O Capitão Fracasso 39

1 O Captião Fracasso | Capítulo 39
O Capitão Fracasso
Novela de
Evana Ribeiro
Livremente baseada em
Le Capitaine Fracasse, The Fortunes and Misfortunes of the Famous Moll
Flanders e Arlequim, il servitore di due patroni
Capítulo 39
CENA 01. ALBERGUE. SALÃO. INT. DIA
A FESTA DE CASAMENTO CONTINUA. ARTHUR SAI DO MEIO DAS

PESSOAS E VAI ATÉ A SAÍDA. OLHA EM VOLTA, PARECE ESTAR
PREOCUPADO. SÍLVIO VAI ATÉ ELE.
SÍLVIO – Algum problema, Arthur?

ARTHUR – Estou procurando Isabelle. Ela disse que ia me
esperar aqui, mas...
SÍLVIO – E ela estava aqui, eu vi! Mas de repente olhei de
novo e não estava mais. Talvez ela tenha voltado para falar
com Simone.
ARTHUR VOLTA PARA O MEIO DO SALÃO, RESSABIADO.
CORTA PARA
CENA 02. ALBERGUE. SALÃO. INT. DIA
OUTRO CANTO DO SALÃO. ARTHUR FALA COM SIMONE, COM O

VESTIDO JÁ SEM VÉU E CAUDA E SEMPRE AO LADO DE LEVI.
SIMONE – Ela me ajudou a tirar o véu, conversamos um

pouco e depois foi embora, não voltou.
ARTHUR – Mas não é possível... Lá fora ela não está!
LEVI – Procurou mesmo em todos os lugares?
ARTHUR – Claro que procurei. Enfim, vou continuar
procurando. Não é possível que Isabelle tenha sumido assim...
ELE SE AFASTA, FALANDO SOZINHO. ALICE SE APROXIMA DO

CASAL.
ALICE – O que houve com Arthur? Parecia tão estranho.

SIMONE – Disse que Isabelle sumiu!
ALICE – Estranho.
SIMONE – Pois é, também achei... Mas não há de ser nada. Há
tanta gente aqui que ele não deve ter procurado direito.
CORTA PARA
CENA 03. MILLSHIRE. EXT. DIA
STOCK SHOTS DAS RUAS DA CIDADE DURANTE A TARDE.

SONOPLASTIA: Poison heart – Ramones.
CORTA PARA
CENA 04. SOLAR BRONKHART, JARDIM. INT. DIA

SÉRGIO ESTÁ SOZINHO, LIMPANDO UMA ESPINGARDA. TERMINA
A LIMPEZA E COMEÇA A MIRAR PARA UM ALVO IMAGINÁRIO.
MARTIN ENTRA SOZINHO, JUSTAMENTE NA HORA EM QUE
SÉRGIO DISPARA. O EMPREGADO DESVIA, ASSUSTADO.
MARTIN – Essa quase me pegou!

SÉRGIO – O que você está fazendo aqui?
MARTIN – Senhor, já fiz o que o senhor mandou.
SÉRGIO – Já? Então, pode me trazer Isabelle?
MARTIN – Já a trouxe.
SÉRGIO OLHA PARA MARTIN, INCRÉDULO. ENTÃO ABRE UM

SORRISO.
SÉRGIO – Trouxe?
MARTIN – Exatamente como o senhor queria. Inventei uma
desculpa qualquer e quando ela se distraiu, a tirei da festa!
SÉRGIO – Ótimo, perfeito. Traga-a para cá.
MARTIN SE RETIRA. INSTANTES DEPOIS, VOLTA TRAZENDO

ISABELLE AINDA DESACORDADA NO COLO. SÉRGIO A OLHA COM
TERNURA. TOCA O ROSTO DELA BEM DE LEVE.
SÉRGIO – Pode ir, e continuem os trabalhos como se nada
tivesse acontecido. Ninguém pode saber que ela está comigo,
entendeu?
MARTIN – Sim, senhor.
SÉRGIO – Ela vai se acostumar logo à nova vida. [olha para
ela] Uma vida muito mais feliz, pode ter certeza, minha
querida.
MARTIN PASSA ISABELLE PARA OS BRAÇOS DE SÉRGIO E SAI.

