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Esbogo esquematico sobre a responsabilidade civil de acordo com as regras ; do Cédigo Civil” Sumario 1. Consideragdes introdutérias 1, A atitude tendencial de recusa da responsabilidade 2. A exigéncia de um agir com responsabilidade 3, O risco geral de vida e a regra “casum sentit dominus” 4. A necessidade de deslocar o dano ocorrido de quem o sofreu para aquele que o causou: a razio de ser da responsabilidade civil 5. As responsabilidades contratual e extracontratual; responsabilidade civil em sentido amplo ¢ em sentido restrito ILA responsabilidade individual por actos préprios 1. A responsabilidade contratual; a culpa presumida do devedor 2. A responsabilidade extrgcontratual a) A responsabilidade por factos ilicitos, baseada na culpa do lesante aa) A regra geral; o énus da prova bb) Os casos de culpa presumida; a inverstio do énus da prova cc) Os inimputaveis ¢ a sua responsabilidade dd) A responsabilidade em casos de culpa leve b) A responsabilidade pelo risco c) A responsabilidade por factos licitos d) Breve referéncia a casos de responsabilidade nfo regulados pelo Cédigo Civil, p.ex., a responsabilidade do produtor ou do poluidor . A responsabilidade solidéria 1. Arresponsabilidade por actos de outrem . A responsabilidade contratual . A responsabilidade extracontratual As limitagdes da responsabilidade . O patriménio do devedor como garantia geral da responsabilidade . Limitagdes por via negocial a) Limitagdes contratuais b) Limitagdes unilaterais . LimitagSes por via legal a) A culpa do lesado b) Consideragdes de equidade c) Limites maximos da responsabilidade d) A separagiio dos patriménios 4.A deslocagao da responsabilidade para o seguro V.Consideragées finais Saale wo “Trabalho concebido com fins essencialmente didécticos. ESBOCO ESQUEMATICO SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DE ACORDO COM AS REGRAS DO CODIGO CIVIL* Hemnric EWALD HOrsTex SwwAnio: 1. Consideragtes introdutdrias: 1. A atitude tendencial de re- cosa da responsabilidade: 2. A exigéncia de um agir com responsabilidade: 3. O risco geral da vida e a regra “cast sentit dominus”: 4, A necessidade de desiocar 0 dano ocortido de quem o softett para aquele que 0 causou: a raz30 de ser da responsabilidade civil: 5. As responsabilidades contratual c extracon- tratual,responsabilidade civil em sentido amplo ¢ em sentido restrito. I. A res ponsabilidade individual por acios pr6prios: 1. A responsabilidade cotratual: culpa presumida do devedor: 2, A responsabilidade extraconteatual: 3A res- dade soldéria II. A responsabilidade por actos de outrem: 1. A re idade contratual: 2. A responsabilidade extracontratual, TV. As lita 1. 0 patriménio do devedor como garantia geral da responsabilidade: 2. Limitagdes por via negocial: 3, Limitagdes por via legal: 4, A deslocagio da responssbilidade para o seguro. V. ConsideragGes finals. L. 1, “Nunca ninguém tem culpa, nunca ninguém é responsdvel. nem pelas praias desfiguradas. nem pelos rios poluidos. nem pelos fogos que Gestroem a floresta.”! Parece que podemos concordar com esta observa- go. Sempre que ocomre um facto causador de um dano nfo ha ninguém que se sinta responsvel por ele e, de modo igual. também nio hé ninguém que aceite arcar com o prejuizo softido. "Nao fui eu” ou “no tive culpa” ou “no pude fazer nada”; estas ou outras reacgGes parecidas ouvem-se sempre, ¢ todas elas destinam-se, invariavelmente, a afastar quaisquer res- ponsabilidedes, Por outro lado. por parte de quem sofreu o prejuizo, tais © Trabalho eoncebido com fins essencisinente didscticos, + Manuel Alegre, Expresso. 23 de Agosto de 2003, p. | 324 wis emt Comemsoragio do 10.° Aniversdrin da Licenciatuca em Dire reacg0es, espontaneas, encontram a sua correspondéncia: a procura, quase instintiva, de alguém que paga. Portanto, o que é que importa € sacudir 2 responsabilidade ou o prejuizo, fazendo ombrear outros com eles. Mas acontece, por mais estranho que passa parecer as mentalidades de hoje, que estas reacgGes ndo correspondem a realidade legal. Sofrer um dano significa ter sido lesado, em principio, num direito subjectivo. Um direito subjectivo é a expresso do facto de a ordem juridica, designadamente o di- reito privado, ter reconhecido 2 uma pessoa um “dominio” sobre um bem. Todavia, na medida em que a pessoa tem 0 “dominio” sobre o bem é preci. samente ela quem assume 0s riscos que Ihe so inerentes, inclusive o de se verificar um dano ou um prejuizo. Apenas nos precisos casos em que a ordem juridica prevé que a violagéo de um direito subjectivo acarreta 0 dever de indemnizar, © prejuizo acaba por ser afastado de quem 0 sofrev. 2. direito privado considera a pessoa humana um ser responsével. melhor dizendo: auto-responsdvel, ¢, por conseguime, 0 Cédigo Civil (CCiv) diz no seu artigo 130.