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Geografia médica ou Geografia da saúde?

Uma reflexão

Medical geography or geography of health? A reflection

Flávia de Oliveira Santos

Mestranda em Geografia, Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão (GO).


E-mail: flaviasantos1@yahoo.com.br

Re su mo

Es t e a r t i go t em por o bj e t i vo f a ze r um a d is c us s ã o t e ór ic a ac er c a da G e ogr af i a
Mé d ic a e da G eo gr af i a da s a ú de , c or r e lac i o na n do es t es t em as c o m a ár ea d e
pes q u is a d a c iê nc i a g eo gr áf ic a ( o es p aç o) . B us c o u- s e dem ons tr ar po r q u e s e
ut i l i za os d o is te r m os e a r e l aç ã o d es s es c om o es p aç o e s ua r ep r o d uç ã o.
P ar a t an to o pt o u- s e p or f a ze r um r es ga te te ór ic o d os d o is t em as e f i na l i za n d o
c om um a d is c us s ã o a r es p ei t o d o us o dos m esm os n a at u a li d a de .

P al av r a s– ch av e: G eo gr af ia Mé d ic a; G e o gr a f ia d a S a úd e ; Res g at e T eór ic o.

Ab s t r a ct

T his a r t ic le a im s to m ak e a t h eor e tic a l d is c us s i on a bo u t t he M ed ic a l


G e ogr a ph y a n d th e G eo gr a ph y of He a lt h, c or r el a ti n g th es e t h em es wi t h t h e
r es e ar c h ar ea of ge o gr a p h ic s c ie nc e ( s pac e) . W e tr ie d t o d em o ns tr at e wh y
yo u us e t h e t wo t er m s an d th e ir r e l at i on wi t h s p ac e an d i ts r e pr o duc t io n . F or
th at we c hos e t o p er f or m a r es c u e of t wo th e or e t ic a l is s u es a n d c onc l ud i n g
wi t h a d is c us s i on a bo ut the us e of t h es e t hem es t o da y.

Ke y- w o rd s: M e d ic a l G eo gr a ph y, G e ogr a p h y of H e al t h; R ans om T heor y.


Geografia médica ou Geografia da saúde? Uma reflexão 42

Introdução

Na atualidade um dos assuntos de maior relevância é a saúde, em que a


preocupação com o ambiente e sua relação com o homem se faz essencial.
Nesse processo a Geografia Médica e a Geografia da Saúde exercem papel
relevante, pois os aspectos sociais e ambientais são na maioria das vezes os
grandes responsáveis pelos problemas que afligem a população.
Mas essa preocupação não é recente, desde a antiguidade é feita essa
conexão entre ambiente e enfermidade. E é nesse contexto que a Geografia
exerce um papel crucial, pois o estudo da superfície terrestre, da paisagem e
da relação entre o homem e o meio se faz essencial.
Os fatores sociais e econômicos são um dos fatores que mais favorecem
a disseminação das doenças. E para melhor se compreender o processo
saúde-doença se faz necessário entender o homem “no seu meio físico,
biológico, social e econômico.” (LEMOS; LIMA, 2002, p. 84).
Na busca de compreender o processo evolutivo da Geografia Médica é
que esse artigo faz um breve resgate teórico, no qual busca compreender
como ocorreu essa evolução. E quais foram os processos que levaram para
essa transição.

Resgate Teórico da Geografia Médica e da Saúde

Hipócrates, considerado o pai da medicina foi o precursor da Geografia


Médica com sua obra “Dos ares, das águas e dos lugares”, a aproximadamente
480 a.c., o autor ressaltava a importância do ambiente na saúde das pessoas.
É o que ressalta Lacaz, Baruzzi e Siqueira Júnior (1972, p. 1), quando
diz que:

Na ge o gr af ia m éd ic a, o es tu d o d o e nf er m o é i ns ep ar á ve l
do s eu am bi en te , d o bi ót o po on d e s e d e s en v o l v em os
f en ôm enos d e ec o lo g i a as s oc i a da c om a c om un id a de a
qu e e le p er te nc e. Q u an d o s e es tu d a um a d oe nç a,
pr inc i p alm en t e m etax ên ic a, s o b o â n g ul o da g eo gr af i a
m édic a, d e v em os c ons i d er ar , a o l a do do a g en te

Caderno Prudentino de Geografia


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et i o ló g ic o , d o v ec t or , d o r es er v at ór io , d o hos p ed e ir o
i nt er m ed iá r i o e d o H om em s us c etí v e l, os f a t or es
ge o gr áf ic os r e pr es e nt ad os p e los f a tor es f í s ic os ( c l im a,
r e le v o, s ol os , h idr o g r af i a, e tc .) , f at or es hum an os o u
s oc ia is ( d is tr ib u iç ão e d ens i d ad e d a p op u l aç ã o , pa dr ã o
de vi d a, c os tum e r e l ig i os o s up er s tiç õ es , m ei os d e
c om un ic aç ã o) e os f at or es b i o ló g ic os ( v id as ve g et a l e
an im a l, p ar as i t is m o h um an o e a n im a l, d o enç as
pr e d om in an t es , gr u po s an g uí n eo d a p o pu l aç ão , e tc ) .

