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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memorietm)
APRESENTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir {1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.'■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
j|_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
.. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
~ij" no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Teología da Libertado: Qualro
Enfoques

Teología da Ubertacao: Palavra


Oficial da Igreja

"A Oor SalvHIca"

A Inslrucáo "Inaesllmabile Oonum"

Comungar mals vezes por día?

"A Volta ¿ Grande Disciplina"

Aparifdes de Nossa Senhora?

Novembro-Dezembro 1984
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
NOVEMBRO-DEZEMBRO — 1984
Publ!ca9§o bimestral
N9 277

Diretor-Responsável:
SUMARIO
O. Estévao Bellencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico TEMPO PREMENTE 441
Diretor-Admlnlstrador Sempre voltando á baila:
p. Hildebrando P. Martins OSB
TEOLOGÍA DA LIBERTACAO: QUA-
TRO ENFOQUES 442
Administracáo e distribuicáo: Esperava-se
Edicdes Lumen Chrísti TEOLOGÍA DA LIBERTAQAO: PALA-
Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501 VRA OFICIAL DA IGREJA 457
Tel.: (021)291-7122
Urna carta Apostólica de Joao Paulo II:
Caixa postal 2666
"A DOR SALV1FICA" 471
20001 - Rio de Janeiro - RJ
Em vista de digna celebracáo:

Pagamento em cheque nominal visado ou A INSTRUCAO «INAESTIMABILE DO-


Vale Postal (para Agencia Central/Rio), NUM» 488
enderecado as:
Oúvlda freqüente:
Edicdes Lumen Christl
COMUNGAR MAIS VEZES POR DÍA? 504
Caixa Postal 2666
20001 - Rio de Janeiro - RJ Um llvro que Interpela:

"A VOLTA A GRANDE DISCIPLINA" 509


Em Medjugorje (lugoslávia)
ASSINATURA ANUAL PARA 1985 APARIQÓES DE NOSSA SENHORA? 521
Sendo paga até 31 de LIVROS EM ESTANTE 528
dezembro da 1984 .. CrS 12.000.00
(Válida para todo o ano ÍNDICE DE 1984 532
de 1985)

Sendo paga a partir de


19 de Janeiro de 1985 CrS 15.000,00
NO PRÓXIMO NÚMERO

RENOVÉ QUANTO ANTES 278 — Janeiro-Fevereiro — 1985


A SUA ASSINATURA
A Eucaristía, misterio da fó. — ParticipacSo
da Igreja na atualidade brasileira. v~ Teolo
gía da LibertacSo: o Debate se prolonga. —
COMUNIQUE-NOS QUALQUER "Aclarac6es acerca de alguns temas de teo
logía" (Leonardo Bofll. — "Minhas Vidas"
MUDANCA DE ENDERECO (Shirley Mac-Laine). — "Quando coisas
ruins acontecem ás pessoas boas" i^arold
ComposfcSo e Impressao: Kushner). — ImpressSes colhidas na
U.R.S.S. ¡.
"Marques Saraiva"
Santos Rodrigues, 240
Rio de Janeiro Com aprovacáo eclesiástica
TEMPO PREMENTE
O fim do ano chega sempre cheio de múltiplas sugestóes...
Para vivé-lo mais intensamente, poderíamos retomar o
final do Apocalipse. Ne. seccáo de 22,6-14, o autor nos coloca
diante do Cristo, que há de rematar os sáculos com a sua
vinda gloriosa. A medida que os tempos passam, a iniqüidade
se torna mais e mais requintada, planejada e inteligente; em
compensagáo, a santidade deve assumir densidade cada vez
mais carregada: «Que o injusto cometa ainda a injustica e o
sujo continué a sujar-se! E que o justo pratique ainda mais a
justica e que o santo continué a santificar-se!» (22,11). É
especialmente importante este apelo numa época em que nao
poucas pessoas, perplexas diante da problemática do mundo e
da Igreja, perguntam: «Que faremos? Nao temos meios para
acudir a tantos desafios!» É verdade que nenhum cristáo pos-
sui recursos naturais para renovar a realidade que o cerca.
Mas, apoiados no Apocalipse, podemos dizer: o que Deus pede,
primeiramente, dos seus fiéis diante da iniqüidade progressiva,
é que sejam cada vez mais santos, pois «urna alma que se
eleva, eleva o mundo inteiro» (Elizabeth Leseur). Existe, sim,
entre os cristáos a comunháo das coisas santas, de tal modo
que quem possui os valores transcendentais em elevado teor,
os faz transbordar efusivamente sobre os seus irmáos.
Ser mais santo (a)... Talvez isto nao seja fácil num
mundo em que os valores da fé sao conculcados, ou num mundo
em que os padrees do libertinísimo se tomam quase imperativos
(nesse contexto confuso, o cristáo nao se confunde, pois ele
sabe que os criterios da verdade e do bem nao sao ditados por
maioria plebiscitaria, mas pela palavra de Cristo, que está viva
no corpo de Cristo ou na S. Igreja). Doutro lado, porém, os
tempos ingratos que vivemos sao mais motivadores do que
tempos pacatos: precisamente os desatinos moráis levam os
fiéis a perceber melhor a enorme necessidade de apresentarem
ao mundo um testemunho de vida coerente; a retidáo e a fide-
lidade atraem, porque se tornaram pérolas raras e preciosas.
O público está saturado de belos discursos; o que ele quer ver,
é a vivencia destemida das verdades atinentes ao Absoluto; um
cristáo fiel e coerente com Cristo na Igreja possui a forga
renovadora dos santos,... dos santos que, na humildade e em
atitude de oracáo unida ao trabalho, abalaram o mundo e o
transformaran!.
Essa vocacáo á santidade,... santidade que sacode e des-
perta, é a de todo e qualquer cristáo. É a tua, caro leitor,
especialmente trazida á tua memoria pela conjuntura de mais
um ano que passa!
SANTO NATAL E FELIZ 1985! E B.
— 441 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXV — N° 277 — Novembro-dezembro de 1984

Sempre voltando á baila:

Teología da Libertacáo: Quatro Enfoques

Em síntese: A revista Italiana 30 GIORNI, malo 1984, pp. 41-57, publi-


cou quatro artigos sobre a Teologia da Libertacao (TL), devidos á pena
dos Prof. Alberto Methol Ferré, uruguaio, Juan Carlos Scannone, argentino,
Georges Cottier, suico, e Rocco Buttiglione, italiano; versam respectiva
mente sobre a origem e o desenvolvimento da TL, sobre as quatro princi
páis modalidades desta, sobre a ¡mpossível "dupla fidelidade" a Cristo e
a Marx e sobre o conceito de "pobre proletario" em Marx e no documento
de Puebla.

Apresentamos sumariamente o conleúdo destes artigos: Alberto M.


Ferré traca a génese da TL a partir de dois conceitos: pobres e libertac&o.
J. C. Scannone propoe tragos legítimos, tragos discutlveis e traeos inacel-
táveis da TL, levando em conta especial o conlulo que alguns dos autores
da TL querem realizar com o marxismo. — Georges Cottier se detém prin
cipalmente sobre o pensamento de Gustavo Gutiérrez, no qual ele reco-
nhece o anseio de combater a miseria latino-americana, como também a
adocao precipitada e daninha de teses marxistas que desvirtúan) a IntencSo
crista do autor. — Rocco Buttiglione explana a diferenca existente entre o
proletario de Karl Marx e o pobre do Documento de Puebla, destazando
equívocos disseminados a propósito.

Em suma, os quatro enfoques sao de grande valor por projetarem luz


serena e profunda sobre a complexa e ambigua temática da TL.

A Teologia da Libertagáo (TL) está sempre em foco;


parece provocada pela situagáo de penuria em que se acha o
continente latino-americano e, mais dé perto ainda, o Brasil.
Também os europeus se interessam pelo assunto, desejosojs de
colaborar na reestruturagáo da sociedade dos nossos países.

"A propósito a revista italiana 30 GIOKNI, em seu número


de maio de 1984, pp. 41-57, publicou quatro artigos sobre tal
temática, redigidos por pensadores notáveis: o uruguaio

— 442 —
T. DA LIBERTAgAO: QUATRO ENFOQUES

berto Methol Ferré, filósofo e diretor da revista latino-ame


ricana NEXO, que trata da origem e do desenvolvimento da
TL; o argentino Juan Carlos Scannone, Decano da Faculdade
de Filosofía da Universidade Sao Miguel (Argentina), que dis
tingue quatro correntes principáis da TL; o prof. Georges Cot-
tier, docente de Filosofía Moderna ñas Universidades de Gene-
bra e de Friburgo, que aborda o relacionamento da TL com o
marxismo; e o Prof. Rocco Buttiglione, da Cadeira de Filosofía
da Política na Universidade de Urbino, que considera a figura
do pobre no marxismo e na TL. Dada a especial importancia
destes artigos, vamos, a seguir, apresentar urna síntese dos
mesmos.

1. «FOI ASSIM QUE A CENTELHA SE ACENDEU»


(pp. 43-45)

Alberto Methol Ferré

1. A TL se baseia sobre dois conceitos-chaves- pobres e


libertario.

Aos 12/09/1962, um mes antes de abrir o Concilio do


Vaticano n, o Papa Joáo XXm afirmou: «Diante dos países
subdesenvolvidos, a Igreja se apresenta como é e como quer
ser: a Igreja de todos e, especialmente, a Igreja dos pobres».
Estas palavras tiveram ampia repercussáo, desencadeando urna
serie de estudos sobre a pobreza no mundo e o desafio que ela
apresenta ao Cristianismo.

Quanto a palavra «libertagáo», utilizada pela resistencia


francesa que se opunha aos ocupantes nacional-socialistas du
rante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), entrou no voca
bulario oficial da Igreja em fevereiro de 1967: foi assumida
pelo CELAM no Documento de Buga (Colombia) relativo as
Universidades Católicas em fevereiro de 1967. De Buga pas-
sou para os Documentos de Merellin (1968). Em novembro
de 1969, o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez proferiu urna
conferencia sobre o tema «Notas para urna Teología da Liber
tagáo»; nascia assim a expressáo «Teología da Libertacáo»,
dotada imediatamente de grande voga e eloqüéncia. Tal expres
sáo foi, aos poucos, recobrindo um leque de posigóes afins entre
si, mas nao idénticas, como demonstra o artigo de J. C. Scan
none, resumido as pp. 445-448 deste fascículo.

— 443 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS;» 277/1984

A TL despertou o interesse pela teología fora dos Semina


rios, pois procurou relacionar-se estreitamente com as ciencias
humanas da historia, da sociología, da economía, da política,
como também com a praxe pastoral.

2. Todavía a TL tem enfrentado problemas precisamente


por entrar em contato com tantas ciencias. Em particular, é
questionado o seu modo de considerar o marxismo. Pergun-
ta-se: pobres e libertacáo exigem, sim ou nao, o marxismo como
método científico? Para Gutiérrez, sim; para Lucio Jera, nao.
Há quinze anos que se vem discutindo a questáo sem que haja
novidade de um lado ou do outro. «Até hoje os teólogos que
assumem o marxismo, nunca deram urna resposta seria ao pro
blema da justaposigáo de teología e marxismo. A énfase colo
cada sobre os pobres nao é urna solucáo: dentro mesmo do
marxismo, Stalin e Trotski afirmavam estar com os pobres;
isto, porém, nao impediu que Trotski acabasse seus días com
um golpe de picáo na cabeca.

A verdadeira questáo, portanto, nao sao apenas os pobres;


há sempre algo mais. Muito freqüentemente os pobres se tor-
nam a capa para urna retórica que esconde a falta de respos-
tas. Nao é legítimo usar o «grito dos pobres como alibi (deri
vativo) intelectual para fugir da responsabilidade diante da
verdades (p. 45).

3. As variantes cristáo-marxistas da TL, a principio,


eram de índole ultra-esquerdista, sustentadas por estudantes
que tinham em Camillo Torres e Che Guevara os seus modelos;
apresentavam-se táo radicáis que chegavam a ser anti-sovié-
ticas. Todavía em 1973 fundou-se o movimento de «Cristáos
para o Socialismo», que abriu nova fase dentro da TL; esta
subordinou-se á política da Uniáo Soviética e, entre as suas
expressóes, move urna campanha de difamacáo sistemática con
tra o Papa Joáo Paulo n, servindo-se de livros, revistas, arti-
gos, folhas mimeografadas, etc.

4. Em suma, no binomio marxismo-teología é geralmente


o polo «marxismo» que absorve a teología e a fé, e nao vice
versa. Mais ainda: é de notar que a ala cristáo-mandsta da
TL guarda o mais absoluto silencio a respeito do marxismo
real, ou seja, o marxismo como ele se realiza em sociedades
concretas nos últimos decenios (Rússia, China, Polonia, Tcheco-
-slqváquia, Albania, Hungría...). Os apologistas de tal cqr-
rente ignoram o marxismo histórico, prático, e falam apenas

— 444 —
T. DA LIBERTACAO: QUATRO ENFOQUES 5

do marxismo teórico; assim «apagam a metade do mundo con


temporáneo. Esse silencio é muito eloqüente, porque vem a
ser urna manobra política» (p. 45).

«Em atitude de servido á Igreja e a verdade, é tempo de


falarmos em voz alta sobre tal assunto, que fere toda a comu-
nidade eclesial» (p. 45).

2. TEOLOGÍA DA LIBERTACAO: AS CORRENTES


PRINCIPÁIS (pp. 46-50)

Juan Carlos Scannone

Geralmente os comentadores observam que a expressáo


«Teología da Libertagáo» é polivalente ou recobre um leque
de posigóes teológicas; dai a dificuldade de discorrer sobre TL.
É, pois, oportuno, antes do mais, tomar consciéncia dos diver-
versos tipos de TL existentes. Embora quase cada autor seja,
no caso, caracterizado por notas próprias, podem-se agrupar
as diversas linhas de TL sob quatro principáis títulos, segundo
o Prof. Juan Carlos Scannone.

2.1. TL a partir da pastoral da Igreja

Existe urna forma de TL que adota, sim, o linguajar das


demais correntes, mas nao entra diretamente em reflexóes
sobre aspectos sócio-políticos; nao recorre á mediacáo socioana-
litica do marxismo, embora nao recuse levar em conta os dados
estatísticos e outras contribuicóes das ciencias sociais.

Procura ser fiel aos documentos de Medellin e de Puebla,


como também á hierarquia da Igreja. Os fautores desta linha
mostram ter consciéncia de que a hierarquia é guarda da Tra-
digáo e do vinculo de unidade da Igreja; nao lhe cabe envol-
ver-se em missóes políticas, as quais tocam propriamente aos
leigos católicos, que Deus chama para santificar as estruturas
deste mundo por suas atividades seculares.

Diante desta posigáo, pode-se perguntar: até que ponto


estamos frente á Teología da Ubertacáo em sentido estrito?
O vocabulario da TL pode ai constar,... todavía para expri
mir proposigóes que a Igreja nao desabona, mas, ao contrario,
reconhece como válidas.

— 445 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

2.2. TL a partir da praxe dos povos latino-americanos

Esta córrante se deve ao teólogo Lucio Jera. Como a


anterior, só impropriamente hoje pode chamar-se Teología da
Libertagáo, embora em suas origens, após o Concilio, tivesse
este nome.

A principal diferenga em relacáo as modalidades extrema


das da TL consiste no conceito de povo. «Povo», segundo Lu
cio Jera e sua escola, nao é entendido como classe (= a classe
oprimida pela estrutura capitalista), mas como realidade his-
tórico-cultural. «Povo» é o sujeito comunitario de urna histo
ria e de urna cultura, como ocorre quando se diz «povo irlan
dés, povo francés, povo portugués...»

Sujeito de urna historia, e nao da historia, isto é, sujeito


de experiencias históricas concretas vividas por toda a comu-
nidade (assim as experiencias da historia do povo brasileiro,
que sao bem diferentes das experiencias da historia do povo
chinés).

Sujeito de urna cultura, isto é, de um estilo de vida, que


nao se confunde com intelectualismo e alta filosofía. Esse
estilo de vida se espelha também em estruturas políticas e
económicas próprias de cada época da historia. Tais estrutu
ras exigem atitudes éticas e justas, de tal modo que, onde nao
haja valores éticos nem justiga, nao há povo, mas, sim, anti-
povo.

A realidade histórico-cultural de um povo incluí sua reli-


giosidade e as expressóes de fé e de piedade desse povo: no
caso da América Latina, trata-se do patrimonio da fé crista,
que é fundamental na historia das respectivas populacóes. O
elemento específicamente religioso cristáo dos povos latino-
-americanos é tido como dinamizador de toda a sua atividade
em prol da justiga e da fraternidade.

Tal corrente da TL, valorizando a historia concreta dos


povos latino-americanos, em vez de ceder a coneepgóes filosó
ficas e abstraías, julga que tem milito mais probabilidades de
atuar. com éxito na América Latina do que o marxismo. Este,
propondo a secularizacáo da vida ou renegando os valores reli
giosos, fica longe demais da realidade de nossas populagóés.
— 446 —
T. DA LIBERTACAO: QUATRO ENFOQUES

2.3. TL a partir da pmxe histórica

1. Esta corrente tem como significativo arauto o teó


logo peruano Gustavo Gutiérrez. É radical nos seus propósitos
de transformar as estruturas da sociedade latino-americana.
Recorre ao método de análise marxista da realidade como ele
mento válido para obter o material que a teología deve consi
derar com seus olhos próprios. Essa corrente tem «o pobre»
ou «o povo» na conta de classe, segundo categorías do mar
xismo ou próximas ao marxismo; identifica, por conseguinte,
a praxis libertadora com a luta de classes, e a opgáo pelos
pobres com opgáo por urna classe contra a outra; o amor cris-
táo, em tal caso, incluí oposigáo ou mesmo odio aos ricos.

Tal modalidade de TL cede largamente á secularizagáo. O


elemento «específicamente cristáo» da praxe libertadora seria
a consciéncia da salvagáo e a referencia a Jesús Cristo,...
referencia esta que nao ofereceria senáo novas motivagóes
para a luta, mas nao daría um caráter próprio á agáo social
do cristáo.

2. Aos autores desta corrente prop5em-se algumas obje-


góes, a saber: nao é possível separar entre si análise marxista
e filosofía marxista; especialmente a antropología e o conceito
de historia professados por Marx estáo ligados ao tipo de aná
lise da realidade que ele instituiu. Também nao é cabível dis
tinguir entre luta de classes e interpretagáo marxista da socie
dade; sim, a luta de classes marxista tende a instaurar urna
sociedade violenta dominada por regime totalitario. Alias, o
Documento de Puebla assinala os perigos que resultam do con-
luio da teología com o método de análise marxista:

«Alguns créem possível separar diversos aspectos do marxismo,


em particular sua doutrina e sua analice. Recordamos com o Magisterio
pontificio que 'seria ilusorio e perigoio chegar a esquecer o nexo
íntimo que os une radicalmente; aceitar os elementos da análi:e
marxista sem reconhecer suas relac.6es com a ideología, entrar na
prática da luta de classes e de sua ¡nterpretacao marxista, deixando
de perceber o tipo de sociedade totalitaria e violenta a que conduz
tal processo*.

Cumpre salientar a.qui o risco de ideologizacao a que se expoe a


reflexáo teológica, quando se realiza partindo de urna praxis que re
corre á análise marxista. Suas conseqüéncias sao a total politizacáo

— 447 _
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

da existencia crista, a dissolucáo da linguagem da fé na das ciencias


sociais e o esvaziamento da dimensáo transcendental da salvacao
crista» (n? 544$).

Como se depreende destes textos, o próprio Papa Joáo


Paulo II rejeitou a utilizagáo do marxismo na elaboragáo de
urna síntese teológica. A advertencia do Sumo Pontífice, feita
na abertura da Conferencia Episcopal de Puebla, foi renovada
no Rio de Janeiro aos 2/07/80, em discurso proferido ao
CELAM:

«A libertacao crista usa meios evangélicos, com sua eficacia


peculiar, e nao recorre a nenhum tipo de violencia, nem á dialética da
luta de classes... ou á praxis ou análise marxiste, pelo perigo de
ideologizacao a que se expoe a reflexao teológica quando se realiza
partindo de uma praxis que recorre á análise marxista».

2.4. TL a partir da praxis dos grupos revolucionarios

A mais extremada linha da TL tem como representante


mais signuicauvo o brasueiro Hugo Assmann; inspira o movi-
mento «Cristaos para o Socialismo».

Recorre á análise marxista como se fosse certamente cien


tífica. Alimenta assim a praxis de grupos cristaos politica
mente radicalizados e envolvidos em acáo revolucionaria (.nao
necessariamente violenta). Formula as suas proposifióes em
¿ungáo da praxis revolucionaria, perdendo o contato com a
iraaigao crista. Com outras palavras: a fé, com suas exprés-
soes e ínstituigoes, é criticada a partir da agáo revolucionaria;
o criterio da verdade, mesmo em materia de fé, é a forga
Transformadora que aiguma proposigáo possa ter.

Tal corrente se distancia da hierarquia da Igreja e do


povo fiel e tende a converter-se em uma «teología transconfes-
sional» (além ou ácima das confissóes de fé cristas) ou mesmo
esvaziada de conteúdo de fé propriamente dito. Tende agredu-
zir-se a mero discurso sociológico de verniz cristáo, posto a
servico da luta de classes. A praxis libertadora, em tal caso,
é destituida de notas específicamente cristas. Assim apaga-se
a diferenga entre Igreja e mundo; realiza-se a total seculari-
zagáo do Cristianismo.

— 448 —
T. DA LIBERTACAO: QUATRO ENFOQUES 9

3. A «DUPLA FIDELIDADE» (pp. 51-53)

Georges Cottier

O Prof. Georges Cottier comeca seu artigo observando


que se deteve especialmente sobre dois autores da TL. O pri-
meiro é Hugo Assmann, com sua obra Opresión-Liberación,
desafio a los Cristianos: esta lhe pareceu ser «urna releitura
marxista do Cristianismo, que leva a urna secularizagáo da fé».
O outro autor é Gustavo Gutiérrez; este apresenta, de um lado,
o anseio de combater eficazmente a miseria dos povos latino-
-americanos; de outro lado, faz-se arauto de teses do mar
xismo, aceitas um tanto precipitadamente ou sem juízo critico.

É o que induz o Prof. Cottier a refletir nos seguintes


termos:

3.1. Algumas Hjóes da historia

Os autores da TL, esposando teses marxistas, parecem


estar revivendo episodios do passado, nos quais o conluio redun-
dou nao em proveito da fé crista, mas, sim, etn absorgáo da
mesma por parte do marxismo.

1) Tal foi o caso, por exemplo, de muitos intelectuais e


homens de projegáo que nos últimos decenios aderiram ao Par
tido Comunista do respectivo país como se fosse isto a única
maneira de lutar contra a injustiga que afetava a classe ope
raría. — Ora, urna vez chegado ao poder, o Partido alijou tais
homens e mulheres, tirando-lhes a vida ou legando-os ao ostra
cismo. Tenha-se em vista, entre outros, o ocorrido na Nicara
gua, na Iugoslávia, na Polonia, etc.

2) Na década de 1950, varios sacerdotes se fizeram «pa


dres operarios», inspirados pela louvável intencáo de compar-
tilhar as duras condigóes de vida dos trabalhadores; tal inicia
tiva, assim intencionada, só podia e pode merecer apoio. To
davía esses presbíteros foram aos poucos absorvendo teses do
marxismo que imperava naqueles ambientes. Julgavam poder
guardar dupla fidelidade, ou seja, a fidelidade a Cristo e á
Igreja e a fidelidade ao marxismo; tal fórmula, porém, era
urna armadilha; tíveram finalmente que escolher entre Cris-

— 449 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

tianismo e marxismo, e acabaram optando pelo marxismo e a


desergáo frente ao Senhor Deus; o marxismo era-lhes apre-
sentado pelo Partido Comunista como sendo a consciéncia da
classe operaría, de modo que, para ser fiéis ao operariado,
deveriam ser fiéis ao marxismo com abandono dos valores da
fé; a Igreja era-lhes apresentada, na doutrinacáo comunista,
com o falso rótulo de «expressáo ideológico-cultural da classe
burguesa» (!).

Concluí Cottier: «Por conseguinte, o meu receio nao é


infundado, quando considero a ingenuidade com que generosos
teólogos acolhem na sua síntese de pensamento teses da filo
sofía marxista» (p. 52).

Prossegue o autor: «Dir-me-áo que me prendo a fórmulas


sem levar em conta as intencóes dos teólogos da libertacáo
que adotam tais fórmulas». Em resposta, observa que as fór
mulas nao sao «inocentes nem neutras», mas fazem parte de
um sistema estruturado que, por sua prática política, exerce
colossa! impacto no mundo contemporáneo; existe urna coe-
réncia lógica entre as fórmulas e a praxis ou a acáo revolu
cionaria do marxismo no mundo.

A conseqüéncia destas consideracóes, segundo Cottier, é


que «a teología da libertacáo pousa sobre urna contradicho: de
um lado, a intencáo é crista e se exprime mediante temas e
vocábulos da Biblia; de outro lado, porém, as fórmulas toma
das de empréstimo, com certa precipitagáo, de fontes marxistas
langam a TL na órbita do materialismo histórico» (p. 52).

Pergunta entáo Cottier:

3.2. Quais as teses marxistas que entram na TL?

Sao quatro as teses que afetam a TL a ponto de se tornar


o seu centro de gravitacáo.

1) É necessária a luta de classes. Para Marx, a luta nao


é um elemento casual ou- acidental, mas, sim, um dado-cons
titutivo e explicativo da historia; esta vai-se desenrolando por
torga da luta de classes; levando-a a termo, a classe operaría
julga realizar a sua própria libertacáo. Assim a historia uni
versal vem a ser a historia da redencáo e da divinizacáor>do
homem pelo homem.

— 450 —
T. DA LIBERTACAO: QUATRO ENFOQUES 11

2) Por conseguinte, o marxismo e, com ele, a TL nao


aceita meras reformas económioas e sociais, mas apregoa a
revolugáo ou a praxis revolucionaria. Quem nao entra na revo-
Iugáo com os oprimidos, é opressor.

3) O objetivo da revolugáo é derrabar o sistema capi


talista e instaurar o socialismo marxista. O vocábulo «socia
lismo» ocorre nos escritos da TL, mas com certa imprecisáo.
O socialismo marxiste, na verdade, está inseparavelmente con
jugado com totalitarismo; sim, de modo geral, nos países em
que o marxismo toma o poder, instaura o regime de um Par
tido único; este, afirmando agir em nome do proletariado, ins
tituí uma ditadura totalitaria e atéia que nao respeita os direi-
tos da pessoa humana. A TL se fecha no silencio a respeito
do totalitarismo e dos métodos de violencia que ele aplica as
populacóes dominadas.

4) O Reino de Deus seja secularizado, isto é, despojado


de seus valores e de suas manifestagóes explícitamente reli
giosas, para coincidir com o reino do homem na térra. A esca-
tologia crista é transformada em escatologia terrestre sócío-
-político-económica; a expectativa da consumada vitória de
Cristo sobre o pecado e a morte no fim dos tempos é substi
tuida pela de uma ordem sócio-económica em que todas as
aspiragóes do homem encontrem sua resposta.

Enunciados estes pontos, Cottier propóe uma

3.3. Reflexfio final

1) «Nao se deveria falar de certa ingenuidade da parte


da TL? Falta a esta um exame aprofundado do pensamento
marxista» (p. 52).

2) A TL nao pretende ser apenas uma praxis decorrente


do Iogos ou da contemplagáo das verdades eternas reveladas
por Cristo no Evangelho. A TL entende praxis no sentido
marxista, isto é, como agio revolucionaria á qual está subor
dinado o Iogos ou o raciocinio; o criterio da verdade nao é a
evidencia teórica das proposigóes, mas o poder transformador
e revolucionario das mesmas; a teología e o discurso teológico
estáo subordinados aos imperativos da revolugáo. «Originaria
mente a TL nao intencionava chegar a tal conclusáo, mas fol
levada a tanto pela inexorável lógica das teses marxistas que
ela adota sem previo e suficiente exame» (p. 53).

— 451 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

3) A TL é vítima de confusáo entre o pobre da S. Escri


tura e o proletario de Marx, confusáo esta que decorre da assi-
milagáo precipitada e preconcebida de teses marxistas. — O
pobre na S. Escritura é o homem injustigado que tem o cora-
gáo aberto para Deus e os valores da fé, inclusive os valores
transcendentais; cf. Sf 2,3; 3,lls; Is 49,13; 57,14-21; 66,2;
SI 21,27; 33,3s; 36,lls; 68,34; 73,19; 148,4; Mt 5,3; Le 1,52;
6,20; 7,22; é, pois, urna figura profundamente religiosa, que
espera do Senhor Deus a sua resposta. — Ao contrario, o con-
ceito de proletario, para Marx, resulta de categorías filosófi
cas; através dessa nocáo, Marx quería traduzir aversáo ao
mundo cristáo da sua época. Alias, o artigo de R. Buttiglione
trata também deste assunto, como se verá adiante.

4)' A conclusáo final de Cottier é a seguinte:

«Em conclusáo direi que a TL é trabalhada por duas cor-


rentes que nao se conciliam entre si: de um lado, a generosi-
dade das intenses, e, de outro lado, a lógica das idéias toma
das de empréstimo á ideología marxista-leninista, sem que
tenham sido avallados todo o seu significado e as conseqüén-
cias destas. As idéias sao mais fortes do que as intencóes des
tituidas de sólidas bases intelectuais. Essa teología, portante,
é capturada por urna corrente que tende a distanciá-la das suas
raizes cristas» (p. 53).

É nítida a posigáo do Prof. Georges Cottier, á qual, de


certo modo, faz eco a de Rocco Buttiglione.

