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Sociedade em Rede

Introdução:

Na passagem do Século XX para XXI, foram desenvolvidas diversas análises das


estruturas sociais dominantes, as quais demonstram que as sociedades actuais têm
vindo a ser cenário de transformações económicas, políticas, culturais, sociais e
tecnológicas.

O final do 2.º milénio foi marcado por uma revolução tecnológica, a qual originou
uma nova forma de relacionamento entre a Economia, o Estado e a Sociedade.
Contudo, as alterações do final do século passado não foram só ao nível
tecnológico, económico e social, existiram também alterações ao nível da
geopolítica mundial, bem como uma disseminação do risco nuclear, por outros
pontos do globo.

As alterações verificadas, a nível geopolítico e a nível das variações do risco


nuclear, devem-se ao facto de ter ocorrido o fim da guerra fria, ao colapso do
estatismo soviético e ao nascimento de novas potências emergentes como a China
ou a Índia.

A evolução tecnológica, o desenvolvimento das tecnologias da informação e da


comunicação e ainda a globalização da sociedade conduzem-nos a um paradigma
em que o conhecimento é considerado uma fonte de poder.

O modelo taylorista, característico da sociedade industrial, foi sendo


progressivamente modelado e abandonado. A organização do trabalho baseava-se
numa repartição das tarefas de forma rígida e numa hierarquia nítida de funções.

A sociedade pós-industrial, também designada por sociedade da informação e do


conhecimento, ou por sociedade em rede, consoante o autor, apresenta uma nova
forma social, que não é mais do que a sociedade globalizada.

Em relação ao capitalismo, pode-se afirmar que existiu uma reestruturação do


mesmo, caracterizada por uma gestão descentralizada, pela ligação em rede das
empresas entre si, pelo fortalecimento do capital em relação ao trabalho, pelo
declínio dos movimentos sindicais, pela individualização e pela diversificação das
relações do trabalho, pela integração maciça das mulheres na força de trabalho
remunerado, pelo aumento da concorrência e pela destruição do Estado
Providência.

A existência destas alterações, profundas ao nível económico, permitiu a criação de


novos sistemas de comunicação, bem como o desenvolvimento de uma linguagem
mundial.

Deve ser referido que as redes de computadores cresceram de forma exponencial o


que permitindo o surgimento de novos canais de comunicação.

Pode-se afirmar que as redes moldam a vida dos indivíduos mas, ao mesmo tempo
são moldadas por elas próprias, em virtude destas interacções ocorreram fortes
mudanças sociais. As quais resultaram de uma evolução dos processos de
transformação tecnológica, nomeadamente com uma importante redefinição das
relações entre as mulheres, homens e crianças.

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De igual modo, é possível verificar que os sistemas políticos foram abalados por
uma crise estrutural, verificando-se a existência de um novo reordenamento social,
sendo que a identidade é, muitas vezes, considerada a principal fonte de
significado.

Os indivíduos organizam-se não em torno do que fazem, mas em torno do que são
ou daquilo que acreditam ser, ligando-se a redes globais de trocas instrumentais.

Mas a tecnologia deve ser abordada de uma forma séria, tendo em conta quer o
espaço em que ocorre o desenvolvimento tecnológico, quer o tempo, ou seja o
desenvolvimento tecnológico deverá sempre ser localizado no contexto em que
ocorre.

Refira-se que a busca da identidade é tão poderosa como a própria revolução


tecnológica.

Essa revolução tecnológica produziu impactos ao nível da informação, a qual possui


uma forte capacidade de penetração, em todas as esferas da actividade humana.
Está-se, assim. perante um novo ponto de partida, que permite analisar a nova
economia face à sociedade e à cultura.

Manuel Castells defende que a metodologia a utilizar para analisar estas alterações
não permite concluir que as novas formas e processos sociais surjam como
consequência da revolução tecnológica.

Consequentemente, a sociedade não escreve o curso da transformação tecnológica


nem a tecnologia influencia a sociedade, o caminho dessa transformação
tecnológica é influenciado por dois factores fundamentais, isto é, a criatividade e a
iniciativa.

