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Atendimento Inicial

CAPÍTULO 7
ATENDIMENTO INICIAL

O objetivo do atendimento inicial à vítima de trauma é identificar rapidamente situa-


ções que coloquem a vida em risco e que demandem atenção imediata pela equipe de so-
corro. Deve ser rápido, organizado e eficiente de forma que permita decisões quanto ao
atendimento e ao transporte adequados, assegurando à vítima maiores chances de so-
brevida.

O atendimento inicial à vítima de trauma se divide em quatro etapas seqüenciais:

1) Controle de cena;

2) Abordagem primária;

3) Abordagem secundária;

4) Sinais vitais e escalas de coma e


trauma.

1. Controle de Cena

1.1. Segurança do Local


Fig. 7.1 - Abordagem inicial de vítima em decú-
Antes de iniciar o atendimento propria- bito dorsal. Socorrista aproxima-se da vítima
mente dito, a equipe de socorro deve garantir pelo lado para o qual a face da mesma está vol-
ta, garantindo-lhe o controle cervical sem mobili-
sua própria condição de segurança, a das víti- za-la da posição inicial e, tocando-lhe o ombro
mas e a dos demais presentes. De nenhuma do lado oposto, diz: “Eu sou o... (nome), do Cor-
po de Bombeiros, e estou aqui para te ajudar. O
forma qualquer membro da equipe deve se que aconteceu contigo?”
expor a um risco com chance de se transfor-
mar em vítima, o que levaria a deslocar ou di-
vidir recursos de salvamento disponíveis para
aquela ocorrência.

1.2. Mecanismo de Trauma

Enquanto se aproxima da cena do aci-


dente, o socorrista examina o mecanismo de
trauma (ver capítulo 4), observando e colhen-
do informações pertinentes. Em uma colisão
entre dois veículos, por exemplo, avaliar o tipo Fig. 7.2 - Abordagem inicial de vítima em decú-
de colisão (frontal, lateral, traseira), veículos bito ventral. Mesmo procedimento utilizado para
abordagem de vítima em decúbito dorsal.

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envolvidos, danos nos veículos, número de vítimas, posição dos veículos e das vítimas,
etc.

2. Abordagem Primária

Visa identificar e manejar situações de ameaça à vida, A abordagem inicial é reali-


zada sem mobilizar a vítima de sua posição inicial, salvo em situações especiais que pos-
sam comprometer a segurança ou agravar o quadro da vítima, tais como:

●Situações climáticas extremas:


Geada, chuva, frio, calor, etc.;

● Risco de explosão ou incêndio;

● Risco de choque elétrico;

● Risco de desabamento.

Obs.: Só se justifica mobilizar a vítima


de sua posição inicial na abordagem primária
quando a situação de risco não possa ser Fig. 7.3 - Enchimento capilar – técnica utilizada
afastada. Por exemplo: Havendo risco de cho- para avaliação da perfusão dos tecidos periféri-
que elétrico e sendo possível a interrupção da cos. É realizada fazendo-se uma pressão na
base da unha ou nos lábios, passando a colora-
passagem de energia, não há necessidade de ção de rosada para pálida. Retirando a pressão,
mobilizar a vítima. a coloração rosada deve retomar num tempo in-
ferior a dois segundos. Se o tempo ultrapassar
Na abordagem primária, havendo mais dois segundos é sinal de que a circulação peri-
férica está comprometida (oxigenação/perfusão
de uma vítima, o atendimento deve ser priori- inadequadas). Lembre-se que à noite e com frio
zado conforme o risco, ou seja, primeiro as essa avaliação é prejudicada.
que apresentem risco de morte, em seguida as que apresentem risco de perda de mem-
bros e, por último todas as demais. Esta recomendação não se aplica no caso de acidente
com múltiplas vítimas (ver capítulo 28), onde os recursos para o atendimento são insufici-
entes em relação ao número de vítimas e, por tanto, o objetivo é identificar as vítimas com
maiores chances de sobrevida.

A abordagem primária é realizada em duas fases:

1) Abordagem primária rápida;

2) Abordagem primária completa.

2.1. Abordagem Primária Rápida

É a avaliação sucinta da respiração, circulação e nível de consciência. Deve ser


completada em no máximo 30 segundos. Tem por finalidade a rápida identificação de
condições de risco de morte, o início precoce do suporte básico de vida (SBV) e o desen-
cadeamento de recursos de apoio, tais como médico no local e aeronave para o transpor-
te.

