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Incas

Os Incas habitavam os planaltos andinos, desde a Colômbia até as regiões do Chile e da Argentina atuais,
tendo o atual Peru como o centro político, econômico e demográfico. A tribo Incas chegou à Bacia do
Cuzco, no interior dos Andes do Peru, por volta do século XIII. Ai coligou-se com outros povos
existentes na região, adotou inúmeros traços culturais inclusive a língua "quíchua", que impuseram depois
na região dos Andes. A denominação Inca se deu a partir de inúmeras guerras. Essas guerras criaram no
interior do império militares interessados nas atividades bélicas, porque essas lhe traziam benefícios, tais
como títulos, bens e mão-de-obra servil. As guerras também visavam obter seres humanos para serem
sacrificados dos deuses Incas.
Política
É incontestável que o estado inca teve uma organização social e política peculiar. Seu chefe de Estado era
o Inka ou Sapan Inka, também conhecido como Sapan Intiq Churin ("O Único Filho do Sol"), que tinha
uma esposa com o nome de Qoya. De um modo mais compreensível, pode-se dizer que o nome "Inka"
equivale a "Rei"; e "Qoya" significa "Rainha". De acordo com a tradição andina, tanto Inka quanto Qoya
eram descendentes diretos do Deus Sol. Para perpetuar sua linhagem divina, o Inka era obrigado a casar
com sua irmã. O "Sapan Inka" também tinha um número limitado de concubinas e filhos. A tradição
conta que Wayna Qhapaq tinha
mais de 400 crianças. Este privilégio era dado somente para o Inka.
O Inka era o chefe religioso e político de todo o Tawantinsuyo. Ele praticava a soberania suprema.
Pesava o fato de que o Inka era venerado como um deus vivo, pois era considerado o Filho do Sol. Seus
súditos seguiam suas ordens com total submissão. Aqueles que conviviam com ele se humilhavam em sua
presença, em ato de extrema reverência. Apenas o mais nobre homem da linhagem Inka podia dirigir a
palavra ao Inka e repassar as informações aos outros súditos. Algumas das mulheres do Império Inca
coletavam cabelo e saliva do Rei, como forma de se protegerem de maldições. Ele era carregado em uma
maca dourada e suas roupas eram feitas de pele de vicunha da mais alta qualidade. Somente ele usava o
simbólico Maskaypacha ou uma insígnia real, espécie de cordão multicolorido. Grandes adornos
dourados pendiam de suas orelhas, o que acabava por deformá-las. O imperador inca usava ainda uma
túnica que ia até os joelhos, um manto banhado a esmeralda e turquesa, braceletes e joelheiras douradas e
uma medalha peitoral que trazia impresso o símbolo do Império Inca.
Pachakuteq governou de 1438 a 1471 e foi sucedido por Tupaq Inka Yupanqui, que ficou no poder de
1471 a 1493. Depois, seguiram no reinado Wayna Qhapaq (1493-1527), Waskar (1525-1532) e
finalmente Atawallpa (1527-1533). A dinastia inca não acabou com a chegada dos espanhóis invasores,
mas abriu caminho para o surgimento da nação Quéchua. Movido por interesses diplomáticos, Pizarro
nominou Toparpa ou Tupaq Wallpa como o novo Inka, envenenado quando viajava até Cuzco. Mais
tarde, o direito ao trono foi oferecido a Manko Inka ou Manko II,outro filho de Wayna Qhapaq que, em
1536, começou uma longa guerra para retomar o comando de Tawantinsuyo. Ele acabou sendo
assassinado por dois seguidores do conquistador espanhol Almagro e foi substituído pelo filho, Sayri
Tupaq, que morrem em Yucay, após traição dos conquistadores. Titu Kusi Yupanqui, irmão de Sayri
Tupaq, foi denominado novo Inka. Sua primeira ação no poder foi se dirigir até Vilcabamba, com o
objetivo de continuar a guerra. Vitimado por uma doença, Titu Kusi morreu e foi sucedido pelo irmão
Tupaq Amaru. Mas Amaru foi seqüestrado pelo capitão espanhol Martin Garcia Oñas, que acabou se
casando com a sobrinha de Amaru. Tupaq Amaru foi levado até Cuzco e executado em praça pública. Era
o ano de 24 de setembro de 1572 e o conquistador Viceroy Francisco de Toledo se regozijava diante da
execução sumária. Após 36 anos de guerra, os conquistadores do Velho Mundo adquiriam todos os
direitos sobre a terra sagrada dos incas.
