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X Simpósio de

Pedagogia – Letramento:
a interlocução na
formação de professores –
CAC/UFG

A QUESTÃO DA
CRIANÇA EM O
ILUMINADO DE
STEPHEN KING
Mateus André Felipe dos Santos Alves*
Alexander Meireles da Silva**

*Graduando do curso de Letras CAC/UFG e bolsista do PIVIC: Faces


da escuridão: o Gótico na contemporaneidade.
E-mail: mateusdre@hotmail.com
*Professor Adjunto do curso de Letras CAC/UFG e orientador do
projeto PIVIC: Faces da escuridão: o Gótico na contemporaneidade. E-
mail: prof.alexms@gmail.com
A concepção da infância
 Algo bastante novo que surgiu em nossa sociedade
é a questão da infância, onde em meados do século
XVII a criança inicia a conquista pelo certo
destaque na sociedade, no mesmo século como
aponta (Ariès, p. 171) onde a sociedade destacava-
se, que não poderia apegar a algo que era
considerado como uma perca eventual, nesse
sentido, é claro a visão perante o valor das
crianças, torna um fato chocante na sociedade
contemporânea.
A concepção da infância
 Dentro disso, mediante aos processos históricos,
diversas mudanças sociais, econômicas, religiosas e
educacionais, a criança gradativamente deixa de
ser considerada um adulto em miniatura, ou seja,
um individuo valorativamente menor, levando a
esta criança ser indubitavelmente compreendida
de forma diferenciada.
The Habert de Montmort Children

Pintado por: Philippe de Champaigne (Bruxelas 1602 -


Paris 1674)
Ano: 1649
Clelia Cattaneo, Daughter Of Marchesa Elena
Grimaldi

Pintado por: Antony Van Dyck


(Bruxelas 1602 - Paris 1674)
Ano: 1623
Sem título (Putto)

Pintado por: François Boucher (Paris 1703 - id. 1770)


Ano: Indefinido
A concepção da infância
A questão bem marcante é o inicio da vida adulta,
fase imediatamente posterior da infância, não
existia a adolescência. Conforme o teórico Ariès,
Luís XIII aos 14 anos e dois meses, teve a primeira
relação sexual com a sua esposa, e o casamento de
uma menina de 13 anos era comum. E as
brincadeiras e assuntos voltados à sexualidade,
eram encarados com naturalidade e não chocava a
sociedade, isso no século XVII (p. 77).
A concepção da infância
 As novas características dos valores da criança,
foram a atenção e preocupação por parte dos
moralistas.
 No livro La Civilité Nouvelle, de Courtin, de 1671
onde as crianças não eram recomendadas a dormir
na mesma cama com adultos, evitando-se que as
mesmas sejam levadas a adquirirem
comportamentos inadequados e alheios a
sociedade.
A concepção da infância
 Na questão da leitura onde se deveriam ler livros,
que trouxesse alguma pureza na linguagem
estimulando assim a mentalidade das crianças da
época. Já, São João Batista de La Salle (1651-
1719), no início do século XVIII criticava a arte, os
espetáculos como comédias, bailes, era permitido
somente jogos educativos. (ARIÈS, p. 89).
Uma nova
infância
Uma nova infância
 No século XX, com a entrada de novas ciências, como a
Psicologia, Psicanálise, Pediatria, abrem-se campos
para o estudo do desenvolvimento infantil, onde a
criança não é mais vista, como um ser afastado das
manifestações sexuais, onde ao nascer já carrega
consigo a presença da sexualidade. Antes era entendido
que a sexualidade é somente iniciada na puberdade.
 “Faz parte da opinião popular sobre a pulsão sexual
que ela está ausente na infância e só desperta no
período da vida designado da puberdade. Mas esse não
é apenas um erro qualquer, e sim um equívoco de
graves consequências” (FREUD, 1980, p. 163).  
Stephen King

Stephen Edwin King nasceu na cidade de Portland, no Maine, no dia 21 de


setembro de 1947. Considerado um dos mais notórios escritores de contos de
horror e ficção de sua geração, é um dos autores de maior sucesso em todo o
mundo, com livros publicados e admirados em mais de 40 países. Inúmeras de suas
obras receberam adaptação para o cinema, tais como Conta Comigo, À Espera de
Um Milagre e Um Sonho de Liberdade, entre outras. O autor vive em Bangor, no
Maine, com sua esposa, a romancista Tabitha King.
O Iluminado de

