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e A Saída»
«Eu não posso escrever para você como você gostaria que eu fizesse,
mas posso contar-lhe os fatos exatos os quais pode fazer uso se
julgar necessário. O livro 'In Darkest England' é do General Booth;
a idéia do livro foi integralmente dele. Ele concebeu o título, e
ele estava determinado a escrevê-lo. Ele juntara uma considerável
massa de material, mas a doença de sua esposa e a impossibilidade de
ordenar tudo devidamente, fez com que ele pedisse meu auxílio. Ele
perguntou-me se eu poderia dar ao livro um tom literário adequado,
sem muita demora. Eu respondi que, 'faria o trabalho literário',
como de fato fiz. E tive muito orgulho em fazê-lo».
«Isso é tudo. Sou bem grato por ele ter reconhecido meus serviços,
como fez no prefacio. A expressão que eu sugeri, e que teria
explicado exatamente a situação, foi recusada por ele. Eu propus que
ele simplesmente -- depois de agradecer as pessoas do Exército que o
tinham auxiliado a colecionar os fatos e casos -- não acrescentasse
nenhum reconhecimento a pessoas que não fossem do Exército, atuando
temporariamente na compilação sob minhas ordens, ou fazendo algum
trabalho técnico na preparação do livro para o prelo. Não tive
nenhum desejo de ser mencionado. Minha participação foi como a do
impressor ou do encadernador. Ter um mãos um material tão nobre, foi
para mim mais do que uma recompensa. Eu sinto isso de uma maneira
bem forte porque durante anos insisti com o General Booth para que
fizesse algo assim».
********************************
NA TENEBROSA INGLATERRA
E A SAÍDA
Titulo original em inglês:
IN DARKEST ENGLAND and THE WAY OUT
versão em inglês:
http://www.geocities.com/projetoperiferia6/the_way_out.htm
copyright © 2004 William Booth.
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[A primeira edição em inglês dessa obra data de 1890 e foi feita sob
os auspícios do Exército de Salvação]
PREFÁCIO
A compaixão então despertada pela miséria desta classe foi uma força
motriz que nunca deixou de se fazer sentida durante quarenta anos de
serviço ativo na salvação dos homens. Durante todo este tempo eu sou
grato por ter sido capaz, pela bondosa mão de Deus em mim, de poder
fazer algo no sentido de mitigar um pouco a miséria desta classe,
trazer esperança divina e alegria terrestre aos corações de
multidões e multidões de miseráveis, como também muitas bênçãos
materiais, incluindo coisas comuns como comida, roupa, casa, e
trabalho, a base de tantos outros benefícios temporais. E assim
muitas criaturas pobres têm obtido «proveito em tudo, usufruindo a
promessa de vida no agora e no porvir».
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Sem dúvida é bom que os homens saiam por si mesmos do remoinho de
água em direção à pedra da libertação enfrentando os contratempos
que até então os dominaram, que sigam firmes em frente mesmo com as
ondas batendo e empurrando-os para trás. Mas, ai! para muitos isto
parece ser literalmente impossível. Aquela resolução de caráter, que
faz com que o nervo moral agarre a corda lançada para o salvamento,
que continua segurando apesar de toda resistência que encontra, quer
a salvação. Mas é um caso perdido. A destruição generalizada
quebranta e desorganiza o homem como um todo.
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foi expulso. Agasalhe aquele que tem frio e não desvie teus olhos.
Derrame tua alma ao faminto -- Então das ruínas surgirão novos
edifícios e serão restabelecidas as fundações de muitas gerações».
No que diz respeito àquela que por quase quarenta anos foi
indissoluvelmente associada a mim em todo empreendimento, devo-lhe
muito pela inspiração que encontrou guarida neste livro. É bem
difícil para mim calcular com exatidão até que ponto a esplêndida
bondade e ilimitada condolência daquele caráter me incentivou neste
longo serviço ao homem, ao qual nós e nossos filhos nos dedicamos.
Para mim será sempre uma refrescante e preciosa lembrança o fato de
que, diante do incessante sofrimento de uma terrível doença, minha
esposa agonizante encontrou alívio considerando e desenvolvendo as
sugestões para o avanço moral, social e espiritual das pessoas, e eu
agradeço Deus por ela ter sido levada de mim quando o livro já
estava praticamente pronto e os últimos capítulos já tinham sido
enviados ao prelo.
WILLIAM BOOTH.
Outubro de 1890.
Na Tenebrosa INGLATERRA
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a sua descrição da imensa floresta que oferecia uma barreira quase
impenetrável ao seu avanço. O explorador intrépido, «marchou,
rasgou, rompeu, e desbravou o caminho durante cento e sessenta dias
através da mata fechada da verdadeira floresta equatorial». A mente
do homem dificilmente concebe esta imensidão de selva arborizada,
cobrindo um território quase tão grande como o da França, onde os
raios do sol nunca penetram, onde na escuridão, no ar úmido,
carregado com o vapor quente do pântano, seres humanos reduzidos a
pigmeus e brutalizados em canibais espreitam, vivem e morrem. O Sr.
Stanley vaidosamente empenha-se em revelar o completo horror daquela
terrível escuridão. Ele diz:
«Considere uma espessa mata escocesa que goteja quando chove; imagine
que isto seja uma mera vegetação rasteira que se desenvolve à sombra
impenetrável de velhas árvores de 100 a 180 pés de altura; roseiras
bravas e espinhos abundantes; riachos preguiçosos que escorrem pelas
profundezas da selva, às vezes um profundo afluente de um grande
rio. Imagine esta floresta e selva em todas suas fases de decadência
e crescimento, a chuva que tamborila a cada dois dias em cima de
você o ano todo; uma atmosfera impura com suas conseqüências
terríveis, febre e disenteria; escura ao longo do dia e de uma
negritude quase palpável ao longo da noite; se você puder imaginar
tal floresta se estendendo numa distância que vai de Plymouth até
Peterhead, então você terá uma idéia justa de algumas das
inconveniências suportadas por nós na floresta de Congo».
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terra, dispara seus corações enviando-os espasmódicos em direção à
garganta, o rugindo e o estalar de um mar de opressão e fúria -- oh,
então o horror se intensifica! Quando a marcha começa uma vez mais,
e as fileiras se movem lentamente pelos bosques, eles renovam seus
mórbidos pensamentos, e perguntam a si mesmos: Até quando teremos
que aturar isso? A alegria da vida vai terminar assim? Temos mesmo
que atravessar nossos dias nesta triste escuridão, nesta sombria
lida, até cambalear, cair e apodrecer entre os sapos? Então eles
desaparecem aos pares nos bosques, entre as árvores, embrenhando-se
no caos; depois que a caravana passa eles seguem pela trilha, alguns
que alcançaram Yambuya transtornam os jovens oficiais com seus
contos de aflição e guerra; alguns caem em prantos pelos cantos;
outros vagam titubeantes pelos escuros labirintos dos bosques,
desesperadamente perdidos; e alguns são destripados para o banquete
canibal. Aqueles que permanecem onde estão tornam-se reféns do medo
de um perigo maior, os remanescentes, compelidos pelo medo de um
perigo ainda maior, marcham mecanicamente, tomados pelo temor e pela
fraqueza.
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catedrais e palácios não inspiram um horror semelhante aos que
Stanley encontrou na grande floresta Equatorial?
