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Protocolo da Entrevista

Entrevistador – Elsa, fale-me da origem da empresa Crokis e de quais são as suas principais
finalidades.
Entrevistado – O que esteve na origem da Crokis foi o facto de eu estar a trabalhar numa
empresa que teria um objecto semelhante ao que nós temos hoje em dia, e discordar da forma
como a parte pedagógica era feita. Conheci lá a minha sócia, a Susana Azevedo, e numa
conversa informal sem quaisquer consequências, pensava eu, começámos a falar tanto da
insatisfação de uma com da outra.
Já não me recordo de quem teve a ideia, mas foi mais ou menos: “se estamos aborrecidas porque
é que não fazemos qualquer coisa diferente?!?” Foi a partir daí, foi muito engraçado o início da
Crokis porque eu sempre fui uma pessoa extremamente silenciosa e tímida mas sempre com os
objectivos muito bem delineados. Ia sair de uma empresa onde tinha tudo, já tinha um óptimo
rendimento financeiro, para ir ao desconhecido, e eu fiz! Fiquei espantadíssima comigo porque
tinha mais a perder do que a ganhar se a empresa não resultasse mas sempre fui muito agarrada
aos desafios. E como acho que também tenho uma certa sorte nas coisas que normalmente faço e
que me empenho e acredito muito que quando nos empenhamos, conseguimos e só por algum
problema de força maior é que não se consegue, e que teria algum azar. Mas não tivemos.
A Crokis surgiu através de uma lista telefónica, em que eu ligava para os colégios de Lisboa e
arredores em que apresentava aquilo que a Crokis poderia fazer, e conseguimos logo no primeiro
ano, não quero estar a mentir, quatro colégios.
Entrevistador – Essa parte dos telefonemas serviu como estudo de mercado?
Entrevistado – Nem foi estudo de mercado. Aquilo foi assim, porque não tínhamos nada de
nada. Éramos virgens, completamente virgens nesta situação. Tínhamos era muita vontade, e
como eu já estava numa posição bastante elevada na empresa, já era coordenadora, estava muito
habituada a falar em congressos, não tinha muito receio em pegar no telefone, alias, nunca tive
esse receio, e expor o que nos propúnhamos a fazer. Sempre acreditando muito, conseguia
sempre marcar entrevistas, sempre! Mesmo quando diziam: “Ah, não estamos interessados”- mas
eu conseguia sempre marcar entrevistas. E lá íamos nós e ficámos com os quatro colégios. Olha
para uma empresa que não era conhecida, duas gaiatas, a Susana ainda é mais nova do que seis
anos no mercado, aparecer à frente de pessoas, em que a informática, nessa altura, nós já estamos
há oito ou nove anos no mercado, nessa altura a informática mal era conhecida, as pessoas
ficavam a achar, eu acho, que as pessoas no achavam graça, e principalmente ao nosso projecto.
Apostámos muito na imagem da empresa, tivemos muita gente que nos ajudou, a parte da criação
do Logo, fizemos também uma coisa bastante boa que foi a parte curricular de escolaridade das
crianças ser muito trabalhada em termos de informática.
A informática hoje em dia já se ouve falar bastante, que é uma ferramenta, que ajuda, que
facilita…Nós nessa altura já utilizávamos essas frases toda. Hoje em dia fala-se muito do
Magalhães, os programas que tem, já nos usávamos. Por vezes nós pecamos um bocado dentro
da empresa por não divulgar o nosso manual, o nosso “know how”. Porquê?
É uma empresa muito pequena, é como as empresas em Portugal infelizmente em que falasse
sem estímulos financeiros ou em que há injecções de capital, isso é mentira, porque paga-se mais
tarde. Nós nunca fizemos empréstimos, nós nunca fizemos nada tudo o que temos, foi pago com
o nosso trabalho e com o nosso dinheiro.
