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Machado, 2014
Procedendo de maneira sumária, esquemática e carente de verdadeiro
rigor científico se fazem diagnósticos e até se postulam novos
quadros psicopatológicos a partir de observações e de agrupamentos
arbitrários de riscos, baseados em antigas e confusas noções. É o caso
da chamada síndrome de “Déficit de Atenção com ou sem
Hiperatividade” (TDA/TDAH), da Dislexia, do Transtorno de
Oposição Desafiadora (TOD) e outros transtornos constantemente
inventados e reinventados, lançados a cada dia em prateleiras de
mercados como novas mercadorias. Rótulos e etiquetas, maquiados
de diagnósticos, e pílulas de psicotrópicos prometem resolver todos
os conflitos naturais da vida, tirando a vida de cena.
As expressões medicalização e patologização designam
processos que transformam, artificialmente, questões não
médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes
ordens são apresentados como “doenças”, “transtornos”,
“distúrbios” que escamoteiam as grandes questões políticas,
sociais, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas.
Questões coletivas são tomadas como individuais;
problemas sociais e políticos são tornados biológicos.
Nesse processo, que gera sofrimento psíquico, a pessoa e sua família
são responsabilizadas pelos problemas. Tratar questões sociais como
sendo biológicas iguala o mundo da vida ao mundo da natureza.
Isentam-se de responsabilidades todas as instâncias de poder, em cujas
entranhas são gerados e perpetuados tais problemas. Tudo se passa
como se as pessoas é que tivessem “problemas”, fossem
“disfuncionais”, “não se adaptassem”, fossem “doentes”, sendo, até
mesmo, judicializadas.