4. QUEM SAO OS VERDADEIROS POBRES (pp. 54-57)


Rocco Buttiglione

A TL teve origem quando faliram as sodologias do desen


volvimento, que na década de 1960 langavam um olhar com-
passivo sobre os países latino-americanos; consideravam, po-
rém, a América Latina a partir do ponto de vista das nagóes
abastadas ou ricas. Em tomo do ano de 1970 os estudiosos
verificaran! que a América Latina nao é propriamente um
continente «atrasado», mas um continente que tem seu ritmo
e seu modo de desenvolvimento peculiares por causa da fungáo
que lhe toca no sistema económico mundial. A América La
tina terá seu progresso diferente, fundado sobre o esforco soli-

— 452 —
T. DA LIBERTACAO: QUATRO ENFOQUES 13

dário dos seus habitantes e nao sobre a exploragáo. Desta


intuigáo surgiu o propósito de pensar na situacáo da América
Latina a partir da América Latina, ou seja, a partir das espe-
rangas, das exigencias e das energías que o pobre latino-ame
ricano traz em si. — Foi esta a grande e positiva novidade
que as Conferencias Episcopais de Medellin (1968) e Puebla
(1979) confirmaram e explanaram, colocando em foco os po
bres da América Latina.

4.1. O proletariado no marxismo

Tendo em vista «a opgáo preferencial pelos pobres» pro


clamada pelos Bispos da América Latina, pergunta-se: quem
sao os pobres assim considerados?

— Urna certa corrente da TL, utilizando a análise mar-


xista com seus conceitos próprios, identifica o pobre com pro
letario marxista, tirando áquele vocábulo o significado con
creto e histórico que ele tem na América Latina. Com efeito,
para Marx, as categorías de «proletario» e «proletariado» sao
categorías filosóficas mais do que categorías de sociologia e
economía. Sim; o jovem Marx quis renegar, de modo abso
luto, o mundo cristio-burgués da sua época; para tanto cons-
truiu o conceito de proletario; este seria o homem no estado
puro, sem cultura alguma, sem moral nem religiáo, pois estas
lhe sao incutidas pela distribuicáo do trabalho ñas fábricas;
por isto, o proletariado nao tem nagáo, nem moral nem reli
giáo. Tal conceito resulta da no^áo materialista de historia,
segundo a qual o elemento que determina a existencia humana
é a producáo dos bens materiais necessários a existencia e á
reproducáo da vida. Este principio, menos evidente em outras
categorías da sociedade, se torna patente de maneira brutal
na vida do proletariado.

Assim o conceito filosófico de proletario, formulado por


Marx, vem a ser a expressáo do ódio deste pensador para com
a civilizagáo européia impregnada de Cristianismo.

Notemos, porém, que o próprio Marx reconhecia que o


proletario real nao chega a ter consciéncia de ser a «negagáo
absoluta» da ordem de coisas existente. Geralmente o prole
tario real tem sua cultura, sua moral, sua religiáo e sua filo
sofía de vida. Verdade é que o marxismo considera estes

— 453 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

dados como «residuos de pequeño burgués» que permanecem


dentro da mentalidade operaría. Como quer que seja, porém,
é em torno de tais valores (cultura, moral, religiáo, filoso
fía...) que se organiza a vida do operario. Deve-se mesmo
dizer que a cultura do operario, espontáneamente impregnada
de elementos religiosos, vive em luta continua contra as cor-
rentes que tendem a cancelá-la.

4.2. Os pobres segundo Puebla

A interpretacáo marxista da realidade latino-americana


parte da análise das estruturas económicas e procura deduzir
destas o comportamento dos homens, especialmente dos opera
rios. Ora a Conferencia dos Bispos reunida em Puebla adotou
outro procedimento: procurou compreender o homem latino-
-americano a partir das raizes da sua cultura; procurou pene
trar no coragáo e na consciéncia do pobre para compreender e
compartilhar os valores e as aspiragóes desse homem. Esta con-
sideragáo levou a conclusáo de que o pobre real-existente (á dife-
renga do imaginario da teoria) é um homem profundamente
cristáo; os criterios pelos quais ele orienta a sua vida, sao os
que lhe foram comunicados durante quase quinhentos anos de
evangelizagáo. Quando ele entra em luta imposta pelas cir
cunstancias, trata-se de urna luta em prol da justiga e do res-
peito á dignidade humana, e nao de urna luta de classes em
sentido marxista.

É certo que a religiosidade popular latino-americana resul


tante da evangelizagáo é muitas vezes ofuscada e desviada
por elementos espurios ou superticiosos. Nao obstante, o Do
cumento de Puebla quis colocar em foco a religiosidade popu
lar na medida em que é urna profunda meditagáo sobre os mis
terios do nascimento, do amor e da morte do homem ilumi
nados pela luz de Cristo.

Assim Puebla restituiu ao homem latino-americano a sua


cultura e a sua historia ou a sua identidade. Isentou-o de
representar o papel de urna das figuras do drama de cons
ciéncia do infeliz intelectual europeu ou europeizante. O pobre,
segundo Puebla, nao é mera negagáo ou contestagáo, pronta
a descarregar do fundo do seu coracáo o incendio revolucio
nario. Mesmo atingido pelo sofrimento, o pobre é dignidade,
ternura, amor,... alegría e festa. É urna pessoa que merece
respeito e que nao pode ser sacrificada a um projeto histórico
revolucionario.

— 454 _
T. DA LIBERTACAO: QUATRO ENFOQUES 15

4.3. Conseqüéncias do confronto: a renovacáo segundo Puebla

1. A comparagáo entre o conceito de proletario em Marx


e o de pobre em Puebla nao implica que as exigencias da jus
tiga e da renovagáo social sejam atenuadas. Mas influí no
modo de conceber a renovagáo social.

O oaminho da libertagáo na América Latina já comegou


há muito ou desde que se prega o Evangelho neste continente.
Nao há dúvida, tal caminho foi distorcido e desfigurado pelo
pecado dos homens, mas, todas as vezes que se restaura a fé
no coragáo dos agentes da historia, reluz de novo a imagem
do homem com as suas exigencias de justiga e os imperativos
de renovagáo.

Assim, era lugar da prospectiva marxista de «revolucáo


total» entendida como completa ruptura com o passado, Pue
bla propóe a prospectiva de ressurgimento ou revolugáo como
retomada de vigor dos valores fundamentáis cristáos que a
evangelizagáo colocou no ámago do homem latino-americano.
A perspectiva de Puebla parte de um valor positivo, ou seja,
da consciéncia da presenga misteriosa e sensível de Deus na
historia da América Latina (presenga recordada, de algum
modo, pelo semblante mestigo da Virgem de Guadalupe;. É
esta presenga que dinamiza a caminhada do homem latino-
-americano e que deve ser, antes do mais, levada em conside-
ragáo quando se trata de esbogar o futuro do continente.

2. Na perspectiva marxista, a libertagáo do proletario é


o resultado da dialética das forgas produtoras e das relagóes
de produgáo que se reflete na hita de classes. Á Igreja nao
compete fungáo alguma. Apenas se lhe pede que nao estorve
o esforgo revolucionario mediante os seus inoportunos apelos
á misericordia, ao perdáo, ao respeito da dignidade de todo
homem (qualquer que seja a sua classe social).

Diverso, porém, é o papel que toca á Igreja se, com Pue


bla, procuramos entender o homem latino-americano a partir
das suas raizes culturáis. Compete entáo á Igreja a tarefa de
reavivar a consciéncia da presenga de Deus subjacente a tal
cultura; compete-lhe resguardar os valores inerentes a esta e
deles deduzir as conseqüéncias éticas para que a luta em prol
da verdade e da justiga se desenvolva orgánicamente, com res
peito ao ser humano e aos seus direitos. Desta maneira se
atingirá a auténtica libertagáo do pobre latino-americano.

— 455 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

5. OBSERVADO FINAL

Após apresentar a síntese dos quatro artigos de 30 GIORNI


nestas páginas, ocorre á redagáo de PR urna observagáo final.

Independentemente da TL, a Igreja tem urna mensagem


muito concreta e eficaz frente ao proDlema da justiga social
no mundo inteiro: é a Doutrina Social da Igreja, formulada
em encíclicas ou outros documentos dos Papas desde a Serum
Novarum de Leáo XIII (1891) até a Laborem Exerceiis de
Joáo Paulo XI (1982). Esta Doutrina abrange os pontos con
cretos da problemática com clareza e precisáo, apontando as
pistas de solugáo auténticamente crista para tais situagóes.
Trata-se de proposigóes deduzidas lógicamente das premissas
da fé crista, sem desvíos ou mesclagens deformantes. A Dou
trina Social da Igreja substituí com vantagem as correntes
ambiguas ou espurias da TL. Acontece, porém, que o grande
público freqüentemente julga ser a TL a resposta católica para
a problemática social, de tal modo que nao abragar a TL pa
rece o mesmo que ficar insensível as exigencias da justiga no
mundo; o público pouco esclarecido sobre a TL abraca qual-
quer corrente da mesma sem se dar conta de que, com isto,
pode estar até apostatando das verdades da fé católica, em vez
de lhes dar seu apoio; pode estar favorecendo o marxismo com
detrimento do Cristianismo. Daí a necessidade nao só de aler-
tarmos os interessados sobre o que é a TL, mas de propormos
em termos exatos as grandes teses da Doutrina Social da
Igreja; esta é a própria Moral do Catolicismo aplicada aos pro
blemas sociais de nossos tempos sem mediagóes heterogéneas.

ASS1NATURA ANUAL PARA 1985

Sendo paga até 31 de dezembro de 1984 .. Cr$ 12.000,00


(Válida para todo o ano de 1985)

Sendo paga a partir de 19 de Janeiro de 1985 Cr$ 15.000,00

— 456 —
Esperava-se...

Teología da Libertario:
Palavra Oficial da igreja
Sm síntese: A "Instrucáo..." emanada da Sania Sé aos 6/08/84
sobre a Teología da LibertacSo (TL) mostra claramente que

1) A TL nao é slmplesmente a resposta crista ao problema das Injus-


ticas sociais. Quem estuda as obras dos teólogos da libertacáo (infelizmente
o grande publico, informado apenas pelos ¡ornáis, nao as conhece) veri
fica que se trata de algo assaz diferente: a TL, na medida em que recorre
á análise marxista, vem a ser urna reformulacáo total do Cristianismo; em-
bora se sirva de vocábulos e expressSes de teología, propóe um Cristia
nismo secularizado, laicizado, a-religioso e politizado (cf. Titulo X, ns. 12-14).

Especialmente o concelto de "luta de classes" privilegia urna classe


(a dos pobres, entendidos no sentido marxista de "proletariado", e nfio no
sentido bíblico) contra outra classe, tlda como pecadora, condenada e
excluida das assembléias de culto. Isto cortamente contradiz á intencfio
de Cristo, que foi a de chamar todos os homens Indistintamente á con-
versáo do coracáo para que naja estruturas sociais justas e fraternas É o
materialismo marxista que faz as consciéncias depender das estruturas
sociais, ao passo que o Cristianismo faz as estruturas depender da cons-
cléncla dos homens.

2) A Igreja, condenando os erros da TL, nSo é insensível á questáo


social. Desde Leao XIII (encíclica "Rerum Novarum", 1891) ató Joáo
Paulo II, os Papas tém formulado as normas da Ética social decorrentes do
Evangelho. Deve-se mesmo dizer que a Doutrina Social da Igreja atende
melhor aos interesses dos pobres e injusticados, porque respeita a pessoa
humana, nao dissemlna nem o odio nem a luta de classes, que só servem
para gerar odio e violencia. Alias, a experiencia de povos regidos por
governos totalitarios de esquerda bem demonstra que os principios marxls-
tas sSo Ilusorios, pois nao libertam, mas instituem nova forma de escra-
vidáo social, fazendo do Estado o grande capitalista, do qual cada cidadSo
depende para estudar, ser informado, locomover-se, conseguir emprego
sobrevlver...

Com a data de 6/8/84 foi publicada urna «Instrucáo sobre


alguns aspectos da Teología da Libertacáo» aprovada pelo
Santo Padre Joáo Paulo II e assinada pelo Cardeal Joseph
Ralzinger, Prefeito da S. Congregagáo para a Doutrina da Fé.

— 457 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

O documento veio esclarecer, de maneira abalizada e serena,


a difícil temática, de modo a merecer consideracáo da parte
dos fiéis católicos como também do grande público. Eis por
que, ñas páginas seguintes, apresentaremos urna síntese obje
tiva e fiel do mesmo.

INTRODUCÁO

O documento se abre expondo a problemática em pauta.

A miseria e as condicóes sub-humanas em que vivem numerosas


populacoes, tém chamado especialmente a atencao dos teólogos dos
últimos anos, levando alguns a elaborar sistemas teológicos tendentes
a promover a libertacao de tais grupos humanos. Visto que desvios
e erros se tém registrado em tais concepcoes, a S. Congregacáo para
a Doutrina da Fé se vé obrigada a apontar esses elementos prejudiciais
a fé e á vida crista.

Tal advertencia, porém, nao significa desaprovacao do trabalho


realizado por muitos fiéis em favor dos irmaos pobres e sofredo res;
ao contrario, a Igreja nao deixa de exortar seus filhos a que, guiados
por fé esclarecida, se empenhem em prol dos irmaos deserdados e
perseguidos. ■"■;•:

I. UMA ASPIRAgÁO

A aspiracáo dos povos a urna vida condizente com a dignidade


humana vem a ser um dos sinais dos nossos tempos- £ plenamente
justificada pelo fato de que o homem foi feito á ¡magem e semelhanca
de Deus e chamado á filiacáo divina. Por conseguinte, todos tém
direito a ser respeitados — o que implica a extingao de gritantes
desigualdades entre ricos e pobres, o fim de qualquer forma de colonia
lismo e o cultivo da solidariedade e da eqüidade nos intercambios
internacionais.

II. EXPRESS6ES DESTA ASPIRADO

A aspiracáo pela justica toma ho¡e em dia expressoes variadas,


das quais algumas vém contagiadas por ¡deologias que pervertem o
seu sentido: pregando meios de acao que implicam o recurso sistemá
tico á violencia e derrogam ao respeito devido á pessoa humana, sao
aptas a frustrar mais do que a promover as populacoes carentes. Daf
a necessidade de discernimento no tocante as expressoes da aspircícao
á libertacao.

— 458 —
T. DA LIBERTACAO: PALAVRA OFICIAL 19

III. LIBERTACÁO, TEMA CRISTÁO

Entre os cristños, tal aspiracao suscitou, entre ootros. o movimenfo


conhecido como «Teología da Libertacao» (TL). Esta compreende um
leque de correntes teológicas diversificadas, que hao de ser considera
das á luz da Revelacáo Divina auténticamente interpretada pelo
magisterio da Igreja '.

IV. FUNDAMENTOS BÍBLICOS

Encontra-se nas Escrituras sólida fundamentacao para anseios de


libertacao. Com efeito; nelas lemos que Jesús Cristo nos libertou do
pecado e outorgou a vida nova da graca, que nos torna livres da
escravidáo do pecado.
-*•

As teologias da libertacao recorrem amplamente á narracáo do


livro do Éxodo. Esta, porém, nao significa liberfacao de natureza
prevalentemente política, pois implica a constituicao do povo de Deus,
que celebrou Alianca com o Senhor no monte Sinai. O éxodo do Egitó
(século XIII a.C) foi referencial utilizado pelos Profetas para predizer
o fim do cativeiro babilónico no século VI a.C. Alias, toda a literatura
profética é marcada por apelos á justica e á solidariedade, em defesa
da viúva e do órfño, oprimidos por ricos poderosos.

Semelhanfes exigencias encontram-se no Novo Testamento. O dis


curso das bem-aventurancas, por exemplo, apregoa a felicidade dos
que tém um coracao de pobre (cf. Mt 5,3); o próprio Jesús, feito
pobre por nosso amor, quis identificar-se com todo homem sofredor
(cf. Mt 25,31-46); além do qué, incitou os seus discípulos a serem
misericordiosos como o Pai é misericordioso (cf. Le 6,36).

«A Revelacáo do Novo Testamento nos ensina que o pecado é o


mal mais profundo, que atinge o homem no cerne de sua personalidade-
A primeira libertacao, ponto de referencia para as demais, é a do
pecado». Nao se pode, porém, restringir o conceito de pecado áquilo
que se denomina «pecado social». Também nao é lícito situar o mal
única ou principalmente nas estruturas económicas, sociais ou políticas,
como se todos os outros males tivessem nessas estruturas a sua causa;
mudadas tais estruturas, aparecería sobre a térra um «homem novo»,
segundo dizem teólogos da libertacao. Na verdade, é o inverso que

a propósito o artigo deste fascículo, pp. 442-456.

— 459 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

se verifica: as estruturas, boas ou más, sao fruto da acao do homem;


vém a ser conseqüéncias antes de ser causas. A raiz de todo mal so
encontró no coracao do homem. que deve ser convertido pela graea
de Jesús Cristo para agir como nova criatura no amor ao próximo e na
busca eficaz da ¡ustica.

V. A VOZ DO MAGISTERIO

Para responder ao desafio lanzado á nossa época pela opressao


e a fome, o Magisterio da Igreja tem lembrado insistentemente os
principios da Ética cri'tá. Tenham-se em vista os pronunciamentos
pontificios «Mater et Magístra» e «Pacem in Terris» de Jo5o XXIII,
«Populorum Progressio», «Evangelü Nuntiandi» e «Octogésima
Adveniens» de Paulo VI, «Redemptor Hominis», «Dives in Misericordia»
e «laborem Exercens» de Joao Paulo II, além de numerosos discursos
papáis e Declaracóes de Conferencias Episcopais. A «preocupacao da
Igreja pela promocao humana fraduziu-se também na criacao da
Pontificia Comissao Justica e Paz».

VI. UMA NOVA INTERPRETADO DO CRISTIANISMO

«O zelo e a compaixao dos pastores correm, por vezes, o risco


de ser desviados para iniciativas nao menos prejudiciais ao homem do
que a própria miseria que se combate».

«Assim acontece que alguns, diante da urgencia de repartir o


pao, sao tentados a adiar para amanhS a evangelizacáo: primeiro o
Pao, mais tarde a Palavra. Ora é erro fatal separar as duas coisas até
chegar a opó-las entre si»; pratiquem-se urna e outra.

«A outros parece que a luta para obter ¡ustica e liberdade huma


nas, entendidas no sentido económico e político, constitua o essencial
e a totalidade da salvacáo. Para estes, o Evangelho se reduz a urna
boa-nova meramente terrestre».

Estas posicoes doutrinárias redundam numa re-interpretacáo global


da mensajgem do Cristianismo; vém a ser a negacao prática da fé,
tomando emprestados ao marxismo elementos ideológicos e recorrendo
a teses de hermenéutica bíblica» marcada pelo racionalismo. E precisa
mente tal modalidade de teología da libertacao que a Instrucáo passa
a considerar mais detidamente nos seus incisos seguintes.

— 460 —
T. DA LIBERTACAO: PALAVRA OFICIAL 21

Vil. A ANÁLISE MARXISTA

Os teólogos que se valem da análise marxista, assim raciocínam-.

Toda situacao explosiva exige imediata acao eficaz. Tal eficacia


requer previa análise científica das causas estruturais da miseria. Ora
o marxismo oferece um instrumental para essa análise. £, pois, necessá-
rio aplicá-lo á situacao dos países subdesenvolvidos, inclusive da
América Latina-

A propósito observe-se:

O conhecimento científico de determinada situacao é, sem dúvida,


pressuposto para eficaz transformacáo social. Acontece, porém, que
o termo «científico» exerce urna fascínacao quase mítica. Nem tudo o
que ostenta a etiqueta de científico, é necessariamente tal. Por isto a
aceitacáo do método de análise marxista devería ser precedida de um
exame crítico, exame este que nao é realizado pela teologia da liberta-
cao em foco. — Sabe-se que o marxismo é urna concepcdo globalizante
do mundo, cujos componentes sao todos inspirados pelas mesmas
premissas materialistas e atéias; por conseguinte, nao se pode assumir
a análise marxista da sociedade sem assumir ao mesmo tempo os seus
principios anticristáos. Verdade é que o pensamento marxista evoluiu
nos últimos decenios, dando origem a linhas diversas (a da Rússia,
a da China, a da Albania, a da lugoslávia. . .); na medida, porém,
em que tais correntes se mantém marxistas, continuam vinculadas a
teses fundamentáis incompatíveis com a concepcao crista do homem
e da sociedade. Por conseguinte, quem pretende integrar em sua síntese
teológica tal elemento do marxismo dependente do ateísmo e do
materialismo, comete desastrosas contradicóes.

O criterio da verdade, em teologia, nao pode ser íenáo a men-


sagem de fé transmitida por Jesús Cristo. E á luz da fé que se deve
¡ulgar o grau de validade das proposicoes de outras disciplinas refe
rentes ao homem. á historia e ao destino deste. Quem esquece isto,
realiza simplificacáes e confusóes em seu sistema teológico.

Do que acaba de ser dito, se depreende também que as fórmulas


oriundas do marxismo conservan» a significacáo que receberam na
doutrina marxista original, é o qve acontece com a expressao «Iuta
de classes): continua impregnada da interpretacao que Marx Ihe deu
e nao pode ser tida como sinónimo da fórmula «confuto social agudo»;
quem assim ¡ulgasse, alimentaria grave mal-entendido na mente de
seus leitores.

— 461 __
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

VIII. SUBVERSÁO DO SENSO DA VERDADE E VIOLENCIA

A teología da libertacao, assumindo elementos do marxismo,


chega a conclusdes ¡ncompotíveis com a visdo crista do homem.

Assim, na lógica do pensamento marxista, a análise da sociedade


feita por Marx é inseparável da praxis revolucionaria- Em conseqüéncia,
só pode fazer vma correta análise da sociedade quem participa do
combate revolucionario. Ora a participagáo no combate forma a cons-
ciéncia do individuo e vem a ser para ele criterio da verdade. A
verdade, por conseguinte, é partidaria; é a verdade da classe; só é
verdade a proposicao que contribua para transformar a sociedade.

Mais: «a iei fundamental da historia, que é a lei da luta de


classes, implica que a sociedade esteja fundada sobre a violencia. A
violencia que constituí a relacüo de dominacao dos ricos sobre os
pobres, deverá corresponder a contravioléncia revolucionaria».

A luta de classes é, pois, apresentada como leí objetiva e necessá-


ria. Quem nela entra, do lado dos oprimidos, «faz a verdade», «age
científicamente». Em conseqüéncia, a concepcáo da verdade está ligada
á violencia necessária e, com ¡sto, ao amoralismo político; os conceitos
de bem e mal sao totalmente transformados nesse contexto ou, melhor,
deixam de existir dentro da ótica da luta de classes.

IX. TRADUCÁO «TEOLÓGICA» DESTE NÚCLEO


IDEOLÓGICO

Como se pode perceber dos antecedentes, o sistema da teologia


da libertacao extremada vem a ser a perversao da mensagem crista,
qve é posta em xeque nao em um ou outro dos seus aspectos, mas na
sua globalidade. Ve¡a-se mais precisamente como isto ocorre:

a) O principio da luta de classes aplicado á Sociedade eclesial


divide a Igreja. Esta é cindida pelos orautos da TL em Igreja do povo
e Igreja da hierarquia institucional ou Igreja dos pobres e Igreja dos
ricos, a tal ponto que nao querem aceitar cristaos ricos e cristaos pobres
na mesma celebracao do culto do Senhor.

b) O conceito de luta de classes dá valor sacral e absoluto á


historia. Esta se torna um elemento central na concepcáo da TL: «Deus
se fez historia». Em conseqüéncia, tais teólogos rejeitam a distincao

— 462 —
T. DA LIBERTACAO: PALAVRA OFICIAL 23

entre historia da salvacao e historia profana; mantcr ta! distincao


seria cair no dualismo. Tendem deste modo a identificar o Reino de
Deus com o movimento de libertacao humana; na historia se daña a
auro-redencáo do homem por meio da luta de classes.

«Alguns chegam a identificar o próprio Deus com a historia e a


definir a fé como 'fidelidade á historia', o que significa fidelidadé
comprometida com urna prática política», prática relacionada com a
instauracao de um messianismo (ou de wna salvacao messiánica)
meramente temporal.

c) Por conseguinte, a fé, a esperanza e a caridade recebem


novo significado: sao «fidelidade á historia», «confianca no futuro»,
«opcSo pelos pobres»- Isto equivale a negar o conteúdo teóloga! das
mesmas. A caridade assim entendida exige do crisfao participando na
luta de classes; quem queira amar todo homem, de qualquer classe
social, ou quem queira entrar etn diálogo por vía nao violenta, está
tomando atitude contraria ao verdadeiro amor; por pertencer objetiva
mente ao mundo dos ricos, o rico é, antes do mais, um inimigo a com-
bater. A universalidade do amor ao próximo e a fraternidade só terao
valor quando da revolucco vitoriosa surgir o «homem novo».

d) «Destas concepcoes deriva-se urna polilizagáo radical das


afirmacóes da fé e dos ¡uízos teológicos. Nao se trata apenas de
chamar a atencao para as conseqüéncias políticas das verdades da fé,
mas de subordinar qualquer afirmacao da fé a criterios políticos, que,
por sua vez, depéndem da teoria da luta de classes entendida como
m oven te da historia.

e) A Igreja, nesta perspectiva, é encarada como sociedade


inserida na historia e sujeita, também ela, as leis que governam a
evolucao histórica na sua imanéncia. Assim se destrói a realidade
específica da igreja, que é sacramento e misterio da fé.

f) O conceito de «pobre» da Biblia é confundido com o de


«proletario» de Marx. Perverte-se entáo o sentido escriturístico de
«pobre»> porque se Ihe dá urna coloracao política que ele nao tem; o
pobre na Biblia é, antes do mais, o amigo de Deus, ao passo que o
proletario de Marx nao tem religiáo *. A Igreja dos pobres torna-se
entáo Igreja classista, que tomou consciéncia da tiecessidade do com
bate revolucionario e que celebra a sua luta na liturgia. «O povo (dos
pobres) assim entendido chega a tornar-se, para alguns, objeto de fé».

Ver p. 453s deste fascículo.

— 463 —
24 «tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

g) A concepcao de «Igreja do povo» implica urna critica das


préprias estruturas da Igreja... Crítica que nao é apenas correcao,
fraterna dirigida aos pastores da Igrefa, mas implica por em xeque a
estrufura sacramental e hierárquica da Igreja tal como a quis o próprio
Senhor: a hierarquia e o magisterio sao denunciados como represen
tantes da classe dominante, que é preciso combater. Isto equivale
ainda a dizer que o povo é a fonte dos ministerios e portento pode
escolher os ministros que Ihe aprazam, de acordó com as necessidades
da sua missao revolucionaria.

X. UMA NOVA HERMENÉUTICA

Em conse.qüéncia do que foi dito, «os teólogos que nao com-


partilham a TI, a hierarquia e sobretudo o magisterio da Igreja sao
desacreditados de antemáo como pertencentes á classe dos opressores.
A teología deles é urna teología de classe. Os seus argumentos e
ensinamentos, portanto, nao merecem ser examinados, urna vez que
refletem simplesmente os interesses de urna classe. Por isto, decreta-se
que o discurso deles é< em principio, falso».

a) Disto se segué que é extremamente difícil, se nao ¡mpossível,


conseguir com alguns teólogos da libertacáo um verdadeiro diálogo;
tais teólogos partem da premissa de que a classe revolucionaria é a
única portadora da verdade. Os criterios teológicos da verdade sao
subordinados aos imperativos da lula de classes- Nesta perspectiva
substitui-se a ortodoxia pela ortopraxis; esta é que vem a ser o criterio
da verdade. Ora a metodología teológica sadia admite precisamente
o contrario: a praxis ou a ética é decorréncia da fé ou do logos e
constituí urna expressáo vívenciada dessa fé; a ortopraxis decorre da
ortodoxia, e nao vice-versa.

b) A doutrina social da Igreja é rejeitada com desdém; esta,


dizem, procede da ¡lusSo de um possível compromiso, próprio das
classes medias, destituidas de senso histórico.

c) As premissas da TL levam a urna re-leitura essencialmente


política da Escritura, que sugere as seguintes conclusóes:

— o éxodo do Antigo Testamento tem importancia máxima


enquanto libertacáo da escravidao política. Também o Magníficat de
María SS. é privilegiado como expressáo de exaltacao política. — Ora
o erro nao está em realcar a dimensao política das narracoes bíblicas,
mas em fazer desta dimensao a principal e exclusiva;

— 464 —
T. DA UBERTACAO: PALAVRA OFICIAL 25

— o messianismo é entendido em termos seculares e meramente


imanentes á historia deste mundo;

— é silenciada a concepcáo da Encamacáo do Verbo, que, como


homem, morreu e ressuscitou em favor de todos os homens; em seu
lugar, aparece a figura de Jesús como símbolo que resume em si as
exigencias das lutas dos oprimidos;

— quem se afasta do magisterio da Igreja, afasta-se automática


mente da Tradicáo (da qual o Magisterio nao é senao o porta-voz). Em
conseqüéncia, os teólogos da libertacáo se privam de um criterio teo
lógico essencial e acolhem no vazio as teses mais radicáis da exegese
racionalista. Propugnam entáo. sem espirito crítico, a oposicáo entre
o «Jesús da historia» e o «Jesús da fé» l. Rejeitando o Jesús da fé
clássica e tradicional da Igreja (embora conservem a letra das fórmulas
de fé dos Concilios), pretendem chegar ao conhecimento do Jesús da
historia ou do Jesús real a partir da experiencia revolucionaria da luta
dos pobres pela sua libertacáo. Tal experiencia, e só ela, revelaría
o conhecimento do verdadeiro Deus e do Reino;

— propóe-se assim urna interpretacao exclusivamente política da


morte de Cristo. Nega-se o seu valor salvífico e toda a economía da
Reden cao;

— de modo geral, a nova interpretacao realiza a tnversáo dos


símbolos: por exemplo, em vez de ver no éxodo, com Sao Paulo
(ICor 10,1-4), urna figura do Batísmo, fazem do Batismo um símbolo
da libertacáo política;

— em virtude do mesmo criterio de interpretacao, as relacáes


entre a hierarquia e a «base» da lgre¡a tornam-se relacoes de domi-
nacáo que obedecem á leí da luta de classes. £ simplesmente ignorada
a sacramentalidade que está na raíz dos ministerios eclesiais e que faz
da Igreja urna realidade mística (que nao se pode reduzir a dímensóes
meramente sociológicas);

i "Jesús da historia" seria Jesús como, de fato, vlveu na Palestina há


quase vinte séculos. "Jesús da fé" serla Jesús como fol concebido pela fé
e pelo senso místico dos discípulos; estes terlam criado urna Imagem de
Jesús mals beta e portentosa do que a Imagem real. Haverla, pols diferenca
ou mesmo oposIgSo entre a realidade de Jesús e o concelto teológico
formulado pelos antlgos crlstSos. Tal aflrmacfio é preconceituosa e mesmo
contraria aos estudos exegétlcos mals serios. Cf. PR 90/1967 pp 248-250-

— 465 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

— a Eucaristía ¡á nao é a perpetuacao do sacrificio de Cristo


sobre os nossos altares, estando o Senhor realmente presente sob as
aparincias do pao e do vinho, mas vem a ser a celebracao da luta do
povo em prol da libertacáo política.

