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fio Fereira dos Santos, fésofo humani- zante, buscau reconelar a Filosofia com a religiio cristé, representando Cristo como o Bern Verdadeiro, Neste Cristanismo: a vl homer, desen- volve uma Axioantropologia fundada na melhor Filosoia cléssica tomista, ao descrever 0s ho- mens diversos das pedras, das plantas e dos ai sais (§ 10), como obras de nds mesmos (§ 21), pois temos uma oréxs (§ 29) que nos impele a0 Supremo Bem (§ 33), oréxis que é um dover-ser com direitos e obrigagbes (§ 50), implica em ustiga (§ 54), valores humanos (§ 58), Etica @ Moral (§ 60), fundados em virtudes cardeas (§ 76), € cultivo das virtudes como dever-ser ético do Homem (§ 80) Destas premissas retra 0 saudaso Mestre as conclusdes do titulo: a partir da miséra humana, encontrar ohomem sua savacao(§ ¥/s), porque (quar em sia trindade da Vontade,Inteligencia & Amor (§ 104), que the permite religar-se a Deus, pois “esta € a vossa religido, porque ea esté em 6s" (§ 120), concuindo com palavras de Crist, “eu sou o apice da pirdmide” (§ 135) Dos titimos escritos do ilustre fldsofa pais 1a, Cristinismo expressa a sintese de seu filosofat classic, com fortes tragos teol6gicos, a0 estilo tomista de apresentagio de teses ou proposigdes enlacando Razdoe Fé Carlos Auréio Mota de Sot Cristianismo: a religiao do homem EDUSC ema eduseedunccomn Ne Sutos Mi Fence de Apresentagao Capitulo 1 23. Cristanismo: a teligito do homem Capitulo IT 65. Cristianismo: a reli isin Ti. Série xiao do homem Apresentagao “Por que reler Mario Ferreira dos Santos hoj Autor de uma Enciclopédia de Cigncias Filoséificas ¢ So- querer o bem, por que © bem queremos determinadamente. Aqueles que guiseram construir uma idéia falsa da nossa liberdade = porque nunca a entenderam devidamente, ju nde que era (otal e absoluta isengao de qualquer lago, a es pontan idade totalmente livre de qualquer determina lo e conexio ~ construiram da liberdade um verda deiro monstro, um efeito sem causas; consteuiram ‘uma entidade sem uma razio e sem principio, Entio cera facil depois destruir esta i fem porque era ums imagem que nao tinha consisténcia, porque nao tinha principio, nem tinha razio de ser. Mas desde © mo: mento em que compreendemos 0 verdadeito sentido de nossa liberdade, como aqui esti dito no texto, enti podemos compreender que ela consiste apenas em po: der a nossa vontade, quando assistida pelo nosso en: tendimento, preferir este bem ¢ preterir aquele, ni porém preterir total ate o bem, Por isso a lil plenituade. E con cexige entendimento, ¢ este em sua pode o entendimento dar assistencia & vontade se ele nao for capaz de advertir 0 que esté em exame, se nao puder estudar com cuidado o que convém ‘au ndo convénr, se nio estiver 0 homenn livre de coagdes que 0 cerceiam, se nao estiver desobrigado das paixies 939 Cristianismot a religise do homem {que o avassalam? Por isso a liberdade da vontade impli ca a cooperagio eficiente e decisiva do entendimento, ‘sim, € preciso nunca esq) er isto, que a nossa liber dade estara viciada se nao formos capazes de estudar com cuidado 0 que convém ou nao convém, se nao ti- ver 6 homem liberto, isento de coagdes que 0 cer- ceiam, se nao estiver também desobrigado, afastado das paixdes que o avassalam e que escrevem sua pro- pria mente. Aquele que nao sabe ainda distinguir en tre 0 que convém e © que nao convém, ainda nao é li- vie; aquele que ainda esta obstaculizado pelas coagdes que cerceiam a sua agao, ainda nao é livre; aquele que é dominado pelas suas paixdes, ainda nao é livre. Por isso € que a vontade cristamente considerada implica 2 cooperagio eficiente © decisiva do entendimento com a vontade, Como 0 entendimento e a vontade tém o seu principio e a sua raiz no amor, a liberdade dda vontade implica a cooperagio eficiente e decisiva do entendimento impulsionado pelo amor a verdade € a vontade pelo amor ao bem. Eo entendimento, porque é perfectivo,exige que o conhe~ cimento seja 0 mais seguro e rigoroso. Consegilentemen. te, sem sun saber cuidado e profundo nao saberemos comparar para compreender as diferengas eas semelhan~ gas. Como poderd atuar com liberdade a nossa voutade se Ihe obstaculizar 0 empecitho da ignordncia? A vontade livre, portant, exige entendlimento claro, ciéncia, afasta- mento constante da ignorincia. Ora, & bem claro o sen- lido cristo que ¢ a elevagdo do homem nas pertcigdes do homem. O entendimento ¢ perfectivo, porque o en- tendimento pode cada ver entender mais, pois ele xi: {g¢ conseaqientemente que o conhecimento seja 0 mais seguro € rigoroso, cada vez mais © nosso entendimen- to busca a verdade e quer té-Ia na sua expressiio mais pura, mais nitida, Portanto, nao saberemos compreen: der suficientemente as diferengas ¢ as semelhangas en- tre as coisas ¢ no saberemos compari-las se no tive mos um saber ctidado € aprofundado, Como a nossa liberdade poderé atuar se for obstaculizada pelo empe- cilho da ignorincia, e mesmo que nao seja obstaculiza~ da pola snorincia, que nao nos permite qule saibamos quais meios devemos usar para poder agit, ela tam- bem, pela ignorincia, pode nos desviar do bem melhor fazendo-nos cair no bem menor, ou as vezes num mall maior para nés. A vontade livre, para que atinja a ple- nitude da sua liberdade, cendimento claro, exi ge ciéncia, exige 0 afastamento constante da ignoriin: cia, De onde se vé que a liberdade crist isengio, que esta pode té-Ia os proprios animais, o pés- saro solto da sua gaiols, ele conhece a liberdade de isengo, mas nao tem a liberdade de especificagio, nto tem a liberdade de saber especificar, isto é, de distin guiras coisas segundo as suas espécies,e saber para que servem as coisas, A verdadeira liberdade surge comple: ta, portanto, pelo desenvolvimento da perfeigio maxi- ma do homem, que é também 0 entendimentos € ne- cessirio que ele se afaste cada vez mais da ignorancia, que cada vez mais entenda e saiba, para que a sua men- tee tome clara, Nao era de admirar, portant, que no mundo cristo fosse desenvolver-se cada vez mais a cultura, fo esenvolver-se cada vez mais o conheci 40 Cristianismo: a religide do homem mento, ¢ que esse conhecimento se democratizasse de modo como se democratizou, de maneira que o mime ro de analfabetos foi reduzindo-se cada vez mais, ¢ 6 rntimero de homens cultos foi aumentando também, cada vez mais, Isso se deve também ao espirito cristo. Sabemos que houve obsticulos que impediram que © cristianismo realizasse com plenitude aquilo que 0 cristianismo tragava como o seu destino, mas se esses obsticulos se deram através dos séculos, eles deverso ser afastados, para que os verdadeitos cristaos realizem © cristianismo em toda a sua plenitude, E uma das ais piedosas agées cristis ¢ precisamente disseminar 6 conhecimento, mas 0 conhecimento so, 0 conheci- mento justo, o conhecimento bem fundado, o conheci- mento positive, ¢ nao aguele conhecimento perturba- dor, corruptor que poe a davida, abre as brechas do de- sespero e Langa o homem no satanismo. E tudo isso 36 0 hontem pode realizar, nao 0 animal. Vé ¢ assion que 0 entendimento tende para a verdade, ea mn, O entendimento & assim a vontade temde para 0 b oréxis intelectual da verdade, ¢ a vontade, a oréxis inte lectual do bem. Ein ambos, tanto no entendimento como nna vontade, hd nnn igual raizs a or€xis, 0 inipeto para 0 que & conveniente & naturcea humana, Essa raiz € 0 principio também da oréxis intelectual da verdade, ‘como da oréxis intelectual do bem, ¢ Ga tendéncia, é 0 anelo, € 0 impeto para alguma coisa, Everdade que o mor depois se distingue e toma diver- sos aspectos e pode-se distinguir nele diversas maneiras, de amar, mas 0 entendimento € 0 amor da verdade, a 542 Mario Ferreira dos Santos vontade € 0 amor do bem. Vontade, entendimento e amor esto sempre unides, esto sempre constituidos partes da mesma natureza, da mesma ago. Eeste é um ponto importantissimo porque é uma revelagio do ho- mem, no homem, daquilo que de mais supremo existe natureza, como veremos depois. E como a natu mana tende anelar 0 que the & conveniente (0 bem), anela, portanto, também a ve dade, porque ela € tambein conveniente a sua nature za, Assim’ a verdade ainda bem, 0 bem & a verdade. De onde se v8 que Ini a mesina natureza en ambos, mas dois papéis diferentes, pois a vontade & a mesma oréxis que tende intelectualmente para o bem, € 0 ¢ tendimento, a oréxis que quer a verdade, também um bem, A pouco e pouco se vai vendo, se vai sentindo que hi uma sé natureza no