A sociedade inca
A sociedade inca caracterizava-se por três grandes grupos sociais. No ápice da pirâmide temos o grande
Inca o qual realizava o culto ao Sol. Os sacerdotes eram responsáveis por sacrifícios, adivinhações e
também pela educação de jovens nobres.
Em seguida vinham os nobres que geralmente eram membros da
família do Inca, ou descendentes dos chefes de clãs que passaram a integrar o império. Foram chamados
de orejones pelos espanhóis porque usavam olhereiras.
Os yanaconas eram uma espécie de escravos selecionados entre prisioneiros de guerra ou populares que
eram encarregados de proteger seus senhores, administrarem terras do Templo do Sol e os armazéns de
abastecimento.
Somente altos funcionários e chefes militares podiam ter a seu serviço os yanaconas os quais, é
importante lembrar, podiam possuir bens, o que não nos permite confundi-los com escravos. Apenas um
dos filhos do yana era escolhido para continuar a atividade do pai. Alguns viviam em meio ao fausto de
Cuzco enquanto outros serviam curacas pobres em regiões distantes.
Algumas mulheres também eram escolhidas para serem educadas nos monastérios do Sol por mulheres
mais velhas e descendentes da etnia dos incas. Algumas tornavam-se esposas secundárias do imperador,
outras eram dadas em casamento a quem o imperador desejasse e outras permaneciam virgens para poder
participar do culto solar. Ao lado da atividade ritual estas mulheres também se dedicavam a fiar e a tecer.
O número delas por vezes era tão grande (perto de 2000 mil), que permitia uma produção que escapava a
política de reciprocidades tradicionais. O mesmo ocorria com a produção dos yana favorecendo a
desagregação das antigas formas de solidariedade social. Portanto as relações sociais estavam em
transformação indicando uma tendência de transformação do Estado.
O povo tinha um papel extremamente importante na sociedade na medida em que era responsável pela
sobrevivência alimentar através do cultivo da terra e, também, pelas guerras que faziam parte das formas
de controle da produção em uma área bastante extensa.
As terras eram divididas em três partes. Os produtos obtidos do cultivo da primeira parte eram oferecidos
ao culto do Sol, os da segunda parte para o Inca e os da terceira parte para a comunidade.
O comércio
O comércio entre os indígenas era feito através de permutas. Nas feiras podiam encontrar alimentos
(milho, mandioca, feijão, mel etc.) cerâmica, tecidos e instrumentos agrícolas. Os indígenas muitas vezes
utilizavam-se de uma espécie de "serviço de crédito", ou seja, já tendo trabalhado, podiam receber
alimentos.Contudo, o comércio não era grande porque parte considerável da população produzia o que
necessitava.
Não se conhecia o uso de moedas, embora os incas possuíssem um sistema numérico decimal pelo qual
elaboravam sua contabilidade. Para favorecer a memorização, utilizavam-se dos quipus que consistia em
uma série de cordinhas que indicavam as dezenas, centenas e os milhares, permitindo que fossem feitos
levantamentos que serviam para controle do Estado. Funcionários especializados manipulavam os
"quipus".
A agricultura incaica, vale a pena lembrar, foi muito aperfeiçoada, especialmente com a introdução de
canais de irrigação. Os excedentes produzidos eram armazenados em celeiros públicos, abastecendo a
população em períodos de fome ou durante festejos públicos.
A arquitetura
Os Incas possuíam uma organização econômico social bastante complexa. A ela se vinculava uma arte
monumental, que merece ser conhecida especialmente pela capacidade que tiveram de superar as
dificuldades impostas pelo relevo.
