Você está na página 1de 1

Sorriso audvel das folhas No s mais que a brisa ali Se eu te olho e tu me olhas, Quem primeiro que sorri?

? O primeiro a sorrir ri. Ri e olha de repente Para fins de no olhar Para onde nas folhas sente O som do vento a passar Tudo vento e disfarar. Mas o olhar, de estar olhando Onde no olha, voltou E estamos os dois falando O que se no conversou Isto acaba ou comeou? Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
De Fernando Pessoa, Sorriso audvel das folhas

http://www.blogdoims.com.br/ims/duas-figuras/
Ser tambm em termos simblicos que iremos interpretar o poema em anlise. Se quisermos fixar a temtica do mesmo, poderemos dizer que ele trata sobretudo da realidade ou irrealidade das coisas, das sensaes e das emoes. um poema muito difuso tematicamente, pois o sujeito potico analisa o efeito que o som do vento nas folhas lhe provoca, enquanto sensao interior e questiona se essa sensao verdadeira prova da existncia de alguma coisa real. Trata-se afinal de questionar o que a verdade das sensaes e o que a verdade do mundo. Imaginemos que, como o poeta, ouvimos o vento nas folhas l fora. De repente sorrimos, pelo facto de ouvirmos este som. Estaro as folhas a sorrir, e ser essa felicidade que ns ouvimos e que nos faz sorrir tambm? Ou somos apenas ns que sorrimos, ao ouvir o efeito simples do vento nas folhas. Ou seja, existir verdadeiro sentimento fora de ns, ou somos apenas ns que sentimos o mundo e o transformamos em sentimento? Esta a pergunta feita na primeira estrofe. Pessoa depois tenta responder nas estrofes seguintes. Na segunda estrofe o sujeito potico olha (na primeira estrofe ele apenas ouvia) para confirmar se o sorriso existe realmente nas folhas. Mas v apenas vento. Na terceira estrofe ele parece desviar novamente o olhar, mas a "conversa" entre ele e as folhas continua. uma conversa imaginria, mas no absurdo da sua teoria, Pessoa no consegue realmente chegar a uma concluso acerca da real existncia daquele sentimento fora de si mesmo. uma conversa que existe nunca existindo e que decorre sem incio nem fim. Porque afinal uma conversa dentro de si mesmo, onde ele questiona a ligao possvel entre sentir e existir, entre o eu-interior e o mundo-exterior, e sobretudo entre a maneira como ns sentimos o mundo (e colocamos nele as nossas emoes) e a maneira como esse prprio mundo existe e interage connosco.

Você também pode gostar