nosso amor, na nossa vontade ¢ 10 nosso entendimento, no que constitui 0 nosso psiquismo superior, o mais alto da mente hw mana, Essa oréxis é 0 amor. Hi nessa oréxis un impeto afetiv, umm anelar o que é de- sejaudo com amor. Assim o entendimento é 0 anor da ver dade, ea vontade 0 amor do bern. Mas 0 amor éda mes rma natureza dessa oréxis, emby 1 wis papel 2 repre diferente. Hi, assim, no homem uma trindade: vontade, centendimento ¢ amor. Os trés tém a mesma natureea, mas representam papéis diferentes. ste & um ponto inv portante do cristianismo. Em muitos surgiré uma obje- «io de que nao é possivel que, no ser humano, o amor; o entendimento ¢ a vontade tenham a mesma natureza 96 su Cristianismo: a religido do homem Mas tem, porque hi no ato de entender uma diregio amorosa para a verdade, que vai transparecer quando descobrimos que alguma coisa € aquilo que julgivamos ‘ow quando tems a solugao de um problema que a nbs se colocava, Aquele instante de vitéria é semethante a vitoria do amante q vontade amor, ha no entendimento amor. © ato da indo tem a posse da amada, Haina vontade é um ato assistido sempre pelo entendimento, como 0 ato do entendimento nao deixa de estar assist do pela presenga da vontade, e esta é a razdo por que cles funcionam, embora com trés aspectos diferentes, & © funcionar de uma mesma natureza no homem, que & ‘alma humana na sua maxima espiritualidade, © amor pode ser 88 amor em sua fimgao, como também no entendimento s6 entendimento, ¢ a vontade s6 vonta de, Contudo,s6 hd vontade humana onde hid amor ¢ en tendimento, $6 hd entendimento onde ha amor e vonta de; $6 hd amor onde hi entendimento e vontade, porque amor tem de nitidamente conhecer 0 que ama e inten: samente queré-lo. E este, em poucas palavras, a sintese cdo que acabamos de dizer: € uma mesma natureza que tem trés papéis. Assim se di no homem. Portanto, podem eles atuar de certo modv separada: rente, mas @ sua nature: outros, Deste modo sao trés papéis de uma mesma na Assim & 0 homem. E nisto ele se distingue pro- fundamente dos aninais, E wn ser anelante de verda- 546 Mario Ferteiea das Santos ‘mento para escolher com verdade, ¢ 0 amor os une, po {que o amor é a raiz eo principio deles. Assim, 0 anor & oréxis que quer a verdade do bem elei- 10 (escolhido): a vontade, a oréxis que aspira com amor a verdade do bem eseolhidl; 0 entendimento, a oréxis que aspira com amor ao bem da verdade, Assint, 0 amor é vontade intelectual da verdade do bem; a vortau ‘amor intelectual do verdadeiro bem; 0 entendimento, © ‘amor intelectual do bem da verdade. A vortade aspica nor a verdade do bem escolhido e o entendimen: to aspira com amor ao bem da verdade, Dai ser 0 amor ‘uma vontade intelectual da verdacle do bem; a vontade, ‘amor intelectual do verdadeiro bem, ou do bem verda deito e o entendimento, o amor intelectual do bem da verdade, Distingue-se em suas fiangdes, mas sempre um ‘apresenca do outro para a sta perfeta inteligencia e compreensio. Sao tr fungoes és papéis importantes dda mente superior humana, Assim 6 0 homey, quer queiram quer nao, as que nao 0 compreenderam bem. E é fiurdamentade nesta realida omen, como 0 homem & em sua concregao, que 0 cristianismo se cimentou. Nao é uma religiao imposta 0 homer, mas una religito que brota do homem ¢ marcha para o Ser Supreme, Por isso Cristo foi também um homem, Esta é a afirmativa suprema, 0 cristianis smo é uma religido fundada na realidade do homem, do homem em sua conctegdo, e como é uma religiio ten: de conseqilentems fe para a parte mais perfectiva do ser humano, ¢ a parte mais perfectiva ¢ o intelecto st 948 Cristianismo: a religido do homem perior: amor, vontade ¢ entendimento. Conseqdente: mente, é através dessas supremas perfeigdes que o ho: ‘mem pode novamente religar-se » Ser Supremo. Cris to teve que ser um homem porque era preciso salvar 0 homem dentro do proprio homem; porque o homem, desconhecia, no queria notar, nao queria perceber € ino podia perceber a grandeza que ele tinha na revela- 20 trinitéria do seu proprio psiquismo superior que participa da Trindade Suprema. Fra preciso que Cristo vviesse revelar esta verdade para que novamente religas seo homem| » Ser Supreme, Das coisas que sucedent, umas sucedem necesséria ¢ in frustravelmente por sus natureza, come as dguas que corremt para os ros, seguinde as leis da natureza, Contu: do, o homer pode represi-las, por um digque que as rete- nila e dar-the outro destino que 0 mar. Aquela folha seca rola, volteia, segundo os impulsos do vento, mas o ser hu mano nao, Hé, no thomem, wma frustrabilidade, que é uma propriedade da sua esséncia racional, O. homem, por ser inteligente, pode escolher entre possiveis futuros, som que a sua escolha modifique ao que quer que seja a ordem natural, Pode, pela vontade, mudar © rumo de seus atos ¢ estabelecer outros. Pode frustar um aconteci- mento e realizar outro que o anteriormente desejado. Ha satos que o homes faz e poderia nao fazer, sem perturbar a orien césmnica, He também ars que 0 homem nao faz que poderia fazer: Entre os atos que 0 homem pode realizar, hd aquelescuja realizagao & indiferente ao bem do homer, ou 5 99 prejudicam, nem favorecem @ natureza humana cousi: derada estética, dindmica e cinematicamente, Tais atos indiferentes nao provocam males nem beneficios, quan do realizados. Compreemsde 0 homem, desde logo, qu: tais atos podem ser realizadas ou nao, contude nao v por que terd de fazé-los, Estamos aqui examinando um problema fundamental da ética que & 0 problema do dever-ser frustrivel, daquele dever-ser que € um impe- rativo para o homem, que o homem deve realizar, ele tem de realizar, mas tem a liberdade a0 mesmo tempo de nao realizé-lo, de frustar a sua reatizagio, dat ele responder por este ato de frustragio que vai depender da sua vontade Do latin, de habeo, ter de, surgiu o verbo debeo, ew devo, do nosso verbo dever. Quando dizemos: devenes fazer isto ou aquilo, queremos dizer que tems de fazer isto ou aquilo, Mas, quando dizemos tal coisa, quando falamos do dever, falamos de un ato que deve ser reali: ilo, que temos de realizar, cuja frustragao & inconve: niente. Mas quem estabeleceria um dever-ser suspenso no ar e sem razio qualquer? Um dlever-ser dessa espéce seria apenas una ordem de comando e nada mais, O de ver-ser tem de ter wina razao, tem de ter ui porqué para ser cumprido, Mas 0 dever nao & apenas uma ordem de comando, E algo que nite convémn frustrar o sew acontecer, par algu: ‘ma razao digna de respeito. Assim, 0 que é conveniente & nossa natureza estitica, dindmica © cinematicamente considerada, ndo gostamos que nos frustrem, Ju Cristianismo: a religido do hemem todos que 0 que é conveniente, 0 que nds apetecemos, aquilo para © qual se dirige a nossa oréxis, quer a sens vel, como a intelectual, nds temas direito, cabe-nos com justica, com retidao, [Assim pensamos 6s, mas nem sempre assim © que é conveniente a nossa natureza é umn bem para nds, ¢ esse bem dele precisams para nosso equilibrio vi tal, Ele nos cabe porque é nosso bem. E reto que o descje mos, éreto que 0 possuamos, éreto que dele nos apropri mos. E 0 nosso dircito. O direito, assim em sew funda- mento natural, baseia-se no que nos deve ser dado ow atribuido, porque corresponde & conveniéncia da nossa natureza, segundo for ela considerada. O direito, assim, nao se separa do dever-ser dla obrigagiie, Vé-se que a concepsao do direito crista & a concepgaio natural. O dircito surge da propria natureza, surge das nossas 1e- lagdes com os nossos semelhantes, com a Divindade e com as coisas, e das relagBes que as coisas possam man- ter conosco, E reto para nés tudo aquilo quanto corres- ponde & nossa natureza, segundo for ela considerada na sua estaticidade, na sua dinamicidade, no desenvol vvimento das suas possibilidades na sua cinematicida- wadas 8s intera- de, isto é nas atualizagies proporcie twagdes sofridas pela acao de outros no decorrer de to: dos esses lances do caminho. Tudo aquilo que é conve niente, realmente conveniente, benéfico, realmente be- néfico a nossa natureza, nos é devido e nao é em exces: 0, porque o excesso pode perturbar a conveniéneia da nossa natureza, € no & no minimo, porque o minimo ror Mario Ferreira dos Santos pode nos trazera caréncia que poe em risco o bem des. st nossa natureza, Portanto, tudo aquilo que é conve- niente para nés ¢ do nosso direito, tomado em relagoes a9 nossos semelhantes, jf que no somos entidades per se e.a se, independentes absolutamente de outras, mas