Sendo essa região marcada pela presença de terremotos, convém observar que mesmo as construções de
grande porte, resistiram muito bem a fortes abalos, ao contrário de diversas edificações feitas pelos
europeus e que desabaram com os terremotos.
Neste sentido, podemos dizer que as obras de irrigação em direção aos vales desertos, a construção de
pontes pênseis, entre grandes precipícios, e de aterros em pântanos atestam altos níveis de conhecimentos
técnicos.
Para construir estradas em terrenos com grandes declives usavam do desenho em ziguezague facilitando a
circulação ou, se necessário, escadas. As estradas eram estreitas já que circulavam nelas apenas homens e
lhamas com carregamentos. Erguiam-se muros de arrimo em lugares mais perigosos para evitar
desabamentos.
As estradas desempenhavam uma função mais ligada ao controle do império do que aos comércio. Ao
todo se calcula que eram mais de 4.000 km de estradas cortando todo o império.
Em meio às cordilheiras muitas vezes era necessário construir pontes. Elas eram feitas de cordas e
exigiam uma cuidadosa manutenção já que os cabos deviam ser substituídos todos os anos.
Ao longo das estradas podiam ser encontradas construções onde pernoitavam viajantes que faziam parte
do exército ou que eram funcionários em serviço oficial. Nestes alojamentos ficavam os corredores que
eram encarregados de levar mensagens de um canto a outro do império, tornando possível, por exemplo,
que um destacamento do exército fosse informado com extrema rapidez sobre uma rebelião, podendo
atuar com rapidez.
O urbanismo
O urbanismo dos Incas tem uma longa história. Seu grande desenvolvimento ocorreu na época Chavin e
teve como expoente Tiahuanaco. A pedra é o elemento básico das construções nas regiões mais altas,
enquanto que no litoral utiliza-se um tijolo de terra. No norte e no centro das cordilheiras o estilo
"cuzquenho" prevalece, enquanto no litoral do Peru e da Bolívia torna-se bem mais raro. Estas diferenças
no urbanismo sugerem que a "atuação política no território do Estado Chimu e das grandes chefias
aymaras fosse mais fraca" conforme observou o antropólogo francês Henri Favre.
Os edifícios Incas, templos e palácios especialmente, caracterizavam-se por uma aparência pesada. As
aberturas em forma trapezoidal garantiam a majestade mas não amenizavam o volume. Os Incas, ao
contrário dos construtores da cultura Chavin e de Tiahuanaco, não se destacaram pelas suas esculturas.
Quanto às construções militares, destacam-se as fortalezas de Cuzco e do vale de Urubamba. São
edificações admiráveis por não disporem seus construtores de recursos técnicos, como a roda por
exemplo. Apesar disso utilizavam-se de grandes blocos de pedra. Os ajustes entre as pedras eram
perfeitos. Uma das provas da habilidade dos construtores reside no fato que essas paredes monumentais
resistem até hoje aos terremotos.
As casas eram circulares, cobertas de palha ou com uma espécie de abóbada de pedra. A porta de entrada
era única, sendo apenas coberta por uma pele ou palha. Contudo, o que é mais importante observar, ao
estudar o urbanismo da área andina, é que a arquitetura civil dos Incas não se difundiu pelo império, ao
contrário da arquitetura responsável por construções com fins militares ou religiosos.
A cidade de Machu Picchu no Peru é uma obra admirável. Localiza-se a uma altura de 600 metros do rio
Urubamba e ocupa uma área de 40 hectares. A floresta preservou a cidade permitindo estudos sobre as
formas de construção civil. A maneira como foi construída demonstra a enorme habilidade dos seus
construtores. São enormes blocos de pedra com os quais se construíram palácios, praças, fontes,
aquedutos, escadarias. A construção de alguns terraços servia para a agricultura e diversos muros à beira
das encostas deveriam proteger a cidade. Nenhum documento da época da conquista espanhola se refere a
Machu Picchu. Somente em 1911 um arqueólogo norte-americano descobriu as ruínas, permitindo
conhecer um pouco mais de uma grande cidade.
