Você está na página 1de 36

SOCIOLOGIA

2021/2022
“A SOCIOLOGIA ESTUDA A
SOCIEDADE EM REDE”,
MANUEL CASTELLS
 De que modo as redes sociais fazem parte da tua vida? Elas influenciam as tuas interações sociais?

 A sociedade em rede também se manifesta na transformação da sociabilidade.

 Não se observa o desaparecimento da interação face a face ou o acréscimo do isolamento.

 Estudos em diferentes sociedades revelam que, a maior parte das vezes, os utilizadores de internet são
mais sociáveis.

 A importância dos estudos: os utilizadores do ciberespaço são mais sociáveis e participativos.


OS NEEF (NÃO ESTUDA NEM TRABALHA) EM
PORTUGAL, OBSERVATÓRIO DAS
DESIGUALDADES SOCIAIS
 Imaginavas que tantos jovens não estivessem a trabalhar nem a estudar?

 Que implicações sociais podem advir do aumento do fenómeno NEEF?

 O que será possível fazer para promover políticas de emprego ativas, que valorizem a
escolarização?

 Podemos combater o desemprego?


A SOCIOLOGIA
 É uma forma específica e cientificamente fundada de conhecimento sobre o mundo e a
realidade social.

 É também uma base sólida para um olhar crítico e transformador.

 A perspetiva sociológica é uma forma própria de ler a realidade social, que incide
principalmente nas sociedades contemporâneas.
A SOCIOLOGIA
 É uma forma de conhecimento.

 Essa forma de conhecimento é científica.

 Estuda a vida das pessoas em sociedade e os fenómenos sociais que daí advêm.

 É uma atitude perante o mundo e a realidade social.

Ninguém vive sozinho e ninguém habita no vazio: eis o caminho para a análise sociológica.
TEMA 1 – O QUE
ÉA
SOCIOLOGIA?
Unidade 1 – Sociologia e Conhecimento da Realidade Social

1.1. Ciências Sociais e Sociologia


1.2. Génese e Objeto da Sociologia
1.3. Construção do Conhecimento Científico na Sociologia
1. SOCIOLOGIA E
CONHECIMENTO DA
REALIDADE SOCIAL 1.1. Ciências Sociais e Sociologia

O Objeto das Ciências Sociais (o alvo)

 As ciências sociais têm a função de “diagnosticar” a realidade social.

 O conjunto de fenómenos que se produzem na sociedade é o objeto sobre o qual se debruçam as várias
ciências sociais: a Economia, a História; a Demografia; a Geografia; a Psicologia; a Antropologia; a
Sociologia…

 Temas: a família, a juventude, a escola, o trabalho, a comunicação social, a violência, a religião, a


participação, o desenvolvimento económico, as práticas culturais…
A Unidade e a Complexidade do Social

 A pluralidade dos ramos das ciências socias não significa que se possa dividir a realidade
social e os seus fenómenos particulares em compartimentos separados.

 A realidade social constitui uma unidade indivisível e complexa, cuja análise pode ser
efetuada segundo perspetivas disciplinares ou olhares científicos diferentes.
 Exemplo: o fenómeno do acesso dos jovens portugueses ao mercado de trabalho pode ser
estudado tendo em conta:

Evolução histórica e demográfica;


Distribuição geográfica;
Importância económica;
Diferenças sociais que o atravessam.

 Contudo, apesar das várias perspetivas analíticas, o fenómeno mantém a sua unidade: trata-
se sempre de estudar a relação entre a juventude e o trabalho.

 A análise económica, histórica ou qualquer outra, permite compreender uma realidade vasta,
complexa e pluridimensional, dividindo o fenómeno artificialmente, sem que se deva
confundir essa divisão com a realidade social, que é sempre una.
A Interdisciplinaridade

 O estudo de um fenómeno por uma dada ciência em exclusivo – pondo de parte os contributos
de outras áreas do saber – não permitirá a sua compreensão global.

 Exige-se uma investigação conjugada e complementar das várias ciências sociais – uma ação
interdisciplinar –, opção que se revela mais capaz de produzir conhecimentos integrados,
completos e profundos.

 A realidade social deverá ser entendida na sua totalidade.

 O exemplo da inserção profissional dos jovens:

pode ser estudado através de uma multiplicidade de ângulos (económico, histórico,


demográfico, geográfico, político, jurídico). Em consequência, todas as ciências sociais podem
ser mobilizadas para o analisar.
1.2. Génese e Objeto da Sociologia

Formação da Sociologia

O surgimento histórico da Sociologia foi impulsionado pelas profundas transformações ocorridas na sociedade
europeia, resultantes da chamada “dupla revolução”:

 Revolução Francesa (1789)

Triunfo de novas ideias e valores: liberdade e igualdade.

ordem social tradicional ≠ mundo moderno

 Revolução Industrial (final do século XVIII, origem britânica)

Avanços tecnológicos conduziram a transformações económicas e sociais.