XI. ORIENTALES
A presente Instrucáo, chamando a atencáo para desvios da TL,
nao tenciona deter os esforcos dos sacerdotes, Religiosos e ieigos que
trabalham pela promocao dos seus irmáos carentes, mas é urna
advertencia para que o facam heroicamente em estrita comunháo com
seu Bispo e com a Igreja universal.

De modo semelhante, trabalhem os teólogos em consonancia com


o magisterio da Igreja. Reconhecam neste um dom de Cristo á sua
Igreja e acolham as suas orientacóes com respeito.

Os esforcos em prol da ¡ustica social sejam conduzidos de maneira


condizente com a dignidade humana. Por isto o recurso sistemático á
violencia cega deve ser condenado. Quem confia em meios violentos
para instaurar mais ¡uslica na sociedade, é vítima de ilusáo fatal-
Violencia gera violencia e degrada o homem. A fonte das injusticas
se encontró no coracao do homem; donde se segué que é prioritaria
a conversáo dos coracpes para que haja estruturas sociais justas.

Visto que as teses das «teoiogias da libertacáo» estao rendo larga


mente difundidas nos cursos de formacao e ñas comunidades de base,
que carecem de preparccáo catequética e teológica, os pastores devem
vigiar sobre a qualidade e o conteúdo da catequese e da formacao;
estas devem sempre apresentar a integralidade da mensagem da sal-
vacáo e os imperativos da vcrdadeira libertacáo humana, no quadro
desta mensagem integral.

«Nesta apresentacáo integral do misterio cristáo, será oportuno


acentuar os aspectos essenciais que as 'teologías da libertacáo' tendem
especialmente a desconhecer ou eliminar: transcendencia e gratuidade
da libertacáo em Jesús Cristo, verdadeiro Deus e verdádeiro homem;
soberanía da sua graca; verdadeira natureza dos meios de íalvacáo,
e especialmente da Igreja e dos sacramentos. Tenham-se presentes a
verdadeira significacáo da ética, para a qual a distincáo entre o. bem
e o mal nao pode ser relativizada; o sentido auténtico do pecado; a
necessidade da conversáo e a uniyersalidade da leí do amor fraterno.
Chame-se a atencáo contra urna politizacao da existencia, que, des-
conhecendo ao mesmo tempo a especificidade do Reino.de Deus e a
transcendencia da pessoa, acaba sacralizando a política e abusando
da religiosidade do povo em proveito de iniciativas revolucionarias».

— 466 —
T. DA LIBERTACAO: PALAVRA OFICIAL 27

CONCLUSAO

«As palavras de Paulo VI, na Profissáo de Fé do povo de Deus,


exprimen), com meridiana clareza, a fé da Igreja, da qual ninguém se
pode afastar s«m provocar, juntamente com a ruina espiritual, novas
miserias e novas escravidoes:

'Nos professamos que o Reino de Deus iniciado aquí na térra, na


Igreja de Cristo, nao é desfe mundo, cuja figura passa, e que seu
crescimento próprio nao se pode confundir com o progresso da civiliza-
cao, da ciencia ou da técnica humanas, mas consiste em conhecer cada
vez mais profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar
cada vez mais corajosamente os bens eternos, em responder cada vez
mais ardentemente ao amor de Deus e em difundir cada vez mais
amplamente a graca e a santidade entre os homens.

Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constan


temente com o bem temporal dos homens. Nao cessando de lembrar
a seus filhos que eles nao tém agui na térra morada permanente,
anima-os também a contribuir, cada qual segundo a sua vocacao e os
meios de que dispóem, para o bem da sua cidade terrestre, a promover
a justica, a paz e a fraternidade entre os homens, a prodigalizar-se
na fljuda aos irmaos, sobretudo aos mais pobres e mais infelizes. A
intensa solicitude da Igreja, Esposa de Cristo, pelas necessidades dos
homens, suas alegrías e esperanzas, seus sofrimentos e seus esforcos,
nada mais é do que o seu grande desejo de Ihes estar presente para
os iluminar com a luz de Cristo e reuni-los todos nele, seu único Salva
dor. Esta solicitude nao pode, em hipótese alguma, comportar que a
própria Igreja se conforme as coisas deste mundo, nem que diminua o
ardor da espera pelo seu Senhor e pelo Reino eterno'.

O Sumo Pontífice Jo5o Paulo II, no decorrer de urna audiencia


concedida ao Cardeal Prefeito que subscreve este documento, aprovou
a presente Instrueno. .. e ordenou que a mesma fosse publicada.

Roma, Sede da Sagrada Congrégatelo para o Doutrina da Fé, ó de


agosto de 1984, na festa da Transfiguracao do Senhor.

Joseph Card. Rcrtzinger


Prefeito

Alberto Bovone
Arcebispo tit. de Cesárea de Numídia
Secretario»

— 467 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

RECAPITULANDO . . .

O documento apresentado vinha sendo esperado desde


muito, pois as disputas suscitadas pela TL provocavam nos
fiéis o desejo de ler urna palavra abalizada e dirimente a res-
peito. — Recapitulando o conteúdo de tal Instrugáo, poremos
em relevo os seus tópicos principáis:

1) A TL nao é simplesmente a resposta crista ao pro


blema da fome e da miseria no mundo, como, á primeira vista,
poderia pensar o grande público. A TL atrai muitos observa
dores contemporáneos precisamente porque parece ser a autén
tica formulacáo do senso de justiga e fraternidade dos cris-
táos no mundo contemporáneo. — Todavía quem estuda as
obras dos teólogos da libertacño (infelizmente o grande público,
informado apenas pelos jomáis, nao as conhece), verifica que
se trata de algo assaz diferente: a TL, na medida em que
recorre á análise marxista, vem a ser urna re-interpretagáo
ou reformulagáo total do Cristianismo:

«12. Propoe-se urna interpretacáo exclusivamente política da


morte de Cristo. Nega-se desla maneira o seu valor salvífico e toda
a economia da Redencao.

13. A nova interpretacáo atinge assim todo o conjunto do miste


rio cristáo.

14. De modo geral, ela opera o que se poderia chamar 'inversao


dos símbolos' » (Título X).

Pode-se dizer que a inspiracáo básica da TL extremada é


materialista; serve-se de vocábulos e fórmulas do Cristianismo
que Ihe dáo aspecto teológico. Tal aspecto, porém, é o de uní
Cristianismo secularizado, laicizado, a-religioso e politizado;
todos os conceitos cristáos sao revistos a luz de categorías
sociais, políticas e revolucionarias; é através da prática revolu
cionaria que se reformulam as proposigóes do Cristianismo a
fim de condizerem com ela e a apoiarem.

Com outras palavras: a TL extremada nao fere apenas


um ou outro aspecto da mensagem crista, mas afeta a Boa-
-Nova de Cristo em sua totalidade, atribuindo-lhe sentido radi
calmente diverso daquele que o Senhor Jesús Ihe quis dar: sen
tido derivado do materialismo, do racionalismo e do odio a
irmáos.

— 468 _
T. DA LIBERTACÁO: PALAVRA OFICIAL 29

Para tomar plena consciéncia disto, o estudioso nao se


limitará a ler apenas os escritos de teólogos da libertagáo bra-
sileiros, mas tomará contato também com os escritos de Pablo
Richard, Enrique Dussel, Jon Sobrino...

2) A Igreja, condenando os erros da TL, nao é insensí-


vel á questáo social:

«A preocupando com a pureza da fé nao subsiste sem a preocupa-


C&o de dar a resposra de um testemunho eficaz de servico ao próximo
e, em especial, ao pobre e ao oprimido, através de urna vida teologal
integral» (Título XI, n" 18).

Desde o século passado (encíclica «Rerum Novarum» de


Leáo XIII em 1891), a Igreja vem formulando as conseqüén-
cias éticas do Evangelho diante dos problemas sociais dos últi
mos decenios; as encíclicas e cartas dos Papas tém acompa-
nhado minuciosamente a evolucáo da questáo social, respon-
dendo-lhe de maneira cada vez mais pormenorizada; o Papa
Joáo Paulo II, ao mesmo tempo que se mantém fiel á doutrina
da fé, é muito insistente no tocante á genuina acáo social
crista. Por conseguirte, quem nao abraga a TL, nao é neces-
sariamente partidario de situagóes injustas, mas pode adotar
a doutrina social da Igreja; esta, posta em prática, se revela
mais eficaz do que as teorías materialistas, que desrespeitam
a dignidade da pessoa humana e, aplicando violencia, geram
violencia:

«Conceitos tomados por empréstimo, de maneira acrítica, á ideo-


logia marxista e o recurso a teses de urna hermenéutica bíblica marcada
pelo racionalismo encontrani-se na raiz da nova interpretacño, que
vem corromper o que havia de auténtico no generoso empenho inicial
em favor dos pobres» (Titulo VI, n* 10)-

As experiencias dos países submetidos a regimes de ex


trema esquerda sao assaz eloqüentes para mostrar que os prin
cipios marxistas nao trazem a solugáo para a questáo social:

«A lula de classes como caminho para urna sociedade sem classes


é um mito .que impede as reformas e agrava a miseria e as injusticas.
Aqueles que se deixam fasdnar por «ste mito, deveriam refletir sobre
as experiencias históricas amargas ás quais ele conduziu. Compreende-
riam entáo que nao se trata, de modo algum, de abandonar urna vía

— 469 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» '277/1984

eficaz de luta em favor dos pobres em prol de um ideal desprovido de


efeito. Trata-se, pelo contrario, de libertar-se de urna miragem para se
apoiar no Evangelho e na sua forca da realizacao» (Título XI, n° 11).

É, pois, para desejar que a palavra da Santa Sé, serena e


objetiva como é, projete luz sobre a problemática e contribua
para que os fiéis católicos evitem ilusóes e o grande público
possa discernir a auténtica fé das contrafagots da mensagem
de Cristo!

DILATAR OS HORIZONTES

Certa, vez, ao comentar o medo do compromisso, gue tan


tos homens experimentam em nossos días, observava Joao
Paulo II:

«ESSE MEDO... PROVÉM DE UMA PERDA DO SEN


TIDO DA VIDA. MUrTOS JA NAO PERCEBEM A VIDA
EM SEU CONJUNTO, COMO UM TODO QUE IMPLICA
UMA OPCÁO E UM DIRECIONAMENTO. VIVEM-NA POR
FATIAS SUCESSIVAS, SEM VER MAIS LONGE DO QUE
O FIM DE UMA FASE E O INICIO DA SEGUINTE —
QUANDO CHEGAM A VÉ-LOS! ORA É PRECISO COM-
PROMETER-SE TOTALMENTE. A VIDA RELIGIOSA E A
VIDA MATRIMONIAL SAO DUAS MODALIDADES DE UM
TAL COMPROMISSO ABSOLUTO. INFELIZMENTE MUI-
TOS HOJE CARECEM DE UMA VISAO CLARA DA FI-
NALIDADE DA EXISTENCIA HUMANA. ISTO É VERDA-
DEIRA DOENCA FREQUEZA, TALVEZ UM PECADO
CONTRA O ESPIRITO. OS HOMENS NAO PODEM VIVER
DIANTE DE DEUS COMO SE VIVESSEM DIANTE DO
NADA» (TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO DE ANDRÉ FROS-
SARD: N'AYEZ PAS PEUR. DIALOGUE AVEC JEAN-
■PATJL n, P. 322).

— 470
Urna Carta Apostólica de Joao Paulo II:

"A Dor Salviíka"


Em sintese: Abordando o delicado tema do sofrimento, JoSo Paulo II
mostra que ele é inerente á vida do homem. Introduzido no mundo pelo
pecado, fol assumido por Cristo, o segundo Adáo, que Ihe deu valor re
dentor; o homem é salvo do pecado e da morte pelo sofrimento expiatorio
de Cristo. Todo cristáo que aceite padecer com Cristo, compartilha o valor
salviflco da Cruz de Cristo. Assim o sofrimento, que antes de Cristo era
tldo em Israel como sinal da justiga punitiva de Deus, aparece no Novo
Testamento como testemunho do amor divino, que se compadece do homem.
Com multa énfase, Joáo Paulo II elucida o misterio do sofrimento, citando
o texto de Jo 3,15: "A tal ponto Deus amou o mundo que Ihe deu o seu
Filho Unigénito, para que todo o que nele eré nao pereca, mas tenha a
vida eterna"; por amor o Pal entregou o seu Filho á sorte do homem
pecador para que este pudesse compartilhar a heranca do Filho de Deus.
Se o sofrimento é assim apresentado, compreende-se que o cristáo o consi
dere com otimismo e alegría, consoante o texto de Cl 1,24, muito citado
por Joáo Paulo II: "Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa
causa. Completo na minha carne o que falta á Paixáo de Cristo em favor
do seu corpo, que é a Igreja".

A Carta de Joáo Paulo II é um monumento de profundidade e de


valor ascético-mfstico.

Aos 11/02/84 o S. Padre Joáo Paulo II assinou um do


cumento de grande importancia pastoral, a saber; a Carta
Apostólica «Salvifici Doloris» (Da Dor Salvifica). É este o
primeiro texto pontificio que, sob forma de Carta, trata do
sofrimento (seu sentido teológico e seu valor pastoral). Consta
de sete títulos e trinta e um parágrafos, que merecem atenta
meditagáo, pois abordam urna temática que toda a filosofía e
toda a humanidade sempre consideraran! com muito interesse.
O documento tem significado nao apenas bíblico e teológico,
mas também pastoral e ascético. Eis por que, ñas páginas
seguintes, proporemos urna sintese do seu conteúdo, seguida
de algumas observacóes.

— 471 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

I. lntrodu;áo (§§ 1-4)

2. O tema do sofrimento nao só condiz com as linhas da


espiritualidade do Ano Santo (Redengáo pela cruz), mas é
assunto que acompanha o homem de todos os tempos e de
todas as latitudes. O sofrimento «parece particularmente essen-
cial á natureza do homem».

«O sentido do sofrimento é too profundo quanto o homem mesmo,


precisamente porque manifestó, a seu modo, a profundidade própria
do homem e ultrapassa esta. O sofrimento parece pertencer á trans
cendencia do homem» (n° 2).

«De urna forma ou de outra, o sofrimento parece ser, e de fato


é, quase ¡nseparável da existencia terrestre do homem» (n? 3).

Em nosso comentario, á p. 484s, voltaremos á consideragáo


deste aspecto.

Ora, se o roteiro da Igreja passa pelo homem, compreen-


de-se que passe pelo homem que sotre (alias, todo homem
sofre). É para este que a Igreja se volta com especial atengáo.

4. O sofrimento inspira compaixáo, respeito e, também,


intimida, «pois traz em si a grandeza de um misterio especí
fico». E a fé que nos leva a penetrar dentro do que parece
inacessivel em cada homem; doutro lado, o coragáo nos incita
a vencer a timidez e a aproximar-nos do irmáo sofredor.

II. O mundo do sofrimento humano (ns. 5-8)

5. Mesmo que o sofrimento parega inexprimível e inco-


municável, porque fato subjetivo e pessoal, ele exige, mais do
que outra realidade, ser tratado de maneira objetiva; trata-se
de um problema que deve ser explicitado e que suscita pergun-
tas as quais exigem resposta.

O homem sofre nao somente no plano físico, quando o


corpo lhe dói, mas também no plano moral, quando padece
a dor da alma. A dor moral nao é menos ampia e complexa
do que a dor física; além do qué, mais difícilmente pode ser
atingida e diagnosticada pelos recursos terapéuticos do que'ía
dor física.

— 472 —
«A POR SALV1FICA» 33

6. AS. Escritura nos oferece exemplos múltiplos de


dor, visto que ela é «um grande livro sobre o sofrimento»:
assim o perigo de morte suportado por Ezequias (cf. Is 38,1-3);
a ameaga de morte do filho, no caso de Agar (cf. Gn 15-16),
no de Jaco (cf. Gn 38,33-35), no de Davi (cf. 2Sm 19,1); a
nostalgia da patria (cf. SI 136); a perseguicáo e a hostilidade
(cf. SI 21,1-21; Jr 18,18); a solidáo e o abandono (cf. SI 21,2s;
30,13; 37,12; 87,9.19; Is 53,3); a ingratidáo dos amigos e dos
vizinhos (cf. Jó 19,19; SI 40,10; Jr 20,10); os remorsos da cons-
ciéncia (cf. SI 50,5; Is 53,3-6; Zc 12,10).

O Antigo Testamento frisa que o sofrimento é psicosso-


mático, associando a dor moral á dor física nos ossos (cf. Is
38,13; Jr 23,9; SI 30,10s...), nos rins (cf. SI 72,21; Jó 16,13;
Lm 3,13), no coragáo (cf. ISm 1,8; Jr 4,19; 8,18; Lm 1,20.22)...

7. O sofrimento nao é algo de meramente passivo no


homem («estou afetado de..., experimento urna sensagáo de
angustia...»), mas tem índole ativa; o homem assim atingido
reage com atitudes de dor, tristeza, decepeáo, abatimento ou
mesmo desespero...

Estas consideragóes suscitam naturalmente a pergunta:


que é o mal? Tal questáo é inseparável do tema do sofri
mento.

O cristáo nao responde em termos dualistas, como se o


bem e o mal fossem realidades subsistentes, das quais partici-
pariam as criaturas. Nao há substancia má por si. O mal é
um bem alterado, diminuido ou privado de valores que lhe
sao devidos; é precisamente esta privagáo que constituí o mal.

8. O sofrimento existe espalhado pelos homens ou car-


regado por numerosos sujeitos. Embora assim dispersa, a dor
provoca solidariedade ou comunháo entre aqueles que sofrem.
Vem a ser um apelo á uniáo entre os homens, especialmente
quando ela se faz muito densa como no caso das calamidades
que afetam as populagóes (epidemias, catástrofes, cataclis
mos. ..); mormente as guerras, e de modo particular a guerra
atómica que ameaga hoje em dia a humanidade, despertam o
sentimento de solidariedade entre as vítimas; a ameaca de
autodestruigáo do género humano faz-nos mais ainda enfatizar
o mundo do sofrimento e o sofrimento do mundo.

— 473 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

III. O sentido do sofrimento (ns. 9-13)

9. No ámago de todo sofrimento colocam-se inevitavel-


mente as perguntas: por qué? para qué? Somente o homem
é capaz de formular tais indagagóes, visto que os animáis so-
frem, mas nao refletem sobre o sentido da sua dor

Tais perguntas sao geralmente dirigidas a Deus, Criador


e Senhor, e nao aos homens, pois estes nao sao capazes de res-
ponder-lhes cabalmente. Muitos dos que assim indagam, che-
gam a negar a existencia de Deus; o mal e a dor no mundo,
sem aparente explicagáo, obscurecem, na mente de varios pen
sadores, a imagem de Deus.

10. Ora Deus nao recusa o questionamento do homem,


como bem provam os escritos bíblicos.

No livro de Jó, por exemplo, aparece um homem reto que


é profundamente afetado pela perda dos filhos e da própria
saúde. Os amigos que o váo visitar em tais condigóes, propóem-
-lhe a tese antiga adotada pelos israelitas: Jó deve ter come
tido alguma falta grave, pois todo sofrimento é castigo ou
pena devida a urna transgressáo da Leí de Deus, como pare-
cem ensinar Dn 3,27s; SI 18,10; 35,7; MI 3,16-21; Mt 20,16;
Me 10,31; Le 17,34; Jo 5,30; Rm 2,2. Alias, de modo geral,
os homens sao propensos a admitir que todo pecado acarreta
nesta vida mesma urna pena ou urna punicáo da parte de Deus;
cf. Jó 4,8.

11. Todavía Jó contesta tal principio, afirmando que


sofre com inocencia. É, alias, esta a tese que o autor do livro
de Jó quer incutir no final da sua obra: nem todo sofrimento
é conseqüéncia de um pecado do sujeito sofredor. No caso de
Jó, por exemplo, tem o significado de provacáo: Jó é chamado
a conceber fé e amor táo vivos que ele continua a servir a
Deus, mesmo que privado de seus bens materiais e da sua
saúde; ora o patriarca atravessa firmemente a prova e nao se
revolta contra Deus. O Antigo Testamento, em outras passa-
gens, apresenta o sofrimento como apelo 'á conversáo ou a
triunfar do mal mediante a penitencia; cf. 2Mc 6,12.

12. Todavía o livro de Jó nao representa a palavra firial


da Revelagáo Divina sobre o assunto.

— 474 —
«A POR SALVÍFICA» 35

13. Para entender bem o porqué do sofrimento, os escri


tos do Novo Testamento nos incitam a voltar nosso olhar para
o amor de Deus, fonte suprema do sentido de tudo o que
existe. Com efeito, o Evangelho nos apresenta Jesús Cristo
que sofre o suplicio da cruz para salvar os homens ou por
amor á humanidade.

IV. Jesús Cristo, o sofrimento vencido


pelo amor (ns. 14-18)

14. «Deus tanto amou o mundo que entregou seu Filho


único para que todo aquele que nele crer, nao perega, mas
tenha a vida eterna» (Jo 3,16). Estas palavras de Cristo nos
introduzem no ámago da acáo salvifica de Deus.
Salvar é libertar do mal ou da morte. Ora Deus amou
os homens a ponto de entregar seu Filho único para que Este,
assumindo a dor e a morte dos homens, lhes possibilitasse par
ticipar da vida do próprio Deus. O Filho de Deus foi dado á
humanidade para protegé-la contra o mal definitivo que im
plica a perda da vida eterna. As raízes desta perda mergu-
Iham no pecado. Isto quer dizer que Jesús quis sofrer para
vencer o pecado.

15. Donde se vé que, na perspectiva do Novo Testa


mento, a dor nao é necessariamente correlativa a pecados pes-
soais cometidos pela vítima; Cristo, por exemplo, foi inocente,
o Santo por excelencia, e, nao obstante, sofreu atrozmente.
Mas nao se pode deixar de perceber que o sofrimento é asso-
ciado ao pecado das origens ou original: «Nao se pode renun
ciar ao criterio segundo o qual, na base dos sofrimentos huma
nos, existan implicacóes múltiplas com o pecado» (n» 15):
«O mal, de fofo, permanece ligado ao pecado e á morte. E,
aínda que se deva ter murta cautela em considerar o sofrimento do
homem como consecuencia de pecados concretos (como mostra precisa
mente o exemplo do justo Jó), ele nao pode contudo ser separado
do pecado das origens, daquilo que em Sao Joño é chamado 'o pecado
do mundo' (Jo 1,29)» (n? 15).

Destas verdades se segué que o sofrimento é transfigu


rado pelo amor: vem a ser vitória sobre o pecado e a morte;
na medida em que é vivificado pelo amor, extingue as conse-
qüéncias destruidoras que o pecado dos primeiros pais acar-
retou para a humanidade.

— 475 _
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

«Em conseqüéncia da obra salvífica de Cristo, o homem, tío de-


correr da sua existencia terrestre, tem a esperanca da vida...
eterna. Mesmo se o vitória sobre o pecado e a morte, obtida por
Cristo mediante a Cruz e a Ressurreicáo, nao suprime os sofrimentos
temporais da vida humana e nao isenta de sofrimento a existencia
humana na totalidade da sua dimensáo histórica, ela projeta urna luz
nova — a luz da salvagáo — sobre toda essa dimensáo histórica
e sobre o sofrimento. E essa luz é a do Evangelho, a da Boa-Nova»
(n« 15).

16. Cristo se tornou próximo ao mundo do sofrimento,


assumindo sobre si esse sofrimento: quis experimentar o can-
saco, a pobreza, a incompreensáo, a hostilidade... de maneira
consciente, isto é, sabendo que dessa maneira Ele faria que o
homem nao perecesse, mas tivesse a vida eterna. Foi por isto
que Sao Paulo pode escrever: «Ele me amou e se entregou
por mim» (Gl 2,20).

17. Alias, a missáo de Cristo assim entendida iá foi esbo-


cada, no Antigo Testamento, pelo quarto cántico do Servidor
de Javé (Is 52,13-53,12): este frisou bem que o Servidor ino
cente tomaría sobre si os nossos pecados (cf. Is 53,2-6); Ele
sofreu em «substituicáo» ou fazendo as vezes de..., para redi
mir o homem. «No seu sofrimento os pecados sao apagados
precisamente porque Ele só, como Filho único, os pode assu-
mir sobre si com amor ao Pai que ultrapassa o mal de todo
pecado; em certo sentido, ele aniquila esse mal no espaqo espi
ritual das relacóes entre Deus e os homens e preenche esse
espago com o bem» (n* 17).

18. «O Cristo... traz a mais completa das respostas pos-


síveis á questáo do sentido da dor... Ele a dá nao só por seu
ensinamento, isto é, pela Boa-Nova, mas, antes do mais, por
seu próprio sofrimento, que é completado... pelo ensinamento
da Boa-Nova. Tal é a palavra última, a súrtese, desse ensi
namento: a linguagem da cruz, como disse um dia Sao Paulo
(cf. ICor 1,18)» (n« 18).

Esta linguagem da cruz é muito vivamente expressa pelas


palavras do Senhor Jesús no horto das Oliveiras diante da
perspectiva da sua Paixáo: «Pai, se possível, que este cálice
passe sem que o beba! Mas faca-se a tua vontade, e nao a
minha!» (Mt 26,42). Tais palavras atestam tanto a verdade

— 476 —
«ADORSALVÍFICA» 37

do sofrimento como a do amor de Cristo. Com o Senhor Je


sús, todo homem pode experimentar a angustia da Paixáo, mas
diga sempre: «Faga-se a tua vontade, e nao a minha!»

Outras palavras do Senhor, que se seguiram as do horto,


sao as do Crucificado: «Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonaste?» (Mt 27,46). Estes dizeres brotam do fato de
que o Pai fez recair sobre Jesús as nossas faltas (cf. Is 53,6),
de modo que Ele experimentou o peso horrível da separagáo
de Deus ou da ruptura com Deus. Mas foi precisamente por
tal sofrimento que o Cristo realizou a Redencáo do mundo e
pode dizer ao expirar: «Tudo está consumado» (Jo 19,30).

Em síntese, «o sofrimento humano atingiu o seu vértice


na Paixáo de Cristo; e, ao mesmo tempo, revestiu-se de urna
dimensáo completamente nova e entrou numa ordem nova: ele
foi associado ao amor, áquele amor de que Cristo falava a
JNicodemos, áquele amor que cria o bem, tirando-o mesmo do
mal, tirando-o por meio do sofrimento, tal como o bem supremo
da Redengáo do mundo foi tirado da Cruz de Cristo e nela
encentra perenemente o seu principio. A Cruz de Cristo tor-
nou-se urna fonte da qual brotam ríos de agua viva. Nela
devemos também repropor-nos a pergunta sobre o sentido do
sofrimento, e ler ai até o fim a resposta a tal pergunta» (m 18).

V. Participantes dos sofrímenlos de Cristo (ns. 19-24)

19. A Paixáo de Cristo projeta nova luz sobre o sofri


mento dos homens, pois ela o resgata: «Entregou-se pelos nos-
sos pecados, a fim de nos subtrair ao mundo maligno em que
vivemos» (Gl 1,4), diz o Apostólo, que acrescenta: «Fostes
comprados por elevado prego. Glorificai, pois, a Deus no vosso
corpo» (ICor 6,20).

Em conseqüéncia, «todo homem participa, de urna ma-


neira ou de outra, na Redencáo». «Realizando a Redengáo
mediante o sofrimento, Cristo elevou ao mesmo tempo o sofri
mento humano a ponto de lhe dar valor de Redengáo» (n« 19).

20. Sao Paulo exprime diversas vezes esta verdade:

«Em tudo somos atribulados, mas nao oprimidos; perplexos, mas


nao desesperados; perseguidos, mas nao abandonados; abatidos, mas
nao perdidos; por toda parte levamos sempre no corpo os sofrimentos

— 477 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

de Jesús, para que também a vida de Jesús se manifesté no nosso


corpo. De falo, enqvanto vivemos, somos continuamente entregues
á morte por causa de Jesús, para que a vida de Jesús se manifesté
também na nossa carne mortal... com a certeza de que aquele que
ressuscitou o Senhor Jesús, nos ressuscitará também a nos com Jesús»
(2Cor 4,8-11.14).

Estas palavras do Apostólo revestem-se de urna dupla


dimensáo:

«Se um homem se torna participante dos sofrimentos de Cristo,


isío acontece porque Cristo abriu o seu sofrimento ao homem, porque
Ele próprio no seu sofrimento redentor se tomou, num certo sentido,
participante de todos os sofrimentos humanos. Ao descobrir, pela fé,
o sofrimento redentor de Cristo, o homem descobre nele, ao mesmo
tempo, os próprios sofrimentos, reencontra-os, mediante a fé, enrique
cidos de um novo conteúdo e com um novo significado» (n? 20).

21. De resto, o misterio do sofrimento e da morte é


inseparável da certeza da ressurreigáo. «O misterio da Paixáo
está contido no misterio da Páscoa». E, mediante a Vitoria de
Páscoa, o sofrimento é colocado em relacáo com o Reino de
Deus. «E mediante o sofrimento que amadurecem para o Reino
os homens envolvidos pelo misterio da Redengáo de Cristo»
(.n» 21).

22. Com outras palavras ainda: «Aqueles que partici-


pam dos sofrimentos de Cristo, sao também chamados, me
diante os seus próprios sofrimentos, a tomar parte na sua
gloria».

«Importo reconhecer esta gloria nao só nos mártires da fé, mas


também em muitos outros homens que, por vezes, mesmo sem a fé
em Cristo, sofrem e dao a vida pela verdade e por urna causa justa.
Nos sofrimentos de todos estes, é confirmada, de modo particular, a
grande dignidade do homem».

