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Revista 05.

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Divulgação
Utilização de fontes de informação
por executivos do setor de
tecnologia da informação no Brasil
Jaime S. Yamassaki Bastos
Doutorando e mestre em Ciência da Informação pela UFMG.
Administrador pela UFMG. Diretor-secretário da Sociedade Brasileira de
Gestão do Conhecimento/MG. Pró-reitor administrativo e
professor do Centro Universitário UNA.

RESUMO
O artigo analisa a maneira pela qual executivos do setor de Tecnologia da Informação
(TI) utilizam fontes de informação em seus negócios, apresentando os resultados de
uma pesquisa setorial realizada com executivos das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Foram analisadas a freqüência de uso, a relevância e a confiabilidade atribuídas por
92 executivos a diversas fontes de informação para negócios.

Palavras-chave: monitoração ambiental, fontes de informação, tecnologia


da informação, análise setorial, executivos.

1. Introdução
A complexidade do ambiente de passos largos. É possível dizer que, Porém, nesse contexto, onde o
negócios atual reflete profundas mu- dentre as maiores mudanças ocorri- avanço tecnológico e o aumento da
danças de cunho político, econômico das no mundo a partir da segunda busca e do uso da informação pelas
e tecnológico que perpassaram e per- metade do século XX, aquelas rela- organizações as submetem a um
passam toda a sociedade. Tais alte- cionadas ao desenvolvimento das fluxo torrencial de informações, o
rações estão diretamente atreladas à tecnologias de informação e comuni- objetivo deixou de ser apenas garan-
mudança do paradigma técnico-eco- cação (TIC) certamente ocupam po- tir o acesso à informação. O desafio
nômico vigente, que caracteriza a sição de destaque, juntamente com maior que agora se apresenta é o de
transição da Era Industrial para a seus impactos na esfera econômica. otimizar os esforços para gerenciar
chamada Era do Conhecimento. Com a evolução e o barateamento processos de busca e uso de informa-
A informação passou a ser trata- dessas tecnologias ao longo desse ção na organização.
da como insumo primordial, haja período, a produção, o processamen- Os novos desafios gerenciais
vista os desdobramentos e conse- to e a disseminação de informações que as empresas enfrentam estão
qüências em nível estratégico de sua foram mais do que simplesmente pautados pela necessidade e uso
utilização. Nesse cenário, a tecnolo- modificados. Eles foram exponen- abundantes da informação. Em qual-
gia da informação tem evoluído a cialmente ampliados. quer área ou nível hierárquico, a

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informação tornou-se insumo básico Diante desse cenário, torna-se atividades organizacionais, princi-
da tarefa de administrar. Choo (1998) essencial compreender, de forma palmente as relacionadas à toma-
considera que a informação é, por mais ampla, a importância da da de decisão. Este artigo traz, de
excelência, o recurso estratégico da questão informacional dentro das forma consolidada, resultados obti-
organização; é um metarrecurso que empresas. Nesse amplo campo de dos em uma ampla pesquisa setorial
coordena a mobilização e a utiliza- estudos, diversos aspectos podem e sobre a utilização de fontes de in-
ção efetiva de todos os outros fatores devem ser considerados. Um deles, formação, realizada com 92 exe-
de produção. Pode-se dizer, assim, certamente, trata da utilização de cutivos de empresas do setor de
que toda atividade organizacional é, fontes de informação pelas empre- tecnologia da informação das
em alguma instância, dependente de sas para acompanhamento de seu regiões Sul e Sudeste do Brasil
informação. ambiente externo e para apoio às (Bastos, 2005).