O que é certo é que já fizemos imensos colégios, mais até do que esperávamos, eu julgo que não
estávamos preparadas para um crescimento tão grande, no sentido em que houve uma altura um
despoletar de informática, em que toda a gente queria a informática, e nós sempre agarradas,
condicionadas, à nossa forma de operar, o que interessa é que eles saibam, são recursos que
utilizamos, a forma como apresentamos e perdemos sempre imenso tempo, e continuamos a
perder porque continuamos acreditar muito nisso. Nós não queremos apresentar um trabalho
bonito, nós queremos é que as crianças, apesar de apresentarem um trabalho bonito, saibam é
como se faz esse trabalho. E despendemos imenso tempo a fazer pesquisas, optamos sempre por
muito material que exista, aplicações que existem na internet, onde perdemos mais tempo, e
depois é a parte burocrática da empresa, segurança social, contratos, os técnicos de contas, todas
essas partes burocráticas das empresas, apesar de sermos duas pessoas, retiram-nos muito tempo.
Portanto isto é mais um problema social de Portugal em que eu acho que há estas pequenas
empresas, eu não quero que me dêem capital mas que me abram portas, depois é um mundo
muito fechado. A informática passou a ser divulgada nos anos 90 e depois mais em 2000, mais
na primeira década de 2000!
Este nove anos de 2000 a 2009 e que a informática começou a crescer muito nas escolas, o
crescimento do parque informático no país, foram estabelecidos objectivos informáticos e à
medida que esses objectivos que iam atingindo e a alfabetização digital nas escolas, fez com que
isto desencadeasse por um lado, coisas muito boas mas também por outro lado há coisas muito
más, aquilo que eu chamo a estupidez informática.
Há muita gente a fazer muita coisa mas mal, e eu continuo a achar que a internet continua a ser
um depósito de material, estilo a nossa feira da ladra, em que vai-se lá e as pessoas não
conseguem olhar para as coisas e centrar-se num objecto.
Contudo, acho que faz parte de uma aprendizagem e depois a partir daí começam-se a canalizar
algumas tendências. Por outro lado acho que o mundo da educação e sempre um lobby, é uma
palavra muito forte, mas acredito muito nisso, porque pertence a um determinado número de
pessoas é como no caso dos colégios e escolas. As escolas são ligadas ao estado, os colégios aos
particulares. Existe uma aqui uma dicotomia em vez de um dar de mãos e é muito difícil entrar
nessas situações, muitas pessoas que estão a dar informática, tanto no estado como no particular,
são pessoas que ate têm know how, mas a informática é dada pela informática, de uma forma
pouco singela, muito crua, e os miúdos não vêm para que e que aquilo serve, não há ligação
nenhuma com os conteúdos, e quando há é fraca, e depois parece que, eu não estou a inventar
nada, mas as pessoas acham que estão a inventar qualquer coisa, não estão, não estão.
E isto tudo é um processo que desgasta, que dá muita vontade porque é um processo muito giro,
sobretudo ver o q eles conseguem alcançar. E também entrar numa sala, nalguns colégios onde
temos, a pessoa entra numa sala, e os miúdos por iniciativa, a professora não consegue fazer
nada no computador e eles vão e tentam fazer, isso a mim, e também à própria professora, dá-nos
imenso gozo, porque se consegue ver ali um resultado, e nós dizemos se calhar está algum fio
desligado, por isso a máquina não funciona, e eles respondem logo “ já viu os fios todos?”
portanto, estas coisas, e depois são os pais que nos dizem “ele hoje esteve a ajudar a fazer um
power point; ele hoje foi buscar informação. Tudo isto vê-se mais em crianças que nós temos a
informática curricular, e não extra curricular, isso é, extra curricular é quando é ao final do dia,
passa a ser uma actividade lúdica que complementa no fundo o que eles estão a fazer, curricular
é quando é inserida no horário deles normal, que o Ministério, no 1º ciclo não vê isto com bons
olhos. Mas nota-se que é assim, crianças que passam por nós desde os 3 anos e que saem com 10,
quando vão para outras escolas com crianças que vêm de outros locais, dão cartas, sabem fazer
uma apresentação de um trabalho, sabem ligar um data show, sabem fazer muita coisa. São
autónomos, portanto, hoje em dia fala-se muito na literacias, “ah eles nascem já com o ship” eles
nascem, só que as vezes o chip vem um bocadinho perturbado, tem de ser activado e às vezes e
preciso nós andarmos ali, a torna-lo saudável.