O casamento
A idade para o casamento era aos 20 anos para o menino e 16 para a menina. Quando chegavam a essa
idade, eram dispostos em duas colunas e um funcionário os casava. A escolha entre eles já havia sido feita
anteriormente cabendo ao funcionário apenas resolver conflitos em caso de uma mesma mulher ser
escolhida por dois homens. Realizada a cerimônia, o casal recebia terras da comunidade a qual estavam
ligados.
Se o procedimento desses casamentos não nos causa surpresa o mesmo não se pode dizer do processo
pelo qual algumas mulheres eram escolhidas em uma comunidade para serem enviadas a Cuzco.
De tempos em tempos reuniam-se em um distrito todas as meninas de 10 anos sendo escolhidas as mais
inteligentes e bonitas. Em seguida eram mandadas para Cuzco onde iam aprender cozinhar, tecer e outras
prendas mais que consideravam necessárias. Depois de alguns anos, outra escolha definiria aquelas que
seriam distribuídas como esposas secundárias (do Inca ou de nobres), e aquelas que deveriam permanecer
em celibato.
O que é importante observar nesta política de casamentos é a criação de laços inter-étnicos, aproximando
mulheres originárias de grupos étnicos diferentes do universo cuzquenho.
A educação
Entre os Incas existia uma elite formada por funcionários, chefes valorosos e mesmo por chefes vencidos
que haviam sido integrados ao império. Os filhos desta elite eram educados nas escolas de Cuzco onde
aprendiam história, astronomia, agrimensura, respeito a um deus supremo. Também lutavam, corriam,
fabricavam armas e sandálias. A educação era severa, compreendendo jejuns e exercícios violentos que
poderiam até resultar em morte.
Terminado este período, o menino era apresentado ao Inca que lhe furava a orelha passando a ser este um
símbolo de sua distinção social.
Danças
Qamili:
Uma dança praticada em grande escala, com vestimenta especial e originária das cidades de Maca e
Cabanaconde.
Wit'iti:
Dança para um grupo com vestes especiais, originária de Colca e Caylloma.
Saratarpuy:
Sara=milho, Tarpuy=colheita.É uma variação da Qamili e é praticado quando é tempo de colheita do
milho, eles dançam nesse evento especial o saratarpuy, desejando que a colheita seja boa.
Qhashwatinky:
Competição de dança entre grandes grupos, com pessoas jovens que tocam grandes flautas chamadas
pinkullos.
Sarawayllu:
Praticado em quase todas as cidades Kechwas cada vez que se termina de construir uma nova casa. Não é
uma dança, é somente cantado pelos convidados.
Kiyu-Kiyu:
É uma dança sobre a chuva. As pessoas, dirigindo-se para a cidade santa (varayuq) saem pelas ruas da
cidade(ayllu) cantando e dançando na chuva.
Llamera:
Llamera é uma jovem que cuida de lhamas e vive nos Andes.
Essas danças são muito bonitas e foram compostas pelas lhameras, que dançam e cantam enquanto suas
lhamas pastam, ou enquanto viajam com as lhamas pelos solitários lugares dos Andes. Atualmente não
são somente elas que cantam e dançam "As llameras", também grupos de meninas de cada cidade dos
Andes em qualquer evento ou celebração.
Tinkaches:
Uma dança e canto praticados enquanto suas terras e animais são dedicados à Deus. Ao som do tambor e
da flauta eles dançam e cantam felizes, desejando que Deus cuide das suas terras e animais.
Hailis:
Canções cantadas depois de terminar o trabalho no campo, ali não tem instrumento musical. Um começa
a cantar e o outro responde: Haili!
Yarqha Haspiy:
Canções cantadas por mulheres que trabalhavam nos canais de água, trabalho muito importante, pois de lá
depende o abastecimento de água para a cidade; este trabalho pode ser de duas vezes ao ano de acordo
com a vazão.
Note: Quando os Quíchuas cantam essas canções, contam histórias e lendas. Se ninguém mudar as letras
das músicas, elas serão folclóricas autênticas.
