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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA


(MUNDO CRISTÃO, CHINÊS E MUÇULMANO)
"(...) o que é definido atualmente como “Islã”, tanto na
Europa como nos Estados Unidos, pertence ao discurso do
orientalismo, uma construção fabricada para fomentar
hostilidades e antipatia contra uma parte do mundo que
por acaso tem importância estratégica devido ao seu
petróleo, sua proximidade ameaçadora do mundo cristão e
sua formidável história de rivalidade com o Ocidente.
Contudo, isso é algo muito diverso daquilo que o Islã é
realmente para os muçulmanos que vivem em seus
domínios.
Há todo o mundo de diferenças entre o Islã na Indonésia e
no Egito. (...) Nessas circunstancias, a coisa mais fácil e
menos correta é dizer: isso é o mundo do Islã e veja como
são todos terroristas e fundamentalistas, e veja também
como eles são diferentes de nós"
(SAID, W. Edward. Cultura e Política. São Paulo:
Boitempo, 2003. p. 333).
Programa de Pós-Graduação em Geografia
(Tratamento da Informação Espacial)

O Pensamento Árabe-Muçulmano

Prof. Rodrigo Corrêa Teixeira


INTRODUÇÃO GERAL
Introdução
Nossa abordagem busca, primeiramente, compreender o processo histórico –
espacial – bastante rápido para a época – de transformação de uma sociedade
periférica e fragmentada geograficamente, como a dos habitantes da Península
Arábica pré-islâmica, em uma civilização (o Islã, entre os séculos IX e XIV) que tem
sido considerada pelos historiadores como a mais avançada de seu tempo. Em
seguida, este estudo quer mostrar, com base em critérios e categorias
epistemológicos, que a geografia dos muçulmanos pode, efetivamente, ser
considerada como a principal “ponte” entre os geógrafos da Grécia antiga e os da
Europa moderna. Finalmente, será elaborada uma epistemologia comparativa do
Kitab de Idrisi (século XII) e da Rihla de Battuta (século XIV), entre outras
finalidades para reforçar a crença de que as abordagens dos geógrafos sempre
tiveram, pelo menos, duas grandes vertentes: uma delas tem buscado sempre ser
científica, sistemática, conceitual, matemática, explicativa e, por isso, seu caráter é
mais hermético e seus leitores quase sempre da academia; a outra, menos
rigorosa, mais descritiva, mais subjetiva, podendo chegar a ser literária e,
portanto, artística. Assim, mostra-se menos sistemática e generalizável, mas, por
outro lado, é a que mais alcance popular possui (Amorim Filho, 2013/2016,
exposição oral; cf. AMORIM FILHO, O. B. (2018). O pensamento geográfico no
Kitab de Idrisi e na Rihla de Battuta: uma reflexão epistemológica comparativa.
Revista Geografia, Literatura E Arte, 1(1), 124-147. https://
doi.org/10.11606/issn.2594-9632.geoliterart.2018.142144 )
1 – CONTEXTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DO
ISLÃ MEDIEVAL

1.1 – Surgimento e expansão do Islã

1.2 – A casa da sabedoria e influência do


pensamento grego clássico

1.3 – Os dois eixos da geografia no Islã


Contextos geohistóricos do surgimento do Islã *

Peter N. Stearns, estudioso da história do Islã, elaborou uma síntese, com


grande poder de evocação, sobre a Arábia antes da Islamização:

“A ARÁBIA ANTES DO PROFETA – A Arábia antes do nascimento de Maomé


tinha sido uma região isolada e economicamente subdesenvolvida. A
península Arábica tem algo como 1/3 do território continental dos Estados
Unidos. Grande parte da terra é árida e deserta, a pluviosidade é escassa, a
vegetação pobre e apenas uma pequena parte da terra presta-se ao cultivo.
No norte da região, vários reinos árabes eram capazes de estabelecer
contatos com os impérios Bizantino e Sassânida desde o século V de nossa
era. No sul, pequenos reinos árabes, inclusive Sabá (Sheba), eram antigos
centros da civilização arábica. Mas, no interior, dotado de poucos oásis, a
vida nômade era a única forma de existência bem sucedida” (STEARNS, 2011,
p.2).

(*)Cf. Amorim Filho, 2018.


A EXPANSÃO DO ISLÃ

A partir desse cenário geográfico hostil, o


povo (disperso em famílias, clãs e tribos) que o
habita será sujeito de duas evoluções
extraordinárias.
Em termos militares, religiosos e políticos,
este povo será capaz de estender o poder
islâmico até o vale do Indus, no lado oriental, e
até o norte da África e a Península Ibérica, no
lado ocidental.
INTRODUÇÃO

ISLÃ

O Islã é a religião fundada pelo profeta Maomé no início do século VII,


na região da Arábia.

O símbolo do Islã é considerado por Hilal, também


chamado de Lua Crescente, remete ao calendário lunar,
regentes para a vida religiosa e principais rituais, tendo
conexão com antiga realeza árabe.

A estrela representa Alá e a adoração levada a cabo pelos


islâmicos por este mesmo.
Imagem: Star and Crescent / Kbolino /
Public Domain

O Islã é o conjunto dos povos de civilização islâmica, que professam o islamismo; em


resumo, é o mundo dos seguidores dessa religião.
O ISLÃ E A SUA ORIGEM

Fonte: http://www.slideshare.net/ilusaobento/7-ano-ul2islamismo
Gênese
Abraão

Isaac Ismael

Moisés
Judaísmo

Séc. I d.C. Jesus Cristo


CRISTIANISMO

Séc. VII d.C. Maomé


ISLÃ
CULTO

5 Pilares do Islamismo:

Profissão de fé: Não há senão um único Deus, e Maomé é seu profeta.

Rezar cinco vezes ao dia repetindo textos do Alcorão, inclinando-se à direção


de Meca.

Jejuar desde o romper do sol até o ocaso no mês do Ramadão.

Caridade / Dar esmolas.

Ir a Meca em peregrinação ao menos uma vez na vida.