Entrevistador – Qual a missão da Crokis e os objectivos?
Entrevistado – A missão da Crokis, missão é uma palavra muito forte, era deixar o legado mas
acho que é preciso chegar a uma determinada idade, não digo velhinhas, mas com algum tempo
para fazer esse tal legado, uma recolha de material, a nossa missão mais imediata, é fazer com
que os nossos alunos façam a diferença. E que a informática seja vista como uma ferramenta, que
ainda não é vista. Porque as próprias pessoas utilizam-na muito mal, muito precariamente. É a
mesma coisa ter em casa um fogão com um forno todo Xpto mas só sei ligar o forno para fazer
frango assado. Não é? Portanto ou eu sei quais são as potencialidades todas que a informática
tem e posso então fazer com que dessas potencialidades saiam dali resultados. Ou então não ando
aqui a fazer muito mais. Isso poderá de alguma forma, enriquece-nos muito anualmente, porque
nós vemos isto como etapas anuais, mas por outro lado também nos cansa muito, e pode-nos
criar alguma desmotivação porque há tanta coisa hoje em dia, o crescimento é tão rápido, em
termos de aprendizagem, que já não se faz da mesma forma.
Nós não estamos aqui a debitar e eles a ouvirem e a fazerem. A informática acontece, talvez até
de uma forma mais assustadora que é, apesar de eles terem postos de trabalhos para eles, nós
debitamos alguma coisa, porque debitamos, mas a informação que lhes fazemos chegar é muito à
base do visual, através de muito estimulo visual até, mas depois não sabemos o que é que lá fica,
é muito complicado, e depois à volta disto tudo há os problemas deles emocionais. Portanto a
nossa missão é o quê? É realmente eles levarem qualquer coisa destas aulas, bastante boa.
Os objectivos são, continuarmos a fazer isto com muita força, caindo, levantando, andando,
caindo, levantando, andando. Se calhar uma das nossas grandes etapas, seria sei, lá, ter uma
plataforma só da Crokis, em que criássemos linkagens a nível mundial com pessoas com o nosso
espírito, em que houvesse, trocas, partilhas, porque aquilo em que eu reparo muitas vezes é que
ando em muitos sítios, muitos sites, por exemplo ao nível de instituições académicas, e o que eu
reparo é que ainda está tudo muito pela rama. Eu não tenho muita paciência para estar pela rama.
Se eu tivesse espírito académico em que tivesse que ensinar pessoas, podia estar pela rama, agora
pessoas que estão a fazer ainda a iniciação de muita coisa que eu já passei, também acho que é
um bocado pretensioso da minha parte, estar pertencer a um grupo desses e dizer “ ah não, não é
assim, assim não está bem”, as pessoas tem de passar pelas suas próprias experiências, não é?
Para aprenderem.
Entrevistador – Já vimos que a principal actividade da Crokis são as aulas extra-curriculares ou
curriculares…
Entrevistado – Mas temos outras actividades, temos explicações. Nós próprias temos uma
marca muito negativa e crítica no sentido em que, quando iniciamos a informática, só a
informática, pela informática só mais tarde é que iniciamos os outros ramos, a parte da
psicologia ou o apoio psicopedágogico e as explicações, quando estamos a falar, muitas vezes
não desenvolvemos muito essa parte, porquê? Porque não passa tanto só por nós, como estamos
a dar a parte das aulas de informática, estamos muito centradas também neste mundo. Quando
estamos nas explicações, no apoio psicopedagógico e na psicologia estamos com formadores
externos. Há orientação, mas é assim, quem sou eu para entrar no nosso gabinete, virar-me para o
psicólogo e dizer “olhe, isso não se faz assim”, eu não posso ensinar nada a quem sabe, eu tenho
é que ouvir o “b, a, ba” para fazer qualquer coisa.