decorremos do proprio conjunto social do qual fazemos parte. Por isso, onde hui direito, hd obrigagae. A cada obviga- ‘iio corresponde umn diveito, como a cada direito corres- ponde as suas obrigagaes. Mas 0 homent nao é um indi- viduo s6 que exista, Hi homens, e homens, que tarnbéwr tém 0 seu dircito e também tém as suas obrigagdes. Ofenderd o diveito de outro aquele que ndo respeitar 0 que & conveniente a natureza de seu semelhante, Por isso 0 direito tom de ser solidério ¢ universak um 86 para todos ¢ de todos. O direito de cada um nao colde, sendo justo, coms 0 di- reito de nenlium outro, porque os direitos sao 0s mesmo pois sao seres da mesma espécie, que aspiram aos bens ‘que sto coneniemtes e proporcionados a natureza de cada umn, que éa mesina ent todos. As colisbes de direito s6 podem surgir quando alguéo lesa 0 direito albeio, ou io cumpre a obrigagae que corresponde ao seu dircito, Por isso, onde se lesa a lei, ha injustiga. Palavras elaras «que nao precisam de interpretagao. Justica 6 reconhecer em cada um, nitidamente, 0 seu di reito e assegur-to, bem como nitidamente a sua ebriga ‘do, e exigir 0 seu curprimento, Nao ha justiga onde se Cristianismo: a religide do homem lese 0 direito alheio, nem tampouco onde se afrouxe 0 de- ver do cumprimento das obrigagbes, Els sao correlativos necessivios porque sao simultincos, porque se de alguém se exige uma obigaao & porque se Ihe dé urn direito, ese Ihe dé un diteito 6 porque se the exige uma obrigagao. Onde o direito se separa e se independent da obriga- 0, nao hd justica, Onde os homens nao reconhecen er te si os seus direitos as suas obrigagdes ndo ha justiga Ui dircito desligado totalmente de abrigagao nao é di- sito, uma obrigagao totalmente desligada do direito nao € obrigacao, Devem ser proporcionados um ao outro porque toda a disparidade que houver aftonta 0 direito A obrigagao, portanto, a justiga. Ao ser humano cabe a frustrabilidade de certos atos, que poste ee fi ‘ou nda, Os aninnais dizer sempre sim ‘urea, © homenr, poréen, pode dizer nite. Nesse ni es «indice de sua grandeza, a abertura de sua elevagio, mas tambénn o primeira passo para os seus erros. O omen! pode frustrar 0 dever-ser. O deve porque eles obedecem aos instintos. Mas 0 do home & dos animais ¢ fatal frustrdvel, porque ele ¢inteligentee dispde da vontade. E por que se dio tais coisas? As ri ssa simples: 0 ho- ‘ment nao é um ente imutdvel e eterno. E um ente mute vele temporal, Sua vida & wm longo itinerdrio, um longo drama, porque ele atua e sofre sucessivamente uma lon ‘ga realizasio dramtica, porque ele age e faz. E como age f faz, ele profere e pretere, Por isso, ao longo do drama Inumano, ao longo da sua prixis, da sua prética, 0 ho- ‘mewn avalia valores 959 $60 sel srio Petseira dos Santos En toda vida pritica do homer he a presenga tls valo res que sao julgados, preferilos e preteridos. Onde hi ‘acdo humana, hd a presenga do valor, ¢ 0 que o homer faz ou sofre € conveniente mais ou menos ow mio a sta natureza estitica, dindinica e cinematicamente conside- radla, Em tulo, portanto, ha valores, maiones ow menore , adeinais, ¢ homem dd suprimento de valor ao que the convénn, como tambéin Ihes retira, Supervaloriza ou de valor ica, Todas estas caracteristicas do homem sao preci- samente 0 que the dé o caréter da sua peculiaridaute Mas esses valores 10 valores do hiomem, por isso sito ve lores Inumanos (em grego, valor & axids ¢ o homem & em-se esses valores de axioantte- ‘antropos, dai chans polégicos). Toda vida ativa e factiva de homem (a vida técnica) esté cheia da presen dos valores e dos desvale 1s do honten. Por essa razao, cada ato lnumano € ai ou menos digno, segundo tena mais ou menos valor. 4 dignidade dos atos continuados marca o seu valor. Osatos continuados constituen o costume (o que os gre gos chamavam ethos ¢ 0s latinos mos, moris, de once vem Etica e Moral). Os ates éticos ou morais sio ates que tim valor, sto atos, portanto, que tém dignidade. E cticamente valioso o dever-ser que corresponde a justiga como antes expusemos:& eticamente vituperdvel, indie. no, 0 ato que ofende a justiga, ou seja, 0 direito, 0 que é devido a conveniéncia da natureza humana, na mult plicidade em que ela pode ser considerada, Assim, toda a vida pritica do homem gira ent toro ¢ rica. Realmente a vida pritica do homem € a vide at 02 963 Cristianisme: a religiag de bomem va e a vida factiva, ¢ naturalmente essa vida gira em_ tomo do que é conveniente ou desconveniente. Na asao ¢ na realizagao da vontade, hi apreciagdes de va- lores de que convéme do que mn, conseqt temente, do dever-ser frustrado por isso, ram todas em torno da Ftica, que tem de estar presente em todas: ‘0s atos da vida pritica. E prosse le 0 texto: como dis- ciplina filosofica, esta tem por objeto formal a ativida- de humana em relagio ao que € conveniente ou no & sua natureza, Os 10s podem ser assim éticos ou antiéticos, ou entio anéticos. Eticos, os que devem set realizados; antiéticos, os que axio deveriam ser re: do; e anéticos, os que nos parecem indiferentes. Portanto, toda vida ativa ¢ factiva (téeniea, ar ica) do homem se dé dentro da esfera étiea. Razao tinham, pois, 6s ildsofos uncigos gue puniam © Ditto, a Economia, a Sociologia, a Téenica e a Arte como inclusas e subordina. das a Etica, porque 0s atos hunanos esta sempre mar cailos de eticidade, Esta a vazito por que se deve distinguir Erica de Moral, Esta distingao nao ¢ arbitraria, Ora, os antigos, ao distinguirem essas diseiplinas ¢ as eoloca- rem subordinadas & Etica, mio subordinavam total: vorquie hi uma parte de cada uma dessa disciplinas, que € tipicamente propria das mente e absolutamente, disciplinas, que € sua parte especifica. A Etica, entdo, fancionava em relacdo a esas dsciplinas na mesma re- lagao de género para espécie A Btica estuda 0 dever-ser humana, a Moral descreve ¢ prescreve como se deve agir sar este dever-sr: A Moral é variante, mas a Etica é invariante. Poder os 0 Ferreira dos Santos homens, mal assistides pela intelectualidade, errarem quanto a eticidade de um ato e estabelecer um costume (moral) que nem sempre & conveniente ou & exagerado, Podem errar, porque o home pode errar, mas se der ele ‘o melhor de sua atengao a Etica ele nao errard e pode ria evitar os erras na Moral. F essa a razio por que inuitas vezes encontra nos diferencas entre a moral ea Atica, E muitas vezes vimos que certos costumes de certos povos ofendem a principios de justiga, porque nem sempre o homem escolhe como modo de proce der (seria © modo moral) aquele que melhor corres ponde a realizagao do dever-ser ético,¢ as vezes é mo- vido por certas citcunstancias histéricas, ambientais, que determinam agi desse modo ¢ nio doutro, por- que, apesar de nao ser benéfico como seria de desejar, 6 menos maléfico do que de outros modos de proce- der, Assim pode-se compreender que certas tribos, em determinadas circunstancias, se vissem forgadas a ti- quidar os elementos invélidos que a constituiam, para {que sobrassem alimentos suficientes para manut 0 dos que tinham maior capacidade de sobrevivéncia, Este ato eticamente considerado é falho, mas moral- mente considerado ele tem uma desculpa, dada as cir cunstincias ambientais e histéricas daquela tribo. Por isso, muitas vezes a moral pode chocai coma ética, e nem sempre a moral conheceria a melhos posta ou a melhor solucao ao dever ético, Nés hoje estamos numa crise, nao de ética, estamos numa crise de mo- ral, ¢ esta crise na moral esti por uma mi visualizagao da dlferenga entre moral ¢ tica. Como a moral decal como a moral ndo consegue manter as suas normas, sor 965 Porque ela j4 mio correspond & realidade da vida tual entio quem sofre as conseqdéncias é ética, pa reeendo 40s olbos daqueles que nao esto preparados, que fazem confusio entre ética € moral, que a ética também se ders, como se esta derruindo a morale sito € verdade:a ica permanece em pé a ética € in destruivel, ica & eterna; a moral & hum a, fi vel, caduca, ¢ por isso ela pode ertar. Se a mente hu- mana for bem agi 1, ela poderd evitar os erros da moral pela criasio de costumes que correspondam melhor ao dever ser Aquees que dizen que a Evca é vévia porque a Moral é varia, confurndivan a Moral com a Etica, Ess co provocaram inimeros: mual-entendios € muita agitagio eure os que desejavam atacar a Erica fsdes Ha costumes convenientes © inconvenientes apenas a uma parte da hnmanidade mas o que é ico é universal ce deve ser aplcaio tod A Bien deve ser consagrada 