Você está na página 1de 5

Era uma vez…

Conto Partilhado
- Escrever uma página deste conto, sem prejuízo da sequencialização de ideias. Poderá ainda
acrescentar imagens adequadas ou desenhos próprios.

- Cada aluno terá 48 horas para ler e escrever, devendo passar ao seguinte, já com a sua parte
incorporada.

- Poderá enviar por e-mail para o colega seguinte e para a professora.

- Todos devem usar a letra “arial 11”, “espaço 1,5”

Nº Nome Recepção Entrega Destinatário


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
Era uma vez um rapazito que tinha feito dez anos há pouco tempo, no entanto
sentia-se acabrunhado e triste, pois era muito pequeno para a idade que já tinha.
Todos os familiares o tinham felicitado no dia do aniversário; tinha até ouvido por
várias vezes a frase “Estás cada vez maior!...”, mas tudo aquilo lhe parecia doloroso,
pois continuava pequeno, demasiado pequeno…

Na escola, todos se riam dele, chamavam-lhe nomes que o ofendiam, que o


faziam sentir inferior e que o faziam desejar nunca atravessar a porta da rua, preferia
antes refugiar-se, esconder-se e esquecer-se do seu problema dentro
de sua casa.

Todos os dias, ele se arrastava até ao portão enorme da


escola. Era um portão imponente, todo em ferro e pintado de verde. A
escola era uma construção enorme, com janelas e portas de madeira
velha muito trabalhada. Os corredores pareciam demasiado escuros e
demasiado barulhentos. O rapaz, enquanto se deslocava pelos
corredores, alternava a expressão dos olhos entre esbugalhados e
semi-cerrados de pavor. Pensava sempre que, de algum recanto, de alguma sombra,
sairia algum colega de riso aberto, chamando-lhe “minorca”, “atarracado” e pondo-lhe
a mão na cabeça, gesto que abominava, desde sempre. Lembrava-se de sair com a
mãe e de ver repetido aquele gesto, aquele afagar de cabelo, e sempre a mesma
frase: “È mesmo giro, o pequeno!”

Certa noite, ele não conseguia dormir, a cama parecia-lhe demasiado grande e
quando, por instantes fechava os olhos, tinha pequenos pesadelos, onde era um
gigante que pisava os colegas de escola, principalmente um de cabelo ruivo e
dentadura à mostra. Depois, tentava manter-se acordado e pensar numa maneira,
numa magia, numa dieta, numa ginástica ultra-moderna, que o fizesse crescer…

Não sei se foi durante um momento de lucidez ou de sono, só sei que a manhã
chegou e que se levantou da cama, meio trémulo, e dirigiu-se à casa de banho, os
seus olhos pararam num frasco amarelo caído dentro do lavatório. Pegou-lhe, a
princípio com algum desprezo, mas, depois, o rótulo e o formato estranho do frasco
chamaram-lhe a atenção. No rótulo, expondo-se a qualquer olhar estava escrito:

Os nossos sonhos são as nossas futuras verdades, as


nossas verdades imediatas são sonhos do passado.
Usar para sonhar!

Primeiro, não compreendeu, depois, esfregou os olhos, releu e pensou,


rapidamente, que aquilo só poderia estar-lhe destinado. Guardou o frasco enrolado na
ponta do pijama, evitando os olhares da mãe e as suas perguntas indiscretas:

- O que levas aí? O que é que estás a esconder? O que estiveste a fazer?
Conseguiu, a mãe não deu assim tanta importância à forma como se esgueirou da
casa de banho. Nesse dia, apressou-se mais rapidamente, a mãe chegou ainda a
perguntar-lhe de raspão:

- Tanta pressa?!

Não ligou e saiu.

Nesse dia chegou à escola bastante cedo, apenas se ouviam as vozes das
mulheres que diariamente limpavam as salas, as casas de banho, os corredores… Foi
caminhando, enquanto apertava o frasco dentro do bolso do casaco. De repente…
ouviu um balde a cair e uma gargalhada, com o susto, com o coração aos pulos
apertou mais o frasco e sentiu que o frasco se partia em mil pedaços. Primeiro sentiu
um calafrio de pânico, depois sentiu um calor enorme na mão, e quando espreitou o
bolso, para descobrir o dano e a mão, nada estava lá... Nada estava molhado, porque
o líquido tinha desaparecido; nada estava ferido, porque os seus dedos se moviam
sem dor… ainda procurou o rótulo, mas também não o encontrou…

Mais uma vez, sentia um vazio enorme na cabeça, franzia os olhos, tentando
ver melhor, tentando compreender. Sem saber o que fazer tentou encontrar uma sala
aberta, foi então que viu uma nesga de luz romper no sombrio corredor, apressou o
passo, espreitou, entrou e fechou a porta atrás de si. Estava na biblioteca. Despiu o
casaco, revirou os bolsos, olhou as mão vazias. Depois, num gesto de desânimo,
atirou o casaco para cima de um velho cadeirão e deixou-se cair também de forma
pesada. Reparou, incomodado, que se tinha sentado em cima de alguma coisa,
procurou e segurou na sua mão um livro que parecia muito velho, na capa, escrito a
ouro em letras muito trabalhadas, aparecia um título, que fez o rapaz arregalar os
olhos uma vez mais: Os Nossos Sonhos. O rapaz recordou imediatamente o frasco, o
rótulo e repentinamente abriu o livro ao acaso. Leu então um pequeno parágrafo
inscrito numa das folhas amareladas:

Os nossos sonhos são as nossas futuras verdades, as


nossas verdades imediatas são pesadelos do passado.
ler para sonhar!