Daí se calhar haver este discurso, e ir sempre para a informática porque realmente aqui o alicerce
é a informática e os outros são uns degraus, realmente precisam também de avançar, mas para
avançarem muito mais nós teríamos de deixar a informática. Mas eu não quero deixar!
Entrevistador – Eu queria saber, como é composta a equipa de trabalho da Crokis?
Entrevistado – Então é assim, neste momento a equipa é composta, por 3 pessoas a tempo
inteiro, eu, a Susana e uma colega nossa que é a Filomena, uma colaboradora.
Depois existem colaboradores externos, em que temos, eu nem acho, nem tenho bem a certeza,
três psicólogos, com áreas diferentes, psicólogos clínicos e psicólogos educacionais, temos duas
psicopedagogas, e neste momento, na área das explicações ainda não entrou ninguém, mas temos
também já formadores que eram do ano passado, e eu era uma delas, dava explicações de
matemática, como a matemática é muito complicada, acabei por ser eu a dar. Depois há o técnico
de informática, que também faz parte da empresa, há o técnico de contas
que também faz parte da empresa. Aqui há uns anos atrás a empresa era muito maior, porque nós
ai éramos, era eu e a Susana, à mesma, mais duas formadoras contratadas a tempo inteiro, mais
uma outra pessoa que se associou à empresa, e mais N pessoas que davam aulas pontuais. O que
é que nós verificamos, como a pessoa que antes tinha entrado, para trabalhar connosco, tinha
trazido já N colégios, e esses colégios, ela já estava muito viciada na forma de trabalhar, nem era
para ela nem era para nós, nós optámos por perder dinheiro, e não foi pouco, mas nós dissemos,
não, isto para nós não serve. E continuamos na nossa forma de agir. Pronto.
Entrevistador – Neste momento, sentem alguma limitação a nível técnico, ou a nível da
formação dos vossos funcionários ou a nível matéria?
Entrevistado – Nenhuma porque é assim, pelo contrário, houve um salto qualitativo nas pessoas,
porque há três anos atrás, nós verificamos há uns tempos atrás, que quando queríamos alguém
para dar aulas, fazíamos entrevistas e as pessoas não estavam preparadas para trabalhar, não
estavam.
Qualquer coisa, gostamos de pessoas críticas, eu posso não concordar mas ouço e até fico a
matutar, mas nós reparávamos é que as pessoas eram demasiado imaturas. Depois, como isto é
um mundo de mulheres, infelizmente, haviam sempre as meninas que queriam, tinham acabado
as licenciaturas e queriam casar e ter filhos, e então, era muito complicado e chocava.
Hoje em dia, já nunca mais colocámos, em termos de procura, em termos de jornal, nós
utilizávamos muito, colocar, a dizer que precisávamos de alguém, agora não, agora é tudo
através da internet. O que é certo é que as pessoas que nos caem são sempre espectaculares. A
sério, e há pessoas que até saem, olha, vou-me embora, não perca o nosso contacto, nós
gostamos de si, vá, continue, tudo de bom na sua vida, não, mas tem sido bom, que as pessoas de
alguma forma, estão pela internet, e procuram algo pela internet, são pessoas diferentes daquelas
que vão a um jornal, limitações nesse aspecto não temos.
Entrevistador – E a nível de Material?
Entrevistado – Não temos. Nada. Nunca tivemos limitações de materiais. Já tivemos de
formandos, materiais nunca tivemos.
Entrevistador – Neste momento quais são as principais dificuldades ou limitações da empresa?
Entrevistado – Eu acho que as nossas dificuldades são as dificuldades que se prendem com as
empresas de pequeno porte.
Entrevistador – Aquelas dificuldades iniciais?