SÉRGIO CAMINHA PARA O CHALÉ, CARREGANDO A MOÇA.
CORTA PARA
CENA 05. CHALÉ. BANHEIRO. INT. DIA
SARAH ESTÁ TOMANDO BANHO DENTRO DE UMA BANHEIRA

REPLETA DE SAIS. DE OLHOS FECHADOS E SORRIDENTE, PARECE
BEM TRANQUILA. ABRE OS OLHOS E PEGA UMA TOALHA.
SONOPLASTIA: Alla Chitarra – Chico Pinheiro e Anthony Wilson.
CORTA PARA
CENA 06. CHALÉ. QUARTO. INT. DIA

SÉRGIO ACABA DE ENTRAR, COLOCA ISABELLE SOBRE A CAMA,
A OBSERVA TERNAMENTE E ACARICIA SEUS CABELOS E SEU
ROSTO.
SÉRGIO – Com o que você deve estar sonhando agora?
ELE SE APROXIMA MAIS DO ROSTO DELA E BEIJA SUA FACE.

DEPOIS A BEIJA NA BOCA. FICA ASSIM POR UM TEMPO. SARAH
APARECE USANDO COMBINAÇÃO E SEGURANDO UMA ESCOVA E
UMA PEQUENA TOALHA. AO VER A CENA, A MOÇA LARGA OS
OBJETOS NO CHÃO, DE SUSTO.
SARAH – O que é isso?

SÉRGIO – Consegui, Sarah querida! Ela está em minhas mãos.
ELA DÁ UNS PASSOS NA DIREÇÃO DA CAMA E OLHA

LONGAMENTE PARA ISABELLE. SORRI.
SARAH – Ela vai ficar aqui?

SÉRGIO – Sim, e você vai cuidar dela muito bem. Não a deixe
sair nem olhar pela janela sob hipótese alguma, ouviu bem?
SARAH – Pode ficar tranquilo, se depender de mim Isabelle
não vai ver a luz do sol nunca mais.
SÉRGIO AGARRA O BRAÇO DE SARAH COM FORÇA E A FAZ
OLHAR PARA ELE.
SÉRGIO – Eu a quero viva e minha, ouviu bem?

SARAH – Eu disse luz do sol, nada sobre não ver outras luzes.
SÉRGIO – Melhorou. Vou voltar para o solar, volto mais tarde
para ver se ela já está acordada.
ELE VAI SAINDO.
SARAH – Espere! E Arthur?

SÉRGIO – Ora, e eu lá sei dele?
SARAH – Quero notícias, quero vê-lo!
SÉRGIO – Primeiro cuide de nossa hóspede, depois vai
consolar o Homem Bancarrota.
SÉRGIO SAI. SARAH SENTA-SE À UMA POLTRONA DIANTE DA

PENTEADEIRA E ENQUANTO PENTEIA OS CABELOS, OBSERVA
ISABELLE ADORMECIDA ATRAVÉS DO ESPELHO. SORRI.
SARAH – Enquanto isso, vou pensar com muito carinho no

que vou fazer com você, princesinha...
CORTA PARA
CENA 07. ESTRADA. EXT. DIA
LOCAL PRATICAMENTE DESERTO; PERCEBE-SE APENAS A

PRESENÇA DE UMA PEQUENA TENDA NO ACOSTAMENTO, EM
PRIMEIRO PLANO. AGUSTIN SAI DA TENDA, LIMPANDO A POEIRA.
OLHA PARA A TENDA COM DESDÉM.
AGUSTIN – E eu vou ter que me acostumar a isso de novo.
OUVE-SE O SOM DE RODAS DE CARRO. AGUSTIN OLHA NA

DIREÇÃO DE ONDE VEM O BARULHO E VÊ O CARRO DE DANIELA
SE APROXIMANDO. É ELA QUEM DIRIGE; ELE SORRI AO AVISTÁ-
LA E PÁRA NO MEIO DA ESTRADA PARA QUE ELA PARE.
DANIELA – O que você quer agora?