Esta passagem de Joáo Paulo II é importante porque


póe em relevo o valor das atitudes fortes e coerentes daqueles
que amam a verdade e o bem, mesmo que nao tenham a fé
em Cristo. Sao atitudes que podem encaminhar o homem nao
crente para a plenitude da sua nobreza e grandeza, a ser uso-
fruida na comunháo de vida com Cristo.

— 478 —
«A DOR SALVÍFICA> 39

23. O sofrimento, neste contexto, também é urna pro-


vagáo que torna o homem particularmente receptivo a agáo
salvifica de Deus. É um apelo á prática da virtude perseve
rante e tenaz. O Senhor quer que a forga de Deus se mani
festé precisamente na fraqueza do homem e que se dé urna
renovagáo de energia espiritual em meio as provagóes e tribu-
lagóes dos cristáos.

24. Mais um passo deve ser dado. O Apostólo diz que


«completa em sua carne o que falta á Paixáo de Cristo em
proi do seu corpo, que é a Igreja» (cf. Cl 1,24 j.

Quer isto dizer que a Redengáo operada por Cristo nao


foi completa? — Nao. A Redengáo foi realizada em toda a
sua pienitude pelo sofrimento de Cristo, mas ela toma em
cada cristáo que participa dos sofrimentos de Cristo, um
suporte ou um cenário novo, que ela nao tinha. «Ela se desen-
voive como o Corpo de Cristo, que é a Igreja; e, nesta dimen-
sáo, todo sofrimento humano, em razáo da sua uniáo com
Cristo no amor, completa o sofrimento de Cristo. Completa-o,
como a Igreja completa a obra redentora de Cristo». Asso-
ciando os seus sofrimentos aos de Cristo na Igreja, o cristáo
se torna capaz de levar aos seus irmáos as gragas adquiridas
por Cristo em favor dos homens; e'e vem a ser um canal por
tador dos dons da salvagáo. «É algo que parece fazer parte
da própria esséncia do sofrimento redentor de Cristo: o fato
de que Ele tende a ser incessantemente completado».

VI. O Evangelho do Sofrimento (ns. 25-27)

25. Cristo deixou á Igreja e á humanidade um Evange


lho específico do sofrimento.

Antes de qualquer outra criatura, Maña SS. participa


desse Evangelho:

«Testemunha da Paixáo pela sua presenta, nela participante com


a sua compaixdo, María Santíssima ofereceu urna contribuigño singular
ao Evangelho do sofrimento, realizando antecipadamente aquilo que
afirmaría Sao Paulo com as palavras citadas no inicio desta reflexáo.
Sim, Ela tem títulos especialíssimos para poder afirmar que 'completa
na sua carne — como igualmente no seu coracao — aquilo que falta
aos sofrimentos de Cristo' ».

— 479 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Cristo nao escondeu aos seus seguidores a necessidade do


sofrimento. Pelo contrario, dizia-lhes muito claramente: «Se
alguém quer vir após mim,... tome a sua cruz todos os dias»
(Le 9,23) O caminho que leva ao Reino dos Céus é estreito
e apertado, em oposigáo ao caminho largo e espagoso que con-
duz á perdigáo (cf. Mt 7,13s).

Para ser fiel a Cristo, o cristáo tem que se dispor a supor


tar injurias e tribulagóes: «O servo nao é maior do que o seu
senhor. Se perseguiram a Mim, também a vos nao de perse
guir» (Jo 15,18-21); «No mundo tereis que sofrer. Mas tende
confianca. Eu venci o mundo» (Jo 16,33). Isto quer dizer que
a vocacáo crista é, entre outras coisas, um chamado especial
a coragem e <á fortaleza, apoiado na Vitoria de Cristo ressus-
citado.

26. Assim o Evangelho do sofrimento vai-se desenvol-


vendo ao longo da historia, escrito agora por todos aqueles
que sofrem com Cristo, unindo os próprios sofrimentos ao
sofrimento salvifico do Senhor.

No decorrer dos séculos tem-se comprovado que no sofri


mento se esconde urna torga particular, que aproxima inte
riormente o homem de Cristo. Foi esta forga que converteu
muitos santos, como S. Francisco de Assis, S. Inácio de
Loiola... O sofrimento abre também perspectivas para que
o homem possa encarar de maneira nova toda a sua existen
cia; quando o corpo está enfermo ou mesmo inutilizado, mais
se podem evidenciar a grandeza espiritual e a maturidade inte
rior da pessoa que sofre; esta, assim prostrada, mas ao mesmo
tempo engrandecida, oferece comovedoras ligóes de vida as
pessoas sás e normáis.

A aceitagáo do sofrimento, em muitos casos, só se faz


paulatinamente. As pessoas quase
sempre entram no soín-
mento com a perguma sobre o seu porqué; interrogam Deus
Pai e o Cristo a respeito do sentido da sua dor. Cristo Ihes
responde por meio do seu próprio sofrimento; as vezes, é
necessário muito tempo para que a resposta comece a ser per-
cebida interiormente. Na medida em que o homem toma a
sua cruz, unindo-se espiritualmente á cruz de Cristo, vai-se-lhe
manifestando o sentido salvifico do sofrimento; tal descoberta
é acompanhada de paz interior e alegría espiritual. Na base
desta experiencia, dizia o Apostólo: «Alegro-me nos sofrimen-

— 480 —
«A DOR SALVIFICAs 41

tos suportados por vossa causa. Completo na minha carne o


que falta á Paixáo de Cristo, em favor do seu corpo que é a
Igreja» (Cl 1,24).

27. Com efeito. O sofrimento torna o cristáo cons


ciente de que é útil a seus irmáos porque unido á Cruz de
Cristo; dissipa-se assim a sensacáo de vazio e inutilidade que
as pessoas doentes podem experimentar, cedendo lugar a pro
funda alegría interior. «O sofrimento impregnado do espirito
de Cristo é o mediador insubstituível dos bens indispensáveis
á salvagáo do mundo. Mais que qualquer outra coisa, o sofri
mento abre caminho á graca que transforma as almas
humanas».

É por isto que a Igreja vé em seus membros sofredores


valiosos esteios da sua missáo sobrenatural. Quantas vezes os
pastores da Igreja recorrem precisamente a eles, para pedir-
-lhes ajuda e apoio! Mediante os seus sofrimentos conservam
urna rica parcela do tesouro da redengáo do mundo, que eles
compartilham com os outros homens.

Vil. O Bom Samaritono

28. A parábola do Bom Samaritano pertence também


ao Evaneelho do sofrimento. Indica-nos nual deva ser o rela-
cionamento de cada um de nos com o próximo que sofre. Nao
nos é permitido passar adiante com indiferenca, mas devemos
parar junto dele numa atitude de disponibilidade servical. Nao
basta comover-se (embora isto seja a única coisa viável em
alguns casos); é preciso também prestar ajuda eficaz, na me
dida do possível: esta ajuda consistirá em dar bens materiais,
sim, mas principalmente em dar-se a si nr>esmo. «Bom Sama
ritano é o homem capaz de um tal dom de si mesmo».

29. O papel do Bom Samaritano supóe e mobiliza o


amor ao próximo. Ele se exerce em multas profissoes ou atra-
vés de diversas instituicóes da vida civil. «Quanto de Bom
Samaritano tém as profissoes de médico ou de enfermeira ou
outras similares!» Nao sao apenas profissóes. mas sao voca-
cóes ao apostolado. É difícil apresentar urna lista de todas as
esferas da atividade do Bom Samaritano que existem na Igreja
e na sociedade... Gracas a elas, os valores moráis fundamen
táis, como o da solidariedade humana e o do amor ao pró-

— 481 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

ximo, compóem o quadro da vida social, e fazem frente as


diversas formas do odio, da violencia, da crueldade, do des-
prezo pelo homem ou até da simples insensibilidade para com
o próximo.

Nesta altura deve-se salientar a importante fungáo que


compete á educaeáo. A familia, a escola e as outras institui-
góes educativas... devem trabalhar com perseveranga no sen
tido de despertar aquela sensibilidade para com o próximo de
que se tornou símbolo a figura do samaritano do Evangelho.
Nenhuma instituigáo pode substituir o coragáo humano, a com-
paixáo humana, o amor humano, a iniciativa humana, quando
se trata de ir ao encontró do sofrimento de outrem.

Vé-se, pois, que o cristáo, longe de ser passivo diante do


sofrimento, é incitado a exercer sua atividade preparando-se
para ouvir no juizo final as palavras do Senhor Jesús: «Em
verdade vos digo que tudo o que fizestes a um destes meus
irmáos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,40).

«A mim o fizestes». É o próprio Cristo que, em cada um,


experimenta o amor e recebe ajuda. Ele próprio está presente
em quem sofre, pois o seu sofrimento salvífico foi aberto, urna
vez para sempre, a todo sofrimento humano.

VIII. Conclusao W 31)

As explanacóes anteriores tentaram desvendar o sentido


do sofrimento. Em resumo, ele é verdadeiramente humano,
pois o sofrimento faz parte do misterio do homem ou da natu-
reza e da dignidade do homem. Mas é também verdadeirar
mento sobrenatural, porque só se explica, em última análise,
dentro do plano de Redengáo do mundo. É, sim, Cristo quem
plenamente revela o sentido do homem ao homem e, conse-
qüentemente, o sentido do sofrimento. Lembra o Concilio do
Vaticano II: «Por Cristo e em Cristo se esclarece o enigma
da dor e da morte» (Const. Gaudium et Spes n» 22).

É preciso, pois, que se congreguen! em espirito, junto á


Cruz do Calvario, todos aqueles que sofrem e acreditam em
Cristo... a fim de que o oferecimento dos seus sofrimentos
apresse o realizar-se da oracáo do mesmo Salvador pela uni-'*
dade de todos os homens (cf. Jo 17,11.21s).

— 482 —
«A POR SALVÍFICA» 43

Em seu último parágrafo dirige o S. Padre um apelo calo


roso:

«Pedimos a todos vos que sofreís, que nos ajudeis. Precisamente


a vos, que sois fracos, pedimos que vos tornéis urna fonte de forca
para a Igreja e para a humanidade. Na terrivel luta entre as forcas
do bem e do mal, de que o nosso mundo contemporáneo nos oferece
o espetáculo, que venca o vosso sofrimento em uniño com a Cruz de
Cristo!» (n? 31).

Tal é, em síntese, o conteúdo da notável Carta de Joáo


Paulo II sobre a dor salvífica.

OBSERVACÓES

Sao cinco as observagóes que o texto nos sugere:

1. O amago da Carta

Joáo Paulo II parte do fato de que o sofrimento é ine-


rente á vida do homem, pois decorre da dignidade da natu-
reza humana, que é intelectiva e reflete sobre si mesma; o
homem sobre e sabe que sofre, ao passo que o animal irracio
nal apenas sofre.

Além disto, o sofrimento, concretamente considerado, tem


como paño de fundo o pecado das origens. Foi assumido por
Cristo, o segundo Adáo, que lhe deu valor redentor; o homem
é salvo do pecado e da morte pelo sofrimento expiatorio de
Cristo. A propósito Joáo Paulo n cita com muita énfase as
palavras de Jo 3,16: «Deus tanto amou o mundo que lhe deu
o seu Filho unigénito, para que todo o que nele eré nao pereca,
mas tenha a vida eterna»; por amor, o Pai entregou o Filho á
sorte do homem pecador para que este pudesse compartilhar
a heranca do Filho de Deus. — Assim o sofrimento, que antes
de Cristo era tido em Israel como sinal da justiga punitiva de
Deus, aparece no Novo Testamento como testemunho do amor
divino, que se compadece do homem.

— 483 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Se o sofrimento é assim apresentado, compreende-se que


o cristáo o considere com otimismo e alegría, consoante o texto
de Cl 1,24, também muito citado por Joáo Paulo II: «Ale-
gro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa. Completo
em minha carne o que falta á Paixáo de Cristo, em prol do
seu Corpo, que é a Igreja».

Passemos agora á consideragáo de pontos particulares.

2. EssenciaJ á nalureza humana

No inciso 2, diz Joáo Paulo II:

«Aínda que os sofrimentos do mundo dos animáis sejam betn


con heridos e estejam próximos ao homem, aquilo que nos exprimimos
com a palavra 'sofrimento' parece ser algo particularmente essencial
á natureza humana... O sofrimento parece pertencer á transcenden
cia do homem».

Estes dizeres, á primeira vista, desconcertam, pois contra-


riam á espontánea tendencia que temos, de procurar urna vida
«feliz» e sem sofrimento. Como pode entáo o sofrimento ser
essencial a natureza humana?

— A resposta nao é difícil. Consideremos a escala dos


seres. • ■ •

Os seres inanimados (minerais...), quando percutidos ou


Iesados, nao reagem; nada sentem, nao sofrem; sao os mais
imperfeitos dos seres, pois nao tém vida. Passando para o
nivel dos seres vivos vegetativos, verificamos que, quando um
vegetal ou urna planta é maltratada ou mutilada, ela tende a
se restaurar reagindo contra a lesáo infligida; dir-se-ia que
nao é impassível como os minerais. Subindo ao degrau dos
animáis irracionais, percebemos que reagem muito sensivel-
mente aos golpes dolorosos: gemem, rugem. fogem, contra-
-atacam... Elevando-nos aínda na escala dos seres, chega-
mos ao homem, que certamente sofre mais do que os restantes
seres criados, porque, além de sofrer físicamente, ele sabe que
sofre (tem consciéncia psicológica); o homem reflete sobre o
seu sofrimento, comparando-o com o seu ideal e verificando
que este é, nao raro, truncado ou prejudicado pelas adversida
des da caminhada: um pai ou urna máe de familia atingidos •
em sua saúde física quando tém fílhos pequeños, sentem, além

— 484 —
«A DORSALVÍFICA» 45

do incómodo físico, a dor de nao poderem desempenhar devi-


damente a sua tarefa de educadores... Diremos mesmo:
quanto mais um ser humano é nobre e profundo (no plano mo
ral), tanto mais sofre; quanto menos alguém tem ideal ou
vive como criatura inteligente, tanto menos sofre; diz-se que
a máe desnaturada é aquela que nao se sensibiliza pela dor
dos filhos.

Eis em que termos o sofrimento é essencial ao homem e


característico da sua transcendencia: ele decorre da dignidade
mesma da natureza humana, que aspira legítimamente a reali-
zacóes prejudicadas pelos golpes da vida. Ele decorre, com
outras palavras, da nobreza intelectual (e espiritual) do ser
humano, que nao só conhece, mas sabe que conhece ou reflete
sobre si mesmo (coisa que os animáis inferiores nao realizam).

Está claro, porém, que urna pessoa de fé sabe superar a


dor natural que a afeta, olhando para o modelo do Cristo Je
sús; Este, diante da perspectiva da sua Paixáo e Morte, orava:
«Pai, se possível, que este cálice passe sem que eu o beba;
faga-se, porém, a tua vontade e nao a minha» (Mt 26,39).
Ácima de tudo, importa ao cristáo identificar-se com o designio
do Pai, que certamente é mais sabio que os planos dos homens.

3. Sofrimentos e pecado

Nos incisos 9-15, Joáo Paulo II percorre a historia das


respostas dadas ao problema do sofrimento. Verifica que, a
principio, o povo de Israel o associava sempre ao pecado come
tido pelo individuo sofredor; seria castigo de faltas pessoais.
Tal tese, desmentida pela historia, foi posta em xeque pelo
livro de Jó, no qual aparece um homem reto que sofre. Os
sabios de Israel perceberam entáo que o sofrimento poderia
ser provagáo infligida por Deus ao homem para acrisolar as
suas virtudes. Sobreveio Jesús Cristo, que o Pai quis carregar
com os pecados de todos os homens (cf. 2Cor 5,21); inocente,
sofreu as conseqüéncias do pecado — a dor e a morte: «O mal
permanece ligado ao pecado e á morte. E, aínda que se deva
ter muita cautela em considerar o sofrimento do homem como
conseqüencia dos pecados concretos (como mostra precisamente
o exemplo do justo Jó), ele nao pode contudo ser separado
do pecado das origens, daquilo que em Sao Joáo é chamado
'o pecado do mundo' (cf. Jo 1,29)».

— 485 —
4(i «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Estes dizeres sao importantes porque reafirmam a dou-


trina do pecado original numa época em que este é diluido em
concepcóes vagas. O primeiro pecado da historia nao foi sim-
plesmente um fato desregrado como outro qualquer, mas um
Nao dito ao convite de Deus, que chamava o homem ao con
sorcio de sua vida (na justiga original); essa recusa acarretou
para os homens a perda dos dons paradisíacos, entre os quais
o nao sofrer e o nao morrer. A S. Escritura, de ponta-a-ponta,
relaciona a dor e a morte com o pecado (ao menos, o pecado
original ou dos primeiros pais). Há, sim, ñas origens da his
toria humana um pecado que é responsável pelo desencadea-
mento da miseria física e moral de que o homem sofre atra-
vés dos sáculos. Como bem atesta Sao Paulo, em consonancia
com todo o Antigo Testamento, «por um so homem o pecado
entrou no mundo e, pelo pecado, a morte» (Rm 5,12).

4. Sofrimento-servico

Joáo Paulo n alude ao sentimento de inutilidade que aco


mete, militas vezes, as pessoas que sofrem; julgam ser apenas
fardo para os outros — o que as aflige e humilha. Ora a pro
pósito escreve o S. Padre:

«Torna-se fonte de alegría o superar o sentimento de ¡nutilidade


do sofrímento, sensacao que, por vezes, está profundamente arraigada
no sofrimento humano; e isto nao só desgasta o homem por dentro,
mas parece fazer dele um peso para os outros. O homem sente-se
condenado a receber a¡uda e assisténcia da parte dos outros e, ao
mesmo lempo, considera-se a si mesmo inútil. A descoberta do sentido
saivífico do sofrimento em uniao com Cristo transforma esta sensacao
deprimente. A fé na participacáo nos sofrimentos de Cristo traz
consigo a certeza interior de que o homem que sofre, completo o que
falta aos sofrimentos do mesmo Cristo, e de que, na dimensao espiritual
da obra da Redencao, serve, como Cristo, para a salvando dos seus
irmaos e irmás. Portanto, nao só é útil aos outros, mas presta-lhes
ainda um servico insubstituível» (n* 27).

O Papa frisa que o sofrimento é servico insubstituível.


E isto a dois títulos: 1) na comunháo dos santos, aquele que
se santifica contribui para santificar o mundo inteiro («urna
alma que se eleva, eleva o mundo», diz Elizabeth Leseur); a
mais íntima configuracáo a Cristo beneficia os irmáos; 2)
aquele que sofre com paciencia e tenacidade heroicas, dá aos*
seus semelhantes um exemplo que os homens fortes, impor-

— 486 —
«A DOR SALVIFICA» 47

tantes e violentos nao conseguem dar. É dos enfermos heroi


camente prostrados sobre o seu leito de dor que os homens
sadios podem aprender coragem e magnanimidade. Nao fos-
sem tais figuras pacientes, o mundo carecería de ligóes valiosas
e insubstituiveis. Aquele que remata uma discussáo dando um
murro sobre a mesa e quebrando valores, é mais fraco do que
aquele que sabe aguardar magnánimamente a hora precisa
para salvar os valores em perigo.

5. O misterio do sofnmento

O S. Padre, apesar de propor a transfiguracáo do sofri-


mento em Cristo e por Cristo, nao deixa de reconhecer que
<o homem no seu sofrimento permanece um misterio intan-
gível» (n9 4). Na verdade, se podemos dizer que todo sofri
mento decorre da derrogacáo a ordem inicial instituida pelo
Criador, se podemos dizer também que é participacáo da Pás-
coa (morte e ressurreigáo de Cristo), nao nos é possível expli
car por que tal ou tal pessoa sofre deste ou daquele modo,...
por que uma máe de familia é arrebatada deixando filhos peque-
nos, ou por que tal pai desaparece sem ter cumprido plena
mente a sua missáo humana.

Cremos que cada um desses casos está envolvido nos


sabios designios do Senhor Deus, que nao se engaña, mas, ao
contrario, é muito mais perspicaz do que a limitada inteligen
cia humana. Na visáo face-a-face de Deus e do seu santo
designio sobre este mundo, teremos a alegría de perceber me-
lhor os nexos que ligam os acontecimentos da historia entre si,
fazendo desta uma sinfonía harmoniosa. Por ora, compete-nos
adorar em silencio as santas e sabias disposigóes da Providen
cia Divina.

Como se vé, a Carta de Joáo Paulo II vem a ser rico ali


mento espiritual destinado a todo e qualquer individuo, pois
reflete sobre o tema que é a trama da vida de todo homem,
causando escándalo a uns, curiosidade a outros, e elevacáo mís
tica a terceiros. É precisamente na direcáo do engrandeci-
mento do homem e da descoberta de novos horizontes que Joáo
Paulo II propóe suas consideragóes. Os cristáos nao podem
deixar de ser gratos ao Santo Padre por mais este belo texto,
que eles háo de procurar meditar e transformar em vida.

A propósito muito se recomenda


JOURNET, CHARLES, Le mal. Desclée de Brouwer 1961.

— 487 —
Em vista de digna celebrado:

Á Instrucao "Inaestimabile Donum"


sobre a S. Eucaristía

Em sínlese: A S. Congregacao para os Sacramentos e o Culto Divino


publicou aos 30/04/1980 uma Instrucao sobre o Culto da S. Eucaristía, a fim
de lembrar ao clero e aos fiéis pontos concretos que merecen) ser observados
na celebracáo da S. Liturgia: sao assim focalizados a recitacáo da Oracáo
Eucaristica, a distribuicao da S. ComunhSo, a acao de gracas após a
Comunháo, as partes do celebrante e dos ministros durante o rito eucarís-
tico... As normas estabelecidas ou recordadas nesses ¡tens merecem todo
o acato do povo de Deus, pois sao a expressáo de fé sólida e coerente; esta
nSo pode ser teórica apenas, mas traduz-se tanto na acáo em prol dos
irmaos quanto no culto do Senhor Deus dignamente celebrado. A Comunháo
com o Cristo Eucaristico exige plena comunháo com o Cristo em sua Igreja.

Em PR 274/1984, pp. 178-196, publicamos a Terceira Ins-


trugáo da Santa Sé após o Concilio do Vaticano n referente
á digna celebracáo da S. liturgia; tal documento encerrava a
fase de experiencias litúrgicas que se iniciara após o Concilio.

Eis, porém, que certas ocorréncias sugeriram á S. Con-


gregagáo para os Sacramentos e o Culto Divino a promulga-
gáo de mais uma Instrugáo sobre o assunto, datada esta de
3 de abril de 1980. Este documento conserva sua atualidade
e urgencia em nossos dias, razáo pela qual PR o publica, inten
cionando prestar servico nao somente aos sacerdotes, mas
também aos fiéis leigos que participan! da S. Liturgia.

Ao texto seguir-se-áo breves notas complementares.

— 488 _
«INAESTIMABILE DONUM» _49

I. INSTRUCÁO «INAESTIMABILE DONUM» SOBRE


ALGUMAS NORMAS RELATIVAS AO CULTO
DA SANTÍSSIMA EUCARISTÍA

PROEMIO

Em continuidade com a Caria dirigida aos bispos e, por interme


dio deles, aos sacerdotes, a 24 de fevereiro de 1980, na qual o Santo
Padre Joao Paulo II novamente tratou do inestimável dom da Santíssima
Eucaristía, a Sagrada Congregado para os Sacramentos e o Culto
Divino chama a atencao dos bispos para algumas normas referentes
ao culto de tao grande misterio.

Estas indicacoes nao sao a sintese de quanto a Santa Sé ¡á disse


nos documentos relativos á Santíssima Eucaristía, promulgados depois
do Concilio Vaticano II e em vigor; isto pode ser lido especialmente no
Missale Romanum * e no Ritual De Sacra Communione et de Cultu
Mysterii Eucharístici extra Missam -, e ñas Instrucóes Eucharisticum
Mysterium3, Memoriale Domin: ■*, hnmensae Caritatis5 e Lrlurgiae
Instauraciones °.

Esta Sagrada Congregando verifica, com alegria, os frutos


numerosos e positivos da reforma litúrgica, como sejam: participando
mais ativa e mais consciente dos fiéis nos misterios litúrgicos, enrique-
cimento doutrinal e cateqvético mediante o uso da língua vulgar e com
a abundancia das leituras bíblicas, aumento do sentido comunitario
da vida litúrgica, esforgos bem sucedidos para eliminar o desacordó
existente entre a vida e culto, entre piedade litúrgica e piedade pessoal
e entre liturgia e piedade popular.

1 Ed. Typica altera, Romae

2 Ed. Typica, Romae 1973.

* S. CongregacSo dos Ritos, 25 de maio de 1967: AAS 59 (1967),


p. 539-73.

* S. CongregacSo para o Culto Divino, 29 de malo de 1969: AAS 61


(1961), p. 541-5.
» S. Congregagio para a Disciplina dos Sacramentos, 29 de Janeiro
de 1973: AAS 65 (1973), p. 264-71.
* S. Congregagio para o Culto Divino, 5 de setembro de 1970: AAS 62
(1970), p. 692-704.

— 489 —
50_ «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Mas estes aspectos positivos e animadores nao podem encobrir a


preocupando com que se observam os mais variados e freqüentes abusos
de que chegam ¡nformacóes das diversas regioes do mundo católico:
confusao das funcoes, especialmente pelo que se refere ao ministerio
sacerdotal e ao papel do; leigos (recitacao indiscriminada e comum
da Oracao Eucaristica, homilia feita por leigos, distribuicáo da
Comunhao feita pelos leigos enquanto os sacerdotes se dispensam de
fazer isso); crescente perda do sentido do sagrado (abandono das
vestes litúrgicas, calebrasoes da Eucaristía fora das igrejas sem vorda-
deira necessidade, falta de reverencia e de respeito para com o
Santíssimo Sacramento, etc.},- desconhecimento do caráter eclesial da
liturgia (uso de textos privados, proliferacao de oracoes eucarísiicas
nao aprovadas e ¡nstrumentalizacáo dos textos litúrgicos para fins
sócio-políticos). Nestes casos, estamos perante urna verdadeira falsifi-
cacáo da Liturgia católica: «Incorre no erro de falsidade quem
aprésenla a Deus um culto da parte da Igreja em contradicho com as
formas, por autoridade divina estabelecidas pela mesma Igreja e que
nesta sao usuais» 7.

Ora, tudo isso nao pode dar bons resultados. As conseqüéncias


sao — como nao poderiam deixar de ser — as fendas da unidade
de fé e de culto na Igreja, a inseguranca doutrinal, o escándalo e as
perplexidades do Povo de Deus e, quase inevitavelmente, reacóes
violentas.

Os fiéis tém direito a urna liturgia verdadeira, que será tal .quando
se identificar com a que foi querida e estabelecida pela Igreja. a qual
também previu as eventuais possibilidades de adaptando, requeridas
pelas exigencias pastorais ñas diversas partes ou pelos diversos grupos
de pessoas. Experiencias, mudanzas e criatividade indevidas desorien-
tam os fiéis. Depois, o uso de textos nao autorizados faz com que
venha a faltar o nexo necessário entre a lex orandi (norma da oracao)
e a lex «redendi (norma da fé). Quanto a isto, é bom recordar a
advertencia do Concilio Vaticano II: «Ninguém mais, absolutamente,
mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, su
primir ou mudar seja o que for em materia litúrgica» ". E o Santo
Padre Paulo VI, de veneranda memoria, lembrava: «Quem aproveita
da reforma para se entregar a experiencias arbitrarias, dispersa
energías e ofende o sentido eclesial»0.

7 Santo Tomás de Aquino, Summa Theologlca, 2-2, q. 93, a. 1.


8 Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium, n. 22.
» Paulo PP. VI, Alocucao a 22 de agosto de 1973: "L'Osservatore
Romano", 23 de agosto de 1973.

— 490 —
«INAESTIMABILE DONUM» 51

A) A Santa Missa

1. As duas partes que constituem, de algum modo, a Missa,


isto é, a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, estáo tao
intimamente ligadas entre si que formam um só ato de cultoI0.
Ninguém deve aproximar-se da mesa do Pao do Senhor, senáo depois
de fer estado presente á mesa da sua Palavra ". É da máxima im
portancia, pois, a Sagrada Escritura na celebracao da Missa. Por
conseguinte, nao pode ser transcurado aquilo que a Igreja estabeleceu
para que «se¡a mais abundante, vanada e bem adaptada a leitura da
Sagrada Escritura ñas celebracoes litúrgicas» 12. Observem-se as nor
mas establecidas no Lecionário, seja quanto ao número das leituras,
seja quanto as indicacoes referentes a circunstancias especiáis. Seria
um grave abuso substituir a Palavra de Deus pela palavra do homem,
se¡a este quem for13.

2. A leitura da perícope evangélica é reservada ao ministro


ordenado, ou se¡a, ao diácono ou ao sacerdote. As outras leituras,
quando isso for possível. se¡am confiadas a quem ten ha recebido o
ministerio de leitor ou a outros leigos, preparados espiritualícente e
tamben] técnicamente. Á primeara leitura segue-se um salmo respon-
sorial, que faz parte integrante da liturgia da Palavra ".

3. A homilía tem por fim explicar aos fiéis a Palavra de Deus,


proclamada ñas leituras, e atualizar a mensagem da mesma. Compete,
portanto, ao sacerdote ou ao diácono fazer a homilía 15.

4. A proclamacao da Oracáo Eucarística que, por sua natureza,


é como que o ponto culminante de toda a celebracao, é reservada ao
sacerdote, em virtude da sua ordénamelo, é um abuso, portanto, deixar
que algumas partes da Oracáo Eucarístíca sejam ditas pelo diácono,

w> Cono. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum
Conciltum, n. 56.

11 Ct. Ibidem, n. 56; cf. também Conc. £cum. Vat. II, Const dogm
sobre a Divina Revelagao Del Verbunt, n. 21.
12 Conc. Ecum, Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium, n. 35.

13 Cf. S. Congregado para o Culto Divino, Instrucáo LKuralcae Ins-


tauratlqnes, n. 2, a.

« Cf. Instilutio generalts Missalis Romanl, n. 36.