Entrevistado – Exactamente, aquela burocracia, se nós somos duas pessoas e se a minha
empresa é também o meu local de trabalho, onde eu tenho de desempenhar uma determinada
função sem ser orientar, falta-me tempo para as outras coisas. É nisto aqui que eu vejo que existe
uma limitação das empresas de uma forma geral. Se tivéssemos uma secretária que nos fizesse
tudo era uma maravilha, mas nós depois se calhar achávamos que aquilo não estava bem feito,
queríamos antes assim. Ou era uma pessoa muito especial ou estávamos tramadas.
Eu julgo que essa é a grande limitação da nossa empresa. Tanto da nossa como das outras.
Entrevistador – É um bocado aquela lógica se queres bem feito, fá-lo tu?
Entrevistado – Não, porque nós não somos muito assim, nós podemos delegar muita coisa, por
exemplo, só para tu veres um exemplo, a parte contabilística de uma empresa, eu não percebo
nada de contabilidade, mas sei a contabilidade mínima das mínimas, até atrás dos contabilistas
nós temos que andar, porque senão ele esquecem-se de um determinado número de coisas,
porque eles tem, não é um nem dois clientes, são N clientes, e depois lá está, adquirem mais
clientes do que eles tem capacidade de resposta, pequena empresa, lá está, e depois começam a
ter problemas de resposta. Temos de estar atentas a muita coisa. E depois é assim, somos
solicitadas para muita coisa, não é fácil fazer, estar em escolas como nós estamos, em que as
pessoas esquecem-se que pagam por nove meses mas exigem-nos 12, porque no período em que
não devíamos estar nas escolas nós estamos, nós temos reuniões, nós estamos a fazer festas,
estamos a colar coisinhas, nós integramo-nos completamente na vida escolar. Eu sei o que se
passa em qualquer escola, eu sei quem é o António, quem é o Joaquim, quem é o Manuel, quem
é o pai do Manuel, quem tem o pai atropelado, não foi atropelado, porque é que eu sei? Porque
não venho cá, não dou uma aula e vou-me embora, mas isto paga-se como é óbvio, é uma
limitação? É! Ao nível do tempo é uma limitação.
Entrevistador – Quais as necessidades actuais, o que é que a Crokis precisa actualmente?
Necessidades ou oportunidades. Porque de uma necessidade podemos criar uma oportunidade.
Entrevistado – O ideal seria, quando nós mandamos 5000 panfletos para o mercado, na região
de Lisboa, e essas regiões são estudadas, porque, 5000 não chegam, que viessem, não 5000
alunos, mas 1000 alunos. Pronto, lá está, são as tais despesas, que muitas vezes nós não vimos
resultados. Nós mudámos agora de escritório, porque a oportunidade nos surgiu, estamos num
sítio espectacular aqui ao pé das amoreiras, em que há varias escolas a volta, mas depois a
conjectura toda económica do País esta nesta desgraça, as pessoas dão primeiro para bens de 1ª
necessidade, como é obvio, e depois dão para outras coisas que não interessam tanto, e hoje em
dia ainda continuam a haver muito a situação que o meu filho está com problemas, vai a uma
clínica, então existem varias clínicas, determinadamente a clínica de psicologia, onde se paga
imenso dinheiro, e onde aquela criança que vai entrar, é mais um numero, muitas vezes, consigo
dizer que eu quando estava com a direcção de um colégio em Cascais, recebia relatórios em que
o nome da criança vinha errado, portanto, o cabeçalho tinha a identificação toda correcta, e
depois o miolo ela como se fosse um template ou uma minuta de um notário, em que o nome era
diferente. Isto acontece N casos, e eu como professora e noutras escolas onde estamos, isto
acontece N vezes. A par de que eu aí sou apologista de que, existem problemas, não vou levar
uma criança, como existem problemas, algumas perturbações comportamentais ou do foro
psicológico com a criança, muitas vezes os pais levam-nas a clínica a, b ou c, porque é bem, é de
bem, o meu filho anda na clínica tal, enquanto os resultados depois são um fracasso. Depois o
que acontece é que muitas vezes, as pessoas que nos chegam, pessoas que nos conhecem,
conhecem o nosso trabalho, e depois quando vêm pequenos resultados desaparecem com os
filhos, depois mais tarde, é muito mais difícil retomar outra vez o trabalho. Tem de se ver as
coisas em teremos de investimento, custa, é obvio que custa, uma pessoa quando tem um filho, e
à partida quando tem um filho tem de pensar nessas situações todas, está a investir, e tem que
investir ate ver resultados, mas resultados que sejam coerentes com a forma que ele se ta a
desenvolver, caso contrário, às vezes e pior, a pintura que se dá, e depois há uma falha e as falhas
vem-se todas. Se calhar se nos crescêssemos muito, passamos a ser como as tais clínicas, não sei,
não acredito, porque nós temos tendência em fazer as coisas bem feitas, ou então, não sai, fica na
gaveta, e nos temos muita coisa em gaveta.
