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[A Inefvel Ternura de Ser]

[Poema desentranhado do livro de Milan Kundera A Insustentvel Leveza de Ser]

Para a despreocupao de meus passos entre as rvores, para a renovao do mundo ao meu olhar limpo e claro, a luz do sol da manh torna ainda mais ouro o amarelo das flores entre as folhas verdes. De sbito, a minha alma encheu-se de alegria: acordados assim todos os meus sentidos, e, portanto, sem que eu possa dizer por acaso , pus-me a pensar no quanto voc bela! Ento, na inundao dessa inefvel ternura, preocupei-me assim coisa de uma ruga ou duas pois quando a vontade de dormir juntos ternamente, de amanhecer juntos e despertar sentindo nossos cheiros, de tomar caf da manh numa toalha branca salpicada de raios de sol varados da folhas das rvores, quando essa vontade assim, inelutvel, porm calma, alterna-se com a loucura do desejo da noite anterior, quando os nossos atos falhos beiram os perigos,

ento, sabemos que jamais alguma sensao se igualar a esta, cuja descoberta tanto me inebria e me alucina, e faz o meu ser levitar na impondervel leveza de uma pluma! _______
[Penas do Desterro, 10 de maio de 2000]

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