 Destruição dos modos de vida tradicionais.

 Desenvolvimento de novas conceções do mundo.

 Os pioneiros da Sociologia, face a estas transformações, tentaram compreender as suas causas


e as possíveis consequências.

 Alguns exemplos de pensadores:

Auguste Comte (1798-1857)


Karl Marx (1818-1883)
Herbert Spencer (1820-1903)
Os factos sociais como objeto da Sociologia

 A realidade social, entendida como um conjunto de fenómenos ou factos particulares,


constitui o objeto da Sociologia (tal como acontece nas restantes ciências sociais).

 Émile Durkheim (1858-1917)

Factos Sociais: “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de


um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem.”
Factos Sociais (3 características):

As condutas individuais são determinadas pelos factos sociais que envolvem os
indivíduos, ou seja, são-lhes exteriores, não dependendo da sua vontade (são
coercivos). Tais maneiras de agir, pensar e sentir são relativas, variando consoante as
sociedades.

Os factos sociais são exteriores, coercivos e relativos.

Exemplo: Os valores e normas de uma família e as regras de conduta de uma sociedade


são aspetos profundamente enraizados na estrutura interna da sociedade (portanto, são
externos ao indivíduo) e escapam ao nosso controlo individual (impõem-se
coercivamente). Estes aspetos são relativos, isto é, a sua configuração muda se os
situarmos em Portugal ou num país oriental.
O suicídio como facto social

 Émile Durkheim chegou à conclusão de que existem forças sociais externas ao indivíduo que
influenciam as taxas de suicídio (exemplo: o grau de integração dos indivíduos na sociedade),
o que faz delas factos sociais.

 Os dados estatísticos aferem acerca de possíveis regularidades.

 São produto de uma totalidade social e não se reduzem a atos meramente individuais.
Estrutura social e ação social

 Enquanto Durkheim privilegiava as regularidades duradouras que se verificavam nos


fenómenos sociais, Max Weber (1864-1920) afirmou o caráter singular e único desses
fenómenos.

 Max Weber alargou a perspetiva sociológica ao introduzir o conceito de ação social. Deu
primazia à dimensão individual da realidade social.
Estudo do Suicídio

Weber Durkheim

Não colocaria de parte a análise de eventuais cartas Tais documentos resvalam para a subjetividade e
deixadas pelo suicida, das suas histórias e dos contrariam a exterioridade e coercividade dos factos
testemunhos familiares. sociais. Recusa analisá-los.
Em resumo, de tudo o que permitisse compreender
os motivos da ação individual no contexto social.
 A perspetiva weberiana não entra em contradição com o que dissemos antes sobre a forte
influência exercida pela estrutura social nos nossos atos e disposições mentais.

 Porém, sublinha que não deixamos de ser indivíduos relativamente autónomos: fazemos
escolhas, refletimos criticamente sobre as regras que a sociedade tende a impor-nos,
adaptamo-nos e modificamos normas e valores em função de circunstâncias concretas.

 Atribuímos um certo sentido às nossas ações individuais, que desencadeamos


intencionalmente.
Esquema-síntese

Exteriores

Coercivos
Factos Sociais
(Durkheim) Relativos

Explicação das regularidades


sociais

Objeto da Sociologia

Dimensão individual

Ação Social Singular


(Weber)
Intencional

Interpretação do sentido da ação


social
O desenvolvimento da Sociologia em Portugal

 Em Portugal, a afirmação da Sociologia enquanto novo campo científico foi um processo


tardio, lento e repleto de obstáculos.

 O início da institucionalização da Sociologia no nosso país conheceu um impulso nos anos 60


do século XX.

 O regime ditatorial vigente em Portugal considerava a análise sociológica da realidade


portuguesa como incómoda.

 De 1974 até aos nossos dias, a Sociologia tem conhecido um notável crescimento:
licenciaturas, mestrados, doutoramentos, disciplina no ensino secundário, investigação…

Ciência/Profissão
1.3. Construção do conhecimento científico na Sociologia

Conhecimento científico e conhecimento do senso comum

 Conhecimento do senso comum: construção de um conhecimento prático sobre a realidade,


que permite lidar com os diferentes fenómenos e organizar a vida pessoal e social.

 “Conhecimento vulgar e prático com que no quotidiano orientamos as nossas ações e damos
sentido à nossa vida”. Boaventura Sousa Santos
Conhecimento científico

 Desenvolve-se a partir de métodos de observação e de experimentação rigorosos e


controlados.

 Colocou em causa muitas das crenças do senso comum. Hoje sabemos que o Sol não gira em
volta da Terra, os relâmpagos não têm origem na fúria dos deuses, os portadores de SIDA não
são exclusivamente homossexuais.
O conhecimento científico nas ciências sociais e na Sociologia

 Nas ciências físicas e naturais, os objetos de estudo são parcial ou completamente exteriores
ao cientista; nas ciências sociais, o cientista faz parte do seu objeto de estudo – ele próprio é
um ser social.