°: “Aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de exercicio de direitos, ficando habilitado reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.” Com esta disposigao a lei civil reconhece autonomia a pessoa humana. Isto significa que uma pessoa pode, de acordo com a sua vontade, tratar em principio de si prépria e dos seus bens com todo 0 cuidado mas também com 0 descuido que achar por bem, podendo ser diligente ou negligente, como The convém ou como cor- responde A sua maneira de ser. De facto, o homem possui capacidade para, conforme a sua vontade auténoma, determinar as suas condutas, estabelecer metas, criar ou con- formar relag6es sociais ou juridicas, escolher ¢ estabelecer 0 seu modo de vida, aceitar desafios ou assumir responsabilidades. A possibilidade de agir neste sentido significa ter liberdade. Contudo, antes de agir, o homem deve ponderar os efeitos € os riscos a sua acgo (para ele prdprio, para familiares, para terceiros ou até para & comunidade), reflectir sobre as consequéncias e procurar antever os resul- tados de acordo com a experiéncia, os conhecimentos, as informagées ¢ os aconselhamentos de que dispSe e dentro do humanamente previsivel De facto, a consciéncia de incluir na sua decisdo de agir (ou a cons cigncia de assumir ow de se identificar com) os efeitos e as consequéncias dos actos que vierem a ser praticados modera ¢ limita a liberdade de dleci- do do agente no sentido de evitar voluntarismos, arbitrasiedades ou abu- sos ou de correr riscos de modo irreflectido, Esta constatagio vale para z ide ive aca cum cas ees do CC Eso exquemiti sire respemsubildace cv dard cum ce resas de CC todo © qualquer tipo de actividade, Agir livremente significa por isso as- sumir 0$ riscos e as consequéncias dos actos praticados, ou seja, ser res- ponsdvel. E precisamente este modo de agir que representa uma prerroga- tiva e um Snus do homem. Por outro lado, € também precisamente este modo de agir que muitas vezes nao é seguido. 3, Acresce que o homer hi-de'assumir também riscos independente- mente da sua vontade. Porque viver significa arcar com os rscos préprios da Vila: Estes isees 830 varios, mudando com a evolu dos tempos, e podem afectar tant a pessoa como 0s seus bens, Em parte sfo evitiveis Chomem prevenido vale por dois), em parte no o so, HA riscos cuja coneretizagdo bode mesmo arruinar a existéncia privada da pessoa Pertencem aqui a tenga, 2 invalidez, a more, a dssolugio do casamento (ou, também da urlzo de facto) ea responsabilidad civil. Estes riscos da sua vida uma pes- soa nfo os pode eliminar, embora possa procurarevité-los ou, em part, ate- tudo ou adios. Por exemplo, uma pessoa vai regulermente 20 seu mé- digo, no. pratiea desportos,perigosos. nfo aceta 0 transporte gratuito (*ooleia") de alguém manifestamente embriagado, nG0 casa (ou nfo se di- vorcia: oo divércio revela-se como um remécio de uma situago insusen- tivel) ou ndo se envolve em negécios demasiadamente ariscados. "Todavia,cas0s hé —e s40 muitos — em que a concretizagao do risco e,com ele, a ocorréncia do dano, no se conseguem prevenir u so até 0 preciso resultado da conduta negligente da pessoa prejudicada, Nestes Eisos a verdade & a de que a pessoa prejudicada assume todos os efeitos Ganesos, Ela arca com 0s prejui2os sofiidos na sua pessoa ou 0s seus bens, "Casum sentit dominus” diziam os velhos romanos. De facto, uma passoa no Se pode subtrair de todo aos riscos que a ameagam na sua vida Gurnos seus bens. Esta € a roalidade. E & desta realidade que parte a lei Givi: 0 prejuito € suportado por quem 0 sofrer ~ como jé constatimos. 4, Contudo, a justeza do principio de que o prejutzo € de suportar por parte de quem o tiver sotrido gera logo davidas quando olharmos para as, circunstancias concretas em que ele pode ter surgido. Vejamos os seguit tes exemplos: a) um comprador ndo paga 0 prego da coisa comprada por ter perdido no jogo; assim, © vendedor fica (para jé) sem o dinheiro de~ vido; b) nia “época de fogos"? um proprietdtio vé arder um pinhal seu por Circunstinciay semelhantes sf0 as épocas Ge nevosira ov as alturas da Chava emt que se sucedem, com frequéneia, acidentes de viugo devidos, evidentemente, 20 nevocino cAduva AY onl em Comemoregio do Aniversdria da Licen~auva em Dir que durante uma trovoada seca caiu um relampago que 0 incendiou: ¢) 0 Proprieiério vé arder o seu pinhal porque houve fogo posto por um vizinho Fancoroso: d) o proprietério vé arder 0 seu pinhal que foi incendiado por rianeas ou por um débil mental: e) uma pessoa. a0 dar um passeio a noite, € atropelada por um carro cujo condutor perdeu o controlo de direccao sobre o vefculo porque furou um pneu das rodas de frente quando passou or cima de um buraco na estrada; f) para se defender do ataque de umn ‘eo, uma pessoa arranca a bengala a um cego e, a0 bater no e&0. parte a , bengala: aiém disso, 0 cego perde 0 equilfbrio, cai e fica com um ligeiro { hematoma: g) uma senhora, querendo fazer um telefonema com 0 seu t2- } lemével, sofre graves queimaduras na cara porque, inexplicavelmente. 0 ‘elemdvel explodiu. Na verdade, pretender aplicar em todas estas situa- "gées. indiscriminadameme, o principio “casum sentit dominus” nao parece nem adequado nem justo. E neste contexto que surge a responsabilidade civil. A sua razio de ser ¢ fungGo fundam-se na necessidade de deslocar um dano ocortido de quem o sofreu,0 lesado, para aquele que o causou, 0 lesante. ¢ isto de acordo com determinados crtérios legais. iguais para todos. A responsabilidade civil tem 4 ver assim com a ocorréncia de um dano e o dever de indemnizar este dano, precisamente por parte do lesante. na medida em que o dano vai para além 0 risco geral de vida que o lesado deve assumic (em sintonia com as con- cepgdes reinantes © 0 estado de evolugdo social), Nestes termos. deve in- demnizar aquele a quem o facto causador do dano € imputado por lei Segundo o art. 562.