Entrevistador – Relativamente ao projecto e ao desenvolvimento da plataforma, quais são as
expectativas e quais são as práticas que vamos realizar durante este percurso.
Entrevistado - Estamos a falar do trabalho que vamos desenvolver contigo? Não vamos já falar
em plataforma porque ainda temos que discutir esta questão. A Susana tem uma opinião sobre as
plataformas, eu tenho outra, não quer dizer que ela não tenha razão ou não quer dizer que eu não
tenha razão, nós entendemo-nos em tudo portanto aqui vai ter que haver um certo entendimento.
O trabalho que estamos a querer desenvolver contigo, é um trabalho que estamos a querer fazer
há muito tempo, nós reunimos durante estes anos todos muito material, várias pessoas que
estiveram connosco foram também foram ajudando na recolha desse material, claro que a pessoa
A trabalha de forma diferente da pessoa B e muitas vezes esse material não foi filtrado por nós.
Portanto existe muita coisa, inicialmente passaria por organizar todo esse material, para que
depois fosse fácil, para já ter um material homogéneo e coerente, em que outras pessoas
pudessem usufruir dele, para verem o que são boas práticas, senão forem também agradeço que
nos digam. O 1º passo é por aí, o 2º passo que tenho vontade há muitos anos é fazer um livro,
seria o livro digital, pronto. Não tenho tempo, muitas vezes sou mandriona, e disperso-me, sou
muito em termos intelectuais, sou muito acelerada. Tem coisas boas e tem coisas más.
Acabei a licenciatura fiz várias pós-graduações, fiz várias. Claro que isso retira-me tempo para
outras coisas, depois achava que me faltava a experiencia profissional na área de universidade, a
dar aulas na universidade, também fui fazer, depois era na parte das pessoas mais de idade,
também fui fazer, portanto tudo o que me vem vindo eu vou agarrando. Claro que isso traz-me
experiência mas isso vai-me retirando tempo, depois chegam as férias. E penso, “estas férias
vamos fazer o livro”, e já compilamos vários materiais, já consegui também picar a Susana,
coitada, ela também lá andou.
Mas depois surgem as aulas, durante o mês de Setembro por exemplo este ano, foi muito
complicado, não houve tempo para nada. Como nós metemo-nos muito nestes trabalhos online,
aplicações online, onde os miúdos a desenvolver através de plataformas e tutoriais, dão muito
trabalho, as aulas são extremamente cansativas, eu tenho 15 miúdos de cada vez. Às vezes a net
não funciona, fala-se muito na banda larga mas a banda larga também não dá resposta. Depois as
aulas também cansam, depois chegas a uma sexta-feira estás extremamente cansada, e depois
tens a tua vida pessoal, quer dizer eu já tive de abdicar da minha vida pessoal durante uma data
de anos, eu nunca passeava, nunca saia, tive anos e anos sem passear, sem sair.
Com o mestrado então, foram 3 anos de clausura, eu só dizia assim: “quando é que isto acaba?”,
“quando isto acabar eu vou ao cinema, eu vou fazer um jantar”, porque eu nem jantava, a sério,
porque e uma vida, em que vais dando cada vez mais resposta, começa-se a esquecer de outras
coisas, da vida própria sabes.
