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TERÇA-FEIRA, 27 DE ABRIL DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

ARNALDO SEGUNDA-FEIRA
LÚCIA GUIMARÃES
MATTHEW SHIRTS
TERÇA-FEIRA
ARNALDO JABOR
QUARTA-FEIRA
ROBERTO DAMATTA
QUINTA-FEIRA
LUIS FERNANDO
VERISSIMO
SEXTA-FEIRA
IGNÁCIO DE LOYOLA
BRANDÃO
MILTON HATOUM
SÁBADO
MARCELO RUBENS
PAIVA
MARIA RITA KEHL
DOMINGO
LUIS FERNANDO
VERISSIMO
JOÃO UBALDO RIBEIRO

JABOR DANIEL PIZA


✽ arnaldo.jabor@estadao.com.br

Sacripantas, velhacos e chupistas


O
canalha é a base da nacio- Agorajá conhecemos a secular engre- canalha tem 400 anos: avô ladrão, bisa- sileiro colonial, ele tem algo de aventu- te; o honesto tem úlcera.
nalidade. Ele é a pasta es- nagem latrinária que funciona embai- vô negreiro e tataravô degredado. reiro heroico. O larápio conhece o deli- Exterminá-los é impossível. Os sa-
sencial de tudo que rola na xo dos esgotos, dos encanamentos, das O canalha criou o Sistema brasileiro cioso “frisson” de saber-se olhado nos cripantas, os velhacos renascerão
política. Ele faz a história ilusões de cientistas políticos, já ve- que, em troca, recria-o persistentemen- restaurantes e bordéis. Homens e mu- com outros nomes, inventando no-
paralítica do Brasil, ele tem a grande- mos os intestinos da política, os súbi- te: suas jogadas, seus meneios foram lheres veem-no com gula: “Olha, lá vai vasformas deroubaro País.Os“mar-
za da vista curta, o encanto dos inte- tos aumentos de patrimônio, as decla- construindoumemaranhadodeinstitui- o maravilhoso vigarista sem vergo- raxos” são infinitos; temos de des-
resses mesquinhos, a sabedoria das rações de renda dos corruptos, os car- çõesquedependemdamentira.Quando nha...!” – sussurram fascinados e fasci- truir suas covas e currais. Enquanto
toupeiras,dos porcose dosroedores. rões, os iates, as piscinas em forma de o Jefferson e o Durval Barbosa abriram a nadas por seu cinismo sorridente. houver 20 mil cargos de confiança no
Como todo governo, Lula preci- vaginas, as surubas lobistas no Lago boca foi um choque de realidade. Quan- O esbulhador não se culpa; sempre País, haverá rapinantes e embustei-
sou de alianças, mas, com a ética “re- Sul, já vemos as suas caras de furões, de do a verdade aparece sempre há uma ca- tem uma razão que o absolve e justifica: ros;enquantohouver estataiscontro-
volucionária” do PT, exagerou na do- cangurus, de tamanduás, vemos a suji- tástrofe. Aí, jorra um show de mentiras uma velha vingança, um antigo castigo, ladas por sindicatos, fundos de pen-
se. Assim, nasceu o recente canalha dade, a porquidão, a esterqueira viajan- ofendidas, um chorrilho de “nãos” e de umahumilhação infantil. O“chupa-san- sãoexpostos aoroubo, haveráalfane-
defrontealta,ocanalhaaliado,home- do diante dos olhos nacionais. Ouvi- gue” tem o orgulho de suportar a culpa, ques e flibusteiros, enquanto houver
nageado como homem “incomum”. mos os clamores de “calúnias, injúrias A “canalhalogia” é uma ciência anestesiá-la–supremainvejadosneuró- subsídios a fundo perdido tipo Su-
Antes, os canalhas se escondiam e difamações”, as indenizações preten- ticos.Elepoderoubarverbasdecancero- dam ou Sudene, haverá chupistas.