Importa pois referir que nos trabalhos de Fernand Braudel encontra-se patente que
nem a tecnologia determina a sociedade, antes pelo contrário incorpora-a, nem a
sociedade determina a inovação tecnológica.

Os primeiros grandes passos, em termos de progresso tecnológicos, em termos de


progresso tecnológico, foram dados na década de 60.
Com o desenvolvimento da Internet, a qual quando surgiu na década de 60 tinha
objectivos exclusivamente militares construiu-se uma arquitectura em rede.
A Internet tornou-se a base de comunicação de uma rede horizontal, composta por
milhares de redes.

A propagação das novas tecnologias da informação ocorreu sobretudo a partir da


década de 70, dando-se um grande ênfase aos dispositivos personalizados, à
interactividade, à formação de redes e à busca insaciável de descobertas
tecnológicas.
Todo o progresso tecnológico dos anos 70 cultiva uma cultura de liberdade, uma
inovação individual e a iniciativa empresarial.

A sociedade jamais poderá ser representada sem as suas ferramentas tecnológicas,


sendo que as novas tecnologias da informação encontram-se associadas a todos os
tipos de aplicações.
Neste contexto os Estados podem assumir dois papéis distintos face ao
desenvolvimento tecnológico, isto é, limitam-se a sufocar o seu desenvolvimento
ou, pelo contrário, conduzem a sociedade a um processo acelerado de
modernização tecnológica, capaz de mudar o destino da economia e da própria
sociedade no seu todo, em poucos anos.

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Sem dúvida que a tecnologia expressa a capacidade de uma dada sociedade em
impulsionar o domínio tecnológico, por intermédio das suas instituições sociais,
inclusivamente pelo Estado.

Não pode ser ignorado que a última revolução tecnológica não só teve origem como
se difundiu num período histórico de restruturação global do capitalismo.

Na era industrial há que considerar o informacionalismo, no entanto esta-se


perante conceitos distintos, que deverão ser analisados de forma analítica,
enquanto contrariamente que com o capitalismo dominava o estatismo.

O modelo informacional centra a sua atenção na melhoria da tecnologia do


processamento da informação como fonte de produtividade.
Entra-se, assim, num processo vertiginoso entre as fontes do conhecimento
tecnológico e a aplicação da tecnologia para aumentar a produtividade, melhorar a
criação do conhecimento e do processamento da informação.
Consequentemente, os elevados graus de conhecimento obtidos resultam em geral
num aumento dos níveis de produção.
Manuel Castells designa este novo paradigma como tecnologia da informação.

Note-se que sem as novas tecnologias da informação, o capitalismo global teria


sido uma realidade muito mais moderada, encontrando-se o informacionalismo
intimamente relacionado com o rejuvenescimento e com a expansão do
capitalismo.
Esta expansão do capitalismo teve fortes reflexos aos mais diversos níveis nos
diversos Estados, tendo em alguns deles existido um aumento dos problemas
sociais.

Os sistemas de informação e as redes têm vindo a aumentar a capacidade humana


de organização e de integração, verificando-se uma crise de identidade ao nível da
Europa Ocidental e um vazio cultural ao nível da Europa do Leste.
Acresce ainda que a sociedade global fez eclodir o fundamentalismo islâmico e a
exclusão dos que não estão familiarizados com as tecnologias.

Sociedade em Rede

Importa agora analisar o conceito de sociedade em rede, introduzido por Manuel


Castells, o qual sintetiza os aspectos morfológicos da sociedade em que vivemos.

De entre as principais transformações sociais que marcam a sociedade em rede


destaca-se o uso da internet e das tecnologias da informação e da comunicação, as
quais permitem uma maior facilidade de acesso à informação bem como à troca
entre os diversos sujeitos (individuais ou colectivos).

Para uma melhor compreensão da sociedade actual importa identificar, os


elementos que contribuíram para esta transformação social, destacando-se a
virtualidade, a globalização e a busca de um novo capitalismo racionalista, visando
um desenvolvimento tecnológico sustentável.

A virtualidade inaugura aqui um novo tempo porque ela revoluciona a forma de


comunicar, a ciência, quebrando barreiras pré existentes e criando uma sociedade
tecnológica.