40 universal. Tens assim a explanagao dos diversos aspectos importntes que ji salientamos, mas o texto continua € nos ai esclarecendo a pouco e pouco este aspecto genuinanente erstio, Assim, da mora gue surge na vida prética do homem, a ‘mente espectilanio sobre ela chega a Et peculativa dog ' prtca, porque nela hd prineipios eter nos, enguanto Wa nela ha regras de valores histéricos ortanto, mutins, Dar a cada um o que é de seu dire- 10 é uma normestica, mas 0 modo como se proce, se- sudo a comeniicia humana obediente a esta norma, 566 Mario Ferreira dos Santos ser uma regra moral, Porque errant os homens na Mo- ral, nao se deve negar a Etica 0 seu valor, porque esta se ria wna violentagao da intligéncia Nao somos apenas animais, mas homens. E como hi mens, femos entendimento, vontade ¢ antor. O animal indo tem ua vide ética, nds tennos, porém O arsimal no precisa estabelecer regras moras, nis, porém prec- samos, Nao cabe ao animal escolhir entre o sim ¢ 0 nA, porque diz sempre sim aos seus instintos que 0 regem: Mas 0 hones tem de empregar a sua inteligéncia ¢ a sta vontade, edirigir 0 seu amor, por isso 0 homemn é funda: mensalmente ético na sua agi, Estes paragrafos contic ‘mam as nossas palavras Porque somos homens ¢ nao animus, tensos le conside- tar 0 testemunhe da nossa situagao, Nao podemes pela animalidade, renuuciar a humanidade, que € perfectiva ‘afirmar wna i mente superior. E nao podemos també custa da outra, enquanta viventos. O animal em nds nao impede que nos eleven, pois a nossa vida pratica mos: tra que podemos erguer-nos até produair os mais ¢ dos exemplares humanos. Esta é realmente uma verda de que induzimos na nossa pritica. En les e mentem quando dizem que nés nao poems er- guer-nos elevar-nos porque somos animais. A anima- inde: lidade em nés nao impede a de nossos atos. Nao podemos atingir a uma perfeigao, que seria como que sem limites ¢ sem o menor grau de deficiéncia, porque somos humanos, somos deficientes, somos, portanto, passiveis de erro, Mas podemos sim, cada vez 108 508 $09 $70 mais, erguer-nos em nossa vida, em nossa vida psiqui- ca superior, desenvolvendo cada vez mais 0 nosso amor. Eo que veremos a seguir, ¢ esta € a verdadeira pritica crista Somos capazes dle progredir, mas es animais nie. As abe Ihas de hoje ager come as abelhas que nos descreve Aris tételes, mas ¢ homemt nito, Crescem nossos conhecimen: tos, ampliannos os nossos instrumentos sécnicos, invadi ‘mos o dmago da terrae escalan 8 08 espagos. Constr ‘nos novidos pela nossa vontade, pela nossa inteligencia, la vontade¢ pelo amor Se 0 amor, a vontade e a inteligéncia sao capazes de nos erguer acina dos aninais ¢ os elevarem a estigios cada vez mais altos, tambént tem sido pelo desvirtuamento da inteligencia, mal usada pela vont Vieiasa e pelo anor desregrado, que cainnos nas mais énfimas situagdes. So- mos grandes apenas quando nos erguentos e nao quando caimos, E mais fel destruir do que construir. Este pars grafo fala por si Sabemos que ampliar 0 alcance da nossa inteligencia, aumentado 0 nosso saber, custa-nos esforgos; também custa-nos esforgos purificar a nossa vontadlee acrisolar 0 nosso anor. E mais fil permanecer indiferente,e dificil é vencer os estégiose alcangar o mais alto A ascensao do homem exige esforgo e sobretuulo coragem, Sabemos, sim, realmente, que toda nossa elevagio & ine- gavelmente wna tarefa de gigantes, mas nao é uma tare 109 Mario Ferreiea dos Santos fa que ndo possamos cumprir. Mais Ficil, sem david, no realizé-la, mas no é impossivel levé-la avante. A coragem € aquela virtude que consiste em nio temer riscos, quando se deve fazer 0 que se deve fazer. Se nos tornamos mais perfectivos pela elevagao de nossa inte- ligéncia, pela purificagao da nossa vontade e pelo acti- solamento de nosso amor, tudo isso exige coragem. O contririo da coragem €a covardia, O covarde detém-se Le © que deve fazer por temor aos riscos. Nao somos grandes quando nos acovardamos, mas quando somos ¢ os, A elevagio do homem exige co ragem, po nto, heroicidade. Corajasos sdo os que se dicam a aumentaro sew saber, a purificar a sua vontade @ acrisolar 0 seu. amor. Precisanos, pois, de corajosos & nido de covardes, Mas a covardia nao € apenas 0 medo. Prossegt 1: O meio & una trepidagdo natural do que é corpo en nds ar O meio é natural, e dade, Mas 0 iminente peri todos dele sofiemos, em maior ox menor inter covardia é a auséncia da covagem ética, E temer 0 riseo que wna asao ética pode conter. Nao hé granddeza nent nna naqueles que se nega a cumprir os seus deveres. S30 apenas covardes, F inttil que desvirtuem a inteligéncia para justificarem-se Estas justificagdes sdo sempre falsas. Sto argumentos es- peciosos para acultar a covardia, A humanidade precisa de homens corajosos e nio de covardes. Outro dever do homem, porque é homem, é aumentar o seu sab amplid-lo e purifici-lo dos vicios, Ora, o conhecimen- 10 578 Cristianismo: a religide do homem to ea ciéncia sio habitos porque os adquirimos. Nao nascemas sibios, mas nos fazemos sibios. Pode uma sociedade humana orgulhar-se dos seus covar- des? Poole orgulhar-se, sim, de seus homens corajosos, Pode uma sociedade humana orgulhar-se de seus ho: ignorantes ¢ que nada fazem para ampliar 0 seu saber? Pode orgulhar-se, sim, de seus homens que tudo, fazem para aumentar seu poder. A humanidade nio pode conquistar tantos bens, que Ihe sio tteis, com co- vvardes ¢ ignorantes. Esse saber os homens chamaram prudéncia, Prudencia e coragem sio assim: hdbitos (por serem habitualmente postos em agio), virtudes do homem, E sio virtudes porque estas s20 0s habitos bons, como 0s vicios sio os habitos maus, Mas ha exemplos de coragem imoders dda, de audicia, de temeridades. Ha os que se precipi tam e se atiram a atos de coragem em que Ihes falta a prudéneia, tornando-se assim imoderados, Precis ena prudéncia, ‘mos, sim, ser moderados na corage A moderagao é pois, sna virtue pela qual o homem freia os excessos, ¢ faz com que seus atos se realizem dentro de medidas justas ¢ convenientes. E outro hab todo homem por ser boa, a moderagio é uma virtude, Mas a prudéncia corajosa e moderada nas leva a con prcender © que eticamente ¢ devido a cada um como, seu diteito e sua obrigagao. E isso éa justiga. A justiga é também wn ato bon: é, portanto, uma virtw de quando habitual. Homens justos, prudentes, mode: mn 2) 580 gsi Mério Ferreira dos Santos radas e corajosos sio os que elevam o homem, e no 0s que o denegriram. Os que atentaram contra a humani dade foram os imprudentes, os injustos, os imodera dos ¢ os covardes, ¢ que ainda usaram a forga organi: zadla para oprimir os seus irmaos, Nao ha grandeza do homem se nao houver essas virtudes, cuja fundamen: talidade levow a serem chamadas de virtudes cardeais. E sao virtudes cardeais porque & em tomno delas que gira 4 vida superior do h nem. © homem s6 € grande onde essas virtudes so praticadas, Nao esquegamos nunca ue & fic nao segui-las. Qualquer covarde pode ser imprudente e negar-se ao estudo, qualquer injusto pode ser facilmente imoderado. $6 hi grandeza nos ‘que sio capazes de realizar estas virtudes. E como 0 homent s6 € grande quando se real: a elevagito do homem é wm dever-ser ético, cultivar es- tas virtudes € 0 dever do homen. Bum dever porque, sendo 0 homem perfectivel, é possivel a ele alcangar ‘0 que é mais elevado; assim ele 0 faz porque é conve- niente sua natu forna mais forte & mais poderosa co dever de superar-se constantemente, E tem esse dever porque & superando cada vez mais a si mesmo que ele cada vez mais é apto a corresponder sua pripria watureza, jd que essa superagao & propor cionada ao que a sua natureza é, além de the ser possi- vel. Nao esti el e violentando o que mas atualizan do, tornando real, tornando efetivo © que ele pode saz 584 Cristianismo: a religiso do homem ser. O dever do homem, portanto, & seguir cada vez mais caminho da sua elevacio. Todos estes pardigrafos falam tao elogientemente ddo que pretendem dizer que nao cabem comentitios.. Desse modo se vé que obedlecenido a étien, & verdaadeira tica, cumprindo os preceitos morais mais adequados Aquela, 0 ser humano prepara 0 eaininho de sta eleva- sao, E uma faganha grandiosa, porque é uma faganha, herdica, E a que é verdadciramente humano, por- que nada tem de animalidade. £ 0 homem na pena’ afirmagio de si mesmo. E assim © homem ergue-se ‘cada vez mais acima de si mesmo. Esse caminho é uma’ possibilidade é wma possibilidade que dé ao hormem wma elevagao, porque o eleva onde ele & Iaunarto. Qualquer restrigao gui € uma violentagdo e tina lestio ao diveto de ser bit= mano. Todo obsticulo posto aqui € uma lesio a0 seu diseito, Ninguém, pois, tem direito de opor obstaculos a elevagio humana, e todos tém o dever de estimuli-la ¢ torni-la mais ficil e mais acessivel. or essas razaes é injusto inypedir o aumento de saber; injusto obstaculizar a liberdade, quando eticamente orientada; é injusto acovardar os homens, excité-los a imoderagao e aos excessos:€ injusto faciltar que as pai des, que sto de origen animal, dominem a inteligéncia, Toda esta injustiga é unsa lesio ao diteito do homem de superar a si mesmo. 