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SUAS ATRIBUICOES? Instalada em 16 de maio de 2012, com a pos- se de sete imtegrantes, a Comissio Nacional da Verdade deve implementar a Lei 12.528/2011 que visa entre diversos objetivos: promover 0 esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, de sdparecimentos forcados, ocul edo de caddveres ¢ sua ausoria, ainda que ocorridos no exterior (art. 3.9, II). A lei fixa 0 perfodo a ser investigado ~ de 1946 2 1988 — ‘edetermina quea Comissio tend @ _prazo de dois anes, contado da data ide sua instalagio, para « conclusdo dos rtbathos.. (art. 11). Brasil é ses dos mortos e desaparecidos politicos foi, sem diivida © que impulsionou a ‘eriagio da Comissio. Lembremos aqui o caso da Guertiha do Araguaia, movimento ~ que durou ‘de 1972 2 1974, no sul do Paré ~ no qual os mi- - Firares sequestraram, mataram e promoveram a ‘ecultasio dos cadaveres de 70 militantes politicos ‘edeum miimero iacerto de camponeses da regido, | Taper tenha sido um dos episédios massivos mais ‘wiolentos e truculentos daquela época: criangas, ‘filhos de guerrilheitos sequestrados ~ e que nio fiveram até hoje sua identidade resgatada ~ ¢ _provavelmente nascidas em 3 cabegas " decepadas: camponeses torturados junto as s "familias: vilas ¢ cidades cercadas pelas forcas " tiltares; moradores da regiio impedidos de ir vir. Os familiares dos guerrilheiros ganharam “4 asio judicial que tramitou na Justiga brasileira _de 1982 2 2007. E tiveram éxito junto 4 Corte Tnteranericana de Dircitos Humanos da OBA hhouve a condenagio do Estado braslei- fo, em 14 de dezembro de 2010, obrigando-o a Jocalizar ¢ entregar os restos mortais dos desapa- Seeidns politicos do periodo da dicadura militar (1964 2 1985) © a apurar as responsabilidades "dos agentes estatais pelas violagoes de direitos ‘bumanos. A Corte Interamericana nio aceitou a do STF que estendeu os efeivos da Lei da Quanto mais 0 tempo passa, consolidam- se as incertezas. Conhecerao a verdade dos fatos? Serao apurados as responsabilidades pela tortura, pelos estupros _ ACOMISSAO NACIONAL DA VERDADE DARA CONTA DE Anistia (Lei 6.683/1979) aos corcuradores, 0 que é considerado autoanisia, © funcionamento da Comissio Nacional da ‘Verdade deveria potencializar as agées para a execu- ‘do dessas sentengas que ainda no foram cumpridas devido & falta de informagies ‘Quando a Presidenta da Repti- blica, Dilma Roussef, sancionow a lei que cria a Comissao da Ver- dade, sancionou, em seguida a Lei 12.527/2011, que viabiliza 0 acesto a informagées produzidas pelos drgios piblicos e que foi regulamentada cm 16 de maio de Mimmdoskimes alsesdanossare- OCOMTIdOS, pelos. 2012 pelo Decreto 7.724/2012, ence ‘2 Comissio da Verdade desaparecimentos ‘Nesta lei, estdo definidos as classifi- ofarcom umaleiaindalimitada, —_forcads, pelos __ aes dos documentos co prazox Pee setinge 4 vua force poltcica ss de estrigie de aces &informagaoe [Pars uma apuragio detalhada da S€@U€StIOS de crlancas, 5) iJerassecretos (25 anos); b) scene verdade dos fats, Pela ocultacao ~to5(15 anos) e reservados (5 anos) A lua incansivel de familia. de cadaveres?