Religião
Quando os Incas conquistaram os Andes, impuseram o culto ao deus Sol. Todas as tribos construíram um
templo em homenagem ao Sol, mas o principal templo ficava em Cuzco capital do Império Inca. Outros
deuses também eram adorados: a Lua, os deuses do arco-íris, do trovão, porém sobre todos eles reinava
Viracocha, o criador, que era o pai e a mãe do Sol e da Lua. A religião Inca era de caráter politeísta, havia
sacrifícios humanos para a satisfação dos deuses.
Os Deuses Incas

VIRACOCHA: (Ilha Viracocha Pachayachachi), (Esplendooriginário, Senhor, mestre do mundo), foi a


primeira divindade dos antigos Tiahuanacos, proveniente do Lago Titicaca. Como o seu homônimo
Quetzalcoatl, surgiu da água, criou o céu e a Terra e a primeira geração de gigantes que viviam na
obscuridade. O culto do Deus criador supunha um conceito intelectual e abstrato, que estava limitado à
nobreza. Semelhante ao Deus Nórdico Odín, Viracocha foi um deus nômade, e como aquele, tinha um
companheiro alado, o condor Inti, grande profeta.
INTI: (o Sol), chamado "Servo de Viracocha", exercia a soberania no plano superior ou divino, do mesmo
modo que um intermediário, o Imperador, chamado "Filho de Inti", reinava sobre os homens. Inti era a
divindade popular mais importante: era adorado em muitos santuários pelo povo inca, que lhe rendiam
oferendas de ouro, prata e as chamadas virgens do Sol.
MAMA QUILLA: (Mãe Lua), Esposa do Sol e mãe do firmamento, dela se tinha uma estátua no templo
do Sol. Essa imagem era adorada por uma ordem de sacerdotisas, que se espalhava por toda a costa
peruana.
PACHA MAMA: "A Mãe Terra", tinha um culto muito idolatrado por todo o império, pois era a
encarregada de propiciar a fertilidade nos campos.
MAMA SARA: (Mãe do Milho).
MAMA COCHA: (Mãe do Mar)
As lendas incas
A Primeira Criação: "Caminhava pelas imensas e desertas pampas da planície, Viracocha Pachayachachi,
'o criador das cosas', depois de haver criado o mundo em um primeiro ensaio (sem luz, sem sol e sem
estrelas). Mas quando viu que os gigantes eram muito maiores que ele, disse: - Não é conveniente criar
seres de tais dimensões; parece-me melhor que tenham minha própria estatura! Assim Viracocha criou os
homens, seguindo suas próprias medidas, tal como são hoje em dia, mas aqueles viviam na obscuridade".
A Maldição: Viracocha ordenou aos hombres que vivessem em paz, ordem e respeito. Entretanto, os
homens se renderam à vida ruim, aos excessos, e foi assim que Deus criador os maldisse. E Viracocha os
transformou em pedras ou animais, alguns caíram enterrados na Terra, outros foram absorvidos pelas
águas. Finalmente, despejou sobre os homens um dilúvio, no qual todos pereceram.
A Segunda Criação: Somente três homens restaram com vida, e com o objetivo de ajudar Viracocha em
sua nova criação. Assim que o dilúvio passara, "o mestre do mundo" decidiu dotar a Terra com luz e foi
assim que ordenou que o sol e a lua brilhassem. A lua e as estrelas ocuparam seu ligar no vasto
firmamento.
Vale Sagrado dos Incas
À curta distância da cidade de Cuzco se encontra um dos vales de maior riqueza paisagística e cultural do
Peru. Foi formado há milhares de anos pelas correntezas do rio Vilcanota, o mesmo que no passado era
chamado de Willkañuta (casa do Sol) ou Willcamayu (rio sagrado).
A área, denominada Vale Sagrado dos Incas, se prolonga por mais de 100 quilômetros (sendo seus
extremos as cidades de Pisac e Machu Picchu), e possui numerosos povos (entre eles Ollantaytambo) e
impressionantes centros administrativos que testemunham sua milenar ocupação. Se encontra à uma
altura média de 2800 metros sobre o nível do mar, e apresenta condições excepcionais, tais como um
clima benéfico (18º C de temperatura média anual), rica flora e fauna, terra fértil e inumeráveis riachos
que, nascendo das cordilheiras nevadas que o rodeiam, se precipitam em cachoeiras por entre os bosques
nativos mais altos do mundo (4200 metros de altitude), provendo-o de abundante água e alimentando o
rio sagrado.