° CCiv “quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situagéo que existiia, se ndo se tivesse vetificado 0 evento que obriga a reparagéo.” Vale o principio da reconstituigo natural Néste contexto “o dever de indemnizar compreende néo s6 0 prejufzo cau sado. como os beneficios que o lesado deixou de obter em consequéncia da lesdo” (art. 564°, n.° 1), ou seja,a indemnizagto abrange ainda os chama- dos lucros cessantes. Todavia. “a indemnizagto € fixada ern dinheiro, sem re que a reconstituigdo natural ndo seja possivel. alo repare integralmente 6 danos ou seja excessivamente onerosa para o devedor” (art. $66.°,n.° 1). 5. Como mostram os exemplos referidos, os danos e a correspon dente responsabilidade civil poderao encontrar 0 seu fundamento num contrato, um negdeio juridico, ou fora dele, Daf que se distingue a res. Ponsabilidade contratual da responsabilidade extracontratual. ambos com- preendidos pelo conceito da “responsabilidade civil om sentido amplo’ Contudo, as responsabilidades contratual ¢ extracontratual tém origens shag esquend’~ sobre aresponsabildede cit de acordo com as regres do CCix ‘bem distiotas. Na prieia, a razdo dima para a responsdbiliade resulta sempre de vineulosctados por um vontade aicnomo-privada sendo d ‘ajuizar, por isso, o resultado danoso em funcdo desta vontade privada. Na segunda, bem pelo contrétio, ndo se trata de ajuizat vontades auténomo- ~privadas ¢ os resultados dela decorrentes mas sio de avaliar, isso sim, conduit tas, ou se, conduits desconformes coma Tes quai esta rmalmente com efeitos sancionatérios. forse De fenaizgho do Cow. a0 regular a mata da responsabiidade civil. diferencia entre as duas modalidades referidas, atendendo 3s suas origens distintas, trate-as em contextos diferentes, A responsabilidade coniratual aparece, deste modo inserda na maria do no cumprimento das obrigag6es referentes a0 contrato (arts. 790. ¢ ss.). A responsabilidade extracontratual, por seu lado, ocupa o seu lugar entre as fonts das obrign- des. sendo precisamente a dltima destas (ars, 483.° ess.) © Civ equipara na sua terminologia a responsabilidade extracontra- wal 2 responsabilidade civil, ullzando assim um coneeito de “response bilidade civil em sentido restrito”. Esta diferenciagio comesponde, de resto, também 20 facto de a responsabilidade coniratval atender a violagio Ge direitos relativos, que obrigam apenas as partes entre si (art. 406. 1.1, 1 parte: “paeta sunt servanda"),enquanto a responsabiidads exa- contratual aqui em causa respeita & violacao de direitos absolutos.* cuj observancia se imp6e a todos. TL Por via de regra, a responsabilidade do lesante ¢ individual e res~ peita a actos préprios. O prinespio-base em que assent & 0 facto de 0 le- ante ter agido com culpa o que exprime, por isso mesmo. una censura a0 seu comportamento. E na culpa, € no tanto na necessidade de reparar os danos causados 20 lesado, que reside a justficagéo origindria da respon sabilidade. Visto nestes termos, a responsabilidade tem um fundamento ico, decorrente da concepgao do homem como tim ser auto-responsével. 1. Quanto responsabilidade contratual. © art. 798.° determi: ~O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigagio tomna- -se responsiivel pelo prejuizo que causa ao credor.” Em ordem a fortalecer ‘a posigdo do credor, ¢ ainda tendo em conta a origem auténomo-privada do vinculo obrigacional, o art. 799.*,n.* 1, acrescenta: “Incumbe ao deve~ or provar que a falta de cumprimento ou 0 cumprimento defeituoso da Bem comno A viola de interesses legalmente protesidox 328 Extudes em Comernaragio do 10.° Aniversério da Licene! ura em Direito ‘obrigacdo no procede de culpa sua.” Quer dizer, a lei presume a culpa do devedor, cabendo a este 0 Snus de provar que ndo a teve. A intencio da lei 2a de no permitir ao devedor uma “saida” fécil e de contribuir para que obrigagées assumidas sejam também cumpridas. A culpa é apreciada nos termos aplicdveis & responsabilidade civil (art. 799.°, n.° 2). 2. a) No que toca a responsabilidade civil, encontramos a regra fun- damental no art. 483.°, n.” I. Aqui Ié-se: “Aquele que, com dolo ou mera culpa. violariticitamente o direito de outrem ou qualquer disposicao legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violacio.” A responsabilidade aqui consagrada € uma responsabilidade por factos ilicitos, baseada na culpa e, por isso mesmo, subjectiva aa) Segundo o entendimento tradicional o art. 483°, n.° 1, estabelece uma sancdo: O lesante que culposamente, i¢., de maneira propositada ou ne- aligente, violar de modo iliito, ou seja, em desrespeito& lei, um direito, mais, Precisamente um diteito absoluto, de outrem fica obrigado a indemnizaro le- sado pelos danos, quer dizer, todos os danos sofridos, Estes podem ser danos patrimoniais ou morais,i,é, nfo patrimoniais (art 496.°).# Todavia, 0 lesado, querendo ver os seus danos reparados, ndo se encontra numa situagéo muito cémoda. Ao contratio do que sucede 20 credor na responsabilidade contra tual, €2 ele que incumbe provar a culpa do autor da lesio (art. 487°, n.° 1. I* parte). O lesado arca, portanto, com o 6nus (pesado) da prova. A culpa € apreciada pela diligéncia de um bom pai de famiia, em face das circunsténcias de cada caso (art. 487.°, n.