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HERMETISMO E MAÇONARIA

*por Irm:. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)


Origem

Hermetismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a


escritos atribuídos a Hermes Trismegisto , "Hermes Três-Vezes-Grande", uma
deidade sincrética que combina aspectos do deus grego Hermes e do deus
egípcio Thoth . Estas crenças tiveram influência na sabedoria oculta européia,
desde a Renascença, quando foram reavivadas por figuras como Giordano
Bruno e Marsilio Ficino. A magia hermética passou por um renascimento no
século XIX na Europa Ocidental, onde foi praticada por nomes como os
envolvidos na Ordem Hermética do Amanhecer Dourado e Eliphas Levi. No
século XX foi estudada por Franz Bardon.

Cada um dos sete princípios herméticos encontra ressonância no simbolismo


maçônico e esse paralelo descortina vasto campo de reflexões metafísicas.

Os escritos herméticos

Os escritos herméticos são uma coleção de 18 obras Gregas, e as principais


são o Corpus Hermeticum e a Tábua de Esmeralda , as quais são
tradicionalmente atribuídas a Hermes Trismegisto ("Hermes três vezes
grande"). Estes escritos contêm os aspectos teórico e filosófico do Hermetismo
em seu aspecto teosófico. O período bizantino é marcado por uma outra
coleção de obras herméticas, que também são relacionadas ao Hermes
Trismegisto, e contêm uma tradição hermética popular a qual é composta
essencialmente por escritos relacionados a astrologia, magia e Alquimia. Esta
versão popular encontra sustentação ou base nos diálogos Hermeticos, apesar
dele se distanciar da magia.

A prática da magia entretanto não está distante das praticas realizadas no


antigo Egito, a qual em uma última análise é a fonte de todos os diálogos
herméticos, pois o hermetismo lá floresceu, e portanto estabelece uma
conexão entre as duas tradições
Hermeticas: filosófica e magia.

O livro Caibalion foi escrito no final do século XIX por três iniciados que
registraram as Sete Leis do Hermetismo. Não é um livro oriundo da era pré-
cristã como se supõe.

O hermetismo consiste, de forma sincrética, no estudo e prática da evolução e


expansão da consciência humana até à Consciência divina, penetrando assim
nos mais profundos mistérios da Criação, o que ficou conhecido como iniciação
ou iluminação no Oriente.

Evolução do hermetismo durante os anos

Como a origem dos conhecimentos herméticos datam de alguns milhares de


anos, é natural que durante tão longo tempo hajam ocorrido grandes
transformações, tanto no que diz respeito aspectos organizacionais quando no
contexto dos próprio ensinos. Disto resultou um grande número organizações
no passado assim como no presente intituladas de "Ordem Hermética". Os
conhecimentos e a estruturação de algumas são oriundas das Escolas de
Mistérios do Antigo Egito. Naturalmente o termo "Ordem" só apareceu depois
da decadência do Egito, quando grupos de estudiosos deram nomes às
organizações que transmitiam o conhecimento deixados por Thoth. Sempre
existiram muitas organizações que se intitularam de Sociedade, ou de Ordem
Hermética, e também na atualidade. Muitas trazem ensinamentos autênticos,
embora algumas atribuam o nome "hermética" a conceitos de grupos ou meras
fantasias.

Ordens herméticas que ficaram consagradas ao longo dos séculos foram a


Ordem dos Cavaleiros Templários, a Maçonaria e a Ordem Rosacruz.

As sete leis herméticas

As sete principais leis herméticas se baseiam nos princípios incluídos no livro


Caibalion que reúne os ensinamentos básicos da Lei que rege todas as coisas
manifestadas. A palavra Caibalion, na língua hebraica significa tradição ou
preceito manifestado por um ente de cima. Esta palavra tem a mesma raiz da
palavra Kabbalah, que em hebraico, significa recepção.

Lei do Mentalismo

"O Todo é Mente; o Universo é mental."

O universo funciona como um grande pensamento divino. É a mente de um Ser


Superior que 'pensa' e assim é tudo que existe. É o todo. Toda a criação
principiou como uma ideia da mente divina que continuaria a viver, a mover-se
e a ter seu ser na divina consciência.

A matéria são como os neurônios de uma grande mente, um universo


consciente e que 'pensa'. Todo o conhecimento flui e reflui de nossa mente, já
que estamos ligados a uma mente divina que contém todo o conhecimento.

Lei da Correspondência

"O que está em cima é como o que está embaixo. E o que está embaixo é
como o que está em cima"

A perspectiva muda de acordo com o referencial. A perspectiva da Terra


normalmente nos impede de enxergar outros domínios acima e abaixo de nós.
A nossa atenção está tão concentrada no microcosmo que não nos
percebemos o imenso macrocosmo à nossa volta.

O principio de correspondência diz-nos que o que é verdadeiro no macrocosmo


é também verdadeiro no microcosmo e vice-versa. Portanto podemos aprender
as grandes verdades do cosmo observando como elas se manifestam em
nossas próprias vidas.
Lei da Vibração

"Nada está parado, tudo se move, tudo vibra"

No universo todo movimento é vibratório. O todo se manifesta por esse


princípio. Todas as coisas se movimentam e vibram com seu próprio regime de
vibração. Nada está em repouso. Das galáxias às partículas sub-atômicas, tudo
é movimento.

Todos os objetos materiais são feitos de átomos e a enorme variedade de


estruturas moleculares não é rígida ou imóvel, mas oscila de acordo com as
temperaturas e com harmonia. A matéria não é passiva ou inerte, como nos
pode parecer a nível material, mas cheia de movimento.

Lei da Polaridade

"Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual
são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-
verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados "

A polaridade revela a dualidade, os opostos representando a chave de poder


no sistema hermético. Mais do que isso, os opostos são apenas extremos da
mesma coisa. Tudo se torna idêntico em natureza. O pólo positivo + e o
negativo - da corrente elétrica são uma mera convenção.

O claro e o escuro também são manifestações da luz. A escala musical do


som, o duro versus o flexível, o doce versus o salgado. Amor e o ódio são
simplesmente manifestações de uma mesma coisa, diferentes graus de um
sentimento.

Lei do Ritmo

"Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a
compensação"

Pode se dizer que o princípio é manifestado pela criação e pela destruição. É o


ritmo da ascensão e da queda, da conversão energia cinética para potencial e
da potencial para cinética. Os opostos se movem em círculos.

É a expansão até chegar o ponto máximo, e depois que atingir sua maior força,
se torna massa inerte, recomeçando novamente um novo ciclo, dessa vez no
sentido inverso. A lei do ritmo assegura que cada ciclo busque sua
complementação.