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habitantes, massacram os que resistem, e violam todas as mulheres;
mas se as ruas pedregosas de Londres pudessem falar narrariam
terríveis tragédias, a completa ruína, os horríveis arroubos, como
se estivéssemos na África Central; com a diferença de que essa
horrível devastação é encoberta, como um cadáver, pelas
artificialidades e hipocrisias da moderna civilização.
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drogas [N.T. no original gin-shop] se espalham por toda parte como
um Rio de Água da Morte fluindo dezessete horas por dia para a
destruição das pessoas. Uma população encharcada de álcool,
mergulhada no vício, carcomida por toda espécie de males físicos e
sociais, estes são os habitantes da Tenebrosa Inglaterra entre os
quais passei toda minha vida, e para cujo resgate convoco agora
todos os homens e mulheres de bem de nossa terra.
Ainda não chegou a hora? Há, é verdade, uma audácia na mera sugestão
de que o problema não é insolúvel e que basta tomar alguma atitude.
Mas porque ninguém faz coisa alguma? Se, após considerações
completas e exaustivas, chegamos deliberadamente à conclusão de que
nada pode ser feito no que diz respeito ao destino inevitável e
inexorável de milhares de ingleses brutalizados mais do que as
bestas pela condição do ambiente em que vivem, as coisas
permanecerão sempre como estão. Mas se, pelo contrário, acreditarmos
que este «pântano terrível» em que homens e mulheres se atolam
geração após geração possa ter um fim; e se o coração e o intelecto
do gênero humano se revolta igualmente contra o fatalismo do
desespero, então, realmente, chegou a hora, o momento certo da
questão ser enfrentada não no mero espírito diletante, mas com a
determinação resoluta de dar um fim a esse brado que envergonha
nossa era.
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mal consegue enxergar estas colônias pagãs e selvagens incrustadas
bem no coração de nossa capital! Não há nada mais horrivelmente
sarcástico -- os teólogos poderiam usar uma palavra mais forte -- do
que mencionar o nome de Alguém que veio buscar e salvar o que estava
perdido, nessas Igrejas que, envoltas por multidões perdidas, dormem
apáticas ou exibem um interesse espasmódico por uma veste
sacerdotal. Qual a utilidade de todo esse aparato nos templos e nas
igrejas visando salvar homens da perdição depois da morte, se nunca
estendem a mão para salvar pessoas do inferno da presente vida? Será
que não chegou o tempo de esquecer por um momento suas infinitamente
pequenas e obscuras picuinhas, e concentrar todas suas energias em
um esforço único para quebrar esta perpetuidade terrível de
perdição, e salvar pelo menos alguns daqueles pelos quais seu
professo Fundador morreu?
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coisa posso dizer. Não há nada em meu esquema em curso de
colisão com o socialismo ou o municipalismo [N.T. no original
Socialists of the State, or Socialists of the Municipality], com
individualistas ou nacionalistas, ou qualquer outra das várias
escolas no vasto campo da economia social -- excluindo apenas
aqueles economistas anti-cristãos que julgam ser um insulto à
doutrina da sobrevivência do mais apto tentar salvar o mais fraco de
ir para a bancarrota, e que acreditam que diante de um homem caído o
supremo dever de uma Sociedade Competitiva [N.T. no original
self-regarding Society] é passar por cima dele. Naturalmente, tais
economistas ficarão desapontados com este livro, mas arrisco-me a
acreditar que todos os outros, além de não encontrarem nada que entre
em choque com suas teorias prediletas, talvez encontrem alguma
sugestão útil para utilizar daqui por diante. Qual seria, então,
essa Tenebrosa Inglaterra? Para quais pessoas reivindicamos essa
«urgência» que dá ao caso deles prioridade sobre todos os demais
extratos sociais?
Ainda vão passar muitos anos até que os seres humanos em geral sejam
tão bem cuidados como os cavalos. O Sr. Carlyle observou há muito
tempo que os trabalhadores de quatro patas já conquistaram tudo
aquilo que os de duas patas ainda anseiam obter: «Não são poucos os
cavalos na Inglaterra, capazes e propensos ao trabalho, que não
tenham o devido alimento e hospedagem, trotando felizes da vida com
seus pelos macios e lustrosos». Você pode achar isso impossível;
mas, disse Carlyle, «O cérebro humano, observando estes cavalos
ingleses macios e lustrosos, recusa-se acreditar tal impossibilidade
para os homens ingleses». Não obstante, quarenta anos se passaram
desde que Carlyle disse isso, e parece que não estamos nem um pouco
próximos de conseguir para os trabalhadores de duas patas o mesmo
padrão conquistado pelos de quatro patas. «Talvez logo conquistemos
isso», reclama o cínico, «se pelo menos pudéssemos produzir homens
de acordo com a demanda, como fazemos com os cavalos, para
prontamente enviá-los ao matadouro quando perderem o vigor» -- para
não ser, naturalmente, descartado.
Qual será então o padrão que podemos aventurar perseguir com alguma
perspectiva de realização em nosso tempo? É bem modesto, mas se
alcançado resolveria os piores problemas de Sociedade moderna. É o
padrão da carruagem londrina. Quando nas ruas de Londres um cavalo
de carruagem, cansado, descuidado ou estúpido, tropeça e cai
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estirado no chão no meio do tráfico, antes de perguntar porque ele
tropeçou tentamos botá-lo novamente em pé. O cavalo da carruagem é uma
ilustração bem real do lumpem; ele normalmente cai por causa do
excesso de trabalho e da desnutrição. Se você o coloca novamente em
pé sem alterar suas condições, apenas lhe proporciona mais uma dose
de agonia; e, como da primeira vez, terá que pô-lo em pé novamente.
Pode ter sido por excesso de trabalho ou desnutrição, ou pode ter
sido por sua própria culpa que ele quebrou os joelhos e esmagou as
costelas, mas isso não importa. Seja por piedade, ou pelo menos para
evitar uma obstrução do tráfico, toda a atenção se concentra na
pergunta de como é que vamos colocá-lo em pé novamente. As amarras
são soltas, o arreio é desafivelada, ou, se for necessário,
cortado, e tudo é feito para colocá-lo em pé. Então ele é colocado
novamente nos eixos e restabelecido em seu circuito regular de
trabalho. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que todo cavalo de
carruagem londrina tem três coisas; abrigo para a noite, comida para
o estômago, e um sócio pelo qual pode ganhar seu milho.
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população de 908.000 almas; quer dizer, menos de um quarto da
população de Londres. Que significam estas estatísticas? Se
estimarmos a quantidade de pessoas que compõe a classe mais pobre no
resto de Londres como sendo duas vezes maior, em vez de três, que da
Zona Leste, chegaríamos a um número calculado de acordo com a
população na mesma proporção, o resultado é o seguinte:
POBRES
Ocupantes de Casas de Correção, Asilos e Hospitais
17.000 34.000 51.000
SEM-TETO
Vadios, Ocasionais e Alguns Criminosos
11.000 22.000 33.000
FAMINTOS
Assalariados eventuais e dependentes químicos que recebem cerca de 18s.
semanais
100.000 200.000 300.000
OS MAIS POBRES
Salários intermitentes entre 18s. a 21s. por semana
74.000 148.000 222.000
TOTAL 868.000
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SEM-TETO
Vadios, Casuais, e alguns Criminosos
11.000 165.000
FAMINTOS
Assalariados eventuais ou dependentes químicos
Em Penitenciárias 11.600
Em Prisões Locais 20.883
Em Reformatórios 1.270
Em Escolas Industriais 21.413
Em Manicômios Judiciais 910
Total 56.136
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vida abjeta e miserável» O Sr. Giffen é mais moderado. O
lumpesinato, de acordo com ele, inclui um entre cinco trabalhadores
braçais, seis entre 100 da população. O Sr. Giffen não acrescenta
aquela terça parte de um milhão que se mantém na fronteira. Diante
dos quatro milhões e meio do Sr. Chamberlain, e dos 1.800.000 do Sr.