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Na abordagem primária rápida devem ser seguidos os seguintes passos:

1) Aproximar-se da vítima pelo lado para o qual a face da mesma está volta,
garantindo-lhe o controle cervical.

2) Observar se a vítima está consciente e respirando. Tocando o ombro da víti-


ma do lado oposto ao da abordagem, apresente-se, acalme-a e pergunte o que
aconteceu com ela: “Eu sou o... (nome do socorrista), do Corpo de Bombeiros, e
estou aqui para te ajudar. O que aconteceu contigo?”. Uma resposta adequada
permite esclarecer que a vítima está consciente, que as vias aéreas estão permeá-
veis e que respira. Caso não haja resposta, examinar a respiração. Se ausente a
respiração, iniciar as manobras de controle de vias aéreas e a ventilação artificial.

3) Simultaneamente palpar pulso radial (em vítima inconsciente palpar direto o


pulso carotídeo) e definir se está pre-
sente, muito rápido ou lento. Se ausen-
te, palpar pulso de artéria carótida ou
femoral (maior calibre) e, caso confir-
mado que a vítima está sem pulso, ini-
ciar manobras de reanimação cardio-
pulmonar (ver capítulo 9).

4) Verificar temperatura, umidade e


coloração da pele e enchimento capilar.
Palidez, pele fria e úmida e tempo de
Fig. 7.4 - Avaliação de vias aéreas. Socorrista
enchimento capilar acima de dois se- verifica se há corpos estranhos na cavidade oral
gundos são sinais de comprometimento da vítima.
da perfusão oxigenação dos tecidos
(choque hipovolêmico por hemorragia
interna ou externa, por exemplo), que
exigem intervenção imediata.

5) Observar rapidamente da cabe-


ça aos pés procurando por hemorragias
ou grandes deformidades.

6) Repassar as informações para a


Central de Emergência.
Fig. 7.5 - Avaliação da respiração – ver, ouvir e
2.2. Abordagem Primária Completa sentir.

Na abordagem primária completa segue-se uma seqüência fixa de passos estabe-


lecida cientificamente. Para facilitar a memorização, convencionou-se o “ABCD do trau-
ma” para designar essa seqüência fica de passos, utilizando-se as primeiras letras das
palavras (do inglês) que definem cada um dos passos:

1) Passo “A” (Airway) – Vias aéreas com controle cervical;

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2) Passo “B” (Breathing) – Respiração (existente e qualidade);

3) Passo “C” (Circulation) – Circulação com controle de hemorragias;

4) Passo “D” (Disability) – Estado neurológico;

5) Passo “E” (Exposure) – Exposição da vítima (para abordagem secundária).

Lembre-se de somente passar para próximo passo após ter completado o passo
imediatamente anterior. Durante toda a abordagem da vítima o controle cervical deve ser
mantido. Suspeitar de lesão de coluna cervical em toda vítima de trauma.

2.2.1. Passo “A” – Vias Aéreas com Controle Cervical

Após o controle cervical e a identifica-


ção, pergunte à vítima o que aconteceu. Uma
pessoa só consegue falar se tiver ar nos pul-
mões e se ele passar pelas cordas vocais.
Portanto, se a vítima responder normalmente,
é porque as vias aéreas estão permeáveis
(passo "A" resolvido) e respiração espontânea
(passo "B" resolvido). Seguir para o passo "C".

Se a vítima não responder normalmen-


te, examinar as vias aéreas. Desobstruir vias
aéreas de sangue, vômito, corpos estranhos Fig. 7.6 - Avaliação do pulso – palpação do pul-
ou queda da língua, garantindo imobilização so carotídeo.
da coluna cervical. Para a manutenção da
abertura das vias aéreas pode ser utilizada cânula orofaríngea ou nasofaríngea (ver capí-
tulo 8). Estando as vias aéreas desobstruídas, passar para o exame da respiração (passo
"B").

2.2.2. Passo “B” – Respiração

Checar se a respiração está presente e efetiva (ver, ouvir e sentir). Se a respiração


estiver ausente, iniciar respiração artificial (passo "B" resolvido temporariamente). Estan-
do presente a respiração, analisar sua qualidade: lenta ou rápida, superficial ou profunda,
de ritmo regular ou irregular, silenciosa ou ruidosa.

