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Kant e Mill – Vida e Obra

João Guerra e Rui Gomes

10º/2
Immanuel Kant

A Obra de Kant

 A obra de Kant pode ser dividida em dois períodos fundamentais: o pré-crítico e o critico.

o O primeiro (até 1770) corresponde à filosofia dogmática, onde é notória a influência


de Leibniz e Wolf. Nesta fase realiza importantes estudos na área das ciências naturais
e em particular da física de Newton. A partir de 1762, Kant começa a manifestar um
vivo interesse pelas questões filosóficas, em especial para a crítica das faculdades do
homem.;

o O segundo período corresponde ao despertar do "sono dogmático" provocado pelo


impacto que nele teve a filosofia de Hume. Escreve então obras como a Crítica da
Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Critica da Faculdade de Julgar, nas quais
demonstra a impossibilidade de se construir um sistema filosófico metafísico antes de
ter previamente investigado os nossos próprios limites.

Vida de Kant

 Kant passou a maior parte da sua vida, desde o seu nascimento até à sua morte numa cidade
dita pelo nome de Köningsberg, na Prússia, actualmente situada em solo alemão.

 Quarto de nove filhos, nasceu no seio de uma família protestante, seguindo, deste modo, uma
educação bastante austera. Contudo, apesar de ser bom aluno, não era brilhante, preferindo o
lazer ao trabalho.

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
 Kant, na idade adulta, foi um grande professor universitário, com uma vida extremamente
monótona, ao ponto de as mulheres domésticas das redondezas acertarem os relógios por ele,
quando dava o seu passeio diário habitual às 15:30.

 Além de ter uma boa vida a nível intelectual e económico, também o tinha a nível social,
dado que convidava amigos regularmente para jantar.

 Contudo, aos seus 46 anos, Kant lê a obra de David Hume, céptico para uns, naturalista para
outros, e percebe que os seus argumentos são irrefutáveis, mas acha a sua conclusão
inaceitável.

 Passados alguns anos sobre este incidente, Kant começa a escrever “A Crítica da Razão
Pura”, seguida também de outras grandes obras que serão posteriormente citadas.

Filosofia de Kant

 Kant procurou demonstrar que era possível formular para a moral leis universais como as do
conhecimento científico. Estas leis tinham que ser formuladas à priori, isto é, através da
dedução ,e não através da experiência.

 A moral kantiana baseia-se num princípio formalista : o que interessa na moralidade de um


acto é o respeito à própria lei moral, e não os interesses, fins ou consequências do próprio
acto. Uma boa vontade, guiada pela razão age em função de um imperativo categórico
(dever).

 “A Fundamentação da Metafísica dos Costumes” estabelece os princípios a priori da razão


prática.

 Na moral, o ponto de partida de Kant é o de que o único bem irrestrito é uma vontade boa.
Talento, carácter, autodomínio e fortuna e até mesmo a felicidade podem ser usados para
alcançar maus fins. O que constitui o bem de uma vontade boa não é o que esta alcança; a
vontade boa é um bem em si e por si.

 A razão, segundo Kant, foi-nos dada para alcançarmos a boa vontade. Esta, por sua vez, torna
possível a existência de todos os bens, inclusive a felicidade, dado que é o mais elevado de
todos.

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
O que é, portanto, a boa vontade em si?

 Para compreendermos melhor esta questão temos de analisar o conceito de dever, e distinguir
entre agir de acordo com o dever e agir por dever. Segundo Kant, a primeira opção não
possui qualquer valor moral, pois o indivíduo, apesar de agir de acordo com o dever, não o
faz por dever, mas sim por ser essa a sua inclinação.

 Na segunda opção, já existe um certo valor moral, pois o indivíduo já age de acordo com
aquilo que sabe que deve, independentemente de ser a sua acção preferencial para o
momento.

 Contudo, segundo esta definição, chegamos à conclusão de que ninguém age somente por
dever.

Assim, o que é agir por dever?

 Agir por dever é agir em função da lei moral; e a maneira de sabermos se estamos a agir
assim é procurando a máxima (ou princípio) com base na qual agimos, isto é, o imperativo ao
qual as nossas acções se conformam.

 Neste contexto, podemos classificar dois tipos e imperativos: o hipotético e o categórico. O


primeiro dita que temos de agir de uma ou outra determinada maneira para chegarmos a um
único fim; por outro lado, o segundo diz-nos que qualquer que seja o nosso fim devemos agir
de uma ou outra determinada maneira de modo a atingi-lo.

 Deste modo, podemos afirmar que existem diversos imperativos hipotéticos, dado que
existem vários fins a que o ser humano se proponha alcançar.

 Contudo, existe um e um só imperativo categórico, que dita o seguinte: “Age apenas de


acordo com uma máxima, de modo a que se possa tornar ao mesmo tempo uma lei universal.”