Giffen, eu me contento em fixar em três milhões o número total do
exército de lumpens.
Esse lumpem está, então, além do alcance dos seus vizinhos não
lumpens que os vêem apodrecer e morrer em volta de suas casas? Sem
dúvida, em toda essa grande massa de seres humanos há alguns
incuravelmente mórbidos de corpo e alma, há outros pelos quais nada
pode ser feito, e aqueles que nem mesmo os mais otimistas podem
esperar nada, e para os quais não há outra perspectiva senão as
duras restrições dos asilos ou das grades.
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fraca, até que finalmente cai, perecendo sem esperança diante das
portas das mesmas mansões palacianas que, talvez, alguns deles ajudaram
construir.
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estrangeiro, marinheiro, mas ele é novo no trabalho e não pode me
ajudar. Sim! Passar a noite aqui é bem melhor, o chão é bem duro,
mas um pouco de papel velho torna-o mais macio. Mulheres
freqüentemente dormem por aqui, e crianças também. Há uma certa
ordem por aqui, e raramente há muita confusão, como pode ver, porque
todo mundo está bem cansado. Estamos sonolentos demais para fazer
bagunça’».
Relato 2. «Faz três semanas que durmo aqui; faço biscates, cuido de
cavalos, e todo tipo de coisa. Hoje não consegui nenhum centavo,
senão não estaria por aqui. Hoje comi apenas um pedaço de pão. Isso
foi tudo. Ontem o cozinheiro de um restaurante deu-me um pouco de
comida. Na semana passada fiquei dois dias sem comer nada desde a
manhã até a noite. Também faço entalhes de móveis, mas isto está
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fora de moda, e além isso, tenho uma catarata em um olho, e perdi a
visão dele completamente. Sou viúvo, tenho um filho, soldado, em
Dover. Meu último trabalho regular foi oito meses atrás, mas a
empresa faliu. Desde então faço biscates».
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refeições foram uma xícara de chá e um pouco de pão ontem, e o mesmo
hoje.
Estas são histórias recolhidas este ano ao acaso numa noite de verão
sob a sombra das árvores do Dique. Um mês depois, quando um dos
nossos camaradas fazia o censo dos sem-teto ao longo do Tâmisa desde
Blackfriars até Westminster, ele encontrou trezentos e sessenta e
oito pessoas dormindo ao ar livre. Destes, duzentos e setenta
estavam na região do Aterro, e noventa e oito na região do Covent
Garden Market, toda a área entre as pontes Waterloo e Blackfriars
estava abarrotada de miseráveis.
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Isto, é bom lembrar, não ocorreu durante um momento de queda no
comércio. A revivificação dos negócios era evidente, especialmente
pelo barômetro da bebida forte. A Inglaterra é rica o bastante para
beber rum em uma quantidade que surpreende até mesmo o Ministro da
Fazenda, mas não é rica o suficiente para prover abrigo durante a
noite para aqueles pobres diabos do Aterro.
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do suor de teu rosto», mas ai, estes filhos abandonados de Adão não
encontram pão para comer, e esta Sociedade não tem trabalho algum
para eles. Eles não têm nem mesmo licença para suar. Como então
falar a estes pobres peregrinos sobre o segundo Adão que fez «tudo
novo», sem efetuar esforço algum para libertá-los da maldição que
herdaram do primeiro Adão?
CAPÍTULO 4. OS DESEMPREGADOS
Não existe nada mais patético do que um trabalhador forte e capaz
implorando por caridade ou trabalho nas portas dos palácios e das
igrejas, suplicando que lhe concedam a prerrogativa do trabalho duro
e perpétuo, para que possa ter a possibilidade de encher sua barriga
e silenciar o choro de seus filhos por comida. Clamam por estas
coisas e não conseguem nada, procuram por um emprego como se
procurassem um tesouro perdido e não encontram nada, até que
finalmente, todo o espírito e todo o vigor se abatem, e aquele
trabalhador disposto torna-se um alquebrado bóia-fria, encharcado de
miséria e de aflição, descartando qualquer possibilidade de melhora
neste mundo ou no que há de vir. Não há dúvida de que a organização
de nossas indústrias deixam muito a desejar. Um problema que até
mesmo os donos de escravos resolveram não pode ser considerado
insolúvel pela civilização cristã do Século XIX.
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sorte vai melhorar'. Como dizem, 'a esperança é a última que morre'.
Em meu caso isso foi rigorosamente testado. Os dias logo se
transformaram em semanas, e eu ainda estava paciente e esperando
minha vez. Eles me recebiam com tanta cortesia em minha
reivindicação que freqüentemente desejei que me expulsassem, pelo
menos sairia daquele doentio moto perpétuo de consideração que tão
finamente revestia a indiferença e a absoluta despreocupação para
com minha necessidade. Alguns se antecipavam asperamente e diziam,
'Não; nós não o queremos. Por favor não nos aborreça novamente (isto
depois da segunda visita). Não temos nenhuma vaga; e se surgir
alguma, temos gente suficiente para ocupá-la'.»
Com o tempo meus sapatos ficavam cada vez mais sujos, e eu vaguei
por aquela infeliz condição 'requintadamente rota'. Se eu me
apresentasse anteriormente como estou agora, roto demais para poder
agradar, teria ainda menos possibilidade de conseguir trabalho.»
«Roube ou passe fome. 'Você tem que fazer uma coisa ou outra', disse
o tentador. 'Mas recusa ser ladrão. Por que se acha tão especial?'
Diz o tentador novamente. 'Você está por baixo mais uma vez, quem
vai ligar para você? Quem vai dar-lhe atenção? De duas uma, ou rouba
ou passa fome.' E eu lutei até que a fome esfolasse meu julgamento,
e então tornei-me um ladrão.»
É inegável que foi o medo de morrer de fome que conduziu este pobre
companheiro ao roubo. Morrer de fome atualmente é mais comum do que
geralmente se pensa. Ano passado, um homem cujo nome nunca foi
conhecido, estava caminhando por St. James's Park, quando três de
nossos homens de Shelter o viram tropeçar e cair de repente. Eles
pensaram que estava bêbado, mas descobriram que tinha desmaiado.
Eles o levaram à ponte e chamaram a polícia. Depois o levaram para o
Hospital de St George onde morreu. Aparentemente ele estava, de
acordo com sua própria história, vindo de Liverpool, estava sem
comer durante cinco dias. Porém, o doutor disse que ele viera de
mais longe. O júri deu o veredicto de «Morte por Fome».
Sem comida durante cinco dias ou mais! Quem sofreu essa sensação de
frio que vem até mesmo na falta de uma única refeição pode ter
alguma idéia do tipo de tortura lenta que matou aquele homem!
