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A Revolução

Marginalista
Aplicaram o ferramental marginalista somente
em relação a um grupo restrito de problemas

 Cournot e Dupuit na França.


 von Thünen e Gossen na Alemanha.
 W.F. Lloyd, M. Longfield, W.T. Thornton, F. D. Longe, F. Jenkin e R.
Jennings, na Inglaterra.
A revolução marginalista
 Proposta de um sistema teórico marginalista mais geral.
 Período de 1871 a 1874.
 Germinação de ideias entre 1862 e 1873.
 Willian Stanley Jevons na Inglaterra, Carl Menger na Áustria e Leon
Walras na França.
Quem eram eles ?
 Homens de classe média e com elevada educação escolar.
 Não tinham, até então, nenhum compromisso com a Economia
Política.
 Não se conheciam mutuamente.
 Estavam unidos pela missão comum: enaltecer a parte que cabe à
subjetividade e o papel que desempenham os conceitos de
necessidade, desejo, satisfação, utilidade etc. na compreensão dos
fatos econômicos.
Foi uma revolução?
 Coincidência de datas: Jevons em 1871 lança a Teoria da Economia
Política, no mesmo ano em que aparecem os Princípios de Economia
Política de Menger. Três anos depois é publicado Elementos de
Economia Pura de Leon Walras.
 As ideias básicas haviam se desenvolvido gradualmente ao longo do
século XIX.
 O impacto delas na comunidade acadêmica não foi imediato.
 A Revolução Marginalista permaneceu desconhecida a seus
contemporâneos.
Mudança gradual
 Não se trata de revolução, mas de mudança gradual.
 Alguns aspectos da antiga ortodoxia sobreviveram ao ataque
revolucionário. Outros aspectos nunca foram atacados.
 Houve ainda uma restauração contrarrevolucionária da ortodoxia
com a retenção de conceitos e terminologia clássicos na obra de
Marshall.
A desomogeinização
 Diferenças filosóficas.
 Menger não aceita o uso da matemática.
 Análise de interdependência versus análise de causalidade.
 O papel do teste empírico em cada qual.
 Validade da teoria dos preços e papel da incerteza e da barganha.
 Análise psicológica do comportamento de mercado.
O fatos externos...
 Diferença entre os países.
 Surgimento gradual das ideias.
 Elementos externos na difusão do marginalismo.
 Ênfase na escassez trazida pela crise econômica.
 Profissionalização dos economistas.
 Irrelevância dos problemas práticos para a teoria.
Aspectos teóricos que facilitaram a
aceitação da nova teoria
 Restringe o âmbito da economia a problemas alocativos.
 Novo método e objeto para a ciência econômica: abstrai as relações
sociais e enfatiza relações psicológicas.
 Economia como ciência natural facilita o uso da matemática.
 Tudo vira maximização condicionada.
Qual o impacto
ideológico?
É economia liberal?
 A teoria marginalista pode ser vista como uma defesa do capitalismo
no plano das ideias ou como uma reação ao avanço das ideias
socialistas na Europa?
 A teoria marginalista, fortemente apoiada em conceitos rigorosos e
técnicas analíticas, transmitia aparente assepsia e neutralidade em face
das questões políticas.
 Anos depois da revolução, seguidores de Marx irão acusá-la de ser uma
defesa camuflada do status quo capitalista, pois no sistema teórico
marginalista não se pode lutar contra a propriedade privada, já que a
alocação eficiente de recursos pressupõe sua aceitação.
Defende a desigualdade de renda?
 Também acusam-na de fornecer uma justificativa para a
desigualdade na distribuição de renda ao falar em
remunerações dos fatores por suas produtividades marginais.
 A nova teoria foi atacada pelos socialistas da época como mera
versão atualizada da ortodoxia econômica, uma nova linha de
defesa necessária diante do ataque marxista bem-sucedido ao
argumento clássico do laissez-faire.
