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Conto Partilhado: Era Uma Vez
Conto Partilhado: Era Uma Vez
Conto Partilhado
- Escrever uma página deste conto, sem prejuízo da sequencialização de ideias. Poderá ainda
acrescentar imagens adequadas ou desenhos próprios.
- Cada aluno terá 48 horas para ler e escrever, devendo passar ao seguinte, já com a sua parte
incorporada.
Certa noite, ele não conseguia dormir, a cama parecia-lhe demasiado grande e
quando, por instantes fechava os olhos, tinha pequenos pesadelos, onde era um
gigante que pisava os colegas de escola, principalmente um de cabelo ruivo e
dentadura à mostra. Depois, tentava manter-se acordado e pensar numa maneira,
numa magia, numa dieta, numa ginástica ultra-moderna, que o fizesse crescer…
Não sei se foi durante um momento de lucidez ou de sono, só sei que a manhã
chegou e que se levantou da cama, meio trémulo, e dirigiu-se à casa de banho, os
seus olhos pararam num frasco amarelo caído dentro do lavatório. Pegou-lhe, a
princípio com algum desprezo, mas, depois, o rótulo e o formato estranho do frasco
chamaram-lhe a atenção. No rótulo, expondo-se a qualquer olhar estava escrito:
- O que levas aí? O que é que estás a esconder? O que estiveste a fazer?
Conseguiu, a mãe não deu assim tanta importância à forma como se esgueirou da
casa de banho. Nesse dia, apressou-se mais rapidamente, a mãe chegou ainda a
perguntar-lhe de raspão:
- Tanta pressa?!
Nesse dia chegou à escola bastante cedo, apenas se ouviam as vozes das
mulheres que diariamente limpavam as salas, as casas de banho, os corredores… Foi
caminhando, enquanto apertava o frasco dentro do bolso do casaco. De repente…
ouviu um balde a cair e uma gargalhada, com o susto, com o coração aos pulos
apertou mais o frasco e sentiu que o frasco se partia em mil pedaços. Primeiro sentiu
um calafrio de pânico, depois sentiu um calor enorme na mão, e quando espreitou o
bolso, para descobrir o dano e a mão, nada estava lá... Nada estava molhado, porque
o líquido tinha desaparecido; nada estava ferido, porque os seus dedos se moviam
sem dor… ainda procurou o rótulo, mas também não o encontrou…
Mais uma vez, sentia um vazio enorme na cabeça, franzia os olhos, tentando
ver melhor, tentando compreender. Sem saber o que fazer tentou encontrar uma sala
aberta, foi então que viu uma nesga de luz romper no sombrio corredor, apressou o
passo, espreitou, entrou e fechou a porta atrás de si. Estava na biblioteca. Despiu o
casaco, revirou os bolsos, olhou as mão vazias. Depois, num gesto de desânimo,
atirou o casaco para cima de um velho cadeirão e deixou-se cair também de forma
pesada. Reparou, incomodado, que se tinha sentado em cima de alguma coisa,
procurou e segurou na sua mão um livro que parecia muito velho, na capa, escrito a
ouro em letras muito trabalhadas, aparecia um título, que fez o rapaz arregalar os
olhos uma vez mais: Os Nossos Sonhos. O rapaz recordou imediatamente o frasco, o
rótulo e repentinamente abriu o livro ao acaso. Leu então um pequeno parágrafo
inscrito numa das folhas amareladas:
Agora, o barulho aumentava lá fora. Estava na hora de sair dali, não queria
chamar nenhum tipo de atenção sobre si, muito menos hoje, em que tudo lhe parecia
estranho e incompreensível. Quase mecanicamente arrumou o livro na sua mala,
quase não cabia, mas fez um esforço por escondê-lo o melhor possível. Saiu a medo
da Biblioteca, ninguém o tinha visto.
Correu, correu, correu e só parou numa pequena enseada, que havia perto da
escola. A pequena praia estava deserta. Era Inverno, tinha chovido e o céu preparava
um ensaio de trovoada. Junto a umas rochas, deixou-se cair, deixou cair uma chuvada
de lágrimas, enquanto esperava que as vozes e as gargalhadas dos colegas se
silenciassem nos seus ouvidos; depois limpou a cara e voltou a sua atenção para a
mochila. Tinha de haver um vestígio… uma pista… uma esperança… Retirou um por
um, todos os livros e objectos amontoados ao longo de semanas dentro da mala… E
de repente, viu o mesmo livro que tinha retirado da biblioteca, só que agora estava
muito mais pequeno, com muito menos folhas. O seu coração disparou, as últimas
lágrimas escorreram, ele voltou a abrir o livro e foi então que os seus olhos molhados
e arregalados auxiliaram os lábios trémulos na estranha leitura:
Era uma vez um rapazito que tinha feito dez anos há pouco
tempo, no entanto sentia-se acabrunhado e triste, pois era muito
pequeno para a idade que já tinha. Todos os familiares o tinham
felicitado no dia do aniversário; tinha até ouvido por várias vezes a
frase “Estás cada vez maior!...”, mas tudo aquilo lhe parecia doloroso,
pois continuava pequeno, demasiado pequeno…
Com terror e surpresa fechou o livro. Aquele livro tinha-se modificado e agora
dizia frases que se encaixavam com o que ele sentia e vivia. Ficou sentado com o livro
nas mãos, depois abraçou-o e ficou imóvel, abraçando-o com os olhos fixos no mar
revoltado, que reflectia o céu cinzento assustador. As horas passaram, a trovoada
rompeu os céus e cansada recuou, o mar rebentado deixou-se repousar numa maré
baixa mais tranquila e o rapaz pensativo e distante não se moveu.