* 2), de acordo com os cuidados necessétios no tréfico juridico. Além de provar a culpa do le- sante, que hé-de individualizar para o efeito, o lesado deve provar ainda que existe, entre 0 dano que softeu € 0 facto danoso, um nexo de causali- dade adequada, quer dizer, 0 facto danoso era, dentro do razodvel e huma- namente previstvel, susceptivel de provocar 0 dano sofrido. A ocorréncia do dano nestes termos indicia regularmente a ilicitude do facto.S ‘b) Obviamente, a atribuigio do énus da prova pode dificultar ou mesmo obstar a obtencao de uma indemnizagao, em principio devida, se 0 lesado no consegue provar os pressupostos enunciados no art. 483.°, “ Nestes casos a indemnizagao lem o caricter de uma eompensayio. 5 Tada, nos easos em que 0 dircito violado € dispontvel,o titular do direivo pale climinar 2 Hicitude atravds do seu consentimento (art. 340.*, a" I). Por exemple, ua pes +02 pode consentt na violio do sou diceto de propriedade, mas jé no pode consent nk violagio do seu dreto 4 integridade fsiea 20 permitic que seja mutiiads ou torr, Esbogo eaqnensiico sabre a respensabilide ctl de aorde con: as regras do CCi ‘n° 1, designadamente o da culpa. Por isso, em determinadas situagSes. a prépria lei proceden a uma redistribuicao. melhor dizendo, a uma inverséo do Snus da prova ao presummir 2 culpa do lesante, sendo certo que isto néo significa 0 abandono do prinetpio da culpa. ‘Temos aqui os casos da responsabilidade das pessoas obrigadas a vi- agilfineia de outrem (art. 491.°), dos danos causados por edificios ou outras ‘obras (art. 492.°) e dos danos causados por coisas, animais ou actividades perigosas (art. 493.°). Se nas situagdes referidas tiver ocorrido um facto danoso, as pessoas respondem pelos danos causados, salvo se provarem ‘que cumpriram os seus deveres € que nenhuma culpa houve da sua parte. Também nfo respondem se os danos eram inevitéveis de todo, visto a culpa, eventualmente existente, ndo ter sido decisiva, de modo que nao hé razo para wma censura. Em certas constelagdes danosas tipicas. os tribunais, 20 apreciar os fac- tos de acordo com a experiéncia da vida, procedem a uma prova “prima facie” e, presumem, deste modo, a culpa do lesante. Também estas presun- g6es judiciais acabam por facilitar o 6nus da prova que incumbe a0 lesado. (cc), Atendendo ao prinetpio da culpa, nio responde pelas consequén- cias do facto danoso quem, no momento em que o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer (art. 488. 1 parte). Nestas citcunsténcias, uma pessoa ndo pode agir culposamente €, por isso mesmo, inimputével. A falta de imputabilidade é presamnida nos menores de sete anos e nos interditos por anomalia psiquica (art. 488.°, n° 2). Esta presungio é ilidivel mediante prova em contratio (art. 350. n° 2), Todavia a lei no ignora que a incapacidade de querer e entender pode resultar, ela mesma, de um agir culposo do lesante. Se este se colo- cou culposamente nesse estado, sendo este wansitério.® responds (ar 488°, n° I, parte final. Do ponto de vista do lesado, que vé preenchidos todos os pressupostos a responsabilidade por factosilicitos menos 0 da culpa, devido a falta da im putabilidade do autor da lesfo. a situagao nao € confortante. E dificil argu- mentar que tal situag&o faz parte do risco geral de vida do lesado, tanto mais que ele, p.ex., pode ndo possuir grandes bens, mas o lesante sim. A lei sentiv ‘0 problema e dispde. quanto & indemnizagdo por pessoa ndo imputivel acto causador dos danos tiver sido praticado por pessoa nao imputavel, pode cesta, por motivo de equidade. ser condenada a teparéclos. total ou parcial mente” (art. 489.°, n° 1, 1° parte). Todavia, esta solucéo da lei é subsididti © Como suede. nomesdamente nos casos de embriague. apenas se aplica desde que no seja possivel obter a devida reparago das pes- soas a quem incumbe 2 vigiléncia do ndo imputdvel (art. 489°, n.° 1, 2* parte), de acordo com o previsto no art. 491.°. Mas sempre que estas pessoas no respondem serd 0 no imputvel a reparar os danos nos termos definidos pelo artigo 489.°.n.° 1, I* parte, e n.° 2). dd) Por outro lado, também o lesante pode sentir que a aplicacao ri- g ipio da culpa o atinge de uma mancira no merecida. Na verdade, o lesante pode ter agido apenas com culpa leve, houve da parte dele simples negligéncia, como tantas vezes acontece ma vida, mas o pre~ juizo causado € muito elevado. Todavia, segundo 2 regra-base do art. 483°, em caso de culpa, o dever de indemnizar abrange todos os danos causados ao lesado. Neste contexto, em situagdes de culpa leve, o art. 484.° permite uma limitagdo da indemnizagao. Diz ele: “Quando a responsabilidade se fundar ha mera culpa, poderé a indemnizacao ser fixada, equitativamente, em montante inferior a0 que corresponderia aos danos causados, desde que © grau de culpabilidade do agente, a situago econdmica deste e do lesado as demiis circunsténcias do caso o justifiquern.” Aqui, a lei atenua os efeitos sancionatérios da responsabilidade por Factos ilicitos a favor do le- sante e a custa do lesado, Mas este tem de aceitar 0 resultado, uma vez que 1ndo pode contar, em todas as situagSes, com a diligéncia dos outros.7 4) A responsabilidade por factos ilicitos, baseada no principio da culpa, ndo tem resposta para 0s casos em que surgem danos independen- temente de culpa mas em que ndo é de accitar como justo que sejam su- Portados pelo lesado que os sofreu, Para estes casos surge um outro tipo de responsabitidade civil, ou seja, a responsabilidade pelo risco, como res- ponsabilidade objectiva. Contudo, de acordo com o art. 483.