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Jornal-Mural - Conflitos Nos Bálcãs
Jornal-Mural - Conflitos Nos Bálcãs
Conflitosnos
Austríacos
Bálcãs
redação, edição, espiões:
Florianópolis, 6 de novembro de 2008 diagramação e na Sérvia,
ilustração: “pagando 50
Jessé Torres dinares ao
governo, era
Impressão:
ColorSystem
Duplic
possível ter
um prisioneiro
Colaboração: austríaco
Elena
ElenaGivone,
Givone como
Thiago
Ricardo
Victorino,
Barreto empregado”,
Ricardo Barreto escreveu Reed
E
m Guerra dos Bálcãs, John
Reed questiona o próprio Jor-
Mãos, braços Culver Pictures
mesmo. [...] Reed não é imparcial Novamente nos EUA, o relatório clássico de testemu-
e tem orgulho disso”. sobre os discursos dos prepa- nha ocular da Revolução Russa.
Com a cobertura desta rativos militares contra “o ini- Em 1919 a guerra aca-
revolução, ganha notoriedade, e migo,” escreveu em The Masses bara, mas os aliados tinham in-
periódicos nova-iorquinos que- que o inimigo para o trabalhador vadido a Rússia e a histeria con-
rem que cubra a iminente guerra estadunidense era a grande con- tinuou nos EUA. Greves, prisão
européia. Acaba indo pela revista centração de renda no país. de estrangeiros e choques com
The Metropolitan, simultanea- Em 1916, ele conhece a polícia aconteciam por todo o
mente escrevendo para The Mas- em Portland Louise Bryant, es- país, para onde mais uma vez
ses. Em quatro meses, passa pela critora feminista e anarquista por Reed viajou. Desgastando-se em
Inglaterra, Países Baixos, Alema- quem se apaixona profundamen- viagens, contrai tifo, e em 1920
nha e França, indignando-se com te. Passam então a morar juntos morre em um hospital moscovi-
o patriotismo exacerbado. em Nova Iorque. ta. O corpo foi sepultado perto
Volta à Europa em 1915, Em 1917, chegavam da do Kremlin, na Praça Vermelha,
desta vez ao leste: Rússia, vila- Rússia notícias de que o czar com honras nunca concedidas
rejos queimados e saqueados, fora deposto, e de que uma re- antes a um americano. ■
massacre de judeus, Bucareste, volução estava em marcha. Com (Jessé Torres)
Crueldades austríacas com sérvios Livro é editado no país pela Conrad
“[...] Por temperamento, ele não é escritor profissional ou repórter. [...] Reed não é imparcial”
Walter Lippmann, editor da New Republic, sobre John Reed.
“A questão era Åsne Seierstad, em De costas
Projeto gráfico-
editorial,
#1
Conflitos 2
Bálcãs
para o Mundo, sobre Bojana Lekic, redação, edição,
diagramação e Florianópolis, 6 de novembro de 2008
um jornalista repórter que aceitou um prêmio
poder receber
ofertado por Bogoljub Karic, dono
de uma emissora de TV e amigo de
Slobodan Milosevic.
ilustração:
Jessé Torres
Impressão:
nos
um prêmio em ColorSystem
dinheiro de Colaboração:
Elena Givone
Ricardo Barreto
um homem de
negócios [...]”
construção
mundialmente famosa pelo best-seller listas – serviu-lhe de subsídio para um da identidade
O livreiro de Cabul. Em De costas para relato maior das conseqüências de uma em um
o Mundo, retorna com um relato delica- guerra na vida cotidiana das pessoas. local onde
do e vivo das desilusões e tristezas da Hábil, consegue ser simultaneamente as minas
Guerra da Bósnia, conflito que culmi- isenta e muito humana, o que deu ao terrestres são
realidade:
nou na dissolução da antiga Iugoslávia livro feições de reportagem intimista.