Tentou perceber as semelhanças e recordar as diferenças entre este parágrafo


e o rótulo desaparecido. Ousou ler mais alguma coisa, mas o livro não tinha mais
nenhuma letra escrita. Para que serve um livro tão grande sem nada escrito? Porque
se repetia a mensagem? Por que razão acertou na página destas inscrições? Por que
era ele a encontrar tudo isto?

Agora, o barulho aumentava lá fora. Estava na hora de sair dali, não queria
chamar nenhum tipo de atenção sobre si, muito menos hoje, em que tudo lhe parecia
estranho e incompreensível. Quase mecanicamente arrumou o livro na sua mala,
quase não cabia, mas fez um esforço por escondê-lo o melhor possível. Saiu a medo
da Biblioteca, ninguém o tinha visto.

Já a porta se fechava, quando entrou na sua sala. Sem levantar os olhos,


procurou o seu lugar e sentou-se. Foi então que sentiu um enorme pavor. Teria de
abrir a mala!… tirar os seus livros… mostrar o grande livro escondido na mala, não
havia modo de o esconder, quando a abrisse!... hesitou… olhou de soslaio o colega
ruivo sentado ao seu lado, que inexplicavelmente o desprezava. Decidiu então,
timidamente, entreabrir o fecho da mochila… devagar… devagar… e de súbito, de um
só esticão abriu a mala de par em par e não encontrou o livro… ele era enorme!…
quase não cabia na mala… como poderia ter desaparecido?! Continuava à procura,
mas parecia-lhe impossível estar lá dentro, entre os cadernos e manuais das várias
disciplinas…

Agora o colega ruivo já tinha desenhado o seu enorme sorriso de escárnio e a


enorme dentadura estava à mostra! Aliás toda a turma se uniu numa enorme
gargalhada, que afundou o rapaz e o fez fugir da sala com a mala meia aberta, meia
fechada.

Correu, correu, correu e só parou numa pequena enseada, que havia perto da
escola. A pequena praia estava deserta. Era Inverno, tinha chovido e o céu preparava
um ensaio de trovoada. Junto a umas rochas, deixou-se cair, deixou cair uma chuvada
de lágrimas, enquanto esperava que as vozes e as gargalhadas dos colegas se
silenciassem nos seus ouvidos; depois limpou a cara e voltou a sua atenção para a
mochila. Tinha de haver um vestígio… uma pista… uma esperança… Retirou um por
um, todos os livros e objectos amontoados ao longo de semanas dentro da mala… E
de repente, viu o mesmo livro que tinha retirado da biblioteca, só que agora estava
muito mais pequeno, com muito menos folhas. O seu coração disparou, as últimas
lágrimas escorreram, ele voltou a abrir o livro e foi então que os seus olhos molhados
e arregalados auxiliaram os lábios trémulos na estranha leitura:

Era uma vez um rapazito que tinha feito dez anos há pouco
tempo, no entanto sentia-se acabrunhado e triste, pois era muito
pequeno para a idade que já tinha. Todos os familiares o tinham
felicitado no dia do aniversário; tinha até ouvido por várias vezes a
frase “Estás cada vez maior!...”, mas tudo aquilo lhe parecia doloroso,
pois continuava pequeno, demasiado pequeno…

Com terror e surpresa fechou o livro. Aquele livro tinha-se modificado e agora
dizia frases que se encaixavam com o que ele sentia e vivia. Ficou sentado com o livro
nas mãos, depois abraçou-o e ficou imóvel, abraçando-o com os olhos fixos no mar
revoltado, que reflectia o céu cinzento assustador. As horas passaram, a trovoada
rompeu os céus e cansada recuou, o mar rebentado deixou-se repousar numa maré
baixa mais tranquila e o rapaz pensativo e distante não se moveu.

Finalmente, dorido e sentindo nos músculos os espasmos da inércia e do frio,


tentou levantar-se, arrastou-se para uma espécie de gruta e deixou-se ficar. Apesar de
estar frio e completamente molhado, sentiu uma tranquilidade estranha ao
aconchegar-se na gruta. Pousou o livro no colo, esfregou a cara, limpou os olhos e
conferiu o interior e a comodidade da pequena gruta.

Tentou então fazer uma síntese:

Era infeliz, inseguro, pequeno, encontrou um frasco, com um rótulo chamativo,


que se partiu em mil pedaços inexistentes, apareceu um livro grosso, que afinal já era
fino e que agora tinha a sua história… acrescentam-se ainda as frases em forma de
charada, que já não recordava com nitidez, tão pouco fora o tempo de convívio com
elas… apenas retivera palavras soltas e sem sentido: sonhos… presente… futuro…
verdades…
Com a melhor síntese que já fizera até ao momento concluída, de forma, ao
mesmo tempo tão clara e tão atabalhoada, o rapaz tinha dificuldade em encontrar um
fio que o conduzisse a uma lógica e qualquer conclusão era, para ele, longínqua…….

Você também pode gostar