Depois começas a pensar “não, agora vou viver u bocadinho a minha vida própria”. A Susana
esteve a viver uma gravidez, é natural, são coisas naturais da vida portanto, o livro é porque
ainda não tinha de ser, eu já tinha a ideia do livro, antes de fundar a Crokis, muito antes, já
andava com aquela ideia, não há nada como aquilo que eu tenho na cabeça, e depois a Susana
ainda veio ajudar muito mais, não é? Dado que seria uma bomba, na forma que eu tenho o livro
na cabeça como a Susana seria uma bomba. É como a questão do software educativo, há 2 jogos
feitos na empresa porque eu precisei de fazê-los para o mestrado, senão não estavam feitos, lá
está. Se nós tivéssemos um batalhão de pessoas a trabalhar para nós nem que fosse pontualmente
nós até conseguiríamos mas sendo assim é muito complicado. Ideias não nos faltam felizmente.
Entrevistador – Portanto a plataforma será um protótipo….
Entrevistado - A plataforma vai ser, não! A plataforma vai ser a exposição, a montra a vitrina a
passerele, dos grandes costureiros informáticos que somos nós. Temos lá os nossos modelos, os
nossos alunos, as nossas colegas as pessoas que trabalharam connosco, é giro ver, ta ali um
mundo, no fundo é o mundo, muito tempo de trabalho, exacto, e portanto há que clicar em vários
sítios e se calhar até dá para um livro, se calhar até como se fosse um diário de bordo, porque há
situações aqui giríssimas e caricatas. Aliás coisas que nós pudéssemos filmar e utilizar a imagem,
o que muitos pais não concordam e eu compreendo isso perfeitamente, eu acho que as pessoas
ficavam, entravam num mundo completamente diferente, é um mundo animado mesmo, com os
miúdos á mesmo animado. Com as crianças mais velhas, já dei aulas ate ao 12º ano, são outras
formas de estar, eu tenho muitas saudades, porque eu gosto muito de alunos mais velhos
também, são outras formas de estar mas ganha-se muito com os miúdos mais pequenos, em
termos de vida.
Mas eu espero que a plataforma venha dar esse tipo de resposta, espero é, que depois não venha
tarde.
Entrevistador – Agora relativamente à minha prestação, como é que é visto, o que é que é
esperado do meu trabalho?
Entrevistado – É assim, nós temos uma coisa, que se calhar e negativa, porque nós já tivemos
muitas expectativas em relação às pessoas. Fizemos uma aprendizagem que é, nós temos de olhar
para as pessoas e ver o que e que as pessoas tem para nos dar, se calhar nós somos muito
exigentes, tanto em termos de trabalho como em termos comportamentais, eu não te posso exigir
a ti o mesmo que exijo a pessoa que trabalha comigo 8 horas por dia, é obvio, portanto tenho de
ver aquilo que tu me podes dar, dentro de aquilo que me podes dar tenho de ir buscar o melhor.
Eu ainda te estou a conhecer, lá está, se calhar quando terminássemos o trabalho é que
estaríamos prontas para trabalhar mais. Eu vejo por exemplo, não são comparações, vejo-te um
bocadinho como a Elisabete, a Elisabete trabalhou connosco mas trabalhou de uma forma
diferente, lá esta, nós tiramos o melhor que havia da Elisabete, conseguimos, a Elisabete com
certeza tirou o melhor que havia de nós, e esperamos que contigo também consigamos tirar o
melhor como é óbvio. Eu acho que de início é muito complicado, uma pessoa que entra na
Crokis, sejas tu ou seja outra pessoa qualquer, eu acho que a pessoa anda a patinar durante uns
tempos, anda perdida porque para já nunca viu nada igual, depois eu acho que nós temos uma
aceleração que também não conseguimos transmitir às pessoas aquilo que fazemos, e não temos
sobretudo uma coisa que é paciência. Sou muito rápida e espero que a pessoa que esteja a frente
também seja, está errado. É simples. Eu gosto quando as pessoas dizem: desculpe lá, eu ainda
não cheguei aí. Não chegou óptimo, então tome lá o seu tempinho, quando chegar avise, mas é!