°. n.° 2, “s6 existe obtigaggo de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na fei", o que significa que hi, a seu respeito, uma tipicidade ou “numerus clausus”. ‘A responsabilidade pelo risco constitui, a0 lado da responsabilidade por factos ilicitos, uma modalidade auténoma com fundamentos préprios para 2 deslocagio do danio de quem o sofreu para quem 0 causou, imputando-o desta 7 Gif. neste contexte, ¢ ar. 486.° que esclarece que “as simples omises (apenas) (Ge lugar 3 obrigacSo de reparar os Janos, quando, independemtememte Jos outros requ tus legais. havis, por forga da le oy de negéeio juridico, « dever de peticar o aco." Exhogo esquen 1» sobre w responsabilidad civil de acordo come as regis do CCiv 231 maneira ao lesante.® O seu fundamento reside no raciocinio que os danos re- sultantes de actividades Ifcitas, uteis e socialmente aceites por serem indis- pensveis, mas com riscos inerentes e nem sempre possiveis de evitar, devem ser assumidos, caso 0 risco se concretize, por quem exercer esta actividade, tirando dela os seus proveitos, mas no por quem ficar prejudicado por clas. Aplica-se ao agente 2 velhia maxima “ubi commoda, ibi ineommoda” Civ regula a responsabilidade pelo risco nos arts. 499.° e seguin- tes, sendo de realcar aqui 08 arts. 502.° (danos causados por animais que resultem do perigo especial da sua utilizagdo). 503.° (danos provenientes dos riscos préprios de verculos de circulagao terrestre) e 509.° (danos cau- sados por insialagdes de energia elécirica ou gés), sendo certo que este til- timo caso se distingue um pouco dos dois primeiros, dado que @ responsa- bilidade nao resulta de uma actividade mas ¢ inerente a instalagao. Ha, além do CCiv, muitas leis especiais que vieram a contemplar novos casos da responsabilidade pelo risco. ¢) Além da responsabilidade por factos ilicitos e da responsal pelo risco, o CCiv conhece ainda uma outra modalidade de responsabilidade civil que € a responsabilidade por factos licitos. Esta iltima nfo encontra, porém, no CCiv um regime geral. Os casos, todos excepcionais, estilo regula- dos de maneira dispersa na lei (ver 0s arts. 339.°, n° 25 132°, n2 1: 134) n.? 3; 1348.°, n° 2; 1349. n.° 3, € 1367.2). Nestes casos, o titular de um di- reito ¢ obrigado a tolerar determinadas intervengées mas obtém, em coatra- partida, um direito de ser indemnizado pelos dans sofridos. Pode ser referido ‘como paradigmatico o caso do estado de necessidade previsto no art, 339.°. Segundo o art. 339-, n.° I, “€ licita a acco daquele que destruir ou danificar coisa alheia com o fim de remover 0 perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro.” Trata-se de uma situagio de emergéncia. E esta que justifica e torna licita a acco danosa, destrutiva ou danificadora de uma coisa, da parte do lesante. Todavia, “o autor da destrui¢do ou do dano € obrigado a indemnizar 0 le- sado pelo prejufzo softido, se o perigo for provocado por sua culpa exclu- siva; em qualquer outro caso, o tribunal pode fixar uma indemnizacio equitativa e condenar nela ndo s6 0 agente, como aqueles que tiraram pro~ veito do acto ou contribuiram para o estado de necessidade.” * Inisialmente. quando comeou a surgi x resporsabilidade pelo rtco foi entendida ‘como uma excepgii x0 principio da culpa. mas com 9 alargamento continuo dexse ipa de responsbiidode cau vex mais zetividades, este entendimento deixou de ser alequudo, 382 __Esindos emt Comenaragéo do 10.° Aniverstria da Licenciamrn Direito @ Acontece que todas as modalidades de responsebilidade civil que foram mencionadas e que tém o seu regime no Civ se mostram insuficien- tes quando a responsabilidade individual alo pode ser apurada. De facto, 0 funcionamento de instalagdes tenicas sofstcadas, a informatizagao de mut. {0s processos, 0 fabrico robotizado em grandes séries, a automatizagdo da produgéo acommpanhada por uma cadeia andnima de actos isolados e especia lizados. 0s meios de transporte e de distribuigo modemos. etc. impossbili ‘am praticamente sempre a indivicualizagdo de um lesante e, além disso, in pedem de todo o apuramento de culpas pessoais que possam exist __Nas condigdes referidas parece indicado que os danos causados sejam imputados a quem utilizar estes modos de producdo e tirar deles o¢ seus lucros, Para este efeito, foi introduzido pelo DL n° 383/89, de 6 de Novembro. um regime especial que regula a responssbilidade do produtor como mais uma forma de responsabilidade objectiva que no pressupoe nem culpa nem ilicitude.9“O produtor € responssvel, independeatemente de culpa, pelos danos causados por defeitos dos produtos que pde em cit. culaglo™ l-se no ar. I.° do DL n.° 383/89, Em principio, 0 produto deve ter sido correctamente uilizado. So apenas economias com padr6es de evolugdo muito avancados que podem admitir este tipo de responsabilidade objectiva cuja extensio, de resto, ndo pode ser exagerada sob pena de tomar incalculdveis os riscos de ceras actividades econémicas. Pode dizer-se, contudo. que quanto mais desenvolvida for uma sociedade, mais abrangemte seré 0 seu sistema legal de responsabilidade civil. - 3, Em muitas circunstancias sucede que a causagdo de um dano re- sulta de actos praticados por vérios autores. Se assim for, todos eles res- pondem civilmente por actos pr6prios pelos danos que hajam causado (art. 490.