Se observar sinais de respiração difícil (rápida, profunda, ruidosa), reavaliar vias


aéreas (passo "A") e solicitar a presença do médico no local. A necessidade de interven-
ção médica é muito provável. Se observar sinais que antecedam parada respiratória (res-
piração superficial, lenta ou irregular), ficar atento para iniciar respiração artificial.

Iniciar a administração de oxigênio a 12 litros por minuto, sob máscara de contorno


facial bem-ajustado. Garantir que os passos "A" e "B" não sejam interrompidos antes de
passar ao exame da circulação ("C").

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2.2.3. Passo “C” – Circulação com Controle de Hemorragias

O objetivo principal do passo "C" é estimar as condições do sistema circulatório e


controlar grandes hemorragias. Para tanto devem ser avaliados: pulso; perfusão periféri-
ca; coloração, temperatura e umidade da pele. Neste passo também devem ser controla-
das as hemorragias que levem a risco de vida eminente.

2.2.3.1. Pulso

Em vítima consciente, verificar inicialmente o pulso radial; se este não for percebi-
do, tentar palpar o pulso carotídeo ou o femoral; em vítima inconsciente, examinar o pulso
carotídeo do lado em que você se encontre.

A avaliação do pulso dá uma estimativa da pressão arterial. Se o pulso radial não


estiver palpável, possivelmente a vítima apresenta um estado de choque hipovolêmico
descompensado, situação grave que demanda intervenção imediata.

Se o pulso femoral ou carotídeo estiver ausente, iniciar manobras de reanimação


cardiopulmonar. Estando presente o pulso, analisar sua qualidade: lento ou rápido, forte
ou fraco, regular ou irregular.

2.2.3.2. Perfusão Periférica

A perfusão periférica é avaliada através


da técnica do enchimento capilar. É realizada
fazendo-se uma pressão na base da unha ou
nos lábios, de modo que a coloração passe de
rosada para pálida. Retirando-se a pressão a
coloração rosada deve retomar num tempo in-
ferior a dois segundos. Se o tempo ultrapas-
sar dois segundos é sinal de que a perfusão
periférica está comprometida (oxigenação/per-
fusão inadequadas). Lembre-se que à noite e
com frio essa avaliação é prejudicada.
Fig. 7.7 - Avaliação do nível de consciência –
estímulo doloroso aplicado comprimindo-se a
2.2.3.3. Coloração, Temperatura e borda do músculo trapézio.
Umidade da Pele

Cianose e palidez são sinais de comprometimento da oxigenação/perfusão dos te-


cidos. Pele fria e úmida indica choque hipovolêmico (hemorrágico).

2.2.3.4. Controle de Hemorragias

Se o socorrista verificar hemorragia externa, deve utilizar métodos de controle (ver


capítulo 10). Observando sinais que sugerem hemorragia interna, deve agilizar o atendi-

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mento e transportar a vítima o mais brevemente possível ao hospital, seguindo sempre as


orientações da Central de Emergências.

2.2.4. Passo “D” – Estado Neurológico

Tomadas as medidas possíveis para garantir o “ABC”, importa conhecer o estado


neurológico da vítima (passo "D"), para melhor avaliar a gravidade e a estabilidade do
quadro.

O registro evolutivo do estado neurológico tem grande valor. A vítima que não apre-
sente alterações neurológicas num dado momento, mas passe a apresentá-las progressi-
vamente, seguramente está em situação mais grave que outra cujo exame inicial tenha
mostrado algumas alterações que permane-
çam estáveis no tempo.

Na avaliação do estado neurológico o


socorrista deve realizar a avaliação do nível
de consciência e o exame das pupilas.

2.2.4.1. Avaliação do Nível de Cons-


ciência Fig. 7.8 - Pupilas de tamanhos desiguais (ani-
socóricas) – olho direito apresentando midríase
e esquerdo miose.
Deve sempre ser avaliado o nível de
consciência porque, se alterado, indica maior
necessidade de vigilância da vítima no que se
refere às funções vitais, principalmente à res-
piração. A análise do nível de consciência é
feita pelo método “AVDI”, de acordo com o ní-
vel de resposta que a vítima tem dá aos estí-
mulos:

● A – Vítima acordada com res-


posta adequada ao ambiente.