2. Informação sobre o ambiente organizacional externo


O estudo do ambiente organiza- decorrência disso, a utilização da precisam, além de disponibilizar a
cional e sua relação com a dinâmica informação e do conhecimento como infra-estrutura necessária, reunir
empresarial tem sido amplamente insumos de importância maior den- aptidões e desenvolver processos de
abordado pelas Ciências Adminis- tro das empresas alterou a maneira seleção, avaliação, formalização e
trativas no escopo da Teoria da pela qual a organização configura validação da informação.
Contingência. Não obstante o fato de seu ambiente interno e se relaciona Além disso, é preciso considerar
essa teoria ter surgido no início da com o seu ambiente externo. Stewart que a relação das empresas com seu
segunda metade do século XX, ela é, (2002) observa que o mundo, à ambiente pode ser analisada sob
ainda hoje, a mais recente abor- medida que explora o poder do diversos ângulos. Carroll (1976)
dagem capaz de constituir um corpo microchip, presencia novas revolu- considera que as organizações são
coeso de idéias e visões sobre o ções, tanto nos equipamentos quanto sistemas abertos que interagem e se
tema. nas formas de gerenciamento. adequam ao seu ambiente externo.
Entretanto, quando se leva em Porém, nesse contexto, onde o Oliveira (1993) ressalta que os sis-
conta a época em que essa aborda- avanço da tecnologia e o aumento do temas abertos mantêm um equilíbrio
gem teve origem, torna-se necessário nível de monitoração ambiental dinâmico com seus ambientes. Na
considerar também o surgimento de exercido pelas empresas as subme- visão do autor, esse equilíbrio é
outros aspectos relevantes que ga- tem a um aumento do fluxo e da cap- influenciado pela interação entre a
nharam importância ao longo do tação de informações, o objetivo não organização e seus ambientes, por
tempo. Nesse cenário, a informação pode ser mais simplesmente garantir meio dos fluxos de entrada e saída de
surge como insumo mais importante o acesso à informação. Com o au- materiais, insumos, energia e infor-
e fator crítico de sucesso organiza- mento do uso da internet como fonte mações. Já Aldrich (1979) e Choo
cional. Quando se fala na mudança de informações, cresce o desafio de (1998) consideram que o ambiente
de paradigma técnico-econômico – e gerenciar a carga informacional à externo pode ser analisado, entre
no aumento da importância da infor- qual os tomadores de decisão estão outras formas, como fonte de infor-
mação no mundo empresarial – é sujeitos, para que o uso da infor- mação para a organização. Dill
preciso lembrar que esses fenômenos mação seja otimizado. Mesmo (1962), um dos primeiros pesquisa-
estão relacionados ao rápido desen- cientes desse desafio, é notável o dores a adotar essa perspectiva, con-
volvimento das tecnologias da infor- fato de que grande parte das empre- sidera que tentar compreender o
mação e comunicação nas últimas sas ainda não dispõe de habilidades e ambiente como uma coleção de ou-
décadas. Tal mudança potencializou ferramentas para lidar com infor- tros sistemas não é a melhor maneira
o surgimento de formas revolu- mações de maneira efetiva (Santos & de se tratar o assunto. Para analisar o
cionárias de geração, tratamento e Beraquet, 2003). Para otimizar a ambiente, deve-se tratá-lo como
disseminação da informação. Em gestão informacional, as empresas informação que se torna disponível à

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organização, ou à qual se tem aces- realmente importa não são os aspec- que esses tornam disponíveis à orga-
so por intermédio de uma ativida- tos do ambiente (como fornecedores nização, sobre seus objetivos e ou-
de de busca. Sob esta ótica, o que ou clientes), mas sim a informação tros aspectos de seu comportamento.