Existência de um só Deus, cujo profeta é Maomé
DOUTRINA Predestinação para o céu ou para o inferno
Ressurreição
Necessidade de fazer a Guerra Santa - Jihad
Doutrina consagrada no Alcorão

Submeter-se a Alá pela simples submissão


MORAL Não existe qualquer preceito que vise um melhoramento
pessoal
Praticar a hospitalidade
Repudiar o adultério (aceitando-se, embora, a poligamia e o
divórcio)
Repudiar carnes impuras e bebidas alcoólicas

DIA SAGRADO Sexta-feira

Fonte: http://www.slideshare.net/ilusaobento/7-ano-ul2islamismo
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA FÉ ISLÂMICA

 Ter fé em Alá, único Deus existente;

 Acreditar nos anjos, seres criados por Alá;

 Acreditar no Alcorão como o derradeiro e completo livro


sagrado;

 Acreditar nos vários profetas enviados por Alá a cada


humanidade;

 Acreditar no Juízo Final, no qual as ações de cada pessoa


serão avaliadas;

 Acreditar na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder


de decidir sobre o que acontece a cada pessoa.
http://oslusonautas.blogspot.com/2014/11/a-expansao-islamica-notas-para-aula.html
Fonte: Atlas da História Medieval, C. McEvedy, 1979. p. 41
Fonte: Atlas da História Medieval, C. McEvedy, 1979. p. 43
Fonte: Atlas da História Medieval, C. McEvedy, 1979. p. 59
Fonte: Atlas da História Medieval, C. McEvedy, 1979. p. 83
UMA CIVILIZAÇÃO INTELECTUALMENTE AVANÇADA

Em termos intelectuais e científicos, e em não mais do


que três séculos, os pensadores árabes e de outros povos
Islamizados serão capazes de deixar o atraso milenar que
lhes era comum, para tornar-se a comunidade
culturalmente mais avançada do mundo, em meados da
Idade Média.
Entre os séculos VII e XII, nos vastos territórios
islamizados, da Ásia centro-meridional às bordas mais
ocidentais da península Ibérica e do Marrocos, dezenas de
cidades se desenvolveram e algumas se tornaram grandes
centros científicos e culturais: Damasco, Cairo, Tunis, Fez,
Granada, Sevilha, Córdoba e, particularmente, Bagdá.
Natureza das fontes
de informação
Ortodoxia & Filosofia
 Ortodoxia • Filosofia
 Acredita na verdade definitiva sobre
o homem e a sociedade deve se
– Primária da pesquisa
referir racional sobre
 ao Corão, revelação em ambas
 Às tradições proféticas (hadith) as ciências teóricas e
e (fiqh) práticas
 [1] Hadith se refere às palavras
e ações do profeta Maomé.
 [2] Fiqh é uma expansão da lei
islâmica, complementada pelas
decisões dos juristas islâmicos
para guiar as vidas dos
muçulmanos.
Os vários tipos de ciências intelectuais

• Lógica • Ciências matemáticas


• Questões espirituais e – Geometria
metafísicas – Aritmética
• Física – Música
– Astronomia
Filosofia no mundo islâmico

• Falsafa, a palavra árabe para Filosofia


• Hikma (sabedoria)
Movimento de tradução greco-árabe
1. As traduções do "círculo de al-Kindi": Aristóteles, a tradição
neoplatônica e a ascensão da falsafa
2. Durante o reinado do Califado Abássida al Ma'mun (r. 813-833) - as
traduções da Hunayn ibn Ishaq (d.873), seu filho Ishaq (d.911) e seus
associados.
3. Revisões e edições escolares da versão antiga pelos peripatéticos de
Bagdá. (séc. X d.C.)
4. A Casa da Sabedoria (Bayt al-Hikma) foi fundada pelo califa Harune
Arraxide, tendo atingido seu auge no reinado de seu filho Almamune
(813-833). A Almamune, se credita o fato de ter atraído muitos eruditos
conhecidos para compartir informação, ideias e cultura à Casa da
sabedoria de Bagdá entre os séculos IX e XIII. Vários dos mestres
muçulmanos mais eruditos fizeram parte deste importante centro
educacional. Visavam a traduzir livros do persa para o árabe, além de
preservar os livros existentes.
UMA CIVILIZAÇÃO INTELECTUALMENTE AVANÇADA

• Em termos intelectuais e científicos, e em não mais do que três


séculos, os pensadores árabes e de outros povos Islamizados
serão capazes de deixar o atraso milenar que lhes era comum,
para tornar-se a comunidade culturalmente mais avançada do
mundo, em meados da Idade Média.
• Entre os séculos VII e XII, nos vastos territórios Islamizados, da
Ásia centro-meridional às bordas mais ocidentais da península
Ibérica e do Marrocos, dezenas de cidades se desenvolveram e
algumas se tornaram grandes centros científicos e culturais:
Damasco, Cairo, Tunis, Fez, Granada, Sevilha, Córdoba e,
particularmente, Bagdá.
“A CASA DA SABEDORIA”

• Abu Jafar Al-Mansur (no poder entre 754 e


775) lança, no final do século VIII, os
fundamentos de um ambicioso projeto de
longo prazo, que só alcançaria sua maturidade
na primeira metade do século IX, com o califa
Al-Mamun. Jonathan Lyons assim descreve a
opção de Al-Mansur:
• “Protegido pelos muros duplos e portões fortificados de sua nova
cidades na margem ocidental do Tigre, o enérgico Al-Mansur
resolveu transformar seus domínios díspares numa superpotência
científica e garantir o futuro dos abássidas associando seu novo
Estado às grandes tradições clássicas que existiram ante dele. (...)
Para acomodar a vasta escala do trabalho necessário para traduzir,
copiar, estudar e guardar o volume crescente de textos persas,
sânscritos, e gregos, Al-Mansur criou uma biblioteca real baseada
nas dos grandes príncipes persas. Era preciso também espaço de
trabalho, suporte administrativo e auxílio financeiro para o pequeno
exército de eruditos que assumiria essas tarefas e depois as usaria
de forma criativa e original. Essa foi a origem do que ficou conhecido
em árabe como a Bayt Al-Hikma, ou Casa da Sabedoria (...). Ao longo
do tempo, a Casa da Sabedoria veio a abranger um escritório de
traduções, uma biblioteca e repositório de livros e uma academia
que contava com eruditos e intelectuais de todo o império” (LYONS,
2009/2011, pp. 87 e 88).
• Os efeitos desse “embrião de academia” logo se fizeram
sentir, primeiramente entre os árabes que, antes dos séculos
VIII e IX, não possuíam trabalhos filosóficos e científicos que
pudessem se assemelhar aqueles dos gregos, realizados cerca
de 1.000 anos antes. Lyons continua, a respeito:

“Ao longo de 150 anos, os árabes traduziram todos os


livros gregos disponíveis de ciência e filosofia. O árabe
substituiu o grego como língua universal da pesquisa
científica. A educação superior ficou cada vez mais
organizada no início do século IX e a maioria das
principais cidades muçulmanas tinha algum tipo de
universidade” (LYONS, 2009/2011, p. 90).
Representação hipotética da Biblioteca da Casa da Sabedoria

Fonte: http://www.toptenz.net/top-10-knowledge-centers-libraries-horribly-destroyed.php
As civilizações antigas que habitam o que hoje é o
Iraque eram apoiantes das artes e apoiavam bibliotecas
antigas em toda a região. Quando a região caiu sob
expansão islâmica, os árabes conquistadores
descobriram e celebraram esse vasto conhecimento
que seu Império agora possuía. Várias coleções foram
criadas combinando livros de todo o mundo islâmico.
Primeiro, a coleção foi realizada em Damasco e em
762, sob o califa al-Mansur, foi criada a cidade de
Bagdá. As funções do governo e a biblioteca logo se
mudaram para lá.
The ancient civilizations that inhabit what is now Iraq were supporters of the arts, and supported
fledgling ancient libraries across the region. When the region fell under Islamic expansion, the
conquering Arabs discovered and celebrated this vast knowledge their Empire now held. A number of
collections were created that combined books from across the Islamic world. First, the collection was
held in Damascus and in 762, under the Caliph al-Mansur, the city of Baghdad was created.
Government functions and the library soon moved there.
Em Bagdá, a biblioteca floresceu e ficou conhecida como Casa da Sabedoria, com
conhecimento de fontes gregas, além de trabalhos impressos e traduzidos dos
reinos do leste da China e da Índia. No entanto, do leste, veio a destruição de
Bagdá. No século 13, Hulagu Khan e sua horda mongol conquistaram tudo em seu
caminho até que ele controlou a maior parte do sudoeste da Ásia. Quando
atravessou as fronteiras do califado islâmico abássida, enviou enviados para sua
capital em Bagdá, que foram repelidos pelo governante de Bagdá, o califa Al-
Mustaim. Enfurecidos, os mongóis afastaram qualquer resistência e chegaram
rapidamente aos portões de Bagdá, que foram submetidos a um cerco de dois
meses antes da cidade se render. A cidade foi então saqueada por uma semana, e
o rio alternou entre ficar vermelho com o sangue dos mortos e preto com todos os
livros que foram jogados no rio. Centenas de milhares de maravilhas de valor
inestimável foram destruídas, e o saco da cidade marcou o fim da era de ouro do
Islã.
*In Baghdad, the library flourished and became known as the House of Wisdom, holding knowledge from Greek sources as well as printed and
translated works from the Eastern Kingdoms of China and India. However, from the East, came Baghdad’s destruction. In the 13th century,
Hulagu Khan and his Mongol horde conquered everything in his path until he controlled most of Southwest Asia. When he came across the
borders of the Islamic Abbasid Caliphate, he sent envoys to their capital in Baghdad, who were rebuffed by Baghdad’s ruler Caliph Al-
Musta’sim. Incensed, the Mongols brushed aside any resistance and were quickly at the gates of Baghdad, which they put under a two-month
siege before the city surrendered. The city was then sacked for a week, and the river alternated between turning red from the blood of those
killed, and black from all the books that were thrown into the river. Hundreds of thousands of priceless wonders were destroyed, and the sack of
the city marked the end of the golden age of Islam.
Fonte: http://www.toptenz.net/top-10-knowledge-centers-libraries-horribly-destroyed.php
Era dos polímatas (‘‘Homem renascentista’’)

• Al-Razi (Rasis)
• Ibn al-Haytham (Alhacen)
• Ibn Sina (Avicenna)
• Al-Biruni (Alberonius)
• Ibn Zuhr (Avenzoar)
• Ibn Rushd (Averróis)
• Ibn Tufail (Abubacer)
• Ibn Bajjah (Avempace)....
• Traduções para o Latim (séc. XI em diante)
Fluxo cultural inter-regional

Bendosabora, Pérsia

http://www.thekeytoislam.com/en/islamic-civilization-modern-science.aspx
A movimentação de estudiosos bizantinos para a Itália
Neoplatonismo na filosofia
política islâmica
• Al-Farabi (870–950 d.C.)
-Os princípios das opiniões do povo da cidade
excelente
Al-Madina Al-Fadıla
• Ibn Rushd (1126–1198 d.C.) (Averróis)
- Escreveu comentários sobre A República de
Platão e na Ética a Nicômaco, de Aristóteles.
Os dois eixos da geografia no islã medieval e as sínteses

Léon L’Africain
(Século XV-XVI)

Organizado por: Oswaldo Bueno Amorim Filho – PUC-Minas 2011/2012


As Geografias no Kitab (Idrisi) e na Rihla (Battuta)
IDRISI (1100-1166?) BATTUTA (1304 - 1369→1377?)