pelos cantos... Hoje, desfilam orgu- didas, e a euforia guerreira de advoga-
nova. Sem estudá-la, não sosechegaremcasafeliz,aoverosfilhos E,porironia,osladravazessãonos-
lhosos no Congresso e ministérios. dos chicaneiros, as promessas a Jesus se entende o Brasil de hoje assistindo desenho na TV. Muitos são so perigo e nossa esperança. Os pele-
Assim, Lula nos ensinou muito so- para proteger os salteadores, vemos as bons pais – pensam no futuro da família. go-bolchevistas que lutam para ficar
bre o Brasil. Ele fez surgir um esplen- mandingas, os despachos, as galinhas “negos”:“Minhahonra”,“aleivosiascon- Gatunos e bifadores fascinam tam- no poder, os consideram meros de-
doroso universo de fatos, de gestos, mortasna encruzilhada, vemos o deses- tra mim”, “Deus é testemunha...” – la- bém executivos honestos porque, por graus para a “revolução”, um mal ne-
decaras,nosúltimosanos.Querique- pero das esposas traídas, corneadas e drões sob o manto do candor, da pudicí- mais que eles se esforcem, competen- cessário para basear o retrocesso es-
za para nossa consciência política! gestantes, denunciando, por vingança, cia. A mentira é necessária para manter tes, dedicados, sempre estarão caren- tatizante, o “chavismo cordial” que
Que prodigiosa fartura de novidades os maridos ladrões, vemos as relações as instituições funcionando. tes de um patrão ingrato. O trambiquei- querem trazer por aí. Um perigo.
sórdidas, tão fecunda quanto a bele- sexuais rareando em Brasília e a súbita Estamos cercados de “pichelingues” ro, não; ele pega e come, ele não espera Por outro lado, é tanta a sordidez
za de nossas matas, várzeas e flores. angústia nos bares políticos, o uísque por todos os lados- (resolvi usar sinôni- recompensas, só ele se premia. Ele tem dos aliados de base, que sua “male-
Toda semana temos um novo escân- caindo mal, as barrigas murmurantes, mos de “canalha” para não repetir o o infinito prazer do plano de ataque, o molência” malandra vai minar qual-
dalo... Tivemos, claro, a superprodu- as diarreias, as prisões de ventre, as fla- grasnar desta feia palavra). Onde bate orgasmo na falcatrua, a delícia da adre- quer tentativa de controle excessi-
ção do mensalão, depois o show de tulências fétidas, os vômitos de medo uma CPI, lá estão os quadrilheiros nos nalina na apropriação indébita. vo de “comissários do povo” sobre a
meias e cuecas em Brasília, temos da polícia, tudo compondo o grande contemplando do fundo de arquivos, O canalha não é o malandro – não sociedade, nesse subperonismo
agora os 10 picaretas do Paraná, sem painel barroco da suja politicagem. de dentro de cumbucas, se reproduzin- confundir. O malandro é romântico, que querem criar se chegarem ao
contar os impunes e os esquecidos... A “canalhalogia” é uma ciência nova. do como bactérias. boa-praça, o canalha é minimalista, se- poder de novo. A que ponto chega-
Meu Deus, são tantos... sanguessu- Sem estudá-la não se entende o Brasil Há um orgulho perverso no cara de co. O malandro tem bom coração. O mos: os canalhas são também uma
gas, vampiros, aloprados, tantos... de hoje. Ela não é desvio; é a norma. O pau, no “mofatrão”. No imaginário bra- canalha não sofre. O canalha tem enfar- ridícula esperança democrática.

