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Ano III nº5 Jul.Dez 2004 ISSN 1678-1252
Editorial
A mudança como vetor de desenvolvimento.
Este é o novo paradigma que começa a permear o
Diretoria momento atual da SETREM.
Presidente A transição de 2004 para 2005 trouxe muito
Ademar Eichelberger mais do que uma mudança de calendário, traz na
Vice-presidente essência uma grande mudança na liderança na
Ronaldo Wendland instituição. Mudança que virá carregada de
1º secretário novas concepções de dirigentes e de um novo
Lori Lauer Cecatto tempo na Instituição.
2º secretário
Se por um lado a mudança gera insegurança,
instabilidade, dúvida, por outra, traz novas
Luiz Pereira
perspectivas que podem incrementar uma nova
1º tesoureiro
energia para a continuidade do desenvolvimento
Waldemar Blum
da instituição.
2º tesoureiro
Cada tempo tem a característica e a visão de
Franz Roedel
lideranças e participantes que o constroem. Por
isto, cada tempo é diferente do anterior ou do
Direção posterior. Neste sentido ninguém substitui
Diretor Geral ninguém, mas imprime uma característica própria
Seno Leonhardt de valores, de visão, de paradigmas e de
Vice-diretor Ensino Superior estratégias. Embasadas fortemente numa
Paulo Renato Aires história única de vida e relações com pessoas e
Vice-diretora Ensino Ensino Médio instituições.
Zenaide Tesche Heimerdinger Portanto, se uma mudança gera
Coordenadora Administrativa preocupações, por outro, rejuvenesce as
Quedi Sônia Schmidt instituições, criando espaço para novos
pensamentos, novas iniciativas e novos projetos.
É a esperança de continuar crescendo.
Comissão Editorial: Adalberto Lovato, O ano de 2005 terá esta característica, da
Cláudia Viegas, Gilberto Caramão, Maria transição madura, da implantação de um novo
Cristina Pansera de Araújo, Liliana Ferreira, sistema gerencial, da esperança dos valores
Mário Luiz Evangelista, Vera Lúcia Lorenset profissionais esquecidos e projetos relegados.
Benedetti, Cristiano Antonelli da Veiga, Jorge Mas este ano também será o da precaução,
Antônio Rambo, Roque Ismael da Costa do controle e da otimização. Se a região vive a
Gullich, Martinho Kelm, Luciano Zamberlam. pior crise agrícola de todos os tempos, por outro
lado terá a grande oportunidade de refletir sobre
Conselho Editorial: Adalberto Lovato, o seu modelo de desenvolvimento e criar
Cláudia Viegas, Gilberto Caramão, Liliana mecanismos mais sólidos e justos para todos os
Ferreira, Mário Luiz Evangelista, Roque Ismael cidadãos.
da Costa Gullich, Valmir Heckler, Vera Lúcia É neste contexto que se apresenta a primeira
Lorenset Benedetti. edição da REVISTA SETREM DE 2005, com um
conjunto de artigos das grandes áreas de atuação
Editoração e Capa: Carlos M. T. Borges da instituição, desenvolvidos por profissionais
Revisão: Carla Matzembacher especializados nas áreas referenciadas.
Ano III nº5 Jul.Dez 2004 ISSN 1678-1252
Revista SETREM: revista de ensino e pesquisa/Sociedade Seno Leonhardt
Educacional Três de Maio Diretor Geral SETREM
Três de Maio: Editora SETREM.
N° 5 V.1 Jul/Dez/2004
Publicação Semestral
Sumário
Administração
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADMINISTRADOR NO NOVO
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
Carlos Waldemar Blum - Alajuiara dos Reis Brum
04
ESTADO E TERCEIRO SETOR: PARCEIROS POR UMA
SOCIEDADE JUSTA E IGUALITÁRIA
Deborá Cristina Thomaz Evangelista
12
O PENSAMENTO ESTRATÉGICO COMO BASE DE INTEGRAÇÃO
ENTRE O PLANEJAMENTO E A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL
Jorge Antonio Rambo - Mário Luiz Santos Evangelista
19
Educação
A INVENÇÃO DA INFÂNCIA: ANTAGONISMOS E FABRICAÇÕES
Cristiana Callai de Souza1
27
Informática
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM HOSPITAIS DA REGIÃO
NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Vera Lúcia Lorenset Benedetti
31
Saúde
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A PRESERVAÇÃO DA ÁGUA
Dinara Bortoli Tomasi - Maria Cristina Pansera de Araújo
37
ESTABELECER AS BASES PARA O PROJETO DE UM
EQUIPAMENTO DE CONTROLE DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
EM INCINERADORES DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Vilson Bernardo Stollmeier
46
ÍNDICES E CARACTERÍSTICAS DOS ACIDENTES DO
TRABALHO REGISTRADOS NO INSS DE TRÊS DE MAIO
Marli de Fátima Pereira Meurer - Jacira Bombardelli - Clélia Bogorni - Márcia Filipin - Cristiano
Henrique Antonelli da Veiga
57
IDENTIDADE PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO (A) :
PERFORMANCE E FISCALIZAÇÃO
Roque Ismael da Costa Güillich - Paulo Fábio Pereira - Gilberto Souto Caramão 63
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ADMINISTRADOR
NO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
Carlos Waldemar Blum1
Alajuiara dos Reis Brum2
Resumo 1. INTRODUÇÃO
Em 11 de janeiro de 2003
O presente estudo tem por objetivo realizar algumas observações sobre a entrou em vigor o novo Código Civil
responsabilidade civil do administrador frente à lei nº10.406/02. Com esse intuito, Brasileiro, originário do Projeto
busca-se trazer à tona inicialmente algumas informações sobre o Novo Código Civil
para depois informar o gênero e as espécies societárias. Em continuidade, trata de
nº634-C/75 que, desde a década
algumas considerações sobre a responsabilidade civil para depois entrar no assunto de 70, vinha sendo revisado e
específico da responsabilidade do administrador, principalmente na sociedade debatido e, após vinte e sete anos
limitada.
Palavras-chave: Responsabilidade civil Administrador Novo Código Civil de tramitação, foi aprovado pelo
Congresso Nacional, resultando
em 2.046 dispositivos que tratam
Abstract dos mais variados aspectos da vida
civil dos brasileiros.
The present study has for objective to accomplish some observations about the O presente artigo objetiva
civil responsibility of the administrator face to the law nº10.406/02. With this purpose, it
searches to bring to light initially some information about the New Civil Code, to later informar algumas alterações que
inform the gender and the society species. In continuity, it deals with some surgiram com o Livro II1 da Parte
considerations on the civil responsibility, to later get into the specific subject of the
responsibility of the administrator, mandy in the limited society.
Especial do Novo Código Civil, e
Keywords: Civil responsibility - Administrator - New Civil Code que vem produzindo significativas
mudanças nos procedimentos
empresariais do país.
Especificamente, será abordada a
responsabilidade do administrador
frente à nova legislação civil.
qualquer pessoa proba e ativa costuma empregar ao Se o administrador for nomeado em ato posterior
administrar seus próprios negócios. ao contrato social, em instrumento em separado do
pacto social, esse ato de nomeação deverá ser
A empresa não tem agir próprio, nem o averbado à margem da inscrição da sociedade. E, se
empresário pode atuar em nome dela na prática de atos antes dessa averbação o administrador vier a efetivar
que não contemplam o seu objetivo. Daí depender de negócios, responderá por eles pessoal e
órgãos que agem (agentes) sob o nome empresarial e, solidariamente com a sociedade. Para DINIZ (2003, p.
dessa forma, possibilitam a criação de obrigações a 605), os administradores respondem solidariamente
serem suportadas pela empresa, por intermédio de seu perante a sociedade e terceiros pelos prejuízos que
patrimônio (o estabelecimento, imóveis, numerário culposamente lhe causarem com o proceder no
disponível e outros bens patrimoniais). exercício de suas atribuições ou funções. E, se o
administrador, sem autorização escrita dos sócios, fizer
Dessa forma, a sociedade é constituída de vários aplicações de créditos ou de bens sociais em benefício
órgãos que permitem sua presença no mundo exterior próprio ou de terceiros, deverá devolvê-los à
e que executam a vontade da pessoa jurídica. Para sociedade, ou, se impossível for a restituição in natura,
REQUIÃO (1995, p.312) são esses órgãos, pagar o equivalente, com todos os lucros obtidos e,
exemplificativamente: a assembléia geral como órgão ainda, uma indenização pelas perdas e danos, se
de deliberação e da vontade; o conselho fiscal, como ocorrerem prejuízos.
órgão de controle e fiscalização; e o diretor, gerente ou
administrador de qualquer sociedade personificada, Ao administrador também é vedado fazer-se
como órgão de execução da vontade social. substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe
facultado, nos limites de seus poderes, constituir
Assim dispõe caput do artigo 1.011 do CC: “O mandatários da sociedade, especificados no
administrador da sociedade deverá ter, no exercício de instrumento os atos e operações que poderão praticar.
suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem Nesse caso, trata-se de um mandato especial relativo a
ativo e probo costuma empregar na administração de uma ou mais operações determinadas que exorbitam
seus próprios negócios”. Ao administrador se aplica, os poderes de administração ordinária e que devem ser
conforme o parágrafo segundo do citado artigo, no que expressamente consignados no instrumento, sendo
forem cabíveis, as normas alusivas ao mandato, por ser ineficazes em relação àquele em cujo nome foram
representante da sociedade. Se vier, por exemplo, a praticados se o mandatário não possuir o mandato ou
alienar bens, destituído de poderes para tanto, esse ato não tiver poderes suficientes para praticá-los, salvo se
será anulado, e o adquirente terá direito de exigir o mandante ratificar o negócio realizado por aquele,
perdas e danos contra o administrador que exorbitou conforme dispõe o artigo 662 do Código Civil.
seu mandato, e não contra a sociedade, porque esta
não se obrigou. Enquanto não vencer o prazo avençado no
contrato social, os poderes de administração no qual foi
O sócio administrador, que em regra é indicado investido o administrador são irrevogáveis, exceto se
pelo contrato social, é encarregado da administração advier justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido
da sociedade, excluindo com isso a administração dos de qualquer dos sócios. DINIZ (2003, p. 606)
demais, que não poderão interferir na gerência ou exemplifica dois motivos de justa causa: a moléstia
representar a sociedade, embora possam se informar grave prolongada e infração aos deveres legais ou
dos negócios sociais, tendo acesso aos livros e contratuais. Se não houver prazo estipulado,
conhecendo o estado do patrimônio comum. O subentende-se vigente enquanto durar a sociedade,
administrador tem o dever de prestar contas de sua mas se o poder de administração foi outorgado a um
gestão, justificando todas as operações feitas através dos sócios em separado, após o contrato social, será
do inventário e do balanço patrimonial do seu ativo e revogável a qualquer momento, como o de simples
passivo, contendo bens móveis, imóveis, valores mandato. Se o administrador não tiver a qualidade de
recebidos, débitos pagos ou a vencer, os valores de pro sócio, seu poder poderá ser revogado a qualquer
labore, etc. e o dos resultados econômicos, ou lucros tempo, mesmo se investido na administração por
obtidos. E se agir com excesso, assume a obrigação de cláusula contratual.
cumprir o pagamento de dívidas e encargos não
somente com a parte que lhe coube na contrato social,
mas também com os recursos pessoais.
Pela primeira vez o Código Civil, em seu REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, São
art.1011, afirma que “O administrador da sociedade Paulo: Saraiva,1995.
deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a
diligência que todo homem ativo e probo costuma SANSEVERINO, Paulo de Tarso. Responsabilidade
empregar na administração de seus próprios Civil do Consumidor e a Defesa do Fornecedor, São
negócios”. Com essa redação, traz à tona a exigência Paulo: Saraiva, 2002.
do cumprimento de uma série de Princípios
estabelecidos em Direito mas, acima de tudo, diz que o TASCA. Flori Antônio. Responsabilidade Civil - Dano
administrador que descumprir esses cuidados em sua extrapatrimonial por abalo de crédito, 2º ed.,
atividade, em caso de culpa ou dolo, responde Curitiba: Juruá, 2000.
integralmente pelos seus atos. Essa é a redação do art.
1016: “Os administradores respondem solidariamente VENOSA, Sílvio Sálvio. A Responsabilidade Civil
Objetiva no NCC, http/www.societario.com.br, em
perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por
17.03.2004.
culpa no desempenho de suas funções”.
REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
Por derradeiro, a crise funcional trata da perda da todos, fazendo surgir de um lado o Estado, e de outro a
exclusividade das funções estatais para os setores Sociedade Civil, ou seja, o que não fosse Estado
privados, marginais, nacionais, locais e até pertenceria automaticamente a Sociedade Civil,
internacionais, demonstrando a fragilidade do Estado conforme Wöhlke (2004).
nas suas diversas expressões que culminam com a
perda da capacidade de resolver, através da lei, os Durante os regimes militares, esta dicotomia
conflitos existentes. ficou ainda mais evidente pela supremacia do Estado-
militar contra os movimentos sociais oriundos da
O grande desafio é recuperar o papel central do Sociedade Civil brasileira em prol de temas sociais
Estado e da política como mecanismo para promoção importantes, como os movimentos pelos direitos das
de intervenções inovadoras na esfera pública, de modo mulheres pela liberdade de expressão, pela saúde
a estabelecer um novo equilíbrio pelo qual um Estado coletiva, pela anistia, pela redemocratização do país
mais enxuto e forte e um mercado eficientemente que teve sua consolidação com o movimento pelas
regulado se complementem reciprocamente no diretas e tantos outros. Entretanto, esses movimentos
contexto global. por si só, não bastavam para garantir uma legitimidade
frente ao poder estatal; por isso, evidenciou-se a
É primordial uma concepção mais radical de necessidade da sua instumentalização através da
democracia a partir da participação ampla e criação de personalidades jurídica, constituindo-se
estruturada por parte de uma sociedade civil como organização detentora de deveres, mas
fortalecida, menos estatizada e burocratizada, mas principalmente de direitos e de reconhecimento
capaz de desempenhar funções públicas e público, de acordo com Wöhlke (2004).
representativas, principalmente em prol dos grupos e
setores mais fracos da sociedade conforme Sunkel Em termos conceituais, a Sociedade Civil
(apud BRESSER PEREIRA, 1999). segundo Houtart (2004), considera três grandes
orientações: uma concepção burguesa de sociedade
Isso não significa a substituição do Estado por civil, uma concepção chamada de “angélica” e uma
outros organismos, mas aponta para uma redefinição concepção popular. A concepção burguesa de
do papel do Estado na sociedade contemporânea que, sociedade civil valoriza-a enquanto estratégia de
dentre outras funções, continuará tendo a de defender classe, sendo o “lugar do desenvolvimento das
a própria estrutura social democrática frente aos potencialidades do individuo e o espaço do exercício
grandes grupos econômicos e financeiros das liberdades” (HOUTART, 2004, p.1), principalmente
internacionais (CASTRO MEIRA, 2003). o da liberdade empresarial considerada como pivô da
sociedade civil. Nesta concepção, a empresa se
articula com as instituições de caráter ideológico e
4. SOCIEDADE CIVIL
então passa a reproduzir um papel social. Ao estado
cabe apenas o estabelecimento de regras jurídicas
É neste contexto, onde o Estado se vê inoperante
para garantir a propriedade privada e o livre exercício
para enfrentar com êxito os problemas sociais oriundos
da atividade empresarial, ou seja, reforçar a sociedade
do modelo de produção capitalista globalizado, que a
civil é favorecer a liberdade da empresa dinamizando
Sociedade Civil passa a atuar como um novo e
os atores sociais empreendedores e reduzindo o lugar
importante ator social, capaz de assumir um papel
do Estado com o objetivo de manter a dominação de
decisivo na complexa relação entre Sociedade, Estado
classes existente.
e Mercado. Neste sentido, a Sociedade Civil se torna
essencial para a democracia contemporânea e
A concepção “angélica” da sociedade civil é
responsável pelas reformas, tanto do Estado como do
composta por organizações geradas a partir dos
mercado, deixando de ser passivamente dominada,
movimentos sociais, pelas ONGs, pelo setor não-
para ser elemento de mudança social.
mercantil da economia, pelas instituições de interesse
comum ou em última análise, pela organização de
Didaticamente, para compor a idéia de
cidadãos de todas as matizes, imbuídas no desejo por
organização da Sociedade Civil, parte-se dos filósofos
uma sociedade mais justa e igualitária. A partir desta
contratualistas que remontam o surgimento da
concepção de sociedade civil os movimentos sociais
sociedade a partir do pacto contratual entre os homens,
denunciam os abusos do sistema, mas não produzem
onde cada um cederia uma parcela da sua liberdade
uma crítica consistente do próprio sistema e, por isso,
em fator de um convívio pacífico e harmonioso ente
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
14
ESTADO E TERCEIRO SETOR: PARCEIROS POR UMA SOCIEDADE JUSTA E IGUALITÁRIA
Deborá Cristina Thomaz Evangelista
são facilmente manipuladas pelas ideologias e se esfera privada se encontram as diferenças de cada
esvaem na sua ineficiência. individuo.
Já a concepção popular de sociedade civil Assim, o espaço público é resultado da ação dos
engloba a análise, a leitura da sociedade civil a partir membros da sociedade, encerrado num conceito
das relações sociais, enquanto lugar de desigualdades jurídico e político, não significando simplesmente um
sociais e de instituições que representam interesses de espaço territorial ou geográfico. Para entender este
classes divergentes. No seio da sociedade civil, processo conflituoso, Correa (2002), reconstrói a
multiplicam-se as lutas de grupos sociais por interesses noção de Estado explicando politicamente as
particulares, perdendo-se a noção da luta pelo todo. contradições da sociedade capitalista e propiciando
Essa fragmentação geografia ou setorial favorece aos condições teóricas da estratégia de luta para a
grupos dominantes e a Sociedade Civil acaba por ser construção da cidadania.
forjada pelo mercado que monopoliza o espaço público
através da (FALTA UMA PALAVRA) utilizados dos Desta forma, entende o Estado capitalista como a
Estados que servem de controladores sociais. representação idealizada do espaço público
materializado pelos aparatos repressivos, simbólicos e
Destas três concepções, conclui-se que para econômicos que legitimam e expressam a relação de
Houtart (2004), é o mercado que “manda e desmanda” forças dos poderes sociais. Portanto, o Estado deve ser
no Estado, nos órgãos da ONU e controla a Sociedade visto como uma dimensão simbólica do espaço público,
Civil, mantendo uma forma capitalista de produção. embora muitas vezes não concretizada e sempre
Mas é, sem dúvida, a partir da concepção popular de sujeita à ambivalência da dominação ou da libertação,
Sociedade Civil que é possível estabelecer novas ou seja, “tanto serve de ideologia justificadora do status
relações sociais, tendo em vista a promoção desta quo como de utopia subversiva e emancipatória” (
sociedade civil popular definida como “anti-sistêmica” e CORREA, 2002, p. 222).
capaz de rearticular os domínios da vida coletiva para
uma nova economia, uma nova política e uma nova Assim, o espaço público adquire sentido quando
cultura. se materializa em medidas concretas e/ou políticas
públicas estruturadas a partir da relação de forças dos
É imperioso ressaltar que é a Sociedade Civil poderes em conflito. É reconhecer que embora o
popular que tem o poder de servir de canal condutor da aparelho estatal seja hegemonicamente das classes
esperança de cada membro da sociedade, não se dominantes, não é irrelevante ao segmento dos
esgotando utopicamente, mas servindo de sinalizador excluídos, que de forma organizada se articulam,
da existência dos desejos coletivos, caracterizando-se pressionam e estabelecem um significativo jogo de
pela busca de alternativas para a melhoria da vida compromissos.
como um todo, considerando os interesses locais e
globais. É aqui que se situa a representação idealizada do
espaço público, colocando o homem não apenas como
Na visão de Vieira (2002), a noção de Sociedade sujeito de direito, mas como sujeito político ativo. Esse
Civil transcende a oposição ao mercado e ao Estado, é o avanço pretendido com a re-conceituação do
sendo um espaço diferenciado de ambos, onde impera Estado, conscientizando para o fato de que somente
a solidariedade, aproximando-se da noção anglo- através da compreensão da força deste sujeito
saxônica de terceiro setor. Neste contexto, cabe político, que se consolida a partir da organização dos
analisar o que é efetivamente este espaço público e a movimentos populares emancipatório, será possível
sua estreita e una relação com a cidadania ativa alterar o controle das regras da construção do espaço
propriamente dita. público favorecendo a maioria em detrimento da
minoria hegemônica.
Correa (2002), aponta a necessidade de
estabelecer um nexo fundamental entre a cidadania e o Como acentua Oliveira (2004), a participação
espaço público, uma vez que aquela se vincula com a cidadã faz dos membros ativos da sociedade os
participação ativa do cidadão na comunidade política, protagonistas de dois fenômenos contemporâneos: “o
trazendo à baila a questão da dicotomia entre o público extraordinário crescimento e diversidade da
e o privado. Ressalta que a espera pública se refere à participação cidadã” (OLIVEIRA, 2004, p. 11) e, o
igualdade construída pela cidadania, enquanto na reconhecimento de que os problemas que afetam a
humanidade são muito maiores do que a competência recreativas, as iniciativas das igrejas e o voluntariado
e a capacidade dos estados nacionais. Estes dois individual e muitos outros que tenham a finalidade de
fenômenos se tornam pilares para a construção de um melhorar a qualidade de vida da população.
consenso internacional baseado em valores, princípios
e normas de natureza universal, tais como a luta pelos Toma fundamental importância o caráter público
direitos humanos, pela proteção do meio ambiente e a das organizações do Terceiro Setor que, para
busca constante pela proliferação uma solidariedade Fernandes (1996), ultrapassam a noção de Estado,
internacional. englobando as organizações da sociedade civil e as
ações dos cidadãos, compartilhado da mesma idéia de
A idéia de Sociedade Civil serviu historicamente espaço público, referida por Correa (2002).
na América Latina para destacar um espaço próprio,
fora do arcabouço estatal, de participação popular nas Incluem-se no terceiro setor, um número
causas coletivas, integrando indivíduos e instituições significativo e infindável de instituições que têm em
particulares no exercício da cidadania de forma direta comum: a) não fazem parte do aparelho estatal; b) não
e autônoma. Assim, a Sociedade Civil se caracteriza têm fins lucrativos; c) constituem-se de grupos de
pela promoção de interesses coletivos, marcando um cidadãos na sociedade civil como pessoas de direito
espaço de integração cidadã distinta do Estado e da privado; d) são de adesão, ou seja, a participação é de
lógica do mercado e formando o “terceiro Setor” , no caráter bilateral, e nunca de caráter uni ou obrigacional;
entender de Wolfe (1992). e) produzem bens ou serviços de uso coletivo.
Entretanto, há organizações do terceiro setor que não
atendem a um ou mais dos cinco itens apresentados,
5. TERCEIRO SETOR
mas fazem parte igualmente.
O Terceiro Setor surge nos anos 70 e se
Os principais membros do Terceiro Setor são:
desenvolve com mais força nos anos 80 e 90,
abarcando uma infinidade de organizações sem fins
a) as Fundações: que, além de financiar o setor,
lucrativos e não governamentais com atuação de
através das doações às entidades beneficentes,
caráter público. Nessas três décadas, o Terceiro Setor
também executam projetos sociais próprios;
já assume um status de novo segmento de articulação
social, sem ter ainda uma definição científica
b) as entidades Beneficentes: que estão
propriamente dita.
diretamente ligadas à prestação de serviços sociais, a
exemplo de entidades que cuidam de idosos, meninos
O Terceiro Setor, que nasceu dos movimentos
de rua, drogados, preservando o meio ambiente,
reivindicatórios da Sociedade Civil por uma sociedade
promovendo os direitos humanos, incluindo-se
democrática, supera, nos anos 90, a oposição ao
também as associações de bairros, clubes sociais e
Estado e, através da parceria, estabelece uma relação
tantas outras;
de colaboração e complementaridade com o Estado e
também com o Mercado. A superação das dificuldades
c) os Fundos Comunitários: muito difundidos nos
iniciais passam pela aceitação tanto do Estado como
Estados Unidos, que arrecadam e depois distribuem o
do Mercado, da existência de um terceiro e importante
dinheiro conforme prioridades pré-estabelecidas pelos
setor. O Estado passa a reconhecer que as
doadores, a exemplo da Federação das Entidades
Organizações Não Governamentais - ONGs têm
Assistenciais de Campinas em São Paulo; d) as
recursos, capital e experiências para enfrentar com
Entidades Sem Fins Lucrativos: que exercem de fato
estratégias inovadoras dos problemas sociais. O
uma atividade social de interesse coletivo público,
Mercado, por sua vez, é atingido pela noção de
excluindo-se as entidades que sem fins lucrativos
responsabilidade social passando a ver nas
beneficiam seus próprios usuários como os clubes
organizações sem fins lucrativos canais importantes
esportivos;
para investimentos nas áreas sociais, ambientais e
culturais.
e) as ONGs - Organizações não governamentais:
são organizações que lutam por causas específicas, na
Neste momento, o conceito de Terceiro Setor,
sua maioria em caráter assistencial e são mais de 250
que de certa forma estava vinculado às ONGs,
mil em todo o Brasil, movimentando R$ 12 bilhões/ano,
estende-se a outros atores e serviços, incluindo-se a
que corresponde a 1,2% do PIB nacional (KANITZ,
filantropia empresarial, as associações beneficentes e
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
16
ESTADO E TERCEIRO SETOR: PARCEIROS POR UMA SOCIEDADE JUSTA E IGUALITÁRIA
Deborá Cristina Thomaz Evangelista
2004); 2004).