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Este é o problema que está por traz de todas as questões do
Movimento Sindical e de todos os esquemas para a melhoria das
condições das indústrias. Qualquer edifício estável que não desabe
quando a primeira tempestade chega e quando o primeiro furacão
sopra, não deve ser construído na areia, mas na pedra. O pior de
todos os esquemas existentes para a melhoria social dos
trabalhadores qualificados organizados é aquele que não é construído
nem na «pedra» e nem mesmo na «areia», mas no pântano sem fundo do
estrato dos desempregados. É por aqui que temos que começar. A
organização dos trabalhadores industriais que têm trabalho regular
não é assim tão difícil. Isso pode ser feito, e está sendo feito,
por eles. O problema que temos que enfrentar é a organização, a
organização daqueles que estão sem trabalho, ou que têm apenas um
emprego irregular, e que pressionados pela fome absoluta, estão em
irresistível concorrência ruinosa com seus irmãos e irmãs bem
empregadas. Detalhe por detalhe, tudo aquilo que um homem tem, foi
dado para sua vida; muito mais, então, terão aqueles que
experimentalmente sabem que Deus não dá tudo aquilo que eles esperam
ter -- neste mundo e no próximo.
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Ao tentar salvar o Perdido nós não temos que aceitar nenhuma
Limitação à fraternidade humana. Se o Projeto que eu exponho nesta e
nas páginas seguintes não são aplicáveis ao Ladrão, à Meretriz, ao
Alcoólico, e ao Preguiçoso, pode perfeitamente ser lançado ao lixo
sem cerimônia. Como Cristo veio chamar não santos mas aqueles que
praticam o mal ao arrependimento, assim a Nova Mensagem da Salvação
Temporal, da salvação do frio da pobreza, dos trapos e da miséria,
deve ser oferecida a todos. Claro que eles podem rejeitá-la. Mas
aquele que chama a si mesmo pelo nome de Cristo não é digno de
professar ser seu discípulo se não deixar uma porta aberta diante
dos menores e dos piores, daqueles que estão agora aparentemente
encarcerados da vida em um horrível calabouço de miséria e desânimo.
A responsabilidade pela rejeição deve ser deles, não nossa. Todos
nós conhecemos a oração, «livra-me da pobreza e da riqueza, dê-me
apenas aquilo que necessito» [N.T. Provérbios 30.8]-- e que todo
filho do homem neste planeta peça a Deus que a oração de Agur, o
filho de Jakeh, seja atendida.
Para se ter uma idéia de quão longe estamos de atingir isso, basta
descer até as docas e ver a luta pelo trabalho. Aqui vai um resumo
do que encontrei ali neste verão: --
7:30. As portas abrem, todos correm para dentro. Todo mundo avança
cerca de cem jardas até a barreira de ferro -- onde permanecem por
algum tempo, vigiados pela polícia das docas. Aqueles homens que
foram previamente (isto é, na noite anterior) contratados, mostram
sua senha e passam à frente, aproximadamente seiscentos. O resto --
uns quinhentos colocados atrás da barreira, ficam pacientemente
esperando a chance de um trabalho, destes, menos que vinte são
convocados. Eles são chamados por um capataz que aparece próximo à
barreira e escolhe seus homens. Imediatamente o capataz desaparece,
há uma pressa selvagem e uma luta furiosa para «ser visto» por ele.
Os homens escolhidos atravessam a barreira, a excitação se extingue
até que outro lote de homens seja requerido.
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embora sem trabalho, centenas de vezes. Se eu pudesse ficaria
novamente. Eu me cansei da falta de emprego e saí do país para
arrumar emprego em uma fazenda, mas não consegui nada, assim eu
estou sem os 10s. que o Sindicado das Docas exige dos trabalhadores.
Estou de volta ao país dentro de um ou dois dias para tentar
novamente. Espero ganhar 3s. por dia. Voltarei novamente para as
docas. Há uma chance de arrumar emprego regular nas docas, quer
dizer, passear nos bares que os capatazes freqüentam, e tratar com
eles. Então eles provavelmente escolherão você no dia seguinte.»
R. P. não é sindicalizado. Henry F. é sindicalizado. Sua história é
a mesma.
«Cinco meses atrás trabalhei nas docas de St. Catherine. Você tem
que chegar aos portões às 6 horas da manhã para a primeira chamada.
Há geralmente aproximadamente 400 a espera. Eles contratam apenas
duzentos. Então às 7 horas há uma segunda chamada. Até lá mais 400
terão se juntado a eles, e outros cem serão contratados. Também
provavelmente haverá outra chamada às nove horas. O mesmo número
será contratado mas não haverá nenhum trabalho para muitas centenas
deles. Eu sou sindicalizado. Isso significa 10s. de auxílio-doença
por semana, ou 8s. por semana para acidentes leves; e também algumas
outras vantagens. Agora as Docas não contratam ninguém que não seja
sindicalizado. O problema é que há muitos homens querendo trabalho.
Eu freqüentemente fico desempregado de uma quinzena a três semanas.
Certa vez ganhei #3 em uma semana, trabalhando dia e noite, entretanto,
depois passei uma quinzena sem trabalho. Isso acontece especialmente
nos dias em que não há nenhum navio para descarregar. Durante esse
tempo; muitos homens passam fome. Quando as pessoas não têm nenhum bico
para fazer nem conseguem nenhuma outra ocupação, elas descem até as
docas para procurar trabalho e ficam por ali mesmo.»
Mas não é apenas nos portões das docas que você encontra estes
desafortunados que passam o tempo todo procurando inutilmente por
trabalho. Eis aqui outra história bem semelhante.
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deles efetivamente se desgasta mais na busca desesperada por emprego
do que se estivessem trabalhando regularmente, e fazem isto, também,
sob a escuridão do desânimo que forja seus corações.
PREZADO GEORGE -- Já faz doze meses que estou passando por uma vida
de grande miséria e privações, e eu realmente não consigo agüentar
mais. Estou completamente esgotado, não posso contar nem mesmo com
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parentes que poderiam me ajudar, como meu tio por exemplo. Ele não
pôde receber de volta seu dinheiro e ter algum alívio, muito
provavelmente logo ele estará no mesmo barco que eu. Ele não quer
nem saber se estou passando fome ou não. Apenas #3 -- que para ele
significa uma mera picada de pulga -- bastaria para nos levantar,
sua fiança e interesse poderiam deixar-me em boa situação por muito
tempo. Não agüento mais tanta pobreza e degradação, prefiro morrer a
ir para o asilo, É por isso que tomamos essa terrível resolução. Que
Deus nos perdoe, mas nós temos, por puro amor e afeição, que levar
nosso querido Arty conosco, para que nosso querido filho nunca possa
ser esbofeteado, lembrado ou escarnecido pela atitude de seus
desesperados pais. Minha pobre esposa faz o que pode para conseguir
algum dinheiro, costurando, lavando, cuidando da casa; mas tudo que
conseguimos é padecer à beira da fome. Venho trabalhando desde a
manhã até à noite, há seis semanas, sem receber nenhum centavo por
isso. Como se não bastasse -- isso piorou ainda mais a situação.
Nenhuma réstia de luz em parte alguma; nenhum raio de esperança.
