GRUPO TEATRAL “UM TERÇO DA HISTÓRIA” “É FIXE

SER CRIANÇA”

PERSONAGENS

MÁRIO
NICOLINO
PAI
ALDRA
BÃO
PROFESSOR
AUGUSTO
SR. AMBRÓSIO
PROFESSOR RICARDO
LÚCIO

(A cena é formada por três planos diferentes: a rua, a casa e a escola. Crianças
brincam alegremente na rua. Ouve-se um grito da casa)

Pai: Mário, venha já para dentro que são horas de jantar!

Mário: (Desapontado) Só mais um pouquinho, pai.

Pai: Não! Venha já que tenho mais o que fazer.

Mário: Que seca! Todo dia é a mesma coisa. Adeus, meus amigos. Até amanhã.

(As crianças saem e Mário entra)

(Na casa)

Mário: Não gosto desta comida!

Pai: Criança não tem que gostar ou não gostar. A comida está óptima. Deveria
agradecer. Muitos queriam o que você tem.

(Come contrariado)

Pai: Então, e os deveres?

Mário: Faço amanhã, no ATL.

Pai: Nem pensar nisto! Hoje quero acompanhá-los contigo.

(Vai até a mochila e traz os livros. Fazem os deveres. O pai sai e Mário adormece
sobre os livros)

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SER CRIANÇA”

(No dia seguinte, levanta-se e vai para a escola)

Professor: Agora vamos a algumas perguntas. Quem foi o primeiro Rei de

Portugal? Responda-me o........Mário!

Mário: D. Sebastião!

Professor: Errado! Foi D. Afonso Henriques. Veja lá se te salvas na matemática.

Tabuada: 8x7?

Mário: He, doutora, eu sabia...juro!

Professor: Que miúdo desatento! Já é a terceira desta semana. Para descobrires o

resultado, ficas sem recreio hoje.

(Toca o sinal e todos saem, menos o Mário. Entra o Empregado da Escola, Sr.
Augusto)

Augusto: Olá Mário. O que se passa?

Mário: Bom dia, Augusto. É o de sempre. É muito chato ser criança!

Augusto: Não digas isso, meu rapaz. Tens pais que zelam por ti, frequentas a
escola, tens carinho...

Mário: (Interrompendo) Aí é que está! Eu não escolhi nada disso. Para tudo eu
tenho hora. (A imitar as frases da mãe, com voz de gozo) “Mário, vá fazer os
deveres”, “Mário, vá para a escola”, “Mário, vá brincar”. Qualquer dia até para
receber carinho eu terei horário. Fixe é ser adulto!

Augusto: Olha que não é bem assim! Tudo na vida tem o seu preço e cada idade é
importante no momento em que a vivemos.

Mário: Muito obrigado pelo apoio, Augusto.

Augusto: Pense bem no que te disse e aproveite a vida. Adeus!

Mário: Augusto!

Augusto: Sim?

Mário: 7x8 são 56.

Augusto: Hã?

Mário: Deixe estar. Estava a pensar alto.

(Baixa a cabeça sobre os livros e adormece. Música de fundo sugere um ambiente
mágico. Surge um homem de aspecto engraço e vestido à mágico. Aproxima-se de
Mário que desperta assustado com a figura.)

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SER CRIANÇA”

Mário: Quem é você?

Nicolino: Sou o Nicolino, rei da magia! Comigo, tudo é possível!

Mário: Nicolino? Nunca ouvi falar.

Nicolino: É que eu vim de terras estrangeiras e muito distantes daqui. Do Reino do

Faz de Conta.

Mário: Reino do Faz de Conta?

Nicolino: Sim, meu querido rapaz. Lá, onde é só pensar e tudo é possível.

Mário: Que sorte! Queria tanto viver lá e ser um adulto. Estou fartinho de ser
criança!

Nicolino: Só isso? Já tive pedidos mais difíceis. Ter sorte, ir para o Reino do Faz de
Conta, deixar de ser criança para ser adulta... É já a seguir! Mas é que é já...(Pausa)
a seguir!

(Faz um movimento com a varinha mágica. Jogo de luzes insinua a transformação.

Nicolino desaparece de cena. Mário fica deitado ao chão e acorda com a briga entre
duas crianças, seus filhos.)

Bão: Pai, o Aldra está a meter-se comigo!

Aldra: Mentira, Pai. Foi o Bão que começou.

Bão: Seu falso, você vai ver quando estivermos a sós!

Aldra: Ah, Ah, Ah! Estou mortinho de medo!

(Agarram- se e começam a brigar no chão)

Mário: Parem! Não percebem que têm que se arrumar para a escola? Já para
dentro!

(Ouve-se uma voz que vem de fora a gritar)

Lúcio: Mário, Mário! O autocarro já vai passar! Então?

Mário: Oh, meu Deus! É o Lúcio. Estou atrasadíssimo para o escritório. Meninos,
boa aula! Portem-se bem! (Mário e Lúcio sentam-se nas cadeiras escolares como se
fosse um autocarro. Param no trânsito...buzinas frenéticas e travadas bruscas.
Trânsito totalmente congestionado)

Mário: Que viagem horrível!