Origem Geográfica Mazara (Sicília)? ou Ceuta Tanger (Marrocos); Família Berbere/


(Marrocos)?; Família Árabe / Andaluz; Andaluz
Dinastia Idríssida
Obra/ Finalidade “Kitab Rujâr” (Livro de Rogério da “Rihla” (Livro de viagens pelo mundo
Sicília); Descrição geográfica do islâmico-século XIV)
mundo (Século XII), em especial a
Europa e o Mediterrâneo.
Influências Principais Ptolomeu, Orosius (da Espanha pré- Ibn-Jubayr, Ibn-Khoderbech, Ibn-
islâmica); Azarchel (astrônomo Hawkal, outros geógrafos/ viajantes
hispano-muçulmano); Geógrafos árabes, por sua vez, influenciados pelos
muçulmanos. gregos antigos.
Papel da Religião Presente, mas não fundamental ou Causa inicial; orientação geral e uma
decisiva. das finalidades maiores da viagem.
Bases Epistemológicas Abordagens da geografia geral e zonal; Abordagem corográfica, baseada em
inspirados em Ptolomeu e com o uso da métodos de geografia de viagens;
Cartografia; Perspectiva científica. relatos de viagens. “Mundos vividos” /
“geografias experienciais”.
Fontes das informações Informações acumuladas no Reino da Observações de viagem (“campo”) e
Sicília; entrevistas guiadas com uma memória geográfica excepcional,
viajantes; viagens pessoais. para relembrar as percepções
geográficas do Battuta viajante.

Mapas, figuras, tabelas, etc. Presentes, inclusive um “globo Não presentes, mas, talvez, usados pelo
terrestre”. autor em suas viagens.
Viagens Presentes, mas limitadas em número e O autor foi o maior viajante da Idade
alcance. Média, principalmente no Islã.
Organizado por Oswaldo Bueno Amorim Filho – PUC-Minas, 2014
Viagens de Ibn-Battuta Figure 2B.2

2-42
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A RIHLA DE BATTUTA

O termo al-rihla, diferentemente do Kitab se refere às grandes


viagens em busca de conhecimento, que os muçulmanos,
principalmente do Magreb, realizavam durante a Idade Média,
especialmente entre os séculos XII e XIV, com a intenção de
cumprir o mandamento que, neste sentido, tinha sido
recomendado pelo próprio Profeta. (DOUGLAS BULLIS, em site
acessado em 10/06/2013, afirma o seguinte sobre a Rihla: “ al-
rihla(…), travel in search of knowledge, in Islamic North Africa
in the 12th to 14th centuries.”)
A Rihla de Battuta, com base nas caracterizações que desse
termo fizeram os árabes medievais, pode ser colocada em duas
categorias que não se excluem e que, muito frequentemente se
complementam:
• de um lado, ela se assemelha aos relatos geográficos feitos por
escritores, viajantes e geógrafos gregos antigos, tais como:
Herótodo ou Pytheas. A matriz da maioria desses relatos é a
Odisséia de Homero;
• de outro lado, a Rihla tem sido considerada como uma das
manifestações mais brilhantes da chamada literatura de
viagens e aventuras.
UM EXEMPLO DE DESCRIÇÃO URBANA DE
BATTUTA
"Deixei Emesia para ir à cidade de Hamah, uma das metrópoles mais nobres da
Síria e uma das cidades mais admiráveis. Ela tem uma beleza resplandecente e
uma graça perfeita; é cercado por jardins e pomares, perto dos quais vemos rodas
d'água, que levaríamos para globos celestes que giram. É atravessado pelo rio
considerável chamado Al'âcy. Ele também possui um fauborg chamado
Almansoûriyah, que é maior que a própria cidade e onde vemos mercados
movimentados e banhos magníficos.
Em Hamâh, há muitos frutos, entre os quais o chamado damasco de amêndoa;
porque, quando você quebra seu núcleo, encontra dentro de uma amêndoa doce
”(BATTUTA, tradução do árabe de C. Defremery e B.R. Sanguinetti (1858),
apresentada por Stéphane Yerasimos, 1982, p.176).

“Je sortis d’Emése pour me rendre à la ville de Hamâh, une des métropoles le plus nobles de la Syrie, et une de ses
villes les plus admirables. Elle possède une beauté resplendissante et une grâce parfaite; elle est entourée de jardins et
de vergers, près desquels on voit des roues hydrauliques, qu’on prendrait pour des globes célestes qui tournent. Elle est
traversée par le fleuve considérable nommé Al’âcy. Elle a aussi un fauborg nommé Almansoûriyah, qui est plus grand
que la ville même, et où l’on voit des marchés très fréquentés et des bains magnifiques.
Dans Hamâh, il y a beaucoup de fruits, parmi lesquels celui appelé abricot à amande; car, lorsqu’on casse son noyau, on
trouve à l’intérieur une amande douce”(BATTUTA, traduction de l’arabe de C.Defremery et B.R. Sanguinetti (1858),
presentée par Stéphane Yerasimos, 1982 p.176).
Os dois eixos da geografia no islã medieval e as sínteses

Léon L’Africain
(Século XV-XVI)

Organizado por: Oswaldo Bueno Amorim Filho – PUC-Minas 2011/2012


Pensamento árabe-muçulmano:
o pioneirismo na Teoria Social e
nas Epistemologias do Sul de
Ibn Khaldun
PESQUISA RÁPIDA

 Quantos de vocês já
leram OU ouviram falar
de Ibn Khaldun?
Citação atribuída a Ibn Khaldun
• "Aquele que encontra um novo caminho é um
descobridor, ainda que o caminho venha a ser
encontrado novamente por outros; e aquele que
caminha bem adiante de seus contemporâneos é um
líder, mesmo que séculos se passem antes que ele
seja reconhecido como tal."
Ibn Khaldun (1332-1406)
Abu Zayd ‘Abd al-Rahman ibn Muhammad ibn Khaldun al-Hadhrami
Filósofo, sociólogo e cientista social
A visão de Ibn Khaldun sobre a História
• Todas as dinastias políticas estão condenadas à destruição em, no máximo,
cinco séculos;

• O objeto da História é saber sobre a organização social;

• História como ciência;

• O papel do meio ambiente na formação das sociedades;

• Um relato filosófico da história - "Introdução à História Universal“ - também


chamado de Prolegômenos (Al Muqaddimah);

• Kitab al-Ibar (O livro dos exemplos/histórias)


A visão cíclica da história de Ibn Khaldun

Mudar para a cidade


e estabelecer
“Al-Mulk”
(“A Soberania”; as
vezes aproxima-se
do sentido de
“O Reino”

Expansão e Degeneração
invasão

Asabiyya dos Colapso


Beduínos
“Islamicado”

• “Islamicado”, termo criado por Marshall Hodgson, no sentido


de sinalizar a importância do Islã-Civilização mais do que Islã-
Religião, tentando esclarecer a confusão generalizada que se
criou a partir das múltiplas referências que tem a palavra Islã;
• A expressão refere-se a “uma cultura, centrada na tradição
letrada, que tem sido historicamente distinta da Islamidade
(que faz eco do termo “Cristandade”), entendida como
sociedade.