No que se refere aos projectos de globalização existentes, os mesmos por vezes


apresentam-se antagónicos, na medida em que uns defendem a subordinação do
poder privado ao poder público, enquanto que outros são favoráveis à superação
histórica das formas de Estado.

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No entantoconsidera-se fundamental que o sistema económico actual, seja
repensado, tornando-o num sistema económico racional, que tenha como
prioridades fundamentais a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento
económico sustentável.

No seio deste meio complexo está a ser construída a sociedade em rede, a qual
permite que os indivíduos se conectem através de uma rede, independentemente
do lugar onde se encontrem, bastando, para tal, ter acesso à rede mundial de
computadores.

Esta rede mundial, permite a troca de informação, a partilha e a criação do


conhecimento.
Emergem as comunidades virtuais sobre as mais diversas temáticas nas quais
poderão ser discutidas questões de ordem global, que afectam directa ou
indirectamente toda a sociedade.

Segundo Manuel Castells, “as redes globais conectam, mas mantêm as sociedades
desconectadas. O ser, individual ou colectivo, excluído do global exclui o global e
reciprocamente refaz sua identidade”.

Todos os indivíduos podem ser considerados actores sociais numa sociedade global,
na medida em que contribuem para a formação da sociedade em rede, mesmo que
não tenham acesso imediato à rede mundial de computadores.

Para tal, será necessário existir um compromisso por parte dos países mais
desenvolvidos em ajudar financeira e tecnologicamente os países menos
desenvolvidos tendo como objectivo fundamental a criação das condições mínimas
ao nível das infra-estruturas.

Mais ainda tenta-se reduzir as desigualdades sociais e consequentemente os


conflitos sociais, evitando-se assim a infoexclusão.
Mesmo um indivíduo que não tenha acesso à rede mundial de computadores é
influenciado pela sociedade em rede, na medida em que tem conhecimento das
diversas noticias através dos demais meios de comunicação, devendo perceber que
é urgente integrar-se nesta nova realidade.

Na sociedade em rede, pode-se dizer que existe uma redefinição dos papéis sociais,
surgindo novos agrupamentos de identidades primárias: religiosas, étnicas,
territoriais e questões de identidade.
Segundo Manuel Castells, um dos grandes problemas é a ruptura e a falta
comunicação.

Para Manuel Castells, o desenvolvimento da internet como um novo meio de


comunicação resultou do conflito de ideias sobre a ascensão de novos padrões de
interacção, tendo também sido observado por este que as redes são montadas
pelas escolhas e estratégias dos actores sociais.

Evidentemente que o acesso à rede mundial de computadores pode contribuir para


proporcionar uma maior comunicação e troca de informações entre os indivíduos,
por exemplo a partir de comunidades virtuais, em que exista pelo menos um
interesse em comum, ou através de afinidades de grupo.

As consequências destas afinidades são os fenómenos de desvinculação entre a


localidade, a temporalidade e a sociabilidade.

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Manuel Castells em “A Galáxia da Internet” refere-se ao conceito de comunidades
virtuais apresentado por Wellman (2001) referindo que “comunidades são redes de
laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação um senso de
integração e identidade social”.

É notório que ao conceito de comunidade virtual está subjacente a ideia de


formação de uma rede social cuja aproximação entre os sujeitos ocorre
fundamentalmente em função de um interesse comum ou em virtude de uma
identidade social entre os integrantes do grupo.

Conclusão:

Manuel Castells apresenta na sua obra “A Sociedade em Rede” uma contribuição


fundamental para o debate sobre a morfologia social das sociedades de
tecnológicas.
Para esse efeito fundamenta-se num conjunto de informações empíricas e numa
teoria sociológica apurada.

Castells descreve a sociedade contemporânea como uma sociedade globalizada, a


qual encontra-se centrada no uso e aplicação da informação e do conhecimento,
cuja base material é alterada de uma forma rápida pela revolução tecnológica,
tendo em consideração as alterações profundas que se têm vindo a verificar nos
sistemas políticos, nas relações sociais e nos sistemas de valores.