5.85 $37 Mirio Ferreira dos Santos Quando nds acreditamos no que nos é evidente desde logo ¢ assentimos com plena confianga, sem temor de erro, tensos fé. Quando confiamos que valores estdgios mais altos poderao ser atingidos por nés, temos espera 5a. Quando somos capazes de amar 0 amar 0 bem de nossos semelhantes, temos caridade Tanto a fé, como a esperanca, como a caridade podem ser habivuais. E porque podem ser habituais, ¢ como esses hdbitos sd0 bons: ser incrédulo totalmente seria vicioso; cair na de- sesperanca seria negar as nossas possibilidades; nto ‘amar o ben dagueles que ananos ou daqueies que de vemos amar seria sermos injustos, portanto, estas trés qualidades habituais sto virtudes. Contudo essas virtu- des sao diferentes das outras que examinamos ej vere mos por queé A prudéncia, a coragen: (que é também fortaleza), a jus tiga e a moderagao podemos adquiri-tas a pouco e pouco, caida vez mais, por nosso préprio esforgo, por nossa ado. Sio habitos que adquitimos. Mas quem é capaz de ad: quitir por sia f se descrente 0 seu coraga0? Quem pode adquirir a esperanga se nio eré em possibilidades melhores? Quem pode amar se seu coraglo esti seco para o amor? Estas virtudes, por mais que nos esforcemos em té-las, rio surgem enn ds apenas pela nossa vontade, nent por ‘gue sejamos capazes de pensar nelas, Blas surgem subi tamente, sem que, a primeita vista, saibamos de onde 589 Cristianismo: a religide do homem ‘vem, Subitamente em nds se ilumina a f, erescem as experangas ¢ anima-se a nossa caridade, Estas virtudes vam de algo que nao € a nossa voniade, nem © nosso entendimento, vim de algo que deve também las ¢ mais o poder de dé-las, Nao sa0 as coisas brutas que nd-Ias dao, porque as coisas brutas nao as tém; nao sao as plantas, nen os animais, porjue nenliua dlelas as tem. E mister, portanto, algo {que as tenha para no-las dar. E como elas no surgem de nds, nio sio criagdes nossas, devem vir de algo su perior a nds. Esta a razao por que sio chamadas de vir~ tudes teologais, distintas das virtudes cardeais, Vos nos pet untastes tantas coisas & nds vos responde mos. Respondemos até aqui, até onde pode chegar 0 homem por seu esforco, usando da luz natural da sua inteligencia, E tudo isso que vos dissemos é verdade, porque é de vossa experincia, ¢ nenhuma experiéncia humana pode negar a verdade do que dissemos. Nao hi argumentos que derrubem nossas palaveas, porque nada afirmamos que nao se fundasse no homem como Nao violentamos nenhuma idéia para justficar outva Apenas mostramos o que se dé, Nao houve de nossa parte nenhum emprego de qualquer recurso que vio- lentasse a vo s4 razio ou afrontasse a vossa inteligén cia. © que vos dissemos 0 que vos devieis saber e ja estava em vs, pois, & proporcio que sucediam as nossas palavras, a vossa mente teve de assentir com lis 52 593 som Mario Ferrcica dos Santos clas, porque elas apenas disseram 0 que somos ¢ Nao obstante, nao dissemos tudo, Ha ainda muito que dizer, ¢ vés tendes muito que meditar para completar 6 que nao dissemos, mas que esti incluso em nossas palavras, Nos vos convidamos agora para que com toda a pureza de vossa vontade, com toda a forga de vossa inteligéncia com todo 0 ardor de vosso amor ros acompanheis um pouco mais. Vereis, entio, qu ‘nossa promessa seri cumprida, A elevagao do homens no & una impossibilidade, por- que ja ati mos graus mais elevades que outros, e entre nds hd os que estao em estdgios mais baixos, e outros, em cestégios mais altos. Também ¢ evidente que a humani dade é composta de homen € que somos diferentes tuns clos outros. Também mantemos mods de vida di- ferentes © destinamos 0s bens, segundo. interesses uitas vezes opostos. Por isso os homens divergem uns dos outros, Pundaran-se poves,cidades, estados, paises imensos, ci: clos cuturais, eras prolongadas. Ei tudo isso vimos do minar a heterogencidade, Seres humanos oprimirem outros, lesarem os seus direitos, estabelecerem obriga- be ses desproporcionadas, exercerem pod neficio ou de grupos, a custa de outros, E tudo isso fi= zeram em nome da inteligéncia, da vontade e do amor | 595 $96 597 598 Cristianismo: a rcligito do homem Tudo isso entristeceno ser humana que foi despojado seus direitos, 0 que 0 angustiou, desalentou-o, desesp rou-o, feo duvidar de si mesmo e de tudo. E havia razio para tudo isso na verdade, Mas tudo o que se fez de ig- nominiaso nao consultava a justiga, nem a moderagio, nem a coragem, nem a prudéncia. ‘Tudo isso nao obe. decia a verdadeira ética, tudo isso viol Todas andeza, mas miséria, Ao s acdes nao foram g realizi-las © homem nio se elevou, mas se diminuit Em tudo isso homem nao foi grande, mas mesqui lo, mas rho; no foi justo, mas injusto; nio foi mode imoderado; no foi prudk te, mas imprudente, Em tudo isso o homem falseou a si mesmo, comprometeu a sua grandeza, traiu a sua humanidade e a submeteu a Longa tem sido a histéria humana dessas misérias e pro- longada, sua permanéncia, las um dia surgiu um ho- _mem nas terras da Galiléia, ¢ esse homem erguew a sua vor eapelou por humanidaele ao homem, chamouo ho- ‘mem pelo seu verdadeiro nome, disse-the que iria falar a sua linguagema ¢ que ia revelar-Ihe a sua verdade. Nao Jou outra coisa que ji nao € esse contida na propria humanidade, © no violentow a sua inteligéncia, nem ‘oprimiu a sua vontade, Esse honem apenas pediu ao homem que nao continuas: se esquecido de si mesino, que volvesse sobre si mesino & 599 $100 S101 E-esse homem convidou ao homem que aceitasse a ao Ihe pediu impos- siveis, mas possiveis. Pediu-Ihe que 0 acompanhasse sua humanidade e a cumprisse. ‘numa faganha que todos podiam realizar. E disse ao homem: Ti nao 6 o principio dle todas as eo: sas, porque wn dia comegastes a ser. Nem teu pai, nem teus antepassados, pois todos comegaram a ser. Nem esta terra, nem estes astros, porque tudo isso comegou a ser. Nao pode dar aquele que 10 tem, Nao daris {que nio tens, Se tudo comesa a ser, 0 que hii no v do nada, porque o nada nada tem para dar. Tudo quan- to comega a ser deve ter sido dado por quem o tem, para nha para dar, pois tudo quanto surgiu veio de quem ti nada tem para dar, quem lew devia ter ar. Portanto, no principio jd havia quem tudo ti- raha, nao do que nio tinha, © primeiro de todos é 0 supremo dadivoso, que tem tudo, Nao poderia ser ele um bruto porque: como o bruto poderia dar a intel ncia se ele no a tem? Nao poderia ser um inconsciente porque: como poderia 0 aque nao tem conseiéncia ie si se cle 120 a teni? Como o menos poderia dar mais? Homem, 0 primeiro antes de todas as coisas, € 0 que tem todas as perfeigées porque: como poderia haver perfeigdes se o primeira nao as tivesse? Ele é, pois, om: niperfeito, é omnisapiente porque: como poderia dat saber se cle nio tem? Ele € 0 Pai, porque o pai da. § 102 § 103 $104 5 105 Cristianismo: a religite do homem E como Fle tem todo bem, Ele & todo 0 bem; nao é Ele composto de outros, porque do contrdrio nao a0 pri ‘eiro, mas os outros que @ compoem, Nele o seu ser & 0 seu bem, € 0 seu bem € 0 seu ser. Nele © seu saber seu ser, 0 set ser & 0 seu saber. E como é Ele inteligen- te, porque tudo sabe, quer asi mesmo, Sua vontade no a nossa, porque a dele ¢ infinita; 6 assim a sua intel géncia e também o seu amor Nele, pois, intel tureza do sen sor. E ele & vontade, & inteligéncia e & amor. Como © pai quer © bem de seus filhos, ele quer © nosso bem, por isso ele é o Pai, Como ele ¢ a supre rma verdade, ¢ quer a si mesmo, é ele a inteligéncia su- prema, ¢ a vontade é a vontade da inteligéncia, esta rele, é0 Filho, porque o filho ¢ filho do pai como o pai € par do filho, E como a inteligencia e a vontade se unem pelo amor cle também amon, por isso & Espirito Santo, porque 0 amor nele & 0 mais acrisolado, E.uma s6 natureza, mas ‘com trés grandes papéis: o da vontade, o da inteligen: cia e o do amor, Sao trés