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Fui procurar um pedaço de cidade para poder parar, sem nada para fazer, nada para pensar,
ou falar.
Qualquer pedaço me serviria desde que nele eu não pudesse ser incomodado pelo resto
dessa cidade, eu queria tentar resumi-la.
Parei nos parques, não tive o sossego que buscava, nas ruas, eu na verdade atrapalhava, nos
bairros distantes o povo me estranhava.
Nos prédios mais altos, com vista de lugares que apareciam nos cartões postais, eu não me
dava paz, me inquietava.
Por fim, busquei visitar uma velha casa, uma parte da herança de meu avô, casa velha e
mofada, com paredes sujas e muito mal cuidada.
Sentei de pernas cruzadas, olhei o mofo da parede de frente, não fechei os olhos, naquela
parede tudo o que vi projetei, como se fosse um filme .
As cores, as formas, os lugares, tudo eu joguei sobre aquela parede mofada, tudo se
misturou.
Eu imaginei que no final tudo ficaria preto, pois da mistura de tudo nada sobraria, mas na
verdade foi ficando preto e depois marrom.
O marrom que na verdade é a síntese da mistura mal feita, da desordem cromática, uma
prova do erro, mas ouvia uma voz que já conhecia e que sempre me acompanhava..
A voz era tão suave, era tão bela e tão iluminada que a casa não suportou, as paredes e o
teto caíram, mas sobrou aquele meu pedaço, um muro branco e iluminado.
O muro branco que resumia tudo, e que redimia os erros também, era síntese da minha
cidade, era paz em meio à multidão, o som da voz amiga e iluminada cantava.