°), De acordo com o disposto no art.497.*, n.* 1, a sua responsebili dede perante 0 lesado é solidéria.!9 Como explica 0 art. 512.° nL, 1 parte. “a obrigacdo solidéria, quando cada um dos devedores res * Um oto tipo de esporsbildae objective. a mencionat nese contest, 2s Ponstiiade do pludr do ambict.embors aga lesan sine psa sr nial do O an 4. de Lt ce Baas do Ambiene aL n= IST. de7 de Abt save qu ‘xe obi de indent. indperdeiement cup, sempre qs ogc ee exasado daos signifies no ambiente, on inde de ma acplo spelen fom. mo enor com pio do norma apitel= "© Oar SI3® determine que a solidariodade de dovedoes ou credores sexe quedo esate deo davon ds pes: i 3 i a ae Esbogo esqremiier rea responsabildade civil de acordo com as regras do CCiv 333 ponde pela prestacZo integral e esta a todos libera.” Por isso, “o credor tem. 0 direito de exigir de qualquer dos devedores toda a prestagdo” (art. 519°, ne 1, I* pare). Este regime de responsabilidade solidéria coloca o lesedo numa po- sigdo muito vantajosa: ele pode, de entre os varios autores do facto danoso, escolher aquele onde Ihe € mais facil obter a indemnizacao pelo prejuizo sofrido. Obviamente, 0 lesado pode receber a sua indemnizagdo apenas uma vez, Na verdade. a satisfaco do seu direito por um dos lesantes res- ponsaveis (art. 490.°) produz a extingdo, em relagdo 20 lesado, das obri- ‘gages dos restantes devedores da indemnizacdo (art, 523.°). Estes hao-de acertar, agora. as contas entre si, o que sucede com o recurso ao direito de regresso regulado no art, 524.°. “O devedor que satisfizer o dircito do cre~ dor aléin da parte que Ihe competir tem direito de regresso contra cada um. dos condevedores, na parte que a estes compete.” UL. Em todos os casos de responsabilidade regulados pelo CCiv, des- critos até agora, o lesante, a0 qual incumbe ressarcir 0 lesado dos danos softidos, responde por actos prdprios. Contudo, casos hd —e na vida pré tica so muito frequentes ¢ importantes - em que alguém tem de respon- der por actos de outrem. Esta responsabilidade por actos de outrem veri- fica-se tanto na responsabilidade contratual com na extracontratual 1. Na responsabilidade contratual compete ao devedor o cumpri- mento da sua obrigago para com o credor. “O devedor cumpre a obriga- go quando realiza'a prestagdo a que esté vinculado” (art. 762.°, n.° 1) 20 credor certo (art, 769.°), no lugar certo (art, 772°, n.° 1) ¢ dentro do prazo certo (art. 77.°, n° 1). Mas com frequéncia 0 devedor néo pode ou no precisa de cumprir em pessoa: Nestes casos serve-se de um auxiliar no cumprimento ¢, consequentemente, hé-de assumir a responsabilidade pelos actos deste Para o efeito, o Civ prevé no att. 800.", n.° 1: “O devedor € res- ponsdvel perante 0 credor pelos actos ... das pessoas que utilize para 0 cumprimento da obrigac&o, como se tais actos fossem praticados pelo préprio devedor.” Estamos aqui em face de uma responsabilidade muito severa destinada a assegurar que obrigagdes uma vez assumidas por efeito de uma vinculagdo auténomo-privada séo também cumpridas. Vale, de novo, 0 principio “pacta sunt servanda", consagrado no art 406.°, n.° 1, 1* parte. 3a Estudos em Comemoragio do 10.* Aniversério ds icenciu em Direivo 2. Mas também na responsabilidad extracontratual, na responsabili- dade civil em sentido restrito, encontramos um exemplo, aids importante, em que alguém responde por actos praticados por outrem. E 0 caso da responsi bilidade do comitente pelos actos do seu comissério, regulado no art. 500: “Aquele que encarrega outrem de qualquer comiss&o responde, independen- temente de culpa, pelos danos que o comissério causar, desde que sobre este recala também a obrigagdo de indemnizar” (art, 500.*,n.° 1), art, $00.° um caso da responsabilidade pelo risco no que respeita 0 comitente. Este assume, independentemente de culpa sua, 0 risco de 0 ‘seu comissério causar danos ao incorrer em responsabilidade civil - ou por factos ilicitos, ou pelo risco, ou por factos licitos ~ e ao ficar obrigads a indemnizar, por causa disso, o lesado. Apenas quando a obrigacéo de in- demnizar, por efeito da responsabilidade civil, se tiver concretizado, pri- meiro, na pessoa do comissério, esta obrigagao ¢ assumida, a seguir, pelo comitente em relagéo 20 lesado, Para o lesado esta solugdo da lei significa uma melhoria considerdvel quanto 4s suas possibilidades de vir a ser indernnizado. Comitente € co- missdrio respondem-Ihe solidariamente (art. 497.°, n.° 1) de modo que 0 lesado pode pedir a indemnizagiio a quem Ihe parece mais oporuno. Normalmente, seré 0 comitente que se vé obrigado a indemnizar o lesado, mas pode nao ser assim. ‘© comitente que indemnizar o lesado tem o direito de exigir do co- missario 0 reembolso de tudo quanto haja pago, excepto se houver também culpa da sua parte (art. 500.°,n.° 3, I* parte). Quer dizer, o direito de reem- bolso apenas existe se s6 0 comissério tiver agido com culpa. Esta solugao da lei ostd perfeitamente correcta, uma vez que néo corresponderia as suas decisées valoratives se 0 autor de uma leséo, causada culposamente, fi- casse isento da sua responsabilidade unicamente em virtude do facto de ter havido um tereeiro que se viu obrigado, por lei, a indemnizar 0 lesado. Porém, se houver culpa igualmente do lado do comitente, aplicam-se as regras do art 497.°, n.