Livro. Lançamento
“Eles não se submeteram à escravidão HEREROS – ANGOLA
portuguesa e se opuseram à tentativa de Autor: José Guerra. Editora: Maianga (260 páginas, R$ 190).
dominação alemã.”
} Quando: Hoje, 19 horas. Onde: Livraria Cultura Villa Daslu.
SÉRGIO GUERRA Av. Chedid Jafet, 131, 2º andar, telefone: 3170-4058

SÉRGIO GUERRA/DIVULGAÇÃO
guês, a língua nacional de Ango-
la. A comunicação era mediada
HEREROS, UMA por um intérprete. Eles já foram
mais isolados – hoje, segundo
Guerra, com o contato maior
CULTURA QUE com a sociedade dita moderna,
os adultos já consomem bebi-
das alcoólicas e as crianças fre-
quentam escolas.

RESISTE
Fotógrafo Sérgio Guerra clicou por
Paixão. Fotógrafo diletante e
produtor de artistas brasileiros
(Elza Soares, José Miguel Wis-
nik, Jussara Silveira, Lan Lan) e
angolanos (Paulo Flores, Carli-
tos Vieira Dias), Guerra voltou a
● Retrato.
Fotógrafo e
publicitário,
Sérgio Guerra
tem 49 anos e
há 12 mora e
fotografar mais regularmente
60 dias a rotina da etnia de Angola em Angola. É apaixonado pelo
trabalha em
Angola, onde
país. “Eu acho que as pessoas atua na área de
que vêm e não conseguem se comunicação
Roberta Pennafort / RIO Em Hereros, livro bilíngue que adaptar em Angola querem en- do governo.
lança por sua editora, a Maian- contrar as mesmas referências
Sérgio Guerra é pernambucano, ga, com um CD de cânticos lo- que têm no Brasil. Não adianta
morou no Rio e em São Paulo, cais encartado, estão fotos fei- chegar e ficar entre brasileiros,
radicou-se em Salvador e hoje vi- tas durante 60 dias de convi- assistindo à Globo Internacio-
ve mais da metade do ano em vência intensa com essa popu- nal”, disse, referindo-se à gran-
Luanda. Fotógrafo, publicitário lação, em 2009. Paisagens des- de colônia brasileira em Luan-
e produtor cultural, ele desco- lumbrantes, rituais, tarefas do da, formada por expatriados
briu a capital de Angola em 1999, dia a dia, além de muitos retra- que trabalham em empresas co-
quando chamado a desenvolver tos, aparecem junto a relatos mo Odebrecht e Petrobrás.
projetos para o governo do país. dos hereros sobre seus costu- Autor de outros quatro livros
Desde então, conheceu as di- mes, como a poligamia, o coleti- de fotos de Angola, Guerra coor-
ferentes popula- vismo e o semi- dena a área de comunicação ins-
ções que com- nomadismo. titucional do governo do presi-
põem o povo an- OS ANGOLANOS Presentes tam- dente de Angola, José Eduardo
golano, entre bém nos vizi- dos Santos. No ano passado,
elas, os hereros, POUCO SABEM nhos Namíbia e quando da realização dos en-
concentrados na SOBRE ESSE POVO DE Botsuana, num saios com os hereros, começou a
região sudoeste. total de 240 mil gravar um documentário sobre
Hoje, às 19 horas, VISUAL COLORIDO pessoas, os here- eles, que pretende lançar no ano
naLivraria Cultu- ros teriam chega- que vem, e também uma série de
ra Villa Daslu, Guerra lança He- do a Angola entre os séculos 12 e programas televisivos, ainda a
reros – Angola, luxuoso livro de 15. Quando os avistou pela pri- ser comercializada. Durante
fotos que apresenta o grupo. meira vez, Guerra ficou muito seis anos, ele já havia realizado o
Nas numerosas viagens que impactado, não só pelo seu vi- programa semanal de TV Nação Documento.
fez à África na última década, sual colorido, mas também pelo Coragem. Por intermédio dele, Mulher da
ele percorreu 18 províncias. Ne- fato de estar diante de uma gen- ajudou famílias separadas pela etnia
las, retratou as belezas naturais, te da qual os próprios angola- guerra civil a se refazerem. Mais muhakaona:
a força das tradições e também nos sabem pouco. decemreencontros foramexibi- estilo e
os efeitos dos conflitos civis. Os hereros não falam portu- dos, emocionando todo o país. atitude

DESTAQUES

● Ritual. ● Costume. ● Liberdade.


Para proteger Pastores polí- Desde peque-
a pele, que gamos e semi- nas, as crian-
fica com um nômades for- ças são incen-
tom vermelho, mam etnia tivadas a se-
hereros usam (que deve ter rem indepen-
uma espécie chegado entre dentes. E mui-
de manteiga os séculos 12 e to cedo vão
misturada 15) com 240 para o pasto,
com raspas mil pessoas, dormir fora.
de uma pedra que criam ga- E não existe a
rica em óxido do e despre- relação de
de ferro. zam peixe. posses.

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