● V – Vítima adormecida. Os olhos Fig. 7.9 - Avaliação das pupilas quanto à reação
à luz.
se abrem mediante estímulo verbal.

● D – Vítima com os olhos fechados que só se abrem mediante estímulo dolo-


roso. O estímulo doloroso deve ser aplicado sob a forma de compressão intensa
na borda do músculo trapézio, na região póstero-lateral do pescoço.

● I – Vítima não reage a qualquer estímulo.

A alteração do nível de consciência pode ocorrer pelos seguintes motivos:

● Diminuição da oxigenação cerebral (hipóxia ou hipoperfusão);

● Traumatismo cranioencefálico (hipertensão intracraniana);

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● Intoxicação por álcool ou droga;

● Problema clínico metabólico.

2.2.4.2. Exame das Pupilas

Em condições normais as pupilas reagem à luz, aumentando ou diminuindo seu di-


âmetro conforme a intensidade da iluminação do ambiente. O aumento do diâmetro, ou
midríase, ocorre na presença de pouca luz, enquanto a diminuição, ou miose, ocorre em
presença de luz intensa.

Quanto à simetria, as pupilas são classificadas em isocóricas (pupilas normais ou


simétricas), que possuem diâmetros iguais, e anisocóricas (pupilas anormais ou assimétri-
cas), de diâmetros desiguais.

O socorrista deve avaliar as pupilas da


vítima em relação ao tamanho, simetria e rea-
ção à luz. Pupilas anisocóricas sugerem trau-
matismo ocular ou cranioencefálico. Neste
caso a midríase em uma das pupilas pode ser
conseqüência da compressão do nervo oculo-
motor no nível do tronco encefálico, sugerindo
um quadro de gravidade.

Pupilas normais se contraem quando


submetidas à luz, diminuindo seu diâmetro. Se
Fig. 7.10 - Exame segmentar da cabeça. Socor-
a pupila permanece dilatada quando submeti- rista verifica se há hematoma retroauricular.
da à luz, encontra-se em midríase paralítica,
normalmente observada em pessoas inconsci-
entes ou em óbito. Pupilas contraídas (miose)
em presença de pouca luz podem indicar into-
xicação por drogas ou doença do sistema ner-
voso central.

Se houver depressão do nível de cons-


ciência e anisocoria, ficar alerta, pois existe o
risco de parada respiratória. Manter-se atento
para o “ABC”.
Fig. 7.11 - Exame segmentar do pescoço.
3. Abordagem Secundária

Finalmente, no passo "E", expor a vítima, à procura de lesões. Entretanto, em nível


pré-hospitalar, as roupas da vítima só serão removidas para expor lesões sugeridas por
suas queixas ou reveladas pelo exame segmentar, respeitando seu pudor no ambiente
público. No hospital, ao contrário, é imperdoável deixar de despir completamente a vítima
antes de iniciar a abordagem secundária.

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Só iniciar a abordagem secundária de-


pois de completada a abordagem primária.
Examinar todos os segmentos do corpo, sem-
pre na mesma ordem (exame segmentar): crâ-
nio, face, pescoço, tórax, abdômen, quadril,
membros inferiores, membros superiores e
dorso. Nesta fase, realizar:

● Inspeção: cor da pele, sudorese,


simetria, alinhamento, deformidade e
ferimento; Fig. 7.12 - Exame segmentar do tórax.

● Palpação: deformidade, crepita-


ção, rigidez, flacidez, temperatura e su-
dorese;

● Ausculta: tórax (campos pleuro-


pulmonares e precordial) - procedimen-
to exclusivo do médico.

Durante todo o exame segmentar, man-


ter-se atento a sinais de dor ou a modificações
das condições constatadas na abordagem pri- Fig. 7.13 - Exame segmentar do abdômen.
mária da vítima. Exame segmentar:

1) Cabeça: palpar o crânio com os


polegares fixos na região frontal, man-
tendo o controle cervical. Palpar as ór-
bitas. Simultaneamente, inspecionar
cor e integridade da pele da face, he-
morragia e liqüorragia pelo nariz e ouvi-
dos, hematoma retroauricular (sugesti-
vo de fratura de coluna cervical alta ou
base de crânio), simetria da face, he-
Fig. 7.14 - Exame segmentar do quadril.
morragia e laceração dos olhos e fotor-
reatividade pupilar (não a valorize em
olho traumatizado). Retirar corpos es-
tranhos (lentes de contato e próteses
dentárias móveis) eventualmente rema-
nescentes.

