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Panes nada circenses (Será que o povo tem cara de otário?).

Eu estive pensando muito, e achei que o assunto valia uma tentativa de artigo, ou conto, ou
qualquer outra forma nada poética de expressão, mesmo porque é algo que me deixou
indignado, e resolvi me perguntar: ”Será que eu tenho cara de otário?”

Esta semana aqui em São Paulo aconteceu uma coisa que quase ninguém conseguiu
explicar, e que quase todos sabem a óbvia explicação.
Um dos parques mais belos e antigos da cidade teve em menos de uma hora seu lago
totalmente esvaziado por causa do rompimento do seu vertedouro, este parque está na
história da vida de muitas pessoas como eu, e muitos bem antes de mim, na verdade o
descaso com o tal lago sempre foi nítido, mas ninguém, ou quase ninguém dava real
importância a isto.
Muitas pessoas na hora de optar entre aguardar para se entrar no gabinete de um político
chato e inescrupuloso para reclamar e seguir para o trabalho ficava sem qualquer opção e
segui sua lida diária.
A imensa montanha de dinheiro que é arrecadada de todos os paulistanos anualmente, e a
perene presença do lago quase que centenário, sempre fizeram com que ninguém
suspeitasse que isto um dia pudesse acontecer.
Um lago aonde vários animais, cisnes, gansos, garças marrecos, e muitos outros vinham
enfeitar por livre e espontânea vontade, além de seus habitantes aquáticos, carpas, e outros
peixes, rãs e um sem número de outras espécies.
Não bastasse o desastre, causado por todo este criminoso ignorar sistemático da
necessidade de manutenção, o prefeito da cidade ainda foi capaz de dizer que foi a chuva a
grande culpada, como se nesse tempo todo nunca houvesse chovido naquele lugar.
Nesses quase cem anos da existência desse lago que era um ponto de encontro de
namorados na década de 1920, onde botes poderiam ser alugados para um romântico
passeio, e o lago nunca teve este tipo de problema.
A chuva desta semana nem foi nada tão espetacular assim, muitas chuvas muito mais
severas que esta já caíram sobre a cidade, e isso nunca aconteceu.
Com certeza um laudo técnico deverá ser expedido por quem tem competência para tal, e aí
se poderá talvez identificar a pane que sofreu o sistema de escoamento deste lago, mas
culpar a chuva por isso não parece ser a melhor das explicações, principalmente para o Sr.
Gilberto Kassab, pois este é engenheiro formado pela Escola Politécnica De Engenharia Da
Universidade De São Paulo (Poli – USP).
Talvez este não seja um texto tão agradável de se ler, mas não é nada agradável se sentir
feito de palhaço, e ver que a principal pane está no caráter das pessoas que fingem que
podem atribuir qualquer coisa à chuva, ao vento, ou a qualquer catástrofe natural, e não
encarar sua responsabilidade com relação àquilo que pertence à população de uma forma
geral e lhes foi confiado pela mesma para que cuidasse, é uma pane moral, acima de
qualquer coisa.

“Será que o povo tem cara de otário?”

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