Lúcio: Mais um atraso para a nossa lista pessoal.

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SER CRIANÇA”

Mário: Estou com a comida na garganta.

(Desce do autocarro, despede-se do amigo e assume o seu lugar na secretária do
escritório. Faz repetidos e monótonos movimentos, típicos de um escritório: contas,
papeis, carimbos etc. Entra o chefe, com ar de poucos amigos. Vai até Mário e diz:)

Ambrósio: Sr. Mário, atrasado novamente! “Tá” bonito, “tá”!

(Toca o telefone e o chefe vai atender. Fala algumas coisas e chama por Mário)

Ambrósio: Sr. Mário, é para o senhor. É da escola. Parece que um dos seus miúdos
desrespeitou o professor.

(Mário vai a correr ao telefone)

Mário: “Tou”. Sim. Vou já!

Mário: Sr. Ambrósio, vou num instante à escola e já volto!

(O chefe faz cara feia e Mário sai)

(Encontra o professor)

Professor Ricardo: Sr. Mário. Assim não é possível! É a segunda vez só esta
semana. O senhor tem de dar um jeito nos seus filhos. Para a próxima, vou sugerir a
expulsão!

Mário: Desculpe-me Sr. Professor Ricardo. Prometo-lhe que não voltará a

acontecer!

Professor Ricardo: Acho muito bem! Adeus!

Mário: Adeus!

(Corre para o trabalho)

(Volta a fazer todas as rotinas, sempre observada pelo chefe. Ao fim do expediente,
sai e vai buscar os filhos na escola)

Mário: Até amanhã, Sr. Ambrósio.

(O chefe sai e Mário vai ter com as crianças. Repassa o sermão que ouviu do
professor.)

(Chega à casa e inicia freneticamente todas as tarefas domésticas ao mesmo

tempo: dá de comer às crianças, passa a roupa, cuida dos deveres, cozinha etc.
Tudo é acompanhado de fundo por uma música igualmente frenética.

Mário: Não aguento mais! Preciso de férias com urgência!

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SER CRIANÇA”

Aldra: Mas Pai, nós temos escola.

Bão: No sábado é o aniversário do Chiquinho.

Aldra: Prometeu-me que iríamos ao Shopping.

Bão: E que iria ao Parque comigo.

(Ouve-se bater à porta e Mário vai atender. Pequena discussão com vozes confusas.
Mário volta para o interior da casa)

Bão: Quem era, pai?

Mário: O senhorio.

Bão: O que ele queria?

Mário: Receber a renda atrasada.

(Mário mete as mãos na cabeça e sai a gritar pela rua. Pára diante de um grupo de
crianças que brinca calmamente no passeio. Toca o seu telemóvel.)

Mário: “Tou”! Sim, senhor Ambrósio. Como? Estou despedido? Compreendo,

compreendo...é a crise. Foi muito bom ter trabalhado para o senhor. Adeus e até
uma próxima.
(Revoltado) Se eu pego aquele maldito mágico, nem sei do que sou capaz de fazer!

(Entra Nicolino)

Nicolino: Chamou-me, meu querido?

(Mário parte para cima dele)

Nicolino: Calma, calma. Não fiz nada que você não tivesse pedido. Queria ser
adulto e teve o que pediu!

Mário: Mas não com esta vida.

Nicolino: Ora, e o que é que estava à espera? Férias no Caribe, cruzeiro pelas ilhas
Gregas? Ah, Ah, Ah! Não sabe o bem que desperdiçou. Não há maior dádiva do que
ser criança. Bem que o sábio Francisco tentou avisá-lo!

Mário: O Francisco...que querido! (Cita) “Cada idade é importante no momento em

que a vivemos”.

Nicolino: Absolutamente certo! Então está farto da vida de adulto?

Mário: Sim!

Nicolino: Mas para que tudo volte ao normal, precisará passar por um teste.

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SER CRIANÇA”

Mário: (Eufórico) Diga, diga, diga.

Nicolino: Pergunta número um: Qual é a melhor fase das nossas vidas?

Mário: É aquela que vivemos actualmente.

Nicolino: Certo! Pergunta número dois: Quais são os melhores amigos das
crianças?

Mário: Os pais!

Nicolino: Certíssimo! E para terminar (Pausa) Onde é que uma criança deve andar
para evoluir e crescer com sabedoria e no tempo certo?

Mário: Na querida escola!

Nicolino: Certo novamente! Ele acaba de ganhar a nossa maravilhosa montra

composta por: (À medida que o mágico chama, a personagem entra em cena) Um
pai...Um professor...um auxiliar de educação...amigos para brincar e uma vida
normal de criança! Até a próxima, meus amigos, no sensacional concurso “A Idade
Certa”!

(Corre e abraça feliz todas as outras personagens. Música ao fundo de concurso)

FIM!