- are. 24, § 1,1, He Ill. O Mr nistétio da Defesa, antes que foste aprovado o decrewo de regulamentagio da referida lei, refer a clasifcagao dos documentos produzidos pelas Foreas Armadas por ocasito da ditadura de forma torné-los interditados para consulta (Folha ‘de S. Paulo, 12.06.2012), O obstéculo maior a ser enfrentado pela Co- missao Nacional da Verdade seri, sem divida, oda falta deinformagées para desenvolver, em condigoes adequadas, 0s trabalhos de investigacio. Por parte dos familiares, persiste a busca e cresce 4 ansiedade. Quanto mais o tempo pass, consoli- ‘dam-se as incertezas. Conhecerio a verdade dos fatos? Serdo apurados as responsabilidades pela tortura, pelos estupros ocorridos, pelos desapareci- ‘mentos forgados, pelos sequestros de criangas, pela ‘ccultagio de cadéveres? Terd a Comissio coragem suficiente para apontar as causas da violéncia estar « para produzir rcomendagocs de politicas pablicas ‘que ponham um basta perpetuagio dos crimes da ditadura, como a tortura, os assasinatos ¢ ocultagion dos corpos, tio frequentes na nossa sociedade nos dias de hoje? Terao os familiares 0 diteivo de dar ‘uma sepulcura digna aos seus mortos? vali, a Comissio Nacional da Verdade tenha forga suficiente para responder a essas questées. Cabe 3 sociedade participa, opinar e oferecer suas contribuigdes. q ‘> ie hd @ o » EDITORIAL ‘A.COMISSAO NACIONAL DA ‘VERDADE DARA CONTA DE SUAS ATRIBUICOES? 1 ‘= 0 CONSUMO DE PROSTITUICAO INFANTILJAE CRIME NO BRASIL Janina Concecdo Pascal 2 ‘= QUANTO VALE A VIDA DE UM 'BRASILEIRO? ~ UM APELO A COMISSAD DE REFORMA DO CODIGO PENAL luis Greco + 161 12.654/2012: € ORM DO DIREITO DE RAO PRODUZIR PROVA | STI EA POLEMICA EM TORNO 00 \VALOR DO CONSENTIMENTO DO MENOR DE 14 ANOS NO CRIME DE ESTUPRO_ ‘Gisele Mendes de Canatho Eda lose Chagas ____9 "+ CARCUMTOS PERVERSOS I (0 EFEITOS CRIMINOGENOS ‘DA MIDIA EXPLORADORA DA \VIOLENCIA COMO ESPETACULO Domingos Bartoso da Cosa © REFLEXOES SOBRE O “HATE SPEECIF (DISCURSO DE 0010) “Milena Gordon Baker. " NOTAS SOBRE 0 PL 5.607/2009, QUE [MODIFICA 0 ART. 306 D0 CTB: NOVOS ‘VELHOS PROBLEMAS A VISTA Femando Célo de Billo Noguelra__14 © ABORTO, DESEO E AUTODETERMINACAO FEMININA leonora Rangel Nac —_____16 + pescasos JOSE QUER TRABALHAR... ‘Alexandra Lebelson Szafr ——___17 LCADERNO DE JURISPRUDENGIA | © O DIREITO POR QUEM 0 FAZ1569 ‘+ JURISPRUDENCIA ANOTADA * SupeemoTibunal Federal____1577 + Superior Tabunal de ustka—_—_1578 * Tbunal Regional Federal.._1579 “Tribunal de hstga_____1580 n 2 [No é novidade que toda pesquisa deve cat com uma pergunta. No nosso caso, ‘multas. A maioria delas, sem resposta ‘esperamos que permanecam as coisas, que a angiistia das dividas sempre im- one critics, reflexses € novas pesquisas. ‘aramente, yelhas perguntas, aparen- ,ressurgem inconsola~ clmente irresolutas diante do dinamismo ‘mundo real e da constante mutagio dos sociais. Quanto a tais perguntas, 96, sama certera: a resposta, que seguramente ‘seri do agrado de todos, jamais ser diva. Sfo perguntas que incomodam ¢ sralvez, fosse melhor que nio existissem. surgem, porém, ndo podem ser esmente ignoradas ou abafadas. Eis a : de hoje: € possvel falar de vulne- relativa em sede de crimes contra ‘responder a essa inflamével indaga- ‘ecorremos a outra, tio clissica quanto ‘embora conte com um discurso "como resposta politicamente cor- 1 “Qual € Fungio do Dircico Penal?” os que ndo haja diivida de que Penal pressupée violencia. A violén- ‘© Direito Penal, que responde, ve, com outra violéncia, Uma ‘costuma atingir 0 “criminoso” onde : vida, liberdade, integridade fisica seconhecer que o Direiro Penal e por meio da violencia, precisamos, com argéncia, de uma justficativa para coleré-lo, contritio, seriamos sédicos. Por que, racionais que nio se autoprocls os (ou masoquistas, na medida ‘todos somos alvos em potencial), ‘ Direto Penal? 