AGUSTIN – Nada! Só queria dizer olá. [T] A propósito, para
onde vai?
DANIELA – Isso não é de sua conta.
AGUSTIN – Belo jeito de se tratar um amigo, moça!
DANIELA – Não somos amigos.
AGUSTIN – Mas fomos um dia, não negue. E bem próximos,
por sinal.
DANIELA – Me deixe passar, estou com pressa!
AGUSTIN – Vamos lá, Daniela, diga para onde você está
indo! Preciso de um lugar para ficar, sabia?
DANIELA SUSPIRA, OLHA PARA FERNANDO QUE ESTÁ AO SEU

LADO, E VOLTA A OLHAR PARA AGUSTIN.
DANIELA – Ainda não sabemos.

AGUSTIN – Então quer dizer que estamos no mesmo barco.
FERNANDO – Depende do que você quer dizer com barco.
DANIELA – Olha, Agustin, eu não me importo nem um pouco
com o que esteja acontecendo com você.
AGUSTIN – Tudo bem; mas já que estamos aqui e temos algo
em comum, por que não nos unirmos só dessa vez?
DANIELA – De jeito nenhum! Seguir sozinha é mais seguro.
AGUSTIN – Disse ‘nos unirmos’ no sentido de conseguir
dinheiro juntos, depois cada um vai para seu lado. [T] A não
ser, é claro, que aquela velha chama volte a acender...
FERNANDO – Que chama?
DANIELA – Não é nada. Daquilo ali não sobrou nem centelha.
AGUSTIN – Vocês querem dinheiro, não é? Eu também, e
posso ajudar vocês a conseguirem isso bem rapidamente. Basta
me ajudar; querem?
DANIELA E FERNANDO SE ENTREOLHAM.
DANIELA – Qual é o plano?

AGUSTIN – Venham aos meus humildes aposentos e vamos
conversar.
AGUSTIN FAZ SINAL PARA QUE O CASAL O SIGA; E OS TRÊS

ENTRAM NA TENDA.
CORTA PARA
CENA 08. MILLSHIRE. EXT. NOITE
TAKES DO ANOITECER DA CIDADE. SONOPLASTIA: Lord of the

tights – Aerosmith.
CORTA PARA
CENA 09. SOLAR WHITFORD. JARDIM. EXT. NOITE
ARTHUR E ALICE CAMINHAM PELO JARDIM, OLHANDO PARA OS

LADOS, PROCURANDO.
ARTHUR – Eu sabia que ela não podia estar aqui, nós

vínhamos juntos!
ALICE – Mas não custava nada procurar, quem sabe/
ARTHUR – Rapto. Ela só pode ter sido raptada.
ALICE OLHA PARA ARTHUR, SURPRESA.
ALICE – Como raptada? Quem faria isso no meio de uma

festa?
ARTHUR – Não sei, qualquer um. [T] Talvez... Ai, meu Deus,
como eu fui burro!
ALICE – Burro por quê?
ARTHUR NÃO RESPONDE, APENAS PEGA ALICE PELO BRAÇO E

AMBOS SAEM CORRENDO.
CORTA PARA
CENA 10. SOLAR BRONKHART. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE
SIMONE ESTÁ SOZINHA, OLHANDO PELA JANELA COM AR DE

TRISTEZA. LEVI ENTRA E VAI ATÉ ELA; A ABRAÇA POR TRÁS.
LEVI – O que houve, meu anjo? Não está com fome?

SIMONE – Fome? Nossa, acredita que eu tinha até esquecido?
LEVI – Ainda aborrecida porque a Rainha não foi ao nosso
casamento?
SIMONE – Fiquei triste, mas já passou. Agora estou
preocupada com Isabelle.
LEVI – Ela já deve ter voltado para casa, sossegue... Vamos
jantar, aí você esquece um pouco isso.
LEVI CONDUZ A ESPOSA DELICADAMENTE PARA FORA DO

QUARTO.
CORTA PARA
CENA 11. SOLAR BRONKHART. SALA DE JANTAR. INT. NOITE
SÉRGIO ESTÁ SOZINHO, SENTADO À MESA. LEVI E SIMONE

CHEGAM E OCUPAM SEUS LUGARES.
SÉRGIO – Achei que não viessem mais! Diga, Simone, como

está se sentindo no novo lar?
SIMONE – Estou bem, obrigada.
SÉRGIO – Apesar de ter entrado para a família do jeito que
entrou...
LEVI OLHA PARA O RAPAZ, REPREENSIVO.
SÉRGIO – [sorrindo] Espero que seja muito feliz aqui.