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
 O imperativo categórico pode dividir-se em dois:
◦ Imperativo universal (acima referido)
◦ Imperativo prático (referido posteriormente)

O imperativo categórico – exemplos elucidativos

 Tendo ficado sem fundos, posso cair na tentação de pedir dinheiro emprestado, apesar de
saber que não serei capaz de o devolver. Estou a agir segundo a máxima "Sempre que pensar
que tenho pouco dinheiro, peço dinheiro emprestado e prometo pagá-lo, apesar de saber que
nunca o devolverei". Não posso querer que toda a gente aja segundo esta máxima, pois, nesse
caso, toda a instituição da promessa sucumbiria. Assim, pedir dinheiro emprestado nestas
circunstâncias violaria o imperativo categórico.
 Uma pessoa que esteja bem na vida e a quem alguém em dificuldades peça ajuda pode cair na
tentação de responder "Que me interessa isso? Que todos sejam tão felizes quanto os céus
quiserem ou quanto o conseguirem; não o prejudicarei, mas também não o ajudo". Esta
pessoa não pode querer que esta máxima seja universalizada porque pode surgir uma situação
na qual ela própria precise do amor e da simpatia de outras.

Analisando,
No primeiro exemplo, claramente se vê que não é possível universalizar a situação,
pois desse modo existiria uma contradição, isto é, as promessas deixariam de existir.
No segundo caso, a máxima pode ser universalizada sem alguma contradição, mas
racionalmente, nunca poderia ser concretizada.
Kant afirma que estes dois exemplos correspondem a dois tipos diferentes de deveres:
deveres estritos e deveres meritórios.
Assim sendo, Kant oferece-nos uma definição para outro tipo de imperativo
categórico – o imperativo práctico: “Age de tal modo que trates sempre a humanidade, quer
seja na tua pessoa quer na dos outros, nunca unicamente como meios, mas sempre ao mesmo
tempo como um fim."

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
John Stuart Mill

Vida de Mill

John Stuart Mill nasceu em casa do seu pai, James Mill,


conceituado filósofo escocês da dada época, a 20 de Maio de 1806. À semelhança de Kant,
também Mill foi educado de um modo bastante austero, ou por outra, teve uma educação
muito rigorosa, de modo a que aos três anos de idade já estava a aprender o alfabeto grego. A
sua educação baseia-se no facto de o seu pai possuir uma ambição em criar um génio capaz
de defender o utilitarismo.

Em 1820 viaja para França, onde conhece Samuel Bentham, um dos fundadores da teoria
utilitarista, e pessoa em cuja casa casa se hospeda, de modo a seguir estudos na Universiade
de Montpellier de lógica, metafísica, química, matemática e zoologia.

Já em 1826, Mill sofre uma grande depressão, cujas consequências se reflectem no seu físico,
psique e na sua moral. As causas desta depressão devem-se ao trabalho extenuante,
divergências da família, e até à sua própria insatisfação com o seu intelecto.

No ano de 1835, seu pai morre de cancro pulmonar, facto o qual, como seria de esperar, deixa
Mill bastante triste.

Por volta de 1840, começa a ler as obras de Tocqueville e de Comte (com o qual mais tarde
estabelecerá correspondência), sendo a leitura destas vital para a sua filosofia daí por diante,
pois fez-se sentir a chamada filosofia positiva e também o pragmatismo.

Mill publica o seu primeiro livro em 1843 -“Sistema de Lógica Dedutiva”- e mais tarde, em
1948, publica “Princípios de Economia Política”

Em 1851 casa-se com Harriet Taylor, mulher pela qual já antes nutrira um sentimento por.
Ela desempenha um grande papel na sua obra, pois é dela que vem a inspiração de Mill.

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
Entre 1854 e 1860, Mill escreve a sua mais famosa, e ao mesmo tempo, a obra com mais
repercussões na sua vida. – O Utilitarismo – que seria mais tarde publicada, no ano de 1861.

No ano de 1863, Mill morre em Avignon, padecendo de uma gravíssima doença infecciosa.

Filosofia de Mill
A principal teoria defendida por John Stuart Mill foi o utilitarismo, que teve em parte origem nas
ambições do seu pai, como supra citado.

O utilitarismo é uma ética consequencialista, e que se guia pelo Princípio da Utilidade, que dita o
seguinte: uma acção é moralmente certa, quando maximiza a felicidade para um maior número de
pessoas, sabendo que a nossa felicidade não é mais importante do que a das outras pessoas, isto é,
temos de ser imparciais quando realizamos uma acção, segundo utilitarismo. Deste modo, a
moralidade da acção depende das suas consequências.

Esta característica do utilitarismo levou os utilitaristas do passado a lutarem pelos ideais de igualdade
entre os seres humanos, o que levou a ideias como a abolição da escravatura, e mesmo hoje podemos
verificar isso no casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Contudo, chegamos a uma questão que se impõe, isto é, um obstáculo

O que é a felicidade?

