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Seminário de Estudos Avançados

COGNIÇÃO I – FUNDAMENTOS

Discurso e complexidade

Paulo Henrique Aguiar Mendes


PUC Minas
• Definição (provisória) de discurso: toda prática de
linguagem como forma de produção de sentido na
sociedade.

• Uso da linguagem forma de agir

(regras pragmáticas)
lingüísticas + socio-cognitivas

(princípios biológicos)
O discurso como uma categoria
complexa
• Questões:

1.Como analisar a complexidade do


discurso?

2.Como estudar o discurso à luz da teoria


da complexidade?

3. Como explicar a complexidade do


discurso à luz da teoria da
O discurso como um sistema
complexo
• (Cameron/Larsen-Freeman)

• Discurso caráter dialógico (Bakhtin/Volochinov)

• ( “Couple system” )

Sistema múltiplo constituído de vários sistemas


interconectados, a exemplo dos interlocutores
Características do discurso como
sistema complexo
– Heterogêneo (alteridade)
• Dinâmico (fluxo enunciativo)
• Discurso não-linear (processamento em rede)
• aberto (influência recíproca)
• adaptativo (auto-regulação)

• Texto = “estrutura emergente na trajetória do sistema”


• (Cameron/Larsen-Freeman)
Interconectividade entre sistema e
contexto

Discurso = sistema complexo → integra o contexto

(Cameron/Larsen-Freeman)
Contexto = “o ‘aqui-agora’ em que o sistema está ativo”.
(campo de ação em que se processa o evento discursivo: escalas/níveis)

.(Van Dijk)
Contexto = “representações mentais de elementos
pertinentes da situação de interação”.
(modelos cognitivos individuais e coletivos: memória episódica)
Complexidade discursiva e
conversação face-a-face
(Cameron/Larsen-Freeman)
Conversação = forma primitiva de uso da linguagem da
qual derivam todas as demais.

(i) do processamento mental


(ii) da fala em tempo real
Escalas temporais (iii) do evento discursivo
(iv) dos eventos discursivos conectados
(v) da ontogênese
(vi) da filogênese
Complexidade discursiva e
atratores

(Cameron/Larsen-Freeman) Escrita
Conversação >> outras práticas discursivas

Leitura

Convenções: gêneros discursivos e outras ‘rotinas’ como


atratores na trajetória do sistema
discursivo (padrões estruturais/funcionais)
Competência discursiva, acordo
interior e duplo acordo
(Auchlin)
Competência discursiva: Capacidade que o sistema tem de
se auto-organizar recursivamente/experiencialmente
no tempo/espaço das interações.

(i) Acordo interior: estabilidade dinâmica da identidade


do ‘Eu’ (subjetividade) nas interações de que
participa.
(ii) Duplo acordo: estabilidade dinâmica da interação
(intersubjetividade – Eu/tu) no tempo/espaço de sua
constituição/efetivação.
Discurso e cognição encarnada
( Auchlin)
Aspectos do caráter encarnado da experiência discursiva:
(i) Os processos discursivos são engendrados de forma
descentralizada/distribuída a partir de mecanismos biológicos,
adaptando-se às restrições impostas em tempo real às
atividades corporais dos agentes em interação;
(ii) Os objetos/conceitos gerados são integrados em rede através de
processos que envolvem desde um nível (sub)celular até um
nível sócio-cultural;
(iii) A reflexividade é fundamental para a experiência discursiva,
porque possibilita a ‘auto-acessabilidade’ de si e a ‘co-
acessabilidade’ interlocutiva, inclusive em termos da projeção
experiencial do analista (lugar do observador).
Discurso e construção da realidade
social
(Searle)
os elementos básicos do dispositivo necessário à análise da realidade
social são os fatos institucionais, objetos simbólicos que
apresentam três condições de possibilidade :
i) intencionalidade coletiva: forma de direcionalidade da mente que é
necessariamente compartilhada pelos indivíduos de uma comunidade, com
vistas à produção de atividades conjuntas e coordenadas.

ii) funções-estatuto capacidade de atribuição coletiva de funções


simbólicas a objetos e/ou indivíduos (elementos) que se relacionam na
comunidade (sistema).

iii) regras constitutivas: regras historicamente construídas que criam as


condições de existência dos fatos institucionais, as quais apresentam um
componente axiológico (valorativo/avaliativo) e deôntico (normativo/relativo
a direitos e deveres) que lhes é constitutivo.
Níveis de complexidade dos fatos
institucionais
(Searle)
Fórmula dos fatos institucionais – “X (fato bruto) vale como Y (função-
estatuto atribuída por intencionalidade coletiva) em C (contexto que
se traduz pela rede integrada de relações com outros fatos
institucionais a partir de regras constitutivas)”.

Ex: “X (nossas falas) vale como Y (aula) em C (Curso de Pós-


Graduação da PUC)”.

Três níveis de complexidade dos fatos institucionais


(i) Nível inferior: atos de linguagem elementares (condições enunciativas)
(ii) Nível intermediário: gêneros discursivos (condições comunicacionais)
(iii) Nível superior: domínios discursivos (condições praxeológicas)
Competência discursiva

Aparelho formal da enunciação

Construção de Fatos institucionais

Atos Gêneros Domínios


discursivos discursivos discursivos

Auto-organização bio-sócio-cognitiva
Referências bibliográficas
1. AUCHLIN, A. Les dimensions da análise pragmatique du discours dans
une approche experientielle et systemique de la competence discursive.
In: Verschueren, j. (Ed.) Selectes papers the 6th International Pragmatics
Conference. Anver: IPra, 1998. (p1-22)

1. CAMERON L., LARSEN-FREEMAN. Complex System. In: Complex


System and Applied Linguistics. Oxford University Press, 2008.

1. SEARLE, J. Le langage e la réalité sociale. La construction de la réalité


sociale. (trad. Francesa). Paris: Ed. Gallimard, 1998.

1. VAN DIJK, T. Society and Discourse: How social contexts influence text
and talk. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

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