• Ver a discussão destes termos na seção ‘Usage in Islamics Studies’ do seu ‘Introduction to the Study of
Islamic Civilization’. In HODGSON, Marshall G.S. The Venture of Islam. Conscience and History in a World
Civilization, vol.1: The Classical Age of Islam. Chicago: Chicago University Press, 1974, pp. 56-60.
Sobre Ibn Khaldun

Nome Ibn Khaldun [Abū Zayd ‘Abdu r-Raḥman bin Muḥammad bin Khaldūn al-Ḥaḍramī]

Nascimento 27 de maio, 1332 d.C. (732 Após a Hégira)


Morte 19 de Março, 1406 d.C. (808 Após a Hégira)
Escola/ Ashari (Ash'ari foi uma Escola Teológica realizou uma mudança drástica da
Tradição teologia islâmica, separando seu desenvolvimento, radicalmente, daquela relativo
à Teologia no mundo cristão). O Ashʿarismo é a mais difundida escola teológica do
Islã sunita que estabeleceu uma diretriz ortodoxa dogmática baseada na
autoridade clerical, fundada pelo teólogo árabe Abu al-Hasan al-Ashʿari (874 – 936
/ 260 – 324 d.C.).

Principais Sociologia, História, Historiografia, Demografia, Economia, Filosofia da História,


interesses Geografia e Geopolítica.

Ideias “Asabiyya” - é um conceito de solidariedade social com ênfase na unidade,


notáveis consciência de grupo e senso de propósito compartilhado e coesão social
("tribalismo" e "clanismo“).

Influências Al-Razi [Uma contribuição fundamental e duradoura para os campos da Medicina,


Alquimia e Filosofia, recordada em mais de 184 livros e artigos em vários campos
da Ciência.]

Influenciou Al-Maqrizi (1364-1442) e muitos autores das Ciências Sociais [Notável nesse
contexto por seu grande interesse na dinastia dos Fatímidas em seu papel na
história do Egito]
Educação & Primeiros anos
• Recebeu uma educação árabe clássica, dedicando-se ao Corão e a linguística
árabe, a base para uma compreensão do Corão, o Hádice (Hadith) [1] e a Fiqh [2],
Matemática, Lógica e Filosofia;
• Perdeu seus pais para uma epidemia da praga que atingiu Túnis quando ele tinha
17 anos; em uma típica família muçulmana, seguir a tradição da família é comum,
por isso ele se esforçou para seguir uma carreira política;
• Serviu como assistente e secretário para alguns oficiais do governo; sua carreira
dependeu da boa vontade de seus superiores; mudava de trabalhos
frequentemente quando as tendências políticas mudavam;
• E sua vida aventureira começou, na qual ele passou tempo na prisão, atingiu os
postos mais altos e partiu novamente para um exílio;
• levou uma vida extremamente agitada, viajando para, entre outros lugares, Meca,
Damasco, Palestina, Sevilha e, ocasionalmente, encontrava tempo de lazer para
lecionar, estudar e escrever;
• Dentre as personalidades notáveis que Ibn Khaldun encontrou em suas aventuras,
pode-se citar o Rei Pedro I de Castela e Tamerlão;
[1] Hadith se refere às palavras e ações do profeta Maomé.
[2] Fiqh é uma expansão da lei islâmica, complementada pelas decisões dos juristas
islâmicos para guiar as vidas dos muçulmanos.
Sua aventura

• Educação contínua, social e política, contínua


• Desempenhou um papel importante na liderança
política de Sevilha

• Tornou-se juiz e ocupou um cargo em tribunais


no Magreb e na Andaluzia (Espanha).

• um dos motivos pelos quais ele viajava é


porque ele precisava encontrar um estudioso de
determinada instituição para satisfazer seu
desejo por conhecimento.
Figura 1 - LACOSTE, Yves. Ibn Khaldun; nascimento da História, passado do
Terceiro Mundo. São Paulo: Ática, 1991, p. 252.
Figura 2 - LACOSTE, 1991, p. 253.
Figura 3 - LACOSTE, 1991, p. 253.
Figura 4 - LACOSTE, 1991, p. 254.
Figura 5 - LACOSTE, 1991, p. 254.
Figura 6 - LACOSTE, 1991, p. 255.
Figura 6 - LACOSTE, 1991, p. 255.
Figura 6 - LACOSTE, 1991, p. 256.
A Comunidade
Estrutura, normas
e
desenvolvimento
O MAGNUM OPUS "AL-
MUQADDIMAH"
 O que é Muqaddimah?
 "Introdução à história universal“;
 Ensinar é um ofício;
 Um papel importante no fornecimento de
referenciais conceituais e paradigmáticos, assim
como uma base epistemológica do estudo da
sociedade humana;
 Esse documento impressionante é a essência de
sua sabedoria e experiência obtida com muito
esforço;
 Usa seu conhecimento político e previamente
adquirido sobre o povo do Magreb para formular
várias de suas ideias;
 a discussão sobre sociedades tribais e forças sociais
seria a parte mais interessante de sua tese;
 Suas teorias da Umran (ciência da sociedade como
totalidade) são todas pérolas do conhecimento.
A estrutura do Muqaddimah