Mill tem uma perspectiva hedonista da felicidade. Para ele, esta consiste na presença de prazer e na
ausência de dor. Mill também afirma que existem prazeres superiores, que são aqueles que provêm
do pensamento, da imaginação, enquanto que os prazeres inferiores são os físicos, como beber e
comer.

Um breve exemplo da aplicação da hierarquização dos prazeres pode ser efectuado através da
escolha entre ser um Sócrates insatisfeito ou um tolo satisfeito. Segundo Mill, é preferível ser um
Sócrates insatisfeito, pois este tem acesso a prazeres superiores, enquanto que o tolo que está
satisfeito s+o tem acesso a prazeres inferiores.

Agora veremos os argumentos utilizados por Mill para defender o utilitarismo:

1. Ver uma coisa prova que ela é visível.

2. Logo, desejar uma coisa prova que ela é desejável.

A seguir a esta conclusão afirma-se:

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
3. A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.

4. Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria
felicidade.

Da conclusão afirmada em 4 resulta uma outra:

5. Logo, cada pessoa deve realizar as acções que promovem a maior felicidade.

Executando a análise destes argumentos, podemos verificar de 1 não se sucede 2, pois enquanto que
a visão é algo descritivo, o desejo é algo normativo.

De seguida, a premissa 3, pode ser considerada falsa, recorrendo às críticas ao egoísmo psicológico,
pois é o que aí está demonstrado. E o raciocínio que conclui 4 a partir de 3 pode-se revelar falacioso,
pois mesmo que consideremos a premissa 3 correcta, pelo facto de a nossa felicidade nos ser
importante, isso não quer dizer que nos seja a coisa mais importante.

Analisando 5, podemos também inferir que não se segue de 4, pois só por a nossa felicidade ser a
coisa mais importante para nós, daí não se pode concluir que nos seja bom a felicidade dos outros,
ainda pelo facto de que a felicidade de certas pessoas interfere na de outros.

Como acontece com qualquer outra teoria, foram levantadas objecções contra o utilitarismo:

A objecção da máquina de experiências


Esta objecção foi levantada pelo filósofo Robert Nozick, e diz-nos que se imaginarmos uma pessoa
que tem de escolher entre uma máquina que nos dá toda a sorte de prazeres, ou por outra, a felicidade
absoluta e a vida real que essa pessoa possui, segundo o utilitarismo de Mill a escolha certa é a
máquina, pois esta proporciona-nos a felicidade. Contudo, a escolha moralmente mais correcta seria
a de viver a vida, visto que de outro modo perderíamos a nossa autonomia e a realidade de fazer as
coisas.

A objecção da justiça
Imaginemos que numa cidade ocorre um terrível crime, que põe todas as pessoas em pânico. A
polícia não consegue encontrar provas sobre o crime, e, neste contexto, surge uma ideia: matar um
vagabundo qualquer, de forma a garantir a paz na cidade. Segundo Mill, esta seria a opção correcta,
mas realmente, segundo o valor de justiça, conseguiremos saber que não é possível fazer isso.

A objecção da integridade

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Nome: João Guerra/Rui Gomes Turma: 10º/2 Disciplina: Filosofia
Tomemos o exemplo de um químico que está desempregado, e cujo único rendimento da sua família
é o mísero salário da sua mulher. Certo dia é-lhe oferecido um emprego numa instituição que fabrica
armas de guerra. Deverá essa pessoa aceitar o emprego, sabendo que ele é totalmente dispensável
para esse trabalho, e que não gosta minimamente de situações de guerra? Segundo a ética de Mill,
sim, mas como vai contra os valores dessa pessoa, seria algo bastante errado, pois destruir-lhe-ia a
sua integridade.

Comparação
Comparando agora as duas éticas em questão, vemo-nos na posição de afirmar que elas diferem em
bastantes aspectos.

Para Kant, o que realmente importa na avaliação moral de uma acção, é saber se o agente age por
dever, enquanto que, segundo a ética de Mill, o que se sobressai são as consequências da acção.

Esta diferença principal, conduz a que sejam criadas muitos outros contrastes, pois as supra citadas
diferenças são a base de cada ética referida.

Posto isto, e mediante os factos expostos, podemos concluir que estas são duas éticas
consideravelmente díspares, pelo que, após uma análise cuidada e profunda, pode-se tecer
considerações em relação aos aspectos mais relevantes (bem como ao ruído) daquilo que realmente
interessa – ou pode ser descartado – em cada um das expostas filosofias.

Bibliografia
http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Stuart_Mill

http://moranapsicologia.blogspot.com/2007/11/tica-de-john-stuart-mill-utilitarismo.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant

http://criticanarede.com/html/td_01excerto3.html

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