a paisagem
considerado o mais sangrento desde a Retoma a história da Sérvia, verde do
Segunda Guerra Mundial. o domínio otomano, a ditadura de Tito Monte
Antes de cobrir a guerra no (da antiga Iugoslávia) e de Slobodan Trebevic, por
Afeganistão, ocasião em que viven- Milosevic, e nos revela um país mar- exemplo, está
ciou os acontecimentos narrados em cado pela extrema diversidade cultural. pontuada
O livreiro de Cabul, Åsne foi correspon- Em 2000, após a queda de Milosevic, a pelo aviso,
dente na Sérvia, nos anos 90. Cobriu jornalista retorna à Sérvia para descre- “Pazi Mine”
a guerra e os ataques aéreos da Otan ver que nem todas as mudanças espe-
contra o país. Uma série de conversas
com gente comum – músicos, estudan-
radas após a queda do ditador de fato
concretizam-se. ■ (Jessé Torres) Åsne foi correspondente na Sérvia Herdeiros dos conflitos
O verdadeiro livreiro, no tribunal A fotógrafa italiana Elena Gi-
vone, vencedora do prêmio
Attenzione Talento Fotografi-
rasados por conflitos e ainda
hoje perigosos.
“Explorei o significa-
Em 2002, durante três meses Seierstad da. Como Seierstad identifica o afegão co FNAC em 2006, esteve em do de crescer no meio do caos
Musadeq Sadeq - AP Photo
viveu dentro da casa de Sultan Khan, como o maior livreiro daquele país, logo março em Florianópolis, onde de uma sociedade que tem
nome fictício de Shah Muhammad Rais tornou-se óbvio tratar-se de Rais. Em expôs seu trabalho Pazi Mine sido devastada, mas também
– principal livreiro do Afeganistão que, a 2006, ele publicou sua versão da his- – Sarajevo 2006, sobre a reali- reconstruída. Nascer após o
despeito da repressão do regime talibã, tória, editado aqui pela editora Bertrand dade de crianças nascidas no fim de uma guerra, onde ne-
não largou a profissão, por acreditar na Brasil sob o título Eu sou o livreiro de pós-Guerra na Bósnia-Herze- nhum dos pais consegue jus-
liberdade de expressão e no poder de Cabul. govina. tificar, nos dias de hoje, aos
transformação que tem a leitura. “Não me arrependo de ter O projeto, segundo seus filhos, o perigo que é
No livro, entretanto, Sultan escrito o livro, mas poderia ter sido um a fotógrafa, surgiu da neces- conviver diariamente com as
Khan revela-se, dentro de sua casa, um pouco mais cuidadosa. Posso entender
Rais: em 2006, livro com sua versão sidade de tornar público um minas terrestres”, explica.
tirano. O olhar ocidental de Åsne enxer- que ele não tenha gostado de ter a vida problema de importância glo- Elena atualmente tra-
de Oslo, a jornalista propôs a doação de
gou na segregação entre os sexos e na projetada para o mundo. Mas, quando bal: as minas terrestres e o so- balha e vive entre sua cidade
500 mil coroas norueguesas a uma fun-
opressão da religião muçulmana uma me abriu sua casa, ele esperava que frimento contínuo pós-Guerra natal e Amsterdã. Graduou-se
dação de apoio à literatura afegã. Rais
história a ser contada. Escondida sob a eu não escrevesse sobre o que vi?”, naquele país. Assim, decidiu em Fotografia em Turim em
recusou a proposta, e afirmou que a
burca, escreveu o que viu. questionou a jornalista, em entrevista à por fotografar crianças no lu- 2006, e entre 2005 e 2007 tam-
obra lhe trouxe graves problemas (como
O livro lançado em 2002 virou revista Istoé Gente. gar onde vivem, retratando a bém estudou na Rietveld Aca-
a fuga de suas mulheres com seus filhos
best-seller, mas Rais quis processar a Em negociações ocorridas no maneira como constroem sua demie de Amsterdã. ■
para o Canadá e para a Noruega), e que
norueguesa por violação da vida priva- ano passado no Tribunal de Conciliação identidade nestes lugares ar- (Jessé Torres)
levaria a questão adiante. ■ (J. T.)
“[...] Mas, quando me abriu sua casa, ele esperava que eu não escrevesse sobre o que vi?”
Åsne Seierstad, sobre a reação de Shah Muhammad Rais, o verdadeiro “livreiro de Cabul”, ao seu livro.