Porque a pessoa sente-se a patinar aqui. Eu acho que por exemplo um trabalho aqui dentro da
Crokis, no teu caso seria, tu terias de passar pelas nossas aulas, se tu não passares pelas nossas
aulas, estás a passar por um trabalho que apesar de tudo, achas muito giro, que eu sei que tu
achas, mas tu não estás a ver a parte humana do trabalho, que e muito necessária, a energia que
catalisa tudo aquilo, porque tu ali estás a ver um mundo de várias pessoas, pessoas novas, e então
estás a ver algumas coisas que foram feitas por nós.
É necessário fazer este percurso, para que se perceba o que tem que se mostrar, qual é o resultado
que tem de se dar, tu agora tas com material morto, com dados mortos, por exemplo, se nós
agora te mostrássemos o trabalho feito que eles fizeram em banda desenhada connosco, se tu
visses o material mas depois também se tivesses visto a forma como a aula foi desenrolada, é
completamente diferente e tu se calhar dizias logo: “não, isto não pode ser feito desta maneira” e
tu tens uma perspectiva que nós não temos porque tu estás muito limpa ainda, porque para ti é
tudo novo mas se calhar nós estamos-te a canalizar para uma direcção, portanto, aquilo que nós
esperamos de ti é uma postura crítica, mesmo, “olhe não concordo, não gosto, olhe, vamos por
aqui, vamos tentar, tudo bem vamos tentar da vossa maneira mas também vamos tentar da nossa
maneira” não ver isto, no sentido, eu tenho de vir aqui, eu tenho de fazer estas coisas. Não! Tens
de dar o teu cunho, tu és importante para esta empresa, és importante, és uma pessoa que
passaste por nós, que nós já sabemos quem tu és, e um dia mais tarde também vamos saber para
onde é que vais, não é? Acho que é por aí.
Entrevistador – Temos alguma condicionante relativamente ao desenvolvimento deste trabalho
além do tempo, ser escasso?
Entrevistado – Não, o tempo é muito escasso! É o teu tempo, é o nosso tempo, é um trabalho de
10 anos, 9 anos construído, portanto é muito complicado, é complicado. Vejo o tempo, eu vejo
sobretudo o tempo, não vejo mais nada. Não vejo…acho que não vai haver grandes
desentendimentos entre nos, não, vejo o tempo mas vejo o tempo e vejo o que te disse no inicio,
vejo um pântano, e tu a andares de galochas pelo pântano, e a agarrares-te e a escorregares assim
uns cepos. E depois tens que lidar com duas pessoas diferentes dentro da empresa, sou eu e é a
Susana, somos mesmo muito diferentes.
Nós somos muito diferentes, por isso é que como a Susana te tem estado a dar apoio, porque a
minha ideia era uma coisa e a ideia dela é outra, e ela muitas vezes tem razão neste tipo de
coisas, no tipo de organização, como quer os trabalhos, e se calhar depois entro mais eu em
campo. Pronto, porque eu tenho outro tipo de não e de ideias é de, o acreditar diferente noutras
coisas porque se calhar, já vi outras coisas, também como sou mais velha, também sou esquisita,
naquilo que eu não tenho tanta certeza, como ela, que ia muito virada para o projecto, tem
paciência que é uma coisa espectacular nela, é deixa-la estar, deixa-la andar, pronto. Temos de
aproveitar o que há melhor e o que há de pior em cada uma de nós, estas são as nossas
expectativas e a tua cruz, a tua desgraça, no pântano com galochas, não, quando chegares ao final
já não tens galochas nenhumas, já estás com, exactamente, já tas com as calcinhas arregaçadas
para apanhares frio nas pernas.

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