SIMONE – Serei.
UMA CRIADA COMEÇA A SERVIR O JANTAR. OUVE-SE O SOM DE
UMA SINETA BATENDO REPETIDAMENTE.
SIMONE – Meu Deus, o que é isso?
OS TRÊS SE ENTREOLHAM, SEM ENTENDER NADA. UM CRIADO

PASSA APRESSADAMENTE RUMO À ANTESALA. INSTANTES
DEPOIS, ARTHUR ENTRA FURIOSÍSSIMO, SEGUIDO POR OSÉIAS E
ALICE. O CRIADO TAMBÉM VEM ATRÁS, NERVOSO.
CRIADO – Eu tentei impedir!

ARTHUR – Ah, é com você mesmo que eu queria falar.
ARTHUR AVANÇA A PASSOS LARGOS SOBRE SÉRGIO E O

LEVANTA PELA GOLA DA CAMISA.
ARTHUR – Onde está Isabelle?

SÉRGIO – [trêmulo] Ora, e eu lá/
ARTHUR – [grita] Não quero desculpas, quero saber onde está
minha mulher e quero agora!
LEVI – Arthur, que jeito de entrar na propriedade alheia é...
ARTHUR – Foi ele quem quis assim. E eu fui um idiota por ter
caído no seu plano, Sérgio!
SÉRGIO – Que plano?
MAIS IRRITADO AINDA, ARTHUR DÁ UM SOCO NO ROSTO DE
SÉRGIO.
ALICE – Arthur, pare pelo amor de Deus!
ELE DÁ OUTRO SOCO E SÉRGIO TENTA REVIDAR, MAS ARTHUR

DESVIA. OSÉIAS SEGURA ARTHUR E LEVI CONTÉM SÉRGIO.
SIMONE – Arthur, ela não está aqui! Se estivesse, eu já teria

encontrado.
SÉRGIO OLHA PARA SIMONE E DÁ UM LEVE SORRISO.
SÉRGIO – Está vendo? Se não acredita em mim, acredite nela.

E pode me soltar, não vou atacar ninguém.
LEVI SOLTA O SOBRINHO.
ARTHUR – Pode me soltar também, Oséias.

OSÉIAS – Tem certeza?
ARTHUR – Solta!
OSÉIAS OBEDECE. SEM DIZER UMA PALAVRA, ARTHUR COMEÇA

A SUBIR A ESCADA E LEVI AVANÇA PARA IMPEDI-LO.
LEVI – Ei, onde pensa que vai?
ARTHUR – Simone, me perdoe, mas eu não acredito enquanto
não vir com meus próprios olhos; esse sujeito deve estar
enganando você.
SÉRGIO – Ora, eu nunca fui tão aviltado em toda a minha
vida!
E ELE BATE EM RETIRADA, FINGINDO ESTAR OFENDIDO.
ARTHUR – Não vou tirar nada do lugar, só quero minha

mulher de volta.
ARTHUR CONTINUA SUBINDO A ESCADA, SOB OS OLHARES

PREOCUPADOS DE SIMONE, LEVI, OSÉIAS E ALICE.
SIMONE – Não é possível que ela esteja aqui, se estivesse...