Que Deus nos perdoe por este pecado odioso, e tenha clemência de
nossas almas pecadoras, essa é a oração desse teu miserável irmão,
triste, mas amoroso, Arthur. Fizemos de tudo para evitar esse ato
ruim, mas não há nenhum raio de esperança. A oração fervorosa não
ajudou em nada; nossa sorte está lançada, e temos que acabar logo
com isso. Deve ser a vontade de Deus, senão Ele teria encaminhado as
coisas de uma maneira diferente. Meu prezado Georgy, estou sumamente
arrependido de ter que deixá-lo, mas eu estou furioso --
completamente furioso. Você, tem que tentar nos esquecer, e, se
possível, nos perdoar; porque eu não considero o que aconteceu como
nossa própria falta. Se você conseguir #3 pela nossa cama isso
pagará nosso aluguel, e nossa pouca mobília pode ser o suficiente
para pagar um enterro barato. Não se preocupe conosco nem nos siga,
porque não somos merecedores de tal consideração. Nosso sacerdote
nunca nos procurou nem nos deu o menor consolo, entretanto eu o
chamei no mês passado. Ele é pago para pregar, e ele acha que sua
responsabilidade termina por ai. Contamos apenas conosco mesmo e
com algumas outras pessoas que se preocupam um pouco com a gente,
mas você tem que tentar nos perdoar. Esta é a última oração
fervorosa desse seu afetuoso mas triste irmão. (Assinado) R. A. O.
----.
Eis aqui outro caso, um caso muito comum que ilustra como o Exército
do Desespero é recrutado.
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instalaram na hospedaria, mas a situação não estava nada boa para
eles. No outro dia ele conseguiu dois xelins e seis pences por um
dia de trabalho, e em virtude disto eles alugaram um quarto (para
pernoite) a três pences por dia. Trabalhou ainda durante algumas
semanas, quando novamente adoeceu, e foi demitido, ficando sem
nenhum dinheiro. Penhorou sua camisa e avental por um xelim; que
também acabou gastando. Por fim penhorou suas ferramentas por três
xelins que, depois de alguns dias, acabou gastando com comida e
hospedaria. Agora ele está sem ferramentas e não pode fazer seu
próprio trabalho, faz qualquer coisa que pode. Gastou seus últimos
dois pences em uma xícara de chá com açúcar. Tudo que puderam comer
nos últimos dois dias foi uma fatia de pão com manteiga cada. Estão
bem enfraquecidos pela fome.
28
É contra a Estupidez, em todas suas formas e aspectos, que temos que
empreender nossa eterna batalha. Mas como podemos esperar sabedoria
por parte daqueles que nunca tiveram qualquer vantagem, quando vemos
uma ausência completa desse artigo naqueles que tiveram todas as
vantagens?
29
CAPÍTULO 6. O VÍCIO
Há muitos vícios e sete pecados mortais. Mas nos últimos anos muitos
desses sete conseguiram passar por virtudes. A Avareza, e o Orgulho,
por exemplo; foram rebatizados por competitividade [N.T. no original
thrift] e amor-próprio, e se tornaram os anjos da guarda da
civilização cristã; de forma que a Inveja é a base na qual muito de
nosso sistema competitivo é fundado. Ainda há dois vícios que são
tão afortunados, ou desafortunados, que permanecem indisfarçados,
que nem mesmo escondem o fato de que são vícios e não virtudes. O
primeiro é a Embriaguez; e o outro a Fornicação. O viciado nestes
vícios disfarça tão pouco que, até mesmo aqueles que habitualmente o
praticam, protestam contra a mera descrição de qualquer deles pelo
nome bíblico correto. Por que não dizer prostituição? Por esta
razão: prostituição é uma palavra aplicada a apenas um dos dois
viciados, o que é lastimável. A palavra Fornicação atinge de forma
semelhante a ambos. A palavra prostituição só se aplica à mulher.
O que é que mais pode ser dito acerca destes pobres infelizes,
destes escravos nascidos da garrafa, destes predestinados à
30
embriaguez desde o útero materno? Ainda assim todos eles são homens;
todos eles tem «uma faísca de Deus» dentro deles, conforme dizem os
camponeses russos, e que nunca pode ser completamente obscurecida e
destruída enquanto viverem, e qualquer projeto social que pretenda
ser inclusivo e prático tem que lidar com estes homens. Tem que
prover ao alcóolico e à meretriz tanta atenção quanto ao
improvidente e ao desempregado. Mas tais coisas bastam?
31
está preso por embriaguez há pelo menos dez e muitas vezes vinte que
chegam em casa intoxicados. Em Londres, por exemplo, há 14.000 lojas
de bebida, e todos os anos 20.000 pessoas são presas por embriaguez.
Mas quem pode por um momento acreditar que o número de alcoólicos
eventuais em Londres seja apenas 20.000? Por alcoólico habitual eu
não me refiro àquele que está bêbado o tempo todo, mas àquele que
está de tal forma sob o domínio desse mau hábito que não consegue
evitar de se embebedar cada vez que aparece uma oportunidade.
32
excepcional. Até mesmo a mais bem sucedida aventureira raramente
ganha os proventos de um Ministro de Gabinete. Mas se considerarmos
mulheres em profissões e ocupações diversas, o número de mulheres
jovens que conseguem #500 em um ano vendendo seu corpo é maior que o
número de mulheres de todas as idades que recebem soma semelhante em
uma atividade honesta. São bem poucas aquelas que conseguem manter
uma alta remuneração, e só conseguem isso durante um tempo muito
curto. Mas são essas baixas remunerações em qualquer profissão que
atraem a multidão, que não hesita ocupar espaços vagos. Em termos
gerais, o vício oferece a toda menina bonita, no desabrochar de sua
mocidade e beleza, uma soma em dinheiro que jamais conseguiria
ganhar trabalhando em qualquer outra área profissional disponível a
ela. O resultado subsequente é a doença, a degradação e a morte, mas
estas coisas ela não consegue ver.
33
E., órfã de pai e mãe, ficou sob a tutela da avó, desde pequena.
Casou-se com um soldado; mas pouco antes que nascesse seu primeiro
filho descobriu que fora enganada, o soldado tinha esposa e família
em outra parte do país, acabou abandonada sem amigos e sozinha. Ela
pediu ajuda em Workhouse onde ficou por algumas semanas, depois
tentou arrumar um emprego honesto. Não conseguiu trabalho, e à beira
da fome, passou a freqüentar uma hospedaria em Westminster, «fazendo
como as outras meninas». Foi ali que um de nossos tenentes a
encontrou e persuadiu-a sair dali e entrar em uma de nossas Casas
onde ela deu logo provas abundantes de sua conversão por uma vida
completamente mudada. Ela agora trabalha como empregada na família
de um sapateiro.
«Foi abandonada doente, não tem onde ir, não é?» disse sua nova
amiga. «Bem, venha comigo até minha casa; minha mãe vai acolher
você, e iremos trabalhar juntas, quando você estiver com saúde.»
A menina consentiu alegremente, mas foi conduzida para a zona do
meretrício de Woolwich e introduzida em um bordel; não havia nenhuma
mãe nesta história. Ela fora enganada. Impotente para resistir,
começou a protestar, mas era tarde demais para poder salvar-se, foi
forçada a perder sua reputação e entrou em desespero, e permaneceu
vivendo a vida de sua falsa amiga.
«Não julgue para que não sejas julgado», é uma declaração que se
aplica adequadamente a todas estas desafortunadas. Muitas delas
teriam escapado desse terrível destino se fossem menos inocentes.
Elas estão onde estão porque se abstiveram de calcular todas as
conseqüências de seus atos, sem suspeitar nem um pouco do perigo que
corriam. E outras estão lá por causa da falsa educação que confunde
ignorância com virtude, que lança nossos jovens no meio de uma
grande cidade, com todas suas excitações e todas suas tentações, sem
qualquer preparo ou advertência como se eles fossem viver no Jardim
do Éden.