pessoas numa s6 natureza. E 1 Trindade Divina de quem vos falo. Mas, homem que ime ouves, fu tens em ti também uma trindade, Tins em tia trindade da vontade, da intligencia e do amor, Se em tit to a vontade, como a inteligéncia e 0 amor sio perfectiveis, e podem alcangar cada ver niv nis altos, em teu Deus sio infinitos e eternos, ¢ per- feitos de todo o sempre. A tua vontade, a tua inteligén- § 106 $107 § 108 Mirio Ferreira dos Santos cia ¢ 0 tew amor participam também da vontade, da in teligéncia e do amor infinitos. Ea proporgao que fortaleces e purificas tua vontad 4 proporgao que teu amor, participas cada veo cailias a tua inteligéncia e acrisolas 0 de Deus, do Supremo Ser e Suprema Perfeigao. Ao examinares a ti: mesmo, como realmente és, vés que és feito a imagem dele, Ele deve set teu paradigna, teu exemplo, a medida supre- ma de tua perfeigio. Ek cares-tea ele &ergueres a tiem tua humanidade. Porta, teu itinerdvio éeste ea proporgao que aumentes 4 tua vontade, a tua inteligéncia e 0 teu amor, dentro de tas forgas, estards marchando para ele, para o Supreme, Eu vim para te indicar © caminho, E esse caminho esti em ti, Eu estou em ti porque eu sow o caminho, Ex sou ‘o homem divinizado, no pela iusto que Ihe dé o ongu: Iho, que o faz supervalorizar © que é. Eu sou o camino do homem que julgando com justiga © que é,¢ com in: gencia, acha o que deve fazer e pela vontade fe Conthecer 0 que realmente se 6 sem supervalorizagies do que seé,é ser humilde, Humildade, homem, é reconhe- cer, na justa medida, 0 seu verdadeiro valor, mas nio & 6 isto. E também apreciar com justiga o valor de tet irmao. E reconhecer 0 que ele realmente vale, respei- tar a sua dignidade, reconhec € proclamé-la, sem nunca exageri-la, Humildade & dar a sie aos outros 0 seu verdadeizo valor 10 Cristianismo: a celigido do homem $109 E se reconheceres 0 teu verdadero valor e de teus irmaos, odes entao encontrar o caminho de tua elevagio, pois saboris 0 que te falta, 0 de que precisas, o que ris fa- -20r, pois a tua iueligénca, ¢ tua vontade eo teu amor sie suficientes para te indicarem o de que careces, A humil- dade, homem, é a moderato justa, prudente e cora- josa em reconhecer 0 seu e o valor dos outros. $110 Pela Inunildade tens 0 camtinho para encontrares a mim que estou em 1. A proporgito que cumpras tudo quanto ¢ Iumanamente superior, tu me encontras; a proporgie gue te afastares le teus deveres, tu me renegas. Nao vin, Ps sada que mio possa levar qualquer um de vés. Por iso, para pedir-te impossiveis. A minha cruz nao € ti bem vés, sou teu mestre, mas sou sobretudo teu amigo. 5 111 Setew pai é ra0 daativoso, por que temes que ee nao te dé ode que careees? Nao temas pedi, porque pedir é infla mar o teu anelo do bem e da verdade, e quando pedes alimentas em tia tua propria forga e dispées a ti mes mo para facilmente receberes, Or ao teu pai, porque, como pai, ele nao deixar de te ouvir, Nao temas a sua ‘grandeza nema sua infinitude, porque tu és feito a ima. gem de Deus. ‘Temos que comentar aqui passagens importants simas, Temos passado por alto, temos apenas lido texto, ¢ deixado de fazer comentirios que se tornavam, nnecessrios, Mas, sem duivida, a clareza da matéria € tal os perfeitamer que pode disp. te. Mas aqui jé toca mos num ponto que sabemos que em muitos coragbes € capaz de provocar uma perplexidade, Eles dirdo: Mario Ferrcirs das Santos como crer nisto, como erer neste pai? Pai é um simbo- Jo humano, é um simbolo porque é da nossa experién cia, Ele é 0 dadivoso, é aquele que nos ampara, € aque- Je que nos acompanha durante @ formagio da nossa Vida, ¢ também tanto quanto Ihe é possivel até os it mos momentos da sua existencia, le sempre no: acompanha e sempre nos ajuda. Nao adianta que mentemos com as excegbes, com 0s casos antormais, porque a anormalidade no pertence a regra, a anor- malidade € uma excesao, € um desvio, é uma mons truosidade da natureza, Ora, o Ser Supremo, porque tem tudo necessariamente, tem de ser dito 0 mais da divoso, Se as drvores nos dio frutos, se a terra nos di alimento, seas coisas nos oferecem muito de si mesmas para nds, tudo que no universo & dadivoso tem que ter 4 sua origem na diva suprema do Ser Supreme, fon- tee origem de todas as coisas. Nao ¢ posstvel que © me- nos venha a realizar 6 mais, ndo é possivel que a maxi: ma perfeigio decorra da minima perfeigio, nao € pos- sivel de modo algum que o que é defeituoso realize 0 que € perfectivo. Conseqilentemente, o homem s6 po: era dizer que nada sabe, que nio sabe responder a es tas perguntas, mas nio podera dizer que © menos an tecedeu © mais, Pode dizer que nio sabe, accitamos esta snoriincia que muitas vezes esconde uma malicia, quase sempre uma covardia, mas nao podemos dei xar de reconhecer que deve haver um principio de conde tudo isso surge, que seja a razao de ser de tudo, quanto porque tudo quanto vem tem sempre azao de set. A nossa ciéncia, © nosso conheci: mento permite que nds descubramos as razoes de ser Cristianismo: 9 religite do homem de todas as coisas e a busca dessas razdes & a busca das casas, ¢ € nessa busca das causas que se constedi a cigncia. Nés temos uma ciéncia e a ciéncia bem dirigi- dda tem que nos levar a aceitagao de um prin ipio dadi- vvoso, que podemos simbolizar como o pai, Ora, como fem nossas oragdes erguemos @ vor para pedit, para anelar que as coisas sucedam de modo a convirem aquilo que nos é necessario e pedimos aquilo que é jus: to, este nosso anelo certamente facilitard que © que ji esti disposto, que 0 que ja estt providenciado desde todo sempre de ns se aproxime ¢ venha em nosso be- neficio, sem que isso perturbe de modo algum a order césmica, Porque se nés comemos os frutos daquela macieira ou passamos além e nao os comemos, tanto no primeiro ato como no segundo em nada modifica- riamos a ordem césmica, estas duas possibilidades ja esto nela contidas © uma delas inevitavelmente se atuali Ao passarmos por aquela macieira, colhere- ‘mos aqueles frutos e os comeremos, ou colheremos no os comeremos, ou nem sequer os colheremos ¢ aiio os comeremos, uma destas possibilidades se atua. liza inevitavelmente. © que a ordem césmica exige € esta atualizagio, se se der aquela possibilidade de pas- sirmos por aquela macieira, Dada uma possibilidade atualizada, as possibilidades que sao sempre contradi: tris, uma delas se atuali { mas nao todas, porque do contririo haveria uma contradicao intrinseca, 0 nts que seria um absurdo. Entio daquilo que carecemos é possivel obtermos, ter esta possibilidade nao contradiz, as leis da natur at Se nao contradiz, podemos anelar com veeméncia, porque nesse anelo estaremos dispon- 9112 5113 Méria Ferreira das Santo: do de nossa parte a nds mesmos para facilmente rece ber aquilo de que precisamos. Portanto,o homem deve ter f6 nas foragdes, ¢ hoje © conhecimento mais profundo da psicologia nos revela que valor imenso, que poder imenso tém as oragdes. Este estado de fer com esperanga no que precisa ¢ no que deseja obter tanto facilita, como prepara e dispoe a ficil aquisigao. Ecsta éa razao por que os desesperados, os amaldigaa: dos, aqueles que nao tém um vislumbre de fé dentro de si, aqueles que se afastam de toda crenga sio conse: ailentemente os menos assistidos, aqueles que se abis- imam nas suas angistias e nas 1as neuroses, que os ab- sorvem, que os dominam € que os transformam em trapos humanos, que vivem apenas movids por dro- gas para Ihes dar um pouco de animo que nao tém, para th lac um pouso de vida que aie posstican, Ihes dav apenas a impressdo de que realmente sio cria: turas humanas, quando ja nio sie mais do que mario: -s jogadas por um destino cruel. Eis por que a ora- lo deve ser usada constantemente pelo homem, Homent, o cansinho pelo qual te reaproximaris de Deus, 9 caminho que novamente te religaré a Ele é 0 da ma elevasio, O que espera de ti & que realizes em tio que tens de mais elevado, Eu sou a tua exaltagao, estou con- tigo sempre que elevares a tua inteligéncia, fortaleceres a tua vontade e acrisolares © teu amor. E eu jamais te abandonarei Ev estarci em ti quando cumprivesa elevagao de tas vir tudes, e darei mais forga d tua fé, a tua esperanga ea tua 14 sua sus 5116 Cristianismo: 9 religife do homem ie, Sempre que fores virtuoso estarci ao teu lado, Mas se enfraquecetes, se errares, se cometeres faltas, eu rio te abandonarei, Sei que também é fraco, que tam- bém desfaleces. Mas sei que tens em ti tudo para forta lecer 0s teus propésitos, aumentar as tuas boas