OSÉIAS – E não está em lugar nenhum dessa cidade! Isabelle
não pode ter sumido assim.
ALICE – O que me preocupa é o estado dela. Uma mulher
grávida, desaparecida, talvez há horas sem comer, ou... Ai,
meu Deus...
SIMONE – Não, nem pensa nisso!
ALICE – Eu só consigo pensar no pior!
CORTA PARA
LOCAL ILUMINADO MUITO FRACAMENTE. ISABELLE ESTÁ

DEITADA NA CAMA, AINDA ADORMECIDA, SOZINHA. COMEÇA A
SE MEXER LEVEMENTE E DEPOIS DE ALGUNS INSTANTES, SENTA
NA CAMA. LEVA UMA DAS MÃOS À CABEÇA, PARECE ESTAR
TONTA. OLHA EM VOLTA, TENTANDO SE LOCALIZAR.
ISABELLE – Meu Deus. Que lugar é esse? Arthur, está aí? [T]
Arthur!
SARAH SURGE À PORTA DO CARRO, COM UM SORRISINHO

CÍNICO.
SARAH – Dormiu bem, Isabelle?
ISABELLE OLHA ASSUSTADA PARA SARAH, QUE MANTÉM O

SORRISO. SÉRGIO APARECE E TAMBÉM SORRI AO VER ISABELLE
ACORDADA.
SÉRGIO – Vejo que cheguei em excelente hora! Espero que

tenha gostado das instalações, meu amor.
ISABELLE – O que significa isso? Eu quero ir embora, me
deixa sair!
ELA LEVANTA E TENTA SAIR CORRENDO DALI, MAS SÉRGIO A
AGARRA PELOS DOIS BRAÇOS, MUITO RUDE.
SÉRGIO – Tenha calma, querida. Calma e tudo será melhor

para nós.
ISABELLE ENCARA SÉRGIO, COM ÓDIO E MUITO MEDO.
CORTA PARA
CENA 13. SOLAR BRONKHART. SALA. INT. NOITE
ARTHUR DESCE A ESCADA, DESOLADO.
ARTHUR – Não está em lugar nenhum...

LEVI – Eu avisei.
ARTHUR – [com a voz embargada] Ela não pode ter sumido
assim. Minha mulher, meu filho, eu não posso perder tudo de
novo.
SIMONE E ALICE ABRAÇAM O RAPAZ, SE ESFORÇANDO PARA

NÃO CHORAR.
CORTA PARA
CENA 14. CHALÉ. SALA. INT. DIA
SÉRGIO ENTRA, VINDO DO QUARTO E TRAZENDO SARAH PELA

MÃO. ELA TRANCA A PORTA E SENTA EM UMA POLTRONA
ENQUANTO ELE FICA DE PÉ.
SÉRGIO – Ele está lá fora.

SARAH – Meu Deus...
SÉRGIO – É, clame por Deus mesmo! Quase descobria tudo,
mas Simone acabou ajudando. Acho até que já foi embora.
SARAH – Vamos ter que levá-la para outro lugar?
SÉRGIO – Se alguém perceber qualquer movimentação aqui,
será pior. [T] Mas agora você deve manter a porta daquele
quarto trancada, só abra na hora das refeições e quando eu
chegar.
SARAH – Está certo. Mas quando vou poder me aproximar
dele?
SÉRGIO – Aguarde mais uns dias e você vai reaparecer como
se nada soubesse. [T] Agora vou voltar ao solar, não quero
ninguém desconfiado de nada.
SÉRGIO SE DESPEDE DE SARAH COM UM BEIJO NA TESTA E SAI.

SOZINHA, A MOÇA DEITA-SE NO SOFÁ, ESBOÇANDO UM SORRISO
TRANQUILO.
CORTA PARA
CENA 15. MILLSHIRE. EXT. NOITE
TAKES DA CIDADE DURANTE A MADRUGADA E O AMANHECER.

AS PESSOAS COMEÇAM A SAIR DE SUAS CASAS. LEGENDA: “DIAS
DEPOIS...” SONOPLASTIA: Casa forte – Gilson Peranzetta.
CORTA PARA
CENA 16. CASA DE PANTALEÃO. SALA. INT. DIA
CLARICE ESTÁ EM PÉ, OLHANDO PELA JANELA; APARENTA

ESTAR MUITO ENTEDIADA. ESMERALDA ENTRA, VINDA DA RUA,
ACOMPANHADA DE ALGUNS CARREGADORES TRAZENDO
CAIXAS COM MUITO CUIDADO.
ESMERALDA – Isso, tentem balançar o mínimo possível que

esses doces se desmancham até com brisa! Sigam por ali e
coloquem as caixas em cima de uma mesa que está vazia.
OS CARREGADORES CRUZAM A SALA LENTAMENTE. CLARICE