Lei do Gênero

"O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o
gênero se manifesta em todos os planos da criação"
Os princípios de atração e repulsão não existem por si só, mas somente um
dependendo do outro. Tudo tem um componente masculino e um feminino
independente do gênero físico. Nada é 100% masculino ou feminino, mas sim
um balanceamento desses gêneros.

Existe uma energia receptiva feminina e uma energia projetiva masculina, a


que os chineses chamavam de yin yang. Nenhum dos dois pólos é capaz de
criar sem o outro. É a manifestação do desejo materno com o desejo paterno.

Lei da Causa e Efeito

"Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos
planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei"

Nada acontece por acaso, pois não existe o acaso, já que acaso é
simplesmente um termo dado a um fenômeno existente e do qual não
conhecemos e a origem, ou seja, não reconhecemos nele a Lei à qual se
aplica.

Esse princípio é um dos mais polêmicos, pois também implica no fato de


sermos responsáveis por todos os nossos atos. No entanto, esse princípio é
aceito por todas as filosofias de pensamento, desde a antiguidade. Também é
conhecido como karma.

Da Energia Latente no Ser Humano

Ser Humano (Ser) é Energia. Essa Energia é força de maior intensidade, de


menor intensidade e de zero intensidade. O Ser ativo, participativo, solidário,
ético, optativo e decisivo é um Ser de Energia de intensidade alta, grande,
maior. Um Ser inativo, egoísta, passivo, corruptor, inoptativo e indeciso é um
Ser de Energia de intensidade baixa, rasa, sofrível. Um Ser doente, em fase
terminal, é um Ser de intensidade de Energia igual a zero. Um Ser que faz o
mal, vive para o mal, pratica o mal, venera o mal, participa para o mal, tem o
pensamento voltado para o mal, ludibria a vontade alheia em proveito próprio,
tem uma Energia de intensidade sofrível. Um Ser que é benevolente, que
pratica boas ações, que venera o bem, faz o bem sem olhar a quem, ajuda ao
próximo, tem o pensamento voltado para a prática do bem, é altruísta, provoca
a paz entre os homens, tem uma Energia de intensidade maior.

Um esquema para melhor entender esse homem de Energia sofrível: A Elipse


é aberta em ordenadas e abscissas negativas.

Um esquema para melhor entender esse homem de Energia maior: A Elipse é


fechada em ordenadas e abscissas positivas.

Um esquema para melhor entender esse homem de Energia zero: A Elipse tem
abscissas e ordenadas iguais.

O HERMETISMO APLICADO AO MAÇOM


Dotado de visão aguçada, o iniciado de boa têmpera saberá conjugar
princípios, valores, sentimentos e emoções para enfrentar os óbvices da vida
material. Todos os humanos são atingidos por sentimentos e emoções , mas o
maçom sagaz, aquele que exerece e exercerá sempre, por força e de sua
condição singular, parcela de liderança no edifício social em que vive, deve ser
regido fundamentalmente por princípios e valores.

Nas pessoas comuns, a curiosidade é movida por um interesse especial. No


místico moderno a curiosidade deve ser originada do puro intelecto, dado que o
maçom deve estar sempre expandindo as fronteiras de sua própria mente.

A Ordem Maçônica, segundo afirma João Francisco Guimarães, é um mundo


de escolhidos,
descortinadores da realidade futura; homens que marcham rumo ao progresso,
adiante do tempo atual, sempre animados por sublime esperança e
congregados pelo sentimento de amor fraterno.

Ao vislumbrar o caminho, o maçom reúne as condições para ser o arquiteto de


seu próprio destino, o que requer suprema energia e grande vigilância de sí
próprio.

OUTROS CONCEITOS CORRELACIONADOS COM O HERMETISMO

ALQUIMIA

A Alquimia é uma tradição antiga que combina elementos de química, física,


astrologia, arte, metalurgia, medicina, misticismo, e religião. Existem três
objetivos principais na sua prática. Um deles é a transmutação dos metais
inferiores em ouro, o outro a obtenção do Elixir da Longa Vida, uma panacéia
universal, um remédio que curaria todas as doenças e daria vida eterna
àqueles que o ingerissem. Ambos estes objetivos poderiam ser atingidos ao
obter a pedra filosofal, uma substância mística que amplifica os poderes de um
alquimista. Finalmente, o terceiro objetivo era criar vida humana artificial, os
homunculus . É reconhecido que, apesar de não ter caráter científico, a
alquimia foi uma fase importante na qual se desenvolveram muitos dos
procedimentos e conhecimentos que mais tarde foram utilizados pela química.
A alquimia foi praticada na Mesopotâmia, Egito Antigo, Mundo Islâmico, Pérsia,
Índia, Japão, Coréia e China, na Grécia Clássica, em Roma, e na Europa.

Alguns estudiosos da alquimia admitem que o ELIXIR DA LONGA VIDA E A


PEDRA FILOSOFAL são temas simbólicos, que provêm de práticas de
purificação espiritual, e dessa forma, não poderiam ser considerados
substâncias reais. Há pesquisadores que identificam o elixir da longa vida
como um líquido produzido pelo próprio corpo humano, que teria a propriedade
de prolongar indefinidamente a vida daqueles que conseguissem realizar a
chamada "Grande Obra", tornando-se assim verdadeiros alquimistas. Existem
referências dessa substância desconhecida também na tradição da Yoga.

ESOTERISMO
Esoterismo é o nome genérico que designa um conjunto de tradições e
interpretações filosóficas das doutrinas e religiões que buscam desvendar seu
sentido oculto. O esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e
conhecimentos não podem ou não devem ser "vulgarizados", sendo
comunicados a um restrito número de discípulos escolhidos.

Segundo Blavatsky , criadora da moderna Teosofia, o termo "esotérico" refere-


se ao que está "dentro", em oposição ao que está "fora" e que é designado
como "exotérico". Designa o significado verdadeiro da doutrina, sua essência,
em oposição ao exotérico que é a "vestimenta" da doutrina, sua "decoração".
Também segundo Blavatsky, todas as religiões e filosofias concordam em sua
essência, diferindo apenas na "vestimenta", pois todas foram inspiradas no que
ela chamou de "Religião-Verdade".

Um sentido popular do termo é de afirmação ou conhecimento enigmático e


impenetrável. Hoje em dia o termo é mais ligado ao misticismo, ou seja, à
busca de supostas verdades e leis últimas que regem todo o universo, porém
ligando ao mesmo tempo o natural com o sobrenatural. Muitas doutrinas
espiritualistas são também chamadas esotéricas.

MISTICISMO

Misticismo (do grego μυστικός, mystikos, um início de um mistério religioso) é a


busca da comunhão com a identidade, com, consciente ou consciência de uma
derradeira realidade, divindade, verdade espiritual, ou Deus através da
experiência direta ou intuitiva.