2) Pescoço: inspecionar o alinha-


mento da traquéia e a simetria do pes-
coço. Palpar a cartilagem tireóide e a
musculatura bilateral. Inspecionar as
veias jugulares: se ingurgitadas, princi- Fig. 7.15 - Palpação dos membros inferiores.

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palmente com piora na inspiração, preocupar-se com lesão intratorácica grave


(derrame de sangue no pericárdio, impedindo os movimentos normais do coração:

Fig. 7.16 - Avaliação do enchimento capilar dos Fig. 7.17 - Teste de mobilidade passiva.
membros inferiores.

hemopericárdio com tamponamento


cardíaco). Palpar as artérias carótidas
separadamente e a coluna cervical, ve-
rificando alinhamento, aumento de vo-
lume, crepitação e rigidez muscular.
Completado o exame, colocar o colar
cervical.

3) Tórax: inspecionar a caixa toráci-


ca (face anterior), buscando simetria
anatômica e funcional, respiração para-
doxal, áreas de palidez, eritema ou he- Fig. 7.18 - Exame segmentar dos membros su-
periores.
matoma (sinais de contusão) e ferimen-
tos. Palpar as clavículas separadamen-
te, buscando dor e crepitação. Palpar
os arcos costais e esterno em busca de
rigidez muscular, flacidez e crepitação.
Examinar até a linha axilar posterior.
Realizar ausculta pulmonar e cardíaca
(procedimento médico).

4) Abdômen: inspecionar sinais de


contusão, distensão e mobilidade. Pal-
par delicadamente, analisando sensibi-
Fig. 7.19 - Exame segmentar do dorso. Vítima
lidade e rigidez de parede (abdômen sofre rolamento de 90º lateralmente. Ao retornar
em tábua). a vítima já é depositada sobre a tábua de imobi-
lização dorsal.
5) Quadril: afastar e aproximar as
asas ilíacas em relação à linha média, analisando mobilidade anormal e produção
de dor. Palpar o púbis no sentido antero-posterior. A região genital também deve

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ser avaliada, sugerindo haver lesão conforme as queixas da vítima ou o mecanis-


mo de trauma.

6) Membros inferiores: inspecionar e palpar da raiz das coxas até os pés. Ob-
servar ferimento, alinhamento, deformidade, flacidez, rigidez e crepitação. Cortar a
roupa onde suspeitar de ferimento ou fratura. Retirar calçados e meias. Examinar a
mobilidade articular ativa e passiva. Executar movimentos suaves e firmes de fle-
xão, extensão e rotação de todas as articulações. Palpar pulsos em tornozelos e
pés. Testar sensibilidade, motricidade e enchimento capilar.

7) Membros superiores: inspecionar e palpar dos ombros às mãos. Observar


ferimento, alinhamento, deformidade, flacidez, rigidez e crepitação. Cortar a roupa
onde suspeitar de ferimento ou fratura. Palpar os pulsos radiais. Testar a mobilida-
de ativa e passiva. Executar movimentos suaves e firmes de flexão, extensão e ro-
tação de todas as articulações. Testar a simetria da força muscular nas mãos. Veri-
ficar sensibilidade, motricidade e enchimento capilar.

8) Dorso: realizar a manobra de rolamento a noventa graus para examinar o


dorso. Inspecionar alinhamento da coluna vertebral e simetria das duas metades
do dorso. Palpar a coluna vertebral em toda a extensão, à procura de edema, he-
matoma e crepitação. Terminado o exame do dorso, rolar a vítima sobre a tábua de
imobilização dorsal.

Após completar o exame segmentar, fazer curativos, imobilizações e outros proce-


dimentos necessários.

Fazem também parte da abordagem secundária os seguintes procedimentos, que


são realizados por médicos no ambiente hospitalar: radiografias, sonda gástrica, toque re-
tal, cateterismo vesical e lavagem peritonial.

Durante a abordagem secundária, o socorrista deva reavaliar o ABCD quantas ve-


zes forem necessárias, principalmente em vítimas inconscientes.

Após a abordagem secundária, realizar a verificação de dados vitais (ver capítulo


6) e escalas de coma e trauma.

