Você está na página 1de 7

Escola Superior de

Educação de Setúbal

Comentário Crítico
Jungle Fever (Febre da Selva)
Ana Isabel Vaz Lopes
Licenciatura em Animação e
Intervenção Sociocultural

1º Ano

Unidade Curricular: Antropologia Curricular


Docente: Luís Souta 09
Setúbal

1
Ficha Técnica

Titulo Original: Jungle Fever

Realizador: Spike Lee


Elenco: Annabella Sciorra, Anthony Quinn, John
Torturro ,Ossie Davis, Samuel L. Jackson, Spike Lee e
Wesley Snipes

Ano: 1991
País: EUA
Género: Drama
Duração: 126 minutos aproximadamente

Estúdio: Universal Pictures

Shelton Jackson Lee, nascido a 20 de Março de 1957 é um escritor,


produtor e actor, mais conhecido por Spike Lee. È professor de
cinema na Universidade de Nova Iorque.

Sendo um marco no cinema afro-americano, Spike Lee aborda


constantemente a temática racial, consciencializando Hollywood para
os problemas sociais do país. Nascido num tempo marcado pela
discriminação racial no sul dos E.U.A em Atlanta, mudou-se com a sua
família, quando tinha três anos, para Brooklyn, onde adquiriu a sua
consciência social. Normalmente, Spike Lee tem como tema o
racismo, porém, trabalha diferentemente de tudo o que se viu até
então, ao mostrar toda a complexidade dos guetos norte-americanos,
não apenas de negros, mas também dos latinos, orientais e mestiços,
demonstrando assim como essas etnias sabem ser preconceituosas e
intolerantes.

Pelo filme Joe's Bed-Stuy, Barbershop: We Cut Heads, um projecto de


graduação, foi premiado em alguns festivais. Em 1989, com Do the
Right Thing, foi nomeado para o Óscar de melhor argumento original.

2
Reproduz com grande fidelidade a sua visão do quotidiano da minoria
negra, pois estava cansado da forma estereotipada como o seu povo
sempre fora retratado.

Em 1990, com Mo’ Better Blues, uma história mais relacionada com o
Jazz, tenta recuperar este movimento cultural. Um ano depois lança
Jungle Fever que trata de relacionamentos inter-raciais,
reconquistando os fãs que se haviam decepcionado com Mo’ Better
Blues. Ainda dirigiu a biografia de Malcolm X, o líder negro americano
dos anos 60.

Em 1998 é novamente nomeado para o Óscar pelo documentário 4


Little Girls (1997). Em 1986, Spike Lee fez o filme She's Gotta Have It,
uma comédia sobre relações sexuais. A produção do filme custou
175.000 dólares, e facturou 7.000.000. A partir de então, Spike Lee
tornou-se conhecido e famoso.

3
Sinopse: Este filme, aclamado pela crítica, explora as
consequências das provocações nas relações inter-raciais. O
arquitecto negro, Flipper Purify (Wesley Snipes) inicia um caso
amoroso com a sua secretária italiana (Annabella Sciorra), o que leva
a que sejam duramente criticados pelos seus amigos, rejeitados pelas
suas famílias e evitados pelos seus vizinhos.

Em “Jungle Fever” brancos e negros têm a sua quota de racismo e


preconceitos, Spike Lee procurou mostrar os dois lados. Tanto da
parte dos negros como dos italianos observamos os preconceitos que
uma cultura tem em relação à outra. Podemos ver ainda a “crise” de
identidade por parte dos mestiços, que sentindo-se geralmente
conscientes da sua situação existem momentos em que se
perguntam “quem sou eu”.

Palavras-Chave: Racismo, Preconceito, Cultura, Sociedade

4
O filme Jungle Fever – A Febre da Selva, realizado por Spike Lee nos
anos 90 retrata o quotidiano de famílias e pessoas diferentes entre si.
Diferentes pela origem, crenças, preconceitos e ideais.