15 S. Congregacfio para o Culto Divino, Instrucáo Uturgtcae Instau-
ratlones, n. 2, a.

— 491 —
52 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

ou por um ministro inferior ou pelos simples fiéis16. No entonto, a


assembléia nao fica passiva e inerte: une-se ao sacerdote na fé e no
silencio e manifestó a sua adesao com as varias ¡ntervencoes previstas
no desenrolar da oracao eucarísiica: as respostas ao diálogo do
prefacio, o Sanctus, a aclamacáo depois da consagracao e o Amém
final, depois do Per ipsum («por Cristo»), que também é reservado ao
sacerdote. Este Amém final, em particular, deveria ser valorizado
com o canto, porque é o Amém mais importante de toda a Miss.

5. Usem-se somente as oracoes eucaristicas incluidas no Missal


Romano ou legítimamente admitidas pela Sé Apostólica, segundo as
modalidades e os limites por ela estabelecidos. Modificar as Oracoes
Eucaristicas aprovadas pela Igreja ou adotar outras diversas, de com-
posicao privada, é abuso gravíssimo.

ó. É preciso lembrar sempre que nao se devem sobrepor


outras oracoes ou cantos á Oracao Eucarística ". Ao proclamar a
Ora;ao Eucarística, o sacerdote pronuncie o texto com clareza, de
modo a facilitar aos fiéis a compreensao do mesmo e a favorecer a
formacao de urna verdadeira assembléia, toda ela aplicada na cele-
bracao do Memorial do Senhor.

7. Concelebracáo. A concelebracáo, reposta em prática na


Liturgia do Ocidente, manifestó de modo privilegiado a unidade do
Sacerdocio. Por isso, os concelebrantes estejam atentos aos sinais
indicativos desta unidade; por exemplo, estejam presentes desde o
inicio da celebracáo; enverguen! as vestes sagradas prescritas; ocupem
o lugar que compete ao seu ministerio de concelebrantes; e obser-
vem fielmente as outras normas, para um decoroso desenrolar-se do
rito sagrado 1S.

8. Materia da Eucaristía. Fiel ao exemplo de Cristo, -a Igreja


usou constantemente o pao e o vinho com agua, para celebrar a
Ceia do Senhor. O pao para a celebracáo da Eucaristía deve ser,
segundo a tradicáo própria da Igreja latina, ázimo. Em razáo do
sinal, a materia da celebracáo eucarística «tem de apresentar-se ver-
dadeiramente como alimento». Isto deve entender-se em retacáo á

16 Cf. S. Congregado para o Culto Divino, Carta circ. Eucharistae


Participattonem, de 27 de abril de 1973, n. 8: AAS 65 (1973), p. 340-7;
ídem, Instrugio Llturgicae Instauraliones, n. 4.
" Cf. Institutio generalls Missalis Romani, n. 12. ">
" Ibidem, n. 156 e 161-3.

— 492 —
cINAESTIMABILE DONUM» 53

consistencia do pao, e nao á forma do mesmo, que permanece a tra


dicional. Nao podem ser ajuntados outros ingredientes além da fari-
nha de trigo e de agua. A preparado do mesmo pao exige um
cuidado diligente, de tal maneira que o fabrico nao venha a redun
dar em prejuízo da dignidade que convém ao pao eucarístico,- torne
possível urna decorosa fragáo, nao dé origem a excessivos fragmen
tos e nao choque a sensibilidade dos fiéis no momento de ser tomado.
O vinho para a celebracao eucaristica deve ser extraído «do fruto
da videira» (Le 22,18), natura! e genuino, ¡sro é, nao misturado com
substancias estranhas I9.

9. A eomunháo eucaríítita. A comunhao é um dom do Se-


nhor, que é dado aos fiéis por intermedio do ministro depurado para
isso. Nao se admite que os fiéis tomem eles próprios o pao consa
grado e o cálice sagrado, e muito menos se admite que os fiéis os
passem uns aos outros-

10. O fiel, religioso ou leigo, que está devidamente autori-


nzado como ministro extraordinario da Eucaristía, poderá distribuir
a Comunh5o somenfe quando faltarem o sacerdote, o diácono ou o
acólito, ou quando o sacerdote estiver impedido por motivo de enfer-
midade ou por causa da sua idade avancada, ou entáo quando o
número dos fiéis que se aproximam da Comunhao for tao grande
que faca demorar excessivamente a celebracao da Missa -°. É de se
reprovar, portanto, a atitude daqueles sacerdotes que, embora pre
sentes na celebracao, se abstem de distribuir a Comunhao, deixando
tal tarefa aos leigos.

11. A lgre¡a exigiu sempre dos fiéis respeito e reverencia para


com a Santíssima Eucaristía, no momento em que a recebem.

Quanto ao modo de se apresenfar a Comunhao- esta pode ser


recebida pelos fiéis tanto de joelhos como de pé, de acordó com as
normas estabelecidas pela Conferencia Episcopal. «Quando os fiéis
receberem a Comunhao de ¡oelhos, nao se exige da parte deles sinal
algum de reverenda para com o Santíssímo Sacramento, urna vez
que o próprio ato de se a¡oelharem exprime adoracao. Quando,
pelo contrario, receberem a Comunháo de pé, ao aproximarem-se do

» Cf. !4>Idem, n. 281-4; S. Congregado para o Culto Divino Instru-


cáo Uturgicae Instauratioités, n. 5; NÍWIae 6 (1970), p. 37.

_ 493 —
54 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

altar processionalmente, faccm um ato de reverenda antes de rece-


ber o sacramento, no local e de modo adaptado, contanto que nao
se perturbe o ritmo no suceder-se dos fiéis»21.

O Amém que os fiéis dizem, quando recebem a Comunhao, é


um ato de fé pessoal na presenca de Cristo.

12. Quanto á Comunhao sob as duas especies, observe-se o


que a Igreja determinou, quer por motivo de veneracao devida ao
mesmo sacramento, quer para a utilidade daqueles que recebem a
Eucaristía, segundo a diversidade das circunstancias, dos lempos e
dos lugares22.

Mesmo as Conferencias Episcopais e os ordinarios do lugar nao


ultrapassem neste ponto aquilo que fol estabelecido pela alual disci
plina: a concessao da Comunhao sob as duas especies nao seja indis
criminada; as celebracoes sejam estabelecidas de man eirá precisa;
depois, os grupos que usufruem desta faculdade sejam bem determi
nados, disciplinados e homogéneos S3.

13. O Senhor permanece sob as especies mesmo depois da


Comunhao. Portanto, distribuida a Comunhao, as partículas consa
gradas que sobrarem sejam consumidas, ou entao levadas pelo minis
tro competente para o lugar da reserva eucarística-

14. O vinho consagrado, por sua vez, deve ser consumido


¡mediatamente a seguir á Comunhao, e nao pode ser conservado.
Preste-se atencao, pois, para consagrar somente a quantidade de
vinho necessária para a Comunhao.

15. Observem-se as regras prescritas para a purificacao do


cálice e dos outros vasos sagrados que tenham contido as especies
eucarísticas S4.

16. Deve-se ter particular respeito e cuidado para com os


vasos sagrados, tanto para com o cálice como para com a patena
usados na celebracáo da Eucaristia, como aínda para com os abó-

21 S. Congregagfio dos Ritos, Instrugáo EucharisUcum Mysterium,


n. 34, cf. Institutlo generalia Mlssalte Romani, n. 244, c; 244, b; e 247, b.
22 Cf. Institutlo generalis Mlssalis Romani, n. 241-2.
» Cf. Ibldem, n. 242.
« Cf. Ibldem, n. 238.

— 494 —
«INAESTIMABILE DONUM» 55

ríos que servem na Comunháo dos fiéis. A forma dos vasos deve
ser adaptada ao uso litúrgico ao qual sao destinados. A materia
deve ser nobre, duradoura e, em qualquer caso, adequada ao uso
sacro. Neste campo, o ¡uízo compete a Conferencia Episcopal de
cada regiao.

Nao podem ser usados simples cestos ou outros recipientes des


tinados ao u;o comum fora das celebracoes sagradas, ou de quali-
o'ade inferior, ou que carecam de todo e qualquer caráter artístico-

O cálice e as patenas, antes de serení usados, devem ser ben-


zidos pelo Bispo ou por um presbítero -5.

17. Recomende-se aos fiéis que nao descuiden), depois da


Comunháo, de urna justa e ¡ndispensável acao de gracas, quer na
própria celebracao — com uns momentos de silencio e com um hiño,
ou um salmo, ou aínda um outro cántico de louvor26 — quer termi
nada a celebracao, permanecendo possivelmente em oracao durante
um conveniente espaco de tempo.

18. Como é sabido, há varias tarefas que a mulher pode


desempenhar na assembléia litúrgica, entre as quais a leitura da
Palavra de Deus e a proclamacáo das intencóes na Oracao dos fiéis.
Porém nao sao permitidas ás muiheres as funcóes de servir ao altar
como acólito27.

19. Recomenda-se urna particular vigilancia e um especial cui


dado quanto ás Santas Missas transmitidas através dos meios de
comunicacao. Com efeito, dada a vastíssima difusao que podem ter,
o seu desenrolar deve refletir urna qualidade exemplar28.

Ñas celebracoes que se fazem em casas privadas, observem-se as


normas da Instrucao Actio pastoralis, de 15 de maio de 1969 so.

25 Cf. Ibidem, n. 288, 289, 292 e 295; e aínda, Sagrada CongregagSo


para o Culto Divino, Instr. Lllurgicae Instauratlones, n. 8; e Pontiflcale Ro-
manum, Ordo dedlcatlonls eccleslae et altarts, p. 125, n. 3.
26 Cf. Instltutlo generalis Missalis Romanl, n. 56 ¡.

27 Cf. S. CongregagSo para o Culto Divino, Instructo Uturgicae


Instaurationes, n. 7.
28 Cf. Const. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacro-
sanctum Concllium, n. 20; Pont. Comlssáo para as ComunicacSes Sociais,
Instrufio Communlo et Progresslo, de 23 de malo de 1971, n. 151: AAS 63
(1971), p. 593-656.
» AAS 61 (1969), p. 806-811.

— 495 —
56 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

B) Culto eucaristía» fora da Missa

20. É muito recomendada a devocao, tanto pública como pri


vada, para com a Santíssima Eucaristía, também fora da Missa. Com
efeito, a presenta de Cristo, adorado pelos fiéis no Santíssimo Sacra
mento, deriva do Sacrificio e visa á Comunhao sacramental e espi
ritual.

21 . No predispor os exercícios de piedade eucarística, te-


nham-se em conta os lempos, de maneira que os mesmos exercícios
se harmonizem com a Liturgia, nela «e inspirem, de algum modo, e
para ela encaminhem o povo cristao. 30.

22. Quanto as exposicóes do Santíssimo Sacramento, q-uer


prolongadas quer breves, e quanto ás procissoes eucarísticas, aos
Con.gressos Eucarísticos, bem como a toda a ordenando da piedade
eucarística, observem-;e as indicacoes pastorais e as disposicóes dadas
pelo Ritual Romano 81.

23. Nao se deve esquecer que, «antes da béncáo com o San


tíssimo Sacramento, é preciso dedicar um espaco de tempo conve
niente á leitura da Palavra de Deus, a cánticos e a preces e a um
pouco de oracao em silencio»32. No final da adoragao, canta-se
um hiño e recita-se ou canta-se urna das oracoes, que se deve esco-
Iher dentre aquelas muitas que para tal fim sao apresentadas no
Ritual Romano **.

24. O sacrário (tabernáculo), onde se conserva a Santíssima


Eucaristía, pode ser colocado num altar, ou também fora dele, num
lugar da igreja bem visível, verdaderamente nobre e devidamente
ornamentado, ou entelo numa cápela adaptada para a oracao pri
vada e para a adoracao dos fiéis 34.

so Cf. Rituale Romanum. De sacra Communione e de cultu Mysterü


eucharistlci extra Missam, nn. 79 e 80.
ai Cf. Ibidem, n. 82-112.
32 Cf. Ibidem, n. 89.

&* Cf. Ibidem, n. 97.


*""" « Cf. InstitutEo generalis Missalis Romani, n. 276.

— 496 —
-INAESTI.MABILE DONUM» 57

25. O sacrário deve ser sólido, inviolável e nao transpa-


parente35. Diante dele, em que a presenta da Santíssima Eucaristía
deve ser indicada pelo cortinado, ou por outro meio idóneo estabele-
cido pela autoridade competente, deve arder perenemente unía lám
pada, como sinal de honra prestada ao Senhor 3S.

26. Diante do Santíssimo Sacramento, fechado no sacrário ou


quando está publicamente exposto, mantenha-se a veneranda praxe
de genuflectir, em sinal de adorado 3\ Tal ato exige que se Ihe dé
urna alma- Para que o coracao se Incline diante de Deus, em pro
funda reverencia, a genuflexao nao se¡a apressada nem desajeitada.

27. Se alguma coisa tiver sido introduzida, que osteja em con


traste com ectas disposicoes, deverá ser corrigida.

A maior parte das dificuldades encontradas na atuacao da


reforma da Liturgia, sobretudo pelo que se refere á Santa Missa, pro-
vém do fafo de alguns sacerdotes e fiéis nao terem tido talvéz um
conhecimento suficiente das razoes teológicas e espirituais, pelas
quais foram feitas as modificaqoes, segundo os principios estcbele-
cidos pelo último Concilio.

Os sacerdotes devem aprofundar mais o auténtico conceito da


lgre¡a 3S, da qual a celebragao litúrgica, sobretudo a Santa Missa,
éjsxpressao viva. Sem urna adequada cultura bíblica, os sacerdotes
nao poderao apresentar aos fiéis o significado da Liturgia como
atuacao, nos sinais, da historia da salvacao. O conhecimento da
historia da Liturgia, de igual modo, contribuirá para fazer compreender
as modificares ¡ntroduzidas, nao como novidade, mas sim como reto
mada e adaptando da auténtica e genuína tradigáo.

A Liturgia exige ainda um grande equilibrio, porque, como diz


a Constituicao Sacrosanctum Concilium, «a Liturgia. . . contribuirá em
sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem uns aos
outros o misterio de Cristo e a auténtica natureza da verdadeira
Igreja, que tem a característica de ser, ao mesmo tempo, humana e

"■■> Cf. Rituale Romanum. De sacra Communione et de cultu Mysterii


eucharistici extra Missam, n. 10.

■"« Ct. S. Congregagao dos Ritos, Instrufao Eucharisticum Mysterium, 57.


37 Cf. Rituale Romanum. De sacra Communione et de cultu Mysterii
eucharistici extra Missam, n. 84.
38 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Genlium.

— 497 —
58 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ora-


Sao e dada á contemplacáo, presente no mundo e, todavía, pere
grina: tudo isto, porém, de tal maneíra que aquilo que nela é humano
se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a acao
á contemplando, e a realidade presente á vida futura para a qual
estamos encaminhados»30. Sem um equilibrio assim, será desfigu
rada a verdadeira face da Liturgia crista.

Para se alcancarem mais fácilmente estes ideáis, será necessário


favorecer a formacáo litúrgica nos Seminarios e ñas Faculdades Ecle
siásticas40 e a parricipacáo dos sacerdote: em cursos, convenios e
encontros oo semanas litúrgicas, em que o estudo e a re'lexao devem
ser validamente integrados por celebracoes exemplificadorac. Assim,
os sacerdotes poderao aplicar-se a urna acao pastoral mais eficaz,
mediante a catequese litúrgica dos fiéis, a organizacao de grupos de
leitores, a formacáo tanto espiritual como prática daqueles que ser-
vem ao altar, a formacáo de animadores da assembléia, o progres-
s¡vo enriquecimenro de um repertorio de cánticos, em suma, mediante
todas aquelas iniciativas que possam favorecer um conhecimento cada
vez mais profundo da Liturgia.

É grande a responsabifidade das Comissóes nacionais e dioce


sanas de liturgia, bem como a dos Institutos e Centros litúrgicos, na
atuacao da reforma litúrgica, sobretudo no trabalho da traducáo dos
Hvros litúrgicos e na formacáo do clero e dos fiéis para o espirito da
reforma determinada pelo recente Concilio.

As atividades de tais organismos devem estar a servico da auto-


ridade eclesiástica, a qual tem de poder contar com a sua colabo-
rocáo, fiel as normas e as diretrizes da lgre¡a, mantendo-se ao mesmo
tempo afastada de iniciativas arbitrarías e de particularismos, que
poderiatn comprometer os frutos da renovacáo litúrgica.

so Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum


Conclllum, n. 2.

40 Cf. S. CongregacSo para a Educagao Católica, Instrucáo De Insti-


lutione Litúrgica in Semlnarils, in ecclesiastlcam futurorum sacerdotum
formationem, de 3 de junho de 1979.

— 498 —
«INAESTIMABILE DONUM» 59

Este documento chegcrá as maos dos ministros de Deus ao com-


pletar-se o primeiro decenio de vida do Missale Romanum, promul
gado pelo Santo Padre Paulo VI, em atuacao das prescricoes do Con
cilio Vaticano II.

Parece oportuno reevocar aquí algumas palavras que aquele


Sumo Pontífice pronunciou quanto a íidelidade as normas da celebra-
gao da Liturgia:

«É um fato muito grave, quando se inlroduz a divisáo naquilo


precisamente em que 'o amor de Cristo nos congregou na unidade',
isto é, na liturgia e no Sacrificio eucaristico, recusando o respeito
devido as normas estabelecidas em materia litúrgica. E em nome da
¡radicáo que queremos pedir a todos os nossos filhos e a toda: as
comunidades católicas celebrarem, com dignidade e fervor, a Liturgia
renovada» 41.

Os bispos, enquanto «ordenadores, promotores e guardas da


vida litúrgica na Igreja a eles confiada» «, tém de saber encontrar
os caminhos mais aptos para urna criteriosa e firme aplicacáo destas
normas, para a gloria de Deus e o maior bem da Igreja.

Roma, sede da Sagrada Congregando para os Sacramentos e o


Culto Divino, aos 3 de abril — Quinta-feira Santa — de 1980.

Esta Instrucáo, preparada pela Sagrada Congregado para os


Sacramentos e o Culto Divino, foi aprovada a 17 de abril de 1980
pelo Santo Padre JoSo Paulo II, o qual, confirmando-a com a sua
autoridade, ordenou que a mesma fosse publicada, e observada por
todos os interessados-

James R. Card. Knox Virgilio Noé


Prefeito Secretario Adjunto

41 Alocucáo consistorial a 24 de maio de 1976: AAS 68 (1976), p. 374.

42 Conc. Ecum. Vat. II. Decr. sobre o Múnus Pastoral dos Bispos na
Igreja Christus Dominus, n. 15.

— 499 —
60 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

II. NOTAS COMPLEMENTARES

1. Com relacáo ao n* 4 da Instrugáo transcrita, pode ser


citado o Código de Direito Canónico, que assim reza:

Canon 907: «Na celebrando eucarística, nao é permitido aos


diáconos e leigos proferir as oracoes, especialmente a Oracao Eucarís
tica, ou executar as acoes próprlas do sacerdote celebrante».

Canon 846: Ǥ 1? Na celebrando dos sacramentos, sigam-se


fielmente os livros litúrgicos aprovados pela autoridade competente;
portanto ninguém acrescente, suprima ou altere coisa alguma neles,
por própria iniciativa».

2. Explicitando o n" 12, citamos aquí as mencionadas


rubricas do Missal Romano atinentes á distribuigáo da S. Eu
caristía sob as duas especies:

«241 . Cuidem os pastores de lembrar, da melhor forma pos:í-


vel, aos fiéis que participam do rito ou a ele assistem, a doutrina
católica a respeito da forma da Sagrada Comunhao, segundo o
Concilio Tridentino. Antes de tudo, advirtam os fiéis de que a fé cató
lica ensina que, também sob urna só especie, se recebe Cristo todo
e inteiro, assim como o verdadeiro sacramento; por isto, no que con
cerne aos frutos da Comunhao, aqueles que recebem urna só especie
nao ficam privados de nenhuma graea necessária á salvacao.

Ensinem ainda que a Igreja, na administracao dos sacramentos,


tem o poder de determinar e mudar, salva a sua substancia, o que
¡ulgar conveniente á utilidade dos que os recebem e á veneragao dos
mesmos sacramentos, em razao da diversidade das coisas, dos tempos
e dos lugares. Ao mesmo tempo, exortem os fiéis a que desejem
participar mais intensamente do rito sagrado, pelo qual se manifestó
do modo mais perfeito o sinal do banquete eucarístico.

242. A juízo do Bispo e após unía conveniente catequese, per-


mite-se a Comunhao do cálice nos seguintes casos:

1) aos neófitos adultos, na Missa que se segué ao Batismo;


aos confirmandos adultos, na Missa de Confirmacao; aos balizados ->
que sao recebidos na Comunhao da Igreja;

— 500 —
«INAESTIMABILE DONUM» 61

2} aos esposos, na Missa de seo Matrimonio;

3} aos ordenados, na Missa de sua ordenando;

4) á abadesta, na Missa de sua béncao; as virgens, na Missa


de sua consagracao; aos professos e seus pais, párenles e co-irmaos,
na Missa da primeira profissao religiosa ou da renovacao da profissao,
ou da profissao religiosa perpetua, contanto que emitam ou renovem
os votos durante a Missa;

5) aos auxiliares leigos das misíoes, na Missa em que recebem


publicamente sua missao e a todos os outros na Missa em que recebem
urna missao eclesiástica;

ó) na administracao do Viático ao enfermo e a todos os pre


sentes, quando a Missa for celebrada na casa do enfermo, conforme
a norma do Direito;

7) ao diácono e aos ministros, quando desempenham a sua


funcao na Missa com canto;

8} havendo concelebracao:

a) a todos, mesmo leigos, que desempenham na própria con


celebracao um verdadeiro ministerio litúrgico, assim como a todos os
seminaristas que déla participan);

b) em suas igrejas e oratorios, a todos os membros dos Institutos


que professam os conselhos evangélico- e das oufras Sociedades ñas
quais se consagram a Deus por votos religiosos, oblacao ou promessa,
e ainda a todos os que residem dia e noite na casa dos membros dos
mencionados Institutos e Sociedades;

9) aos sacerdotes que assistem a grandes celebracoes e nao


podem celebrar ou concelebrar;

10} a todos os que fazem exercícios espirituais, na Missa que,


durante' os mesmos, é celebrada especialmente para eles com a sua
participacao ativa; a todos os que participam de alguma reunido
pastoral, na Missa que celebram em comum;

11) aqueles de que falam os ns. 2 e 4, na Missa dos respectivos


¡ubileus;

— 501 —
62 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

12) ao padrinho, á madrinha, aos pais, ao cónjuge e também


aos catequistas leigos do balizado adulto, na Missa de sua iniciacáo;

13) aos pais, aos familiares e também aos benfeitores insignes


que participam da Missa do neo-sacerdote;

14) aos membros das comunidades, na Missa conventual ou 'da


Comunidade'».

3. 0 n' 15 da Instrugáo «Inaestimabile Donum» refere-se


a normas concernentes á purificagáo dos vasos sagrados. Ei-las:

«238. Os vasos sagrados sao purificados pelo sacerdote ou pelo


diácono depois da Comunhao ou da Missa, na medida do possível
¡unto a credencia. A purificacao do cálice é feita com vinho e agua,
ou só com agua, que o próprio sacerdote ou o diácono consomé. A
patena seja purificada normalmente com o sangüinho».

4. O n» 17, que trata da agáo de grasas após a Comu-


nháo Eucarística, merece ser enfatizado. A oragáo comunita
ria, para ser plenamente frutuosa, exige a oragáo particular e
silenciosa; sem esta, corre o risco de tornar-se mera formali-
dade para quem celebra a Liturgia. Daí a importancia da
oragáo pessoal e recolhida após a recepgáo da S. Eucaristía,
inclusive após o término da S. Missa. Quem participa desta
conscientemente, sabe que está vivendo o ponto alto do seu
día; deve ser, portanto, impelido a procurar agradecer e apro-
fundar o dom recebido, mesmo que a cerimónia litúrgica tenha
acabado. A tradigáo da Igreja recomenda esta prática, que,
após a renovagáo da Liturgia pelo Concilio do Vaticano n,
entrou em desuso, sem que para isto se possa encontrar ade-
quada explicagáo. Os momentos em que se conserva a pre-
senga eucaristica de Cristo nos fiéis comungantes, sao de ele
vado valor para a vida espiritual e constituem, para o cristáo,
o momento, por excelencia, de adoragáo a Cristo e da apre-
sentagáo de gratidáo e petigóes.

5. O n» 20 trata da piedade eucarística fora da Missa.


A propósito pode-se citar o n» 3 da Carta de Joáo Pauló II
datada de 24/08/1980:

«Um tal culto, que se dirige á Santíssima Trindade do Pai, do


Filho « do Espirito Santo, acompanha e permeia, antes de mais nadó',
toda a celebracao da liturgia eucarística. Mas ele há de encher

— 502 _
«INAESTIMABILE DONUM» 63

também os nossos templos noutros momentos para além do horario


das santas Missas. Na verdade, urna vez que o misterio eucarístico foi
instituido pelo amor, e tíos torna Cristo sacramentalmente presente, ele
é digno de adoracáo e de culto. E este nosso culto ha de sobressair em
cada um dos nossos encontros com o Santíssimo Sacramento, quer
quando visitamos as nossas igre¡as, quer quando as sagradas especies
sao levadas e administradas aos enfermos.

A adoracáo de Cristo neste sacramento do amor deve encontrar


a sua expressáo em diversas formas de devocáo eucarística: oracoes
pessoais diante do Santíssimo, horas de adoracáo, exposicoes breves,
prolongadas...

A animacdo e o aprofundamento do culto eucarístico sao prova


daquela auténtica renovacao, que o mesmo Concilio se propós como
finalidade e dele sao o ponto central... A Igreja e mundo tém
grande necessidade do culto eucarístico. Jesús espera por nos neste
sacramento do amor. Nao nos mostremos avaros com o nosso tempo,
para ir encontrar-nos com Ele na adoracáo, na contemplacao cheia
de fé e pronta para reparar as grandes culpas e os crimes do mundo.
Nao cesse nunca a nossa adoracáo».

É oportuno que os sacerdotes e os leigos católicos tenham


em mira tais normas da Igreja. Embora minuciosas e apa
rentemente de pouca importancia ou despreziveis, merecem
todo o acato do clero e do povo de Deus. «Quem é fiel ñas
coisas mínimas, é fiel também no muito, e quem é iníquo no
mínimo, é iníquo também no muito» (Le 16,10). Nao basta
ao fiel cristáo ter sólida formagáo doutrinária ou teológica;
sem vivencia concreta ou sem obediencia prática as normas
da Igreja, tal formagáo redunda imperfeita ou faina. É na
fidelidade cotidiana que se comprova a autenticidade da estru-
tura doutrinária do fiel católico.

— 503 — " ~
Dúvida freqüente:

(omunsar mais vezes por dia?

Em súrtese: O presente artigo analisa o uso do adverbio latino


iterum tanto na Ifngua clássica do Lacio como na linguagem eclesiástica.
Concluí que iterum significa urna segunda vez ou pela segunda vez, e nao
Indefinidamente de novo. Em conseqüéncia, o canon 917 do Código de
Direito Canónico, que permite comungar iterum no mesmo dia, tem em vista
autorizar urna segunda recepcao da S. Eucaristía para quem participe da
S. Missa, e nao um número indefinido de Comunhóes Eucarlsticas por dia.
— É o que propóe o Prof. Félix Lasheras Bernal em artigo abaixo
transcrito.

A revista espanhola ROCA VIVA em seu número 196, de


abril de 1984, pp. 208-211, publicou um artigo de Félix Lasheras
Bernal, egregio professor de Latim, que analisa o canon 917
do atual Código de Direito Canónico. Este tem sido objeto de
hesitagóes, pois permite aos fiéis receber a S. Eucaristía ite
rum no mesmo dia. Donde se tem depreendido que é lícito
receber de novo e de novo a S. Comunháo num só dia desde
que o comulgante participe da respectiva Missa.

A propósito o citado mestre tece consideragóes lingüisticas


que merecem atencáo e que váo abaixo publicadas em traducáo
portuguesa.

O ADVERBIO «ITERUM» NO CANON 917 DO NOVO


CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO
Comentando o novo Código, disse-me um sacerdote: «Agora será
lídto comungar sempre que o fiel participe da Missa».

E um Religioso: «Agora as pessoas piedosas passarao o dia a


comungar, porque o poderáo fazer sempre que assistam á Missa».

Vejamos, porém, o canon 917, que se refere á Sagrada Comunhao:


«Qui sanctissimam Eucharistiam iam recepit, potest eam iterum eadem,
die suscipere. solummodo intra eucharisticam celebrarionem cui
participáis.

— 504 —
. COMUNGAR MAIS VEZES POR DÍA? 65

A traduefio deste canon, segundo a edicao publicada no Brasil,


soa:

«Quem ¡á recebeu a santíssima Eucaristía, pode recebé-la nova-


mente no mesmo día, somente dentro da celebracño eucarística em
que participa».

Confesso que sou quase leigo em questoes canónicas. Um curso


de Direito Canónico, aínda que realizado em Universidade Pontificia,
nao dá para mais. Todavía tenho obrígacao de conhecer o latim
depois de haver dedicado toda urna vida ao estudo e ao ensino deste
idioma, limito-me, portanto, á ¡nterpretacao do adverbio latino
itetum, que foi traduzido por «de novo». Esta locucao adverbial signi
fica «reiteradamente» ou «repetidamente». Logo, conforme a traducáo
corrente, tém razao meus interlocutores, sacerdote e Religioso. Razao
que é confirmada na edicao bilingüe do Código publicado pela BAC
e comentada pelos professores de Direito Canónico da Universidade de
Salamanca. Dizem estes ilustres mestres: «O teor literal do canon
favorece comungar de novo em qualquer Missa de que o fiel participe,
sem limitacao de vezes, e mesmo que a pariicipacao seja inspirada
apenas por devocao pessoal... O mesmo se concluí do fato de que
se trata de lei favorável, a qual deve ser interpretada com amplidáo».

