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O Peixinho de Ouro

Em uma ilha distante daqui, a Ilha Buián, viviam um pescador e sua cheia. O que agora ela queria era uma tina nova -- a madeira havia
esposa. Muito velhos e muito pobres, tinham apenas sua cabana para rachado e ela não tinha onde lavar a roupa:
viver e uma rede que o homem fizera com suas próprias mãos para        __ Vai dizer ao tal peixe que nos providencie uma!
pescar.        O homem obedeceu e, mais uma vez, foi à praia:
       Um dia, ao mar, o homem sentiu que a rede lhe vinha mais pesada.        __ Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e põe o rabo
E, pensando na boa pescaria que fizera, veio puxando, puxando a rede, para o mar!
puxando com toda a sua força... entre as malhas, a mesma água, o        O peixe de ouro veio a nadar.
mesmo sal, e um peixinho do tamanho de quase nada. No entanto, não        "E o que desejas, meu bom velho?"
era um peixe comum: suas escamas eram de puro ouro.        __ Minha mulher precisa de uma tina nova.
       O velho pescador já ia agarrá-lo quando o animaleto assim falou:        "Volta para casa que a tina nova lá está."
       "Não me leves, avozinho... Deixa-me livre nas águas do mar que te        O pescador estava ainda uns vinte passos de cabana, a mulher
serei de grande valia. Tudo o que desejares, dar-te-ei em recompensa." correu ao seu encontro:
       Embora perdesse a pesca e o almoço, o velho respondeu:        __ Vá imediatamente falar com o peixe e peça-lhe que construa
       "Vai-te embora, não preciso nada de ti. Vive em paz no mar!" uma casa nova para nós! Aqui já é impossível alguém morar...
       Voltando para casa, o homem viu que a velha lhe esperava à porta.        Girando nos calcanhares, o homem voltou ao mar. Repetiu as
"E que tal foi a pesca hoje?" Sem dar importância ao ocorrido, foi mesmas palavras (que você já sabe, por isso não vou repetir) e o peixe
contando... apareceu, dourado e solícito como sempre. No entanto, de novo em casa,
       __ Que velho mais idiota! Tivestes a sorte entre as mãos e não o pobre do pescador viu sua esposa soltando fumaça pelas orelhas:
soubestes aproveitar! Ao menos, tivesses pedido um bocado de pão...        __ Quão estúpido tu me vens! Esta casa é muito pequena! Não a
com o que havemos de forrar o estômago, se não há nesta casa nem uma quero! Vai outra vez ter com o tal peixinho de ouro e faça-o saber que
pobre migalha? não quero ser mais uma camponesa: quero ser esposa de governador, ter
       E a velha brigou o dia inteiro com o marido -- até que ele, não uma casa decente para morar!
podendo mais ouvir sua voz, foi à beira-d'água:        Mais uma vez, lá foi o bom velho:
       __ Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e põe o rabo        __ Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e põe o rabo
para o mar! para o mar!
       O peixe de ouro nadou em sua direção:        O peixe nadou até a margem e assim fez, a cauda na água e a
       "O que desejas, bom velho?" cabeça ao céu a falar:
       __ Minha mulher está zangada e diz querer pão.        "Que agora desejas?"
       "Volta para casa que pão não vos faltará."        __ Minha mulher deve estar maluca: ela não me deixa em paz. Diz
       Ao chegar, o velho encontrou a mulher mais brava do que antes. que já não quer ser camponesa, prefere ser esposa de governador.
(Ela era do tipo difícil de agradar!) Pão havia de sobra, uma gaveta        "Não te aflijas, que tudo estará resolvido."
       Ao voltar, não mais encontrou a velha cabana, nem outra mais nova bem quieto em seu posto.
sequer... Erguia-se, no mesmo terreno, uma mansão de três andares,        Mas não demorou para que a velha esposa se entediasse com toda
construída sobre largas bases de pedra. Sim, o peixe de ouro havia aquela vida de riqueza e honrarias; então, ordenou que trouxessem o
atendido com prontidão a mais esse pedido. Foi achegando-se e os pescador à sua presença. Nobres, generais, soldados e criados
criados vieram recebê-lo no pátio, perguntou por sua esposa... não colocaram-se em polvorosa pois ninguém jamais havia ouvido falar de tal
tardou por encontrá-la refestelada em uma poltrona, toda vestida em pessoa entre os afetos da czarina... Foi com muita dificuldade que
luxo. conseguiram encontrar o bom velho, levado imediatamente para o salão
       __ Como estás, minha esposa? Contente? do trono.
       __ Tens o atrevimento de chamar-me tua mulher, justo a mim,        __ Tens sorte de ainda viver para ver-me deusa dos mares. Este é
mulher do governador? meu desejo, comandar toda gente que vive sob as águas. Sem demora,
       E assim dizendo, deu ordens aos criados para despejarem-no à rua. retornas ao peixe e ordene-lhe!
Lá fora, o pescador levou boa surra com paus e cordas. Apanhou de tal        Coração muito apertado, o pescador obedeceu.
jeito que, só com muito custo, conseguiu ficar de pé outra vez... e, além        __ Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e põe o rabo
de tudo, foi nomeado varredor da casa, obrigado à vassoura e a deixar o para o mar!
pátio sempre limpo... se encontrassem uma folhinha no chão ou qualquer        Mas o peixe de ouro não apareceu na primeira chamada, nem na
sujeira sequer, desciam-lhe o pau! segunda, nem na terceira...
       Foi vivendo assim humilhado até o dia em que a esposa do        Foi então que o mar se ergueu, ondas revoltas, o azul ficando
governador quis vê-lo pessoalmente. Já estava cansada daquela vida. escuro. As águas ficaram irreconhecíveis e, neste momento, o peixe de
       __ Vai, agora mesmo, velho tonto, falar com o teu peixe. Desejo ouro chegou à beira-praia:
ser czarina para toda gente me obedecer e respeitar! Devo morar em        "Que mais queres, bom velho?"
um palacete e todos deverão se inclinar quando me virem passar! Andas,        E ele tudo foi contando como havia acontecido, mas o peixe, sem
sem demora! mais nada dizer, deu as costas e... desapareceu nas profundezas do mar!
       E foi ao mar ao pescador e veio à praia o peixe de ouro.
       Tudo se fez como contam as palavras... e, naquele mesmo lugar,        O pobre pescador foi-se também embora, pensando na guilhotina à
onde muito tempo atrás existiu uma cabana, no lugar dela, estava um espera de seu pescoço. Mas, chegando, que surpresa encontrou no lugar
palácio coberto com telhas de ouro. Sentinelas tomavam conta à porta. do palácio: a velha cabana, pequena e mal-acabada, sua mulher sentada
E ele entrou por um rico jardim, viu muito mais criados correndo de um num toco de árvore remendando uma roupa por costurar. Tudo de volta
lado para o outro. Na cozinha, descobriu-se um bom cheiro pelo ar, ao mesmo lugar, toda vida como era antes.
preparavam um banquete. E cada vez mais ressabiado, o pescador        Pescando dia após dia, o velho, a rede e o mar, nunca mais teve a
procurou pela mulher. mesma sorte de encontrar seu amigo de ouro.
       Ela estava lá, no alto de uma esplanada, entre nobres e generais,
passando revista às tropas. Tambores e trompetes faziam soar o
hino do Czar...
       O pescador desistiu de falar-lhe, procurou pela vassoura e ficou Conto russo adaptado por Peter O'Sagae

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