Stephen King
O Iluminado de Stephen King
Costumeiramente a obra de King é classificada como Literatura
de Massa devido a sua prolífica a produção de Best-Seller. Mas
como se define essa produção cultural? Segundo a concepção de
Muniz Sodré, em seu livro Best-Seller: A Literatura de mercado
(1985), existem algumas definições: 
Vamos [...] adotar como representativas de fenômenos diferentes
de produção e reconhecimento de textos as expressões “literatura
culta” e “literatura de massa”. Como sinônimas desta última,
poderemos usar também as expressões best-seller e “folhetim”.
São termos as vezes intercambiáveis. Mas é evidente que uma
obra de literatura culta pode tornar-se um best-seller (isto é ter
grande receptividade popular), assim como um livro “de massa”
pode ter sido escrito por alguém altamente refinado em termos
culturais e mesmo consumido por leitores cultos (SODRÉ, p. 5-6)
O Iluminado de Stephen King
É importante ter em mente o seguinte: o circuito
ideológico de uma obra não se perfaz apenas em sua
produção, mas inclui necessariamente o consumo. Em
outras palavras, para ser “artística”, ou “culta”, ou
“elevada”, uma obra deve ser também reconhecida como
tal.
O Iluminado de Stephen King
Os textos que estamos habituados a considerar cultos ou
de grande alcance simbólico assim são institucionalmente
reconhecidos (por escolas ou quaisquer outros
mecanismos institucionais), e os efeitos desse
reconhecimento realimentam a produção. A literatura de
massa, ao contrário, não tem nenhum suporte escolar ou
acadêmico: seus estímulos de produção e consumo
partem do jogo econômico da oferta e procura, isto é, do
próprio mercado. A diferença das regras de produção e
consumo faz com que cada uma dessas literaturas gere
efeitos ideológicos diferentes.” (SODRÉ, p. 6)
O Iluminado de Stephen King
 Aoadentrarmos na obra de King, devemos entender a
concepção de infância, pois é um dos fatores mais
abordados em suas obras literárias, em O Iluminado
um romance apresenta uma história de uma família
nuclear composta de pai (John 'Jack' Daniel
Torrance), mãe (Wendy Torrance) e filho (Danny).

O romance inicia-se com Jack em uma entrevista de


emprego concorrendo uma vaga de emprego
temporário em um hotel afastado da cidade.
Jack – Duas faces de um pai
 PAI PERVERSO
 
...Danny entornara a cerveja em todas as páginas. Provavelmente para ver a
espuma. Ver a espuma, ver a espuma, as palavras brincavam em sua mente
como uma corda partida de um piano desafinado. Tudo isso aumentava sua
raiva. Deu um passo deliberado em direção ao filho de três anos, que o
olhava com um sorriso de prazer; o prazer de haver concluído, com sucesso,
um trabalho no escritório do pai; [...] Danny gritou um pouco... não... não...
diga a verdade... ele berrou. [...] Rodopiara Danny para espancá-lo; seus
dedos grandes de adulto cavando a pele do braço da criança, apertando seu
pulso. O estalar do osso quebrado não foi alto, não foi alto... foi muito alto,
IMENSO. Som suficiente para abrir uma fenda na névoa vermelha, como
uma flecha... deixando passar através de si uma nuvem escura de vergonha
e remorso, terror e convulsões da alma, ao invés da luz do sol. (p. 20-21)
Jack – Duas faces de um pai
 Percebe-se a maestria de King em sua retórica expressada na
repetição de palavras “ver a espuma”, “prazer”, e a confusão de
ideias do narrador: “O estalar do osso quebrado não foi alto, não
foi alto... foi muito alto”.
 
 Palavras perversas, cortantes, fundidas com o infantil, com o
doce, o delicado, o pueril, podemos denominar de balanço a
junção do negro com o branco, da luz com a escuridão, um jogo
de transições, um compasso de ideias, algo que é visível em todo O
Iluminado, uma técnica utilizada para não extasiar o leitor,
levando a ele temas tão distantes e tão ligados ao mesmo tempo.
Jack – Duas faces de um pai
 PAI BENEVOLENTE

Danny era a "menina dos olhos" de Jack desde o início. [...] Não se
lembrava de Danny ter algum dia vomitado a mamadeira sobre a
camisa de Jack. Jack conseguia fazê-lo comer depois que ela já tivesse
desistido das tentativas, até mesmo quando os dentes de Danny
começaram a aparecer, causando-lhe dores visíveis. Quando Danny
tinha cólicas, ela precisava niná-lo durante uma hora, até que ele ficasse
quieto; mas bastava Jack tomá-lo nos braços, dar duas voltas pelo
quarto, e Danny adormecia com o dedo na boca.
Ele não se importava em trocar fraldas, até mesmo aquelas que
chamava de encomendas especiais. [...] Ele fazia as mamadeiras e dava
na hora certa e só se levantava depois do último arroto. [...] Gostava da
mãe, mas o pai era seu dengo. (p.43)
O que vem a ser Iluminado?
O que vem a ser Iluminado para King? Na obra esse
elemento cabe inicialmente ao personagem Hallorann o
cozinheiro do hotel Overlook. Na chegada da família ao
hotel, Hallorann, percebe que Danny possui o seu mesmo
dom, Iluminado, nisso ele dialoga com a criança:

“— O que você tem, filho, eu chamo de luz interior, a


Bíblia chama de visões, e há cientistas que chamam de
premonição. Já li sobre isso, filho. Já estudei. Tudo isso
significa ver o futuro. Entende?” (p.66)
Tony, o “amigo invisível”
— Quem é Tony? - perguntou Hallorann
novamente.
— Mamãe e Papai dizem que ele é meu "amigo
invisível" respondeu Danny, recitando as
palavras com cuidado. — Mas ele é verdadeiro
mesmo. Pelo menos, eu acho que é. Às vezes,
quando me esforço para entender as coisas, ele
vem. E diz: "Danny, quero mostrar-lhe uma
coisa. "E é como se eu desmaiasse. (p.65)
Faces do hotel Overlook
A luta da Luz (Danny, Wendy, Halloran) contra a
Escuridão (Jack, seres malignos do hotel,
fantasmas, almas perdidas, topiarias que criam
vida e entre outra criaturas). Jack tenta matar a
sua família, da forma mais cruel, Danny pede
ajuda de Hallorann através da telepatia, ele está
de férias em outra cidade, em Flórida, Hallorann
consegue chegar ao Overlook.
Fim de Jack e do hotel Overlook
O desfecho para todos os seres e todo o hotel:
“As palavras transformaram-se em um grito de
triunfo, e o grito foi engolido no estrondo da
explosão da caldeira do Overlook.”(p.304).
A “calmaria”
Depois da tempestade vem a “calmaria”, a obra apresenta
um epílogo, onde Danny e Wendy a sua mãe vai ao
estabelecimento de Hallorann Hospedaria Red Arrow,
nisso Hallorann indaga Wendy:
— E os sonhos que ele tem tido?
— Tem melhorado — disse Wendy. — Só um esta semana.
Costumava ser toda noite, às vezes duas ou três vezes. As
explosões. Os arbustos. E principalmente... você sabe.
— Sim. Ele vai melhorar, Wendy.
Ela olhou para ele.
— Vai? Não sei.
Hallorann meneou a cabeça. (p.310)
A “calmaria”
Hallorann pôs a mão no cabelo louro-avermelhado do
menino e o sacudiu. [...]
O menino tentou responder, mas as palavras foram
engolidas por um soluço. Encostou a cabeça no ombro de
Hallorann e chorou, as lágrimas agora lavando seu rosto.
Hallorann segurou-o sem dizer nada. O menino teria que
derramar suas lágrimas várias vezes, ele sabia; e Danny
tinha sorte em ser jovem ainda para poder chorar. As
lágrimas que curam são também lágrimas que escaldam
e castigam. (p.311-312)
Considerações finais
 Uma das propostas desse trabalho foi fazer um percurso
da obra literária de Stephen King O Iluminado, levando
em conta a questão da criança, abordando os elementos
históricos, posteriormente a teoria literária, a proposta
não foi adentrar em temas da Psicanálise, percebe-se
que a obra é rica nesses conceitos, em outros trabalhos
poderão ser apresentado essas perspectivas.
 Neste sentido, imagino que esse trabalho abre campo
para estudos posteriores, visto que existe uma escassez
de pesquisas na área da literatura gótica
contemporânea, principalmente pesquisas relacionadas
aos trabalhos de Stephen King.
Referências:
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman.
2ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
BETTELHEIN, Bruno. A psicanálise dos contos de fada. Trad. Arlene Caetano.
18ed. São Paulo: Paz e Terra, 1980.
CARA, Salete de Almeida. Cap. 2 Poietké: Duas visões estéticas. In: ______A
poesia lírica. 3ed. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios 20).
DICIONÁRIO ENSICLOPÉDICO ILUSTRADO LAROUSSE, São Paulo:
Larousse do Brasil, 2007.
FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a sexualidade. In: ______ Obras
completas. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
KING, Stephen. O iluminado. Trad. Betty Ramos de Albuquerque. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2005.
SPIGNESI, J. Stephen. Número 3 The Shinning (1997) (O iluminado). In:______
O essencial de Stephen King. São Paulo: Madras, 2003. Cap. 03. p. 29-32.
SODRÉ, Muniz. Best-Seller: A literatura de mercado. São Paulo: Ática, 1985.
(Série Princípios; 14)
Obrigado!

“Olho e sou visto, logo, existo!”


Winnicott

Mateus André Felipe dos Santos Alves – 17/09/2010

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