• Cap 4 : Países e cidades e todas as formas de


civilizações sedentárias. As condições nesse
contexto. Considerações primárias e
secundárias sobre essa questão.
• Cap 5 : Sobre vários aspectos acerca de como
ganhar a vida, tais como lucro e os ofícios. As
condições que ocorrem nessa conexão. Vários
problemas são relacionados a esse assunto.
• Cap 6 : as várias formas de ciência. Os
métodos de ensino. As condições que se
encontram nesse contexto.
As normas
• Cultura sedentária é o objetivo da civilização.
– O fim de sua vida útil e traz a corrupção
• Cidades, que são as sedes da autoridade real, são arruinadas
quando a dinastia dominante entra em colapso;
• Certas cidades têm como trunfo a produção de mercadorias
específicas, que são muito valorizadas e que geram lucros e
poder;
• A existência do sentimento de grupo e uma auto representação
dos habitantes da própria cidade como superiores aos habitantes
de outras cidades e regiões;
• A população urbana desenvolve variações linguísticas
(‘’dialetos’’) em relação a língua oficial ou em relação a língua
falada nas zonas rurais;
A Comunidade
• Nômade (al-’umran al- • Sociedades sedentárias
badawi) (al-’umran al-hadari)

Sociedades
Nômade Processo
sedentárias
(al-’umran al- geográfico-
(al-’umran al-
badawi) histórico
hadari)
Relevância para a sociologia contemporânea
• Ibn Khaldun e Auguste Comte
– Ambos enfatizaram um método histórico e
não propuseram métodos estatísticos
– Ambos distinguiram suas ciências
daquelas que os precederam
– Ambos acreditavam que a natureza
humana é a mesma em todos os lugares
– Ambos reconheceram a importância da
mudança social
AS CAUSAS E CUSTOS DO
Desenvolvimento Economico:

O que formuladores e gestores de políticas


públicas (‘’policy makers’’) de hoje em dia podem
aprender com Ibn Khaldun
CONDIÇÕES POLÍTICAS
 O Império Islâmico estava em estado de
senilidade;
 Ameaças internas devido às convulsões
políticas e fragmentação dentro do mundo
muçulmano;
 Várias dinastias rivais emergiram na área
mediterrânea do Norte da África.
 Ameaças externas relacionadas à invasões
dos mongóis e dos cristãos;
O ISLÃ E O COMÉRCIO NO NORTE DA ÁFRICA
 Do século VIII ao XI, os comerciantes árabes muçulmanos converteram os norte-
africanos ao Islã;
 Da África do Norte, os árabes disseminaram o Islã para os Estados da África
Ocidental por meio da rede comercial do sal e do ouro;
 O comércio na África prosperou com o advento do Islã, dando início ao processo
de urbanização;
 A Europa era um parceiro comercial da África, uma vez que necessitavam do
ouro, têxtil de alta qualidade e artefatos em ferro da África;
 Túnis se tornou um famoso centro de comércio e de aprendizagem para artífices
e para pensadores;
 Comerciantes muçulmanos do Norte da África embarcavam bens através do
deserto do Saara usando caravanas de camelos - em média, mil camelos
 Líderes de caravanas e professores religiosos disseminavam valores sociais,
políticos e religiosos para as pessoas ao longo das rotas comerciais
 Eles traziam principalmente bens de luxo, como têxteis, sedas, miçangas,
cerâmica, armas ornamentais e utensílios; estes eram trocados por ouro, marfim,
madeiras como ébano e produtos agrícolas.
O QUE ELE ESCREVEU?
• Kitab Al-Ibar (lit. Livro de Conselhos)- O Livro
da História, que consiste em 7 volumes;
• A Muqaddimah, também conhecido como o
Prolegômenos, é o primeiro volume e é uma
introdução ao Kitab Al Ibar;
• O Prolegômenos, por si só, contém mais de 1.500
páginas e foi escrito em apenas 5 meses
• Ele também escreveu sua própria biografia, ou
Al-Taarif bi Ibn Khaldun;
O MUQADDIMAH
KITAB AL-IBAR
Primeiro volume Sete volumes

Al-Taarif bi Ibn SUA VIDA E


Khaldun EXPERIÊNCIAS
QUAIS SÃO SUAS CONTRIBUIÇÕES
GERAIS?
1.Um precursor da historiografia moderna,
economia, sociologia, educação e teoria
política.
2.Estudou a ascensão e declínio de nações com
base na natureza empírica e racional da
pesquisa.
3.Foi o primeiro a desenvolver uma abordagem
científica para o estudo do comportamento, da
sociedade e da história humana
4.Descobriu a teoria do desenvolvimento social
humano
CONTRIBUIÇÕES GERAIS

PAI DA HISTÓRIA ECONOMIA


SOCIOLOGIA COMO POLÍTICA
UMA
CIÊNCIA
O QUE O OCIDENTE DIZ
SOBRE IBN KHALDUN?
• Por mais de 1,000 anos entre os tempos do
filósofo Aristóteles na Grécia Antiga e o
escritor Maquiavel na Itália
Renascentista, o cientista social mais
proeminente foi um estudioso árabe
muçulmano chamado Ibn Khaldun. Ele
foi um historiador, filósofo da história e
sociólogo, cuja vida foi dedicada ao
serviço público e ao ensino (Encyclopedia
Britannica).
• É verdade que Tácito e Tucídides
lançaram grande parte das bases da
ciência da sociedade. Contudo, é Ibn
Khaldun quem faz progresso no que se
refere à transformação do estudo da
sociedade e da história em um esforço
científico: se Tucídides é o inventor da
história, Ibn Khaldun introduz a
história como ciência (Yves Lacoste).
• Após ler uma pequena parte do trabalho de
Khaldun, eu devo admitir que estou
impressionado pela genialidade do homem.
Como eu pude passar tanto tempo da
minha vida na política sem ter sido levado a
ele antes? Ibn Khaldun não é um árabe
neoplatônico, uma vez que sua visão de
mundo subsome a deles e é original, não
expressa previamente no mundo. Esse
avanço singular não é apenas incrível, mas
praticamente uma evidência de inspiração
divina (Jude Wanniski, Supply Side
Economist).
Por que ele escreveu a Introdução a História
Universal ?