Contudo, o grande desafio do terceiro setor não é
f) as Empresas com Responsabilidade Social: mais obter o reconhecimento dos outros setores, mas
empresas que vão além da produção de seus produtos dar resposta a quatro questionamentos básicos: o
e o fazem a partir de uma administração responsável primeiro, é produzir e disseminar informações sobre o
socialmente de seus negócios, colaborando para uma que é e o que faz o terceiro setor; o segundo, é melhorar
sociedade mais justa; a qualidade e a eficiência das organizações e
programas sociais que abarcam; o terceiro, é aumentar
g) as Empresas Doadoras: empresas que doam a base de recursos e a sustentabilidade de suas
parte de seus rendimentos e ajudam sustentar o organizações e, por fim, estabelecer condições para o
Terceiro Setor. No Brasil, a maioria das doações são aumento da participação voluntária (Rede de
efetuada por empresas de médio e pequeno porte, Informações para o Terceiro Setor, 2004).
sendo que apenas 100 empresas das 500 maiores do
País são parceiras e das 250 multinacionais apenas
20 são admiradas pelo seu trabalho social (KANITZ,
CONCLUSÃO
2004);
Resgatar o papel do Estado na sociedade
contemporânea é, sem dúvida, reconhecer que a
h) Elite Filantrópica: são as pessoas físicas
sociedade é dividida em classes e que o papel
“ricas” parceiras do Terceiro Setor. No Brasil, apenas
fundamental do Estado é garantir um equilíbrio que
Jorge Paulo Lehman e a família Ermírio de Moraes são
permita uma vida digna para todos os cidadãos. Cabe
considerados bons parceiros, os demais pertencem à
ao Estado estabelecer uma relação próxima e
classe média, e a tendência que se verifica é que
igualitária entre as classes, favorecendo a
quanto mais pobre, maior a percentagem de renda
possibilidade de gradativamente extingüi-las. Trata-se
doada. As empresas contribuem apenas com 10% da
de reinventar o Estado a partir de um comprometimento
verba filantrópica global e as pessoas físicas com os
com o bem estar coletivo e não com a mantença de uma
outros 90% (KANITZ, 2004);
classe dominante no poder.
i) Empresas Juniores Sociais: são empresas de
O surgimento do chamado Terceiro Setor,
estudantes que prestam serviços de assessoria a
concebido como parte da sociedade que de forma
ONGs e outras entidades.
organizada procura sanar as deficiências deixadas
pelo Estado, evidencia um novo fenômeno social, a
Observa-se que o crescimento do Terceiro Setor
participação ativa de todos os membros da sociedade,
no Brasil está relacionado ao surgimento e à
abrindo novos espaços de discussão, exigindo e
proliferação das ONGs, associações civis e fundações,
provocando mudanças sociais significativas.
donde é possível verificar que a expansão se dá em
dois campos básicos, o assistencial e o reivindicatório.
Não há de se confundir o papel e a importância do
Segundo o Instituto Brasileiro de ONGs, as pesquisas
Estado com o papel e a importância do Terceiro Setor,
mostram que o Terceiro Setor representa 1,5% do PIB
ambos são imprescindíveis para a concretização da
brasileiro e emprega 1,3 milhões de pessoas
democracia participativa e a diminuição das mazelas
apresentando fortes tendências à expansão,
sociais. É a parceria desses dois setores que será
considerando que nos países desenvolvidos a média é
efetivamente capaz de humanizar o Mercado e garantir
de representação de 5% do PIB.
a transformação da sociedade, tornando-a mais justa e
igualitária.
O Terceiro Setor enfrenta a superação da sua
caracterização legal que apesar da edição em 1999
com a Lei 9.790 conhecida como a Lei das OSCIPs REFERÊNCIAS
(Organização da Sociedade Civil de Interesse CORREIA, Darcisio (Org). Direito Espaço Público
Público), que estabelece a finalidade e os critérios de e Transformação Social. Ijuí: Unijui, 2003.
transparência para as atividades desenvolvidas pela
______. A Construção da Cidadania Reflexões
Sociedade Civil, ainda permanece juridicamente sem
Histórico-Políicas. Ijui: Unijui, 2002.
regras claras e objetivas. Por isso, a permanência do
movimento da “Reforma do Marco Legal” que busca
BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos, Wilhein, Jorge e
estabelecer leis mais claras neste sentido (WÖHLKE,
Sola, Lurdes, organizadores. Sociedade e Estado em
W O L F E , A l a n : Tr ê s c a m i n h o s p a r a o
desenvolvimento: mercado, Estado e sociedade
civil in vários autores, Desenvolvimento, Cooperação
1. INTRODUÇÃO
Resumo Ao se discutir sobre o
pensamento estratégico, surge
O presente artigo refere-se à aplicação e desenvolvimento de um modelo de
gestão baseada no pensamento estratégico, conciliando o planejamento estratégico uma questão intrigante entre os
com a avaliação institucional. Essa abordagem parte do seguinte questionamento: analistas e estrategistas: Quais são
Quais são os fatores de sucesso de uma Instituição? Quais fatores internos ou externos os fatores de sucesso de uma
que interferem no êxito desse sucesso? Um dos requisitos indispensáveis para o
sucesso de qualquer instituição, seja ela pública ou privada é o desenvolvimento de um Instituição? Quais fatores internos
pensamento estratégico por parte das lideranças, pautado nas atitudes e objetivos ou externos que interferem no êxito
estratégicos da organização. Para o desenvolvimento desse modelo de gestão,
existem várias metodologias, sendo que para este estudo, optou-se por adotar uma desse sucesso? Para serem bem
metodologia baseada em estratégias para retratar um ambiente institucional, além de sucedidas em um mundo de
sugerir um sistema de avaliação permanente, com critérios e parâmetros baseados na mudanças cada vez mais rápidas,
realidade de um mercado educacional competitivo, como forma de acompanhamento e
retroalimentação do sistema. as organizações necessitam
Palavras-chaves: Planejamento estratégico, Avaliação Institucional e inovações constantes e um modelo
Pensamento Estratégico
estratégico de gestão que seus
dirigentes sejam criativos,
que há uma grande necessidade de preparar os literatura (teorias), embasada em autores que abordam
líderes para a capacitação da gestão com o temas sobre planejamento estratégico, avaliação
pensamento estratégico. Na maioria das vezes, a institucional e pensamento estratégico. A análise se
dificuldade está exatamente na prática de um deu mediante a visualização da realidade do setor
pensamento voltado apenas para a realidade educacional a fim de que se possa traçar um plano.
quotidiana, ou seja, no curto prazo, esquecendo-se Assim, esses dados foram subsídios primordiais para a
que o pensamento estratégico é mais abrangente, realização do presente artigo.
sempre a longo prazo e que exige uma capacidade de
aprendizagem total.
4. REFERENCIAL TEÓRICO
O Artigo divide-se em três etapas, iniciando com
Estratégia não é um assunto novo. Segundo a
a contextualização do estudo através da introdução,
história, desde os primórdios o homem se organizou
objetivos e metodologia. A segunda etapa aborda o
em tribos para defender a sua espécie e conquistar o
referencial teórico sobre planejamento estratégico,
que não lhe pertencia. O próprio conceito da palavra é
pensamento estratégico e métodos de avaliação
originária do grego strategia, que significa a arte ou
institucional. A terceira etapa é composta pela
ciência do general, segundo Zaccarelli (2002). Os
discussão e apresentação de resultados do estudo,
generais gregos organizavam seus exércitos para se
seguida pelas considerações finais e referências
protegerem contra as investidas de seus inimigos e
bibliográficas.
conquistar novos territórios.
da corporação, capacitando as pessoas a pensarem existe uma “receita de bolo” pronta, pois, como salienta
estrategicamente, orientando-as para a mudança de Ribeiro (2004), que só entende avaliação institucional
comportamento dos tomadores de decisão. como um instrumento de desenvolvimento humano.
Vasconcelos Filho; Pagoncelli (2001), afirmam que a Huguet (apud Suanno, 2004), afirma que a auto-
estratégia competitiva visa criar uma posição defensiva avaliação é um processo interno, com padrões próprios
contra as forças competitivas, aproveitando as e específicos de cada instituição. Cabe às instituições
oportunidades, protegendo-se frente às ameaças, construir uma forma de avaliação contemplando os
reforçando os pontos fortes e diminuindo os pontos principais indicadores econômicos e mercadológicos,
fracos, a fim de se manter no mercado. que permitam avaliar aspectos relevantes e que
possibilitem ter uma visão sistêmica da instituição.
No Brasil, com a globalização e a abertura dos Suanno (2004), ainda conceitua que a auto-avaliação
mercados mundiais, as organizações passaram a ter deve levar em consideração os indicadores internos e
cada vez mais necessidade de pensarem externos da instituição. Nesse sentido, Takashima;
estrategicamente para se tornarem competitivas. Flores (1996), explicam que indicadores são formas de
Nesse sentido, Mintzberg; Ahlstrand; Lampel (2000), representação quantificáveis das características de
argumentam que o pensamento estratégico deve ser produtos e processos. Podem ser utilizados pelas
entendido como visão, onde o estrategista deve olhar organizações para controlar e melhorar a qualidade e o
para trás, para cima, para baixo, adiante, ao lado, além desempenho ao longo do tempo e estão associados às
e, principalmente, através. características da qualidade dos bens e serviços
julgados pelos clientes. Tavares (1991), afirma ainda
É de fundamental importância que a empresa que esses indicadores relativos à freqüência,
identifique os fatores chave de seu sucesso e consiga permanência e da origem da informação, podem ser
se posicionar de modo a conseguir vantagem utilizados como indicadores para compor os cenários
competitiva frente a seus concorrentes e, da organização. A avaliação de um gerenciamento é
conseqüentemente, ganhar mercado. A dinamização medida através de seu desempenho, seja ele bom ou
do processo de tomada de decisão no contexto mau. Existem diversos parâmetros para comparar os
organizacional pressupõe conhecimento do ambiente resultados obtidos pela organização. Nesse
através de um diagnóstico correto dos pontos fortes e entendimento, Kaplan; Norton (1997), descrevem que
os pontos fracos da organização (oportunidades de a medição é importante, pois aquilo que não se
melhoria), vislumbrando, também, as ameaças e consegue mensurar não pode ser gerenciado.
oportunidades atuais e potenciais do ambiente e Entretanto, nesta ótica, Anthony; Govindarajan (2002),
projetando cenários desafiadores. A organização pode relatam que o controle gerencial é um dos vários tipos
selecionar e implementar as melhores estratégias e de atividades de planejamento e monitoramento que
caminhar a passos largos rumo ao seu ocorrem em uma organização que se encaixa entre a
desenvolvimento. Para Mintzberg (2004), há dois tipos formulação da estratégia e o controle de tarefas.
de planejadores: os de mão direita que são analíticos, Consiste em planejar o que a organização deve fazer,
próximos da imagem do planejador estratégico, que coordenar as atividades de várias partes da
trazem consigo a ordem e a organização e os de mão organização, comunicar, e avaliar a informação, decidir
esquerda que pensam criativamente, que gostam de se deve ser tomada uma decisão ou que decisão tomar
procurar estratégias em lugares estranhos e que e influenciar as pessoas para que alterem seu
encorajam outros a pensar estrategicamente. Estes comportamento.
utilizam processos intuitivos, menos convencional
entre as organizações. Para Kaplan; Norton (1997) o Balanced
Scorecard traduz a missão e a estratégia das
Ao se estudar a avaliação institucional, em empresas num conjunto abrangente de medidas de
primeiro lugar, é necessário se analisar o ambiente, e desempenho que serve de base para um sistema de
este deve ser composto por um sistema de informações medição e gestão estratégica. Nesse sentido, Prado
consistentes e eficientes. Segundo Porter (1989), a (2002), esclarece que o Balanced Scorecard é uma
revolução da informação está passando de roldão por ferramenta de apoio para acompanhar e monitorar as
toda a economia. Nenhuma empresa escapa de seus evoluções das decisões das organizações, centradas
efeitos. em indicadores chaves, onde cada pessoa na
organização deve entender cada aspecto ligado à
Para realizar uma avaliação institucional não estratégia para que o sucesso seja pleno.
