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  • Arquitetura Civil No Rio de Janeiro Setecentista

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    Arquitetura antiga no Rio de Janeiro

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    MARTA QUEIROGA AMOROSO ANASTACIO Arquitetura Civil rio Rio de Janeiro Setecentista: Primeiras Consideragbes Pelas not{cias que temos do primeiro nticleo urbano do Rio de Janciro.no Morro do Castelo, ficamos com a impressio de que o crescimento da cidade se deu de maneira quase espontinea eacurnulativa, sem obedecer a nenhum plano pré-cstabelecido. ‘Ao serem ganhas novas teas através de aterros da baixada pantanosa, a ‘comegat pela érea mais proxima i restinga conhecida como Praia de Manoel de Brito, faixa ‘enxuta que ligava os morros de Castelo e Séo Bento (atual Praga XV de Novembro), procurou-se daruma ordenacéo mais regularao tracado urbano. Apresenga deengenheiros militares no Rio durante o século XVI, tais como Batista Antonelli, Baccio de Filicaia, Francisco de Frias Mesquita e Michel de Lescolles, eva a pensar na interferéncia posstvel estes engenheiros na determinagio de diretrizes do desenvolvimento urbano que se processava como resposta ao crescimento econdmico e politico pelo qual a cidade vinha passando desde sua fundacio ¢ que se acelera ao longo do século XVII. ‘Com a explosio do ouro na provincia de Minas sia passagem obrigar6ria pelo porto do Rio em direséo a Metr6pole, observa-se neste petfodo uma expansio urbana € sinais de melhoramentos nos equipamentos edificios oficiais - primeitos reflexes da importincia que o Rio de Janeiro vai adquitindo sio panorama do Brasil colonial e que culmina coma transferéncia da sede do vice-reinado de Salvador paraestacidadeem 1763. Neste sentido, uma das obras de maior impacto foi o término da infra- cescrutura para o abastecimento de égua da cidade e a construcio dos primeitos chafarizes puiblicos. Desde a administracso de Martim Correia de $é (1602-1608) era tentado 0 empreendimento de trazer a égua do Rio Carioca, por um aqueduto, até © Morro do Desterto, chegando ao Campo da Ajuda. Durante todo o século XVII, 2 obra € iniciada « paralisada virias veres. S6 em 1686 a Camara consegue recursos e manda construir os chamados Arcos Velhos para captaras éguas no sopé do Morro do Desterro, levarido-as até 725), a8 obras sfo retomadas com a proposta de levar a Agua até o Campo de Santo Anténio, 0 que acontece em 1723, ano em que foi erigido o primeito chafariz da cidade, junto a ladeira para o Convento ¢ Igreja de Santo Anténio (Foto 1). No governo do Conde de Bobadella (1733-1763) b4 necessidade de réconstrut-io. 0 que € feito sob o risco do Brigadejro José Fernandes Pinto Aipoim, sendo terminado em 1750 sob a forma em que se encomtra até hoje Por outro lado, edificios piblicos foram construidos ou reconstruidos, ad- {quitindo novas proporsées. O Paco dos Governadores (Pago Imperial), por exemplo, vai Q : & instituir uma nova nogio de centralidade urbana em torno do Largo do Carmo. Um dos sitios mais antigos da cidade, este Largo foi sendo ganho através de recuos do mar eaters e preservado pelos padres Carmelitas, que al fizeram seu convento, impedindo que outras construgies fossem erigidas em frente A sua, Neste Largo, nos séculos anteriores, haviam sido instalados os Armazéns Reais, a Casa da Moeda ¢ a Casa de! Camara ¢ Cadeia. Por outro lado, sua localizagio, entre 0 mar € 0 burburinho do. comércio da Rua Direita ¢ do Mercado do Peixe, tornava-o ponto nevrilgico da cidade crite as atividades portudrias ¢ comerciais. Reconstrufdo na gestio do Conde de Bobadella, sob o isco do Brigadeiro Alpoim, o Pago dos Governadores foi terminado em 1743. Segundo Robert Smith ', neste ailtcs foram usadas pela primeira vez vergas de influéncia italiana (vergas em arco de dirculo). Um quadro de Leandro Joaquim, do final do século XVIII, “Revista militar {a6 Largo do Carmo”? (ver foto na pagina 195), mostra este prédio depois da zeconstrugio. Edificio de grandes proporgées, de dois pavimentos, onde predominam a horizontalidade teas abertusas, inarcado por cunhais empilastrados. No andar superior, séries de portas- jianelas com sacadas independentes e guarda-corpo em ferro. Vergas c sobrevergas em arco ‘abatido com prolongamento das extremidades e ligeira curvatura para cima, produzindo ‘ma linha ondulante (vergas em arbaleta). No pavimento térreo, portadas