DESVIA O OLHAR DA JANELA E DEMONSTRA ESPANTO AO VER
AS CAIXAS.
CLARICE – O que tem aí?
ESMERALDA – Os doces do seu casamento.
CLARICE – São tantos assim?
ESMERALDA – Não, metade das caixas são de salgadinhos.
CLARICE – Papai deve estar louco! Ninguém vai vir ao
casamento, ainda mais depois do que aconteceu com Isabelle...
ESMERALDA – Nenhuma notícia. É como se a terra tivesse a
engolido, coitada.
CLARICE – Eu sei que é muito feio se aproveitar da tragédia
alheia... Mas sabe que me ocorreu suspender o casamento por
isso?
ESMERALDA – E estender essa agonia toda? Não. O que
tiver de ser feito, que se faça depressa.
CLARICE – E Be... Digo, Guilherme?
ESMERALDA – Não o vi o dia inteiro. Nem Pascoal.
CLARICE – E Sílvio? Você o viu pela rua?
ESMERALDA – Passou por mim e olhou para o outro lado da
rua assim que viu os carregadores. [T] Sinto muita pena dele,
sabe? Eu lembro daquelas coisas que ele disse quando seu pai
flagrou vocês e sinto muita pena.
CLARICE – Lembro daquele dia e sinto pena de mim, da
desgraça que a minha vida virou.
CORTA PARA
CENA 17. SOLAR BRONKHART. EXT. DIA
TAKE DE LOCALIZAÇÃO.
CORTA PARA
PORTA E JANELAS FECHADAS, DEIXANDO O AMBIENTE

PRATICAMENTE SEM ILUMINAÇÃO NENHUMA. A ÚNICA FONTE
DE LUZ É UMA FRESTA DE UMA DAS JANELAS. ISABELLE ESTÁ
ENCOLHIDA NA CAMA, ABATIDA; PARECE TER CHORADO POR
MUITO TEMPO E AGORA ESTÁ APENAS DE OLHOS ABERTOS, O
OLHAR POUSADO EM UM PONTO INDEFINIDO. SOBRE O CRIADO
MUDO REPOUSA UMA BANDEJA COM WAFFLES, CHÁ, ALGUNS
TORRÕES DE AÇÚCAR EM UM POTINHO E FRAMBOESAS. CORTA
PARA A PORTA QUE SE ABRE; SARAH ENTRA DEVAGAR E SE
AJOELHA JUNTO À CAMA.
SARAH – Não acredito que você ainda não tocou na comida!

Tem tudo o que você gosta, precisa se alimentar. [T] Já soube
do filho que está esperando.
SARAH ESTENDE A MÃO PARA TOCAR A BARRIGA DE ISABELLE,

QUE SE MOVE BRUSCAMENTE, IMPEDINDO O CONTATO.
SARAH – Meu Deus, não vou fazer nada contra seu filho nem
contra você, criatura.
ISABELLE – Claro que não vai, o mal já está feito.
SARAH – Se não comer, você estará se fazendo muito mal.
Está com medo de que eu tenha posto algum narcótico no chá?
Vou bebê-lo aqui, na sua frente.
SARAH APANHA A XÍCARA E BEBE UM POUCO.
SARAH – Viu só? Não há nada aqui, pode beber sem medo.
ENTÃO A MOÇA SE AJEITA MELHOR NA CAMA E OLHA MELHOR

PARA A BANDEJA SOBRE O CRIADO-MUDO. SARAH COLOCA UM
TORRÃO DE AÇÚCAR DENTRO DA XÍCARA E MEXE UM POUCO,
OFERECENDO A BEBIDA À ISABELLE.
SARAH – Veja se está bom de açúcar.
ISABELLE BEBE UM POUCO.
ISABELLE – Está bom.

SARAH – Ótimo. Vou deixar você sozinha agora. Coma e
descanse.
SARAH VAI SAINDO.
ISABELLE – Quando poderei ir embora?