° 2, que determina que “o direito de regresso entre varios responsdveis existe na medida das respectivas culpas e das conse- quéncias que delas advieram, presumindo-se iguais as culpas das pessoas responsdveis.” Acrescenta-se que do disposto nos arts, 500%, n° 3, © 497°, n.° 2, resulta ainda que no hé direito de reembolso ou de regresso contra 0 comissério quando este tiver incorrido em responsabilidade civil or facto no culposo.!! 3A mesma conclusio decorre também do art. $03.*, n° 3,1" parte, que reza 0 se- suite: “Aquele que condizir o veieulo por eonta de outrem responds pelos danos que ca ordo com as regras do CCW 338, ‘De qualquer maneira, “a responsabilidade do comitente s6 existe se ‘0 facto danoso for praticado pelo comissério no exereicio das suas fun- ‘g6es” (art. 500.*, n.° 2), mas no por ocasiéo das mesmas. Significa isto que © comitente pode afastar a sua responsabilidade para com 0 lesado se provar que 0 comissério agira fora das suas fungées, uma possibilidade {que um devedor que no cumprimento da sua obrigagdo se servir de um au- xiliat (art. 800.*, n.° 1) no tem nem pode ter. Trata-se de situagdes de in~ teresse no comparaveis, visto na responsabilidade contratual existir uma vinculagdo prévia a0 acto lesivo, vinculagdo essa em relagao & qual hd uma strita obrigagio do cumprimento. IV. 1, O lesante que for chamado a cumprir a sua obrigagao de in- demnizar 0 lesado, responde para 0 efeito com todos os seus bens suscep- tiveis de penhora (art. 601.*, I* parte), ou seja, com os activos do seu pa triménio. Ora, como referimos (ver I. 3.), a responsabilidade civil € susceptivel de destruir uma pessoa, na medida em que o seu patriménio pode ficar completamente arruinado sob 0 peso das indemnizagdes. Por mesmo devem existir caminhos em otdem a limitar a responsabili- dade. E, de facto, estas limitagSes existem, quer por via negocial quer por via legal, mas apresentam uma grande heterogeneidade que dificulta qual- quer esforgo de sistematizacéo. 2, a) E logo o art, 602.° que nos diz ser possivel negociar uma limi- tagio da responsabilidade por convengio na medida em que permite, salvo quando se trate de matéria subtraida a disponibilidade das partes, limitar a responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens no caso de a obriga- 0 nao ser voluntariamente cumprida. E também 0 n.° 2 do art, 800.°, prevé, face & responsabilidade severa estabelecida no seu n.° 1, que esta pode ser convencionalmente excluida ou limitada, mediante acordo prévio dos interessados, desde que a exclusio ou Iimitagao no compreenda actos {que representem a violagao de deveres impostos por normas de ordem pu- blica, As partes tém, portanto, um espago negocial bastante amplo para compor os seus interesses nesta matéria. +b) Cldusulas limitativas ou exclusives da responsabilidade podem ser estabelecidas também por via de declaragSes negociais unilaterais sem- ” tuzie 0 veFeulo fora Sat, salvo se provar que no houve culpa a sva parte” Se, porém, cond fc do cnercigio das suas fungies de comisséro, responde, aos termos do art 503°. n.* 1, pelos danos provenientes éns rss prépries do veieulo, ou seja, esponde pelo risco. 336 _ Estudos em Comemoragdo do 10.° Aniversérto da Licenc'=ra em Direito pre que a lei no as profba. De qualquer maneira, a lei encara as cldusulas limitativas com reserva ao determinar, no art. 809.°, que “€ nula a cldusula pela qual 0 credor renuncia antecipadamente a qualquer dos direitos que the sao facultados nos casos de ndo cumprimento ou mora do devedor, salvo 0 disposto no n.° 2 do artigo 800.°.” Hé quem entenda que a norma do art, 809.° deve ser interpretada restritivamente. Um outro meio negocial, mas jé fora do CCiv, com vista a circuns. crever a responsabilidade a apenas uma parte do patrimdnio consiste na adopsdo de uma forma juridica, adequada para efeito desejado. A este res- Peito, a ordem jurfdica oferece aos interessados, p.ex., 05 modelos do e.istl.. do estabelecimento mercantil individual de responsabilidade limi- tada (DL n.* 248/86, de 25 de Agosto), ou da sociedade unipessoal por quotas (DL n.° 257/96, de 31 de Dezembro), Nesses casos, a tesponsabi- lidade por dividas abrange apenas os bens afectos ao estabelecimento ou & sociedade, 3. Contudo, existe também limitagdes da responsabilidade por forga da lei, ja previstas no proprio CCiv, 4) Temos neste contexto, em primeiro lugar, a culpa do lesado. “Quando tum facto culposo do lesado tiver concorrido para a produgio ou agrava- ‘mento dos danos, eabe ao tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes ¢ nas consequéncias que delas resultaram, se a indemnizagao deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo ex- cluida” (art. 570.*, n.° 1). Se a responsabilidade do lesante se basear numa simples presuncZo de culpa, a culpa do lesado, na falta de disposigéo legal em contrério, até exclui o dever de indemnizar da parte do lesante (art. 570.°,n.2 2). Também no caso previsto no art. 505.°, a responsabilidade do lesante com base no art, 503.° € exclufda pela culpa do lesado. De resto, a0 facto culposo do lesado € equiparado o facto culposo dos seus representantes legais e das pessoas de quem ele se tenha utilizado (art, 571°), uma disposigao, alids, em sintonia com 0 disposto no art. 800, n.° 1. Além das duas situagdes j4 referidas, hd mais casos de excluséo da responsabilidade que encontramos nos arts, 505.° ¢ 509.