3. Fontes de informação
Com o aumento da importância Jannuzzi & Montalli (1999) Vários trabalhos analisam fontes
da informação como recurso organi- analisam, de maneira abrangente, de informação que podem ser uti-
zacional, é natural que as empresas várias terminologias encontradas na lizadas no processo de monitoração
utilizem uma diversidade de fontes literatura brasileira e internacional do ambiente externo. Porter (1986)
para obtenção de informações a sobre os termos "informação tecno- relaciona uma série de fontes de
respeito do seu ambiente externo. lógica" e "informação para negó- informação, como relatórios e estu-
Tais fontes de informação podem ser cios". As autoras observam que, no dos sobre setores industriais, asso-
classificadas de acordo com os mais que se refere à "informação para ciações comerciais, publicações
diversos critérios, levando em conta, negócios", alguns conceitos propos- comerciais, imprensa especializada
por exemplo, a origem, a estrutu- tos em outros países expressam ca- em negócios, diretórios, relatórios
ração, os meios ou os recursos que racterísticas que podem colaborar anuais e publicações governamen-
lhes dão suporte. No presente estudo, para o entendimento necessário ao tais, entre outras. Da mesma forma,
estão sendo consideradas as fontes termo. Tais conceitos se relacionam Sutton (1988) identifica diversas
de informação utilizadas especifica- com o universo ao qual esse tipo de fontes internas (como departamentos
mente para negócios e apoio à toma- informação se refere, ou com o uso de vendas, pesquisa mercadológica,
da de decisão dentro das empresas. ao qual se destina. Dentro dessa planejamento, engenharia, compras)
Cendón (2002), em um estudo perspectiva, destacam-se os con- e externas (como clientes, fornece-
sobre fontes de informação para ceitos apresentados por Montalli & dores, periódicos, material promo-
negócios, classificou as fontes con- Campello (1997), por reunir ambas cional de concorrentes, bases de
sideradas da seguinte forma: bases as características apontadas. Nessa dados eletrônicas, entre outras).
de dados de informações bibliográfi- visão, "informação para negócio" é No presente trabalho, adotou-se
cas; sobre empresas e produtos; aquela que subsidia o processo deci- a mesma classificação utilizada por
financeiras; estatísticas e indicadores sório no gerenciamento das organi- Barbosa (2002), que separa as fontes
econômicos; sobre oportunidades de zações, no que se refere aos seguin- de informação em cinco grandes gru-
negócios; biográficas; de vocabu- tes aspectos: empresas, produtos, fi- pos. As fontes aqui consideradas
lário; para investimentos e jurídicas. nanças, estatísticas, legislação e mer- podem ser assim reunidas:
Porém, é grande a diversidade de ter- cado. A "informação tecnológica" se • fontes pessoais externas -
mos que vêm sendo adotados ao diferenciaria por englobar não ape- clientes; concorrentes; forne-
longo dos anos para se referir às nas a informação necessária à execu- cedores; parceiros e associa-
informações para negócios. De acor- ção de processos diversos, mas tam- dos (banqueiros, advogados,
do com Cysne (1996), a falta de con- bém a informação que é gerada por consultores, outros empresá-
senso sobre a terminologia se deve à esses mesmos processos. Embora as rios, etc.);
incapacidade de organização do autoras evidenciem a diferença entre • fontes documentais exter-
enorme volume de informações ge- os dois termos, no presente estudo, é nas - jornais e revistas; publi-
radas diariamente e dos diversos adotada a idéia mais ampla que cor- cações governamentais; rádio
interesses a que uma informação responde à união dos mesmos. As- e televisão; serviços exter-
pode atender. Essa indefinição termi- sim, considera-se que informações nos de informação eletrônica
nológica gera várias conseqüências, geradas em processos de aquisições (bases de dados on-line, ser-
dificultando, inclusive, o processo de ou inovações, por exemplo, podem viços de notícias on-line, gru-
se trabalhar a informação enquanto subsidiar processos de tomada de pos de discussão na internet,
recurso estratégico. decisão dentro da organização. etc.);

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• outras fontes externas - asso- do mesmo nível hierárqui- relatórios e outros docu-
ciações empresariais e entidades co; subordinados hierár- mentos internos; biblioteca
de classe; congressos e feiras; quicos; interna, centro de infor-
• fontes pessoais internas - su- • fontes documentais internas mação ou de documenta-
periores hierárquicos; colegas - memorandos, circulares, ção.