Qualidade
Figura 1: O Balanced Scorecard como estrutura para ação
Àrea problemática Àrea problemática
estratégica Avaliação da avaliação do Planejamento Planejamento
Institucional institucional Estratégico Estratégico
5. DISCUSSÃO E APRESENTAÇÃO DE
RESULTADOS
Estratégias Emergentes
Análisede
Análise de
para um diagnóstico real. Entende-se que a escola do
Estratégias Emergentes
Ambiente
Ambiente
2004.
RIBEIRO, Célia Maria. Avaliação Institucional: uma
CHIAVENATO, Idalberto. Administração: Teoria, questão de desenvolvimento humano. Artigo.
Processo e Prática. 2 ed. São Paulo: Makron Books, D i s p o n í v e l e m
1997. www.prodirh.ufg.br/cavi/docs/artigo_congresso.doc .
Acesso 20 ago 2004.
EVANGELISTA, Mário L.; AWAD, Faisal M.
Estratégias para o desenvolvimento do setor SENGE, Peter. A Quinta Disciplina: arte e prática da
secundário de Palmeira das Missões. Artigo. Revista organização que aprende. 13 ed. São Paulo: Best
SETREM, Três de Maio RS, v. III, n. 4, p. 5-12, jan- jun. Seller, 2002.
2004.
SUANNO, Marilza Vanessa Rosa. Auto-avaliação
EVANGELISTA, Mário L.; RAMBO, Jorge A.; DUTRA, institucional: princípios e metodologias do
Eliana. Planejamento Estratégico baseado em princípio focal. Artigo. Disponível em
Cenários. Artigo. Anais. Congresso XV ENANGRAD http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/avinst01.htm .
Florianópolis SC. 31 ago. a 03 set. 2004. Acesso 20 ago 2004.
INTRODUÇÃO
1 - A expressão indústria cultural foi empregada por Adorno e Horkheimer na obra escrita por ambos, Dialética do Iluminismo, datada de 1947.
Adorno chama de indústria cultural ao que anteriormente concebia-se como "cultura de massas". Não é um tipo de cultura que surja
espontaneamente do povo; tampouco o que se pode conceber como cultura popular. A indústria cultural é uma produção dirigida para o consumo
das massas.
2 - Os processos midiáticos, entendidos como a comunicação humana mediada pelos meios de comunicação de massa (televisão), constituindo-
se de instâncias produtoras e receptoras, com os respectivos sujeitos envolvidos e os cenários amplos e restritos que os enformam, dos próprios
meios impregnados na produção e circulação das mensagens, dos suportes que permitem essa circulação, dos produtos midiáticos frutos desse
processo, e da complexa relação entre as diferentes linguagens empregadas na manifestação de tais produtos. (DUARTE, Elizabeth Bastos.
2000. Considerações sobre a produção midiática. In: Mídias e Processos de Significações. São Leopoldo, Unisinos.)
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
29
A INVENÇÃO DA INFÂNCIA: ANTAGONISMOS E FABRICAÇÕES
Cristiana Callai de Souza
Arendt (1979), considera que, por mais grave que ARENDT, Hannah. 1979. Entre o Passado e o Futuro.
possam ser as violações das condições para o São Paulo. Perspectiva.
crescimento vital das crianças, é certo que elas não
foram de todo intencionais, o objetivo central de todos ARIÈS, Philippe. 1981. História Social da Criança e
os esforços foi o bem estar da criança, fato este que da Família. Rio de Janeiro. Guanabara.
nem sempre promoveu o bem estar da maneira
esperada. BAUDRILLARD, Jean. 1991. Simulacros e
Simulações. Lisboa. Relógio d'Água.
Fernandes (1997), enfatiza para o narcisismo
dos adultos que passaram a investir sua prole como um BETTS, Jaime. 1999. Missão Impossível?: Sexo,
bem a ser cuidado e protegido. Sentimento que Educação e Ficção Científica. In: CALLIGARIS,
necessita um mínimo de condições materiais que lhe Contardo. Educa-se uma criança? Porto Alegre: Artes
dêem sustentação: “Gostava delas. Mas ainda bem e Ofícios.
que Deus levou. Como eu ia sustentar tantas bocas.
DUARTE, Elizabeth Bastos. 2000. Considerações
Confesso, nunca chorei em enterro de filho meu. Não
sobre a produção midiática. In: Mídias e Processos
vou me rebelar contra a vontade de Deus. E, se morrer
de Significações. São Leopoldo, Unisinos.
mais um, é menos uma cruz para eu carregar. Bocas
para alimentar, cruzes para carregar, é como pensa FERNANDES, Heloísa Rodrigues. 1997. Infância e
Iracema, quinze filhos, nove dos quais mortos”, Modernidade: doença do olhar. In: GHIRALDELLI,
residente em Teotônio Villela, Alagoas, em 1995 (Folha Paulo. Infância, Escola e Modernidade. São Paulo.
de São Paulo, 12 de fev. 1995, p 1-8). Cortez
3 - Função Paterna, é a função de interdição sobre a qual repousa a cultura, interdição fálica de um gozo que seria ilimitado se a morte não viesse
antes e estragasse a chance de desfruta-lo. Em nossa cultura ocidental, essa função recai sobre o pai simbólico, que interdita o que no registro do
real é o impossível e no registro do imaginário é vivido como impotência. (Betts, Jaime Alberto. Educa-se uma criança? Porto Alegre, Artes e
Ofícios, 1999. P.61)
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
30
Informática
1. INTRODUÇÃO
Para realizar este estudo foi feita uma pesquisa encontrados na Região, mas subutilizados.
em hospitais da região (dentre eles, os mais
estruturados e procurados aplicando um questionário 2.1. Setores Hospitalares
elaborado para a coleta de informações durante o mês
de junho do ano de 2004. Esta pesquisa ofereceu uma Os itens sugeridos foram organizados com base
visão das condições destes Sistemas de Informações e na pesquisa realizada e comparada com alguns
identificou quais as deficiências existentes, como sistemas que já existem em empresas de outras
também o que pode ser mudado ou melhorado nesses regiões com sistemas mais utilizados na região e
sistemas. requisitados por estas instituições.
Isso mostra a relevância dessa pesquisa para a
abertura de portas no mercado de trabalho, pois 2.1.1. Internação
observa-se que a região Noroeste do Estado do RS tem
uma carência de profissionais que atuam O sistema realiza o cadastro único do paciente
especificadamente nesse mercado como também de com dispositivos que alertam sobre a duplicidade da
empresas que produzam e forneçam programas informação para buscas rápidas por nome, data de
específicos dessa área e atuem na implantação e nascimento e nome dos pais. Também deve propiciar
manutenção desses sistemas, como também na facilidade, segurança e rapidez na alocação de leitos
instalação de equipamentos computacionais podendo conter a planta física (layout) do hospital na
apropriados, além da consultoria necessária antes de tela do computador e permitindo que toda a
se aplicar um trabalho desse porte. Isso permitiria maior movimentação de paciente seja feita de forma visual.
facilidade para a prestação de serviços e agilizar o
atendimento, buscando-se as soluções na própria Deve gerenciar visualmente a ocupação do
região. hospital permitindo ao administrador saber, em tempo
real, qual é a ocupação efetiva do mesmo e quais leitos
estão em manutenção ou em limpeza, além de permitir
2. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO a integração com os setores de farmácia e faturamento
HOSPITALARES com os quais tem ligação. [PersonalMed] [WebLabs]
setores informatizados com distribuição de máquinas hospital. São exemplos de sistemas departamentais
igualmente em cada setor (não havendo a todos os sistemas da área hospitalar-administrativa e
concentração de computadores em apenas alguns sistemas como o de laboratório. Quando o sistema é
setores). departamental, geralmente não oferece uma visão
completa do prontuário do paciente e dificilmente
permite a integração com outros sistemas. A definição
de sistema de prontuário eletrônico surge em oposição
às características dos sistemas departamentais.
O prontuário médico eletrônico deve fornecer
uma visão única e integrada das informações médico-
hospitalares do paciente. Esta conceituação não
implica na existência de um sistema fisicamente
centralizado, mas deve prever a continuação dos
sistemas departamentais autônomos, acrescidos de
Gráfico 3: Número de Hospitais que têm profissionais de informática um controle lógico central que permita a integração de
atuando na instituição.
informações geradas localmente, proporcionando uma
visão completa e uniforme das informações médicas
Outro item observado é que na maioria das do paciente.
instituições hospitalares há a atuação de um De todos os hospitais em que houve a aplicação
profissional qualificado na área de informática do questionário, todos afirmaram ter um sistema que
trabalhando internamente (gráfico 3), ou para englobe as informações do tratamento e evolução do
desenvolver pequenos sistemas, ou para solucionar paciente, ou seja, um histórico detalhado do paciente,
pequenos problemas ligado à área. Dentre os mas muito pouco utilizado. A justificativa é de que cada
hospitais que têm algum profissional da área da cliente deve e quer ser atendido com atenção exclusiva
informática, ou que precisam da atuação indireta de e rápida, não havendo a possibilidade de colocar as
algum profissional, percebe-se que a grande maioria informações no sistema, da forma que ele exige.
são funcionários do hospital (gráfico 4). Outras
instituições hospitalares já estão optando por serviço
terceirizado, trazidos de fora da região, o qual faz o
treinamento inicial para o pessoal que irá trabalhar no
sistema, como também é a mesma empresa que faz a
manutenção quando necessário. Neste ponto,
percebe-se a dificuldade destas instituições quando
surgem problemas, pois a distância certamente
prejudica a rapidez e os custos desta manutenção.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Resumo Reconhecendo a
importância da água para a
A água é um recurso natural garantidor da vida. A espécie humana, ao longo do
tempo, tem alterado o ambiente, provocando, muitas vezes, impactos que sobrevivência das diferentes
comprometem a sobrevivência dos seres vivos. A quantidade e a qualidade dos espécies, urge que as pessoas
recursos naturais que sustentam a vida estão ameaçadas de extinção, prova disso é a
escassez de água potável no mundo. A sociedade humana construiu a relação que aí percebam a necessidade de uma
está e só ela poderá mudá-la. Partindo-se do pressuposto que a consciência do ser mudança brusca nos hábitos de
humano se constitui nas interações que estabelece consigo, com os outros e com o consumo, pois a água é um recurso
ambiente, num processo histórico-cultural, é imprescindível para a superação dos
discursos ditos ambientalistas e das práticas de Educação Ambiental momentâneas, natural finito, de valor inestimável e
investir em ações construídas coletivamente, envolvendo diferentes segmentos da sua qualidade depende da nossa
sociedade para a preservação da água potável. Urge a prática de uma Educação
Ambiental que promova uma ação ética do cidadão frente aos recursos naturais que ação enquanto cidadãos,
são de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de vida das presentes e habitantes deste Planeta.
futuras gerações. O professor, como agente interativo, é capaz de sensibilizar seus
alunos para serem disseminadores, na sociedade, de uma nova relação política, social,
econômica e ambiental, tão necessária para a garantia da vida no planeta. Acreditando na possibilidade
Palavras-chaves: Água. Vida. Educação Ambiental. Sociedade Humana. de uma Educação Ambiental que
promova uma ação ética frente aos
sociais interagirem entre si, estabelecendo outros Natureza, iniciado com o aperfeiçoamento da mão,
com o trabalho, ampliava o raio de percepções do
níveis de consciência, ou seja, forem capazes de
homem, a cada novo progresso. Nos objetos
romper com as formas tradicionais de ação. Acredita- naturais, descobria ele constantemente outras
se que uma maneira eficaz de sensibilizar a sociedade qualidades até então desconhecidas. Por outro
humana da necessidade de preservação dos recursos lado, o aperfeiçoamento do trabalho, contribuía
naturais é conhecer mais a história dessa relação. para aproximar, cada vez mais, os membros da
sociedade.
PRESERVAÇÃO DA ÁGUA
A transformação da humanidade se
complementa à medida que o ser humano aprendeu a
Desde os primórdios da existência do ser
se alimentar de tudo quanto é comestível, a viver em
humano, este interagiu com a natureza, provocou
diferentes climas e espalhar-se, autonomamente, por
alterações como qualquer ser vivo mas, a medida que o
toda a superfície habitável da Terra (ENGELS, 1985).
tempo foi passando, o impacto no ambiente foi
aumentando. As evidências fossilíferas indicam que há
No começo da história, os seres humanos viviam
mais de 400.000 anos a linhagem dos hominídeos se
em grupos. Primeiro em bandos, depois em tribos,
iniciou, mas de 200.000 anos para cá, esses fósseis
transladavam de um lugar para outro e a alimentação
apresentam características modernas, constituindo o
se baseava na caça de animais fáceis de capturar,
Homo sapiens. Conforme Futuyma (1992, p.542), “a
pescar, na coleta de fragmentos de vegetais, frutos e
linhagem que deu origem ao homem atual divergiu
raízes. Interagiam com o ambiente de forma
daquela que originou os grandes macacos pelo menos
respeitosa, retirando apenas o necessário para sua
de 3,5 a 4 milhões de anos, com a evolução para uma
sobrevivência. As florestas, os rios e os lagos eram
postura bípede precedendo grandes alterações na
usufruídos coletivamente.
mão e no crânio”.