A Via Láctea e o Vale Sagrado dos Incas
A Via Láctea é uma nuvem esbranquiçada e difusa que atravessa de forma oblíqua a esfera celeste e
engloba muitas constelações. Dentre elas podemos citar Orion, o Escorpião e o Cruzeiro do Sul. É
formada por milhões de estrelas e nuvens escuras de poeira e gás que podemos observar em noites de céu
limpo. Se a Terra fosse transparente, poderíamos constatar que ela nos rodeia por completo.
Conhecida no mundo andino como Mayu ou rio celestial, serviu aos Incas como eixo de orientação ritual.
O cronista Cristóbal de Molina disse que os sacerdotes Incas realizavam durante o Solstício de Inverno
uma peregrinação cerimonial anual em função da Via Láctea: partiam de Cuzco em direção Sudeste,
seguindo o movimento aparente da Via Láctea, até um lugar hoje denominado La Raya (onde nasce o rio
Vilcanota), e onde, segundo a mitologia Inca, nascia o Sol.
Deste lugar regressavam à Cuzco, dirigindo-se à Noroeste, mas agora seguindo a direção do "rio sagrado"
(Vilcanota), que também flui de Sudeste à Noroeste.
É nesta peregrinação ritual que o rio celestial (Mayu) se relacionava com o rio terrestre (Vilcanota), já
que na antigüidade existia a idéia de que tudo que fosse sagrado sobre a Terra possuía sempre um reflexo
no céu.
Atualmente, nas comunidades agrícolas, acredita-se que as forças cósmicas interferem substancialmente
na vida diária.
O Mayu não foi apenas um eixo de orientação importante, mas sim um plano de referência para o
entendimento do clima terrestre. Todo o conhecimento da época era proveniente das constelações, e
existiam três classes delas: as "constelações brilhantes", formadas por um conjunto de estrelas unidas
imaginariamente para formar uma determinada figura, as "constelações escuras", formadas por manchas
escuras da Via Láctea (conhecidas atualmente como nebulosas), e as "constelações mistas", uma mistura
de ambas. As constelações escuras se encontram na região do rio celestial, ou Mayu, onde a densidade e o
brilho maior desta região fazem com que as manchas escuras da Galáxia pareçam sombras de enormes
silhuetas, geralmente de animais, os quais, no pensamento andino estavam encarregados de gerar
fertilidade e abundância na Terra.
Devido à tudo isso, e em função dessas idéias, foram edificados, em todo o Vale Sagrado dos Incas,
enormes construções que delimitaram espaços rituais, nos quais se recriou em suas formas respectivas as
principais constelações andinas (Árvore, Lhama, Condor, Perdiz, Pontes, etc.), como se o vale e seu rio
fossem reflexos, um do outro (ver figura).
Logo, o Vale Sagrado dos Incas, não é apenas um nome, uma frase, ou muito menos um lugar comum,
normal. È na verdade um sentimento, uma maneira de se situar no mundo, uma forma de compreender a
vida, um conceito.
A arquitetura do Vale, tal qual sua simetria, parece nos revelar que o mesmo tinha a exclusiva função de
servir de espelho da Via Láctea para os Incas.
Na figura abaixo podemos identificar a união do rio com o mar, e como (através da imaginação) nasce a
Via Láctea para projetar-se no céu, e unir-se novamente com a Terra em seu extremo superior, dando-nos
a idéia da existência de um todo como um ciclo contínuo.
No passado, durante o Equinócio de Primavera (23 de Setembro) se realizava um ritual denominado
Mayucati, no qual os Incas entregavam oferendas ao rio Huatanay em Cuzco, para que suas águas, ao
unir-se com as do rio Vilcanota, as levassem até Ollantaytambo. Atualmente entregam oferendas ao rio
Vilcanota ou Willcamayu (rio sagrado), pois existe a crença de seus desejos são realizados através da
chuva.

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