34
CAUSA DA RUINA
Bebida 14
Sedução 33
Livre Escolha 24
Má Companhia 27
Pobreza 2
Total 100
Total 100
Uma menina de nível universitário e que tinha uma casa com todo
conforto, mas que caiu em ruína descendo às profundezas de Woolwich
«Dusthole», exclamou indignada para nós -- «você acha mesmo que eu
poderia fazer isso sem beber? Eu sempre tenho que estar alcoolizada
se eu quiser pecar». Nenhuma menina jamais entrou em nossas Casas
sem estar em maior ou menor grau viciada em bebida.
35
casadas com ele. Essa devoção, além de sua condição de desamparo
pela perda da reputação, faz com que elas sofram crueldades que
jamais suportariam se viessem dos inúmeros homens com quem levam a
vida.
36
Muitas delas são totalmente sem amigos, totalmente rejeitadas, que
morrem à mingua, abandonadas pelos parentes e amigos. Uma destas
veio até nós, adoeceu e morreu, e nós a enterramos, fomos os únicos
presentes em seu enterro.
É uma história triste, mas uma história que não deve ser esquecida,
porque estas mulheres constituem um exército de um número tão vasto
que ninguém pode calcular. Todos os cálculos que possuo parecem
puramente imaginários. A estatística oficial aponta entre 60.000 a
80.000. Este número talvez fosse verdadeiro se aplicado a todas as
mulheres habitualmente lascivas. Seria um monstruoso exagero aplicar
esse número àquelas que ganham dinheiro única e habitualmente
prostituindo-se. Porém, estas estatísticas apenas confundem. Teremos
que lidar com centenas todos os meses, seja qual for a estimativa
adotada. O completo despreparo desta sociedade para qualquer reforma
sistemática pode ser visto no fato de que no momento nossas Casas
não dão conta de alojar todas as meninas que precisam de nosso
auxilio. Elas não tem escapatória, mesmo que queiram, se não houver
fundos por meio dos quais possam prover um modo de liberação.
CAPÍTULO 7. OS CRIMINOSOS.
37
pouco comparado com o imposto e o pedágio que esta horda predatória
inflige na comunidade em que vivem. A perda causada pelos atuais
furtos e roubos deve ser somada à da improdutividade de quase 65.000
adultos. Os dependentes destes adultos criminosos deve ser pelo
menos o dobro pelas suas muitas mulheres e crianças, de forma que
trata-se provavelmente de uma sub-estimativa dizer que o número de
criminosos e semi-criminosos é de apenas 200.000 pessoas, as quais,
em sua totalidade, vivem mais ou menos as custas da sociedade.
38
foram trancadas ao redor de meus pulsos, e fui conduzido até a
cidade. Com a denúncia confirmada, passei mais uma noite na cela. Ao
romper da manhã fui despertado por um rude e ríspido 'Venha' do
carcereiro, e em seguida deparei-me no furgão da prisão,
contemplando as fendas do piso e vendo pedras voarem sob meus pés.
«Renunciei meu nome, foi como se tivesse morrido para mim mesmo.
Dali prá frente minha identidade seria 332B.
«A manhã da soltura chegou, e eu estou mais uma vez nas ruas. Antes
de dois dias já estarão esgotados os meios que disponho para cobrir
minhas necessidades. Suportaria eu outro trabalho honesto? Começaria
tudo de novo? Realmente, eu tentei. Tentei também esquecer o
passado, apagar essa passagem escura de minha vida, mas logo vinha
aquela pergunta cada vez que procurava por emprego, 'O que tem feito
ultimamente?' 'Onde você vive?' Se me esquivasse dessa pergunta
causaria dúvida; se respondesse, a única resposta possível seria 'na
prisão', e isso anularia minhas chances.
39
faculdades da mente e do corpo. Vários dias e várias noites se
passam, a comida torna-se cada vez mais escassa, encontrar um lugar
para dormir torna-se cada vez mais difícil. Eu perambulo pelas ruas
como um cão, mas com uma diferença, o cão tem alguma chance de
receber ajuda, eu não. Eu tentei prever quanto tempo duraria até que
os dedos da fome estrangulassem minha garganta. Nada mais importa
para mim, nem homens, nem Deus. Espero apenas pelo meu fim».
Os filhos dos proletários estão em situação mil vezes pior que a dos
seus primos nas áreas rurais do país. Enquanto a cada ano aumenta a
quantidade de crianças pobres nas cidades, a quantidade de seus
primos diminui na área rural. Para criar crianças saudáveis, a
primeira coisa mais importante é casa; a segunda leite; a terceira
ar fresco; e a quarta é brincar sob o verde das árvores e do azul do
céu. Coisas que os filhos dos camponeses possuem, ou usualmente
usufruem. A lúgubre vida dos centros urbanos agora se alastra em
direção ao campo, e até mesmo no mais remoto distrito rural, ao
camponês que cuida do gado, é negado freqüentemente o leite que seus
filhos precisam. A demanda regular das grandes cidades barra as
reivindicações do camponês. Chá, cerveja, sopas, caldos, tomam o
lugar do leite, solapando desde o berço a massa óssea e muscular da
próxima geração. Mas mesmo que a criança rural fique total ou quase
totalmente privada de leite desnatado, resta ainda muita caminhada
ao ar fresco. Ela tem relações humanas saudáveis com seus vizinhos.
Ela preserva costumes oriundos do contato com a vida bucólica, o
40
vigário, e a fazenda. Ela vive uma vida natural entre pássaros,
árvores, as colheitas e os animais dos campos. Ela não é uma mera
formiguinha humana, rastejando nos pavimentos de granito de um
grande formigueiro urbano, com um sistema nervoso desenvolvido de
forma artificial e uma constituição doentia.
41
uma criança no colo não pode ter um sentido muito agudo das
responsabilidades da paternidade. Na pressa e na pressão de nossa
vida urbana competitiva, milhares de homens não têm tempo para
exercer seu papel de pais. Procriadores, sim; pais, não. Serão
necessários muitos professores para compensar essa mudança. Mesmo no
caso dessas crianças serem constantemente ocupadas, é previsível o
tipo de vida que elas possuirão nas ruas, no tráfico, no roubo, e no
meretrício. E o que dizer de todas essas pessoas que tem filhos mas
que não tem nem mesmo casa para criá-los? Todos os pássaros em todos
os bosques ou campos preparam algum tipo de ninho onde chocam e
criam seus filhotes, nem que seja um buraco na areia ou algumas
varas cruzadas no arbusto. Mas quantos bebês no meio de nossa gente
são chocados antes que qualquer ninho esteja pronto para recebê-los?
Mas pense com que freqüência a mãe considera o advento de seu bebê
com repugnância e horror; como a descoberta de que ela está a ponto
de se tornar uma mãe a afeta como um pesadelo; e como nada mais que
o medo da corda do carrasco a impede de estrangular o bebê na mesma
hora de seu nascimento. Que chances têm tal criança? Há muitos casos
assim.
Fazemos algo assim por aqui, mas nossos asilos de enjeitados são a
rua, as casas de correção, e a sepultura. Quando um Juiz inglês nos
fala, como Mr. Justice Wills fez outro dia, que havia um bom número
de pais dispostos a matar seus filhos por algumas libras em dinheiro
de seguro, nós podemos fazer alguma idéia dos horrores da existência
a que muitas das crianças desse país altamente favorecido são
conduzidas desde seu nascimento.