O manuseio dos utensílios e ferramentas, que
O uso da mão facilitou aos hominídeos
eram de uso pessoal, permitiu a cada indivíduo o
segurarem os alimentos, colherem os frutos e, ainda,
desenvolvimento da linguagem, do cérebro e da
transformarem pedaços de sílica em faca, adquirindo,
comunicação entre os sujeitos, formando uma
assim, novas habilidades que podiam ser herdadas e
sociedade capacitada para a realização de novas e
melhoradas de geração em geração, como afirma
mais complexas atividades.
Engels (1985, p.217):
O animal apenas utiliza a Natureza, nela
A mão não é apenas o órgão do trabalho: é também
produzindo modificações somente por sua
um produto deste. [...] Mas a mão não estava só.
presença; o homem a submete, pondo-a a serviço
Era uma parte apenas de todo um organismo
de seus fins determinados, imprimindo-lhe as
altamente complicado. E o que era proveitoso para
modificações que julga necessárias, isto é, domina
a mão era igualmente útil para o corpo, a cujo
a Natureza. E esta é a diferença essencial e
serviço ela se encontrava. E essa atividade era
decisiva entre o homem e os demais animais; e,
duplamente proveitosa. [...] O domínio da
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
38
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A PRESERVAÇÃO DA ÁGUA
Dinara Bortoli Tomasi - Maria Cristina Pansera de Araújo
por outro lado, é o trabalho que determina essa de se dedicar apenas à colheita de frutos, à caça e ao
diferença. [...] Os homens que na Mesopotâmia, na pastoreio, para trabalhar a terra, alterando, assim,
Grécia, na Ásia Menor e noutras partes do mundo
ainda mais, os ecossistemas e o próprio modo de vida
destruíram os bosques, para obter terra arável, não
podiam imaginar que, dessa forma, estavam dando
da humanidade, que se tornou sedentária. Isso tudo
origem à atual desolação dessas terras ao despojá- provocou um acúmulo de pessoas num mesmo local,
las de seus bosques, isto é, dos centros de levando alguns seres humanos a se preocuparem com
captação e acumulação de umidade. (ENGELS, as questões ambientais, especialmente com a
1985, p.223-224) qualidade das águas1, o destino dos esgotos e do lixo.
A humanidade como parte da Natureza, por muito A vida sedentária começou provavelmente nas
tempo, acompanhou o ciclo dos seres numa relação proximidades dos grandes rios: na Mesopotâmia (entre
interdependente e dialética (FUTUYMA, 1992). No Tigre e Eufrates), no Egito (às margens do Nilo), na
procedimento inicial, o ser humano, o grupo e a Índia (às margens do Indo) e na China (às margens do
natureza se confundiam como seres idênticos. Esse Hoangô) (CHASSOT, 2000).
primeiro modelo de relação entre Natureza e Cultura,
segundo Castells (1999, p.505), Para aumentar a produção agrícola, a sociedade
humana começou a construir instalações para
...foi caracterizado, há milênios, pela dominação da
captação e eliminação de águas, implicando em
Natureza sobre a Cultura. Como a antropologia nos
ensinou, remontando os códigos da vida social às
derrubada de matas. A água potável era transportada
raízes de nossa identidade biológica, os códigos de de longa distância e os dispositivos utilizados para o
organização social expressaram quase transporte, das montanhas para as cidades, assumiam
diretamente a luta pela sobrevivência diante dos a forma de aquedutos que eram construídos de arcos
rigores incontroláveis da Natureza. de pontes que sustentavam inúmeros canais, abertos
ou cobertos (LIEBMANN, 1976).
Até então, a natureza era entendida como uma
reserva de beleza e verdade que garantia aos Na Antigüidade, especialmente a civilização da
humanos a sua subsistência. Essa fase caçadora- região mediterrânea, havia três preocupações em
coletora se estendeu até cerca de 15 a 10 mil anos relação à preservação ambiental: a erosão do solo, os
atrás, quando se desenvolveu a agricultura. Esta foi recursos hídricos e a prática da higiene. “...nas
responsável pelo início da transformação humana na civilizações antigas, as preocupações com a água
face da Terra (FUTUYMA, 1992). foram, desde os seus primórdios, um fator econômico
predominante. As primeiras leis da humanidade,
Conforme Morin (2001, p.45), fixadas por escrito, são códigos que regulam o uso da
água” (LIEBMANN, 1976, p.84).
Os indivíduos são produtos do processo reprodutor
da espécie humana, mas este processo deve ser
ele próprio realizado por dois indivíduos. As
Nessa época, os cursos de água e as fontes
interações entre indivíduos produzem a sociedade, mereciam a veneração da população, como
que testemunha o surgimento da cultura, e que demonstrado no Antigo Testamento, no livro de
retroage sobre os indivíduos pela cultura. Cada um Ezequiel:
desses termos é ao mesmo tempo meio e fim: é a
cultura e a sociedade que garantem a realização Então o homem disse-me: “Você viu, criatura
dos indivíduos, e são as interações entre os humana?” E me faz voltar para a margem da
indivíduos que permitem a perpetuação da cultura torrente. Quando voltei, havia nas margens, de um
e a auto-organização da sociedade. Entretanto, lado e de outro, árvores abundantes. Ele me disse:
podemos considerar que a plenitude e a livre “Essa água que escorre para o lado oriental desce
expressão dos indivíduos-sujeitos constituem para a Arabá e entra no mar. Ao entrar no mar, a sua
nosso propósito ético e político. água se torna potável. Por isso, em todo lugar por
onde passar a torrente, os seres vivos que povoam
O ser humano, inserido na sociedade, começou a terão vida. Haverá abundância de peixes, pois
provocar mudanças significativas no ambiente; deixou onde quer que essa água chegue, ela levará vida.
De modo que haverá vida em todo lugar que a
1 -“A palavra Água refere-se ao elemento natural desvinculado de qualquer uso ou utilização, e nos três estados físicos fundamentais: sólido,
líquido e gasoso”. Recursos Hídricos referem-se à água enquanto bem dotado de valor econômico, portanto destinado a um ou outro uso ou
finalidade. A água destinada ao consumo humano é um recurso hídrico sendo classificada, em âmbito mundial, como doce (- de 1.000 mg/1, de
sólidos totais dissolvidos ou salinidade inferior a 0,5%). (Maria Lígia Cassol PINTO. De água a vontade a águas controladas. In: Brasil 500 Anos A
construção de uma nova nação. Ijuí: UNIJUÍ, 2000. P.173.)
torrente atingir. Nas suas margens existirão Essa relação passou a ser competitiva, individualista e,
pescadores, e desde Engadi até En-Eglaim haverá sobretudo, exploratória, dominada pelo sistema
lugares para jogar as redes. Haverá muito peixe,
econômico capitalista. O ser humano passou a ser
das mesmas espécies de peixes do mar
Mediterrâneo. Contudo, os brejos e pântanos não
consumidor desenfreado de materiais e energias,
serão de água potável; serão deixados como produtor de maior quantidade de resíduos e de
reservas de sal. Nas margens da torrente, de um poluentes e, conseqüentemente, os ecossistemas
lado e do outro, haverá toda espécie de árvores passaram a sofrer alterações alarmantes.
com frutos comestíveis, cujas folhas e frutos não se
esgotarão. Essas árvores produzirão novos frutos
Segundo Callai (1993, p.44),
de mês em mês, porque a água torrente provém do
santuário. Por isso, os frutos servirão de alimento e
as folhas de remédio”. (Antigo Testamento, a história da natureza e a história relacionam-se a
EZEQUIEL, 47, 6-12) escalas de análise diversas, com diferentes
dimensões de tempo. Embora seja um pequeno
ponto dentro da escala da natureza, a história do
Com relação à qualidade da água, havia uma homem e de sua busca pela sobrevivência através
preocupação maior, porém isso não se repetia em do trabalho determina profundas mudanças na
relação à preservação das florestas. A derrubada de ordem de relações que se estabelecem entre ele e a
matas era praticada para a construção de moradias, de natureza, passando-se da integração e da
navios e também para a expansão das lavouras, de cooperação para a dominação e a subordinação. O
homem, com a consciência de que pode alterar o
trincheiras e de caminhos em tempos de guerras.
seu espaço, tende a se diferenciar dos outros
Como conseqüência, as florestas diminuíam e perdiam animais. Quebra-se, pois, a harmonia; homem e
cada vez mais o seu papel de armazenadoras de água. natureza se distanciam; de fora da natureza o
O solo, sem vegetação, era carregado pela chuva para homem passa a agir sobre ela.
os estuários dos rios, levando nutrientes, contribuindo
para o seu assoreamento. O ser humano, agindo Conforme a descrição realizada por Thomas
assim, começou a não respeitar a escala do tempo da (2001, p.302), em seu estudo sobre a mudança das
natureza, o que comprometeu a relação dos seres atitudes em relação aos seres vivos entre 1500 e 1800,
vivos entre si e destes com o ambiente. Essas “para os propagandistas agrícolas dos séculos XVI e
primeiras atitudes dos seres humanos em relação às XVII, as charnecas, montanhas e pântanos não
florestas registraram o início de uma relação lavrados, eram o símbolo vivo do que merece ser
desarmônica com o ambiente. condenado”. Entretanto, louvava-se o solo que fora
limpo e conquistado frente às matas e aos arbustos.
O abastecimento de água à população humana e
a eliminação dos esgotos desempenharam importante Nessa época, a paisagem cultivada se
papel no planejamento das construções urbanas. caracterizava por formas cada vez mais regulares. De
Exemplo disso é Roma, que por volta dos anos 50 d.C, acordo com Thomas (2001, p.304), “a prática de plantar
já contava com grandes canalizações para o cereais ou vegetais em linhas retas não era apenas um
abastecimento de água potável, perfazendo mais de modo eficiente de aproveitar espaços escassos;
400 Km, o que possibilitava, a cada romano, a também representava um meio agradável de impor a
disponibilidade de 95 litros de água potável por dia ordem humana ao mundo natural desordenado”. A
(LIEBMANN, 1976). simetria e a regularidade eram traços essenciais da boa
agricultura que caracterizaram o início do período
Com o aumento da produção agrícola e a moderno, marcado pelo predomínio da sociedade
domesticação de alguns animais, o ser humano humana sobre o mundo da natureza.
percebeu que a estocagem dos alimentos era possível,
garantindo o seu sustento e a comercialização do O ser humano moderno intensificou a
excedente. Movidos por interesses e/ou necessidades, transformação dos recursos naturais em mercadorias
os humanos conceberam novas técnicas e construíram ou produtos voltados ao lucro. Em determinados
novos instrumentos que são utilizados cada vez mais momentos, tem-se a impressão de que a natureza é um
para modificar o mundo natural. manancial ilimitado de recursos à disposição dos seres
humanos e a maioria destes desconhece que o tempo
O projeto sociocultural da modernidade da natureza difere do tempo social. A dinâmica do
influenciou o relacionamento dos seres humanos entre Universo demorou anos para ser construída e o ser
si, bem como com os demais elementos do ambiente. humano é capaz de destruí-la, sem escrúpulo, em
BUARQUE, Cristovam. Ignacy Sachs: o professor MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria.
humanista para o século XXI. In: SACHS, Ignacy. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: Sulina, 1995.
Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de 189p.
1. HISTÓRICO
Resumo 1.1 Histórico da poluição
do ar
Este artigo inicia com a preocupação do uso de incineradores inadequados que
não possuem condições regulamentadas pelas normas ambientais no controle de
poluentes atmosféricos. O trabalho consiste em pesquisas e a fonte principal das No momento em que o
informações técnicas é uma indústria de incineradores hospitalares, localizada em homem descobriu o fogo teve início
Panambi, Rio Grande do Sul, Brasil. Para o desenvolvimento do produto foram
realizadas coletas de dados, no próprio incinerador, dando início a estudos do sistema a poluição do ar. Naturalmente, a
de incineração em relação aos poluentes atmosféricos gerados. O produto chamado atividade do homem primitivo não
“Lavador de Gases com Torre de Absorção” proporciona uma condição de tratamento
final dos gases após a incineração de resíduos hospitalares para futuras avaliações de pode ser comparada à atual.
instalação e operação conforme normas ambientais vigentes. A metodologia consiste Porém, não resta dúvida que
na forma de análises e pesquisas e, conseqüentemente, o trabalho dividido em cinco muitos de nossos antepassados
capítulos: os objetivos do trabalho, o conhecimento do resíduo, a definição para
análise, a proposta de projeto de produto para lavador de gases com torre de absorção remotos tiveram problemas ao
e as conclusões e recomendações. Assim, a proposta de fusão de duas tecnologias, acender uma fogueira em uma
inclusive a incineração, objetiva um produto de alta eficácia com a lavagem e absorção
de gases.
caverna mal ventilada.