SARAH – Sérgio dirá! [sai]
ISABELLE TOMA MAIS UM POUCO DO CHÁ E COME ALGUMAS

FRAMBOESAS. SUA EXPRESSÃO AINDA É DE TRISTEZA.
CORTA PARA
CENA 19. CHALÉ. SALA. INT. DIA
SARAH CAMINHA EM CÍRCULOS EM TORNO DE UMA MESA DE

CENTRO POR UNS INSTANTES, ATÉ PARAR DIANTE DE UM
GRANDE RELÓGIO DE PÊNDULO. SEUS OLHOS ACOMPANHAM O
MOVIMENTO DO PÊNDULO POR ALGUNS INSTANTES. ELA SORRI.
SARAH – Não vai demorar muito para o veneno fazer efeito...
CORTA PARA
CENA 20. CASA DE PANTALEÃO. SALA. INT. DIA
CLARICE E ESMERALDA ESTÃO SENTADAS, CONVERSANDO EM

TOM BAIXO. PANTALEÃO ENTRA, TRAZENDO CONSIGO O JUIZ.
PANTALEÃO – Tudo pronto?

ESMERALDA – Só falta o noivo chegar.
PANTALEÃO – [olhando um relógio] Espero que não demore
muito.
CLARICE – Também espero, quero acabar logo com isso.
PANTALEÃO – Enquanto isso, excelentíssimo, por favor,
acomode-se...
O JUIZ SENTA-SE A UMA POLTRONA E PANTALEÃO CONTINUA

COM OS SALAMALEQUES.
CORTA PARA
CENA 21. ALBERGUE. SAGUÃO. INT. DIA
PASCOAL DESCE O ÚLTIMO LANCE DE ESCADAS, SEGUIDO POR

BEATRIZ. ELA PARECE ESTAR BEM NERVOSA.
BEATRIZ – Graças a Deus, esse calvário vai acabar... É só

casar com Clarice e pronto.
PASCOAL – Vou buscar o carro, não demoro.
BEATRIZ – Acho que não precisa, Pascoal; podemos ir a pé.
PASCOAL – Como quiser.
ELES SAEM DO ALBERGUE, MAS NOS PRIMEIROS PASSOS PELA
RUA, UM GRUPO DE OFICIAIS DE POLÍCIA DE NEWGATE SE
APROXIMAM DELES.
OFICIAL 1 – Com licença, eu gostaria de falar com o senhor

Guilherme Rasponi.
BEATRIZ – Sou eu.
OFICIAL 1 – Pois bem, senhor Guilherme... Nós somos do
Presídio de Newgate e estamos aqui porque recebemos um
comunicado da Polícia de Turim avisando que seu corpo em
decomposição foi encontrado em um descampado naquela
cidade.
BEATRIZ NÃO CONSEGUE DISFARÇAR O SUSTO, ESTÁ QUASE

COMEÇANDO A CHORAR.
OFICIAL 1 – O que tem a dizer sobre isso.

BEATRIZ – [com a voz embargada] Eu... Eu...
PASCOAL – Ele não tem nada a dizer sobre isso, só pode ser
mentira!
BEATRIZ – Não, Pascoal!
PASCOAL – Senhor...
BEATRIZ – Não adianta, meu amigo. Já o encontraram, não
há mais como sustentar essa farsa. [T] Realmente, não sou
Guilherme, senhor. Sou Beatriz Rasponi, irmã dele.
NO OLHAR ASSUSTADO DE PASCOAL E A EXPRESSÃO SÉRIA DO

OFICIAL,
[Fim do capitulo]

O Capitão Fracasso 39

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1 O Captião Fracasso | Capítulo 39

CENA 01. ALBERGUE. SALÃO. INT. DIA

A FESTA DE CASAMENTO CONTINUA. ARTHUR SAI DO MEIO DAS

SÍLVIO – Algum problema, Arthur?

ARTHUR VOLTA PARA O MEIO DO SALÃO, RESSABIADO.

CENA 02. ALBERGUE. SALÃO. INT. DIA

OUTRO CANTO DO SALÃO. ARTHUR FALA COM SIMONE, COM O

SIMONE – Ela me ajudou a tirar o véu, conversamos um

ELE SE AFASTA, FALANDO SOZINHO. ALICE SE APROXIMA DO

ALICE – O que houve com Arthur? Parecia tão estranho.