42
a licenciosidade de nossas meninas, a inabilidade geral da produção
caseira diante do produto das fábricas e escolas estão longe de nos
tranqüilizar. Nossos jovens nunca aprenderão a obedecer. As gangues
briguentas de adolescentes em Lisson Grove, e os bandos de
malfeitores de Manchester, são sintomas feios de uma condição social
que não melhorará se as coisas continuarem como estão.
Entre nós e tal ideal, quão vasto é o abismo! Mas para superá-lo,
alguma coisa prática tem que ser feita.
43
os limites sob os quais, necessariamente, opera a Lei do Pobre.
Nenhum inglês que possua algo está livre da possibilidade de ver
seus bens confiscados. Quando um longo e contínuo processo de
empobrecimento segue até o fim seu curso macabro. Quando peça por
peça todos os artigos da mobília doméstica é vendida ou penhorada.
Quando todos os esforços para obter emprego falham. E quando você
não tem mais nada exceto a roupa do corpo, então você está
habilitado a dirigir-se até o órgão público para solicitar uma vaga
no abrigo, gerido de acordo com os infinitas regulamentações das
Câmaras Tutelares [N.T. no original Board of Guardians].
O antigo sistema era tão ruim que exigia o pagamento de uma libra de
oakum. Após a tarefa ter sido realizada, que geralmente os mantinha
trabalhando até a metade do dia seguinte, era impossível sair em
busca de trabalho, e eles eram obrigados a passar mais uma noite no
local. Porém, a Câmara de Governo Local interferiu, e deram ordens
para que o albergado ficasse sob custódia o dia inteiro e por duas
noites, a quantia de trabalho exigida dele seria quatro vezes maior.
Sob o atual sistema, então, o castigo por buscar abrigar-se das ruas
é um dia inteiro e duas noites, com uma tarefa quase impossível que,
se não for feita, a vítima está sujeita a ser arrastada até um
magistrado e lançado em uma cela como um velhaco e vagabundo,
enquanto que no Albergue é submetido a um tratamento semelhante ao
de um criminoso. Eles dormem em uma cela com privada após terminarem
44
o trabalho, e recebem durante a noite uma libra de sopa de aveia e
oito onças de pão, e no outro dia pela manhã o mesmo no café da
manhã, com meia libra de oakum e pedras para se ocupar durante todo
o dia.
45
muitas vezes nos Albergues de Londres. Não gosta nada delas, porque
elas o prendem o dia todo, impedindo-o de procurar trabalho.
46
com a qual temos que lidar. Por isto; a instituição dos Albergues é
mecânica, superficial, e formal. Cada albergado significa para o
Chefe do Albergue um mero albergado e nada mais. Nunca houve
qualquer tentativa de prover mais do que o meramente indispensável
para a existência. Nunca houve qualquer tentativa de tratá-los como
seres humanos, de lidar com eles como indivíduos, de atrair seus
corações, de ajudá-los a caminhar pelas suas próprias pernas,
novamente. São tratados como números, são pensados e cuidados como
grãos de café que serão moídos pela máquina; como resultado líquido
de toda minha experiência e observação de homens e de coisas, eu
afirmo sem qualquer hesitação que qualquer coisa que desumaniza o
indivíduo, qualquer coisa que trata um homem como se ele fosse um
número de uma série de números, ou um dente de engrenagem de uma
roda, sem qualquer consideração para o caráter, as aspirações, as
tentações, e as idiossincrasias do homem, têm que falhar totalmente
enquanto agência terapêutica. O Albergue, na melhor das hipóteses,
não passa de um lugar imundo e miserável desenhado para o albergado
que desce rumo ao fundo do poço. Se alguma coisa precisa ser feita
em benefício desses homens, precisa ser feita por agentes diferentes
desses que prevalecem na administração da Leis dos Pobres.
47
reformado desde o topo para ajustar-se ao seu princípio fundamental,
ou seja, se todo prisioneiro deve sujeitar-se a essa forma de
castigo é para enfatizar devidamente o significado de seu crime
tanto para ele como para a sociedade, o objetivo principal deveria
ser despertar em sua mente o desejo de proceder uma vida honesta; e
efetuar uma mudança em sua disposição e caráter que transforme seu
desejo em sua prática. No momento, toda Prisão é, em maior ou menor
grau, uma Escola de Treinamento para Crime, uma porta de entrada
para a sociedade do crime, a petrificação de qualquer indício de
sentimento humano, uma verdadeira Bastilha do Desespero. A marca da
prisão é ferreteada naqueles que entram, e tão profundamente, que
parece um estigma para toda a vida. Ser preso, em muitos casos,
significa um breve e quase certo retorno. Tudo isso tem que ser
mudado, e será, quando o processo de Reforma Prisional cair nas mãos
de homens que entendam do assunto, que acreditam na mudança da
natureza humana por mais depravada que ela possa ser, e que tenham uma
completa simpatia com aquela classe em cujo benefício trabalham; e
quando as pessoas diretamente responsáveis pelo cuidado de criminosos
busquem desenvolver, com o mesmo espírito, a regeneração daquela gente.
48
resultados prósperos na medida de algum sacrifício. A criança, sem
dúvida, tem dentro de si capacidades latentes que, pela ação dos
anos e do treinamento, lhe permitem colher o fruto da terra fértil,
quando o campo viçoso é forrado pelos grãos dourados de agosto. Mas
este prodígio não significa que a criança poderá aplacar sua fome no
solo gélido da fria primavera. O mesmo ocorre com a emigração. É
simplesmente criminoso levar uma multidão de mulheres e homens
desamparados, despreparados e sem dinheiro à orla de algum novo
continente. O resultado de tal procedimento pode ser visto nas
cidades americanas; na degradação de suas favelas, e no perverso
desespero de milhares que, em sua própria terra, carecem de uma vida
decente e industriosa.
Emigração, sem dúvida. Mas quem é você para emigrar? E estas meninas
que não sabem nem mesmo cozinhar? E estes rapazes que nunca
manejaram uma pá? E para onde pretende emigra-los? Ou pretende fazer
das Colônias um aterro sanitário de refugo humano? Lá os colonos
terão algo importante a dizer? Onde há colonos? Onde não há? Como é
que você irá alimentar, vestir, e ocupar seus emigrantes no ermo
despovoado? Emigração é, sem dúvida, fazer uma colônia, como se faz
pão. Mas se você empanturrar a barriga de alguém com trigo usando
uma bomba de compressão ele terá tamanha indigestão que, se sua
vítima não vomitar logo a massa indigerível, crua, de grãos não
mastigados, ele nunca mais vai precisar de outra refeição. Assim
ocorre com as novas colônias e com a mão-de-obra excedente de outros
países.
49
crianças, freqüentemente não é, de forma alguma, um templo de todas
as virtudes. Às vezes é uma universidade de todos os vícios. A má
qualidade moral contamina a boa qualidade moral [N.T. no original
the bad infect the good], e seu garotinho e garotinha retornam da
escola fedendo má companhia, familiarizados com a obscenidade mais
torpe da favela. Outro grande mal é até que ponto nossa Educação
pretende abarrotar o mercado de trabalho com escriturários,
balconistas e caixas, e fomentar em nossos jovens a aversão pelo
trabalho físico [N.T. no original: sturdy labour]. Muitos dos casos
mais desesperadores em nossos Abrigos são homens de considerável
educação. Nossas escolas ajudam permitir que um homem faminto conte
a história dele em uma linguagem mais culta do que o pai dele
poderia ter empregado, mas não o alimentam, nem lhe ensinam onde e
como buscar alimento. Assim, longe de fazer isso, eles aumentam sua
tendência por vaguear por canais onde a comida é menos segura,
porque o emprego é incerto, e o mercado saturado.
