Sentindo-se culpado, ele senta-se na calçada da escada da vila,
pensativo. Talvez se ele não tivesse feito aquilo, ele ainda estaria entre eles. Cabisbaixo, pôs-se a pensar sobre o ocorrido.
Duas semanas atrás, em plenas férias de verão, todo o pessoal foi
para Acapulco, para relaxar e curtir o calor. A alegria era contagiante, todos felizes e tranqüilos. Florinda e Lingüi... digo digo, Girafales estavam finalmente juntos. Barriga e Nhonhô não puderam participar, devido a uma dupla cirurgia de desobstrução das veias coronárias. Clotilde, morta a dois anos atrás devido a um enforcamento no varal da vila, obviamente não estava. Kiko, Chaves e Chiquinha, um pouco mais crescidos aproveitavam sua adolescência, experimentando coisas novas e ousadas. Para a surpresa de todos, Pati, por quem Chaves sempre teve uma queda, aparece na cidade, deixando Chiquinha com muito ciúme. Pati, mais madura, linda e desenvolvida, chama novamente a atenção de Chaves e este deixa Chiquinha de lado.
Partindo desse princípio, Chiquinha desenvolve um impulso
desesperado de tirar Chaves das garras de Pati, mas esse não parece ceder. Após tentativas e mais tentativas fracassadas, incluindo o uso de todas as suas armas, como salientar suas lindas sardas e seu estilo feminino (o que foi muito difícil, pois Chiquinha anda como um macaco de braços longos) ela faz um último apelo, o qual consistia em invocar o espírito de Clotilde. Clotilde, que tentou de muitas maneiras conquistar um amor não correspondido, era mestra em táticas de paquera, que iam desde preparar bolos a emprestar o ferro de passar roupas. Ao invocar Clotilde, ela diz para Chiquinha fazer algo que ela nunca havia feito, mas que poderia dar certo: inverter o ciúme.
Chiquinha então vira suas atenções a Kiko, que abobado como
sempre, nada percebe. Numa noite depois de várias bebidas com todos integrantes, Chiquinha é observada por dois homens. Arrastando Kiko para fora do local, oferece-se para ele e como ele, apesar de abobado, não é gay, aproveita o momento de fraqueza para perder uma coisa que muitos já perderam e outros ainda perderão (ou não). Nisso, o segundo homem segue os dois e ao ver o ato perde a noção das coisas. Alterado pela bebida, chega sorrateiramente ao local e após nocautear a menina, captura o homem.
Levantando novamente a cabeça, tenta de todas as maneiras lembrar
do que aconteceu, mas o homem na escada não tem forças para lembrar. Juntando seu chapéu do chão, Seu Madruga levanta-se e caminha em direção ao número 72, sempre com uma voz lhe perguntando “E o Kiko?”...