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Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2004
MARCELO BENEDET TOURNIER
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2004
Tournier, Marcelo Benedet.
Prevalência do distúrbio de ataques não-epilépticos psicogênicos no
ambulatório de epilepsia do Hospital Santa Teresa – São Pedro de Alcântara / SC. /
Marcelo Benedet Tournier. Florianópolis, 2004.
XXX p.
“Honra teu pai e tua mãe, como o SENHOR teu Deus te ordenou,
para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na
terra que o SENHOR teu Deus te dá.” (Dt.5:16)
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em caráter especial, meu orientador e amigo, pela dedicação prestada e pelo
vínculo que durará, certamente, até o fim de nossas vidas; minhas mais profundas gratidões a
todos os que direta ou indiretamente colaboraram para a elaboração deste estudo. Não citarei
nomes, pois quero que dividam com eqüidade os méritos e todo meu carinho.
iii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA.............................................................................................................................. ii
AGRADECIMENTOS....................................................................................................................iii
SUMÁRIO...................................................................................................................................... iv
RESUMO......................................................................................................................................... v
SUMMARY................................................................................................................................... vi
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 1
2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................................... 3
3 OBJETIVO................................................................................................................................... 6
4 MÉTODOS................................................................................................................................... 7
5 RESULTADOS............................................................................................................................ 8
6 DISCUSSÃO.............................................................................................................................. 12
7 CONCLUSÕES.......................................................................................................................... 16
NORMAS ADOTADAS............................................................................................................... 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................... 18
iv
RESUMO
v
SUMMARY
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
vi
1
1 INTRODUÇÃO
Fyodor Dostoevsky (que em sua obra “O Idiota”, descreve crises extremamente singulares em
seu protagonista, caracterizadas por um êxtase de extrema felicidade, seguidos de uma sensação
de culpa e melancolia extremas), diagnosticadas pelos médicos como epilepsia, eram de origem
neurótica. Entretanto, suas documentações e manuscritos sobre sua experiência com a moléstia
mostravam características de crises tônico-clônico generalizadas, com estados pós-ictais
confusionais, depressivos, afásicos e amnésicos9,10. Charcot, em 1874, já conhecia o fato da
concomitância de DANEP e epilepsia em um mesmo paciente, descrevendo em seus trabalhos a
“hystérie à crises distinctes” e a “hystérie à crises combinées”11.
Por uma perspectiva psicoanalítica, as causas subjacentes para neuroses que se
manifestam como crises histéricas são traumas, freqüentemente de natureza sexual. Esta
associação fora descrita por Freud e recentemente reiterada na literatura12. Uma resposta mais
recente ao fenômeno tem sido a aplicação de explicações comportamentais que reconhecem a
DANEP como um padrão aprendido de comportamento o qual é desenvolvido para permitir a
pessoa a lidar com situações de ansiedade extrema13. Segundo Griffith et al. , tais crises seriam
derivadas de situações de estresse tão intensas que palavras não poderiam expressá-las,
geralmente arremetidas por situações dilemáticas em que ambas extremidades exporiam o
paciente a situações de angústia extrema, vergonha ou culpa14. Todavia, um estudo recente de
Reuber et al. sugeriu que lesões físicas ao cérebro podem ter algum papel no desenvolvimento de
crises psicogênicas15.
3
2 REVISÃO DE LITERATURA
portadores de epilepsia e em 4,3% dos portadores de CNEP. 56% dos pacientes epilépticos
referiram fadiga após uma crise enquanto que apenas 13% dos CNEP a referiu18.
O eletroencefalograma (EEG) geralmente é considerado um divisor de águas entre as duas
entidades, sendo geralmente normal nas CNEP. Contudo, o EEG pode estar alterado em
pacientes com CNEP em conseqüência de: estados hiperventilatórios durante o exame, portadores
de transtorno do pânico ou estados de abstinência de drogas anti-epilépticas. Além disso,
recorde-se que padrões de “pontas e ondas” no EEG, comumente encontrados em portadores de
epilepsia foram também encontrados em 3% da população normal. Assim, um EEG normal não
exclui a possibilidade de epilepsia, tão pouco confirma uma CNEP16. Métodos como o vídeo-
EEG durante as crises ou o EEG por telemetria demonstraram-se mais eficazes, porém, podem
deixar dúvidas em alguns seletos casos de CNEP. Para estes casos duvidosos, ou casos em que o
clínico depara-se com um paciente chegando ao serviço de emergência com uma história
duvidosa de CNEP, a dosagem de prolactina sérica poderia ser útil. Ela habitualmente está
aumentada nos ataques tônico-clônicos e pacientes com CNEP sempre terão nível normal . Se as
crises forem do tipo parcial complexa, os níveis de prolactina estarão aumentados em 60% dos
casos de etiologia epiléptica. Crises parciais simples são a única modalidade de crises epilépticas
que não cursam com aumento dos níveis de prolactina19. A oximetria de pulso durante as crises,
na ausência de outros recursos, pode ser também útil na diferenciação de crises generalizadas
tônico-clônicas e CNEP, pois uma diminuição na saturação de oxigênio momentânea foi mais
relacionada a crises convulsivas, porém, tal afirmação sozinha não deve ser tomada de grande
valor diagnóstico por carecer de bases mais consistentes de estudo 20. Os testes provocativos de
CNEP constituem em uma alternativa também muito utilizada para o diagnóstico de DANEP21,
porém tais testes esbarram nas premissas bioéticas, ou mentindo ao paciente, fazendo injeções
salinas o informando que são substâncias “epileptógenas” ou utilizando-se de métodos de
sugestão para iatrogenizar um indivíduo vulnerável a tais técnicas.