Do livro de Jakob Böhme "O Príncipe dos Filósofos Divinos", o misticismo se


define por: o misticismo, em seu mais simples e essencial significado, é um tipo
de religião que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com
Deus,ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. É a
religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. O iniciado que
alcançou o "segredo" foi chamado um místico. Os antigos cristãos
empregavam a palavra "contemplação" para designar a experiência mística.

"O místico é aquele que aspira a uma união pessoal ou a unidade com o
Absoluto, que ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser
Supremo, etc. (Lewis, Ralph M) "

GNOSE

Gnose é substantivo do verbo gignósko, que significa conhecer. Para os


Gnósticos, Gnose é conhecimento superior, interno, espiritual, iniciático. No
grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é semelhante ao da
palavra epistéme.

Em filosofia, epistéme significa "conhecimento científico" em oposição a


"opinião", enquanto gnôsis significa conhecimento em oposição a "ignorância",
chamada de ágnoia.
Para os Gnósticos a gnose é um conhecimento que brota do coração de forma
misteriosa e intuitiva. É a busca do conhecimento, não o conhecimento
intelectual, mas aquele que dá sentido à vida humana, que a torna plena de
significado, porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna.

O objeto do conhecimento da Gnose seria Deus, ou tudo o que deriva d'Ele.


Para seus seguidores, toda Gnose parte da aceitação firme na existência de
um Deus absolutamente transcendente, existência que não necessita ser
demonstrada. "Conhecer" significa ser e atuar (na medida do possível ao ser
humano), no âmbito do divino.

O termo "Gnose" acabou designando, nos tempos atuais, um conjunto de


tradições que acreditam no aspecto espiritual do Universo e na possibilidade de
salvação por um conhecimento secreto.

OCULTISMO

Ocultismo (ou Ciências Ocultas) é um conjunto de teorias e práticas cujo


objetivo seria desvendar os segredos da natureza, do Universo e da própria
Humanidade. O ocultismo trata de um tipo de conhecimento que está além da
esfera do conhecimento empírico, o que é sobrenatural e secreto. Não é aceito
pela comunidade científica por não compartilhar de suas metodologias. O
ocultismo está relacionado aos fenômenos sobrenaturais. Ou seja, são
conjecturas metafísicas, e teológicas, algumas das quais oriundas de povos da
Antigüidade Clássica.

O ocultismo está relacionado aos fenômenos sobrenaturais. Ocultismo é um


conjunto vasto, um corpo de doutrinas proveniente de uma tradição primordial
que se encontraria na origem de todas as religiões e de todas as filosofias,
mesmo as que, aparentemente, dele parecem afastar-se ou contradizê-lo.

O Homem aqui retratado seria um completo e arquetípico, composto não


apenas de corpo, mas também de emoção, razão e alma (como divide a
cabala).

Segundo algumas tradições ocultistas as religiões do mundo teriam sido


inspiradas por uma única fonte sobrenatural. Portanto, ao estudar essa fonte
chegar-se-ía a religião original.

Muitas vezes um ocultista é referenciado como um mago. Alguns acreditam


que estes antigos Magos já conheciam a maior parte das descobertas da
ciência contemporânea e até além delas, tornando estas descobertas meros
achados.

CABALA

Cabala (também Kabbalah, Qabbala, cabbala, cabbalah, kabala, kabalah,


kabbala) é um sabedoria que investiga a natureza divina. Kabbalah (‫קבלה‬
QBLH) é uma palavra de origem hebraica que significa recepção. A Kabbalah
— corpo de sabedoria espiritual mais antigo — contém as chaves, que
permaneceram ocultas durante um longo tempo, para os segredos do universo,
bem como as chaves para os mistérios do coração e da alma humana. Os
ensinamentos cabalísticos explicam as complexidades do universo material e
imaterial, bem como a natureza física e metafísica de toda a humanidade.

A Kabbalah mostra em detalhes como navegar por este vasto campo, a fim de
eliminar toda forma de caos, dor e sofrimento.

Durante milhares de anos, os grandes sábios cabalistas têm nos ensinado que
cada ser humano nasce com o potencial para ser grande. A Kabbalah é o meio
para ativar este potencial.

A Kabbalah sempre teve a intenção de ser usada, e não somente estudada.

Seu propósito é trazer clareza, compreensão e liberdade para nossas vidas.

Bibliografia:
Guimarães, João Francisco - Aprendiz Conhecimentos Básicos da Maçonaria
Anatalino, João – Conhecendo a Arte Real : A Maçonaria e suas Influências
Históricas e Filosóficas;
Mackey, Albert G. – O Simbolismo na Maçonaria;
Da Camino, Rizzardo – Simbolismo do Terceiro Grau;
Figueiredo, Joaquim Gervásio de – Diocionário de Maçonaria
Wikipédia (Internet)

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A escrita primitiva baseia-se em sinais que evocam ideias,
como a fonte das nossas cifras, que são lidas em qualquer
idioma, conservando sempre o mesmo significado…
Os símbolos, com efeito, estão destinados a despertar as ideias
adormecidas no nosso entendimento. Estimulam o pensamento por
via da sugestão e fazem-nos descobrir assim as verdades
enterradas nas profundezas do nosso espírito.
Por conseguinte, para que os símbolos possam falar, é
indispensável que exista em nós o germe das ideias que os
símbolos têm como missão fazer surgir. Nenhum surgimento seria
possível se o espírito estivesse vazio, inerte ou estéril.O
Hermetismo perpassa a Franco-Maçonaria, assim como esta
perpassa o Hermetismo, estabelecendo-se um corredor de
unidade.Logo no primeiro parágrafo do livro, Wirth apresenta o mote
do livro. A intenção é clara: demonstrar que o programa de iniciação
é idêntico tanto na série de operações da Grande Obra, como na
sequência de provas a que é submetido um Franco-Maçon. O
próprio Wirth escreve:” A iniciação é una, ainda que cada escola
iniciática use símbolos próprios. Apreendamos comparando,
transpondo-nos de um simbolismo para outro, e a luz far-se-á no
nosso espírito.”Mas o aspecto mais louvável desta obra é a
capacidade de Wirth empreender uma viagem ao âmago dos
símbolos e interligá-los de uma forma coerente. Um símbolo não é
nada se não for capaz de transmitir a sua essência. Obviamente
que aquele que se submete à prova de o sentir/entender tem de
cumprir condições fulcrais para que ele se abra diante de si.Porém,
Wirth consegue transpor todas as barreiras do mutismo que é
inerente a cada símbolo. Consegue perscrutá-lo pela metafísica e
entendê-lo para lá das formas que tem . Cada traço tem um sentido
e um significado. O símbolo é a força matriz da verdade inerente à
vida e ao pensamento que procura essa verdade.O primeiro
capítulo - A Ideografia Alquímica , é fundamental em toda a obra.
Nele, explicita-se todo o nexo dos símbolos alquímicos, nexo que
permitirá, posteriormente, altercar sobre uma alegada pintura
maçónica. O nexo dos símbolos alquímicos será a chave silenciosa
para se abrir o portão do Hermetismo: “deter-nos-emos,
especialmente, na análise dos símbolos alquímicos, pois neles se
expressa a chave do Hermetismo.”E porquê a importância dos
símbolos? Wirth mais uma vez responde: “ O símbolo, pelo
contrário, favorece a independência em detrimento das ortodoxias
despóticas. Portanto, não é de estranhar que todas as iniciações os
tenham utilizado, porque apenas os símbolos permitem escapar à
escravidão das palavras e das fórmulas para chegar a uma
libertação real do pensamento. E não poderia ser de outra forma se
quisermos penetrar os mistérios, isto é, as verdades rodeadas de
obscuridades, que se transformam muito facilmente em
monstruosos erros, quando se procura expressá-las numa
linguagem que não seja a de alegorias simbólicas. Justificando-se
assim o silêncio imposto aos iniciados.A linguagem muda dos
símbolos conduz-nos à verdade escondida. Essa linguagem fala-
nos no silêncio espiritual - os símbolos transbordam de significado e
a vida passa a ser mais do que uma mera sombra numa qualquer
caverna da ilusão, onde o ouro do iniciado, segundo Wirth, “é só um
símbolo da perfeição”. Com o fantástico prólogo de S. Franclim,
este é um livro a não perder!