4. Sinais Vitais e Escalas de Coma e Trauma

4.1. Sinais Vitais

Avaliar pulso, respiração, pressão arterial e temperatura (ver capítulo 6).

4.2. Escala de Coma

A Escala de Coma de Glasgow, é baseada na avaliação da abertura dos olhos


(AO), da melhor resposta motora (MRM) e da melhor resposta verbal (MRV). É uma esca-
la prática para se avaliar a evolução do nível de consciência da vítima. Para cada um dos

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três itens avaliados é atribuído um número, conforme a resposta da vítima, que somados
irão nos mostrar o nível de consciência da vítima no momento da avaliação.

Abertura dos Olhos


Espontânea 04 pontos Olhos abertos espontaneamente, com movimentos normais.

Olhos fechados que só se abrem mediante um estímulo verbal (não ne-


À Voz 03 pontos
cessariamente à ordem de "abra os olhos").

À Dor 02 pontos Olhos fechados que só se abrem mediante estímulo doloroso.

Ausente 01 ponto Não abre os olhos

Melhor Resposta Verbal


Orientada 05 pontos Consegue descrever quem é, o que aconteceu etc.

Responde às perguntas, mas não sabe descrever quem é, onde está ou


Confusa 04 pontos
o que aconteceu.

Palavras Des- Diz palavras isoladas e desconexas, não conseguindo formar frases
03 pontos
conexas completas.

Sons Ininteligí- Não consegue sequer articular palavras, emitindo apenas murmúrios ou
02 pontos
veis grunhidos.

Ausente 01 ponto Não emite qualquer som vocal.

Obs.: Impossível avaliar resposta verbal de vítima que não possa falar (trauma de
face ou intubação oro traqueal). Nesse caso, registrar a impossibilidade no formulário pró-
prio (RAS).

Melhor Resposta Motora


Obedece a Co- É capaz de executar movimentos mediante solicitação verbal, do tipo
06 pontos
mandos "mova a mão", "levante a perna".

Movimento
Consegue localizar a região onde está sendo estimulado dolorosamente
Apropriado à 05 pontos
e tenta remover a mão do examinador para impedi-lo.
Dor

Localiza o estímulo doloroso e tenta escapar dele, retraindo a região es-


Retirada à Dor 04 pontos
timulada.

Ao ser estimulado, flexiona as extremidades superiores (e estende as


Flexão Anor-
03 pontos extremidades inferiores), assumindo a chamada "atitude de decortica-
mal
ção."

Extensão Ao ser estimulado, estende as extremidades superiores e inferiores, as-


02 pontos
Anormal sumindo a chamada "atitude de descerebração".

Ausência de
01 ponto Não apresenta qualquer resposta motora.
Resposta

Obs.: Considerar sempre a melhor resposta motora observada, embora ela possa
ser isolada (em apenas uma extremidade).

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A avaliação da gravidade do comprometimento neurológico será feita com base no


resultado da escala de coma de Glasgow:

Fig. 7.20 - Flexão anormal – atitude de decortica- Fig. 7.21 - Extensão anormal – atitude de descere-
ção. bração.
● TCE grave: 03 a 08;

● TCE moderado: 09 a 12;

● TCE leve: 13 a 15.

Sempre que na avaliação da Escala de Coma de Glasgow, o estado neurológico


for avaliado como igual ou menor que 9 (nove), torna-se necessário o acionamento de
apoio médico no local da ocorrência.

4.3. Escala de Trauma

A escala de trauma leva em consideração os seguintes itens: freqüência respirató-


ria, pressão sistólica e escala de coma. Com base no valor de cada ítem, a cada um deles
é atribuída pontuação de zero a quatro, cuja soma será o resultado da escala de trauma,
que pode variar de zero a doze.

Pontuação Freqüência respiratória Pressão sistólica Escala de coma


04 10 a 29 >89 13 a 15
03 >29 76 a 89 09 a 12
02 06 a 09 50 a 75 06 a 08
01 01 a 05 01 a 49 04 a 05
0 0 0 03
Interpretação do resultado da escala de trauma:

● Trauma grave: 0 a 06;

● Trauma moderado: 07 a 10;

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● Trauma mínimo: 11 a 12.

Sempre que na avaliação da Escala de Trauma, for obtido resultado menor que 9
(nove), torna-se necessário o acionamento de apoio médico no local da ocorrência.

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