4. O setor de TI
O setor de tecnologia da infor- pessoas ocupadas era de cerca de 37 do número de empresas nas ativi-
mação (TI) é um setor moderno e di- mil e 206 mil, respectivamente, ou dades de serviços consideradas, jun-
nâmico da economia que vem apre- seja, 1,17% e 0,76% do total. Apesar tamente com o nível de emprego,
sentando um desempenho muito su- de ser relativamente pequeno o que cresce nas duas classes.
perior à média de todo o conjunto de número de empresas em operação No que diz respeito ao porte das
atividades econômicas, mesmo tendo desses setores, destaca-se o alto empresas, observa-se que as peque-
pouca representatividade no conjun- nível da remuneração paga nessas nas e médias empresas são maioria,
to geral (no que diz respeito à quan- atividades. O salário médio nesses embora as grandes ocupem papel
tidade de empresas). Neste trabalho, setores é 84,43% superior à média de significativo em termos de geração
consideram-se empresas que com- todas as atividades (IBGE, 1998). Já de empregos. O número médio de
põem o setor de TI aquelas que no ano 2000, esses percentuais au- pessoas empregadas por empresa no
atuam nas seguintes atividades eco- mentaram para 1,58% do total de geral, em 2000, é de 7,4 especifica-
nômicas da classificação utilizada empresas e 1,01% do pessoal ocupa- mente na atividade industrial ana-
pelo IBGE no Cadastro Central de do, enquanto o salário médio em lisada, esse valor sobe para 30,6,
Empresas (Cempre): relação ao conjunto de todas as em- caindo para 4,4 nas atividades de
• fabricação de máquinas para presas permaneceu praticamente serviços. Os resultados de 1996 não
escritório e equipamentos para estável, sendo 86,47% superior ao são significativamente diferentes de
informática (indústria); conjunto (IBGE, 2002). 2000. Outro aspecto interessante a
• atividades de informática e É importante ressaltar que o ser ressaltado é que, para a atividade
conexas (serviços). setor experimentou, entre os anos de industrial selecionada, a importância
É possível caracterizar e obser- 1996 e de 2000, um ritmo de cresci- do emprego gerado pelas grandes
var a evolução e o crescimento do mento no nível de emprego da ordem empresas é muito maior do que na
setor analisando, de maneira com- de 10,6% ao ano, contra uma média atividade de serviços e no conjunto
parativa, alguns dados estatísticos. de 3,0% no conjunto de todas as da economia. Porém, ressalta-se o
De acordo com as informações do empresas. Da mesma forma, o valor fato de que cerca de 73,6% das
Cempre do IBGE, em 1996, existiam do salário médio real nesse setor empresas da atividade industrial con-
no País cerca de 3,2 milhões de em- apresentou um crescimento muito siderada são de pequeno porte, pos-
presas formalmente constituídas, superior à média dos outros setores, suindo menos de dez pessoas empre-
empregando pouco mais de 27 mi- chegando a 23,8% ao ano na ativi- gadas. Na atividade de serviços, esse
lhões de pessoas (IBGE, 1998). No dade industrial considerada. O au- número é ainda mais significativo,
conjunto das duas atividades consi- mento da participação do setor está com cerca de 96,1% das empresas
deradas, o número de empresas e de associado ao crescimento expressivo com menos de dez funcionários.

5. A pesquisa
Este estudo buscou analisar a ma- ambiente externo da organização. Mais por parte dos executivos; e
neira como os executivos do setor de especificamente, este artigo analisa: • a relevância e a confiabilidade
TI utilizam fontes de informação em • a freqüência de uso de deter- atribuídas pelos executivos a
seu processo de monitoração do minadas fontes de informação essas fontes.