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INTRODUÇÃO AOS RITOS E RITUAIS
HERMÉTICOS E ALQUÍMICOS DO SÉCULO XVIII
JOSÉ MANUEL ANES

A Alquimia operativo-laboratorial (1) - a que é praticada em


laboratório - é um rito sacrificial em que o alquimista sacrifica a
matéria, constituindo esse rito (2) urna actividade individual. Apesar
disso, os alquimistas reuniam-se por vezes em escolas, mesmo que
reduzidas ao Mestre e ao discípulo, e trocavam opiniões entre si
dentro de uma mesma escola, ou entre alquimistas de diversas
escolas (3).

Existiram, no entanto, a partir de meados do século XVIII (e


sobretudo nesse século), ritos e rituais herméticos e alquírnicos que
não pretendiam fazer alquimia, mas preparar o candidato para uma
assimilação dos princípios herméticos e da prática alquímica, num
contexto ritual e dentro de um grupo organizado, através de uma
cerimónia iniciática onde seriam revelados - na iniciação, na
instrução e no catecismo - os segredos alquímicos.

Grande parte desses ritos e rituais foram criados num contexto


maçónico, constituindo (altos) graus maçónicos, como o ritual (do
grau) de Cavaleiro do Sol, ou mesmo um sistema (rito) maçónico,
como o Rito Hermético de Dom Pernety, ou a Estrela Flamejante do
Barão de Tschoudy.

Ocorre, a propósito, referir que alguns destes graus herméticos ou


alquímicos ocorreram no seio da Maçonaria "dos Antigos", ou do
universo maçónico por ela influenciado (e que tem raiz no
hermetismo renascentista, nos Rosa-Cruzes do século XVII, etc.),
mais aberta (e mesmo entusiasta) a receber ensinamentos
provenientes de correntes esotéricas como a Cabala, a Teurgia, a
Alquimia, etc., e interpretações esotéricas de tradições como a
Cavalaria - como os ritos "escoceses", quer o Antigo e Aceite, quer
o Rectificado, mas também os ritos de York, da Ordem Real da
Escócia (Heredom de Kilwining e Cavaleiro Rosa-Cruz) e do Rito
Sueco, proveniente, como o Rito Escoçês Rectificado, da
maçonaria da Estrita Observância Templária alemã, e mesmo,
ainda que não "regulares", os ritos "egípcios" de Cagliostro, de
Misraim, etc. -, o que não se passa, de modo algum, na Maçonaria
mais exotérica "dos Modernos" ( como, p.ex., o Rito de Emulação,
inglês, e o Rito Francês) (4).
Vamos analisar, brevemente, alguns desses rituais e ritos -
maçónicos ou para-maçónicos -do séc. XVIII (o último dos quais, o
de Misraim, fixado em começos do século XIX, a partir de materiais
do século XVIII).

A) O "Ritual alquímico secreto do grau de verdadeiro maçon


académico" (1770) (5) de Dom Pernety (1716-1796) e dos seus
"Iluminados de Avignon".

Antoine Joseph Pernety (Dom Pernety) nasceu em 1716 em


Roanne-en-Forez e pronunciou os votos como beneditino da
congregação de Saint-Maur, em 1732, na Abadia de Saint-Alllire de
Clermont. Muito inteligente e culto - versado em Matemáticas,
Ciências Naturais (participa na expedição de Louis de Bouganville
às Ilhas Maldivas) e Pintura e Escultura (6) -ele encontra, na
biblioteca da Abadia de Saint-Germain-des-Prés, o livro do abade
Lenglet-Dufresnoy, Histoire de la Philosophie hermétique (Paris,
1742), completado com a tradução do Véritable Philalète (Entré au
Palais fermé du Roi), que desperta nele uma paixão que perdurará
até ao fim da sua vida: a Alquimia. Em 1758 (e 1786) (7), publicará
as Fables égyptiennes et grecques dévoilées et réduites au même
principe e em 1758 ( e 1787), o Dictionnaire mytho-hermétique,
dans lequel on trouve les allégories fabuleuses des poètes, les
métaphores, les énigmes et les termes barbares des philosophes
hermétiques expliqués (B) . Em ambos os livros (mas
particularmente no primeiro, ao qual ele se refere constantemente
no Dictionnaire), Dom Pernety propõe-se dar uma explicação
alquímica das "fábulas" da Antiguidade (Elíada, Odisseia, etc.) e
também dos mitos religiosos egípcios que, segundo ele, conteriam
todos os segredos da Grande Obra.

Tendo entrado em conflito com a congregação monástica


beneditina de Saint-Germain-des-Prés, o nosso abade chega a
Avignon em 1766, onde propõe desde logo um novo rito maçónico,
o rito hermético, que foi adoptado pela Loja aristocrática dos
Sectateurs de la Vertu (à qual ele parece aderir sem sabermos se
ele já era maçon anteriormente ou se nela foi iniciado).