inten- ses, € multiplicar os teus atos justos, prudentes, mo- derados ¢ corajosos. [Nao temas pedir que teajuste quando te sentesenfiaguecer: amigo, ¢ estou sempre pronto para te auxi liar, Nao violento, porém,a tua liberdade. Se no a qui setes, esperarei por ti, para que um dia te artependas do que fazes. Mas és livre, ¢ porque és livre, homem, 6 tu responders por todos os teus atas, porque quando le perguntares ou te perguntarem pelo que fizestes, resposta serd apenas: porque assim © quis. A minha promes cesta em pé, Estarei ao teu lado quan do quiseres seguir o teu bem e a verdade, mas se quise- res desviar-te do bom caminho responders pelos teus cdiamen- alos. Se soferes, entdo, imediatamente ou t te,em tua vida ou em outros, foste tu que te condenas~ te, Eu sou a tua salvagio ¢ fora de mim, do caminho que te indico, ndo hi outro, Nao podes negar que 0 sa bes, porque tua razdo te lumina, ‘Nao podes negar que tens em ti uma sede infinita do bem supremo ¢ da suprema verdade, Esta sede € 0 teu mais clevado anelo. Nao penses que seja vio esse teu desejo, porque ele nao vem da tua carne. A tua carne se sacia, mas o teu espirito esti sempre desperto para 0 mais Mario Ferreira dos Santos alto, Tua mente nio se reduz 4 matéria bruta, porque a amatéria nao é capaz de receber 0s contritios, ji que um cexpulsa © outro, nem é capaz de aleangar 0 universal, porque sé recebe a marca que singulariza Tua mente é capaz de pensar simulta neamente nos con- travios ¢ receber @ universal, porque tua mente nao é smatéria brata, 5s espitito, Tens em ti um principio spiritual que nio é corpéreo, nem material, mas ima- terial e criador, Por isso teus sentidos se embotam ante luma sensagio mais forte, mas tua mente se agua ante uma verdade mais alta, Tu és corpo, mas a tua alma spiritual, 8 Para que salves a tua aba, para que a ergas cada ve mais alto, fens que ascender também ao mais alto. Eu sou ‘© caminho, E seguindo-me que te salvarés, Porque, en- tio, teri atingido o ponto mais elevado, e podenis re ceber cacla ver mais © que esté acima de tie ulteapassar ‘os limites da tua natureza, que é a bem-aventuranga, Ea te prometo a salvagio, E para ela de inicio, é mister a fe E mister a fe, porque nao deves tomer. E é mister aind ‘a esperanga, poryue precisas accitar valores mais altos, ¢ também a caridade, porque deves amar o bem de teus ir tnrdos, E aquele dentre vos que ainda nio tem a fé, nem esperanga, nem caridade, que 10 se julgue perdido, Eleve-se como homem, eleve-se ao mais alto que o ho: ‘mem pode realizar, e subitamente tera o lampejo da f, 1 forsa da esperanga, © nimo da caridade. Hi uma promessa, hi uma promessa que nos ¢ feta e ela ir se Cristianismo: a religiae do homem realizar: fa mos o bem, cumpramos © nosso dever ea fé um dia iluminari as nossas almas, a esperanga ha de nos animar ¢ a caridade hi de cada ver tornar mais, puro © nosso amor Desse modo, a pouco ¢ pouco, vs religareis a Deus. Esta 6 a vossa religiao, porque ela estd em vés. Eu vim para desperti-la,e salvar-vos em vos mesmos. F.como nada, 0 dizeis que a pero senao aquile que podeis fazer minha cruz & demasiadamente pesada, E a proporgio que vos erguerdes em diregao a0 mais alto, cada vez es- tarei mais em v6s. E o que hoje é silencio em v6s se tor hard amanha um clarim que vos despertara para todas as grandezas, we Homem, eu fale efalo ao homem que esté em ti, e nada mais, Cré no Deus dacivoso, vosso pai. Ea proporgao que te es, compreenderis que ele te dara a aque saciard a ta sede de verdade e o alimento que sa ciara tua fome de bem. Assim, prometes a mim que Jngta tua voz. Fa promessa que me faves de te integra {s este caminho, ou peba vor de teu pais ou pela ‘meu caminho. E 0 tew batismo. Teu pecado surge la tua capacidadte de dizer ndo, e de tua inteligéncia desflecer, e de tua vonta~ de ernar; por isso erraste em tua espiciee desobedeceste ds nrormas que te foram dadas e que sto da tua natureza Mas esse teu pecado nao é tlo grave, porque provinha da tua fraquera e da tua concupiscéncia, ¢ nao poderia perder alicia e para sempre, ji que dele nao hi 124 su Este € o problema do pecado original que no homem| surge da desobediéncia, que é uma conseqiiéncia da sua iio da ignorancia, da sua concupiscénci malicia Por essa razie, desde cedo, podes ser periloado dele, ja que prometes seguir-nte e buscar 0 teu bet verdadeiro, Em tuas ceriménias, em t situa, buscas expressar, Recebe 6, portanto, como piedosas intengdes, Quero que te por teus meios, © que compreendeste de mi lembres que nao vim para separat, mas para unis, Ndo vim para falar a uma parte dos homens, mas a todos, © que & essencial na tua religido, porque & tua, ja que se funda emt tua nature que recede o meu nome, € tudo ‘quanto te disse até agui.O que ha depois é 0 que decor re da compreensio desses principios. Muitos que 0s se guem esperaram, cortaram, seccionaram os grupos humanos, formaram seitas,criaram obsticulos uns aos, outros, levantaram montanhas, abriram abismos, fo mentaram 6dios ¢ pouco amor, Homem que me ouves, peco-te agora apenas que atentes para estas minhas Gl- timas palavras: eu nao vim para separar, mas para unit Para mim Jo ha fronteiras, ne ragas, nem castas rnem classes. Para mim hii meu irmo,o homiem, o meu amigo, o homem, porque vim para abrir o caminho do retorno, Deves meditar com todas (uas forgas sobre 0 ‘meu cristianismo, que ¢ 0 teu, que € 0 caminho de ti ‘mesmo, através de ti mesmo para Deus. Este caninho sou eu, por isso eu tomei a forma Iuumana para que a religiao f se humana e se real do homens, Nao vos prometi uma salvagio que fosse Cristionismo: a eeligiaa de homem apenas uma dadiva, mas um direito que adquiristes pelo cumprimento dos vossos deveres. Nao procurei em vis 0 que separa, porque os irmios que separam deixam de ser irmaos, como 0 homem em sua esséncia um 56, minha religiao, que € a vossa, é uma s6. § 126 Os que separam em mew nome nao filaran em mew nome. Nav foram os meus verdadeiros arautos. Os que ando abismos entre os nossos ir pregaram édios, ¢ aos, que seguem outros caminhos, e pregaram em meu nome, falsearam a minha vontade, ¢ nao me re- presentaram. A minha linguagem € a vossa linguage € 4 linguagem humana, E onde houver hom linguagem pode ser entendida, Podem outros ter ou: tras normas de procedes, mas todos entenderdo essa Jinguagem, § 127 Se falares aos homens com eu vos falei, todos me enten- ° osos ¢ justos no é 0 que é religido do homen derdo, porque a mina rel que separa os homens re essencial na religido, mas © que é meramente acidental € transeunte, A verdadeira religido é eterna na vossa| duragéo, que embora passageira ultrapassari o tempo, do tempo. Fu vim porque ha em vésalgo que esti al para tnira todos num s6 rebanho, § 128 Eu quero ser 0 bom pastor que retine, que nao dispersa. (Os que dispersaram fizeram-no contra mim, ¢ nao por mim, porg ‘6 rebanho que prego & 0 homem na sua sgtandeza, que & 0 ser em mim e por mim. Nao deveis temer este granioso que podeis realizar. Pego-vos, a= nal, que mediteis bem sobre estas minhas tiltimas pal vras. Ea minha vor em ti Antes de prosseguir temos necessidade de comen- tar todas estas palavras, Foram mt tas, sobre as quais no quisemos interrompé-las com comentirios, por «que desejariamos que fossem lidos sem qualquer inter rupgio que pudesse quebrar a ordem dos pensamen: tos, Mas o que nenhum cristio de boa fé tem de d que 05 cristios falharam na missio que Ihes foi dada, ¢ falharam porque nao souberam unir, falharam porque dispersaram, falharam porque seccionaram, falharam porque afistaram irmaos uns dos outros, falharam porque mio realizaram 0 yerda deiro sentido do cristianismo, que se di sempre na eclésia, na assembleia, na reunio, na conjungio, no apoio muituo, no auxiliar um ao outro, na presenga de um € apoio de outro, S6 nestas relagoes & que Cristo esta presente, este € 0 ctistia no, © homem s6 se aproxima de Deus 3 proporsio que o homem ergue-se 1 si mesmo, proporgie que o homem ultrapassa os li ites da sua pequenez, Nos nio nos aproximamos de Deus apenas porqus nele pensamos ou porque para cle dirigimos o nosso pensamento, nés nos aproximamos de Deus quando realizamos o superior dentro de nds ¢ também nas nossas obras, Outra ¢ qualquer explana: «40 do cristianismo, que nao seja esta, falseia, 6a reli rf seu pensamento a Deus para que ele de Deus se apro- ximasse, Nao, 1 gito do fariscu. © fariseu julgava que bastava ¢ sno nos aproximamos de Deus ape ras pelo pensamento, nés nos aproximamos pelo