• Mudança de circunstâncias (mudanças


na composição da população,
epidemias)
• Erros cometidos por historiadores
antigos (o significado interno e
externo da História)
• Deu a ele a oportunidade de escrever a
História de uma forma diferente.
Mudanças das
circunstâncias
sociais,
econômicas e
políticas.

Razão
de Ser
Significado Erros cometidos
interno da por historiadores
história do passado
O QUE MOLDA A MENTE KHALDUNIANA
 Sua educação dual em ciências da religião
e ciências filosóficas
 Suas experiências como administrador
público e professor
 As provações e tribulações
 As realidades política, econômica e social
de seu tempo.
 O Muqaddimah é uma reflexão desses
eventos e suas experiências.
PRINCÍPIO DA
CAUSALIDADE
 Ibn Khaldun acreditava que há nexo
entre eventos.
 Há padrões similares no passado, no
presente e no futuro.
 Usa métodos indutivo e dedutivo para
derivar teorias e leis econômicas que
ele acredita que governam fenômenos
econômicos e sociais.
INTERRELAÇÕES NA MULTIDÃO
DE FATORES
• Ele crê em inter-relações entre fatores
econômicos, sociais, políticos, psicológicos
e religiosos.
• Eles são inseparáveis , e um problema
econômico é resultado de fatores
econômicos e não econômicos.
• Não podemos compreender fenômenos
econômicos apenase com fatores
econômicos .
Mais é melhor do que menos?
 Há uma noção fundamental na
economia de que mais é melhor
do que menos.
 Ibn Khaldun discorda disso.
 Em certo ponto, mais de qualquer
coisa irá causar efeitos prejudiciais
no homem, na sociedade e no
meio ambiente.
Sua visão do ser humano
 Ele começou sua análise do crescimento
econômico olhando para 4 qualidades do
ser humano:
 Habilidade de pensar.
 Necessidade natural de liderança.
 Modos de vida econômicos.
 Necessidade natural de sociedade, cidades
e civilizações.
SER
ESPIRITUAL

SER SER
INTELIGENTE ECONÔMICO

Ser
Humano

SER SER
SOCIAL FÍSICO

SER
POLÍTICO
O HOMEM E HÁBITOS
 Um traço ou qualidade como resultado de
fazer as coisas de modo repetitivo.
 Hábitos em conhecimento e habilidades
resultam em maior qualidade de capital e
bens humanos. É ruim tratando-se de luxo
excessivo ou qualidades culpáveis.
 Será difícil se livrar dele, ainda que tenha
efeitos negativos na sociedade e no meio
ambiente.
SOCIEDADE
 O homem precisa da sociedade para obter
suas necessidades básicas e desejos.
 A sociedade precisa de liderança e o
espírito de solidariedade para alcançar a
prosperidade e o crescimento.
 Ele diferencia as sociedades urbanas e
rurais.
 A sociedade se comporta como um
organismo e introduz a teoria do ciclo da
vida da sociedade, liderança e civilização.
Nascimento de
uma nova
sociedade

Dissolução Crescimento

Declínio Auge
A CONTRIBUIÇÃO DE IBN KHALDUN PARA A TEORIA DO
IBN KHALDUN’S CONTRIBUTION
CRESCIMENTO ECONÔMICO TO THE
THEORY OF ECONOMIC GROWTH

Criar

Desaparecer Crescer

Atingir o
Decair
auge
População

Religião Governo

Justiça e Crescimento Ideias e


liberdade
econômico tecnologia
econômica

Gastos Capital
privados humano

Comércio
TEORIA DO CICLO DA VIDA E O
CRESCIMENTO ECONÔMICO
• Ibn Khaldun sugere uma teoria do ciclo da
vida da sociedade.
• Devido à crise financeira de 2008, alguns
economistas contemporâneos ocidentais estão
falando sobre Teoria Econômica Celular.
• Os negócios se comportam de acordo com a
natureza das coisas vivas que passam pelo ciclo de
nascimento, crescimento e morte.
Desenvolvimento Crescimento Limite ao
Custos
População Econômico populacional Desenvolvimento
sociais
Econômico
ESTADOS COM ALTA POPULAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO
na perspectiva de Ibn Khaldun

EGITO
Cidades e Estados com maior
população terão maior
desenvolvimento econômico
CHINA devido à maior oferta de mão de SÍRIA
obra e a maior qualificação dos
trabalhadores e dos efeitos
multiplicadores disso, à medida
em que a renda aumenta.

ÍNDIA
A RELIGIÃO LEVA AO DECLÍNIO
ECONÔMICO?
 Ibn Khaldun afirma que
definitivamente não!
 De fato, a religião estimula o
Desenvolvimento Econômico.
 A África se tornou o maior
centro comercial do mundo no
século XIV, após o advento do
Islã.
HOW
COMORELIGION SPURS
A RELIGIÃO PROMOVE O CRESCIMENTO?
GROWTH?
A religião proíbe políticas injustas e, portanto, fornece
incentivos para os negócios, gera crescimento e
aumenta a receita fiscal.

A religião introduz políticas públicas propícias para


que os negócios prosperem, fornece liberdade
econômica e estabilidade macroeconômica.

A religião desenvolve o bom caráter no homem, aumenta a


solidariedade de perseguir um objetivo comum para a
estabilidade política e o crescimento econômico

A religião pode influenciar o processo cíclico do crescimento e


o declínio econômico criando bons homens e bons líderes que
praticam boa governança e protegem o interesse público
LACOSTE, Yves. Ibn Khaldun; nascimento da
História, passado do Terceiro Mundo. São Paulo:
Ática, 1991 (Original: Ibn Khaldun. Naissance de
l'Histoire /Passé du Tiers Monde.1966. Paris:
Librairie François Maspero, 1966).