 Ela permitiria a demonstração de um tipo quase perfeito de
organização social, realizável numa economia competitiva, na
qual os mercados propiciam a alocação ótima e a harmonia de
interesses, maximizando a consecução de objetivos individuais.
O debate político
 Avaliar o impacto ideológico da revolução marginalista é uma
questão controvertida.
 Há alguma inclinação ideológica, por exemplo, no conceito de
utilidade marginal? Aparentemente não!
 Vale considerar alguns fatos:
(1) Os desdobramentos da nova teoria não são inequivocamente a favor
do laissez-faire.
(2) A própria trajetória pessoal de seus proponentes não demonstra
esse engajamento. Walras, por exemplo, sempre esteve ligado às
causas sociais e era tido como socialista em sua defesa do
cooperativismo rural.
Pouca importância
prática
(3) Outro aspecto que deve ser considerado é que as ideias marginalistas, à
época em que foram lançadas, não afetaram o debate político e os grandes
problemas práticos em questão. Não havia recomendações políticas da
teoria marginalista que destoassem do receituário clássico.
O enfoque eminentemente técnico da nova teoria esteve voltado,
inicialmente, para a explicação do comportamento do consumidor e
apenas secundariamente ela seria uti­lizada para recomendar ou justificar
políticas econômicas.
Em termos prá­ticos, a teoria da utilidade nada acrescentou à doutrina
clássica, mesmo com os trabalhos posteriores de V. Pareto e I. Fisher.
Impacto da nova teoria
econômica
 A nova teoria teve pouco a dizer sobre os problemas da época, tais
como os que eram debatidos nas controvérsias sobre livre comércio,
flutuações do mercado monetário, política tributária, pobreza,
conflito trabalhista, distribuição de renda, colonização e
superpopulação.
 A teoria da utilidade não tomou parte nas controvérsias orientadas
por políticas até a Grande Guerra (Primeira Guerra Mundial), e a
adoção dela em trabalhos práticos só surgiu a partir dos anos 1940.
 Então, de início, o marginalismo era irrelevante aos problemas
concretos. As possíveis consequências práticas que se poderiam
extrair da teoria estavam em continuidade às dos clássicos.
Novos conceitos
 As novas técnicas de análise trazidas com a revolução marginalista não
foram adotadas para a solução dos grandes problemas de política
econômica, embora os marginalistas propusessem soluções a questões
específicas de tarifação e precificação de bens públicos.
 O impacto maior desse movimento, em um primeiro momento, foi a
proposta de novos conceitos dentro de uma renovada visão.
 Somente num segundo estágio a teoria marginalista tornou-se
operacional na pesquisa econômica aplicada.
Vantagens da
nova economia:
 A teoria clássica não fornecia uma explicação simétrica e
unificada dos preços.
 Havia a teoria dos preços agrícolas em contraposição aos
preços industriais.
 A teoria dos preços dos fatores era tida como um caso
especial e diferente da explicação dos preços dos bens de
consumo.
 Os marginalistas procuram explorar uma notória
deficiência teórica dos clássicos, qual seja, a assimetria
na teoria do valor-trabalho que não tratava com a
devida ênfase o lado da demanda.
Novas questões e banimento
de antigas
 O eixo da análise marginalista: escolha individual. Consumo,
produção e a repartição dos rendimentos são fenômenos
subsidiários derivados dessa escolha.
 Na produção, a teoria destaca a alocação dos insumos
maximizadora de lucro.
 Na distribuição da renda, o elemento chave é a recompensa pela
contribuição marginal dos fatores à geração do valor.
 Coisas descartadas: acumulação de capital, crescimento
econômico, teoria da população.
Nasce a Economics
 Os marginalistas edificaram uma nova visão da ciência econômica,
no que diz respeito tanto a aspectos teóricos quanto a método e
natureza do objeto de estudo.
 A economia clássica está voltada para a compreensão de relações
socioeconômicas entre os homens em sua capacidade como
produtores. A ênfase nas relações de classe confere o caráter
político dessa ciência, daí o nome “economia política”.