O rito (ou regime) de Pernety - inteiramente baseado no


Hermetismo e destinado a cristãos discretamente sapientes (9) -era
constituido por seis (altos) graus, para além dos três graus
simbólicos (de Aprendiz, de Companheiro e de Mestre):

1 -Verdadeiro Maçon
2 -Verdadeiro Maçon na via recta

3 -Cavaleiro da Chave de Ouro

4- Cavaleiro da Iris

5 -Cavaleiro dos Argonautas

6 -Cavaleiro do Tosão de Ouro.

O ensino hermético era dado pelo Orador da Loja, desde o primeiro


alto grau (de Verdadeiro Maçon): «Ia science à laquelle nous vous
initions, est Ia premiere et Ia plus ancienne de toutes les sciences.
Elle émane de Ia nature, ou plutôt c' est Ia nature elle-même,
perfectionnée par I' art et fondée sur I' expérience. Dans tous les
siècles, il y a eu des adeptes de cette science, et si, de nos jours,
des chercheurs y consument en vain leurs biens, leurs travaux et
leurs temps, c'est que, loin d'imiter Ia simplicité de Ia nature et de
suivre des voies droites qu' elle trace, ils Ia parent d'un fard qu' elle
ne peut souffrir et s' égarent dans un labyrinthe où leur folle
imagination les entraîne.(10)

A partir de 1766-7, Dom Pemety está em Berlin como bibliotecário


de Frederico II. Nesta cidade conhece outros hermetistas, toma
contacto com as doutrinas de E. Swedenborg (relativo aos
contactos com entidades celestes) e aperfeiçoa o seu Rito
Hermético. Em 1783 recebe a "Santa Palavra" de uma entidade
celestial que lhe ordena que abandone a Prússia e retome a
Avignon, para fundar o grupo dos "Iluminados" - na sequência dos
"Iluminados de Berlim", a que pertencera. Em 1787, o Rito tem
cerca de uma centena de elementos e em 1789 é já célebre nos
meios esotéricos.

A Instrução (ou Catecismo) - do Grau de Verdadeiro Maçon


Académico - contém perguntas e respostas (11) relativas à teoria
alquímica e também algumas alusões à sua prática (tradução é
nossa):

P. -Por onde andaste? R. -A percorrer o céu e a terra. P. -O que


viste? R. -O caos. P. -Quem o criou? R. -Deus. P. - Quem o
produziu? R. -A Natureza. P. -Quem o aperfeiçoou? R. -Deus, a
natureza e a arte. P. -O que entendes por caos? R. -A matéria
universal sem forma e susceptivel de adquirir toda a forma. P. -Qual
é a sua forma? R. -A luz encerrada nas sementes de toda a
espécie. P. - Qual é a sua ligação? R. -O espirito universal cido. P. -
Sabes trabalhar a matéria universal? R. -Sim, Sapientissimo. P. -De
que é que te serves para esse fim? R. -Do fogo interno e externo.
P. -O que é que resulta disso? R. -Os quatro elementos que são os
princípios principiantes e mediantes. P. -Como é que eles se
denominam? R. -O fogo, o ar, a água e a terra. P. -Quais são as
suas qualidades? R. -0 quente, o seco, o frio e o húmido.
Acopuladas duas a duas, dão respectivamente: a terra, seca e fria;
a água, fria e húmida; o ar, húmido e quente; o fogo, quente e seco,
o qual se vem a conjugar com a terra, pois os elementos são
circulares como o vento, o nosso pai Hermes. P. -O que é que
produz a mistura dos quatro elementos? E as qualidades de que
tudo é composto? R. -Os trés princípios principiantes mediatos. P.
-Que nome Ihes dás? R. -Mercúrio, enxofre e sal. P. -0 que
entendes por mercúrio, enxofre e sal? R. -Eu entendo-os como
mercúrio, enxofre e sal filosóficos e não vulgares. P. - O que é o
mercúrio filos6fico? R. -É uma água e um espírito que dissolve e
sublima o sal. P. -E o que é o enxofre? R. -É um fogo e uma alma
que o guia e o colora. P. -O que é o sal? R. -É uma terra e um
corpo que se congela e se fIXa e tudo isso se faz mediante o
veiculo do ar. P. -O que decorre destes três princípios? R. -Os
quatro elementos rodopiados como diz Hermes, ou os grandes
elementos como diz Raimundo Lúlio, que são o mercúrio, o enxofre,
o sal e o vidro, dos quais dois voláteis, a saber a água e o ar, que é
o óleo, porque toda a substância liquida pela sua natureza dissipa o
fogo, e a terra pura que é o vidro sobre o qual o fogo não tem acção
(...) P. -O que entendem por mixtos? R. -os animais, os vegetais e
os minerais. P. -Quem dá aos mixtos o movimento, o sentimento, o
alimento e a substância? R. - os quatro elementos: o fogo dá o
movimento, o ar dá o sentimento, a água, o alimento, e a terra, a
substância. P. - Para que servem os quatro elementos redobrados?
R. -Para engendrar a Pedra Filosofal se se for bastante industrioso
para Ihes dar o fogo conveniente e Ihes dar os pesos da natureza.
P. -Qual é o grau de fogo? R. -Trinta e duas horas para a
putrefacção, trinta e seis para a sublimação, quarenta para a
putrefacção...

B) Os rituais alquímicos do Barão de Tschoudy (1724 -1769) e


os Estatutos dos "Filósofos Desconhecidos":

O nome desta Sociedade dos "Filósofos Desconhecidos" parece ter


sido inspirado pelos "Estatutos dos Filósofos Desconhecidos",
incluidos na obra do Cosmoplita (o alquimista polaco Michel
Sendivogius), Tratados do Cosmopolita novamente descobertos
(12).

-A Estrela Flamejante (1766)

Este Rito é "verdadeiramente alquímico" (13), e no seu catecismo


(destinado a aprendizes, companheiros e professos) é feita uma
descrição da Grande Obra Alquímica, inspirada nos textos do
alquimista Michel de Sendivogius (1566-1646), o Cosmopolita (que
também influenciou Dom Pernety), particularmente Nova Luz
Química e Cartas Filos6ficas.

