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Divina Transgressão

Árvores são acima de tudo as principais transgressoras da pretensa moral, e dos igualmente
pretensos bons costumes, pois exibem a boa altura tudo aquilo que se tenta esconder sob
estes dois mal fadados ícones da hipocrisia.

Grandes, belas, vistosas e convidativas, são a grande obra publicitária da propagação da


vida, expõe a todos seu sexo, e são admiradas por isso, até mesmo por aqueles que
escondem debaixo de suas longas e deselegantes vestes aquilo que deve ser entendido como
vergonhoso, apesar de extremamente prazeroso.

Religiosos de todos os tipos se fazem de assexuados por baixo de seus paramentos rituais,
mas habitam grandes prédios com vastos jardins, e com árvores extremamente bem
cuidadas, que ao florir e frutificar embelezam com seu sexo esteticamente perfeito tais
lugares.

Padres e freiras mortificam seus corpos em busca de uma fantasiosa pureza sem sexo ou
desejo mergulhados em meio ao sexo ornamental, aram a terra e alimentam-se do fruto
desta relação tão perfeita e sem qualquer sentimento de culpa por ser o que se é sem ligar
para o que se possa pensar.

Velhas senhoras puritanas enfeitam suas casas com flores, que são nada mais do que
grandes e vistosas genitálias, assim como os frutos destas divinas transgressoras que jazem
nas fruteiras de suas copas, onde costumam cuidar da vida alheia.

Uma árvore pouco retira de onde quer que esteja plantada, mas muito dá àqueles que dela
se valem para suprir suas vidas, a quaresmeira, o ipê roxo, o jacarandá, e muitas outras
parecem florir em dor pela morte do cristo no final do verão, mas isto é pura fantasia, sua
mais pura verdade é a perpetuação da vida, a exibição sem culpa do sexo .

Perdoai-me Catulo da Paixão Cearense, mas a flor de maracujá não pranteia o cristo, ela
simplesmente é a mais linda flor de trepadeira, que por tanto trepar se exibe intumescida e
plena exalando o sexo que jamais foi um pecado.

O Abacate e a manga são verdadeiros úteros que levam dentro de si a vida protegida e
pronta para brotar no chão aberto e molhado, sua polpa é quase como a carne ao toque das
mãos, seu formato quase vaginal parece ser chacota do criador ao deitar-se na fruteira da
sala da família conservadora algumas dúzias que se entremeiam por fálicas bananas.

Então visita o vigário a casa da senhora de tradicional e pudica família, sob sua batina
negra um corpo de homem não se deixa ver, mas na mesma sala flores de laranjeira, e frutas
sobre uma grande fruteira dão testemunho da verdade, e não deixam a hipocrisia vencer, o
padre serve-se de uma fálica banana para não tocar a si mesmo e não assumir seu tesão pela
ranzinza velhota.

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