19 discuro ofcial, & porque cle ‘importante fiunedo para a socie- Jo esc discurso, a fungi Dircito Penal é a de proteger ciait. A protegio dos bens ridicosesenciais€ uma Fungo que parece fazer, coincidentemente, 2 maior parte (merecendo destaque a res- lismo sistémico de Jakobs) (geralmente, criteriosos Amaioria, é bom que a premissaparaareflexao 1 repudié-la; (c) a tolerincia do: Dircito Penal pelo ser humano racional ¢ io sidico somente se justfiea porque ele desempenha ‘uma importante e aparentemente insubstical- que talven se justificasse em 1940, nao mais condizia coma realidade vivenciada no final do século XX. Comegou a ficar cada vez ‘mais claro que, no Brasil ral e contempori- vel fungio (€ que afista a ‘ ‘co, ndo enam sodas as pessoas gratuidade); (4) a fungao do Punir uma menores de 14 anos que defini- Denso Weal 9 wines.” sonidyia aleiltient «. pemes e e Condakec canto De uD SI ts dot gu 1 reito Penal desempenhar 2 450-0 Direito Penal — anos apresentavam formac30 fangio de proteger os bens desvinculado gral de properenetadale jridicosessenciais ele, ape- da sua funcao tas, Dispunham de fartura de sar de pressupor violencia, legitimadora. informagdes econhecimentos poderd ter sua accitagao justificada pelo ser humano racional endo sidico. ‘Seo leitor concorda com Se ido ha lesao efetiva a um bem juridico, 0 uso do Direito Penal relaivos a sexualidade. Con- ‘avam, frequentemente, com experitneia sexual pratica Nao se adequavam ao perfil as premissas, possivelmente nao é mais que de joguctes inconscientes ma- eceileeemeie < dticiogila | ane Sunes te conconlar com a con pervertides que ratiam pro- clusio, possvelmente teré que dar seu brago a rorcer para reconhecer que, se defender 6 0 ado Direito Penal fora das hipotcies em que seja estritameme necesdrio para a protcio de bens jurtdicos esenciais,acabard por ser considerade desumano, irracional ou siico. E diante desa constaragao que retomamos a discussio acerca da smlnerabilidade relativa ‘em sede de crimes contra dignidade sexual. incauto legslador brasileiro, por meio da festejada, porém atécnica, Lei 12.015/2009, tentou sufocar arbitrariamente a discussio concernente aos parimetros etérios fixados para delimitar a configurasio do estupro ‘com violéncia presumida. Bom lembrar que 0 ‘Cédigo Penal previa em seu art. 224, 4," que violencia deveria ser presumida nos casos de conjungio carnal ou outros atos libidinosos praticados com vitimas menores de 14 anos, © que levaria 2 configuracéo, conforme o contaro sexual averiguado, dos crimes de testupro ou de atentado violento 20 pudor (ou até de ambos). (© morivo dessa presuncio de violencia nunca foi segredo: partia-se da premissa dde que pessoas menores de 14 anos, por imaturidade, por inexperiéncia sexual ¢ até smo por insuficiente desenvolvimento fisico e mental, nio poderiam consentie para a prdtica de atos sexuais. Seu consentimento, ainda que expresso e comprovado, deveria set considerado invilido, independentemente ddas condighes pessoais da vitima e das parti- ceularidades do caso conereto. Embora a previsio legal fosse absoluta- mente clara e taxativa, comegaram a surgir copinides ~ na maioria das vere, construidas a partir de casos concretos e de sitaagdes do ‘mundo fico ~ no sentido de que a norma, _eito,justamente, de sua supostaimat cu inexperigncia. Enfim, a realidade social apontava para uma profunda modificagso do comportamento ¢ dos valores sexuais, afigurando-se artificial e ilusria a arcaica regra de 1940. A relarivicagto da presungio de violencia nada mais era do que a consulta 4s particularidades do caso concreto para a aferigfo validade ou invalidade do consenti- ‘mento da vitima. E dbvio que essa relativizagio deveria ter mites. Afinal, seria inadmissivel conferir validade 40 consentimento de criancas de 8 anos, por exemplo, A experiéncia pritica, associada a pesquisas sobre a vexualidade entre osjovens, apontava para a regra da yalidade do consentimento apart dos 12anos, pela con- jugago dos atores de desenvolvimento fisico ce emocional. A conceituagio operada