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A pesquisa foi realizada com a relevante quando é necessária e útil foi utilizado o coeficiente de corre-
participação de 92 executivos de para o alcance dos objetivos e metas lação de ordem de Spearman. Foram
empresas de TI, abrangendo os sete de sua organização. calculados os valores do coeficiente
Estados brasileiros das regiões Sul Por fim, para mensurar a confia- para as variáveis, tomadas duas a
e Sudeste. O questionário, estrutura- bilidade da fonte, foi solicitado a duas. A seguir, foi feita a análise das
do em formato de formulário eletrô- cada respondente que manifestasse correlações entre:
nico, foi hospedado em uma página sua opinião a respeito da confiabili- • freqüência de uso da fonte X
da internet para preenchimento dade das informações obtidas a par- relevância da informação da
remoto. tir de cada uma das fontes, utilizando fonte;
O objetivo foi captar a per- escala unidimensional ascendente de • freqüência de uso da fonte X
cepção dos participantes no que diz 1 a 5 pontos, relacionados às se- confiabilidade da informação
respeito à forma de utilização das guintes opções de resposta: (1) nem da fonte;
fontes de informação. Foram consi- um pouco confiável; (2) pouco con- • relevância da informação da
deradas as fontes de informação des- fiável; (3) medianamente confiável; fonte X confiabilidade da
critas no item 3 e, sobre cada uma (4) confiável; (5) extremamente con- informação da fonte.
das fontes, foram colhidos dados fiável. Considera-se que uma infor- Para medir a correlação de or-
sobre a freqüência de uso, a relevân- mação é confiável quando é prove- dem entre as variáveis tomadas duas
cia e a confiabilidade. niente de uma fonte idônea e pode a duas, foi utilizado o coeficiente de
Para mensurar a freqüência de ser utilizada como base para se Spearman, que possui a seguinte for-
uso de fontes de informação, foi tomar decisões. mulação:
solicitado a cada respondente que A tabulação dos dados coletados
informasse a freqüência com que por meio do formulário hospedado
utiliza cada uma das fontes de in- na internet foi feita de forma auto-
formação listadas, utilizando uma mática, uma vez que a importação
escala unidimensional ascendente dos dados obtidos com o preenchi-
de 1 a 5 pontos, atribuídos às se- mento do formulário eletrônico pelos onde:
guintes opções de resposta: (1) menos respondentes alimentava uma plani- • X i é a ordem da fonte i de
de uma vez ao ano; (2) algumas lha eletrônica, preparada previa- informação na 1ª variável;
vezes ao ano; (3) pelo menos uma mente, que era capaz de fornecer a • Yi é a ordem da fonte i de in-
vez ao mês; (4) pelo menos uma vez tabulação das respostas em tempo formação na 2ª variável;
por semana; (5) pelo menos uma vez real e de efetuar os cálculos neces- • n é o número de fontes de
ao dia. sários à obtenção dos resultados para informação consideradas.
Similarmente, para mensurar a análise. Foram calculados os valores O coeficiente pode variar de -1
relevância de cada fonte, foi solicita- médios das respostas dos participan- (valor que significaria a inversão
do a cada respondente que manifes- tes, ponderados pelos pontos da integral da ordem dos itens nas va-
tasse sua opinião sobre a relevância escala utilizada (1 a 5 pontos) consi- riáveis consideradas – uma forte
das informações obtidas a partir de derando o valor máximo de pontos associação inversa) a +1 (valor que
cada uma das fontes de informação possível em cada item. As fontes de significaria a mesma ordenação dos
listadas, por intermédio de uma informação foram ordenadas de itens nas variáveis consideradas –
escala unidimensional ascendente de acordo com esse valor e, a partir uma forte associação direta) e foi
1 a 5 pontos, atribuídos da seguinte dessa ordenação, procederam-se as calculado para todas as combinações
forma às opções de resposta: (1) to- análises. possíveis de variáveis, tomadas duas
talmente irrelevante; (2) irrelevante; Após a análise individual de a duas.
(3) de alguma relevância; (4) rele- cada aspecto, analisou-se a corre- De posse dos resultados calcula-
vante; (5) extremamente relevante. lação de ordem das fontes nas dos, procedeu-se a análise dos mes-
Entende-se que uma informação é variáveis consideradas. Para tanto, mos.

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6. Resultados
Os executivos que responderam • 91% das empresas dos respon- desses o consultam semanal-
ao questionário enquadram-se no se- dentes possuem menos de 100 mente.
guinte perfil: funcionários, sendo que 42% Os resultados obtidos sobre a
• 82% são do sexo masculino; possuem menos de 10 funcio- utilização das fontes de informação
• 45% têm entre 25 e 34 anos, nários; pelos participantes, no que se refere
27% entre 35 e 44 anos; • 69% dos participantes loca- à freqüência de uso, relevância e
• 98% possuem escolaridade em lizam-se na região Sudeste do confiabilidade, são apresentados na
nível superior, sendo que 61% Brasil; Tabela 1. Os itens são apresentados
em nível de pós-graduação; • 22% responderam que a em- em ordem decrescente dos valores
• 73% possuem formação em presa possui um setor pró- obtidos na variável freqüência de
Computação ou Administração; prio de informação, e metade uso.