Apesar de termos uma boa compreensão a respeito de mecanismos psicopatológicos e de
manifestações da desordem, o tratamento para DANEP ainda continua pobremente
compreendido, pela falta de estudos a respeito deste, deixando apenas recomendações quanto a
melhor conduta a ser adotada. A psicoterapia é precognizada como o baluarte da terapêutica
nestes casos, porém, sua eficácia ainda não foi comprovada.
5
3 OBJETIVOS
4 MÉTODOS
5 RESULTADOS
Quanto à distribuição por faixas etárias (tabela 3), foram encontrados 5 pacientes com
idade entre 20 e 29 anos (25,0%), 5 pacientes com idade entre 30 e 39 anos (25,0%), 4 pacientes
entre 40 e 49 anos (20,0%), 5 pacientes entre 50 e 59 anos (25,0%) e 1 paciente entre os 60 e 69
anos (5,0%). A idade média desvio padrão encontrada foi de 40,2 13,71 (mediana = 39).
6 DISCUSSÃO
de origem psicogênica mostram o quanto estamos ainda distantes de conceitos seguros a respeito,
não só de DANEP, mas da própria histeria. Importante é termos em mente que a cura de tais
pacientes não será caracterizada pela ausência de ataques, mas pela “cura psicossocial”.
Também somos proibidos de dizer a esta pessoa que ela “não tem nada”, ou que “é o
estresse, é tudo da cabeça, sr. cicrano”. Tais atitudes pejorativas tão comuns no trato social com
tais pacientes retratam o completo desinteresse com a pessoa que está na sua frente, muitas vezes
angustiada e perplexa com seu problema. São pessoas com uma doença como qualquer outra. A
educação médica ortodoxa tem como sina exortar ao desprezo os pacientes histéricos,
elegantemente rotulados como “portadores de patologias funcionais”. Doenças que não são
doenças, porque não causam febre, não têm sinais meníngeos, não são palpáveis ou percutíveis.
Porém são auscultáveis. As maiores provas deste fato são as risadas em rounds quando se tratam
ciências comportamentais e a biologia molecular estão começando a mostrar que esta barreira
mostrar que tais comportamentos estão bem acima dos mecanismos psicopatológicos simplícios
de causa versus conseqüência41. Espera-se que, desta maneira, encontremos um anticorpo contra
a histeria, ou uma vacina social, como um tratamento definitivo para estes pacientes. Enquanto
tais devaneios encontram-se voláteis nessa névoa de mistérios a respeito dos mecanismos
moleculares do comportamento, é vital que estejamos atentos para a DANEP como um problema
existente e prevalente. Colocar um rótulo de epiléptico na testa de tais pacientes pode ser algo
15
extremamente consternador e limitante para suas vidas. Pode significar perda de emprego, do
7 CONCLUSÕES
HST foi de 20,0%, sendo que 20,0% destes têm crises de etiologia epiléptica
associada.
2. 75,0% dos pacientes são do sexo feminino e a idade média ± desvio padrão
2. Stone, J., et al., What should we call pseudoseizures? The patient’s perspective.
3. Scott DF. Recognition and diagnostic aspects of nonepileptic seizures. In: Riley TL,
6. Massey, W. E. History of epilepsy and hysteria. In: Pseudoseizures. (Eds T. Riley and
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660-663.
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18. Ettinger, A.B., et al., Postictal symptoms help distinguish patients with epileptic
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22. Melville, L.P., Nerves and Narratives: A Cultural History of Hysteria, in 19th Century
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27. Cohen R, Suter C: Hysterical seizures: Suggestion as a provocative EEG test. Ann
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28. Luther J, McNamara J, Carwile S, et al: Pseudoepileptic seizures: Methods and video
29. Lesser R, Lueders H, Dudley S: Evidence for epilepsy is rare in patients with
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