com vergas € sobrevergas semelhantes s das portas-janelas. Tem-se noticia de que a portada principal da fachada que dé para o mar é em granito ¢ mirmore de lioz. Essas portadas si0 jintercaladas por série de janelas de vergas retas. A fachada que dé para o Largo apresenta ‘um corpo mais alo nascendo do telhado, como uma grande camarinha, com uma série de portas-janclas semelhances as do primeito pavimento. A cobertura é composta de telhados independentes, com duas 4guas perpendiculares 4 fachada apresentando tacaniga frontal « pindculos de omamentacio. ‘Comparando-o com 2 construcio do out todo Largo -0 Arco do Teles, junto de trés sobrados contiguos, sendo o do meio atravessadlo por um arco ¢ de propriedade particular de Francisco Teles de Menezes -, no podemos dizer que fique pavimento ‘reo, embora aninos. Nas eraramente com folhas 1 das janelas © possulam, asjanclas de smo sendo os sgadas tanto éncias (Foto Foto 4 - Thomas Ender, “Muxarabis ¢ Réwulas”, Bico de pena aquarelado, Os vaos da jancla e portas-janelas recebiam dois tipos de tratamento: ora comados um a um, ora entendidos como conjunto. No primeiro caso as aberturas - uma uma - eram enquadradas por baloses entalados entre as ombreiras ou sacados. No segundo caso, as abercuras eram reagrupadas em duas ou trés¢ recebiam balcées sacados «cottidos. Embora 0 uso do ferro nos guarda-corpos remonte av culo XVIl, os modelos mais correntes no século XVIII so executados em made Podemos notar que de uma maneira geral as construgées se parecem, sendo dificil identificar inovacoes formais de carter regional. As particularidades devem, por- tanto, ser percebidas nas solugées adotadas para resolver os detalhes construtivos: a forma dos telhados com seus detalhes, os materiais empregados, 0 desenho das esquadrias.. A Foto 5 - Jacques Funck, “Arsenal sm a Rio de Janeiro” (crecho), 170. GAVEA diversidade das construgdes parece resumir-se a estes detalhes que tém interferéncia sobretudo a0 nivel das fachadas. Mais dificil, devido & falta de documentagio existente, a andlise da evolugio das solugdes de distribuigio adotadas nas plantas das residéncias serecentistas. Uma distribuigao provavel ¢ consagrada em extudos mais gerais sobre a arquitetura do periodo colonial indica que a parte térrea dos sobrados era ocupada com as atividades comerciais, depésito e espaco para acomodar os escravos. Neste pavimento estava também 0 saguo de entrada eacesso 20 pavimento superior, que repetia as compartimentagSes das casas térreas com a separagio de Areas sociais e éreas de intimidade e servigos.Aparentemente as construges maiores rebatiam ou sobrepunham esse esquema das mais simples apresen- tando apenas maiotes dimens6es ou maior niimero de pesas. Neste caso aparece o pitio central, garantindo maior aeracZo, ventilagio ¢ iluminaso e mais facil circulacéo. ‘Uma planta de 1770 executada pelo Brigadeiro Jacques Funk, propondo a ampliagao da Casa do Trem (atual Museu Hist6rico Nacional) e publicada no livro de autoria de Gilberto Ferrez, As cidades de Salvador e Rio de Janeiro no stculo XVIII, traz a planta de algumas casas ajulgar térreas, que seriam demolidas para propiciar a ampliaclo (Foto 5). Por este desenho podemos notar ora um corsedor ligando a parte da frente, provavelmente sala de visitas, aos cOmodos dos fundos, ora uma circulagio que atravessa aposentos enfileirados, provavelmente as alcovas, que ocupam a érea intermedidria, Estas distribuigées confirmam a descrigo genética encontrada na bibliografia sobre o tema, sétie d pront: geral, existe térre0. mam: de Jan algum provi na pa prime abrige uum gr tenes deixar tempe resgu refors profu depoi nesta algum rea, Coms do ex os esp de cre portu afirm | GAVEA sferéncia evolugio as, Uma + perfodo aguio de as téereas mente as apresen- €0 patio rpondo a slivro de Therana npliagio a frente, aeravessa tia. Estas Aruitetura Civil no Rio de Janeiro Sercentisa 2 “Hi bastante uniformidade nas construgées: geralmentesio de dois andares, mas a linha se quebra com casas de trés andares ¢ outras que s6 tém o térreo e mais ums série de Atico no telhado. As paredes (..) estio rebocadas ¢ caiadas de branco, séo bem construldas com granito;as sleiras, ombreira, vergas, io de granito trazido da Bahia (sic) prontas para uso; os telhados so unicamente feitos de telha canal. O andar térreo é em etal, ocupado por lojase depésitos de firmas atacadistas, 02" e 3*pavimentos, quando cexistentes, pelos cbmodos da familia, que tém acesso por um comprido corredor no térre0..."