Tabela 1 - Freqüência de uso, relevância e confiabilidade das fontes de informação

Fontes de informação Freqüência Relevância Confiabilidade


Média Ordem Média Ordem Média Ordem
Jornais e revistas 4,60 1° 3,92 4° 3,58 11°
Rádio e televisão 4,55 2° 3,64 11° 3,30 14°
Subordinados hierárquicos 3,86 3° 3,90 8° 3,82 7°
Serviços externos de informação eletrônica 3,73 4° 3,84 9° 3,63 10°
Clientes 3,63 5° 4,61 1° 3,82 5°
Colegas do mesmo nível hierárquico 3,51 6° 3,91 7° 3,90 2°
Memorandos, relatórios e documentos internos 3,27 7° 3,57 13° 3,76 8°
Parceiros e associados 3,21 8° 4,16 2° 3,82 5°
Associações empresariais e entidades de classe 2,99 9° 3,92 4° 3,85 3°
Fornecedores 2,99 10° 3,92 6° 3,57 12°
Biblioteca, Centro de Informação/Documentação 2,98 11° 3,53 14° 3,83 4°
Concorrentes 2,90 12° 4,00 3° 2,80 15°
Publicações governamentais 2,69 13° 3,65 10° 4,22 1°
Superiores hierárquicos 2,67 14° 3,46 15° 3,72 9°
Congressos e feiras 2,12 15° 3,60 12° 3,37 13°
Fonte: Bastos, 2005.

Observa-se que, em relação à o motivo da utilização tão freqüente congressos e feiras, enquanto fontes
freqüência de uso, predominam as de fontes de informações de baixa de informação, são os menos utiliza-
fontes documentais externas. Jor- confiabilidade esteja relacionado à dos. Pode-se considerar alguns
nais/revistas, rádio/televisão e servi- facilidade de acesso às mesmas. São aspectos que levam à pouca utiliza-
ços externos de informação eletrôni- fontes de livre acesso, geralmente ção, como a baixa freqüência com
ca ocuparam três das quatro pri- gratuitas ou de baixo custo, e que que esses eventos ocorrem ao longo
meiras posições nesse aspecto. estão disponíveis em grande quanti- do ano, o valor do investimento para
Entretanto, chama a atenção o fato dade e variedade. Além disso, apre- participação nos mesmos, e a per-
de que, apesar da alta freqüência de sentam um ritmo mais acelerado de cepção de que esses eventos podem
uso dessas fontes, a confiabilidade atualização da informação. ser úteis às empresas em outros
das informações obtidas por meio Ainda no que diz respeito à fre- aspectos, mas não como fonte de
delas é baixa. É plausível supor que qüência de uso, observa-se que os informação. É preciso ressaltar que