TEIXEIRA, Rodrigo Corrêa; PEREIRA, Luiz &


LIMA, Joelton. Geohistória da Mundialização: o
caso da expansão do Islã na África a partir de Ibn
Khaldun. Caderno de Geografia . v.31, n.67, 2021
p. 918 – 931 (
http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/
article/view/27318
)
Slides Complementares
ADAM SMITH OU KEYNES

• Embora Ibn Khaldun (1377), como Adam Smith


(1776), considere a liberdade econômica como
uma condição necessária para a promoção de
atividades relacionadas a negócios, assim como
Keynes, ele também acredita que gastos do
governo são necessários para promover o
crescimento e a estabilidade macroeconômica.
• A presença do governo não deve ser muito grande
às custas de empresas privadas e atividades
empresariais.
LIDERANÇA, MOTIVAÇÃO E
CRESCIMENTO ECONÔMICO
• Em outras palavras, Ibn Khaldun acredita
que há uma relação significante entre
liderança política, motivação e crescimento
econômico.
• Liderança e governo devem introduzir
políticas que melhorem as motivações dos
indivíduos e empresas para promover o
crescimento.
1º Estágio: liderança política chegando ao poder e
implicações econômicas

2º Estágio: Liderança política e implicações


econômicas

3º Estágio: Liderança política e implicações


econômicas

4º Estágio: Liderança política e implicações


econômicas

5º Estágio: Liderança política se engaja em gastos


excessivos, levando ao declínio moral, econômico e
político
• O próprio Arthur Laffer admitiu que foi Ibn
Khaldun quem introduziu pela primeira vez essa
ideia da relação invertida em forma de U entre
alíquotas e receita tributária (Laffer, 2004).
• Laffer tentou provar a validade dessa teoria de Ibn
Khaldun citando exemplos na história dos Estados
Unidos:
Durante o século XX, os Estados Unidos tiveram um
período maior de cortes nas taxas de impostos: os cortes de
Harding / Coolidge, em meados da década de 1920, os
cortes de Kennedy, em meados da década de 1960, e os
cortes de Reagan, no início da década de 1980. Cada um
desses períodos de cortes de impostos teve um sucesso
extraordinário em termos de praticamente qualquer métrica
de política pública (The Laffer Curve, Thinking
Economically).
IBN KHALDUN E A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO,
IDEIAS E CRESCIMENTO ECONÔMICO

resultam em expertise,
Educação, novas ideias e desenvolvimento e
evolução das várias
prática desenvolvimento de
indústrias, habilidades
constante e capital humano,
e atividades
tecnologia e bens de alta
aprendizado qualidade econômicas
RURAL URBANO Custos de
Hábitos de
luxo, gasto crescimento
necessidades conforto e
luxo excessivo e econômico
moralidade amor pelo
solidariedade poder
NATUREZA HUMANA, CRESCIMENTO
ECONÔMICO E COMPORTAMENTO

Devido à exposição
Divisão do trabalho a vida difícil da ao luxo, a natureza
Divisão cria superávit Emergência sociedade Beduína A
humana
do econômico, produção de duas decadência
com traços de desencadeia os
trabalho de conveniências e sociedades na
e bens de luxo, gera diferentes cultura rural, a vida civilização elementos da
fácil e abundante ganância e do amor
especiali riqueza e estimula o humana
da sociedade pelo poder que
zação crescimento
enfraquece a alma
sedentária,
Trabalho como uma humana, a
possuindo solidariedade e
fonte de lucro e
características de eventualmente leva
acumulação de
capital habitantes das ao declínio dos
cidades poderes político e
econômico das
nações e cidades
Natureza humana e a Sociedade humana,
Divisão do
capacidade de pensar organização e
liderança trabalho

Crescimento Criação de riqueza e


Desenvolvimento Troca
populacional
Econômico

Maior demanda e Necessidade


oferta de produtos e Maiores salários de se adequar
insumos ao luxo

Maior qualidade de
Desigualdade de renda, Maiores preços por
corrupção, desemprego, produtos e insumos, por
bens e insumos. meio dos métodos
migração e menor
Hábitos de luxo e aprimorados e tecnologia
Desenvolvimento
Econômico corrupção notável.
O que formuladores e gestores de políticas públicas
podem aprender Ibn Khaldun

• Determinantes do Desenvolvimento Econômico como proposto por Ibn


Khaldun são a combinação dos modelos de crescimento clássico, neoclássico
, keynesiano e novo.
• A Política fiscal deve considerar uma combinação ideal de impostos e gastos
do governo, como sugerido por Ibn Khaldun.
• Os papéis da religião, da liderança ética e da boa governança para estimular
o Desenvolvimento Econômico;
• Ibn Khaldun acredita que ideias, capital humano, inovação e tecnologia são
importantes para expansão econômica, ainda que o limite para o crescimento
é inevitável.
• Ibn Khaldun dá enfoque à capacidade do homem de pensar como um ímpeto
ao crescimento.
• Portanto, o desenvolvimento intelectual deve ser promovido de várias
formas, incluindo educação, liberdade de expressão, redes e discursos de
intelectuais, trocas e redes comerciais.
CRISE FINANCEIRA
• A visão de Ibn Khaldun: como resultado de
hábitos de luxo, o homem se transforma de um
indivíduo moral que busca o bem comum em um
homem econômico autointeressado que se satisfaz
com gastos excessivos, causando corrupção,
comportamento antiético, crises econômicas e
financeiras.
• Fatores não-econômicos afetam a economia.
• Temos que diferenciar entre a causa originária e os
sintomas.
Para nós, moradores urbanos, Ibn
Khaldun pergunta

• Por que a demanda por médicos é


maior em áreas urbanas do que nas
rurais?
• Abundância de comida;
• Baixa qualidade do ar;
• Falta de exercícios;
IDEIAS DE IBN KHALDUN SOBRE
O CRESCIMENTO ECONÔMICO
 Maior crescimento pode  Impostos mais altos
levar a custos sociais; podem levar a menor
 Gasto excessivo e hábitos crescimento econômico e
de luxo podem causar receita fiscal menores;
comportamento antiético e  Gastos governamentais
imoral, inflação, mais altos podem reduzir
desemprego, pobreza e atividades empresariais
degradação do meio privadas, crescimento
ambiente; econômico receita;

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