pelo Estaruro da Crianga e do Adolescente (que classficou aquela como a pessoa de até 12 anos incompletos, ¢ este como o individuo ‘que tem de 12 anos exatos até 0 18 anos)" prestoursc a conferit a necesséria seguranga paraa definicao de um parkmetro mais obje~ tivo, A presungao de violéncia, para criangas, seria absoluta, configurando-seo crime sexual independentemente das peculiaridades do caso conereto, Para os adolescentes, dos 12 408 14 anos (limite para aineidéncia da presungio), ddeveriam ser observadas as caracteristicas ‘concretas da vitima, révelando-se vidvel a ‘exclusio do crime se constatada aptidao para o consentimento. ‘A flexibilizagio nfo agradow a todos, € dlaro, Sempre hi os que preferem agarrat-se _nsegurangac Restabilidade das regrasrigidas estéticas, nfo importando 0 quanto clas ‘stejam desatualizadas ou sejam injustas. Mas BOLETIM IBCCRIM - ANO 20~ NP 236 - JULHO - 2012 iinet i tat th am I ee ho aot dort pegs sou até mesmo cova) fecha de ob? “Afinal, pode © mundo juridico apartar-s, r completo, do mundo real? ore Legislativo, no ano de 2009, sua opiniao. Nio importa se hd casos -e casos. Nao importa se a pritica desmente 42 teoria. Se a ficgio suplanca a realidade. Sexo com pessoas menores de 14 anos, “independentemente dos atributos pessoais ‘envolvidos ¢ das relagées afetivas que ‘porventura existam, ¢ inexoravelmente cri- minoso, Nesse contexto, se um jovem de 18 | anos namorar com uma adolescence de 13, ~ cometerd crime hediondo (xe maté-la, nio “necessariamente). O pior é que a atitude foi -Aparentemente, por nio se falar mais “em “presungio de violéncia", no haveria mais 0 que se relativizar. ‘No plano do Legislative, « motivagio para fata do cio ero absluro bbem clara: a criagio de um inimigo ~ "0 peso" ede um Dieit Penal do Inimigo, Hara combatl-lo. O crrocismo da peopled ddemonizada e jamais explicada ox casificada como o que cla realmente é~ “uma doenga mental oficialmente caalogada de Suide) ea criangas ¢ suas familias sio formi- catalisadores de votos. Na csfera da aplicagio do Dircto, dois slo os grupos de resstincia. Hi quem se “recuse a reconhecer a escancarada diferenga ‘9s adolescentes da década de 1940 ¢ Sob um olhar paternalista,sf0 ee cms nome. p de tet violentado és menores das 4 prostituicio, todas com 12 ‘Tanto 0 juiz que analisou processo znt00 tribunal local fo haviam absolvido aa A decsio do ST), porém, gerou -virias organizagies de defesa dos :humanos, inclusive da Organizagio ‘Unidas (ONU) e da propria Se- da Presidéncia da Repiiblica, ente motivou o presidente do ‘Min. Avi Pargendler, a afrmar que poderd ser revista. € dificil constatar que a polémica a pronunciamento do"Tribunal em tes, merecedoras de uma tutela irrestrica pelo Estado. E mais: quando se enxerga a diferenga, a tendéncia ¢ a de reprovécla e, com esteio em valores estritamente reli- giosos ¢ morais (como sempre, pessoais ¢ indiscutives), bradar que "a mudanga foi para pior" ~ 0 que, por sis, jé reclamaria, 4 intervengio estatal. Os partidérios desse ppensamento,talvez até pela sua inelinagao teligiosa € moralista, seguramente creem «em um suposto poder magico do Dieito de brecar as mudancas sociais a partir da forga normativa de pedagos de papel escrios: Sua decepsio néo serd pequena, O Dircito é uma ‘onstrsfo artificial, uma convencao posta a servigo da sociedade, nao o contririo. O ‘mundo é dinimico ¢ muda por si. Queira © Dircito ou no, Permita alei ou no. Mas ‘ese grupo tende a desaparecer. Se no for pela mudanga das convicgbes, serdem vireu- de do perecimento da geragio conservadora ¢ iludida e sua substituigio pela geragio que vivencia, hoje, a modificagio do comporta- ‘mento sexual. Mais