 As relações entre classes sociais é que determinam, em última
análise, relações de mercado.
 A nova economia (marginalista) abstrai as classes sociais e, com elas,
as relações sociais, estando voltada para a relação psicológica entre
indivíduos e bens de consumo.
 Ela julga necessário separar relações puramente econômicas de
relações de natureza política e que seria possível para a ciência
econômica um trabalho essencialmente analítico sem referência a
questões políticas.
Economia como ciência
natural
 Os marginalistas utilizam-se de uma retórica de neutralidade política,
mas suas ideias foram mais do que uma inovação técnica.
 Entre a nova escola marginalista e os economistas clássicos há uma
mudança na própria maneira de caracterizar o objeto da ciência
econômica. Ela deixa de ser uma ciência social voltada para a
explicação das relações entre homens e passa a ser considerada uma
ciência natural que estuda a relação entre homens e bens materiais.
A demarcação entre
clássicos e marginalistas
 Mesmo os autores clássicos reconhecem que as leis econômicas têm
o caráter das leis físicas em sua exatidão, embora na economia
científica suas leis exatas sejam leis de tendência, que na prática só
se verificam na ausência de certas causas perturbadoras não
incorporadas na teoria
 Os marginalistas não negam que a economia como ciência tenha
também uma dimensão social; eles acreditam, entretanto, na
existência de um núcleo teórico que desconsidera os aspectos sociais
do fenômeno.
 A economia aplicada deve levar em conta o lado social, mas ele é
abstraído na economia puramente teórica.
A tese de Mill
 Entre os clássicos, J. S. Mill expressou que a ciência econômica não
trata apenas de realidade física.
 Consente que, na produção de bens, a relação que se estabelece entre
homens e coisas tem uma dimensão física atrelada às propriedades dos
objetos com suas leis de rendimento.
 Leis físicas exatas intervêm na produção. Já o fenômeno da distribuição
depende somente de relações entre homens e suas leis são
condicionadas pelas instituições.
 Dadas as instituições, também aqui fica garantida a exatidão das leis. Se
elas são conhecidas, a consequência de qualquer conjunto de regras
para a distribuição tem o caráter das leis físicas.
Ciência social versus
ciência natural
 A economia clássica procurou-se firmar como ciência social, mesmo
aceitando a ação de leis naturais em seus elementos de análise,
enquanto a economia marginalista enfatizou o lado de ciência natural,
com a ressalva de que as questões sociais também interessam, mas
metodologicamente requerem um tratamento à parte em economia
aplicada, matéria que complementa a análise teórica pura, mas não se
confunde com ela.
A matemática na
economia científica
 A aproximação entre o núcleo teórico da economia e a ciência física ou natural
facilita o emprego da ferramenta matemática.
 A lei do rendimento decrescente, já conhecida dos clássicos, mas usada como
elemento ad hoc especificamente na teoria da renda da terra, e a nova lei da
utilidade marginal decrescente são elementos centrais da teoria marginalista
que equivalem matematicamente a funções côncavas.
 A presença dessas funções em problemas de alocação de recursos ou de bens
de consumo leva à conclusão lógica pela substituição dos fatores ou bens na
margem, aplicando-se para tanto o princípio da equimarginalidade,
consequência da ideia de maximização de lucro ou utilidade. Tal princípio
facilitou a aplicação do aparato matemá­tico à economia científica,
principalmente do cálculo diferencial.
Maximização nos
clássicos
 Nos clássicos, também existe a ideia de maximização individual e o
princípio de substituição. No entanto, ela é aplicada na
determinação de equi­líbrios sucessivos ao longo do tempo e não na
alocação eficiente de recursos no curto prazo.
 David Ricardo descreve a maximização de lucro como um processo
temporal em que os agentes arbitram entre mercados, transferindo
constan­temente os recursos de um setor a outro da economia.
Entretanto, ele não desenvolve os teoremas de alocação ótima dos
recursos no curto prazo e o processo de arbitragem não conduz aos
princípios equimarginais.