Da "instrução para o grau de adepto ou aprendiz Filósofo Sublime e


Desconhecido", retiremos a seguinte passagem:

P. -De que mercúrio devemos servirmo-nos para a Obra? R. -De


um mercúrio que não se encontra sobre a terra, mas que é extraído
dos corpos, mas nunca mercúrio vulgar... P. - Como chamas a esse
corpo? R. -Pedra bruta ou caos, ou "iliaste'; ou "hylé". P. -É essa
mesma pedra bruta cujo símbolo caracteriza os nossos primeiros
graus? R. -Sim, é a mesma que os maçons trabalham a desbastar
e da qual eles querem retirar as imperfeições; essa pedra bruta é,
por assim dizer, uma porção desse mesmo caos, ou massa confusa
desconhecida e desprezada por todos... (14)

-O Cavaleiro do Sol

A Ordem ou "Sociedade dos Filósofos Desconhecidos" possuiu um


sistema maçónico baseado no Hermetismo e na Alquimia, num
contexto cristão, cujo 7°, Grau, de "Cavaleiro do Sol", foi
praticamente incluido no 28° Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite
(codificado em 1802, em Charleston, E.U.A.) e no 51°, Grau do Rito
de Misraim. A sua palavra de passe é Stibium, Estibina (Sulfureto
de Antimónio), uma das matérias primeiras da Alquimia operativo-
laboratorial, e a sua doutrina contém, segundo Michel Monereau
(15), os seguintes temas: 1 - existe um primeiro princípio,
incognoscível, que penetra o universo em todos os seus planos; 2
-a vida humana é apenas um ponto face à eternidade; 3 -a
harmonia universal resulta do equilíbrio engendrado pela analogia
dos contrários; 4 -o absoluto é o espírito que existe por si próprio; 5
-o visível é apenas a mainfestação do invisível; 6 -o mal é
necessário à harmonia universal; 7 -a analogia é a única chave da
natureza.(16)
C) A Ordem dos "Arquitectos Africanos" e o "Crata Repoa"
(1770)

A Ordem dos "Arquitectos Africanos", ou dos "Irmãos Africanos"


("africanos" querendo dizer "egípcios"), foi instituída em 1767, na
Prússia, sob os auspícios de Frederico o Grande (inspirador e
protector de outros graus e ritos maçónicos entre os quais o Rito
Escocês Antigo e Aceite) e teve como Grão Mestre von Koppen,
ilustre membro da Estrita Observância Templária (organização
maçónico-templária dirigida pelo Barão Carl von Hund). Estava
organizada em 7 classes: 1ª, Pastophoris; 2ª, Néocoris; 3ª,
Melanophoris; 4ª, Chistophoris; 5ª, Balahata; 6ª, Astrónomo da
Porta de Deus; 7ª, Profeta ou Saphenath Pancah.

Este sistema hermético "visava revelar os segredos do antigo


Egipto" (17) e estava baseado no livro do "Crata Repoa" publicado
em 1770, na Alemanha, onde figuravam os graus desta "antiga
maçonaria". Após ter passado pelas Trevas (no 3°. Grau, na "Porta
da Morte" do Mestre Osíris), de onde apenas sairia após ter
adquirido "verdadeiros conhecimentos", e de ter atingido a Luz após
a "Batalha das Sombras" do 4°. Grau - onde receberia o "escudo de
Isis" -, o iniciado assistia no 5° Grau a uma representação da morte
da Serpente - Typhon, por Horus, finda a qual o Balahata aprendia
a "química" (isto é, a Alquimia), "a arte de decompor as substâncias
e de combinar os metais":

D) Cagliostro e o Ritual da Maçonaria Egípcia

Este ritual -mais hermético do que alquímico-laboratorial, visto que


ele aponta no sentido das "alquimias internas" (não psico-
espirituais, mas fisiológico-espirituais) -inclui umas "quarentenas
espirituais", durante as quais cada um receberá propriamente o
Pentágono (Estrela Flamejante), quer dizer, essa folha virgem
sobre a qual os Anjos primitivos imprimiram os seus números e
selos, e com a qual ele se tornará Mestre (...) e o seu espírito ficará
cheio de um fogo divino e o seu corpo se tornará puro como o da
criança mais inocente (...) com um poder imenso, não aspirando
senão ao repouso para atingir a imortalidade e poder dizer dele
próprio: Ego sum qui sum (Eu sou o que é).

O objectivo do seu Rito -a imortalidade conquistada durante a vida


física -pode ser resumido por uma frase extraída do seu catecismo:
«Tendo sido criado à imagem e à semelhança de Deus, eu recebi o
poder de me tornar imortal e de ordenar aos seres espirituais para
reinar sobre a terra».

Em 1784, Cagliostro fundou a Loja-mãe do seu Rito, "A Sabedoria


Triunfante", mas o Rito em si parece não ter sobrevivido ao seu
criador.

E) Os "Arcana Arcanorum" do Rito de Misraim e de Menfis-


Misraim

Os "Arcana Arcanorum" (Mistério dos Mistérios) são os últimos


graus do Rito de Misraim e do Rito de Menfis-Misraim que, embora
constituídos nos começos do século XIX, estão baseados em textos
do século XVIII (18), entre os quais provavelmente alguns de
Cagliostro.

No 88° Grau "o iniciado deve... receber os influxos celestes e...


sentir bater nele a vida universal, depois de o «orvalho celeste» ter
descido nele para fecundar o germe que ele traz dentro de si". Após
o 89°, Grau, que "permite um contacto com o invisível", vem o 90º.
Onde é dito que: «Toda a vida oscila entre estes dois polos: Matéria
e Espírito; Bem e Mal; Felicidade e Sofrimento. Toda a iniciação
deve conduzir-nos da Lua ao Sol, de Isis a Osiris, da Matéria à
essência divina».

Segundo Jean-Pierre Giudicielli (19) "É no grau do Cavaleiro Rosa


Cruz que se desenvolve um Wuei Tan (via exterior) e não um Nei
Tan, que é a obra mais avançada. Com efeito, o 18° Grau diz
respeito às duas etapas clássicas da via exterior... Mas é sem
equívoco possível, nos últimos graus de Misraim (87°, 88°, 89°,
90°), também chamados Escala de Nápoles, que residem certas
chaves operativas da alquimia interna do Corpo de Glória (nei Tan),
a qual já tinha sido anunciada no 12°. Grau de "Grande Mestre
Arquitecto":

A suprema ambição dos Grandes Mestres Arquitectos é de fazer


viver em eles a verdade e de comer o fruto da Árvore do
conhecimento, de serem deuses.

Conclusão

Estes ritos e rituais herméticos e alquirnicos aparecem, no século


XVIII, num contexto maçónico ou para-maçónico no ambiente
iniciático que se pode denominar, numa perspectiva generalizada,
de "Maçonaria dos Antigos", esotérica e mesmo ocultista.

Por falta de tempo não nos foi possível referir os Ritos da " Rosa
Cruz de Ouro" (Alemanha, 1777) e da "Rosa Cruz de Ouro do
Antigo Sistema" (Alemanha, 1781), ambos de natureza hermética e
alquirnica, o que ficará para uma segunda parte desta introdução.