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também foram atribuídas colocações grande importância para as empre- 1) correlação entre freqüência
baixas a esses eventos como fontes sas, no que diz respeito à obtenção de uso e relevância = 0,32;
de informação, no que diz respeito à de informações relevantes ao negó- 2) correlação entre freqüência
relevância e à confiabilidade. Nesse cio. De fato, memorandos, circulares de uso e confiabilidade = – 0,06;
caso específico, parece haver uma e outros documentos internos, assim 3) correlação entre relevância
forte associação entre as variáveis como as bibliotecas internas e os e confiabilidade = 0,05.
que permite inferir que esses even- centros de informação/documenta- Esses resultados mostram que as
tos, enquanto fontes de informação, ção, figuram entre as últimas posi- ordenações das fontes em cada um
são pouco utilizados porque as infor- ções nesse aspecto. dos aspectos analisados são muito
mações ali obtidas são percebidas Por fim, no que diz respeito à distintas. Os valores encontrados
como irrelevantes ou pouco confiá- confiabilidade da informação obtida, para os coeficientes de correlação
veis. as posições das fontes são mais são, de modo geral, inexpressivos e
Cabe observar também que os diversas, e não há predomínio de um não demonstram tendências que per-
superiores hierárquicos, enquanto tipo específico de fonte de infor- mitam inferir, de maneira consis-
fonte de informação, aparecem em mação. As publicações governamen- tente, que haja alguma associação
penúltimo lugar, em termos de fre- tais (uma fonte documental externa) entre as variáveis analisadas.
qüência de uso. A baixa colocação foram apontadas como a fonte de A correlação entre relevância e
dessa fonte de informação pode ter informação de maior confiabilidade, confiabilidade da fonte de infor-
sido influenciada pelo fato de que apesar de serem utilizadas com mação apresenta valor positivo,
grande parte dos respondentes não pouca freqüência, provavelmente em porém próximo de zero (0,05), indi-
possui superiores em sua empresa, função da baixa relevância percebi- cando que não há dependência signi-
visto que eles mesmos talvez ocu- da. Já os colegas do mesmo nível ficativa entre essas variáveis. Isso
pem os níveis hierárquicos mais hierárquico dos respondentes, por quer dizer que uma fonte considera-
altos. Essa hipótese parece reforçar- sua vez, figuram na segunda posição da confiável não necessariamente é
se com o fato de que, também em entre as mais confiáveis, ainda que considerada relevante e, nesse caso,
termos de relevância, os superiores sejam acessados de forma não muito é prudente considerar a existência de
hierárquicos obtiveram uma baixa freqüente, talvez porque forneçam outros aspectos, além da confiabili-
colocação, ficando em último lugar. informações de relevância modera- dade, que façam os usuários perce-
No que diz respeito à relevância, da, na percepção dos pesquisados. berem uma fonte como sendo impor-
observa-se um predomínio das fon- Ainda em relação à confiabilidade, tante.
tes pessoais externas, que ocuparam as associações empresariais e enti- Da mesma forma, o valor obtido
as três primeiras posições nesse dades de classe ocuparam a terceira para a correlação entre freqüência de
aspecto. Os clientes foram apontados posição. Como fonte de informação, uso e confiabilidade das fontes tam-
como a fonte onde são obtidas as são utilizadas de forma apenas mo- bém ficou próximo de zero (-0,06),
informações mais relevantes. Porém, derada, apesar de fornecerem infor- não indicando nenhuma tendência
em termos de confiabilidade, os mações relevantes, na percepção dos contundente de que a freqüência de
clientes ocuparam uma posição respondentes. uso das fontes esteja associada à sua
intermediária, sendo superados por Para comparar a ordenação das confiabilidade. É possível supor que
outras fontes. Os concorrentes ocu- diversas fontes em termos de fre- outros fatores tenham maior influên-
param o terceiro lugar em termos da qüência de uso, relevância e confia- cia na freqüência de uso das fontes.
relevância. Porém, observou-se que bilidade da informação, foi utilizado De fato, quando se analisam as
essa fonte é pouco utilizada, prova- o coeficiente de Spearman, que indi- fontes que ocuparam as primeiras
velmente porque a informação ali ca a correlação de ordem. O coefi- colocações quanto à freqüência de
obtida é considerada de baixa con- ciente foi calculado para todas as uso, os números parecem confirmar
fiabilidade. combinações de variáveis possíveis, que a facilidade de acesso à fonte de
Por outro lado, as fontes docu- tomadas duas a duas, apresentando informação certamente pode ser um
mentais internas parecem não ter os seguintes resultados: desses fatores de influência.

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O cálculo do coeficiente da cor- porém, ainda assim, pouco signi- que a freqüência de utilização das
relação entre a freqüência de uso ficativo. Esse valor não permite fontes de informação levaria em
das fontes e a relevância perce- inferências conclusivas, mas é conta, em alguma instância, a
bida apresentou como resultado um possível observar uma leve tendên- relevância das informações que
valor um pouco mais alto (0,32), cia de associação positiva, indicando fornecem.