Acontece, porém, que os redatores do Código escreveram este


canon em latim, que continua sendo a língua oficial da Igreja. Ora,
no latim clássico o adverbio iterum, que é o nó da questáo, significa
«segunda vez», «de novo». Ou seja: nao «repetidamente», mas
apenas «urna segunda vez». Neste sentido usam-no sempre os autores
clássicos:

1 . Vejam-se alguns exemplos, que se poderiam multiplicar-.

Tiro Livio (t 17 d.C): «Iterum confuí». O que evidentemente


quer dizer: «Cónsul pela segunda vez».

Julio César (f 44 a.C): «Semel at.que iterum», isto é, «Duas


vezes, urna vez e outra segunda vez».

Cicero (t 43 a.C): «In Sicilia ubi rex Agathocles regnator fuit


et ¡terum Cincthia, tertíum Liparus», ou se¡a, «Na Sicilia, onde o rei
Aaatocles foi o soberano, depois (em segundo lugar) Cincthia, depois
(em terceiro lugar) Líparo».

— 505 —
66 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Cornélio Nepos (t 24 a.C): «Quem primo apud Rhodanum,


¡terum apud Padum, tertio apud Trebiam fugarat», ou seja: «A quem
pusera em fuga primeiramente junto ao Ródano, depois (em segundo
lugar) ¡unto ao Pó, em terceiro lugar em Trébia».

Cornélio Neposs (f 24 a.C.) «Bis dimicavit, semel ad Dyrrachium,


iterum in Hispania», ou seja, «Lutou duas vezes: a primeira em Durazzo,
a segunda na Espanha».

Varrño (t 27 a.C): «Terram cum primum aranf, proscindere


appellant; cum iterum, offringere dicunt», ou seja, «Quando lavram
a térra pela primeira vez, dizem proscindere; quando a lavram pela
segunda vez, dizem offringere».

Se os clássicos querem referir-se a «reiteradamente», ou «repetida


mente», escrevem assim:

Lívio: «Iterum atque tertium», ou seja, «Segunda e terceira vez».


Cicero (t 43 a.C): «Iterum ac terlio» isto é, «Duas e tres vezes».
Virgilio (t 19 a.C): «Iterum iterumque», ou seja, «Varias vezes».
Virgilio e Horado (t 19 a.C, t 8 d.C): «Iterum atque iterum»
ou seja, «Urna e multas vezes».

A quem deseje mais exemplos, cito o «Latín Dictionary» editado


em Oxford 11982), p. 976, verbete iterum.

Sob a luz dos autores clássicos romanos, o canon 917 portanto


deve interpretar-se no sentido de se poder comungar apenas urna
segunda vez no mesmo día.

2. Do mesmo modo entendiam os Santos Padres o adverbio:

«Veniet Salvador non ut iterum iudicetur, sed ut in ius vocet eos a


quibus in ¡udicium est vocatus» (Das Catequeses de S. Cirilo de
Jerusalém, f 386). A traducáo é clara: «Vira o Salvador nao para
ser juagado urna segunda vez, mas...

Sao Leao Magno, Papa de 440 a 461, diz:

«Per Baptismatis sacramentum Spiritus Sancti factus es templum:


noli tantum habitaforem pravis de te actibus effugare et diaboli te
ITERUM subicere servituti». é evidente .que o santo admoesta o cristáo
a que nao torne, por suas más acóes, a ser urna segunda vez escravo '
do diabo, de quem ¡ó foi escravo antes do Batismo.

— 506 —
COMUNGAR MAIS VEZES POR DÍA? 67

3. Como ñas demonstracoes dos Escolásticos, passemos a S.


Escritura:

«Ef veniunt domum (lesus et discipuli) et convencí ITERUM turba»


(Me 3,20). A multidáo que havia cercado Jesús e os seos, vai pela
segunda vez á casa onde estavam Jesús e os seus discípulos.

Sao Paulo em dois convites sucessivos nos quer alegres: «Gaudete


¡n Domino semper, ITERUM dico: gaudete» (Fl 4,4).

«ITERUM reversos sum Damascum» (Gl 1,17). Torna o Apostólo


a Damasco; era a segunda vez que lá ia.

«Qui enim sanctificat et qui sanctificantur, ex uno omnes; propter


quam causam non confunditur fratres e os vocare dicens: 'Nuntiabo
nomen tuum fratribus meis, in medio ecclesiae laudabo te1, et ITERUM:
'Ego ero fidens in eum1, et ITERUM: "Ecce ego et pueri mei, quos dedit
Deus1» (Hebreus 2,11-13). Aquele que santifica, chama os que sao
santificados pelo apelativo de ¡rmáos urna segunda vez. Para referir-se
pela terceira vez aos irmaos, repete o adverbio iterum.

4. A Igreja usa também o adverbio iterum no sentido de «pela


segunda vez»- Na Oracáo Eucarística II dizem os sacerdotes:

«Poslquam coenatum est, accipiens et calicem, ITERUM gratias


agens dedit discipulis suis...» Dá gracas antes da consagracao do
pao e outra (segunda) vez antes da consagracao do vinho.

Por fim, no Credo da Missa exprimimos a fé da Igreja na segunda


vinda de Cristo (nao vira mais vezes), dizendo: «Et iterum venturus
est».

O próprio Código nos ensina a interpretar corretamente o adver


bio, advertindo no canon 17:

«Leges ecclesiasticae ¡ntellegendae sont secundum propriam verbo-


rum significationem in textu ef contextu consideratam» 1. Creio ter
demonstrado que o significado próprio do adverbio iterum é «unía
segunda vez só». Por conseguinte, assim há de entender-se o
canon 917.

loAs leis da Igreja devem ser entendidas segundo o sentido próprio


das palavras, considerado no texto e no contexto".

— 507 —
68 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Aínda no canon 21, lé-se:

«In dubio revocatio legis praeexistentis non praesumitur, sed leges


posteriores ad priores trahendae suní et his, quantum fieri potest,
conciliandae» '. Se, porém, resta a alguém qualquer dúvida sobre o
sentido de iterum no canon 917, deve conciliar esta lei com a prece
dente, expressa na Instrucao Immensae Caritatis (1973, depois do
Concilio), cuja revogacáo nao deve ser presumida. Sabemos que, em
virtude desta Instrucao, já se podia comungar urna segunda vez no
mesmo dia quando se cumpria o preceito dominical na véspero do dia
santo, na Missa vespertina de quinta-feira santa, na segunda Missa
do dia de Páscoa, ñas Missas rituais, exequias, etc. O canon 917
limita-se a ampliar a faculdade de comungar pela segunda vez no
mesmo dia desde que tal Comunhao soja feita dentro da Missa de que
o fiel participe.

Os comentadores da edicao da BAC confessam que a sua inter-


pretacáo ampia poderia acarretar como conseqüéncia um certo desvio
da piedade eucaristica, com resultados negativos no ámbito ecuménico.
Acrescentam que seria conveniente urna interpretacao auténtica da
parte da Santa Sé. Nao negó a conveniencia de tal interpretacáo para
evitar qualquer dúvida, mas ¡ulgo que esta nao é necessária porque
a mente do legislador está muito clara para quem sabe latim.

A edicao da Universidade de Navarra (EUNSA) vincula, como


nos fizemos, a interpretacáo do canon 917 ao teor da Instrucao
Immensae Caritatis. O mesmo fizeram os comentadores da edicao
cátala, que se limitaran) a traduzir para o catalao as notas da EUNSA.

Sinceramente creio que assim se deve proceder enquanto Roma


nao nos diz o contrario. Profetizo, alias, que nao o dirá.

Sem comentarios...

i "Na dúvida, nao se presume a revogacao da lei preexistente, mas


lels posteriores
josteriores devem
devem ser
ser comparadas com as anteriores e, quanto possível, '
com elas harmonizadas".

— 508 —
Um livro que interpela:

"A Yolta a Grande Disciplina"


por Joáo Batista Libánio S.J.

Etn sinlese: O Pe. Joáo Batista Libánio, S.J. julga que a imagem da
Igreja inspirada pelo Concilio de Trento (1543-1565) está destruida. Mas
nio se sabe qual outra colocar em seu lugar, é pessoalmente (avorável á
teologia da libertacáo, mas também a esta faz breves críticas. Deixa, pois,
o leitor diante de um impasse, para o qual nao aparece safda auténtica ou
satisfatória.

Observamos que o livro é, por vezes, ambiguo e tendente a generalizar,


simplificar e caricaturar. Além do que nao leva em conta devlda o misterio
ou o sacramento da Igreja (Lumen Genttum n? 1): esta é realidade divino-
-humana, que, em suas encruzithadas, é assistida pelo Espirito Santo para
encontrar o reto caminho do futuro; se há dificuldades e perplexidades para
os fiéis católicos caminheiros, estas háo de ser elucidadas por fldelidade ao
magisterio da Igreja, que recebeu de Cristo a missáo de orientar autentica-
mente a grei do Senhor (cf. Mt 16,17-19; 18,18; Le 22,31 s; Jo 21,15-17).

O Pe. Joáo Batista Libánio S.J., conhecido teólogo bra-


sileiro, publicou um livro que certamente muito fala ao leitor,
com o titulo «A Volta á Grande Disciplina-» *. A obra termina
deixando um tanto aberta a questáo langada inicialmente, de
modo que o estudioso se senté de certa maneira obrigado a
continuar o raciocinio do autor. É o que vamos fazer ñas
páginas subseqüentes, expondo sumariamente o conteúdo do
livro e acrescentando-lhe algumas observagóes.

1. As proposfas do livro

O titulo do livro se deriva de urna mensagem do Papa


Joáo Paulo I, que logo no inicio do seu breve pontificado apre-
goou o retorno dos fiéis á disciplina que os últimos decenios

»Ed. Loyola, Sao Paulo 1983. Colecáo "Teología e EvangelizacSo"


4, 140 x 210 mm, 180 pp.

— 509 _
7j> «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

contribuiram para quebrar dentro da Igreja. O Pontífice


seguinte, Joáo Paulo n, retomou a temática, preconizando
fidelidade a «grande disciplina da Igreja».

Qual o paño de fundo destas exortacóes?

1. Segundo o Pe. Libánio, é preciso retroceder até o


Concilio de Trento (1543-1565), que propós definigóes dogmá
ticas e normas disciplinares assaz claras, tendo em vista a
situacáo conturbada da Igreja na época de Lutero. O Con
cilio de Trento conseguiu realmente despertar a consciéncia
dos católicos para a reta fé e os principios de auténtica viven
cia do Evangelho: aproveitando elementos positivos da Cris-
tandade medieval, levou em conta os tempos modernos e pro-
curou tragar diretrizes para assegurar o testemunho dos cató
licos nos séculos subseqüentes. A influencia positiva do Conci
lio de Trento perdurou inalterada até a Revolugáo Francesa
(1789), que já a contrabalangou de algum modo. O século XIX
e, mais aínda, o século XX destruiram o que Libánio chama
«o imaginario e as conseqüéncias do imaginario do Concilio
Tridentino». Cf. pp. 23-27.

2. A «deconstrucáo» do imaginario social religioso (p. 81)


de Trento foi-se dando aos poucos até ser finalmente reconhe-
cida e sancionada pelo Concilio do Vaticano n (1962-1965),
segundo o Pe. Libánio. Este Concilio terá chamado a atencáo
para o valor das realidades terrestres, que tinham estado
esquecidas nos séculos anteriores por parte da Igreja. Além
disto, a psicología profunda exerceu influxo corrosivo ñas con-
cepcóes religiosas dos cristáos. A exegese protestante liberal,
encabegada por Martín Dibelius e Rudolf Bultmann, terá aba
lado clássicas conclusoes dos comentadores da S. Escritura.
O ecumenismo lancou certo relativismo na mente dos fiéis cató
licos, cujo zelo missionário terá sido solapado. A consciéncia
do pecado se perdeu por influencia da psicología das profun
didades... O autor aponta aínda numerosas facetas do que
ele chama «a deconstrucáo do imaginario tridentino».

3. Após o Concilio do Vaticano n, Libánio vé quatro


reacóes a deconstrucáo ou quatro tentativas de reconstrugáo
da identidade católica.

— 510 —
«A VOLTA A GRANDE DISCIPLINA» 71

1) Cristianismo desvinculado de instituijáo

A primeira tentativa seria a que anuncia o fim do Cris


tianismo convencional e apregoa a subsistencia da mensagem
do Evangelho em pequeños grupos, espontáneos em suas mani-
festagóes de fé, de Moral e de Liturgia, desvinculados de qual-
quer autoridade universal ou do magisterio da Igreja. Neste
contexto se situariam certas correntes secularizadas e secula
rizantes do Cristianismo, como também certos movimientos
carismáticos, pois uns e outros fazem questáo de afirmar sua
espontaneidade; «o ponto de referencia nao é a instituigáo,
mas práticas ou experiencias do grupo» (p. 114).

O Pe. Libánio nao se identifica com esse modo de pensar


e agir, que ele critica, visto que, entre outras coisas, a insti
tuigáo é indispensável para que as idéias e os carismas possam
sobreviver e atuar. «Esse tipo de análise desconhece a forga
sociológica da mística religiosa, a consistencia e resistencia das
instituigóes religiosas oficiáis, estruturadas» (p. 119).

2) Cristianismo restaurado segundo o modelo tridentino

O Pe. Libánio sitúa aqui a corrente de D. Marcel Lefébvre


e dos fundamentalistas, que se recusam a aceitar o Concilio do
Vaticano II, considerado como «capitulagáo da Igreja diante
do espirito liberal e anti-religioso da Revolugáo Francesa»
(p. 121). «A solugáo é reter a totalidade íntegra da identi-
dade tridentina» (p. 121).

A posigáo de D. Lefébvre, segundo o Pe. Libánio, «vive...


de decisSes autoritarias sem hesitagáo, de forte fideísmo até a
demissáo quase completa da razáo e da critica» (p. 123).

No Brasil a TFP (Tradigáo, Familia e Propriedade) seria


urna sociedade representativa deste modo de pensar, junta
mente com o grupo de sacerdotes tradicionalistas da diocese
de Campos.

O autor do livro também critica esta posigáo. A Tradigáo,


diz ele, é «viva e dinámica, posta num processo de continua
reinterpretagáo, em busca de sinteses mais completas e ricas»
(p. 128). «A grande garantía da autenücidade dessa reinter
pretagáo é a agáo do Espirito Santo, que Cristo entregou á sua
Igreja» (p. 128). «Os integristas negam ao mundo moderno
sua grandeza teológica, filosófica e sócio-politica» (p. 131).

— 511 —
72 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

3) Construgóo da idenlidade «Vaticano II»

As duas tentativa anteriores de solugáo tendiam a extre


mos opostos. A que se segué, procura ser equilibrada.

Apregoa a necessidade de «fazer com o Vaticano II o


que se fez com Trento nos séculos seguintes» (p. 131): tende,
pois, a por em prática as Constituig5es e os Decretos do Con
cilio do Vaticano n. Depois de um período de experiencias
subseqüentes ao Concilio, já se podem definir normas e prin
cipios para urna nova disciplina da Igreja; esta implica o re
torno á centralizacáo da administracáo da Igreja e o reforgo
da autoridade. Exprime-se em alguns movimentos de leigos
como Renovagáo Carismática, Cursilhos de Cristandade, Movi-
mento Familiar Cristáo, Equipes de Nossa Senhora, Focola-
rini, etc., que procuram a conversáo dos seus membros e do
mundo descristianizado.

A teología, no caso, procura oferecer respostas e segu-


rangas, após um período de suspeitas e dúvidas teológicas;
rejeita atitudes críticas que estáo sempre em busca de rein-
terpretagóes. O magisterio da Igreja, de acordó com esta men-
talidade, tem-se pronunciado sobre pontos importantes, obnu
bilados pela vida moderna: assim fez Paulo VI na encíclica
«Humanae Vitae» (1968) sobre o controle da natalidade ena
InstruQáo sobre alguns pontos de Ética Sexual (1975); assim
também Joáo Paulo n no documento sobre a Escatologia
(1979). A revista COMMUNIO seria a expressáo da corrente
de pensamento inspirada pelo Vaticano H.

O Pe. Lábanio também critica esta imagem de Igreja. E


isto, a varios títulos. Julga que o Concilio do Vaticano n,
mais do que um «dado objetivo, fixo, redigido numa forma
acabada», foi um principio de dinámica, que criou «novo espi
rito, nova mentalidade, íntroduzindo no interior da Igreja a
dimensáo histórica, hermenéutica, dialética» (p. 149). «Ele
mesmo anuncia a sua superacáo, ao aceitar o duplo principio
fundamental da perspectiva ecuménica e pastoral» (p. 149).
«Com o rolar dos tempos sao os ensinamentos do Vaticano .n
que necessitam de novas vestes, enquanto os defensores dessa
linha pastoral ficam presos a seu modelo démodé» (p. 150).

Na Igreja nao deve haver «mecanismos coercitivos, que


se criam totalmente peremptos» (p. 152). Mais: «por mais''
que se diga que pertence como parte integrante ou essencial

— 512 —
«A VOLTA Á GRANDE DISCIPLINA» 73

da eyangelizagáo a promogáo humana, a libertagáo social, a


identidade neofundamentalista nao se contenta com essa afir-
magáo, nem com essa teología. Teme sempre que ela camufle
um horizontalismo imperdoável, urna negagáo, em última aná-
lise, da própria Transcendencia» (p. 153).

«Jesús mostrou profunda liberdade diante das leis, dos


ritos religiosos, dos costumes, do sábado, do templo — elemen
tos sagrados da religiáo judaica — toda vez que entrava em
jogo algum bem importante para o ser humano» (p. 153).

4) A via do pluralismo e do compromisso libertador

Parte do principio de que «o Concilio do Vaticano II nao


é estacionamento, mas plataforma de lancamento» (p. 15&).
A nova identidade se definirá pelo compromisso com os pobres
ou pelo compromisso social libertador; é a ortopraxis da liber
tagáo que garante a ortodoxia do Evangelho. Essa identidade
está sempre em devir, em construgáo (p. 162); desfaz-se e
refaz-se continuamente. «Por paradoxal que parega, a fideli-
dade ao Concilio requer afastar-se dele... na diregáo apon-
tada por ele» (p. 163).

As comunidades eclesiais de base sao expressáo privile


giada dessa quarta linha pastoral de pastoral, pois nelas «a
Palavra de Deus e os sacramentos sao vividos em íntima rela-
gáo com o compromisso social, com as lutas de reivindicagáo,
com as batalhas sindicáis e com as esperangas de libertagáo»
(p. 169).

«O imaginario da quarta via é reforjado pela teología da liberta-


cao. Seu esforco, hoje ossaz conhecido, orienta-se na linha da reinter-
pretacao global da Revelando, da Tradicao eclesial em suas múltiplas
ramificacóes numa perspectiva libertadora» (p. 172).

O Pe. Libánio confessa preferir este quarto modelo de


atuagáo da Igreja (p. 180). Mas critica-o moderadamente:
«seus maiores problemas situam-se no campo da eclesiologia»,
como se pode depreender do debate em torno do livro «Igreja:
carisma e poder» de Leonardo Boff (cf. PR 260/1982 pp. 15-26).

A quarta via também incorre no risco de identificar o


social e o religioso: critica violentamente os valores religiosos
e sacraliza os valores políticos. Mais: a recusa da instituigáo

— 513 —
74 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

e da autoridade clássica da Igreja pode fácilmente encobrir a


criacáo de outro poder; os propugnadores da «libertagáo» sao
totalitarios e opressores em relacáo aos que nao os acompa-
nham, embora digam que sao contrarios ao uso do poder e
da autoridade.

4. É nestes termos que o livro se encerra: após haver


proposto quatro modelos para reconstituir a identidade do Ca
tolicismo em nossos dias, coloca o leitor diante de certo im
passe, pois o autor nada tem de plenamente positivo e válido
que possa apresentar ao público; nada oferece que mereca
entusiasmo e adesáo generosa. Dir-se-ia que os fiéis católicos
estáo diante de um beco para o qual nao há saida a nao ser
através do debate, talvez fadado á esterilidade e á perplexi-
dade. Em suma: o livro é crítico do principio ao fim, talvez
mais demolidor do que construidor.

Passemos agora a

2. Urna avalia;áo

Nao há dúvida, a obra em pauta impressiona pelo apa


rato de sua erudigáo e pelos quadros gerais que apresenta. Me
rece, porém, serias restricóes tanto por seu estilo como pela
omissáo de certos pontos, impreteríveis numa reta apreciagáo
da problemática.

2.1. Estilo

O autor, na apresentacáo de seus quadros gerais, genera


liza e simplifica os dados em foco — o que redunda nao raro
em caricatura; um certo pathos ou urna atitude passional per-
passa a obra inteira, o qué dá a impressáo de que falta a sere-
nidade indispensável a quem faz um trabalho de tal enverga
dura. Assim, por exemplo, o autor afirma repetidamente que
o medo e o poder regiam os fiéis dos sáculos XVI-XX até
época recente; cf. pp. 67.68.71.105.132... A p. 86 refere-se á
devocáo das primeiras sextas-feiras e dos primeiros sábados
do mes em termos um tanto caricaturáis. Á p. 104 menciona
um «atestado de óbito da identidade tridentina»; deprecia o
zelo missionário da vida crista... A p. 133 alude a «poltrona
cómoda da nova codificagáo»... A p. 155 propóe auténtico
sofisma a respeito do Concilio do Vaticano II: embora o Con-

— 514 —
«A VOLTA Á GRANDE DISCIPLINA» 75

cilio do Vaticano II nao pretenda «parar a historia», ele é


marco obrigatório para todos os que querem ser fiéis a Cristo,
até que nova instancia conciliar ou a autoridade suprema da'
Igreja diga o contrario.

2.2. Perplexidade?

Quem chega ao fím do livro, tem a impressáo de que a


imagem da Igreja do futuro ainda tem que ser concebida ou
aescoberta, como se deve conceber ou descobnr o rumo que
a situagáo política de um país, agitado por diversas correntes
deve encetar. Na verdade, a Igreja nao é urna sociedade como
as outras agremiacóes humanas, mas é urna realidade divino-
-numana ou um «sacramento», como diz a Constituigáo Lumen
Gentium do Concilio do Vaticano II, n" 1. Na Igreja, portante
será preciso por em relevo: '

a) a existencia de elementos permanentes, como as ver


dades da fe, a constituigáo hierárquica sob a cneíia de Pedro
e seus sucessores, os sete sacramentos como cañáis da graga
a comunháo dos valores santos... Estes sao anteriores aó
Concilio de Trento e perduram até nossos dias, devendo inte
grar a Igreja até o fim dos séculos.

b) Na Igreja, há urna instancia dirimente, que é o ma


gisterio representado pelos bispos, em consenso unánime, ou
pelo Sumo Pontífice. A este magisterio Cristo quis confiar a
autoridade necessária para apascentar e reger a grei (cf Jo
21,15-17; Mt 16,17-19; 18,18; Le 22,31s), de modo que, ñas
situagoes de aparente impasse, toca aos bispos e, especialmente,
ao Papa o dever de intervir e de definir os rumos a tomar.
A Igreja nao é um barco sem leme, que navega á deriva ou
entregue á mera pericia dos homens.

Alguém dirá que o apelo á autoridade é pouco condizente


com a mentalidade moderna... Respondemos que na Igreja
o recurso á autoridade é obrigatório, pois a Igreja é, em última
análise, governada pelo próprio Deus mediante as instancias
humanas por Ele escomidas. É coerente com a fé admitir e
acatar a autoridade legítima na Igreja, principalmente quando
tenciona definir assuntos de fé e de moral; sim, a fé é a acei-
tagáo da Palavra de Deus como ela vem por suas instancias
competentes.

— 515 —
76 '<PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Quem pondera estas verdades, reconhece que, na encruzi-


Ihada em que se vé a Igreja contemporánea, há focos lumino
sos que indicam o caminho a seguir; há instancias das quais
se pode haurir a palavra de orientagáo a fim de realizar a
obra de Cristo. Ora tal conclusáo nao aparece na obra do
Pe. J. B. Libánio.

2.3. Concilio de Trento (1545-1563)

O Concilio de Trento nao morreu; a historia nao lhe pas-


sou «atestado de óbito». Este Concilio promulgou definigóes
dogmáticas referentes á S. Escritura, á graga, á justificagáo,
aos sacramentos, definigóes que tém valor perene. Alias, o
Concilio de Trento, ao definir tais proposigóes, fazia eco con-
sentáneo com a Tradigáo anterior.

A assembléia tridentina formulou também normas disci


plinares relativas á formagáo do clero, as fungóes dos bispos,
á piedade dos fiéis... Estas foram inspiradas pelas circuns
tancias do século XVI; tinham, pois, caráter contingente e
estavam sujeitas a reforma desde que os tempos o exigissem.
O Concilio do Vaticano II (1962-1965), em parte, confirmou
tais normas; em parte, propós outras, sugeridas pelos tempos
atuais. É, pois, inadequado, se nao falso, falar da deconstru-
gáo da identidade tridentina, como faz J. B. Libánio (p. 79).
O que passou, foi o quadro histórico do século XVI, cedendo
ao do século XX; mas dentro destes continuam a existir legí
timamente elementos do Concilio de Trento.

Por certo, a época contemporánea é marcada por corren-


tes de pensamento que abalaram a cosmovisáo dos antigos e
obrigaram a repensar o sentido de certas proposigóes da fé
(especialmente a exegese de Gn 1-3 foi objeto de revisáo); a
psicología freudiana, entre outras, parece ameagar a fé. Toda-
via nenhuma das escolas de pensamento moderno destrói as
perenes proposigóes da fé ou os ditames da ascese e da jus-
tiga crista; o cristáo nao é obrigado a renunciar á sua crenga
diante das verdades formuladas pelas ciencias contemporáneas;
ao contrario, estas vieram confirmar notavelmente certas pro
posigóes de fé, a ponto que muito sabiamente se tem dito:
«a pouca ciencia afasta de Deus, a muita ciencia leva a Deus».''
Cf. PR 265/1982, pp. 422-427.

— 516 _
«A VOLTA A GRANDE DISCIPLINAS

2.4. Concilio do Vaticano II (1962-1965)

Segundo o Pe. Libánio, este Concilio foi um incentivo


para que os fiéis católicos nao se fixem nem se estabilizem,
mas continuem a mudar as expressóes de sua fé... Em conse-
qüéncia, quem quer viver o Vaticano II deve inventar e criar
novas formas de comportamento cristáo.

A propósito observamos que o Concilio do Vaticano II


soube auscultar os sinais dos tempos atuais para encarnar nes-
tes a perene mensagem do Evangelho; esta foi respeitada na
integra. O Concilio do Vaticano II reafirmou o principio de
autoridade na Igreja e o magisterio infalível do Sumo Pontí
fice em materia de fé e de moral ícf. Lumen Gentium c. 3);
por conseguinte, corroborou os elementos perenes da Igreja,
entre os quais figuram, sem dúvida, o exercício da jurisdicáo
e as facilidades do magisterio para intervir di ante de desvíos
doutrinários e moráis. — De resto, o apregoado pluralismo de
nossos días é aceito dentro da Igreja na medida em que signi
fica diversidade de modos de pensar e interpretar o Evangelho
dentro dos parámetros da reta fé. Existe, sim, o patrimonio
da Revelacáo divina, que foi confiado por Cristo á Igreja e
que deve ser guardado incólume; á Igreja nao é licito permitir
seja vilipendiado nem admitir a equiparagáo entre reta fé e
heresia, nem mesmo a titulo de pluralismo. Ela trairia Cristo
e os homens se nao fosse fiel guardia da verdade revelada por
Deus.

Quem compulsa os documentos emanados do Vaticano II


e suas fontes, verificará que, entre estas, é citado freqüente-
mente o Concilio de Trento. O Concilio retomou a voz da
Igreja do século XVI no que ela tinha de definitivo, tencio-
nando assim dar continuidade a Trento e á Tradiqáo anterior-
Por sua vez, o Vaticano n promulgou verdades eternas ao lado
de normas disciplinares contingentes; estas normas disciplina
res estaráo talvez um dia ultrapassadas, mas é preciso que
elas sejam vividas fielmente pelo povo de Deus até se eviden
ciar que perderam sua voga.

Em conseqüéncia, tém razáo os bispos, presbíteros e fiéis


que procuram construir a identidade «Vaticano n» ou a ter-
ceira imagem apontada por Libánio. É esta a única atitude
correta no momento presente; o fiel católico nao deve enver-
gonhar-se por professar como inabaláveis as certezas da fé e

— 517 —
78 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

a seguranga que esta transmite; nao deve fugir ao rcconheci-


mento de que há ra Igreja elementos estáveis; nao deve rejei-
tar o exercicio da autoridade, que nao é autoritarismo '. Nao
se deve importar com o apelido de «conservador» ou «neocon-
servador» que lhe queiram impingir, pois a verdade é algo que
realmente se conserva; sem dúvida, conserva-se com sua vida
e sua capacidade de adaptacáo... capacidade de assumir novas
e novas facetas, sem, porém, se trair ou desdizer. Certamente
é preciso ter coragem para nao se deixar abalar por cognomes
depreciadvos; tal é a coragem da coeréncia, do brio e da
virilidade.

As críticas que o Pe. Libánio formula contra a identidade


«Vaticano II», referem-se a exageras cometidos na Igreja. Nao
invalidam, pois, o cultivo dessa imagem, de mais a mais que
é a imagem proposta pelo magisterio.

De modo especial, a Igreja do Vaticano II é solícita pelos


pobres e pela justica social; ela possui numerosos documentos
pontificios que constituem a Doutrina Social da Igroja. Esta
nao é mencionada urna só vez por J. B. Libánio; há quem a
considere «ultrapassada» e ineficiente o que é injusto. Tal
doutrina vem a ser certamente multo mais fecunda do que as
teorías revolucionarias ciue pela violencia pretendem resolver
a questáo social; com efeito, a violencia gera a violencia; os
violentos que conquistam o poder, passam a oprimir, como fo-
ram oprimidos pelos adversarios por oles derrubados. — Donde
se vé que, para acudir aos necessitados e cumprir os preceitos
evangélicos da justica e do amor fraterno, nao é necessário
ao fiel católico afastar-se da linha do Concilio do Vaticano II.