Ainda segundo esse mesmo autor

[.. .] ge o gr af i a m édic a é a d is c i p l i na qu e es tu d a a
ge o gr af i a d as do e nç as , is to é, a pa t ol o g i a à l u z d os
c on h ec im ent os g eo gr áf ic os . C o nh ec id a t a m bém c om o
P at o lo g i a g eo gr áf ic a. G eo p at o lo g i a ou M ed ic i n a
ge o gr áf ic a, e l a s e c ons t it u i um r am o da ge o gr af i a
hum an a ( A n tro p og e og r af i a) ou , e nt ão , da B io g e ogr af i a.
( L AC AZ , B A RUZ ZI e S IQ U E IR A J U NIO R, 1 97 2, p . 1)

A Geografia Médica é resultado da ligação da medicina com os estudos


geográficos, estudo do ambiente, do habitat 1 da população no surgimento das
doenças.
Pessoa (1960, p.1), ao definir Geografia médica diz que,

G e ogr af i a m éd ic a tem p or f im o es t u do d a d is tr i bu iç ã o e
da pr e va l ê nc ia das d oe nç as n a s up er f íc i e da te r r a , b em
c om o d e to d as as m od if ic aç õ es q ue n e las pos s am ad v ir
por i nf l u ênc i a d os m a is v ar i ad os f a tor es ge o gr áf ic os e
hum an os .

Sendo assim, torna-se essencial o estudo dos fatores geográficos no


aparecimento das doenças em uma comunidade, pois para que se possa
conhecer o estado de saúde de uma determinada região é preciso valer dos
estudos de geografia. E ainda é importante o estudo da evolução dessas
doenças no decorrer dos anos para que se possa procurar meios de combatê-
la. Segundo Lima e Guimarães (2007, p. 60), é importante,

[.. .] a nt es de tu d o, c o m pr ee nd er o pr oc es s o de oc up aç ão
e or ga n i za ç ã o d o es paç o g e ogr áf ic o p e l a s s oc i e da d es
hum an as em dif er e nt e s tem pos e lu g ar es p a r a e n te n der a

1
Habitat é o lugar ou meio em que cresce ou vive normalmente qualquer ser organizado. O chamado
habitat social é o meio geográfico restrito em que uma sociedade pode sobreviver. (LACAZ, BARUZZI e
SIQUEIRA JUNIOR, 1972, p. 2)

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m anif es taç ã o d as d o enç as . Es s a c om pr ee ns ã o é m uit o


im por ta nt e , p or q u e p od e p er m it ir o e nt e nd im en t o d a
gê n es e e d a d is tr i bu iç ã o d as d oe nç a s , e as s im
es t a be l ec e r pr o gr am a s de v i g i lâ nc i a am b ie n ta l em s aú de .
Es t e pr inc íp i o j á es t a v a es ta b e lec i d o em Hi p óc r at es , o
pa i d a M e d ic i n a e d a G e ogr af i a m é dic a .

Como se apresentam as mesmas doenças em áreas geográficas


diferentes, e a influência dos fatores geográficos na sua disseminação, a
influência do clima, dos solos sobre a população é o papel da Geografia
Médica.
O homem é parte da natureza e é a partir desse princípio que Hipócrates
diz que os elementos da natureza agem sobre o homem influenciando em sua
saúde. É o que ressalta Sant’Anna Neto e Souza (2008, p. 119), quando diz
que,

De v e- s e, a H i p óc r a t e s , a pr im eir a t e nt a ti v a d e e l im ina r
as c aus as s o br en at ur a is s obr e as d oe nç as , a tr i bu i nd o ,
as s im , um a c aus a na t ur a l . A s a ú de r es u l tar i a de
eq u i lí br i os de el em en t os d a na t ur e za , qu e, na ép oc a, er a
c on t em pl ad a p or m e io d a c om bi n aç ã o d e q ua tr o
e lem en t os – a t er r a, a ág u a, o f og o e o ar – d e li n ea n d o
s uas pr o pr i ed a des : s e c o, úm i do , q u en te e f r i o. Se g un d o
o t eór ic o, a d oe nç as de v er- s e- ia ao des e qu i l íbr i o d os
m esm os .