NOTAS

(1) Escolhemos esta denominação para distinguir a alquimia que é


praticada em laboratório -também denominada de "fisica": embora
ela pretenda promover a espiritualização da matéria, e nesse
sentido ela é também e essencialmente "espiritual" -das alquimias
denominadas "psicológicas", "espirituais", etc., as quais também
apresentam uma operatividade. Há outras alquimias que são
também "operativas", como por exemplo as "alquimias internas" que
se desenrolam no interior do corpo humano (vide a alquimia
taoista). Para uma definição de "alquimia operativo-laboratorial", ver
a minha Tese de Doutoramento em Antropologia (Universidade
Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa,
2002), intitulada "Hermes redivivo -ressurgimentos da alquimia
operativo-laboratorial na segunda metade do século XX: novos
movimentos alquímicos franceses".

(2) Para uma discussão deste tema, ver a minha Tese


Complementar de Doutoramento em Antropologia, na mesma
Faculdade, "A Alquimia operativo- laboratorial, como rito sacrificial"

(3) Veja-se a tradição de encontros entre alquimistas, na Catedral


de Notre-Dame de Paris referida nos começos do século XX, pelo
alquimista (ou alquimistas...) Fulcanelli (in "O Mistério das
Catedrais", Lisboa, 1973, p.54): «Os alquimistas do século XIV
encontram-se aí, no dia de Saturno, no grande portal ou no portal
de S. Marcelo, ou ainda na pequena Porta Vermelha, toda decorada
de salamandras. Denys Zachaire informa-nos que o hábito se
mantinha ainda no ano de 1539, "nos domingos e dias de festa" e
Noel du Fail diz que «o grande encontro de tais académicos era em
Notre-Dame de Paris». Aí (...) cada um expunha o resultado dos
seus trabalhos, desenvolvia a ordem das suas pesquisas. Emitiam-
se probabilidades, discutiam-se possibilidades, estudava-se no
próprio local a alegoria do belo livro e a exegese abstrusa dos
misteriosos símbolos não era a parte menos animada destas
reuniões.»
(4) Para uma sucinta, mas esclarecedora discussão desta diferença
entre "antigos" e "modernos", veja-se o interessante livro de Jean
Solis, Guide Pratique de la Franc-Maçonnerie, Ed. Dervy, Paris,
2001 (livro que contém, no entanto, algumas incorrecções sobre as
Obediências regulares no mundo, mas que o autor se propõe
rectificar brevemente, conforme comunicação pessoal recente).

(5) Dom Pemety, Rituel Alchimique Secret, Viareggio, Ed. Rebis,


1981.

(6) Foi tradutor ( e comentador) de um tratado de matemáticas


alemão, colaborou no 8°. Volume de Gallia Christiana, publicou um
comentário da Regra de São Bento, com o título de Manuel
bénédictin e, estando já destacado na Abadia de Saint-Germain des
Prés, também um Dictionnaire portatif de peinture, de sculture et de
gravure, procedendo nessa ocasião a estudos de Botânica ( cf. J.
Bricaud, Les Illuminés d'Avignon, pp. 5-7).

(7) Redição em 1971, na Ed. Arché, Milão, e em 1982, nas Ed. La


Table d'Emeraude, Paris.

(8) Reedição em 1972, em Milão, na Arché, e no mesmo ano, na


Denoel, em Paris.

(9) Ver artigo 2 dos Estatutos a p. 3 do Rituel Alchimique Secret (op.


cit.).

(10) J. Bricaud, op. cit., p. 33.

(11) cf. pp. 19-21 do Rituel Alchimique Secret (op. cit.)

(12) Bernard Roger, "Introdução" a Nouvelle Lumiere Chymique,


Paris, Retz , 1976, p. 23. Ver também Zbigniew Sydlo, Michael
Senvivogius and the «Statuts des Philosophes Inconnus", in "The
Hermetic Journal", 1992, pp. 72-91.

(13) Michel Monereau, Les Secretes hermétiques de la Franc-


Maçonnerie, Paris, Axis Mundi, 1989, p.27.

(14) ibid.; a tradução é nossa.

(15) Les Secrets Hermétiques de Ia Franc-Maçonnerie, pp. 26-27.

(16) ibid.; a tradução é nossa.


(17) Michel Monereau, op. cit., pp. 38-39

(18) Michel Monereau, op. cit., pp. 43-44.

(19) In Pour la Rose Rouge et la Croix d'Or, Paris, Axis Mundi,


1988, p. 68.

BIBLIOGRAFIA

Anónimo -Les Initiations antiques -t. II -Crata Repoa ou Initiations


aux anciens mystères des prêtres d'Égypte, Paris, 1770 (e 1821),
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Bricaud, Joanny -Les Illuminés d'Avignon -étude sur Dom Pernety et


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Paris, Guy Trédaniel Ed., 1994.

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Faivre, Antoine -El Esoterismo en el siglo XVIII (trad. espanhola da


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1976.

Giudicelli de Cressac-Bachelerie, J.-P. -Pour la Rose Rouge et la


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Labouré, Denis -De Cagliostro aux Arcana Arcanorum, in


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Mollier, Pierre -Contribuition à l' étude du grade de Chevalier du


Soleil, p. I, II, III, in "Renaissance Traditionelle", Paris,
respectivamente, nºs. 91-92 (Junho-Outubro de 1992), 93 (Janeiro
de 1993) e 94-95 (Abril-Julho de 1993)

Monereau, Michel- Les Secrets Hermétiques de la Franc-


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Naudon, Pzul -Histoire, Rituels et Tuileur des Hauts Grades


Maçonniques, Paris, Ed. Dervy, 3a. Ed. ver. e aum., 1984.

Pernety, Dom -Rituale alchimico secreto -Rituel alchimique secret


du grade de vrai Maçon Académicien ( composé en 1770 ), reedição
das Edizione Rebis, Viareggio, Itália, 1981.

Solis, Jean J. -Guide pratique de la Franc-Maçonnerie, Paris, Ed.


Dervy, 2001.

Tschoudy, Baron de -L'Étoile Flamboyante, ou la Société des Franc-


Maçons considérée sous tous les aspects (1766), Gutemberg
Reprint, Paris, 1979.

Tshoudy, Baron de- Touts les rituels alchimiques du Baron de


Tschoudy, reedição das Éditions Arma Artis, Paris, s.d.

Ventura, Gastone -Les Rites Maçonniques de Misraim et Memphis,


Paris, Eds. Maisonneuve & Larose, 1986.

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O Hermetismo e a Maçonaria - Frederico
Gonzalez
Hermetismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia
associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, "Hermes
Três-Vezes-Grande", uma deidade sincrética que combina aspectos
do deus grego Hermes e do deus egípcio Thoth. Estas crenças
tiveram influência na sabedoria oculta europeia, desde a
Renascença, quando foram reavivadas por figuras como Giordano
Bruno e Marsilio Ficino. A magia hermética passou por um
renascimento no século XIX na Europa Ocidental, onde foi praticada
por nomes como os envolvidos na Ordem Hermética do Amanhecer
Dourado e Eliphas Levi. No século XX foi estudada por Franz
Bardon.