Spike Lee procurou não vitimizar os afro-americanos, demonstrando


que eles próprios também têm preconceitos em relação a outras
culturas diferentes da sua. No filme podemos observar a segregação
que os próprios grupos proporcionam a si próprios, pois não existe
qualquer relação de proximidade entre eles. O preconceito está
bastante presente em relação ao outro, que mesmo estando afastado
causa provocações, apenas pela cor de pele ou origem diferente.

Aquando do inicio da relação entre Flipper (afro-americano) e Angie,


(italiana) estes são fortemente criticados pelos amigos e até
rejeitados pelas suas famílias. Essa rejeição por parte da família e da
sociedade faz com que o casal se interrogue da sua união e faz com
que a relação tenha grandes problemas.
As relações inter-raciais são consideradas provocadoras e até
“inadmissíveis” levando a actos de racismo a estes casais. Nos E.U.A
no estado do Alabama a união inter-racial era proibida, até ao ano
2000. O Alabama foi o último estado a abolir esta lei. As relações
inter-raciais sempre foram consideradas provocadoras e os
descendentes destas uniões “fruto do pecado”. Por exemplo o termo
mulato advém da palavra mula, que é um animal misto, ou seja, o
cruzamento de duas espécies diferentes.
O termo era utilizado na época da escravatura para rejeitar o
cruzamento de um negro(a) com um branco(a) porque a sociedade
não aceitava estas uniões, pois o negro não era considerado ser
humano. Por isso o casal inter-racial do filme é considerado que tem a
“febre da selva”.

A nossa sociedade auto caracteriza-se de respeitadora de todas as


culturas e etnias, desde que não lhes bata à porta. “Não sou racista,

5
mas a minha filha não casa com um preto”. Existem várias
sociedades que se formaram através de uniões inter-raciais como é o
caso do Brasil, ou Moçambique, mas apesar disso são sociedades em
que existe grande segregação racial, em função da pele mais clara,
ou mais escura.

As relações inter-raciais não são consideradas inadmissíveis apenas


por parte dos caucasianos, mas também por parte dos negros que
consideram a junção com outra etnia renegar a sua própria cultura.

No filme ainda é abordado o factor da identidade dos mestiços, que


não sendo inteiramente brancos ou negros sentem-se “de lado
nenhum”, não se afirmando inteiramente de uma ou outra cultura. A
identidade é muito relevante para cada indivíduo, sendo um factor
que fomenta o sentimento de pertença a um grupo.
O filme apesar de retratar os anos 90, ainda hoje, pleno século XXI
existe os mesmos preconceitos da altura e o mesmo conservadorismo
em relação a uniões inter-raciais. A sociedade hoje em dia aceita
melhor essas uniões, pois também não tem autoridade para as
condenar, já que as leis que o faziam já foram totalmente abolidas. As
nossas sociedades são cada vez mais multiculturais, fruto também da
globalização. As fronteiras hoje em dia são apenas nos mapas. A
multiculturalidade é um factor que fomenta as relações inter-raciais,
mas apesar disso não faz com que o racismo, os preconceitos e os
estereótipos que temos em relação ao outro acabem. Muitos autores
referem a miscenização como fonte de perda de identidade étnica
e/ou cultural. Na minha opinião a miscenização realça os pontos
fortes de cada cultura, pois o facto de haver união inter-racial não
implica que um dos elementos do casal perca a sua identidade em
função do outro. Pelo contrário, a cultura de cada um é valorizada
como única.
A nossa sociedade diz-se inovadora e moderna, mas penso que ainda
não está preparada para a multiculturalidade. Mesmo as sociedades

6
que desde os primórdios são multiculturais, têm presente o
preconceito em relação ao outro. Outro esse que sendo da mesma
nacionalidade apenas tem uma origem diferente. “Podes ser
portuguesa, mas és preta”.
A Febre da Selva foi um filme bem conseguido, que retratou a
realidade da sociedade tal como ela é sem vitimizar uns e enaltecer
outros, representando os dois lados da moeda.

Você também pode gostar