e sua materialização se dá através da elaboração do
chamado laudo pericial, que deve responder aos
quesitos solicitados, quando presentes, podendo
somente apontar tendências e indícios, embora o
Direito exija respostas imediatas e definitivas
ESPECIFICIDADES:
a) dirige-se a um foco específico, determinado pelo
sistema judicial;

b) busca-se informações precisas e exatas, inclusive


em outras fontes (escola, local de trabalho, etc.);

c) o sujeito pode ser não colaborativo e apresentar


uma resistência consciente à avaliação, devido à sua
natureza coercitiva;
ESPECIFICIDADES:
d) o sujeito pode intencionalmente distorcer os dados
que fornece sobre si

e) há um maior distanciamento emocional entre o


examinando e o psicólogo, já que este último não é visto
como alguém que está ali para ajudá-lo;

f) o tempo destinado à avaliação do examinando é


menor, diminuindo a possibilidade de reconsideração das
formulações feitas
IMPORTANTE:

“os dados descrevem colhidos na avaliação


revelam o que uma pessoa pode ou não fazer no
contexto da testagem, mas o psicólogo deve
ainda inferir o que ele acredita que ela poderia
ou não fazer na vida cotidiana”
PERÍCIA PSICOLÓGICA: MÉTODOS

“métodos e materiais adequados, destinados a


analisar e avaliar aspectos referentes à estrutura
da personalidade, à cognição, à dinâmica e à
afetividade das pessoas envolvidas”

(SILVA, 2003, p. 192).


Seleção dos instrumentos de avaliação
pericial

• Não existem metodologias fixas para a


realização de avaliações psicológicas periciais,
sendo estas construídas de acordo com as
características do caso e do sujeito

• prévia leitura dos autos do processo para


construção de hipóteses iniciais
METODOLOGIA
a) leitura dos autos do processo
(identificação da demanda, das questões
psicológicas que serão alvo da investigação pericial
e dos quesitos que deverão ser respondidos pelo
psicólogo);

b) levantamento das hipóteses prévias que


nortearão a coleta dos dados;
METODOLOGIA
c) coleta dos dados junto ao sujeito (entrevista inicial) e, quando
necessário, junto a terceiros ou a instituições;

Entrevista Inicial:
• Coleta de dados pertinentes da história de vida do indivíduo,
• compreensão de aspectos do seu funcionamento psicológico e dos fatos
que motivaram o processo e a perícia em questão
• observação da posição do periciando frente aos fatos motivos da perícia
• Realização do enquadramento
• Esclarecimento de possíveis dúvidas do periciando.
• Observação de aspectos relacionais do periciando a partir do modo como
se vincula ao psicólogo, as reações transferenciais,
• Levantamento de hipóteses
• Observação de coerências e incoerências entre linguagens verbal e não-
verbal.
METODOLOGIA

d) planejamento da bateria de testes/técnicas


mais adequada para o caso;

e) aplicação da bateria de testes;


METODOLOGIA
f) interpretação dos resultados dos testes à luz
dos dados colhidos nos autos processuais e na(s)
entrevista(s);

g) redação do informe psicológico com o


objetivo de responder à demanda jurídica que
motivou tal avaliação
RESOLUÇÃO CFP Nº 008/2010
• Dispõe sobre a atuação do psicólogo como
perito e assistente técnico no Poder Judiciário.

O assistente técnico (também chamado de


parecerista) é um profissional da confiança da
parte que busca assessorá-la e garantir o direito
ao contraditório.
Documentos – psicologia Jurídica

RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003

Moema Alves Macêdo


Princípios técnicos da linguagem escrita

• Redação bem estruturada e definida – Atentar


para o que se quer comunicar;

• Deve possibilitar a compreensão por quem o lê;

• Apresentar: clareza, concisão e harmonia


Princípios técnicos da linguagem escrita

• O emprego de expressões deve ser compatível


com as expressões próprias da linguagem
profissional, garantindo a precisão da
comunicação e evitando a diversidade de
significações da linguagem popular
A construção do documento
• Explicar cada resultado em si, sem expor
resultados esotéricos, fragmentados e sem
composição de uma síntese coerente e
integrativa.
Princípios éticos
• Sigilo profissional