7. Conclusões
O estudo revela diversos aspectos informação obtida. É preciso lembrar atenção dada ao assunto, por pesqui-
relevantes sobre a utilização de fontes que grande parte das informações jul- sadores no Brasil, ainda é relativa-
de informação no processo de moni- gadas relevantes é disponibilizada mente pequena, o que se reflete no
toração ambiental em empresas bra- espontaneamente pelos concorrentes, pequeno número de estudos realiza-
sileiras. das mais diversas maneiras (por dos sobre o tema.
Um aspecto que merece destaque exemplo, pela internet). Assim, se Os resultados aqui descritos su-
é o fato de os participantes, apesar de grande parte da informação sobre o gerem a necessidade de relacionar a
terem reconhecido a alta relevância concorrente já se encontra disponível, forma de utilização de fontes de infor-
dos concorrentes como uma fonte de o problema da confiabilidade parece mação a fatores que possam ser rele-
informação, a utilizarem com pouca estar relacionado aos processos uti- vantes ao processo, como a facilidade
freqüência, provavelmente devido à lizados para sua obtenção. Essa de acesso às fontes, o perfil dos
baixa confiabilidade percebida. O questão aponta a necessidade do usuários ou a área em que trabalham
fato de as empresas perceberem o desenvolvimento e aprimoramento na organização. Outro fator de análise
concorrente como uma fonte de infor- dos sistemas de monitoração ambien- relevante seria o estudo das atividades
mação de baixa confiabilidade levan- tal e inteligência competitiva das desenvolvidas nos setores relaciona-
ta duas hipóteses interessantes e não empresas. Com sistemas e processos dos à informação dentro das empre-
necessariamente excludentes. A pri- adequados e confiáveis de inteligên- sas, como bibliotecas e centros de
meira delas relaciona a baixa confia- cia, as empresas melhorariam a quali- documentação. Tais setores foram
bilidade atribuída à possibilidade de dade da monitoração e, conseqüente- considerados confiáveis, mas são uti-
que o concorrente, atento às ações de mente, a confiabilidade da informa- lizados com pouquíssima freqüência,
monitoração ambiental de outras em- ção obtida nessas fontes. Essas são, talvez por serem considerados irrele-
presas, adote medidas para confundi- sem dúvida, questões que merecem vantes. Seria oportuno, assim, estudar
las, divulgando informações falsas ou ser mais aprofundadas em estudos aspectos como critérios de seleção de
divergentes (ações de contra-inteli- futuros. publicações, a facilidade de acesso, a
gência 1). É importante apontar a necessi- mídia e os meios utilizados no acervo,
A segunda hipótese estaria rela- dade de novos estudos que aprofun- entre outros.
cionada à indicação de falhas e, até dem a análise da utilização de fontes No que diz respeito à metodolo-
mesmo, da ausência de estruturação de informação e de outras atividades gia empregada na pesquisa, ressalta-
no processo de monitoração ambien- de monitoração ambiental. Percebe- se a importância do uso da internet
tal e inteligência competitiva dentro se que, apesar do reconhecimento como instrumento para realizar o es-
das empresas, o que também compro- da importância da monitoração de tudo. A rede permitiu uma ampliação
mete a qualidade e confiabilidade da informações do ambiente externo, a significativa de alcance e de agilidade

1 As atividades de Contra-inteligência Competitiva foram desenvolvidas e adaptadas a partir das técnicas aplicadas no meio militar e de Estado e, no
seu sentido mais amplo, podem ser entendidas como sendo as que objetivam neutralizar as ações de espionagem. As ações de contra-inteligência
buscam detectar o invasor, neutralizar sua atuação, recuperar, ou mesmo contra-atacar por meio da produção de desinformação. (Abraic, 2005)

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no desenvolvimento de todas as suas de tabulação dos dados. Os dados para ampliação dos estudos nesse
etapas, desde a obtenção dos dados de preenchidos pelos participantes no campo. Sugere-se, por exemplo, es-
contato dos participantes, passando formulário eram importados para uma tender a pesquisa sobre o uso de fon-
pela utilização do e-mail para envio planilha eletrônica previamente tes de informação no processo de
dos convites para participação, até o preparada que, de forma automática, monitoração ambiental para outras
preenchimento do questionário. O efetuava os cálculos, fornecendo regiões do Brasil e para outros setores
instrumento ganha especial relevân- resultados atualizados à medida que e atividades econômicas. Tais pes-
cia ao se considerar que permitiu cada nova resposta era obtida. Se a quisas permitiriam, posteriormente, a
abranger um amplo espaço geográfi- tabulação fosse feita manualmente, o realização de estudos comparativos
co (os sete Estados brasileiros com- processo demandaria mais tempo e entre setores diversos e entre dife-
ponentes das regiões Sul e Sudeste do trabalho, além de aumentar a possibi- rentes regiões brasileiras, o que per-
Brasil). Além da coleta, o fato de tra- lidade de ocorrência de erros. mitiria consolidar um panorama sobre
balhar com o questionário na internet Como recomendações finais, é a forma de utilização de fontes de
permitiu agilizar também o processo possível apontar algumas direções informação para negócios no Brasil.

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Fonte
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