Palavras-chaves: Incinerador hospitalar, lavador de gases, resíduo de serviço
de saúde. As queimadas - feitas
propositalmente em matas e
Abstract campos naturais a fim de limpar a
terra para o cultivo - também
constituem uma das mais antigas
This article starts with a concern about the use of inadequate incinerators,
presenting no conditions regulated by environmental norms on control of atmospheric fontes de poluição do ar
pollutants. The work is based on research and the main source of technical information provocadas pelo homem. Quando
is an industry of nosocomial incinerators located in Panambi, Rio Grande do Sul, Brazil. a sociedade passou a se organizar
For the development of the product data were collected on the proper incinerator,
launching studies of the incineration system related to generation of atmospheric em cidades, começaram a surgir
pollutants. The product called “Gas Washer with Absorption Tower” provides a final problemas mais sérios de
treatment condition for gases after nosocomial residues incineration basic for future
assessment of installation and operation according to current environmental norms. contaminação atmosférica, em
Methodology consists of analysis and research dividing the article in five chapters: geral ligados ao asfalto. Os fossos
objectives; the residues knowledge; analysis definitions; the proposal of product's que cercavam os castelos da idade
project for gas washer with absorption tower and the conclusion and recommendations.
So the proposition of fusion of two technologies, including the incineration, aims a média, por exemplo, além de sua
product of high efficacy with washing and absorption of gases. finalidade de defesa, recebiam os
Key words: nosocomial incinerator, gas washer, health service residue.
esgotos produzidos no seu interior;
isso os tornava extremamente
fétidos. Também não havia
1 - Engenheiro Industrial Mecânico, Mestre em Projeto de Produto, Professor de Engenharia da qualquer sistema de recolhimento
Produção Agroindustrial da SETREM. chinula@profnet.com.br
de lixo. Os detritos eram simplesmente lançados na combustíveis, no entanto, começaram a ser lançados
rua, onde se decompunham, produzindo odores elementos muito nocivos à saúde. Com isso, a poluição
bastante desagradáveis. Havia, ainda, os matadouros do ar deixou de ser um problema básico de bem-estar,
e curtumes, onde não prevalecia qualquer passando a representar, também, um risco real à
preocupação de ordem higiênica. Eles também poluição.
representavam grandes fontes produtoras de odores
fétidos, bem como os currais e cavalariças, sempre No início, esse risco estava quase limitado aos
localizados dentro das cidades. trabalhadores locais, como por exemplo os operários
das minas de carvão. Eram freqüentes entre esses
Hoje, nos grandes centros urbanos, embora operários mortes em acidentes de trabalho ou
tenhamos de respirar um ar bastante contaminado, intoxicações pelo ar insalubre do interior das minas.
responsável por muitos problemas de saúde, Com a intensificação da atividade industrial, esses
conseguimos eliminar em parte muitos dos problemas episódios deixaram de ser localizados tendo, assim,
que existiam nas primeiras formações urbanas dos uma abrangência maior, e passaram a atingir toda a
séculos passados. Podemos dizer que respirar numa população das cidades.
cidade moderna é mais perigoso, mas menos
desagradável que uma cidade da Idade Média. Já neste século, os centros urbanos adquirem
um novo panorama, tornam-se cada vez maiores e
1.2 A Revolução Industrial mais populosos. A utilização de veículos automotores é
crescente. Com isso, surgem os chamados episódios
A poluição do ar passou a ser considerada um críticos de poluição do ar em diversas partes do mundo,
problema mais abrangente, ligado à saúde pública, a alguns dos quais fazem muitas vítimas.
partir da Revolução Industrial, quando teve início o
sistema urbano atual. Nos séculos XVIII e XIX, Os mais antigos episódios críticos de poluição do
desenvolve-se a técnica industrial, inicialmente na ar conhecidos ocorreu muito antes da Revolução
Inglaterra e, depois, em outros países. Uma delas no Industrial, no ano de 1283. Nessa época, em algumas
setor da metalúrgica, como por exemplo, na Alemanha cidades da Inglaterra, a lenha se tornou escassa. A fim
em 1556, em algumas fundições possuíam câmaras de de substituí-la, era comum o uso de carvão mineral
sedimentações para retenção de particulados. A partir para aquecimento. Acontece que ao ar livre, esse
de 1769, com a invenção da máquina a vapor, o homem combustível fóssil não atinge uma queima completa,
finalmente consegue obter energia mecânica para produzindo grande quantidade de fuligem. Naquele
movimentar os mais variados artefatos, sem ter de ano, na cidade Nottingham, a quantidade de fumaça
recorrer à força animal. Julga-se poderoso com isso e negra era tão grande que a rainha, Eleanor de Castela,
passa, então, a usar indiscriminadamente essa nova esposa do rei Eduardo I, viu-se obrigada a abandonar a
técnica, através da queima de grandes quantidades de cidade. O rei Eduardo decretou, então, leis que
carvão, lenha, depois óleo combustível. Com isso, a proibiam a queima de carvão mineral. Consta nos
atmosfera dos centros industriais que vão se arquivos históricos que um homem chegou a ser
desenvolvendo se torna insalubre, perigosa para a decapitado por desobedecer a esse edito real.
saúde. Havia uma grande quantidade de fuligem em
suspensão e compostos de enxofre, nocivos ao 2. ESTRUTURAÇÃO DO PROBLEMA
sistema respiratório e à saúde em geral.
2.1. Definição do resíduo
Em 1829, surge a primeira locomotiva e, com ela,
as estradas de ferro. A partir daí, para se chegar ao Denomina-se resíduo os restos das atividades
sistema de transportes atual, foi uma contínua evolução humanas, considerados pelos geradores como inúteis,
tecnológica. Nasce, então, um grande grupo de indesejáveis ou descartáveis. Normalmente,
poluidores do ar, os veículos automotores. apresentam-se sob estado sólido, semi-sólido ou
semilíquido.
1.3 A poluição do ar é perigosa
2.2. Classificação do resíduo
Embora muito desagradável, os odores
existentes nas cidades medievais não eram, por si só, São várias as formas possíveis de se classificar o
tóxicos. Com a intensificação da queima de resíduo. Por exemplo:
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
47
ESTABELECER AS BASES PARA O PROJETO DE UM EQUIPAMENTO DE CONTROLE DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM INCINERADORES DE
RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Vilson Bernardo Stollmeier
- Por sua natureza física: seco e molhado. Também, outra classificação do resíduo quanto à
origem (processo de geração), ou seja, domiciliar,
- Por sua composição química: matéria orgânica comercial, público, serviços de saúde, industrial,
e matéria inorgânica. portos, aeroportos e terminais ferroviários e
rodoviários, agrícola e entulho.
- Pelos riscos potenciais ao meio ambiente:
perigosos, não inertes e inertes. 2.3. Resíduos sólidos de serviços de saúde
(RSS)
Assim, a classificação dos resíduos sólidos
quanto à periculosidade pode ser: Até há muito pouco tempo e ainda atualmente
os resíduos sólidos de serviços de saúde eram
- Classe I (perigosos) - apresentam risco à saúde denominados resíduos hospitalares, numa referência
pública ou ao meio ambiente, caracterizando-se por explícita aos resíduos gerados por aquele tipo de
possuir uma ou mais das seguintes propriedades: estabelecimento. Verificou-se, porém, que outros tipos
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade de estabelecimentos também geravam os resíduos
e patogenicidade. com características similares aos dos resíduos
gerados em hospitais e que estes geradores eram, em
- Classe II (não-inertes) - podem ter propriedades sua maioria, os estabelecimentos prestadores de
como: combustibilidade, biodegradabilidade ou serviços de saúde, seja humana ou animal. Assim,
solubilidade, porém, não se enquadram como resíduo I criou-se a denominação aceita no meio técnico de
ou III. Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS). Assim,
além dos hospitais, outros estabelecimentos, tais como
- Classe III (inertes) - não têm constituinte algum farmácias, laboratórios de análises clínicas,
solubilizado em concentração superior ao padrão de consultórios médicos e odontológicos, clínicas e
potabilidade de águas. hospitais veterinários, bancos de sangue e congêneres
também podem gerar RSSS. Para se conhecer a
O conceito da classificação da geração do potencialidade de risco dos RSSS, a Associação
resíduo é dividido em: produção do produto de capital, Brasileira de Normas Técnicas ABNT estabeleceu
produção do produto de consumo e produção do uma classificação, a NBR 12807 (1993) que auxilia
produto de serviço. nesse tipo de avaliação. Fazse necessário, portanto,
conhecer as atividades desenvolvidas pelos
O esquema (Fig. 1) abaixo demonstra o processo estabelecimentos de serviços de saúde para conhecer
de geração dos resíduos: o resíduo ali gerado (FORMAGGIA, 1995).
municipais e de serviços de saúde, sendo feita a - esterilização dos resíduos: a incineração destrói
temperaturas acima de 800°C. Os gases de combustão bactérias e vírus presentes nos resíduos devido às
devem ser mantidos a 1200°C por cerca de 2 elevadas temperaturas atingidas no interior dos
segundos, com excesso de ar e turbulência elevados a incineradores, sendo amplamente utilizada no
fim de garantir a conversão total dos compostos tratamento de resíduos de serviços de saúde;
orgânicos presentes no resíduo sólido municipal e no
resíduo de serviço de saúde a gás carbônico e água. - desentoxicação: empregando boas técnicas de
combustão, produtos orgânicos tóxicos, como óleo
As desvantagens da incineração de resíduos ascarel e produtos aromáticos, podem ser destruídos,
consiste em: razão pela qual a incineração é amplamente utilizada
para o tratamento de resíduos industriais e
- custo elevado: a incineração apresenta custos descontaminação de solos contendo produtos
elevados de instalação e de operação; no entanto, este químicos orgânicos tóxicos.
custo, nas grandes metrópoles com baixa
disponibilidade de áreas adequadas, está se O tratamento térmico de RSSS, do ponto de vista
aproximando do custo de disposição em aterros de um sistema de gerenciamento integrado de
sanitários; resíduos, deve estar associado à implantação prévia de
políticas de redução e reciclagem de resíduos.
- exigências de mão-de-obra qualificada: os
processos de incineração, independente do porte da Os tratamentos térmicos podem ser classificados
unidade, exigem pessoal qualificado para garantir a como sendo de alta ou baixa temperatura. Os
qualidade da operação; tratamentos a alta temperatura normalmente ocorrem à
temperatura acima de 500°C e objetivam,
- presença de materiais nos resíduos que geram principalmente, a destruição ou remoção da fração
compostos tóxicos e corrosivos: alguns materiais, orgânica presente no resíduo, com redução
como pilhas, alguns plásticos, etc., liberam compostos significativa da sua massa (70%) e volume (90%), bem
tóxicos e ácidos que não podem ser eliminados por como a sua assepsia. A energia contida nos resíduos,
boas técnicas de combustão, exigindo a instalação de nesses processos, pode ser parcialmente aproveitada,
sistemas de limpeza de gases. podendo gerar energia elétrica, água quente e vapor,
ou combustíveis alternativos, auxiliando na redução do
As vantagens da incineração de resíduos custo operacional do tratamento térmico
consistem em:
Segundo Vilhena (2001), os tratamentos a baixa
- redução drástica de massa e volume a ser temperatura ocorrem a temperaturas em torno de
descartado: a taxa de redução média em massa é de 100°C e visam, principalmente, a assepsia do resíduo
70% e de volume 90%, diminuindo o volume destinado sólido, razão pela qual são empregados somente para
para aterro; o tratamento de resíduo sólido de saúde. Nesses
processos, a massa dos resíduos e o conteúdo de
- recuperação de energia: parte da energia matéria orgânica praticamente não se alteram, mas
contida nos resíduos pode ser recuperada para pode-se obter uma redução significativa no seu
geração de energia elétrica e /ou vapor de água; volume.
andamento da pesquisa, foi necessário fazer um Há necessidade de projetar um novo produto que
questionário no ano 2000 para quatro usuários de considere como fator primordial o controle atmosférico
incineradores distintos em relação a sua eficiência de no próprio sistema de incineração que, acoplado ao
incineração, praticidade de uso e capacidade ideal para incinerador, possibilite lavagem e absorção dos gases
incineração. no mesmo sistema.