grave, porém, €a situagéo dos que reconhecem a artficialidade da pr absoluta de vulnerabilidade a luz do plano real, mas, subservientes 2 taxatividade do texto legal, endossam-na como fruto da vontade irtecusivel do legislador ou da “irrevogabilidade da lei pelo costume”. A postura ¢ injustficivel no presente quadro constitucional, pois o operador do Direito dispoe de uma série de recursos para fazer a neceséria adequasio das novmas infracons- tcucionais aos paradigmas da Constituigio. No caso sob cxame, aplica-se com justeza sua raz de ser na absoluta falta de consenso existente a respeito do aleance do consenti- ‘mento dos menores de 14 anos no crime de cstupro, falta de consenso esta que em nada mudou ap6s a edigio da Lei 12.015/2009, ‘Como bem se sabe, entre as principaisaltera- ‘es introduzidas pela referida Lei no Cidigo Penal, esté a insergao no mesmo de um Ca- pitulo dedicado aos crimes sexuais contra os vulneriveis (Capitulo II do Titulo VD) pelo qual acabou o legislador com a antiga presun- ‘0 de violencia,” que constava do revogado art. 224 do CP. Pois bem, com respeito a essa classe de comportamentos, ¢ independente- ‘mente da discussio sobre aefcicia da adogao de uma politica criminal represiva como meio de combate & pedofilia, ndo resta divida de ‘que 0 legislador encontra o fundamento da Punibilidade dessas condutas na tutela da © Principio da Lesvidade (ou Ofensividade), segundo 0 qual nenhum comportamento deve ser considerado como crime se no fender concretamente sum bem juridico essencial. Quando se relaviviaa a vulnerabi lidade, o que se estéa fazer éreconhecer que’ © consentimento, naquele particular caso, 6 valido.£ ierlevante« supresso da “pre- stungio de violencia’, pois a ratio exendi da “presungio de vulnerabilidade” ¢exatamente ‘4 mesma, Se hi consentimento, e se ele € vilido, desfar-se por completo a nogio de ‘ofensa 3 dignidade sexual. Passamos a tatar deuma conduta formalmentetpiea(prevista no art. 217-A do CP), mas materialmense atipica (isto €, que nao traduz ofensa real 20 bem jucidico tutelado). Punir uma condura materialmente atipica ¢ admitir 0 uso do Direito Penal desvinculado da sua fangso legitimadora. Se no ha lesto efetiva a urn ‘bem juridico, 0 uso do Direito Penal néo é mais que violencia gratuita. E entéo, qual serd a justiicativa para a violencia gratuita? Desumanidade, irracio- nalidade ou sadismo? NOTAS (1), Por uma fatia ncompreensival,o art 2.° do ECA. do faz a necesséra reteréncia aos “18 anos ‘incomplets”, Israel Domingos Jorio Professor de Dito Pena da Escola Superior do Ministerio Pabico do ES eda FOV (Faculdade de Diceito de Viria~ £5). ‘Advogaco. 51) E A POLEMICA EM TORNO DO VALOR DO CONSENTIMENTO DO MENOR 14 ANOS NO CRIME DE ESTUPRO ‘Mendes de Carvalho e Edmar José Chagas integridade sexual do menor, entendendo que ‘© mesmo néo é capaz de compreender com ‘exatidioa transcendéncia dos aos praticados, pois seu desenvolvimento psicofisico poderia tesultar altamente comprometido pela sub- ‘missio ao abuso sexual por parte de adultos, ainda que esas préticasfossem intermediadas pelo seu consentimento. Entre a vetusta previsio da “presungio de violencia” ¢ o atual conceto de “vulnerével”, pporém, constata-se que pouca coisa mudou, poisa atualregulago fe ressurgr nos tribunais a discussio acerca da presungio absoluta ou relativa do dissenso do wulnerivel, 0 que, em ‘outraspalavras, desemboca, rigorosamente, na problematica da valdese alcance do insicuro do consentimento do ofendido. O conecito de vulnerével no se encontra em absoluto delimitado com exatidao,¢ mesmo apés mais BBOLETIM IBCCRIM - ANO 20 -N® 236 - JULHO - 2012

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