A nova roupagem da ciência
econômica
 Consiste em um renovado conjunto de conceitos e instrumentos
que poderiam ser aplicados a vasta gama de casos. Os marginalistas
edificam uma eficaz técnica de análise que poderia ser posta em
uso.
 Temas preciosos para os clássicos, como acumulação de capital e o
consequente crescimento econômico, não os preocupam tanto.
Também não consideraram a teoria da população como variável
endógena.
 O núcleo teórico da nova economia interessa-se principalmente
pela busca da melhor alocação de meios escassos entre fins
alternativos.
O problema do crescimento
 Questões de crescimento econômico aparecem nos trabalhos
práticos de Jevons e Walras, mas para eles não são assuntos da
economia teórica.
 Jevons preocupou-se com o problema do crescimento na obra
A questão do carvão. Jevons e Walras traçam novas fronteiras
para a economia científica, mais confortáveis para os
profissionais. No entanto, fora da economia pura não se
esquivam de tratar outros domínios, como os escritos
estatísticos e políticos de Jevons e o interesse de Walras na
reforma social.
 A teoria pura torna-se mais defendida de um ponto de vista
profissional.
A visão de Marshall
 Marshall também trata em seus Princípios de Economia de
desenvolvimento econômico. Ele aceita que o bem-estar econômico
depende da acumulação de capital, do crescimento demográfico e do
uso eficiente dos recursos.
 Tinha uma visão do processo econômico como crescimento biológico.
Mesmo mantendo certo compromisso com as prioridades da teoria
clássica, Marshall não foge de uma análise econômica estática e seu
trabalho está centralizado em estudar o equilíbrio estático em
mercados competitivos.
A nova análise
 O eixo da análise marginalista reside na escolha individual, sua categoria
teórica central. A decisão de consumo, o processo de produção e a
repartição dos rendimentos são fenômenos subsidiários derivados dessa
escolha.
 Na produção, a teoria destaca a alocação dos insumos maximizadora de
lucro. Na distribuição da renda, o elemento-chave é a recompensa pela
contribuição marginal dos fatores à geração do valor. Não existe na nova
economia científica uma teoria de distribuição específica para cada fator,
como nos clássicos.
Jevons, Menger e
Walras
 Os três expoentes da Revolução Marginalista enfatizam o problema
da escassez e buscam um refinamento da lógica econômica,
fornecendo um tipo de lógica da escolha econômica racional.
 Entretanto, não se pode concluir que esses autores compartilhem o
mesmo método. Pelo contrário, suas posições em muitos outros
aspectos são bem diferentes e subsistem diferenças filosó­ficas
importantes entre eles.
 Nem todos aceitam o uso da matemática na Economia. Jevons e
Walras aplicam a análise matemática à teoria econômica. Já Menger
evita o emprego de formulações matemáticas, limitando-o so­mente
a casos extremos.
 Menger substitui a análise da interdependência de variáveis pela
análise de causalidade, é por isso que a matemática, para ele, não
ajuda.
 Jevons acha que a economia científica deve ser testada
empiricamente, seus termos matemáticos referem-se a quantidades
mensuráveis.
 Enquanto em Menger há um abismo separando as ciências teóricas
das ciências históricas e estatísticas, a economia como ciência não é
testada empiricamente como não se testa a geometria.
 Jevons e Walras esforçaram-se no desenvolvimento de uma exata teoria dos
preços. Menger desconfiou de qualquer teoria dos preços e enfatizou a
barganha, a incerteza e a descontinuidade na determinação dos preços de
mercado.
 Também há diferenças importantes entre Jevons e Walras. Apenas o primeiro
utiliza a análise psicológica das sensações de prazer e dor, se­guindo o mesmo
procedimento de J. Bentham.
 O fato de Jevons, Menger e Walras representarem contribuições bem
distintas ao pensamento econômico é unanimemente aceito entre os
historiadores.
 William Jaffé cunhou o termo “desomogeneização” para acentuar essas
diferenças.

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