CENA 03. MILLSHIRE. EXT. DIA

STOCK SHOTS DAS RUAS DA CIDADE DURANTE A TARDE.

CENA 04. SOLAR BRONKHART, JARDIM. INT. DIA

MARTIN – Essa quase me pegou!

SÉRGIO OLHA PARA MARTIN, INCRÉDULO. ENTÃO ABRE UM

MARTIN SE RETIRA. INSTANTES DEPOIS, VOLTA TRAZENDO

MARTIN PASSA ISABELLE PARA OS BRAÇOS DE SÉRGIO E SAI.

CENA 05. CHALÉ. BANHEIRO. INT. DIA

SARAH ESTÁ TOMANDO BANHO DENTRO DE UMA BANHEIRA

CENA 06. CHALÉ. QUARTO. INT. DIA

SÉRGIO – Com o que você deve estar sonhando agora?

ELE SE APROXIMA MAIS DO ROSTO DELA E BEIJA SUA FACE.

SARAH – O que é isso?

ELA DÁ UNS PASSOS NA DIREÇÃO DA CAMA E OLHA

SARAH – Ela vai ficar aqui?

SÉRGIO – Eu a quero viva e minha, ouviu bem?

ELE VAI SAINDO.

SARAH – Espere! E Arthur?

SÉRGIO SAI. SARAH SENTA-SE À UMA POLTRONA DIANTE DA

SARAH – Enquanto isso, vou pensar com muito carinho no

LOCAL PRATICAMENTE DESERTO; PERCEBE-SE APENAS A

AGUSTIN – E eu vou ter que me acostumar a isso de novo.

OUVE-SE O SOM DE RODAS DE CARRO. AGUSTIN OLHA NA

DANIELA – O que você quer agora?

DANIELA SUSPIRA, OLHA PARA FERNANDO QUE ESTÁ AO SEU

DANIELA – Ainda não sabemos.

DANIELA E FERNANDO SE ENTREOLHAM.

DANIELA – Qual é o plano?

AGUSTIN FAZ SINAL PARA QUE O CASAL O SIGA; E OS TRÊS

CENA 08. MILLSHIRE. EXT. NOITE

TAKES DO ANOITECER DA CIDADE. SONOPLASTIA: Lord of the

CENA 09. SOLAR WHITFORD. JARDIM. EXT. NOITE

ARTHUR E ALICE CAMINHAM PELO JARDIM, OLHANDO PARA OS

ARTHUR – Eu sabia que ela não podia estar aqui, nós

ALICE – Como raptada? Quem faria isso no meio de uma

ARTHUR NÃO RESPONDE, APENAS PEGA ALICE PELO BRAÇO E

CENA 10. SOLAR BRONKHART. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE

SIMONE ESTÁ SOZINHA, OLHANDO PELA JANELA COM AR DE

LEVI – O que houve, meu anjo? Não está com fome?

LEVI CONDUZ A ESPOSA DELICADAMENTE PARA FORA DO

CENA 11. SOLAR BRONKHART. SALA DE JANTAR. INT. NOITE

SÉRGIO ESTÁ SOZINHO, SENTADO À MESA. LEVI E SIMONE

SÉRGIO – Achei que não viessem mais! Diga, Simone, como

LEVI OLHA PARA O RAPAZ, REPREENSIVO.

SÉRGIO – [sorrindo] Espero que seja muito feliz aqui.

SIMONE – Meu Deus, o que é isso?

OS TRÊS SE ENTREOLHAM, SEM ENTENDER NADA. UM CRIADO

CRIADO – Eu tentei impedir!

ARTHUR AVANÇA A PASSOS LARGOS SOBRE SÉRGIO E O

ARTHUR – Onde está Isabelle?

ALICE – Arthur, pare pelo amor de Deus!

ELE DÁ OUTRO SOCO E SÉRGIO TENTA REVIDAR, MAS ARTHUR

SIMONE – Arthur, ela não está aqui! Se estivesse, eu já teria

SÉRGIO OLHA PARA SIMONE E DÁ UM LEVE SORRISO.