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PRIMEIRO CADERNO - 29/01/2010

Estupidez + fanatismo = desastre

NELSON MOTTA

Exijo lealdade absoluta à minha liderança. Porque não sou um indivíduo, sou um povo.” Se fosse no
Brasil, chamariam a emergência psiquiátrica, lhe aplicariam um sossega-leão e o recolheriam a lugar
seguro. Mas o Señor Pueblo é presidente da Venezuela, nosso sócio no Mercosul, e prende e arrebenta
quem ousa discordar dele.

Sim, Chávez é ridículo e grotesco em suas bravatas e teorias conspiratórias, da velha escola fidelista. Os
leitores podem até reclamar, lá vem o cara de novo falando desse bufão que ninguém leva a sério. Mas
Chávez é um caso sério, um fanfarrão fanático e perigoso, que está destruindo a Venezuela.

Como um Midas latino, tudo que ele toca vira, digamos, barro. Excelente para artesanato indígena.

E foi tão longe exatamente porque não o levaram a sério, quando a oposição venezuelana boicotou as
eleições e Chávez elegeu uma maioria de 90% do Congresso. E a usou para aparelhar o Legislativo, o
Judiciário e as Forças Armadas — e fazer o que lhe dá na telha. Tudo é referendado “democraticamente”
pelo seu Congresso, em plena legalidade, usando a democracia para construir uma ditadura.

O povo venezuelano está pagando caro para que a América Latina, talvez, aprenda as consequências de
aventuras caudilhescas que não se inspiram em experiências vitoriosas, mas no comprovado fracasso
cubano.

Seu antiamericanismo patológico não consegue esconder a inveja do poder e do progresso dos gringos, que
o ignoram.

Por que perder tempo com ele? Porque muitos poderosos da nossa República têm grande admiração por
Chávez, a quem chamam de democrata, “porque faz muitos referendos”, com quem compartilham o culto
a Fidel e sua revolução decrépita, que aplaudem suas expropriações e sua guerra contra a mídia, e fariam
o mesmo no Brasil se pudessem, quando puderem.

A inflação de 30% achata os salários, o PIB está em queda e a dívida em alta, Caracas é a cidade mais
violenta das Américas, água e energia estão racionadas e as expropriações geraram desabastecimento. E
por mais televisões que ele feche, ninguém vê a sua Telesur.

Só um louco investiria um bolívar furado na Venezuela

1 de 1 29/1/2010 06:03

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