Quadro 1 Comparativo entre equipamentos:
Os antigos equipamentos de controle da poluição
do ar possuem etapas evolutivas conforme as
necessidades ambientais da época, seus projetos
contêm componentes estranhos e rústicos, de baixa
tecnologia para comprovar sua eficiência no controle
Critérios: dos poluentes, como exemplos, tecidos convencionais
· · · · · Muito bom · · · · Bom · · · Regular · · Ruim · Péssimo para retenção de pó, telas sem resistências à
Fonte: Rego, R.; Fernandes, P., 1995 velocidade dos gases, exaustores com força máxima
para expelir os gases na chaminé e outros.
A análise destes primeiros dados permitiu
formular as variáveis da segunda parte dos problemas,
As tecnologias foram aparecendo como soluções
ficando assim a definição do problema:
a esses sistemas, em formas estruturais, materiais
“Análise de produto industrial (situação inicial)
diferenciados e adequando suas características
para controle de poluição atmosférica em
técnicas ao desenvolvimento do projeto, conforme os
incineradores de resíduos de serviços de saúde
desenhos de cada fabricante.
(situação final)”.
Como fonte de pesquisa, foram compilados
Então:
modelos dos equipamentos de controle dos poluentes
“Análise de produto industrial para controle de
atmosféricos com finalidade de esclarecer algumas
poluição atmosférica em incineradores de resíduos de
características mais importantes, como mostra a Figura
serviços de saúde”.
2, diferenciadas das demais, em relação à sua forma,
materiais e outros.
2.6. Análise dos produtos
Para uma análise final, os detalhes construtivos, Observação: (Valores aproximados sujeitos a
enquadra-se nos aspectos de extrema eficiência do alterações).
sistema.
4.1.3 Requisitos estruturais
4. DESENHOS PARA A EXECUÇÃO DO
Revista SETREM - Ano III nº5 Jul.Dez 2004
52
ESTABELECER AS BASES PARA O PROJETO DE UM EQUIPAMENTO DE CONTROLE DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM INCINERADORES DE
RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Vilson Bernardo Stollmeier
- Manutenção e limpeza nos bicos aspersores. BRASIL. Lei nº 9605 de 12 de fevereiro de 1998.
Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
- Definição do sistema de incineração ou estabelece diretrizes e normas para o
similares para tratamento dos resíduos de serviço de gerenciamento dos diferentes tipos de Resíduos
saúde. Sólidos e dá outras providências. Brasília, 2002.
obtenção de dados oficiais para construção de Além da exposição dos trabalhadores urbanos,
indicadores com incidência e cálculo da taxa de os rurais que laboram na agricultura e na pecuária
freqüência. estão constantemente expostos a inúmeros agentes
físicos, químicos e biológicos que podem causar
O objetivo desta pesquisa foi analisar o índice e acidentes, como máquinas, implementos, ferramentas
as características dos acidentes do trabalho manuais, agrotóxicos, ecotoparasiticidas, animais
registrados no município de Três de Maio e demais domésticos e animais peçonhentos (Almeida, 1995).
municípios de sua abrangência, no período de
01/01/2003 a 31/12/2003 captados pelo sistema de Tudo indica que sub-registro na zona rural seja
registro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), maior do que a zona urbana, já que grande parte das
visando contribuir para a redefinição de prioridades pessoas trabalha por conta própria, não tendo carteira
para políticas regionais de prevenção. assinada e raramente registrando a ocorrência de
acidentes (Rodrigues & Silva, 1986).
O TRABALHO E O ACIDENTE DE
TRABALHO A agricultura é considerada pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT) como uma atividade
O trabalho surgiu na terra juntamente com o profissional de maior risco, equiparando-se à
primeiro homem, as relações entre as atividades construção civil e à exploração de petróleo.
laboratoriais e a doença permaneceram ignoradas até
cerca de 270 anos, muito embora estas já existiam. De acordo com o Art. 221 do Decreto 83080 de
24-01-79, “Acidente de trabalho é aquele que ocorre
Entre 1760 e 1830, ocorreu na Inglaterra a pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,
Revolução Industrial que viria para mudar provocando lesões corporais ou perturbação funcional,
profundamente toda a história da humanidade, sendo o que cause morte ou perda ou redução, permanente ou
marco inicial da industrialização que teve a sua origem temporária da capacidade para o trabalho”.
com a criação da máquina a vapor e aprimorado com
aparecimento da primeira máquina de fiar. Com o (REVER) O acidente inclui tanto ocorrências que
advento das máquinas que fiavam em ritmo muitíssimo podem ser identificados em relação a um momento
superior ao do mais hábil artífice, torna possível uma determinado, quanto a ocorrência ou exposições
produção de tecidos em níveis até então não contínuas ou intermitentes que só podem ser
imaginados. identificadas em termos de períodos de tempo
provável. A lesão pessoal inclui 3 lesões traumáticas,
A improvisação das fábricas e a mão de obra neurológicas ou sistêmicas, resultantes de exposições
constituída principalmente por crianças e mulheres ou circunstanciais verificadas na vigência de vínculos
resultam em acidentes de trabalhos sérios. Conforme empregatícios. (Ramazzini, 1981) (REVER)
Ramazzini (1981), os acidentes de trabalho eram
numerosos, provocados por máquinas sem qualquer Para a lei, há três tipos de acidentes de trabalho,
proteção, movidos por correias expostas e as mortes, sendo caracterizados como: i) acidente tipo ou típico -
principalmente de crianças, eram muito freqüentes, aquele que acontece durante a jornada de trabalho ou
inexistindo limites de horas de trabalho para homens, serviço da empresa; pode ser dentro ou fora do espaço
mulheres e crianças. Suas atividades laborais seguiam físico da empresa e depender da atividade
pela madrugada, finalizando somente ao cair da noite. desenvolvida; ii) acidente de trajeto - aquele que
Em muitos casos, o trabalho iniciava durante a manhã e ocorre no trânsito entre a casa e o trabalho, seja na ida
continuava mesmo durante quase toda a noite, em ou no retorno; e iii) doença profissional ou do trabalho -
fábricas precariamente iluminadas por bicos de gás. aquelas doenças que decorrem do processo ou das
condições de exercícios do trabalho.
Com a evolução dos parques industriais, muitos
destes ambientes apresentaram melhorias, mas o MATERIAIS E MÉTODOS
acidente de trabalho permaneceu e atualmente
também está relacionado com o estresse. A máquina Esta pesquisa possui características de um
exige algo que o organismo do trabalhador nem estudo de abordagem quantitativa do tipo documental,
sempre está preparado para enfrentar. que buscou conhecer o índice de acidentados do
trabalho que foram documentados através da
Gráfico 9: Classificação por Dias de Internação. Da mesma forma, deve ser incentivados o uso de
O gráfico 10 mostra se os acidentes do trabalho equipamento de proteção individual, especialmente
ocorrem no meio rural os urbano. Verificou-se que no luvas e botas, a fim de proteger as regiões corporais de
meio rural aconteceram 35 acidentes (34,31%) e, no maior incidência de casos. Aconselha-se aos Serviços
meio rural 67 ou 65,68% dos casos. de saúde localizados nestes municípios que
qualifiquem os seus profissionais para atender
corretamente os acidentados, constituindo-se de
importante elemento para a redução do dano associado
à lesão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O presente trabalho apresentou uma pesquisa Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho 2002
realizada junto ao INSS de Três de Maio e municípios http:://www.previdenciasocial.gov.br, acessado
de sua abrangência, visando identificar e quantificar os 10/04/2004.
Resumo INTRODUÇÃO
Gilberto Souto Caramão3
A presente pesquisa volta o seu olhar à observância dos fatores que de modo
dinâmico contribuíram e continuam a contribuir à prática da Enfermagem hoje. Fazendo O homem está no mundo e
uso do método qualitativo, procura analisar as influências históricas que agem sobre o com o mundo. Se apenas
fazer Enfermagem, como sexismos, fatores religiosos, questões sociais e políticas,
estivesse no mundo, não
incorporando a perspectiva de gênero e ocupação. É sabido que desde os tempos mais
remotos o cuidado era exercido quase que exclusivamente por mulheres, sendo estas haveria transcendência,
vítimas de inúmeros estigmas sociais. Os hábitos e as estruturas dos sujeitos mudaram nem se objetivaria a si
lentamente até os dias atuais onde o cuidado possui status de Ciência, sendo que se mesmo. Mas como pode
percebe certa resistência na alteração da essência dos sujeitos deste processo, o que objetivar-se, pode também
pode levar à prevalência de mitos tanto no senso popular quanto no erudito. A
distinguir entre um eu e um
Enfermagem de hoje elegeu corpos sociais e não biológicos para intervir, valendo-lhe
conquistas de ordem econômica social e ideológica, tornando-se, assim, importante a não-eu. Isto o torna um ser
análise ética de suas ações; ética vista como proposta por Foucault (Ethos: capaz de relacionar-se; de
Comportamento) sendo este comportamento e suas práticas fortemente influenciadas sair de si; de projetar-se nos
por nosso órgão de classe, a partir do poder de fiscalizar e disciplinar o exercício outros; de transcender.
profissional da Enfermagem. Cabe a este trabalho observar suas contribuições nas Pode distinguir órbitas
conquistas do fazer enfermagem hoje, na construção da Enfermagem que se quer,
levando-a a ocupar um papel de destaque na conjuntura das práticas da saúde. existenciais de si mesmo.
Palavras-chaves: Enfermagem, Identidade Profissional, Fiscalização. Estas relações não se dão
apenas com os outros, mas
se dão no mundo, com o
Abstract mundo e pelo mundo
(FREIRE, 1987, p. 30).
The present research turns its book back to the observance of the factors that
in dynamic way had contributed and continues to contribute today to the practical of
Nursing. Making use of the qualitative method, this research wants to analyze the Com as palavras de Freire
historical influences that act on making Nursing, as sex, religious factors, social (1987), pode-se entender em parte
matters and politics, incorporating the perspective of sort and occupation. It is known,
a substancialidade da busca do
that since the remote times the well-taken care of a person done almost exclusively for
women, being these victims of innumerable social stigmata. The habits and the aperfeiçoamento pelo homem, pois
structures of the people had changed slowly, until the current days where the care has a este é inacabado e apercebe-se
status of Science, and some resitance is noticed in the alteration of the essence of the
people of this process this take the prevalence of myths in the popular sense or in the disto, fator que o impulsiona à
scholar. The Nursing of today elected social and not biological bodies to intervene being descoberta de novos caminhos,
valid conquests to it of social and ideological economic, order becoming important the tecnologias, levando as pessoas
ethical analysis of its action, seen ethics as considered for Foucault (Ethos: Behavior)
being this behavior, its practical strongby influenced by our agency of class, from the sempre em busca de novos
power to fiscalize and to discipline the Nursing professional exercise. It fits to this work to conhecimentos. Característica
observe its contributions in the conquests of making nursing, today the construction of
the Nursing that we want, taking it to occupy a paper of prominence in the conjuncture of esta expressa muito claramente
practises of health. nas ações e descobertas da
Keywords: Nursing, Professional Identity, Fiscalization Enfermagem, vindo a descortinar
1 - Mestre em Educação nas Ciências UNIJUÌ, Professor Titular de Pesquisa Cientifica I e II ,
novos horizontes a esta, que se
Bioquímica, Citologia e Histologia no Curso de Enfermagem SETREM. caracteriza-se entre outro fatores,
roque@setrem.com.br
2 - Acadêmico de Enfermagem na SETREM, sexto semestre, bolsista da disciplina de por sua contínua evolução.
metodologia da pesquisa, estagiário Conselho Regional de Enfermagem (COREN/RS),
Subseção Santa Rosa, Avenida Minas Gerais, cj 604. E-mail: pp0056936@setrem.com.br
3 - Enfermeiro, Especialista em Psicopedagogia, Mestre em Educação, Professor Apesar dos avanços, precisa-
Coordenador do Bacharelado em Enfermagem da Faculdade Três de Maio - SETREM, e-mail: se ainda perguntar o que de
gilberto@setrem.com.br
concreto tem mudado, e em que nível. Assim, munidos contemporânea, o que exige mais do que nunca um
com este espírito crítico, não conceber prática alguma envolvimento e uma busca por formas de conceber e
como sendo um dogma perfeito e eterno. intervir que integram esferas de vida irredutíveis umas
às outras. A Enfermagem Brasileira, por suas
Pode-se pensar que a luz de novos conquistas diárias recebe investidas constantes de
conhecimentos científicos e a partir da práxis, o saber outras áreas a fim de impedir o seu desenvolvimento
em Enfermagem, a Ciência da saúde e a profissão pleno.
