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A vida na tela

Naquela manh, a brisa soprava carinhosamente o trigo no campo.


Clarissa viajava de trem em direo chcara da tia. As brancas nuvens pareciam
um monte de algodo que projetava, no azul celeste, diversos desenhos. O
crculo de fogo lanava setas douradas que atingiam as bordas verdes das folhas
macias das rvores. As borboletas brincavam sobre as flores que exalavam um
suave perfume. Cisnes brancos desfilavam como leves bailarinas em movimentos
precisos e ritmados. Garas cortavam o ar como pequenas pipas. Flamingos
desengonados, de cores rosadas, completavam o cenrio. No distante
horizonte, um matiz de verde natural, azul turquesa, amarelo indiano e ocre
misturavam-se na paleta, formando as largas plancies e montanhas.
A verde grama parecia um largo e compacto tapete do qual brotavam
lrios, alecrins, girassis e outras tantas variedades de plantas que, de to belo,
ofuscava a viso da criana. Um estreito e comprido crrego de guas cristalinas
abria uma fenda na terra, em cujas margens nasciam murtas e samambaias,
entrecortadas por uma vegetao rasteira, que desapareciam sob as sombras de
cedros-brancos.
No corredor do trem, o silncio reinava absoluto, quebrado, apenas, pelo
barulho das rodas metlicas que se movimentavam sobre os trilhos,
impulsionadas pelas engrenagens movimentadas pelo motor a carvo. Uma
criana de roupa vermelha e longos cabelos negros como a noite apontava com
o dedinho indicador para uma vaca que comia uma moita de capim,
acompanhada por seu bezerro.
A vida assemelhava-se ao ruminar do gado que pastava, estava presente
em tudo: nas abelhas que colhiam o nctar das flores, nas joaninhas que
pousavam sobre os crisntemos e margaridas, nas copas frondosas das rvores
que abriam seus largos e longos braos para acolher os pssaros.
Depois de alguns minutos, estava pronta... Lavei os pincis e os coloquei
sobre a mesa de madeira. Faltava apenas a moldura...
Gldiston de Souza Coelho

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