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Os dois horizontes Dois horizontes fecham nossa vida: Um horizonte, a saudade Do que no h de voltar; Outro horizonte, a esperana Dos

os tempos que ho de chegar; No presente, sempre escuro, Vive a alma ambiciosa Na iluso voluptuosa Do passado e do futuro. Os doces brincos da infncia Sob as asas maternais, O vo das andorinhas, A onda viva e os rosais. O gozo do amor, sonhado Num olhar profundo e ardente, Tal na hora presente O horizonte do passado. Ou ambio de grandeza Que no esprito calou, Desejo de amor sincero Que o corao no gozou; Ou um viver calmo e puro alma convalescente, Tal na hora presente O horizonte do futuro. No breve correr dos dias Sob o azul do cu, tais so Limites no mar da vida: Saudade ou aspirao; Ao nosso esprito ardente, Na avidez do bem sonhado, Nunca o presente passado, Nunca o futuro presente. Que cismas, homem? Perdido No mar das recordaes, Escuto um eco sentido Das passadas iluses. Que buscas, homem? Procuro, Atravs da imensidade, Ler a doce realidade Das iluses do futuro. Dois horizontes fecham nossa vida. - Machado de Assis

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