Os escritos herméticos são uma coleção de 18 obras Gregas, e as


principais são o Corpus Hermeticum e a Tábua de Esmeralda, as
quais são tradicionalmente atribuídas a Hermes Trismegisto
("Hermes três vezes grande"). Estes escritos contêm os aspectos
teórico e filosófico do Hermetismo em seu aspecto teosófico. O
período bizantino é marcado por uma outra coleção de obras
herméticas, que também são relacionadas ao Hermes Trismegisto,
e contêm uma tradição hermética popular a qual é composta
essencialmente por escritos relacionados a astrologia, magia e
Alquimia. Esta versão popular encontra sustentação ou base nos
diálogos Hermeticos, apesar dele se distanciar da magia.

A prática da magia entretanto não está distante das praticas


realizadas no antigo Egito, a qual em uma última análise é a fonte
de todos os diálogos herméticos, pois o hermetismo lá floresceu, e
portanto estabelece uma conexão entre as duas tradições
Hermeticas: filosófica e magia.

O livro Caibalion foi escrito no final do século XIX por três iniciados
que registraram as Sete Leis do Hermetismo. Não é um livro
oriundo da era pré-cristã como se supõe.

O hermetismo consiste, de forma sincrética, no estudo e prática da


evolução e expansão da consciência humana até à Consciência
divina, penetrando assim nos mais profundos mistérios da Criação,
o que ficou conhecido como iniciação ou iluminação no Oriente

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Legatus Fiat Lux
Certa vez há muito tempo um nobre rico, orgulhoso e poderoso,
contudo profundamente amargurado estava em seu leito de morte,
e mandou que chamassem o seu único filho para junto de si, pois
que este há muito tempo havia sido enviado por ele para que fosse
educado na condição de leigo em uma respeitável ordem monástica
e de armas.

Ao ver seu jovem e vigoroso herdeiro, disse-lhe usando as forças


que ainda lhe restavam.

Minha hora está próxima filho meu. Vou-me embora breve, mas
antes preciso lhe falar sobre o que jamais conversamos.
Pai não faças esforços! - respondeu o filho preocupado.

Não há descanso que me recupere e nem esforço que me faça


piorar meu filho.

De tudo quanto irás herdar em riquezas e estas não são poucas,


nada mais valioso terás do que as três recomendações que tenho
para ti no dia de hoje, aonde chego ao limiar da minha existência.

Nunca erre meu filho, pois tantas forem às vezes que tiverem
oportunidade os inimigos farão comentários maldosos a teu
respeito, usarão vossos tropeços como faltas impagáveis, dirão a
todos o quanto foste mal, quantificarão em proporções infinitas a
menor das tuas falhas, de uma ruga diagnosticar-te-ão como se
leproso fosses e da sua retratação para com aqueles a que venhas
errar falarão ser dissimulação.
Jamais confie em alguém, pois é na confiança que tens em outros é
que nasce a traição, são aqueles que se sentam a tua mesa para
tomar de tua ceia que o apunhalam como salteadores, confiar
significa soltar o cabo da espada e dá vosso pescoço de própria
vontade ao carrasco, ou seja, ser credo para com os homens é
desejar tua própria ruína.

E por último, vos ensino e suplico não perdoe em tempo algum a


teus inimigos e até mesmo os teus amigos, se estes o
decepcionarem em algo. Quem perdoa abre caminho para que o
beneficiado o fira com mais força depois, quem perdoa se mostra
fraco perante todos por não responder com a devida força as
ofensas recebidas, e ao perdoar chancela com teu aceite à
humilhação que sofrestes perante um algoz desonrado.

Depois que disse tudo isso o pai, fitou o rosto do seu filho
esperando dele o agradecimento por aquela lição, que pensava ele
seria a de maior relevância que poderia ter dado a ele.

O filho após alguns momentos de reflexão dirigiu-se ao pai dizendo:


Pai, lá no priorado, para onde me mandastes quando eu tinha
apenas doze anos, todas as vezes que eu errava um exercício com
a espada ou com o escudo, meu turcoplier me mandava continuar,
todas às vezes em me atrapalhava com uma cerimônia um irmão
mais velho prontificava-se a orientar-me e se não sabia como
proceder em uma cerimônia havia alguém sempre disposto a
ensinar.

Depois quando me tornei um escudeiro, fui ao campo de guerra


sendo que o irmão cavaleiro confiava a mim sua própria vida, pois
era eu que deveria passar-lhe as armas no tempo certo, alimentar e
dá água ao seu cavalo para que não fraquejar-se na batalha e do
arnês (arreios) do animal, para que o cavaleiro não caísse da
montaria.

Não foram poucas às vezes os meus momentos de ira, devido às


saudades que sentia daqui, o chefe da casa perdoava-me falando
que eu aprenderia a controlar meu ímpeto enquanto todos
incitavam para que eu fosse devolvido como infame a nossa
casa.Mesmo quando, fatigado atrasei para atender o chamado a
determinada contenda com uma patrulha sarracena, fui perdoado
em reconhecimento ao meu esforço nos dias anteriores.

Prosseguindo em tom de lamento, o filho concluiu:


Pai hoje soube através de ti que: errar, confiar e perdoar nos
mancham. Tenho muitas dúvidas confesso, mas hei de saber como
praticar o que me passastes.
O pai que escutara com todo interesse as palavras de seu filho,
transpirando muito e pedindo ao criador que não desencarnasse
sem poder falar novamente ao filho. Tão logo se refez, depois de
um longo suspiro, disse:
Quão tolo e soberbo eu sou filho meu! Mandei te chamar, para em
meus últimos momentos dar-te um legado de sabedoria, e o que
me acontece, ao invés de deixar levarei de parte do meu filho, um
ensinamento que supunha nem existir, face o meu vasto
conhecimento.

Digo a ti filho meu, agora eu é que soube que: o erro é comum ao


homem, importando apenas se ele existe intencionalmente, por
casualidade ou por ausência de orientação.

Que a confiança no próximo emana da própria honradez pessoal,


pois quem não sabe confiar é porque jamais foi digno de sê-lo
também.

Quem não dá o beneficio da dúvida, não exerce o perdão é um


condenado antecipado ao martírio na aurora dos tempos. Porque
entre a humanidade, não se materializou o que dele não fará uso
ao menos uma vez em sua trajetória terrena.

Filho me encontrastes agonizante e caminhando nas trevas. E


retirou a venda da minha ignorância com teu discernimento, estou
enxergando filho, estou enxergando a luz, eu estou indo, estou
pronto... Fiat Lux...

____________________________//_________________________

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