pen: samento quando ele €lastreado pelas nossas obras. Hai necessidade das obras, ha necessidade da elevagio do homem dentro de si mesmo, em todas as suas agdes, para que o seu pensamento passa ditigir-se a Deus. Se jasse conhecer uma ciéncia, ria como alguém que d digamos a biologia, e julgasse que para conhecé-la bas: taria pensar nela, Nao, é necessairio que percorra todos 0s estigios do conhecimento para obt todas as conqutistas do homem, E Deus é uma conquis- aq mos retornar a ele, ¢ se queremos retornar temos que e nos é oferecida, nés dele nos afastamos e desea fazer 0 que nos pede fazer. E este o sentido dessas pala- vras todas que tivemos oportunidade de let a liga, € 8 voz de Cristo, € como se fosse um novo evangelho, ue mio se opde ao que os evangelhos jé disseram, mas 9 4 nossa verdade. ‘completa numa linguagem mais nossa, mais atwal, Agora, por que dividiram tanto 0s crstaos! Se va mos examinat a historia, veremos que estas divisoes partiram de razdes ficeis de compreender: ignorin cia, anseio de prestigio pessoal, concupiscéncia, mali cia, fraqueza, em suma, os pecados fundamentais. To- ddos eles produtos de um afastamento do que hi de maior dentro de nés. Aguele que queria se esplender como chefe funda uma seita porque nela ele podera ser todo poderoso, Nao quer submeter-se, ndo qu compreender a subordinago que muitas vezes é exi- gida na vida. Outro por ignorancia, porque nao se de: ddica melhor ao estudo, precipita-se em interpretagdes que estao além das suas forcas. Entao, quer ver na pa: lavra de Cristo outras intengoes, por ele julgadas mais certas, assim, afasta-se, Outros a concupiscéncia thes, Mario Ferteira dos Santos faz. desejar outras maneiras de ser cristo, nas quais possam dar plena vario aos seus desejos incontidos estas sto paixdes descontroladas. Finalmente, outros movidos pela malicia, movidos pelo espirito do mal, desejam cindi, porque cindindo enfraquecem, dese jam separar 0s cristaos, porque entao, deste mode seri mais facil combaté-los; estes, os mais manhosos 18 mais perigosos, 0s mais astutos, sio os que usar dos métodos mais sutis, dos argumentos mais habil: mente mancjados, ¢ por isso sio os que tém obtide maior éxito, A estes precisamos denuncii-los,¢ faze: Jo com coragem; e a historia esti cheia deles, em tod parte e em todos os tempos, e sua ago maléfica con: tinua atuando ainda hoje. Hai necessidade de ums profunda revisio dos nossos costumes cristaos, de nossa vida crista mas € dificil fazé-lo dentro das sei tas organizadas, porque estas seitas fecham no querem ouvir, nem ver aquilo que nao corres: ponde ao que aceitam como a tiltima verdade. Elas no querem admitir nenhuma restrigao ao seu mode de ser e ao seu modo de pensar, repelem todo aquele cristo que pensa em unit, que pensa em abri umi visio nova de si npatia e de humanidade para os ou tros, Entao, alguém vai para o meio deles e diz: deve: ‘mos compreender melhor 0s nossos itmiios separa dos, devemos nos aproximar deles, devemos afastar estes aspectos acidentais que tém sido a causa das nossas diferengas ¢ das nossas divisdes, devemos pro: curar a verdadeira palavra de Cristo, porque esta une Nao € possivel que Cristo seja um prinefpio de desu nifio, nto € possivel que Cristo seja a causa eliciente das divisoes crisis, estas s6 podem ser devidas a fra- ‘queza humana, Entio, se nés procurarmos a palavra de Cristo, genuinamente a palavra de Cristo, aquela que esta expressa nos evangelhos sem rebucos, sem segundas intengdes, sem usar recursos estéticos, esta palavea s6 teri 0 poder de unir. Hi 0 malicioso, hi o ignorante de prestigio, hao ignorante de mé fe esta palavra nao conseguira aproximé-los uns dos outros, Esta € a nossa grande e profunda decepgao, esta é a decepsao que sofrem os cristios de todo mundo, esta 6a decepeaio que tem provocado as maiores defeccoes, dentro do cristianismo ¢ que tem engrossado as filei- ras daqueles que o combatem, E quais so 0s fatores de tudo isso? Os evangelhos? A palavra de Cristo? Nao, mas a palavra daqueles que se seus mais perfeitos discipulos, daqueles que se julgam 6 seus oréculos, daqueles que se proclamam os seus verdadeiros sacerdotes, Estes sto os que afastam, estes siio os que dividem, e até entre eles se dividem, e até entre eles se seccionam, ¢ até eles mais se odeiam do, que se amam, © primeiro ato cristao que se exige € do homem despojar-se de toda a soberba ¢ de todo 0 or~ gulho; é 0 ato de humildade, de verdadeira humild: de, porque ser cristao é sobretudo ser humilde. Saber ser humilde, Mas a humildade nao € humilhagao, bu- mildade nao & desmerecimento, humildade é a verda deira avaliagio do que se é, da sua propria dignidade, ce também da justa avaliagao da dignidade alhe Cristios, em primeiso lugar, respeitai-vos uns a0s 01 tros, amai-vos uns aos outros. E agora continuemos ouvindo a palavra. Mério Ferreira das Santos 5 129 O que vos tem separado nao sao as vossas semelhangas mas as vossas diferengas. & inatil querer tornar iguais todos os homens, como se fossem um homem 36. O1 ‘que vos sep no € 0 essencial, mas 0 acidental, Eu sou a vossa semelhanga, ¢ verdadeiramente em mim todos poderio encontrar-se. § 130 Nao neguem teu irmao porque ele é diferente de ti, seem mim também tem ele 0 seu ponto de encontro. Se nie fs teus, mas se encontra em mim conti Nao encontraremos o ponto de encontro das espéc da os mesmos dias € no usa os mesmos ritos que pele € seme- le a ti, € (eu proximo e teu amigo e é teu irmio. se as quisermos reduzir a uma espécie 6. 5.131 As espécies 10m 0 seu ponto de encontro no género, no que ha de comum em todos vis que vos univeis. B no Entendimento, na Vontade e no Amor que e ais to- dos prontos a vos encontrardes. E nao esqueceis nun: cea que eu sou a presenca do Entendimento, 0 test munho da Vontade do Pa a afirmagaio do Espirito Santo do Amor: § 132 Se falares esta linguagern a uy irmao de outra scitae ee tno sentir vibrar seu coragito ent unssono contigo, ora por ele, porque esta afastado se mim. Nao basta tet 0 meu nome nas suas bocas, € mister que esteja em seus atose em suas intengdes. A religiao a qual destes o meu a religito do homem, e nao de uma parte dos homens. Um cristianismo assim nao pode gerar seitas 5133 Compreende, meu amigo, que nao construinis a tua vida melhor se tua mao nao servir para apertar a mio de teu irmao,e para amparé-to, como ele deve ansparar- te também, Enquanto vés todos nao compreenderdes que sois partes de um todo s6, ¢ que o bem que fizer~ des deve dele também participar 0 vosso irma se expandiri que o mal que fazeis tant ni estarel ainda entre vs. Amai-vos uns aos outros quer dizer também ajudai-vos uns aos outros, A religito pertence a aga de vossa vida, F nessa ago deveis lembrar-vos sempre que hd algo ems comm que deveis respeitar em comum. Praticais bons cexemplos, para que me encontreis em vosso irmiio. Nao, vos peco que sejais benevolente demais mas, sobretudo, justos, Exigi as obrigacoes de cada um, mas ndo esque direitos, E estes devem ser propor- sais nunca de set cionados aqueles, ¢ nunca maiores nem menores. Em mim todos podem encontrar 0 seu ponto de conver _géncia, porque eu sou o dpice da piramide. © meu cami ho é 0 do homem conereto em sua (otal realidade, ccom suas misérias e suas grandezas. S6 por este cami~ nnho haver homens de boa vontade. E s6, entao, reina a paz s6 poders r ria paz entre os homens, porque nar entre homens de boa vontade, Antes deles surgirem, 6 inal falar em paz. Nao € a paz que gera os homens de boa vontade, mas os homens de boa vontacde que gé rardo a paz € boa vontade € a vontade assisticla pela in teligencia que é prudente, que € moderada, que ¢ justa fe que € corajosa, A boa vontade é a que € alimentada pela {8 e pela esperanga, fortalecida pela caridade, 2 possivel ao homem elevar-se em intensidade ¢ ampli tude. Portanto, irmaos, o que vos peco € que para ser- des e estardes em mins, ister que sejais como euse eu sou a grandeza do homem ao marchar para Deus, cle marcha para Deus & proporsio que me realiza e se aliza, € me realiza se realiza & proporgio que se et- gue no que é constitutive da sua humanidade. Fu sowa vor de Deus na Humanidade, v6s ois 0s itinerantes d caminho de Cristo para Deus. Vinde até mim, irmes de todos os paises ¢ de todos os tempos. Eu sou a cons ciéncia humana amparada e iluminada por suas forgas| a caminho de Deus. Vinde, irmios. O pai vos espera de bragos abertos, porque Ele € 0 vosso p:

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