É difícil compreender como o autor pode afirmar que a


Tgreja do Vaticano n se recusa ao diálogo com a modernidade,
com a cultura, com a ciencia... (pp. 151s). Quem examina
o organograma da Santa Sé, verifica que ela dispóe de Secre
tariados, Comissóes e varios outros órgáos destinados precisa
mente a estabelecer contato com as diversas instituicóes da
Ciencia e da cultura contemporáneas. A Pontificia Academia
das Ciencias congrega estudiosos de diversas nacionalidades

1 Alias, a autoridade é táo necessária ao homem e á socledade que o


próprlo Pe. Libánio reconhece que os arautos da Teología da Llbertacfio, por.,
mais democráticos que paregam, impóem camufladamente urna autoridade
opressora e pouco honesta (p. 178).

— 518 —
«A VOLTA A GRANDE DISCIPLINA* 79

que, em colaboragáo com colegas nao católicos, estudam os


problemas mais vultosos da atualidade. As viagens do Sumo
Pontífice Joáo Paulo II sao um testemunho da posigáo dialo
gante da Igreja; o mesmo se diga da Ostpolitik (política em
relagáo á Cortina de Ferro) do Vaticano. Em 1982 foi fun
dado o Pontificio Conselho de Cultura... — Nunca se viu a
Igreja táo aberta ao mundo moderno quanto em nossos dias.

2.5. Jesús Cristo e a liberdade

O autor insiste em que Jesús Cristo moslrou profunda


liberdade diante das leis, dos ritos religiosos, dos costumes...
toda vez que entrava em jogo algum bem importante para o
ser humano (cf. p. 153).

Com efeito, Jesús Cristo sabia escalonar os valores, de


modo que afirmava ser o sábado para o homem e nao o homem
para o sábado (cf. Me 2,27). Isto, porém. nao quer dizer que
tenha sido um incentivador da liberdade desenfreada ou do
desrespeito á autoridade legitima. Seria desonesto procurar no
Evangelho pretextos para desafiar a autoridade legítimamente
constituida. Sao Paulo, o discípulo que melhor compreendeu o
espirito de Cristo, dizia muito enfáticamente: «Para aqueles que
vivem sem a lei, fiz-me como se vivesse sem a Lei — aínda que
nao viva sem a lei de Deus, pois estou sob a lei de Cristo...»
(ICor 9,21). O criátáo está sob urna lei.que nao lhe é notifi
cada únicamente por criterios subjetivos, mas lhe vem anun
ciada por instancias objetivas ou pela Igreja; por isto o Apos
tólo excomungou os libertinos que nao quiseram subordinar-se
á lei de Cristo; cf. ICor 5,3-5; 2Cor 2,5-11; lTm 1,20; Tt 3,10.

A quarta via apontada e preferida por Libánio apoia-se


muito na acáo inspiradora do Espirito Santo: «Esta quarta posi-
cáo trabalha teológicamente a presenta do Espirito Santo
Vé nele o dom que Jesús Ressuscitado deu á Igreja para cons-
titui-la comunidade ao longo da historia. Ele, com sua pre-
senca, inspira criativamente seus membros, dá-lhes percepgáo
dos sinais dos tempos, sugere-lhes formas novas de respostas,
desperta-lhes iniciativas inéditas, com a mesma liberdade que
o fizera no inicio do Cristianismo» (p. 164).

Estes dizeres contém verdades, mas podem ser mal inter


pretados. O Espirito Santo que anima os fiéis e os move a
novas iniciativas, só o faz dentro da comunháo da Igreja ou
— 519 —
80 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS-* 277/1984

de modo a construir a única Igreja, que é jurídica e carismá-


tica ao mesmo tempo. Todo verdadeiro carisma corrobora o
amor e a unidade dentro da Igreja. De resto, assevera o Con
cilio do Vaticano II que os carismas estáo sujeitos á aprecia-
Cáo da hierarquia; é esta quem, em última instancia, distingue
os auténticos e os falsos carismas (cf. «Lumen Gentium» n* 12;
«Apostolicam Actuositatem» n9 3).

O recurso á inspiracáo do Espirito Santo pode ser um arti


ficio subjetivo para que alguém se subtraia á verdadeira comu-
nháo com a Igreja. Tal inspiragáo pode ser ilusoria; é fácil
admiti-Ia, mas é difícil provar a sua genuinidade. Geralmente
a acáo do Espirito Santo é credenciada por sinais objetivos,
reconhecíveis por todos os interessados; a estrutura sacramen
tal da Igreja o postula. Os santos souberam usar os seus caris-
mas sem quebrar a unidade da Igreja (entre outros, Sao Fran
cisco de Assis...).

A primazia da ortopraxis da libertagáo sobre a ortodoxia


(cf. p. 161) é de cunho marxista. Na verdade, foi Karl Marx
quem estabeleceu esta tese; derroga ao caráter primacial e
orientador da verdde, que é assim menosprezada. Tal posicáo
nao é crista. O Cristianismo afirma o primado da verdade sobre
a praxis moral ou sobre a Ética; é da ortodoxia que o cristáo
deduz as normas do seu comportamento ético, político e social,
e nao vice-versa.

Aínda muitos reparos se poderiam fazer á obra de Libánio.


Á p. 175, por exemplo, parece identificar o natural e o sobre
natural — o que é grave e contradiz á definicáo de alguns Con
cilios do passado.

Em síntese, o livro é ambiguo e tendente a caricaturar;


ademáis é insuficiente ao propor sua problemática, pois nao
leva na devida conta a funcáo da Igreja oficial e do seu magis
terio, magisterio este que decorre lógicamente do fato de que
Deus quer falar aos homens por meio de homens que Ele
credencia.

— 520 —
Em Medjugorje (lugoslávia):

Aparkoes de Nossa Senhora?

Em síntese: As propaladas aparicdes de Nossa Senhora em Medju


gorje na lugoslávia tém suscitado grande afluencia de fiéis áquele local,
com beneficios de ordem espiritual ou afervoramento do povo de Deus e
notáveis conversoes. As autoridades governamentais socialistas da lugoslávia
tém empreendldo campanhas hostis contra os clérigos e cristaos leigos que
reallzam celebracdes devotas na paróquia de Medjugorje.

Diante dos fatos, o Sr. Bispo de Mostar-Duvno nomeou urna Comissáo


encarregada de esclarecer as ocorréncias. Tal Comissáo pediu sejam mais
atentamente estudados alguns pontos. Entrementes sugeriu que se evitem
atitudes e gestos que precipitadamente formem a opinifio pública. Nao há
proibicáo de procurar o local indicado para orar, cantar, ouvir a Palavra de
Deus, promover a edificacao dos fiéis e a conversao das pessoas afastadas
da fé. Os auténticos frutos espirituais que se colhem em Medjugorje sao
motivo de alegria e respeito para toda a comunidade católica.

Tém-se difundido no Brasil noticias a respeito t!e apari


góes de Nossa Senhora em Medjugorje na lugoslávia, ou seja,
em pleno país comunista. O noticiario parece provir de fontes
fidedignas; é o que tem suscitado, em varios leitores de PR,
o desejo de melhores informagóes.

Em vista deste anseio, publicamos abaixo: 1) um trecho


de livro que narra a origem das aparigóes; 2) urna crónica
referente a reagáo do Covemo iugoslavo e á tenacidade dos
fiéis; 3) urna nota extraída do jornal «L'OSSERVATORE
ROMANO» sobre a atitude da autoridade diocesana compe
tente.

I. A ORIGEM DOS ACONTECÍA/VENTOS

«Na tarde de 24 de junho de 1981, sobre a colina de Podbrdo,


que faz parte da Serra de Crnica, em Bijabovici, aldeia que integra
a paróquia de Medjugorje, urna figura vestida de cinzento, com um

— 521 —
82 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS;' 277/1984

véu bronco sobre a cabeca, apareceu a seis ¡ovens, elevada ácima da


térra. Nos dias seguinles, pelo fim da tarde, os ¡ovens voltaram á
colina e a Senhora continuou a aparecer e a falar-lhes. A Virgem
falava de paz e pedia-lhes que rezassem e fizessem penitencia em
prol da paz no mundo; comungassem com freqüéncia e tivessem abso
luta confianca em Deus. Logo a noticia dos acontecimientos se pro-
pagou pela regido e urna densa multidáo ccmecou a reunir-se sobre
a colina para rezar, na expectativa de que a Virgem aparecessc aos
seis ¡ovens.

Registraram-se também alguns miiagres: um cegó recuperou a


vista; um rapaz paralitico pode andar normalmente; muitos doentes
Mvera ni a saúde restaurada e varias pessoas que esíavam em litigio
ou aversao entre si encontraran! o caminho da reconciliacao. Mas o
maior milagre foi este: despcrtou-se o senso religioso cm toda a regido
vizinha a Medjugorje; a oragao se tornou muito mais fervorosa; foi
restabelecida a observancia dos preceitos religiosos e deu-se grande
importancia á prática severa do jejum a pao e agua.

As autoridades comunistas locáis, que tém sede na vizinha cidade


de Citluk, comecaram a alarmar-se, principalmente porque também
outros muitos ¡ovens se habituaran) a subir á colina todas as tardes
para orar e recitar o rosario. Foram inúteis os esforcos do Governo
para promover espetácuios e diversóes para a ¡uventude do lugar;
embora fossem organizados sob os auspicios das autoridades locáis,
sessóes de cinema e baile íoram deixados de lado. Os ¡ovens pre-
feriam subir a colina.

Em breve o Governo ¡ulgou-se obrigado a tomar serias medidas


repressivas. Antes do mais, foi proibido aos veículos entrar em
Medjugorje no fim da tarde. A policio local também comunicou ao
pároco que era vedada quaiqusr reunido de caráter religioso fora do
recinto da igreja: devia cessar, portanto, a oragao ao ar livre sobre
a colina, ficando as preces circunscritas ao interior da igreja paroquial.
Temos o melhor Governo comunista do mundo, disse um frade fran
ciscano, sorrindo: aconselha á nossa gente que vá á ¡groja para rezar!
Os seis ¡ovens, aos quais a Virgem continuava a aparecer, foram presos,
levados ao próximo posto de Policio, onde receberam duro tratamento
e o conselho de retratarem tudo quanto haviam dito. Somonte após
varias horas de perquisicáo foram postos em liberdade. O pároco foi
intimado a por fim a táo absurdo comportamento religioso da popula-
cao. Mais de cinqüenta pessoas foram detidas e acubadas de estar
implicadas em quanto se ¡a desenvolvendo em Medjugorje. Algumas ""
acabaram por ser condenadas a penas de prisdo-

— 522 —
MEDJUGORJE: APARIQÓES DE N. SENHORA? J83

A imprensa comunista deu grande publicidade a tais aconteci-


mentos, referindo os íatos de maneira sectaria e desfigurando-os;
rotulou os frades franciscanos e as freirás locáis de «separatistas»,
vinculados a um grupo de extrema direita nazi-fascista, conhecido pelo
nome de «Movimento dos Ustascia». Este Movimiento se empenha por
obter a independencia da Croacia, recorrendo á violencia; ... a sua
mais recente facanha foi o desvio de rota de um aviao. Um jornal
nacional mostrou em mánchete a Virgem SS. vestida como terrorista,
com um facao entre os dentes, aparecendo a meninos; em baixo de
üa: Eis a verdadeira face da Virgem.

Tais ataques da imprensa, assim como as acusacoes de subversao


e de terrorismo, chamaram a atencáo de quase todo o país para
Medjugorje, em escala tal que a ¡mprensa católica nunca teria atingido.
As aparigSes continuam, disse o Pe. Tomislav em 1983; a Virgem
continua a aparecer e a falar aos seis jovens, mesmo quando nao
esláo todos juntos. Ela doravante faz parte da vida de cada um
deles» (extraído e traduzido do livro «María Regina della Pace» da
autoria de Ir. Lucy Rooney SND e Pe. Robert Faracy S.J. Milüo 1984,
pp. 12-15}.

II. MEDJUGORJE: UMA POSSÍVEL LOURDES


IUGOSLAVA?

«Foi no clima envenenado pela polémica do Partido Comunista


que, a partir de junho de 1981, surgiram noticias referentes á aparicao
da Máe de Deus na paróquia de Medjugorje {Karst, Herzegovínia),
no arcebispado de Mostar. Maria teria aparecido a al jumas cianeas
como 'Rainha da Paz'. Embora a Igreja nao se tenha pronunciado a
respeito, milhares de pessoas logo afluiram todos os dias áquele lugar;
isto incomodou de modo especial as autoridades comunistas, pois
durante a guerra 2.500 pessoas foiam assassinadas por partidarios
de Tito ñas proximidades daquele local. Quanto mais a Igreja guar-
dava silencio, tanto mais os funcionarios do Partido e os ¡ornalistas
da imprensa oficial eram virulentos quando jatacavam os dois francis
canos que atendem á paróquia de Medjugorje (comuna de Citluk)
e quando falavam das 'invencoes desses nacionalistas do clero'.

Somente no día lo de agosto de 1981 o maior jornal católico de


língua croata de Zagreb «Glas Koncila» publicou urna declarando do
bispo de Mostar, Pavao Zanic, na qual observava o seguinte:

— 523 —
«i «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

'É certo que ninguém na Igreja sugestiona as enancas para que


dígam mentiras. Até o presente ao menos, tudo parece indicar que
as enancas nao mentem. Mas fica a pergunta mais difícil: trata-se de
experiencia vivida subjetivamente pelas enancas ou de algo de
sobrenatural?

Quando os ¡udeus quiseram reduzir ao silencio os Apostólos,


Gamalief, esse doutor da Lei sabio e ponderado, disse ao Sinedrio,'
como nos refere o livro dos Atos: Vos nao conseguiréis extingui-lo. . .'
(At 5,38s). Nos abracamos este ponto de vista'.

Entrementes, a polémica continuava na imprensa oficial. O jornal


Vecernjilist de Zagreb publicou um artigo de R. Hamzic e i. K.aljevic
intitulado «A Mae de Deus, escudo dos inimigos». Os articulistas re-
feriam que a Alianca socialista de Ljubuski havia refletido sobre as
aparicóes: 'Nos lugares da pretensa aparicáo da Mae de Deus, viam-se
jovens bem organizados que entoavam cancóes e que se exprimiam
em palavras hostis. Já vemos mais claramente donde sopra o vento'.

Os artigos da imprensa contra os peregrinos de Med¡ugor¡e sao


muitos. Aqui só podemos citar alguns exemplos. Na sua tendencia
anti-religiosa, sao too significativos que merecerían) constituir
documentando «specifica. Eis o que escreve Mensur Osmovic em dois
artigos publicados aos 13 e 14 de setembro no Vecerje novosti de Bel
grado: 'Foi a Igreja que lancou a historia da Mae de Deus... Os
inimigos do nosso país, mascarados debaixo de tongas botinas pretas,
atrairam dezenas e centenas de milhares de fiéis honestos a Medjugorje
na Herzegovina. Estao jogando perigosamente com os sentimentos
religiosos». Fra Jozo Zovko, que fora encarcerado, era novamente
atacado.

O autor, é verdade, verifica que reina calma provisoria em


Medjugor¡e, mas que se reunem sempre 10.000 pessoas para os Oficios
religiosos. O Bispo Zanic e aqueles que pensam como ele em todos
os recantos do país, nao háo de renunciar aos seus intentos, conforme
o ¡ornalista. 'Em Citluk e nessas aldeias, n3o se registraram manifesta-
coes abertamente hostis nestes últimos días..., mas há bom número
de provocacoes. Os inimigos, que querem passar por crentes, Ira'.eni
pequeñas correntes com urna grande cruz pendente ao pescoco.
Trazem-na assim, para que todos a vejam fora dos seus pull-overs de
pescoco alto. Alguns caminhavam descalcos e certos grupos cantavam
hinos religiosos passando diante da casa do butgomestre'.

Aos 19 de agosto, Oslobodjenje publicou um artigo intitulado


«Condenacao enérgica dos elementos nacionalistas clericais de Citluk», '
artigo em .que o autor, M. Karabeg, com parava os dois franciscanos

— 524 —
MEDJUGQRJE: APARICOES DE X. SENHORA? 85

Zovko e Vla-úc a vampiros. No suplemento ao mesmo jornal, Mirko


Sogolj atacava principalmente Fra Jozo Zovko em tom detestável,
interpretando mal as suas pregacóes, e afirmava de novo que os
érenles que iam a Medjugor¡e, levados por nacionalistas clericais, nao
viam a Mae de Deus, mas únicamente os símbolos e as palavrás de
ordem hostis ao Governo- Como exemplo dessas palavrás de ordem,
citavam a ¡nscricao «Mae de Deus, salva o povo croata».

Entrementes alguns funcionarios do Servico Secreto de Mostar


realizaram urna perquisicao no dia 17 de agosto as 7h 30 min da
manha na casa paroquial e na igreja de Medjugorje, e levaram Freí
Jozo Zovko e Frei Ferdo Vlasic, também redator do jornal Nasa
Ognista. Os ¡ornáis Vjesnik e Vecernji list, aos 21 de agosto, noticiaram
que Frei Ferdo Vlasic fora condenado a 60 dias de prísao, porque
nao executara as ordens dos agentes da milicia aos 12 de agosto.

Aos 14 de setembro de 1931, Frei Jozo Zovko foi levado ao


tribunal da circunscricao de Mostar. Segundo a acusacao
K¡ 79/81 —, ele, como sacerdote e membro do clero da paróquia de
Med¡ugor¡e da comuna de Citluk, finha aproveitado da sua funcao de
clérigo nos sermoes que pronunciara aos 11 de ¡ulho de 1981 perantc
grande número de fiéis, para afirmar que «quarenta anos de escravidao
ñas trevas e r,a miseria eram suficientes»; assim a ludia abertamente ao
40? aniversario da revolta das norsas populaeoes e dos nossos grupos
étnicos contra os ocupantes e os traidores do país. Além disto, de 7
a 13 de agosto, ele teña repetidamente exortado os fiéis ñas suas
homilías a derramar o sangue pela fé católica e a pedir a Deus susci-
tasse um povo cristao capaz de se emancipar das trevas e do medo.
Glas Koncila assinalava que um oficial de justica propusera que se
pedisse a colaboracáo de um teólogo perito para se poder ¡ulgar o
conteúdo bíblico das pregoedes e se poder averiguar se se tratava de
decbracoes bíblicas ou políticas. Esta solicitacao nao foi atendida.

Pouco depois, prenderam também Frei Jozo Krizic, que fora


ordenado sacerdote poucos anos antes. Aos 22 de outubro, Frei Jozo
Jovko foi condenado a tres anos e meío de prisao por 'propaganda
hostil'.

Acusavam-no de ter citado em suas pregacoes passagerts da


Biblia que excitavam o povo. Ainda pouco depois, Ferdo Vlasic foi
condenado a oíto anos e Jozo Krizic a cinco anos e meio de cárcere.

Em abril de 1982, fez-se urna revisao do procesto de Jozo Krizic


e de Ferdo Vlasic, que resultou em reducáo das penas a dois anos e
meio e cinco anos e meio respectivamente. Mas todos os títulos de

— 525 —
8G ■«PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

acusando foram sustentados. Além disto, sabe-se que foram recusados


aos padres todos os livros religiosos, até mesmo o Breviario e o Missal,
que eles queriam ter consigo no cárcere.

Todas essas medidas, porém, aírairam mais peregrinos a Medju-


gorje. De junho a meados de oulubro de 1981, ¡ulga-se que houve
mais de meio milháo de pessoas na regido de Karst e que mais de
100.000 receberam o sacramento da Penitencia na pequeña paróquia,
que conta apenas 3.000 fiéis católicos. Desde 1981 este número
duplicou-se. Os adversarios nada poupom para dificultar esse afluxo
de peregrinos, como prova a agressao noturna realizada no comeco
de maio de 1982 na ¡greja paroquial de Medjugorje- Destruiram nao
somente estatuas e seus pedestab, mas também o sacrário. Tres cibo
rios foram roubados e as hostias consogradas foram espolhadas no
chao fora da ¡groja. O culto de expiacao por esse sacrilegio foi cicom-
panhado por mcior número de fiéis do que de costume.

A participacao dos fiéis na celebracao do primeiro aniversario


das aparicoes foi particularmente impressionante. Os primeiros pere
grinos chegaram no dia 23 de junho, dos recantos mais afastados da
lugoslávia, e também da Italia, da Austria, da Alemanha, da Suicja.
Após a Missa da larde de 24 de junho, muitos fiéis passaram a noite
inteira na ¡greja ou rezaram e cantaram perlo da igreja. Até a manha,
o número de pessoas que rezavam nao deixou de aumentar, pois os
peregrinos chegavam a pé de diversos lugares. Multas pessoas haviam
caminhado em grupos durante o dia inteiro sob um sol tórrido. Foram
vistos também trinta ónibus com placas que assinalavam procedencias
muito distantes. Os sacerdotes e as Irmas da paróquia rezaram durante
mais de 24 horas com a multidao; mais de cem padres atenderam as
confissóes durante o dia inteiro. Ainda que isto nao estivesse pre
visto — pois ninguém contava com tal afluxo de peregrinos —, militas
Missas foram celebradas em croata, italiano e slovénio. No oficio
religioso da sexta-feira as 18 horas, havia 50.000 pessoas. No total,
foram distribuidas 16.000 comunhoes.

Para celebrar o segundo aniversario das aparicoes, em 24 e 25


de junho de 1983, mais de 00.000 peregrinos foram a Medjurgorje.
Muitos chegaram a pé, mas numerosos peregrinos serviram-se de
ónibus ou carro particular provenientes de toda a lugoslávia e do
estrangeiro. Perto de cem sacerdotes, dos quais sessenta francisca
nos e dez estrangeiros, revezaram-se para atender ás confissóes no
decurso das 24 horas do dia. Durante o Ano Santo da Redencáo
proclamado por Joño Paulo II, o número de peregrinos aumentou
sensivelmente, assim como a freqüentacáo dos sacramentos» (ex-,
traído e Iraduzido da revista «Chrétiens de l'Est. Faits et témoignages»
n' 41, 1984, pp. 43-46).

— 526 —
MEDJUGORJE: APARICOES DE N. SEXHORA? 87

III. UMA NOTA DA AUTORIDADE DIOCESANA


«Sua Excelencia Reverendísimo Monsenhor Pavao Zanic, bispo
de Mostar-Duvno exprimiu o desejo de que :e¡am publicadas as con-
clusoes as quais chegoo o Comissao por ele instituida para examinar
os acontecimentos que, há tres anos, vao ocorrendo na paróquia de
Med¡ugor¡e. Essa Comissao, após reuniao plenária em Mostar nos
dias 23 e 24 de marco de 1983, redígiu um Comunicado.

Nessa Declaracáo está dito que a Conissao, constituida inicial-


mente por quatro membros, foi posteriormente acrescida, chegando
a contar vinte pessoas; entre estas, havia eclesiásticos escolhidos
entre os peritos em Teologia das diversas Faculdades de Teología
da Croacia e da Slovénia, como também representantes da área
médica.

Após ter examinado atentamente o desenrolar dos aconfecimen-


tos, essa Comissao ampia definiu os principáis pontos que, segundo
os peritos, precisam de ser esclarecidos, e, em particular, formulou
as indicacóes seguintes:

— Seria desejável que os meios de ccmunicacao de índole reli


giosa deixassem de se ocupar com tais eventos, ao menos enquanto
a Autoridade competente nao proferir um ¡uízo; caso, porém, divul-
guem noticias a respeito, facam-no com prudénoa e de maneira
responsável:

— A Comissao nao pode aprovar o fato de que sacerdotes e


leigos organizem peregrinacoes a Medjugorje; também nao aprova
que se estimulem os videntes a aparecer em público ñas igrejas
antes que o Autoridade profira um ¡uízo sobre a autenticidade das
aparicoes. A tal propósito, a Comissao cita a medida modelar to
mada por S. Eminencia o Cardeal Franjo Kuharic aos 14 de Janeiro
de 1984, que proibiu aos videntes falar e aparecer em público ñas
¡grejas da arquidiocese de Zagreb, enquanto nao tiver sido pronun
ciado um ¡uízo da Igreja a respeito dos acontecimentos.

— A Comissao pediu aos videntes e aos sacerdotes de Medju-


gorje que nao facam declaracoes sobre o conteúdo das visóes ou
sobre as curas tidas como milagrosas.

— A Comissao reconhece que os ¡ovens em foco devem ser


orientados em direcao espiritual pelos seus sacerdotes, mas deseja,
ao mesmo tempo, que, na celébratelo da Liturgia de Medjugorje,
nao se faca distincáo alguma entre os videntes e os outros fiéis
(«L'Osservatore Romano», ed. francesa 24/07/84, p. 2).

— 527 —
88 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

Deste texto pode-se depreender o seguinte:

1) Ainda nao há pronunciamento oficial da Igreja a res-


peito da autenticidade das apariqóes em foco. O assunto vai
sendo estudado cautelosamente, visto que se tém registrado
nos últimos decenios casos de «aparicóes» comprovadamente
ilusorias.

2) Entrementes a Autoridade eclesiástica local dcseja que


se evitem atitudes e gestos que precipitadamente formem a
opiniüo pública.

3) Nao há proibigño de procurar o local das presumidas


aparicóes para orar, cantar, ouvir a Palavra de Deus o pro
mover a edificacáo dos fiéis e a conversáo das pessoas afasta-
das da fé. Os auténticos fnatos espirituais que se colhem em
Medjugorje sao motivo de alegría e reverencia para toda a
comunidade católica.

Aguardemos, pois, com rcspeito pelos fatos e pela Autori


dade competente, urna palavra esclarecedora...

Estéváo Bettencourt O.S.B.

livros em estante
Por dever ou por prazer? por A. Pté. Traducáo de Jean Briant. Colecáo
"Pesquisa e Projeto" rfi 3. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1984, 140 x 210 mtn,
107 pp.

O Pe. Alberto Pié rejeita a Moral que procura sua motivacao exclusiva
mente no dever, na lei ou no medo; este tipo de Moral gera a neurose, afirma
o autor, e tem suas ralzes nos sécuios XIV e XV. Ela é hoje vivida "na
sociedade do Ocidente neurótica esquizofrénica com síntomas próximos da
paranoia e da neurose obsessiva" (p. 6). Em oposigáo, Pié propoe a Moral
do prazer: "todo homem procura a felicidade, o prazer de vi ver...; a Moral
tem por finalidade humanizar e evangelizar esse desejo do prazer, motor
do agir humano" (4? capa).

O livro se inspira fortemente ern principios de Sigmund Freud. O autor


julga que também os escritos do Novo Testamento e da Tradicáo crista mais
antiga corroboram sua tese. Está claro que nao preconiza qualquer prazer
como motivo do agir moral, mas táo somente o prazer associado á prática
da virtude: "O homem temperante nao foge dos prazeres que Ihe sao

— 528 —
LIVROS EM ESTANTE 89

convenientes; ele os procura, mas (oge dos prazeres do homem intempe


rante" (p. 2241. "Se o prazer pode preencher a funcáo da regra moral, só
pode tratar-se do prazer do agir bem no sentido aristotélico. Trata-se do
prazer do homem virtuoso, isto é, do prazer que remata a coroa as atividades
próprias do homem"' (p. 224).

Que dizer? — O livro de Pié corresponde bem á tendencia hedonista


que marca a sociedade contemporánea, muito influenciada pela filosofía de
Freud. Cabe-lhe o mérito de dissipar o conceito de vida crista amedrontada
e sufocada pela leí e suas sancóes: a vida crista, sem dúvida, reconhece a
necessidadc e o valor dos preceitos moráis, mas nao é levada a cumpri-ios
pelo medo ou pelas ameacas apenas, e sim preponderaniemente pelo amor
ao oetn; este é apio a gerar alegria, dilatando o coracáo do cristáo que se
entrega generosamente a prática das virtudes.

Todavía urna seria reserva paira sobre a tese do livro: parece ignorar
o valor ao sacrificio abracado espontánea e voluntariamente a título de
mortificacáo das paixóes e punücacáo do homem interior; o jejum, a
abstinencia, as mortificagóes corporais e espirituais... que nao geram
prazfcr do ponto de vista meramente natural, que sentido teriam nesse con-
iex¡o? Vercade é que muitas pessoas hoje nao entendem mais o valor da
mortiücagáo corporal. Cra nisto ha uma aisiorgáo do conceito de vida
crista: a penitencia corporal é ¡ndíspensável á prática da virtude, pois sem
ela é lalso crer que aiguem se possa liDerlar das paixóes desregradas; toda
a mensagem oiblica e a Tradijeo crista incutem eloqüentemente a prálica
da moitincacáo corporal. — E, pois, corn restricóes que consideramos a
obra de Pie: ao lado de belas páginas e dum interessante percurso da
historia da Moral, incute concepgóes que podem desvirtuar a auténtica face
da vida crista.

Nossos Pais nos Conlaram. Nova Leitura da Historia Sagrada, por


Marcelo de Barros Souza. — Ed. Vozes, Petrópolis 1984, 137 x 210 mm,
422 pp.

O Pe. Marcelo de Barros Souza é beneditino, Diretor da Escola de


Evangelho da diocese de Goiás e Assessor de Teología do Secretariado
Nacional da Comissáo Pastoral da Térra.

O livro em foco é uma re-leitura (re-interpretacáo) da historia sagrada


dentro da ótica aa 'teología da Liaertagao. loda a historia oo /Mitigo
i estamento é considerada como historia de um povo oprimido económica
e politicamente por outros povos, que tenae a se lioertar, mas nem sempre
e reiiz na realizado desse projeio; incide, por exemplo, na tentacáo de
instituir um reí, que o governa e torna a oprimir, i al maneira de considerar
0 texto sagraao quer aizer que a mensagem bíblica e distorcida; e isto
a varios mulos: 11 o conceito de Messias, dominante em todo o Antigo
1 estamento, e muiio pálido nesse contexto; 2) a acáo de Oeus que íoi
educando o seu povo na fé e na esperanca para receber o Messias, é
silenciada; diz mesmo o autor que "tuoo virou uma coisa só... üuanoo a
Biblia diz: 'Deus lez, Deus talou', esta dizenoo também, ao mesmo tempo:

'O povo fez, o povo falou'" (p. 14); 3) as passagens mais antigás da
Biblia sao totalmente deturpadas: a historia do pecado original é entendida
como historia de uma disputa em demanda do poder (pp. 23-26), a historia
de Caim e Abel vem a ser "provavelmente o comentario do desentendimento

— 529 —
90 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS 277/1934

entre o povo da roga (Israel) e o povo da cidade (cananeus)" (pp. 27-29);


4) a historia dos episodios referentes aos Patriarcas parece um conjunto
de historietas cuja autenticidade poderia ser posta em dúvida; 5) para
desenvolver seus pontos de vista, o autor é confuso e cede a anacronismos
(cf. pp. 13-16).