Nos textos hipocráticos, não se tentava adivinhar o que não podia ver.
Acreditava-se que era possível conhecer uma doença pelos sintomas e que se
conhecesse uma doença podia conseguir a cura. Não havia lugar para o
conceito de contágio. “As influências externas podiam produzir doenças apenas
através do frio, calor, umidade ou secura.” (MARTINS, 1997, p. 41)
Para Pessoa (1960, p. 14), [...] até o século XVII, nada de importante
apareceu sobre Geografia Médica que não fosse explicitado no livro “Ares,
Águas e Lugares.”
No entanto, com o surgimento das grandes viagens e com a descoberta
de novos países houve a necessidade de se conhecer as doenças de que a
população local era acometida para a proteção dos viajantes e do comércio
local. Foi só a partir desse momento que surgiram novos trabalhos sobre
Geografia Médica. No dizer de Martins (1997, p. 43),

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Na é p oc a das g r a n de s d es c ob er t as , po r v o lt a d e 1 94 3 ,
c om as gr a nd es na v eg aç ões v ár ias d oe n ç as s ur g ir am
c om o: f ebr e am ar e la , Có l er a, Síf il is , Es c o b u r to , o qu e f e z
c om qu e os m é dic os r e p ens as s em s eus c on h ec im ent os
s obr e a c a us a d a pr op ag aç ão das e p i dem i as .

Nas últimas décadas do século XIX, com os trabalhos de Pasteur, que


falava da origem das doenças infecciosas, o argumento de Hipócrates da
influência do meio físico sobre o homem e as doenças de que eles eram
acometidos foram de certa forma esquecidas. Era atribuída como única causa
das doenças “[...] à penetração e multiplicação de uma bactéria e nada mais do
que isto, perdeu-se de vista o conjunto das causas que atuam sobre o homem
são ou enfermo, bem como o ambiente deixou de apresentar importância [...].”
(PESSOA, 1960, p. 24).
A falta de importância a outros fatores que não privilegiassem somente
os micróbios como o responsável pelas doenças levou a certa estagnação da
medicina no que diz respeito à compreensão da dinâmica das doenças e as
causas da sua distribuição geográfica.
Só mais recentemente com estudos sobre a influência do clima na saúde
das pessoas, do solo, das chuvas dos ventos é que o tema veio a ser discutido
novamente, colocando o ambiente como um dos fatores que exercem forte
influência na saúde da população.
Se a Geografia médica teve um declínio, o mesmo não se pode dizer
sobre a Climatologia que teve um elevado desenvolvimento. Foi nessa época
que surgiu o termo “bioclimatologia”, em que se fazia o estudo dos efeitos da
radiação sobre os organismos animais e vegetais, enquanto que a climatologia
médica se ocupava de investigar a ação destas radiações sobre o organismo
do homem são ou doente. E a medicina não tem como ignorar a influência do
clima em relação ao organismo humano.
É o que ressalta Lacaz, Baruzzi e Siqueira Júnior (1972, p. 40) quando
diz que “Do ponto de vista clínico, três componentes do ambiente
meteorológico são importantes para serem considerados: os estímulos
térmicos, a radiação solar e a redução parcial do oxigênio.”

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No Brasil Afrânio Peixoto, foi o que melhor representou os estudos das


relações entre o clima, o homem e a cultura. Fez uma análise das condições
climáticas associadas às enfermidades, ressaltando a importância das
condições de higiene e salubridade na propagação de muitas doenças.
É notória a importância da Geografia no estudo das enfermidades. No
entanto, alguns trabalhos dessa área estão voltados mais para a medicina do
que para a Geografia. E na atualidade é notória a necessidade do trabalho em
conjunto da Geografia e da medicina, no sentido de atuar nas causas, ou seja,
na origem das enfermidades. É o que ressalta Nossa (2008, p. 39) quando diz
que,

E nq u an t o do p o nt o d e v is ta c lí n ic o s e pr oc ur am d e be l ar
os s in tom as , ac tu a nd o s o br e as c a us as , n as p a to l o gi as
c om em ine nt e c o n tor no s oc ia l a c lí n ic a ap e nas p od e
aj u d ar a m in or ar a d o r f ís ic a e o d es c o nf or t o, s e n do qu e
a c ur a ob r i g a a um a i nt er v enç ã o no c o r po s oc i a l e
ec o n ôm ic o q u e e n qu adr a o ind i v íd u o e c onf or m a a
s oc ie d ad e .

