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[O Terceiro Movimento]

[" La poesa es misin, la biblia que todo el mundo siente


todos los das y que unos escriben y otros no... lo que
cuenta es fijar un acontecimiento del alma o de la tierra y, si
es posible, con belleza. " Atahualpa Yupanqui]

Na ampla calada de pedras avermelhadas


sedimentadas em pr-histricas guas,
h uma mesa nua e duas cadeiras
na porta do antigo bar da ladeira do cemitrio.
Ali, os passos de um velho solitrio
encontram a calma de um refgio ,
a pausa para uma comida simples
e o enleio dos sentidos no aroma do vinho tinto.
O vazio da rua enche-lhe os olhos,
as lembranas cavalgam pensamentos vagos;
exaurido de si, nada mais tem, nada mais quer
basta-lhe esse agora de uns parcos trocados...
E se na sua partitura o Alegro se esmaece,
o Adgio, ou antes, o Terceiro Movimento,
deve apenas cingir a mgica suavidade
de algo que s existe enquanto ... solto no ar!
A efemeridade que a memria no guarda
escapa no perfume das flores delicadas,
que o descuidado menino de ps descalos
traz numa cesta de palha tranada.
O velho tateia no bolso do palet
as suas derradeiras moedas,
e, num enlaar de olhares,
coloca-as na mozinha estendida.

Agora, para o nascente da extensa rua, some o


menino,
e no poente do bar da ladeira de pedras viajadas,
o Terceiro Movimento embriaga-se da fruio
inadivel
o vinho, as flores e o silncio caiado de branca
paz!
[E naquele afastamento, cada um deles se viu no
olhar do outro!]
[Penas do Desterro, 02 de maio de 2000]

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