Em sintese, o livro carece de valor científico e objetivo, pois despreza


as normas da exegese seria; parte de preconceitos, que o autor quer de-
duzir artificialmente do texto sagrado. Pode-se mesmo dizer que deturpa
a mensagem biblica e nao respeita certos dados integrantes do Credo
católico; assim a historia do pecado original é falsamente explicada, sem
respeito dos termos da fé (elevagáo do homem á justica orginal, queda por
soberba, transmissáo aos pósteros...).

É de lamentar nao somente a publicacáo de tal livro, mas também o


(a¡o de que se destina ao povo simples (cuja linguagem o autor sabe
reproduzir); tal povo simples é defraudado e empobrecido a novo titulo,
porque até mesmo os valores supremos, que s3o os da auténtica mensagem
biblica, Ihe sao sonegados; e isto sem que tal público, simples como é,
tenna meios de se defender!

A Biblia como memoria dos pobres, por Carlos Mesters, Pablo Richard,
Milton Schwantes, Alberto Antoniazzi. Colecao "Estudos Bíblicos" n? 1 —
Ed. Vozes, Petrópolis, 1984, 160 X 230 mm, 66 pp.

A "Revista Eclesiástica Brasileira", a partir do prlmeiro número de 1984,


está publicando, em apéndice, fascículos intitulados "Cadernos Bíblicos",
que podem ser vendidos separadamente. O prlmeiro, ácima apresentado,
encerra quatro artigos, que representam a Teologia da Libertacao aplicada
á leitura da Biblia: os criterios sócio-económicos sao decisivos na maneira
como os autores encaram o texto sagrado. De modo especial, é privilegiado
o pobre, entendido como classe social. Diz, por exemplo, Pablo Richard:
"Os pobres sao o autor humano da Biblia e sao eles, em última instancia,
que tém a chave da sua Interpretacáo" (p. 20).

A propósito pode-se observar: sem dúvida, os pobres, se tém fé


religiosa, sao freqüentemente guiados pelo Espirito Santo para intuir certas
verdades da fe e interpretar passagens da Biblia; diz o Senhor que "aqueles
que tém o coracao puro, ve rao a Deus" (Mt 5,8). Mas a Biblia é um livro
escrito em Ifnguas antigás, assaz diferentes do portugués; supóe a geografía,
a historia e a mentalidade dos homens desde o século XIX a.C. até o
sáculo I d.C. Por isto é indispensável, para entendé-la bem, urna certa
iniciagao científica, a fim de que o leitor possa, através da letra do texto
devidamente compreendida, perceber a mensagem teológica do mesmo. Se
nño existe essa iniciagao científica, o leltor pode interpretar o texto segundo
criterios subjetivos e fantasiosos, decorrentes de um fervor mal iluminado.
É o que se dá, por exemplo, com os fundadores de seitas e outros cristáos,
que julgam poder depreender da Biblia a data do fim do mundo, as catás
trofes que o precederáo, a existencia de discos voadores, de habitantes em
outros planetas e outras noticias "proféticas"... Sendo assim, retificaria-
mos a proposigSo de Pablo Richard: aquele que tem o coracao de pobre
(independentemente de classe social ou categoría cultural), tem condlcóes
positivas para interpretar a Biblia; mas mesmo assim tal pobre necessita de
urna iniciagao científica (ainda que modesta) na Biblia (como qualquer
leitor necessita de urna iniciagao científica para ier adequadamente as obras
de Luís de CamSes).

— 530 _
LIVROS KM ESTANTE 01

Os nossos Modelos e Patronos, por Arlindo Ruberl. — Ed. Pallotti,


Santa María 1984, 156 x 227 mm, 312 pp.

O Pe. Arlindo Rubert já se tomou conhecido historiador entre nos


pelos seus dois volumes de Historia da Igrc-ja no Brasil, muito apreciados
pela crítica. Acaba de publicar outra obra histórica, que versa sobre os
párocos falecidos em fama de santidade desde o século IV até o século XX
na Europa, no Brasil, no Uruguai..., pertenccntes principalmente ao clero
diocesano (que se dedica prioritariamente ao ministerio paroquial), sem
exolusáo, porém, de figuras notáveis do clero regular.

O autor aprésenla 228 heróis do trabalho paroquial: descreve sumaria


mente a vida de cada um, valendo-se dos poucos ou muitos dados que a
respe ito de cada qual se possam encontrar; a pos o qué propóe uma reflexao
e uma oragáo. A obra se abre com algumas noticias importantes sobre a
origem das paróquias, a designado dos respectivos titulares, o sentido de
Beatüicacáo e Canonizagáo...

O Irabalho do Pe. Arlindo Flubert resulta nao só de minucioso e paciente


pesquisa ds arquivos, mas tambóm de grande amor ao ministerio sacerdotal
o a S. Igreja; é precisamente este amor, iluminado pela sabedoria das coisas
de Deus, que o livro em foco transmite ao leilor.

E. B.

CARTA DE LEITOK

Trilogía Analítica: A Dra. Claudia Bernhardt Pacheco,


Vice-Presidente da SITA (Sao Paulo) e Secretaria Geral da
ISAT (Nova Iorque), escreve-nos a respeito do artigo publi
cado em PR 273/1984 sobre a Trilogía Analítica. Ás pp. 172s
desse fascículo, há referencias ao fundador da Trilogía, Dr. Nor-
berto Keppe («Depoimentos oráis...), que, conforme a Dra.
Claudia, nao merecem crédito, pois

«Tais afirmacoes provavelmente foram proferidas por doenies


meníais graves, que, alias, abundam numa Clínica de Psicanálise, com
seus respectivos delirios místicos. Vá qualquer um a um sanatorio
psiquiátrico e ouvirá muitas historias semelhantes sem nenhum dos
doentes ter sequer ouvido falar em Norberto R. Keppe ou Trilogía
Analítica».

Registramos tais esclarccimcntos, que agradecemos á


Dra. Claudia Bernhardt Pacheco.

— 531 —
ERGUNTE
e

Responderemos

ÍNDI-CE de 1984
ÍNDICE 1 984

(Os números a direita indicam, respectivamente, fascículo,


ano de edicáo e página)

A
«ABORTO. UM DIREITO DA MULHER SOBRE
O SEU PRÓPRIO CORPO» (livro) .. 274/1984, p. 205.
INDIRETO 274/1984, p. 215.
TERAPÉUTICO 274/1984, p. 214.
«•A DOR SALVÍFICA» — Carta Apostólica de
Joáo Paulo II 277/1984, p. 471.
«A GLORIFICACAO» — de Norberto Keppe ... 273/1984, p. 163.
ALIANCA COM DEUS E FIDELIDADE 276/1984, p. 394.
ANÁFORA OU ORACAO EUCAR1STICA: exi
gencias litúrgicas 274/1984, p. 193.
ANJOS E DEMONIOS: existencia 272/1984, p. 19.
«A OBRA HISTÓRICA DO PE. HOORNAERT»
— de Américo Jacobina Lacombe 275/1984, p. 341.
APARICOES DE MARÍA EM MEDJUGORJE
(IUGOSLAVIA) ? 277/1984, p. 521.
NO BRASIL? 273/1984, p. 144.
«A POBREZA, RIQUEZA DOS POVOS» — de
Albert Tévoédjré 274/1984, p. 219.
«AUTOPERFEICAO COM HATHA YOGA» — de
José Hermógenes de Andrade 273/1984, p. 155.
AVINHAO E PAPADO 275/1984, p. 332.
«A VOLTA A GRANDE DISCIPLINA» — de Joáo
Batista Libanio 277/1984, p. 509.

B
BALTHASAR, H.U. von: celibato e inferno ... 276/1984, p. 436.
BOFF, CLODOVIS: «TEOLOGÍA E PRÁTICA» 276/1984, p. 437.
BOFF, LEONARDO: «ECLESIOGÉNESE» .... 272/1984, p. 36.
BOM SAMARITANO HOJE 277/1984, p. 481.
BOSSA, BENJAMIM: «O DIREITO DE AMAR» 276/1984, p. 368.

c
CANTOS PASTURÁIS: exigencias litúrgicas 274/1984, p. 194.
CAROLINA DE MONACO: casamento dissolvido? 276/1984, p. 434.
CAUSA COM DUPLO EFEITO: que é? 274/1984, p. 215.
CELIBATO SACERDOTAL 276/1984, p. 369 e 436.
CIRILO DE ALEXANDRIA E HIPACIA 274/1984, p. 248.
CLEMENTE DOMÍNGUEZ: antipapa 273/1984, p. 134.
CLERO E CELIBATO: dlscussao 276/1984, p. 369.
CNBB e NORDESTE 276/1984, p. 428.

— 533 —
94 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

COMUNGAR MAIS VEZES POR DÍA 277/1984, p. 504.


COMUNHAO EUCARÍSTICA: exigencias litúrgi
cas 274/1984, p. 193;
FREQÜENTE OU COTIDIANA:
condicóes exigidas 272/1984, p. 61.
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE, e Euca-
caristia 272/1984, p. 36.
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE, segundo
J. Galea 272/1984, p. 73.
CONCILIO DE TRENTO, segundo J. B. Libanio 277/1984, p. 509;
DO VATICANO II, segundo J. B. Li-
b&nio 277/1984, p. 517.
CONFISSAO DOS PECADOS: fundamentacáo .. 273/1984, p. 36.
CONFISSAO PARA COMUNGAR 272/1984, p. 61.
INDIVIDUAL E FREQÜENTE: va
lor 275/1984, p. 294.
CRIACAO OU EVOLUCAO DO MUNDO? 272/1984, p. 18.
CRISTAO E MARXISTA? 276/1984, p. 419
CRISTIANISMO E ESCRAVIDAO 275/1984, p. 241.
CULTO EUCARÍSTICO FORA DA MISSA: nor
mas 277/1984, p. 496.
«CURAS» DO DR. EDSON DE QUEIROZ 273/1984, p. 150.

DECLARACAO ECUMÉNICA SOBRE MARÍA


SANT1SSIMA 273/1984, p. 90.
DEVERES E DIREITOS DE TODOS OS FIÉIS 272/19S4, p. 4.
DIREITO CANÓNICO E LEIGOS 272/19S4, p. 2.
«DIREITO DE AMAR» Uivro), por Benjamim
Bossa 276/1984, p. 368.
DIREITOS DA MULHER E ABORTO 274/1984, p. 205.
DISPOSICOES PARA COMUNGAR DIGNA
MENTE 272/1984, p. 59;
276/1984, p. 366.
DOR SALVÍFICA: Carta de Joáo Paulo II 277/1984, p. 471.
DIVORCIADOS E COMUNHAO EUCARÍSTICA 274/1984, p. 197.
DROGAS E PERMISSIVIDADE 275/1984, p. 290.

«ECLESIOGÉNESE» — Leonardo Boff 272/1984, p. 36.


ECO, UMBERTO: «O NOME DA ROSA» 275/1984, p. 330.
ECOS DE VIAGEM A INDIA — MADRE TE
RESA DE CALCUTA 272/1984, p. 82.
EDUCACAO SEXUAL HOJE: INTRUCAO DA
SANTA SÉ 275/1984, p. 282.
EL PALMAR DE TROYA E GREGORIO XVII 273/1984, p. 133.
«EM NOME DE DEUS> — de David Yallop 276/1984, p. 398.
ESCASSEZ DO CLERO 276/1984, p. 381.
ESCRAVATURA E IGREJA 274/1984, p. 240.
ESPÓRTULAS DE MISSAS: significado 273/1984, p. 125/>
ETERNIDADE, TEMPO E EVO 275/1984, p. 274.
ETIOPIA E PERSEGUICAO RELIGIOSA 272/1984, p. 76.

— 534 —
ÍNDICE 1984 95

EUCARISTÍA: culto devido 274/1984, p. 178;


doutrina católica 273/1984, p. 110;
quem a pode celebrar 272/1984, p. 28.
277/1984, p. 488.
EUTANASIA: doutrina da Igreja 275/1984, p. 320.
EVANGELHO DO SOFRIMENTO: Carta de Joáo
Paulo II 277/1984, p. 479.
EVANGELHOS: crítica dos 276/1984, p. 406.
EVO, TEMPO E ETERNIDADE 275/1984, p. 274.
EX1STENCIALISMO E FIDELIDADE 276/1984, p. 389.

FALSIFICARES NA HISTORIA DA ESCRA-


VATURA 274/1984, p. 243.
FÉ ESTÁ MUDANDO? 279/1984, p. 15.
FIDELIDADE: crise de 276/1984, p. 387.
FILÓSOFA HIPÁCIA TRUCIDADA POR UM
SANTO? 274/1984, p. 248.
FUEUD, SIGMUND, E ANTROPOLOGÍA 276/1984, p. 390.
FRITZ, DR., E EDSON DE QUEIROZ 273/1984, p. 150.

GALEA, JOSÉ* «UMA IGREJA NO POVO E


PELO POVO» 272/1984, p. 66.
GARDENAL, J.M. S.J.: «IMPRESSOES DA
INDIA» 272/1984, p. 82.
GANDHI, MAHATMA E CONFISSAO 273/1984, p. 97.
GENITALIDADE E EDUCACAO SEXUAL 275/1984, p. 283.
«GLORIF1CAQÁO, A» de Norberto Keppe .... 273/1934, p. 163.
GREGORIO XVII: antipapa 273/19á4, p. 137.

H
HATHA YOGA: que é? 273/1984, p. 156.
HERMÚGENES: «AUTOPERFEICÁO COM HA
THA YOGA* 273/1984, p. 155.
HIPÁCIA E S. CIRILO DE ALEXANDRIA 274/1984, p. 248.
HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS 276/1984, p. 406.
HOMOSSEXUALIDADE E EDUCACAO SEXUAL 275/1984, p. 289.
HOORNAERT, E.: obra histórica 275/1984, p. 341.
HUBERTO ROHDEN E EUCARISTÍA 273/1984, p. 108;
DADOS BIOGRÁFICOS .. 274/1984, p. 260.
HUMANISMO SEGUNDO MARX 276/1984, p. 421.

I
I CHING: técnica chinesa 274/1984, p. 230.
IGREJA COMUNHAO DE MEMBROS IGUAIS E
DESIGUAIS 272/1984, p. 3;
E CELEBRACÁO DA EUCARISTÍA
POR LEIGO 272/1984, p. 39;

— 535 —
96 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

É ANTIFEMINISTA? 274/1984, p. 209;


ESTADO E POVO, segundo J. Galea .. 272/1984, p. 69;
E MACONARIA 275/1984, p. 303;
PONTE OU BARREIRA? 272/1984, p. 25.
IMPERIO E PAPADO NO SÉCULO XIV 275/1984, p. 333.
«INAESTIMABILE DONUM»: Instrucáo 277/1984, p. 488.
INFERNO VAZIO? 276/1984, p. 437.
INSTITUICAO DA EUCARISTÍA: os textos bí
blicos 273/1984, p. 114.
INSTRUCAO «POSTQUAM PIUS» 272/1984, p. 60.
INVEJA, TEOMANIA E CONSCIÉNCIA, se
gundo N. Keppe 273/1984, p. 165.
INVERSAO E CONVERSAO, segundo N. Keppe 273/1984, p. 165.
IOGA E AUTOPERFEICAO 273/1984, p. 155.
«ITERU.M^ NO CANON 917 277/1984, p. 504.

JESÚS, DEUS VERDADEIRO 276/1984, p. 408.


O JUDAISMO E A IGREJA 276/1984, p. 411.
RESSUSCITOU VERDADEIRAMENTE . 276/1984, p. 413.
JOAO PAULO I: assassinado? 276/1984, p. 398.
JOAO PAULO II E COMUNHAO EUCARtSTICA 276/1984, p. 366.

K
KEPPE, NORBERTO: «A Glorificagáo» (livro) .. 273/1984, p. 163.

LACOMBE, A.J.: «A Obra Histórica do Padre


Hoornaert» 275/1984, p. 341.
LAPPLE, ALFRED: «Nossa íé está mudando?» 272/1984, p. 15.
LEGALIZACAO DO ABORTO 274/1984, p. 211.
LEGISLACAO SOBRE O CELIBATO 276/1984, p. 375.
LEIGO E O PODER DE CELEBRAR A CEIA
DO SENHOR 272/1984, p. 37;
— quem é 272/1984, p. 8.
LEIGOS NO DIREITO CANÓNICO 272/1984, p. 2.
«LEX ORANDI, LEX CREDENDI» 272/1984, p. 57.
LIBÁNIO, J.B.: «A Volta h Grande Disciplina» 277/1984, p. 509.
LIBERDADE E COMPROMISSO 276/1984, p. 391.
LIBERTACÁO. TEMA CRISTAO 277/1984, p. 459.
LITURGIA: alienado? 272/1984, p. 56.
LITURGIA: INSTRUCAO «INAESTIMABILE
DONUM» (3/04/1980) 277/1984, p.- 588.
TERCEIRA INSTRUCAO (5/09/70) 274/1984, p. 178V)
«LITURGIA E LIBERTACÁO» — de Aldo Van-
nucchi 272/1984, p. 49.

— 536 —
ÍNDICE 1984 97

M
MACONARIA E IGREJA 275/1984, p. 303.
MARÍA SANTÍSSIMA: Declaragáo Ecuménica .. 273/1984, p. 90.
MARTINS, LUCIANO: «Revolucáo na Igreja?» 276/1984, p. 403.
MARXISMO E PERSEGUICÁO RELIGIOOSA .. 272/1984, p. 76;
TEOLOGÍA DA LIBERTACAO 277/1984, p. 453 e 461.
MASTURBACÁO: moralidade 275/1984, p. 289.
MATERIA DA EUCARISTÍA: normas canónicas 277/1984, p. 492.
MATERIALISMO ATEU E VISÁO CRISTA .... 276/1984, p. 419.
MATERNIUADE VIRGINAL DE MARÍA: ver-
dade de fé 272/1984, p. 24.
MATRIMONIO INDISSOLÜVEL E CELIBATO
DISPENSAVEL 273/1984, p. 203.
MEDJUGORJE: aparicóes mañanas? 277/1984, p. 523.
MÉTODOS CIENTÍFICOS NA EXEGESE BÍ
BLICA 276/1984, p. 405.
MINISTERIOS NA IGREJA 272/1984, p. 12.
MINISTRO DA EUCARISTÍA: Instrucáo da
Santa Sé 272/1984, p. 28.
MISSA: normas para celebrado 277/1984, p. 491.
MISSAS e sacrificio do Calvario 273/1984, p. 119.
PELOS DEFUNTOS 273/1984, p. 130.
MISSIONÁRIAS DA CARIDADE 272/1984, p. 84.
MISTERIO DO SOFRIMENTO: Carta de Joao
Paulo II 277/1984, p. 487.
MONISMO E I CHING 274/1984, p. 234.
MONTANHA SANTA E APARICÓES 273/1984, p. 144.

N
ICEGRO E IGREJA 274/1984, p. 240.
«NOSSA FÉ ESTA MUDANDO?» — de Alíred
Lapple 272/1984, p. 15.
«NOME DA ROSA, O», de U. Eco 275/1984, p. 330.
NORDESTE E CNBB 276/1984, p. 428.

«O DÍA SEGUINTE» — filme 274/1984, p. 255.


<tO DIRECTO DE AMAR» — de Benjamim Bossa 276/1984, p. 368.
«O NEGRO E A IGREJA> — de J.E. Martins
Térra, S.J 274/1984, p. 240.
«O NOME DA ROSA» — romance de Umberto
Eco 275/1984, p. 330.
«OPRESSORES E OPRIMIDOS» NA LITURGIA 272/1984, p. 58.
«O QUE É O ABORTO» — por Frente Feminista 275/1984, p. 205.
ORDEM BENEDCTINA NOS SÉCULOS XIV/XV 275/1984, p. 336.

PACIENTE TERMINAL: como tratá-lo 275/1984, p. 315.


PAPADO E RELIGIOSOS NOS SÉCULOS
XIV/XV 275/1984, p. 335.

— 537 —
g8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 277/1984

PAPAS BISPOS E ESCRAVATURA 274/1984, p. 244.


PARAPSICOLOGÍA E «CURAS» MEDIÚNICAS 273/1984, p. 150.
PARTICIPANTES DOS SOFRIMENTOS DE
CRISTO 277/1984, p. 477.
PASTORAL DOS DIVORCIADOS 274/1984, p. 200.
NA IGREJA — pronunciamentos de
Bispos do Brasü 276/1984, p. 427.
PECADO ORIGINAL: exposicáo da doutrlna .. 272/1984, p. 21.
PENITENCIA E VIDA LITÚRGICA 275/1984, p. 297.
«POBRES» DA BIBLIA E «PROLETARIOS»
DE MARX 277/1984, p. 463.
POBRES E LIBERTACÁO 277/1984, p. 443.
POBREZA SIM, MISERIA NAO 274/1984, p. 219.
«PODE UM CRISTAO SER MARXISTA?» — de
Urbano Zules 276/1984, p. 418.
PRINCIPIOS FUNDAMENTÁIS DA MACONA-
RIA 275/1984, p. 308.
PROLETARIADO' NO MARXISMO 277/1984, p. 453.
PROMESSA DA EUCARISTÍA 273/1984, p. 111.
PUEBLA E POBRES 277/1984, p. 454.

Q
«QUAL O SENTIDO REAL DA EUCARISTÍA?»
— de Huberto Ronden 273/1984, p. 108.
QUEIROZ, EDSON DE, É «CURAS» 273/1984, p. 150.
QUEVEDO, ÓSCAR, E «CURAS» 273/1984, p. 152.

R
RATZINGER, J. E MACONARIA 275/1984, p. 304;
E TEOLOGÍA DA LIBERTACAO 276/1984, p. 354.
REEDUCACAO E ACAO PREVENTIVA PARA
OS DROGADOS 275/1984, p. 290.
RELACÓES MATRIMONIÁIS E PRAZER 276/1984, p. 435.
PRÉ-MATRIMONIAIS 275/1984, p. 288.
RELIGIÁO NO MARXISMO 276/1984, p. 420.
RENOVACAO SOCIAL SEGUNDO PUEBLA ... 277/1984, p. 455.
RESSURREICAO CORPORAL DE JESÚS 272/1984, p. 24.
DOS MORTOS 273/1984, p. 154.
LOGO APÓS A MORTE? .... 275/1984, p. 266.
REVELACOES PARTICULARES: ocorréncias .. 273/1984, p. 133;
277/1984, p. 523.
«REVOLUCAO NA IGREJA» — artigo de Lu- <w/,o_,
ciano Martins 276/1984, p. 403.
RIQUEZA E POBREZA, segundo A. Tévoédjré 274/1984, p. 220.
ROHDEN, H.: dados biográficos 2T4/128?> p" ?n2;
questionamento da Eucaristía ... 273/1984, p. 108.

SACERDOCIO E CELIBATO — fundamentacao '>


teológica 276/1984, p. 377.
SACERDOTE E VIDA CONJUGAL 276/1984, p. 381.

— 538 —
ÍNDICE 1984 99

— sinal de bens celestiais 276/1984, p. 378.


SACERDOTES ORDENADOS APÓS CASA
MENTO 276/1984, p. 385.
SENTIDO DA VIDA 275/1984, p. 284.
SERVICO A IGREJA PELOS SACERDOTES .. 276/1984, p. 377.
SEXUALIDADE 275/1984, p. 283.
SOFRIMENTO: sentido e valor 273/1984, p. 471.
E PECADO 277/1984, p. 485.
SOLJDARIEDADE ENTRE OS POVOS 274/1984, p. 277.
SOLIDÁO E CELIBATO 276/1984, p. 380.
SUICIDIO COMO AUTOLIBERTACAO 275/1984, p. 315.

T
TEMPO, ETERNIDADE E EVO 275/1984, p. 275.
TEOLOGÍA DA LIBERTACaO: correntes princi
páis 277/1984, p. 445.
exposicao do Car-
deal Ratzinger . 276/1984, p. 354.
palavra oficial da
Igreja 277/1984, p. 457.
TERCEIRA INSTRUCAO SOBRE A LITURGIA 275/1984, p. 178.
TERESA DE CALCUTA 272/1984, p. 82.
TÉRRA, P.J.E. MARTINS: «O NEGRO E A
IGREJA» 274/1984, p. 240.
TÉVOÉDRJÉ, A.: «A Pobreza, Riqueza dos Po-
vos» (livro) 274/1984, p. 219.
TRANSUBSTANCIACAO: que é? 273/1984, p. 122.
TRENTO: identidade do Concilio de 277/1984, p. 509.
TRILOGÍA ANALÍTICA: exposigáo e crítica ... 273/1984, p. 163.

u
«UMA IGREJA NO POVO E PELO POVO» — de
José Galea 272/1984, p. 66.

V
VATICANO II: sua identidade, segundo J. B. Li-
bánio 277/1984, p. 512.
VERDADE NO MARXISMO 276/1984, p. 423.
VIDA POSTUMA E PURGATORIO 273/1984, p. 125.
VOCACAO AO DOM DE SI MESMO 275/1984, p. 284.
«VOLTA A GRANDE DISCIPLINA», de Joao
Batita Libanio 277/1984, p. 509.
VON BALTHASAR, H.U., Premio Nobel de
Teología 276/1984, p. 436.

Y
YALLOP, DAVID: «EM NOME DE DEUS» 276/1984, p. 398.
YOGA E AUTOPERFEICAO 273/1984, p. 155.

z
ZILLES, URBANO: «PODE UM CRISTAO SER
MARXISTA?» 276/1984, p. 418.

— 539 —
100 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 277/1984

EDITORIAIS

BEBER O CÁLICE DO SENHOR 273/1984, p. 89.


«CAMINHA E CANTA: 'ALELUIA!'» 274/1984, p. 177.
DESCOBERTA DE DEUS 276/1984, p. 353.
«NAO TENHAIS MEDO!» 272/1984, p. 1.
O SENTIDO DA VIDA 275/1984, p. 265.
TEMPO PREMENTE 277/1984, p. 441.

LIVROS APRECIADOS
AGUILAR, Miguel, A Descoberta da Fé. A Des-
coberta do Amor. A desooberta da Graca .. 275/1984, p. 348.
ALONSO, Artur, Reflexoes Pedagógicas — IV —
Luz e Sombras no Devir do Humanismo 275/1984, p. 351.
BATTISTINI, Frei Francisco, María, nosso SIm
a Deus 275/1984, p. 349.
BESANCON, Alain, Anatomía de um Espectro 273/1984, p. 174.
BETTENCOURT, Estéváo, Diálogo Ecuménico.
Temas Controvertidos 275/1984, p. 352.
BOFF, Clodovis. Teología e Prática. Teología do
PoUtico e suas mediacóes 276/1984, p. 437.
CAROTHERS, Capeláo Merlin R., Loovor que
liberta 273/1984, p. 176.
COLA, Silvano, Operarlos da Primeim Hora. Per-
fii úos Padres da Igreja 274/1984, p. 262.
FIGUEIREDO, Fernando Antonio, Curso de Teo
logía Patrística. A vida da Igreja Primitiva
(séculos I e II) 275/1984, p. 349.
GRUEN, W., Pequeño Vocabulario da Biblia ... 276/1984, p. 439.
GILBERT, Pierre, A oracao: eu a reencontrei .. 274/1984, p. 263.
KLOPPENBURG, Frei Boaventura, Pluralismo
Eclesial 275/1984, p. 347.
MESTERS, RICHARD, ANTONIAZZI, .... A Bi
blia como memoria dos pobres 277/1984, p. 530.
MOHANA, JoSo. Escolhidos de Deus 275/1S8Í1 P" 3™
MORACHO, Félix, Na Escola da Fé 272/1984, p. 88.
OLIVEIRA, Ralíy Mendes de, Palavras de Cristo
na Cruz 274/1984, p. 264.
ORDUÑA, R. Ricon e outros, Praxis Crista —
vol I — Moral Fundamental 276/1984, p. 440.
PLÉ, Á., Por Dever ou por Prazer? 277/1984, p. 528.
RUBERT, Arlindo, Os nossos Modelos e Patronos 277/1984, p. 531.
SÁ, Irene Tavares de, A historia, o filirte e vocé
ou O olbo mágico 274/1984, p. 264.
SILVA, Joao Ubaldo da, A Biblia nos une... '
A interpretacáo nos separa 274/1984, p. 263.
SOBRINO, Jon, Cristologia a partir da América
Xatina • 275/1984, p. 346.
SOUZA, Marcelo de Barros, Nossos País nos
contaram. Nova Leltura da Historia Sagrada 277/1984, p. 529.
VARIOS AUTORES, O Deus de Jesús Cristo ... 274/1984, p. 262.
ZEZINHO, Padre, Nos, os Católicos Romanos .. 275/1984, p. 351.

— 540 —
ÍNDICE 1984 101

AMIGO, SE ESTA REVISTA LHE FOI ÚTIL, QUEIRA DIFUNDI-LA.


LEMBRE-SE DE QUE MUITOS SEMEIHANTES SOFREM DE PROBLEMAS
QUE ELES NEM SABEM EQUACIONAR POR FALTA DE DADOS
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DIALOGO ECUMÉNICO — Temas controvertidos, por D. EstévSo Bettencourt.


Em quinze capítulos o Autor considera os principáis pontos da clássica
controversia entre católicos e protestantes, e procura mostrar que a
discussSo no plano teológico perdeu multo de sua razSo de ser, pois
n8o raro versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou pro-
postcdes — CrS 5.000,00.
(Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente
a fé. Nao as obras? 4. O Primado de Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio
e Sacramento, ó. A conlissáo dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As
indulgencias. 9. Maria, Virgem e MSe. 10. Jesús teve irmáos? 11. O
culto dos Santos. 12. As imagens sagradas. 13. Alterado o Decá
logo? 14. Sábado ou Domingo? 15. 666 (Ap 13, 18).
REZEMOS AO SENHOR: Oraches — 2? edicáo. Livro de b.olso, contendo
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