• Às relações com a justiça e ao alcance das


informações identificando riscos e
compromissos em relação à utilização das
informações presentes
Princípios técnicos
• Considerar: Natureza dinâmica, não definitiva
e não cristalizado do seu objeto de estudo;

• Base: instrumentos técnicos (entrevistas,


testes, observações, dinâmicas de grupo,
escuta, intervenções verbais...)
Modalidades de documentos

• Declaração
• Atestado psicológico
• Relatório psicológico/Laudo psicológico
• Parecer psicológico
DECLARAÇÃO
Declaração

• É um documento que visa a informar a


ocorrência de fatos ou situações objetivas
relacionadas ao atendimento psicológico.

Não deve ser feito o registro de sintomas,


situações ou estados psicológicos
Finalidade
- Declarar comparecimento do atendimento;

- Declarar o acompanhamento psicológico do


atendido;

- Informações diversas sobre o enquadre (dias,


horários, tempo)
Estrutura:
• Nome e sobrenome do solicitante;
• Finalidade do documento (ex: para fins de
comprovação)
• Registro de informações solicitadas do
atendimento;
• Registro do local e data da expedição da
declaração;
• Registro do nome completo do psicólogo com a
inscrição no CRP e assinatura logo acima dessas
informações
Modelo 1
DECLARAÇÃO

Declaro, para os fins que se fizerem necessários, que o Sr.


(nome do solicitante) faz acompanhamento psicológico
no (ambulatório ou consultório), desde ______ de
_____, sob meus cuidados profissionais.

Cidade, dia, mês, ano


Nome completo do psicólogo
Nº de inscrição no CRP
Modelo 2
DECLARAÇÃO
Declaro, para fins de comprovação, que o Sr. ____, está
sendo submetido a acompanhamento psicológico,
sob meus cuidados profissionais, comparecendo às
sessões todas as (dia da semana), no horário____.
Cidade, dia, mês, ano

Nome completo do profissional


Nº de inscrição no CRP
ATESTADO PSICOLÓGICO
Atestado psicológico
• È um documento expedido pelo psicólogo que
certifica uma determinada situação ou estado
psicológico.

Deve restringir-se à informação


solicitada pelo requerente, contendo
expressamente o fato constatado.
Finalidade
• Afirmar como testemunha, por escrito, a
informação ou estado psicológico de quem, por
requerimento, o solicita, aos fins expressos por
este;

• Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante,


atestando-os como decorrentes do estado
psicológico informado

• Solicitar afastamento e/ou dispensa, subsidiado


na afirmação atestada do fato.
Estrutura

• Registro do nome e sobrenome do cliente;

• Finalidade;

• Registro da informação pelo sintoma, situação


ou estado psicológico que justifica o
atendimento, afastamento ou falta – podendo
registrar o CID;
Estrutura

• Registro do local e data da expedição da


declaração;

• Registro do nome completo do psicólogo com


a inscrição no CRP e assinatura logo acima
dessas informações
Estrutura
• Registros transcritos de forma corrida,
separados apenas por pontuação, sem
parágrafos. Se o parágrafo for indispensável,
deve-se preencher com traços para evitar
adulterações.;
Modelo 1
ATESTADO
Atesto, para os devidos fins, que o Sr. (Nome do
solicitante) encontra-se em acompanhamento
psicológico para tratar de sintomas compatíveis
com CID __.----------------
Nome da cidade, dia, mês, ano

Nome do Profissional
Nº de inscrição no CRP
Modelo II
ATESTADO
Atesto, para fins de comprovação junto a (nome a quem
se destina), que o Sr. (Nome do Solicitante), apresenta
sintomas relativos a angústia, insônia, ansiedade e
irritabilidade, necessitando, no momento, de 3(três)
dias de afastamento de suas atividades laborais para
acompanhamento.----(ou repouso, ou razão)