Enfermeiro (a) se apercebem do momento histórico de
mudanças constantes e diárias no cenário social. Neste contexto, é fundamental a participação da
Cenário este que, por sua vez, exige cada vez mais academia na formação dos profissionais, munindo-os
deste profissional, inserido em um contexto com conhecimento de fundo político-crítico.
multiprofissional. Seu perfil o leva a ver o indivíduo
como um todo, a partir de uma visão holística.
Somente ter o exercício profissional realizado
em sua plenitude quanto mais aptos estiver para tal,
Dentro do contexto das profissões da saúde, munidos de uma criticidade política plausível e
pensa-se que um dos fatores mais importantes que coerente, o que por sua vez é capaz de retirar os
destaca a enfermagem das outras é a visão integral do sujeitos constituintes da categoria da inércia (massa de
indivíduo e não subtrai deste suas características de manobra) a inserir-se no cenário atual e não adaptar-se
ser complexo, não o reduz. Assim, torna-se lícito simplesmente, participando da pintura do
conceber o profissional de enfermagem como um ser caleidoscópio da Enfermagem Brasileira.
de relevância inquestionável no contexto das práticas
de saúde, e que quanto mais desenvolvido e pleno
2. METODOLOGIA
estiver o exercício desta ciência, melhores serão os
reflexos sociais. Ao analisar alguns conceitos de
Muitos dos problemas da Enfermagem são tão
saúde, pode-se identificar sua característica complexa.
amplos em suas dimensões, tão complexos em suas
Resultante do conjunto da experiência social, apresentações sociais, tornando-se, assim,
individualizada em cada sentir e vivenciada num irrevogável seu estudo. Com este propósito surge este
corpo que é também, não esqueçamos, individual. trabalho, cujo corpus, vem à tona trazendo um relato
[...] Uma concepção ampliada de saúde passaria sobre a relevância da manutenção do sistema COFEN
então por pensar a recriação da vida sobre novas - CORENs (Conselho Federal de Enfermagem e
bases, onde a instituição da sociedade pudesse
Conselhos Regionais de Enfermagem
atender o mais plenamente a atenção das
diferentes e singulares necessidades humanas respectivamente), partindo da visão de um órgão de
(VISTMAN, 1992,p. 171). classe e como Acadêmico de Enfermagem. Apresenta-
se, neste estudo bibliográfico, uma abordagem do
Ou ainda: desenvolvimento histórico da Enfermagem Brasileira,
aspectos constituintes da classe e amálgama dos
Em sentido mais abrangente a SAÚDE é o fatores que influem em seu futuro, seus desafios e
resultante das condições de alimentação, perspectivas, subentendidos a partir de uma visão -
habitação, educação, renda, meio ambiente, leitura crítica. Como embasamento teórico ao
trabalho, transporte, lazer, liberdade, acesso e
tratamento dos dados far-se-á uso de Antônio C. Gil,
posse de terra e acesso aos serviços de saúde. É
assim antes de tudo, o resultante das formas de 2002.
organização social da produção, as quais podem
gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
(Relatório VIII C.N.S., 1986).
3. PROFISSÃO ENFERMAGEM E O
PAPEL DOS CORENs
Por ter esta visão e interpretação da realidade, a
enfermagem nos últimos anos vem adquirindo A qualidade formal alcançada na produção do
importantes conquistas de ordem econômica, política e conhecimento está extremamente à frente do vazio
ideológica. Elegeu corpos sociais e não corpos ainda gritante da qualidade política. Preocupa ai, entre
biológicos para intervir. outras coisas, que o capitalismo competitivo e
globalizado tenha se tornado o eco mais próximo e
É ainda recente esta marcante visão natural do conhecimento pós moderno como se fosse o
O exposto acima leva a concluir que a existência O Ensino da Enfermagem nessa década era
do sistema COFEN-CORENs é da gênese à totalmente hospitalocêntrico, sendo as profissionais
materialização e da manutenção à dinâmica recíproca preparadas a cumprir tarefas. Foi neste quadro, na
da Enfermagem brasileira e de sua sociedade. década de vinte, que se esboçaram transformações na
Política de Saúde do Estado Brasileiro, exigindo da
4 HISTÓRICO DA ENFERMAGEM Enfermagem a normatização de seus serviços. Com as
grandes endemias, a Enfermagem passou a atuar no
BRASILEIRA E SUA CONTRIBUIÇÃO
sentido de controle destas, pois prejudicavam as
PARA A IDENTIDADE PROFISSIONAL exportações e a saúde do país.
a realidade que o rodeia, estando assim imerso em uma clientes, de um modo geral, que podem lhes trazer
trama de poder. um sentimento de desconforto, mal estar, angústias
e sofrimento (LUNARDI, 1999, p. 21).
Segundo Lunardi:
Para Foucault, em qualquer relação que se Pensa-se que a chave para solução parcial da
estabeleça, econômica, sexual, institucional o maioria dos problemas hoje enfrentados na prática da
poder se faz presente, na medida em que, nesta enfermagem está na formação acadêmica. Silva,
relação, alguém busca conduzir o outro, dirigir a sua comenta o ensino na enfermagem:
ação. Por outro lado, o importante quanto a tais
relações, é que elas são móveis, não estando
As entrevistas com docentes de duas
determinadas a priori, construindo-se e
inquestionavelmente boas faculdades de
desconstruindo-se no próprio exercício da relação
Enfermagem do Brasil, apontam para uma crise de
de poder (1999, p. 23).
identificação da profissão, que está dificultando seu
ensino eficiente; para a ambigüidade entre o que o
O poder é o objetivo das ações humanas, tal professor ensina e o que o mercado de trabalho
como exposto por Milton: exige do profissional enfermeiro; para a pouca
participação dos docentes nas entidades de classe
O poder fascina, o poder seduz. A tomada do (embora incentivem a participação dos alunos no
poder é cobiçada, almejada e perseguida discurso), entre outros aspectos de extrema
implacavelmente pois é de foro íntimo, e, como a importância (1998, s/p).
sociedade moderna , democrática e participativa
repulsa esta cobiça, considerada pela civilização
ocidental e cristã como um mal, então o sujeito que Moretto, ao incorrer sobre a formação acadêmica
o busca mascara, dissimula, esconde o "jogo" , do enfermeiro (a), explana que a formação da
nega o seu objetivo, dizendo que se trata da busca
enfermagem continua ocorrendo com maior ênfase nos
de servir ao povo (Revista Textual, novembro de
2002, p. 28). aspectos hospitalocêntricos desvinculada da nova fase
da política da saúde brasileira (2001).
A autonomia que visa enfermagem, ricocheteia
em outras áreas, diminuindo seu poder, de ter controle CONSIDERAÇÕES FINAIS
sobre as coisas e sobre os outros, tornando-se assim
relevante as discussões pertinentes a gênero, O tempo e a Ciência são separados das
ocupação, salário, reconhecimento social, por serem práticas medievais, monásticas e sacerdotais
estes alguns dos fatores que oferecem resistência a dispensadas à saúde, dos sexismos e estigmas de
nosso desenvolvimento pleno do profissional. gênero, porém ainda restam resquícios relativos destas
épocas remotas que prevalecem inconsciente ou
O conhecimento teórico da enfermagem exige que,
conscientemente em nossa sociedade. Aliado a isso,
nas análises dos diversos aspectos da profissão se
incorpore a perspectiva de gênero, para que seja
está a falta de criticidade das ações da enfermagem
possível conceitualmente se visualizar, criticar e hoje.
discutir as implicações políticas que afetam uma
profissão majoritariamente feminina, A qualidade de investimentos no ser humano, não
historicamente essa associação de enfermagem deve ser circunscrita apenas àqueles que já saíram da
com gênero feminino é significativa na divisão
academia, devesse sim ter uma visão freireana de
técnica, social e política de trabalho, porque tem
implicado menor prestigio social para quem a
educação, não apenas no aspecto cognoscente, mas
exerce (LIMA, 1994, p. 50). também crítico, devendo assim primar pela qualidade
da formação acadêmica.
A prática da enfermagem moderna,
contemporânea exige do profissional que a exerce O aperfeiçoamento dos recursos humanos
conhecimento científico, habilidade nas relações através da educação é uma prioridade do indivíduo e da
interpessoais e persistência, não esmorecendo diante própria sociedade que busca oportunizar momentos de
os obstáculos impostos a sua prática profissional. construção, reconstrução e socialização do
conhecimento. Para tanto, é preciso o desenvolvimento
São muitas as situações de conflito enfrentadas das pessoas que se constituem sujeitos deste processo
pelas enfermeiras especialmente no que se refere a de mudança no quotidiano das instituições.
como tem se dado a assistência de saúde aos
Para que se consiga transcender as práticas hoje de acordo com protocolo, solicitação de exames. Esta
vigentes, torna-se necessário refletir a ética, vitória que assegurou os preceitos constitucionais,
comportamento (ethos), e só se conseguirá quando além de nos levar a exercer a profissão em de forma
estiverem cientificamente qualificados para atingirem a integral, descortina novos horizontes carentes de
liberdade que se almeja; caso contrário, estarão presos pesquisas, tais como a remuneração pelo Sistema
a relações estabelecidas e imutáveis: Único de Saúde e planos privados,
desinstitucionalizando o serviço, sendo remunerado
Neste o problema ético da liberdade encontra-se em conformidade com suas atividades.
ausente, já que as relações de poder entre os sujeitos
mostram-se imóveis, fixas, sem a mínima Portanto, a reflexão crítica sobre a realidade das
reversibilidade de movimentos pela possibilidade de instituições de saúde e o espaço que a busca de novas
diferentes instrumentos de coação. Não ha como falar metodologias ocupa na estrutura - na perspectiva da
em ética em estado de dominação (FOUCAULT, apud contribuição desta na constituição do ser humano,
LUNARDI, 1999, p. 24). aponta como alternativa coerente, não só para
estruturação e restruturação, das áreas da saúde, bem
Ainda, Foucault citado por Lunardi, fala sobre o como de outras disciplinas, um modelo relacional a ser
poder nas relações; adotado, cujo pressuposto epistemológico se
consubstancia na praxis construtivista alicerçada em
Não existem sociedades sem relações de uma metodologia dialética.
poder, poderíamos dizer que tal constatação não se
constitui em um problema. A problematização deveria
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
se fazer no sentido de que se participe destes jogos de
poder, com o mínimo possível de dominação
ASSIS, M. Educação em Saúde e Qualidade de
buscando-se as regras de direito, de governabilidade,
Vida: para além dos modelos, a busca da
das práticas de si, da moral e do ethos (1999, p.26). comunicação. Rio de Janeiro: UERJ/IMS, 1998.
É preciso instigar os profissionais, pois segundo BRASIL. Ministério da educação. Meio ambiente e
Freire, (1999), "o exercício da curiosidade a faz mais saúde: novos parâmetros curriculares. Brasília,
criticamente curiosa, mais metodicamente 1997.
perseguidora de seu objeto", inserindo-se deste modo
como atores no paradigma atual. BERLINGUER, G. Questões de vida: ética, ciência e
saúde. Salvador: APCE, 1993.
Na fase de transição e revolução cientifica, a
insegurança resulta ainda do fato de nossa reflexão COREN/RS, Conselho Regional de Enfermagem do
epistemológica ser muito mais avançada e sofisticada Rio Grande do Sul. Legislação, 2002.
que a nossa prática científica. Nenhum de nós pode
neste momento visualizar projetos concretos de DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 9
investigação que correspondam inteiramente ao ed. Petrópolis: Nozes, 2000.
paradigma emergente (...). E isso é assim
FREIRE, Paulo. Conscientização; Teoria e Prática
precisamente por estarmos em uma fase de transição
da Libertação; uma introdução ao Pensamento de
(SANTOS, 1999, p. 57-8).
Paulo Freire. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979.
A Revista SETREM, construída pelo coletivo dos docentes da Sociedade Educacional Três
de Maio - SETREM, pretende ser uma publicação de caráter científico. Você também pode enviar-
nos seu artigo até o dia 30 de março de 2004, para ser avaliado, com a possibilidade de ser
publicado na próxima edição.
Somente serão publicados os artigos que forem aprovados pelo Conselho Editorial e
estiverem de acordo com as regras propostas pela Revista e as Normas da ABNT. Os artigos
devem ser entregues em disquete e em duas vias impressas e serão submetidos a uma seleção
pela Comissão Editorial.
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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alfabética, sem numeração, sem espaço entre a referência; o principal sobrenome do autor em
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anais em negrito; se for título de artigo, a letra deste não deve ser destacada com negrito; se houver
mais de uma obra do mesmo autor, seu nome deve ser substituído por um traço de seis toques;
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