°, n° 2, nomeada- mente quanto a danos devidos & forga maior. Em todos os casos de exclu- sdo da responsabilidade o lesante fica isento da indemnizagéo. +) Noutras situagées. o CCiv, como de resto jé vimos varias vezes. recorte @ critérios, nem sempre infaliveis, de equidade para limitar o mon. Exbogo exguer~"o0 sobre u responsabildade civil de acorda comas regras do CCiv 337 tante da responsabilidade. So de lembrar os arts. 339.°, n° 2; 489.°, ne 1; 494%; 496.2, n2 3, ou 503°, n.° 2. A lei procura aqui permitir que vena a ser estabelecido um justo equilibrio entre os interesses ¢ expecta- tivas em causa. ©) Repetidas vezes, 0 CCiv recorre & fixagio de limites méximos como sucede, p.ex., nos eas0s previstos nos arts, 504°, n.° s 2 e 3; 508° © 510. 4) Por firn podem ser mencionados os casos em que @ lei se serve da figura da separagao dos patriménios, prevista no art, 601.°, 2° parte. Surgem-nos como exemplos a responsabilidade limitada do menor, n termos dos arts, 127.°, n° 1, al. c)€ 1649.°, n.° 2, 2" parte; a responsabi dade do herdeiro limitada aos bens da heranga (art. 2071.°); a responsabi- lidade dos cénjuges pelas d(vidas contraidas, limitada ou aos bens comuns ‘ou aos bens préprios de cada um deles (arts. 1695.° ¢ 1696.°) ou a res- ponsabilidade por dividas da associacao sem personalidade juridica, limi- tada em principio ao patriménio que constitui 0 seu fundo comum (art 198°), 4, Porém, todas estas limitagdes da responsabilidade, nas suas varias, configurages © constelagtes, muitas vezes nao satisfazem, Uma protec- ‘G&o eficaz contra as consequéncias pattimoniais ruinosas que podem de- Correr da responsabilidade oferecem normalmente os seguros. Os seguros siio quase sempre indicados em casos de responsabilidade civil objectiva, ‘onde a concretizago dos riscos danosos pode dar origem a prejuizos muito avultados ou mesmo incalculéveis que ultrapassam as capacidades econémicas do lesante, de qualquer lesante. Por isso, € a lei que em mui- tas situagbes deste tipo — e com o objectivo de proteger o lesante © tam- bém a sociedade — impde um seguro obrigatério (p.ex., 0 seguro automé- vel ou o seguro de actividades industriais que envolvam alto grau de risco). . Mas também para os riscos gerais de vida (doenga, invalidez, desem- prego, etc.) ¢ os casos da responsabilidade civil subjectiva ou-da respon- sabilidade contratual, um seguro, mesmo néo obrigat6rio, pode ser vanta- joso em atengda as circunstincias concretas. embora possa no abranger ‘0s danos causados com dolo ou culpa grave. recurso ao seguro néo significa, todavia, a eliminagio dos riscos. Os riscos subsistem, uma vez que ndo podem ser eliminados. Apenas as 338_ Esudos em Comemoragdo do 10.* Aniversario da Licenciat ~~ 2m Direito consequéncias da sua concretizacdo so deslocados para o seguro. A pro- tecedo patrimonial por meio do seguro, por seu lado, leva a uma colectivi- zagao dos danos bem como da responsabilidade, que deixa de ser indivi- dual. Esta conclusio poe em causa o sistema valorativo em que assenta 2 responsabilidade. Sendo porém indiscutfvel a necessidade social do se- _guro, a colectivizacdo daf resultante deve ser atenuada por meio de um si tema de individualizacao dos prémios de seguro, que beneficia quem nfo causar danos e onera quem os produzir. O sentimento da responsabilidade individual deve ser preservado ¢, na medida em que 2 obrigacZo de in- demnizar constitui uma sangdo, efeito sancionatdrio nao pode ser iludide or completo. Em contrapartida, também deve ser mencionado que a existéncia do seguro corna posstvel correr riscos econmicos que, doutra maneira, talvez nao fossem assumidos. Sob este aspecto o seguro constitul um apoio a ac- tividades dinamicas e empreendedoras V. Resta agora apenas dar resposta breve 20s casos exemplificados (ver 1.4,: a) No que respeita a0 comprador que nfo paga por ter perdido ro jogo. responde pelos prejutzos causados nos termos do art. 798.°: b) quanto 20 pinkal que ardeu devido a queda de um relampago. aplica-se 20 seu proprietério a regra “casum sentit dominus”; c) no caso do fogo posto a0 pinhal. 0 vizinho que causou 0 dano é responsdvel de acordo com art 433."; d) tendo o pinhal sido incendiado por uma crianga ou um débil men- tal, a questo da indemnizagao resolve-se com 0 recurso ao art. 489.°: e) no caso da Jesao de um transeunte por um veiculo automével descoman- dado, 0 condutor hé-de indemnizar o lesado com base no art. 503.°,n.° 1 (podendo 0 risco estar coberto pelo seguro);!? f) a destruicdo da bengala na defesa contra 0 cdo pode levar a uma indemnizagao segundo o art. 339°, n.° 2, mas quanto 20 hematoma, ndo parece que seja 0 resultado de tum acto culposo que obriga a indemnizar o lesado ao abrigo do art. 483.°. uma concluso que nao parece muito satisfatcria; g) as les6es causadas pela explosdo do telemével. por firm, devem ser indemnizadas de acordo com as regras da responsabilidade do produtor. Claro, muitas situagdes danosas no se verificariam se as pessoas ti- vessem uma actuacao consciente € se assumisser como auto-responsé- veis. Mas isso pressupde uma cultura de responsabilidade. Esta falta Anda se ple a questio da responsabilidade do Estado por setos danosos da ss ‘stZo piblice. ume vex que feltou & sua obrigagio de manutengio das vies publica secnintnwinsnn ricco rsisannaititinis

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