Nesse sentido, os estudos na área de Geografia da Saúde ganham


destaque, pois na atualidade as grandes epidemias que assolam o mundo
estão preocupando a população e os governantes. Um exemplo é a tão
discutida doença causada pelo vírus influenza H1N1, comumente conhecida
como “Gripe Suína”, que vem aterrorizando as pessoas pelas mortes que vem
ocorrendo, onde a causa é um vírus que sofre mutações ao ser transmitido
para outra pessoa e vai adquirindo resistência, daí a dificuldade de encontrar
uma medicação que faça efeito. Conforme ressalta Lima e Guimarães (2007, p.
65)

[.. .] A c iê nc ia c om p et e d iar i am ent e c om os ag e nt es


pa t og ê nos p or q ue a c ad a a v a nç o d e l a es t es i nt er põ em
v ar ia nt es a d ap t at i v as ou d ir et am en te m utaç õ es , q u e
r etr oc ed e a pr o b lem át ic a da sa ú d e m ui tos pas s os a tr ás
[.. .] .

É importante ressaltar que morrem diariamente uma quantidade maior


de pessoas acometidas de outras doenças, no entanto, a mídia não dá enfoque

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a esse assunto. Nesse contexto a “Gripe Suína” é um exemplo que está sendo
debatido todos os dias pela mídia, por isso o enfoque dado ao tema.
Conhecer os efeitos e a origem da gripe e de tantas outras doenças que
a cada ano vão surgindo é essencial para a prevenção e cura. Sendo assim, a
preocupação com o ambiente se torna essencial como meio de evitar o
contágio, ou até mesmo erradicar o vírus. A gripe suína tem ganhado destaque,
no entanto existem várias doenças que estão relacionadas com o ambiente e a
realidade sócio-econômica da população.
Assim, conhecer o local e a realidade sócio-econômica da população
pode contribuir muito na prevenção e cura de muitas doenças que assolam
populações do mundo inteiro. A esse respeito enfatiza Barata (1985, p. 19 apud
SANT’ANNA NETO e SOUZA, 2008, p. 119), quando diz que “O ambiente,
origem de todas as causas de doença, deixa de ser natural para revesti-se do
social. É nas condições de vida e trabalho do homem que as causas das
doenças deverão ser buscadas.”
A partir da compreensão desses fatores a que o homem está sujeito
diariamente, é possível fazer uma análise de como o meio ambiente (físico e
social) interfere na qualidade de vida do indivíduo.
É nesse aspecto que é possível compreender a importância dos
aspectos sociais e econômicos na saúde da população. Nesse sentido, a
Geografia da Saúde exerce um papel de grande importância, pois para ela a
saúde “não é apenas a ausência de doenças, e sim, a expressão do bem-estar
físico, mental e social.” (SANT’ANNA NETO E SOUZA, 2008, p. 119). Assim,
percebe-se que se “Torna cada vez mais difícil isolar o doente de sua realidade
socioeconômica.” (HEGENBERG, 1998, p. 14 apud SANT’ANNA NETO e
SOUZA, 2008, p. 120).
Desse modo, cabe ao geógrafo captar os problemas que ocorrem no
espaço e as enfermidades que acometem diariamente a população, pois não
tem como isolar o enfermo do seu ambiente, pois o ambiente pode ser a causa,
mas também pode ser a cura.
Assim percebe-se que houve uma evolução da Geografia Médica, na
qual a tecnologia exerce um papel importante no conhecimento das

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enfermidades, possibilitando dessa forma novas formas de combater e


conhecer determinadas patologias. O geoprocessamento é uma dessas
tecnologias e “permite a incorporação de uma gama de variáveis, como a
extensão, localização, tempo e características sócio-econômicas, aos estudos
em saúde.” (BARCELLOS; BASTOS, 1996, p.393).
E com essa evolução da Geografia Médica para a Geografia da Saúde,
as preocupações com o bem estar, com a desigualdade social, com os serviços
de saúde disponíveis para o atendimento das pessoas fazem parte do
contexto. É o que ressalta Pickenhayn (2006, p. 262) quando diz que,

Un a g en er ac ió n c o n te m por á ne a d e g eó gr af os c om en zó a
p la nt e ar e l c o nc e pt o m ás c om plet o d e g e o gr af í a d e la
s a lu d. D a v id Ph i l l i ps , P et er H ag g et t, An a O l i v er a , Yo l a
V er h as s e lt y Ra is A k htar , e ntr e otr os , m ar c ar o n, um
nu e v o r um bo em l os es tu d i os ge o gr áf ic os , v a lor i za n d o
c onc e pt os c om o l a p r e ve nc i ón , e l m ant e ni m ient o d e la
v i da , el b i en es tar y s us c on n ot ac io n es s oc ia l es par a
es t u di ar s us r el ac i on e s c o n e l p a is aj e.