Para proceder à análise desta “nova economia, sociedade e cultura em formação”,


Castells tem como ponto de partida a revolução tecnológica da informação e à sua
capacidade de penetrar em todas as esferas da actividade humana, salientando que
todo este processo de transformação tecnológica deve ser analisado no contexto
social em que ocorre.
A contribuição de Manuel Castells assenta em quatro aspectos principais, a saber:

- a centralidade da tecnologia da informação;

- o refinamento da teoria sociológica;

- a compreensão do papel do Estado no desenvolvimento económico e tecnológico;

- a caracterização da sociedade informacional como uma sociedade em rede;

Em relação ao papel do Estado no desenvolvimento económico e tecnológico,


Castells apresenta na sua obra o exemplo de alguns Estados em épocas distintas,
concluindo que aquilo que deverá ser retido para se proceder à compreensão da
relação entre a tecnologia e a sociedade é que o papel do Estado, seja
interrompendo, seja promovendo, seja liderando a inovação tecnológica, é sem
dúvida um factor decisivo no processo geral, na medida em que organiza as forças
sociais dominantes num espaço e época determinados.

Castells observou que a tecnologia da informação foi essencial para o processo de


reestruturação do sistema capitalista, demonstrando que o desenvolvimento
tecnológico, a partir da década de oitenta, foi moldado pela lógica e pelos
interesses do capitalismo avançado, embora não tenha necessariamente de se
restringir a esses interesses.

Interessa assim entender que existe uma relação empírica entre modos de
produção e modos de desenvolvimento.

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Manuel Castells defende “que as sociedades são organizadas em processos
estruturados, por relações historicamente determinadas de produção, experiência e
poder”.
É neste cenário teórico que Castells enquadra a nova estrutura social, a qual está
associada a um novo modo de desenvolvimento – o informacionalismo.

Entende-se por modo de desenvolvimento o conjunto de “procedimentos mediante


os quais os trabalhadores actuam sobre a matéria para gerar o produto,
determinando o nível e a qualidade do excedente”.

O modo informacional de desenvolvimento, segundo Manuel Castells, não é mais do


que a acção do conhecimento sobre os próprios conhecimentos como principal fonte
de produtividade.

A acção referida anteriormente conduz-nos, segundo Manuel Castells, a um novo


paradigma tecnológico, baseado na tecnologia da informação.

Castells apresenta ainda uma característica importante da sociedade informacional


“a lógica da sua estrutura básica em redes, o que explica o conceito de “sociedade
em rede””.

O desenvolvimento da sociedade em rede só é possível com progresso das novas


tecnologias da informação, as quais encontram-se agrupadas em torno de redes de
empresas, organizações e instituições para formar um novo paradigma sócio
técnico cujos aspectos centrais representam a base material da sociedade da
informação.

Castells apresenta para esse paradigma cinco características fundamentais:

- A informação é uma matéria prima;

- As novas tecnologias penetram em todas as actividades humanas;

- A lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações usando essas


novas tecnologias;

- A flexibilidade de organização e de reorganização dos processos, organizações e


instituições;

- A crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente


integrado.

Importa aqui referir, que Castells, parte de uma definição bastante simples de rede,
entendo como tal, um conjunto de nós interligados mas que pela sua
maleabilidade e flexibilidade constitui uma ferramenta de grande utilidade para dar
conta da complexidade da configuração das sociedades contemporâneas sob o
paradigma informacional.

Castells refere na sua obra que as redes são estruturas abertas capazes de se
expandir de forma ilimitada, integrando novos nós, desde que estes consigam
comunicar dentro da rede, ou seja, desde que partilhem os mesmos códigos de
comunicação.

Uma estrutural social que assente em redes constitui um sistema aberto altamente
dinâmico susceptível de inovação, sem que existam ameaças ao seu equilíbrio.

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Bibliografia:

Castells, Manuel (2007a), A Sociedade em Rede. A Era da Informação: economia,


sociedade e cultura, (3.ª Ed. – Vol I). Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.

Castells, Manuel (2004). A Galáxia Internet. Reflexões sobre Internet, negócios e


sociedade. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.

Lisboa, 6 de Maio de 2010.

Nuno Miguel Oliveira

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