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A vida do professor

Homenagem do Diretório Acadêmico Barão de Mauá

ao dia do mestre

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Autor: Laion Azeredo

São 5h30 da manhã. O despertador soa e me tira de meu reconfortante sono. Havia
dormido depois da 1h30 da madrugada corrigindo provas. Estou exausto. Sento na cama e
olho pela janela. Chove bastante. Penso comigo mesmo que será um dia frio. Mas devo me
levantar, lutando contra o doce canto da sereia chamada sonolência que ainda chega aos meus
ouvidos.

Afastando a vontade de ficar no aconchego do lar, termino meus preparativos


matinais, entro em meu carro e ganho a rua em direção ao meu trabalho. Estou feliz, pois hoje
deu tempo de tomar café-da-manhã. Freqüentemente tenho de tomar na rua; isto quando
tomo. Não ando muitos quilômetros e já estou preso no trânsito. Ouço no rádio do carro que
um jovem de 22 anos de idade, até onde se sabe estudante universitário, saiu bêbado de uma
boite com mais quatro amigos, também bêbados, no carro e se chocou contra um caminhão
betoneira em uma das avenidas mais movimentadas da cidade há pouco mais de 2 horas e é
este o motivo do engarrafamento no qual estou preso.

Depois de 40 minutos, quando finalmente alcanço o local do acidente, vejo um carro


completamente destruído. Duas vítimas me parecem ainda estar presas às ferragens enquanto
os bombeiros tentam retirá-las de lá. Há também dois sacos negros no acostamento, deixando
claro que outros dois jovens haviam perdido a vida neste acidente. Para minha surpresa, vejo
um dos jovens, sentado dentro da ambulância, consciente, com apenas algumas escoriações e
com uma expressão vazia e distante, aparentando estar em choque; mas milagrosamente vivo!

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Graduando em Economia pela Univ. Candido Mendes
Passo devagar e, ao olhar para aquele jovem, vejo que se parece muito com um de
meus alunos. Poderia se ele? Não. Olhando melhor, não é. Mas poderia ser. Esta é a triste
realidade que somos obrigados a conviver atualmente. Jovens, em seus carros, ou em brigas,
ou no que quer que seja, se suicidam sem motivo algum, e nós educadores, que tanto nos
esforçamos para que eles tenham um futuro, observamos atônitos e impotentes eles atirarem
esta oportunidade pela janela com um sorriso no rosto, uma garrafa de vodka em uma das
mãos e uma trouxinha de maconha na outra.

Chego finalmente ao Centro da cidade; meu destino. Deixo meu carro no


estacionamento perto da faculdade e corro para não chegar atrasado à aula. Quando entro em
sala, às 7h30 da manhã, horário exato de início da aula, encontro apenas três alunos; por
coincidência os mais aplicados da turma. Já estou acostumado. Principalmente em dias
chuvosos. Até as 8h estarão todos aqui.

Cheguei à sala de aula estressado por causa do trânsito e do acidente que vi.
Entretanto, quando dou aula, meu humor se transforma. Posso estar no pior estado emocional
possível, quando dou aula, sempre me sinto bem e disposto. Não conseguiria me imaginar
fazendo outra coisa para sobreviver!

São 11h da noite. Dirijo-me para o estacionamento para pegar meu carro e ir para
casa. Como acontece toda a noite, me indigno com o alto preço do estacionamento. Entro no
carro e guio para casa.

Chego em casa exausto, mais uma vez. Sento um minuto em meu sofá, retiro meus
sapatos e começo a divagar. Por que sou professor? Ô perguntinha difícil! Estudei muito
durante a vida, deixando de curtir algumas festas, alguns amigos, algumas namoradas.
Trabalho muito! Além de trabalhar em sala de aula muitas horas por dia, tenho de trabalhar
em casa, às vezes fins-de-semana, desenvolvendo exercícios e corrigindo provas. Ganho
pouco, em relação à importância do que faço. E o pior, constantemente recebo meus salários
em atraso. O Cheque Especial já faz parte de minha vida. Por último, dificilmente sou
reconhecido, mas freqüentemente sou criticado. Em geral por meus próprios alunos, os que
primeiro deveriam me agradecer, mas acham a matéria muito difícil ou a prova injusta. “Vale a
pena ser professor?”, pergunto.
Devo responder, com toda a convicção, que vale sim! Não obstante todas estas
atribulações, nós, professores, somos os artistas supremos. Michelangelo e DaVinci eram
capazes de moldar o mármore e fazer coisas maravilhosas. Mas nunca moldaram uma mente.
Nunca pegaram um jovem, às vezes mimado, às vezes sem esperança, às vezes desesperado, e
transformaram em um homem, ou mulher, que reconhecem suas capacidades e têm
consciência de serem cidadãos. Nunca ajudaram a construir um profissional; um ser que irá
desenhar o futuro de toda uma nação. Um engenheiro constrói uma máquina que, ao entrar
em operação, virá a fazer coisas incríveis e aquele recebe o crédito pelo feito. Um professor faz
algo semelhante. Pega uma massa bruta que ao entrar no ensino superior geralmente ainda
não sabe o que é a vida. Durante 6, 8 ou 10 semestres ele trabalha esta massa e no final, se
tudo der certo, de suas mãos sai uma obra prima: um profissional. O problema é que este
profissional não gera resultados imediatos. Demora a subir na carreira e realizar grandes
feitos. Por isso, ao contrário do engenheiro, o professor não é reconhecido. Contudo, o
conjunto destes profissionais, ao longo dos anos, constrói uma nação maior e melhor para
todos. Se hoje o Brasil é uma das maiores economias do mundo, um país livre e um dos futuros
líderes globais, não agradeçam aos empresários, políticos, profissionais e intelectuais.
Agradeçam, em primeiro lugar, aos seus professores.

Por isso eu afirmo: VALE A PENA SER PROFESSOR.

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