E Pereira (2008, p. 28) quando diz que na Geografia da Saúde o


empenho é voltado para a

[.. .] q u es t ão p o lí tic a , e s oc ia l r e l ac io n a da à S aú d e
P úb l ic a. J á q u e a G e o gr af ia Mé d ic a ap ós a am pl i aç ã o d e
s eus tem as e a bor d ag ens a do to u um a no v a de n om in aç ã o
m ais a br a n g en te , s ub s ti t ui n do a G e ogr af i a m édic a p or
G e ogr af i a d a S a úd e.

Essa nova denominação é uma visão mais abrangente e sistêmica, em


que ganham destaque os serviços sanitários no contexto espacial, níveis de
saúde, etc. Mas sem esquecer os aspectos ambientais que tem um papel
relevante no estudo das enfermidades.

Considerações Finais

A ciência é uma constância, pois a cada dia nos deparamos com novas
descobertas, ela está constantemente se reestruturando e em busca da quebra
de paradigmas. É o que afirma Mazetto (2008, p. 17) quando diz que “é difícil

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afirmar que uma ciência foi estruturada em determinado período, pois os novos
paradigmas que vão surgindo cumprem o papel de reestruturar,
incessantemente, os preceitos metodológicos e filosóficos das ciências.”
E a Geografia há muito contribui para os estudos relacionados à
temática da saúde, com a realização de estudos ecológicos, na qual o meio era
associado com o surgimento e a prevalência de determinadas doenças.
A Geografia Médica e a Geografia da Saúde acompanharam essas
transformações, ocorrendo uma reformulação dos conceitos, na qual as
tecnologias, os aspectos sociais, econômicos e as políticas de saúde, são
fatores determinantes no estudo da saúde-doença de uma população. É o que
ressalta Quartilho (2001, p. 62), quando diz que,

Em lar ga m ed i da , a d oe nç a, a m or te, a s a úd e e o b em -
es t ar s ão s oc i a lm en te pr od u zi d os . A d o enç a n ão é
ap e nas um a ex p er i ê nc ia f ís ic a o u um a ex per i ê nc i a
ps ic o l óg ic a, é t am bé m um a ex pe r i ê nc ia s oc ia l . O c or po
do e nt e nã o es t á f ec h ad o , es c o nd i d o l im ita do p e la p e l e.
Do m es m o m odo , o nos s o am bi e nt e f ís ic o, ta l c om o a
pa is a gem ur b a n a, o l oc a l d e tr ab a l ho , ou os a l im en tos ,
s ão i nf l ue nc ia d os p e la c ul t ur a , es tr u t ur a s oc i al e
r e laç õ es i nt er pes s o a is .

Nesse sentido, a Geografia da saúde, como o próprio nome diz, é


voltada para a saúde, em que as preocupações com a saúde, doença e com o
espaço geográfico é o principal desafio. Cabe aos profissionais, seja geógrafos,
professores e outros profissionais que tenham interesse pela questão, estudar
esses processos.
Assim, entender como os diferentes lugares, que tem características
econômicas, ambientais, sociais e culturais diversificadas, influenciam na
saúde das pessoas se torna essencial na Geografia da saúde. É o que afirma
Pickenhay (2008) quando diz que a Geografia da Saúde, como reivindicaram
seus principais teóricos, não é um ramo da medicina. É voltada para a saúde,
não à doença.
E a Geografia da Saúde pode ajudar nos problemas referentes à saúde,
se tiver como eixo norteador o ambiente, a sociedade e o território.

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O que se percebe, é que essa nova denominação, de Geografia da


Saúde, é mais sistêmica, na qual a preocupação não é somente com o
enfermo, mas sim, no que está por trás dessa enfermidade, qual a situação
econômica, social e ambiental em que este indivíduo está sujeito diariamente.
Enquanto que na Geografia Médica tradicional, os estudos epidemiológicos, a
relação entre ambiente e enfermidade permite explicar as doenças no espaço,
principalmente às doenças infecciosas.

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Recebido em: 17/05/2010


Aceito em: 28/06/2010

n.32, vol.1, p.41-51, jan/jun. 2010

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