Exemplo: “o copianço”. p. 28

 Exige-se uma rutura com o senso comum: para que o sociólogo possa observar e questionar
a realidade social numa perspetiva científica, é necessária uma rutura face às ideias
preconcebidas.
 O sociólogo deve manter uma atitude de vigilância constante e relativizar o seu
conhecimento prático sobre a realidade durante a produção do conhecimento científico.
Dificuldades da produção do conhecimento científico na Sociologia

 Como vimos, o senso comum pode dificultar o trabalho do cientista social na sua tarefa de
produzir conhecimentos científicos.

 No caso da Sociologia são vários os obstáculos que o senso comum coloca ao trabalho
científico:

Obstáculos

Familiaridade com o social

Explicações de tipo naturalista

Explicações de tipo individualista

Explicações de tipo etnocentrista


Familiaridade com o social

 Quanto mais próximo está o sociólogo da realidade que pretende analisar, maior é o risco de
enviesamento da pesquisa, mais difícil é o processo de rutura com as crenças do senso comum.

ilusão de transparência do social

 A familiaridade com o social dificulta o seu questionamento, na medida em que a realidade


apresenta-se de forma ilusoriamente óbvia.
Explicações naturalistas

 Por vezes tentamos explicar certos fenómenos socias recorrendo a explicações naturais, isto é,
a fatores de ordem física ou biológica.

 Tais explicações são perigosas do ponto de vista científico, pois dispensam um olhar crítico
sobre as coisas.

 Exemplo: as mulheres são mais emotivas do que os homens e, por isso, têm mais dificuldade
em aceder a lugares de chefia no trabalho.
Explicações individualistas

 Outro dos recursos que habitualmente utilizamos para explicar os fenómenos sociais são os de
ordem individual ou psicológica.

 As causas sociais dos fenómenos raramente são evidentes, pelo que se torna mais simples e
cómodo recorrer a este tipo de justificações.

 Exemplos: os alunos copiam porque não gostam de estudar. O desemprego existe porque as
pessoas não querem trabalhar. As pessoas suicidam-se porque têm problemas mentais.

 O trabalho de Émile Durkheim sobre o suicídio demonstra como ultrapassar as explicações


individualistas.
Explicações etnocentristas

 Quando olhamos para outras sociedades, outras classes sociais, outros grupos ou culturas e
tomamos como referência a nossa própria realidade social e cultural, tendemos a explicar os
fenómenos dessas sociedades, classes, grupos ou culturas de uma forma etnocentrista.

Superioridade e sobrevalorização da própria Formulação de juízos de valor que inferiorizam


cultura e desvalorizam a especificidade da realidade
observada.

 Exemplo: os africanos não gostam de trabalhar.


A especificidade da Sociologia enquanto disciplina científica

 A Sociologia procura distanciar-se das conceções de senso comum, imediatas e


preconceituosas.

 Não pretende julgar a realidade, mas sim compreendê-la e explicá-la.

 A Sociologia intervém na sociedade na medida em que as suas análises podem influenciar as


ações dos indivíduos e das organizações.
 Ao mesmo tempo em que se preocupa em romper com o senso comum, a Sociologia também
se dedica a analisá-lo, utilizando-o como objeto de estudo.

A importância do senso comum na Sociologia


texto p.36

Os preconceitos são também objeto de análise sociológica


Regularidades, particularidades e singularidades sociais

 Regularidade social: frequentemente, a análise sociológica é motivada pela identificação de


uma regularidade social, um padrão existente na vida social. A Sociologia procura
compreender e explicar essa regularidade ou padrão.

 Exemplo: o copianço.
 Particularidade social: a Sociologia também se dedica ao estudo de particularidades sociais,
como pequenas comunidades, grupos, bairros, etc.

 Nestes casos, os resultados não devem ser extrapolados e generalizados.

 Texto p.37
 Singularidades sociais: a Sociologia também se preocupa com as singularidades sociais, pois
não há regra sociológica sem exceção.

 Por que razão os processos de desenvolvimento apresentam sempre, em cada país,


especificidades? O que faz com que dois irmãos – com o mesmo meio económico, social e
cultural – tenham atitudes diferentes?

singularidade

 Cada um de nós apropria diferentemente tudo o que nos rodeia.


Problemas sociais e problemas sociológicos

 Um problema social não é necessariamente um problema sociológico; um problema


sociológico não tem de ser um problema social (pode resultar da mera curiosidade científica).

 O insucesso escolar em Portugal é um problema social.

 A análise do aproveitamento escolar dos alunos que frequentam o sistema de ensino português
é um problema sociológico.

fatores, causas, tendências, formas de combate relativos ao problema social do insucesso escolar

Você também pode gostar