* ‘Nesta paisagem urbana construfda anonimamente, certas construgbes cha- ‘mam atengio por seu volume maior ou por formas diferentes. Uma série de vistas do Rig de Janeiro entre o final do século XVIII e as primeiras décadas de século XIX mostra algumas destas construgées notdveis. ‘Uma pincura da Lagoa do Boqueirao antes de ser feito 0 Passeio Pablico, de provavel auroria de Leandro Joaquim, mostra uma dessas construgées complexas (ve foro ‘a pagina 196): um conjunto formado por trés partes distintas, mas interligadas. A primeira, uma edificagio dotada de uma cobertura de duas 4guas, parece destinada a abriga escravos ou servi como espago de atividades de servgo. A segunda, composta por tum grande casaro com um corpo central assobradado e dois corpos simétricos, chama a atengdo em oposisio a precedente, justamente pela composigao regular e mais elaborada, deixando perceber também a sua utiizacio. Aqui, xo contririo de portas em séties, uma \inica portada guarnecida de sobreverga permite 0 acesso a0 prédio, marcando a0 mesmo tempo o eixo de simetria « enobrecendo a fachada. O universo familiar e doméstico assim resguardado de eventuaisolhares externos, abre-se no entanto no andar superior por meio de ués portas-janclas com sacadas independentes ¢ guarda-corpo de ferro. Esta solueio reforga a privacidade familiar ¢ permite que a paisagem seja desfrutada a distincia pelos moradores. A terceira parte do conjunto €constiulda por um extenso muro que presenta, curiosas abercuras deixa encrever uma Area verde, provavelmente os quintais. A partir das obras do Passeio Publico (1779-1783), esta zona da cidade sofre Profundas modificasées ¢~ antes que area de Sao Cristovao sejarapidamente urbanizada ‘depois dainstalacio da corre na Quinta da Boa Vista, noiniciodoséculoXIX-écertamente nesta estreita faina de terra, entre 0s novos jardins e a Igreja da Gléria, que se constroem algumas das primeiras residéncias urbanas de maior vulto, Gravuras de Richard Bate datadas de 1808/1809 mostram a ocupagao desta area, onde salientam-se pelo menos duas residéncias de grande porte, uma das quais a do Commodore Taylor. Estas casas se organizam aparentemente segundo os mesmos prineipios cdo exemplo precedente: um corpo central assobradado que pode estar articulado ora com, ‘0s espagos verdes de quintais, ora com construgées térreas dotadas de uma série de portas Mas estas construgGes também se multiplicam em diregso a outros vetores de crescimento, Neste sentido, o caminho de Mata Porcos, o caminho de Sio Cristoyio € 0 caminho do Engenho Velho em diresio a0 Rio Comprido, ¢ as imediagSes da zoiia Portuétia na Satide © Valongo, sio pontuados por residéncias ocupadas por adidos estrangeiros ou por familias de portugueses abastados - sem que, contudo, possamos afirmar que foram todas construidas no periodo setecentista Foxo 6 - Thomas Ender, “Palacece do Comendador Siqueita”, aquarels, ‘Anos mais tarde, em 1817, Thomas Ender registratia duas dessas residéncias, senhoriais, ambas no caminho de Sao Cristovio (Foto 6). primeira apresenta um partido semelhante a0 conjunto escrito, com corpo central mais alto ladeado por dois corpos térreos. Esta residéncia, de propriedade desconhecida, apresenta ainda elementos decora tivos mais requintados, como piniculos de ornamentasio ¢ cunhais empilastrados. A solugzo da cobertura também ¢ int ressante, com telhado continuo, completado por trés tacanigas frontais sobre a testada. © outro exemplo registrado por Thomas Ender é 0 Palacete do Comendador Siqueira, descrito como sendo cm Mata Forcos: fachadas marcadas por elementos horizontais e verticais, inclusive cunhais empilastrados em cantariae pindculo de ornamentagao & volta da edificagio. O desenho sugere uma planta em “U" ou “H” com dois grandes corpos laterais cobertos por duas 4guas com tacanica frontal. A planta em “U", com os dois corpos voltados para a parte dianteira, tem ante- ccedentes portugueses no século XVI; sio os solares rurais dos quais servem como exemplo «2 Casa dos Vales das Flores em Braga e o Solar Mateus préximo a Vila Real, em Trés os Montes (Fotos 7 ¢ 8). A diferenga principal entre os solares portugueses ¢ este exemplo brasileiro esté no uso de uma cobertura em uma 4gua sustentada por arcaria entre 0s corpos

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