Nome do Psicólogo
Número de Inscrição no CRP
Relatório/laudo
Relatório/Laudo
• O relatório ou laudo psicológico é uma
apresentação descritiva acerca de situações
e/ou condições psicológicas e suas
determinações históricas, sociais, políticas e
culturais, pesquisadas no processo de
avaliação psicológica.
• Deve ser consubstanciado em referencial
técnico-filosófico e científico adotado pelo
psicólogo.
Finalidade
apresentar os procedimentos e conclusões gerados pelo
processo da avaliação psicológica, relatando sobre:
• o encaminhamento,
• as intervenções,
• o diagnóstico,
• o prognóstico e evolução do caso,
• orientação e sugestão de projeto terapêutico,,
• solicitação de acompanhamento psicológico, caso necessário

Deve limitar-se a fornecer somente as informações necessárias


relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
ESTRUTURA
Resolução CFP nº 007/2003
(documento científico)

• Identificação.;
• Descrição da demanda;
• Procedimento;
• Análise;
• Conclusão.
Identificação
Tem a finalidade de identificar:

• Autor/relator (Quem elabora o diagnóstico


psicológico)
• O interessado (Quem solicita o relatório
psicológico)
• O assunto/finalidade – qual a razão do
relatório
Descrição da demanda

• Esta parte é destinada à narração das informações


referentes à problemática apresentada e dos
motivos, razões e expectativas que produziram o
pedido do documento. Nesta parte, deve-se
apresentar a análise que se faz da demanda de
forma a justificar o procedimento adotado.
Procedimentos

• A descrição do procedimento apresentará os


recursos e instrumentos técnicos utilizados
para coletar as informações (número de
encontros, pessoas ouvidas etc) à luz do
referencial teórico-filosófico que os embasa. O
procedimento adotado deve ser pertinente
para avaliar a complexidade do que está
sendo demandado.
Análise
• Descrição metódica, objetiva e fiel dos dados
colhidos e das situações relacionadas à demanda
em sua complexidade

• Não deve haver informações sem sustentação em


fatos e/ou teorias .

• Deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva


e não cristalizada do seu “objeto de estudo”.
Conclusão do Relatório/Laudo

• expõe o resultado e/ou considerações a respeito de sua


investigação a partir das referências que subsidiaram o trabalho.
• As considerações geradas pelo processo de avaliação psicológica
devem transmitir ao solicitante a análise da demanda em sua
complexidade e do processo de avaliação psicológica como um
todo.
• Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho
que contemplem a complexidade das variáveis envolvidas
durante todo o processo.

Por fim, Local, data de emissão, assinatura do psicólogo e seu


número de inscrição no CRP
PARECER
(Resolução 07/2003 – CFP)
Parecer
• Parecer é um documento fundamentado e
resumido sobre uma questão focal do campo
psicológico cujo resultado pode ser indicativo
ou conclusivo.
Finalidade
• apresentar resposta esclarecedora, no campo
do conhecimento psicológico, através de uma
avaliação especializada, de uma
“questãoproblema”, visando a dirimir dúvidas
que estão interferindo na decisão, sendo,
portanto, uma resposta a uma consulta, que
exige de quem responde competência no
assunto.
ESTRUTURA

• Destacar os aspectos relevantes, opinar a


respeito, fundamentando em um referencial
teórico científico.

• Rubricar todas as folhas dos documentos


(Indicado na Resolução de 2002)
ESTRUTURA

• Quando não houver possibilidade de ser


categórico na resposta de algum quesito deve-
se usar a expressão “sem elementos de
convicção” Se o quesito estiver mal formulado
pode-se afirmar “prejudicado”, “sem
elementos”
(indicado na Resolução de 2002)
Estrutura
• 1. Identificação
• 2. Exposição de motivos
• 3. Análise
• 4. Conclusão
ESTRUTURA
• Cabeçalho (nome do perito e titulação, nome
do autor da solicitação e titulação)

• Exposição de motivos (apresentação da


questão-problema. Não é necessário a
descrição dos procedimentos, dados colhidos
ou nome dos envolvidos)
ESTRUTURA
Análise
Fundamentação ética e técnica para
responder a questão problema.

Conclusão
Apresentação do posicionamento de modo a
responder a questão problema
Local, data, assinatura
Referência Bibliográfica
• http://www.crpsp.org.br/a_ orien/legislação/
resoluçoes_cfp
/fr_cfp_007-03_Manual_Elabor_Doc.htm

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