50
três pences para pagar um quarto para passar a noite? Passar um dia
de privações é bastante difícil, mas nem o mais bem sucedido
economista político de todos os tempos conseguiria economizar
qualquer coisa em cima disso. Eu admito sem hesitação que qualquer
Projeto que debilite o incentivo à Frugalidade é um Projeto ruim.
Quanto aos projetos daqueles que propõem trazer um novo céu e uma
nova terra pela distribuição mais científica de peças de ouro e
prata nos bolsos das calças do gênero humano, eu não preciso dizer
qualquer coisa aqui. Eles podem ser bons ou não. Eu não descarto
qualquer atalho para o Milênio que seja compatível com os Dez
Mandamentos. Simpatizo intensamente com as aspirações que dão origem
aos sonhos Socialistas. Seja o Imposto Único de Henry George nos
Valores de Terra, ou o Nacionalismo de Edward Bellamy, ou os
projetos mais elaborados dos Coletivistas, minha atitude para cada
um deles é a mesma. O que esta boa gente quer fazer, eu também quero
fazer. Mas eu sou um homem prático, na medida em que lido com a
realidade de hoje. Eu não tenho nenhuma teoria preconcebida, e me
lisonjeio de ser singularmente livre de preconceitos. Eu estou
pronto para ouvir qualquer um que mostre qualquer coisa boa. Eu
mantenho minha mente aberta a todos estes assuntos; e está bem
preparada para saudar com braços abertos qualquer Utopia que me seja
oferecida. Mas deve estar ao alcance de minha mão. Para mim é inútil
se estiver nas nuvens. Eu aceito alegremente os cheques do Banco do
Futuro desde que sejam dados de graça, mas não espere que eu os
aceite como moeda corrente, ou tente descontá-los no Banco da
Inglaterra.
Talvez nada fique permanentemente direito até que tudo seja virado
de cabeça para baixo. Há certamente tantas coisas que precisam ser
transformadas, começando pelo coração de cada homem e mulher
individualmente, que eu não discuto com nenhum Visionário quando, em
seu intenso desejo pela melhoria da condição do gênero humano, ele
coloca suas teorias sobre a necessidade de uma mudança radical, por
mais impraticáveis que elas possam parecer-me. Mas esta é a questão.
51
riquezas forem redistribuídas e a propriedade privada abolida, todos
os estômagos serão fartos e não haverá mais nenhum John Jones
impaciente implorando por uma oportunidade de emprego para não
morrer de fome. Pode ser assim, mas enquanto isso não ocorre, aqui
está o John Jones, mais impaciente do que nunca porque sua fome
aumenta, ele deseja saber se terá que esperar pela chegada da
Revolução para poder comer. Mas o que é que temos a ver com esse
John Jones? Esta é a questão. E para a solução dessa questão nenhum
dos Utópicos me proporciona muita ajuda. Em termos práticos estes
sonhadores estão entre aqueles que despejam condenação em cima dos
religiosos convencionais que se furtam de toda responsabilidade pelo
bem-estar dos pobres dizendo que no próximo mundo tudo estará bem.
Quando o céu cair pegaremos cotovias. Sem dúvida. Mas o que fazer
enquanto isso não acontece?
É nesse meio tempo, enquanto isso não acontece -- que está o único
tempo no qual temos que trabalhar. É nesse meio tempo que as pessoas
devem ser alimentadas, que o trabalho da vida deve ser feito ou
desfeito para sempre. Nada que eu proponho neste livro, ou que eu
faça por meu Projeto, irá de forma alguma frustrar a chegada de
qualquer uma dessas Utopias. Eu deixo o infinito sem limites do
Futuro ao Utópicos. Eles podem construí-lo da forma que quiserem. No
que me diz respeito, é indispensável que tudo aquilo que eu faço
esteja baseado em fato existente, e proporcione uma intervenção
presente a uma necessidade atual.
PARTE 2. -- LIBERTAÇÃO.
CAPÍTULO 1. UM EMPREENDIMENTO FORMIDÁVEL.
52
Este é, pois, o resultado de nossa breve e ligeira pesquisa sobre a
Tenebrosa Inglaterra. Quanto àqueles que estiveram no coração
da floresta encantada onde vagam as tribos dos Perdidos pelo
desespero, sou o primeiro a admitir que de maneira alguma exagerei
em seus horrores, e a maioria afirmará que eu subestimei o número de
seus habitantes. Realmente, esforcei-me escrupulosamente em manter
minhas estimativas da amplitude do mal dentro do limite da
sobriedade. Em um empreendimento como esse que estou entrando, a
pior coisa que poderia me ocorrer seria a acusação de
sensacionalismo ou exagero. A maior parte dos dados em que me baseei
foram retirados diretamente das estatísticas oficiais fornecidas
pelos Relatórios Governamentais; quanto aos demais, posso dizer
apenas que se meus números forem comparados com os de qualquer outro
escritor neste assunto, dirão que minhas estimativas são as mais
baixas. Eu não estou preparado para defender a precisão exata de
meus cálculos, mas de uma coisa tenho a mais absoluta certeza, eles
constituem o mínimo. Para aqueles que acreditam que o número de
miseráveis é bem maior do que aquele que apresento, eu não tenho
nada a dizer, exceto uma coisa, se o mal é bem maior do que
descrevi, então dedique seus esforços na mesma proporção de sua
estimativa, e não menos. A questão que mais nos interessa agora não
é saber a amplitude da miséria, mas como ela pode ser reduzida ao
mínimo nos anos vindouros.
53
casa bem equipada, e em três, seis, ou doze meses ele estará mais
uma vez no Aterro, assombrado pelo delirium tremens, sujo,
esquálido, e roto. Consequentemente, em todos os casos onde o
próprio caráter e defeitos de um homem constituem as razões da queda
dele, tal caráter deve ser mudado e tal conduta alterada para que
qualquer resultado benéfico permanente seja atingido. Se ele for um
alcoólico, ele deve tornar-se sóbrio; se inativo, ele deve tornar-se
industrioso; se criminoso, ele deve tornar-se honesto; se impuro,
ele deve tornar-se limpo; e se ele está tão mergulhado no vício, e
por tanto tempo que perdeu toda a coragem, esperança, e poder para
ajudar a si mesmo, e absolutamente recusa mudar, ele deve ser
inspirado com ânimo e criar dentro dele a ambição de levantar; caso
contrário ele nunca sairá da horrível cova.
Muitos desta multidão nunca tiveram uma chance de fazer melhor; eles
nasceram em uma atmosfera envenenada, educados em circunstâncias que
tornaram a moderação uma impossibilidade, e foram lançados na vida
em condições que tornam o vício uma segunda natureza.
54
recinto fechado e ao ar livre, os sem-teto, os famintos, os
criminosos, os lunáticos, os alcoólicos, e as meretrizes -- e
aqueles que estão entrando em desespero! Mesmo que tentassemos
salvar um décimo destas hostes isso exigiria que puséssemos muito
mais força e ardor em nosso trabalho do que até aqui jamais qualquer
um fez. Não há nenhum remendo filantrópico, mesmo que este vasto
oceano de miséria humana coubesse nos limites de uma piscina.
Estas são as condições pelas quais eu lhe peço que teste o Projeto
que estou a ponto de desdobrar. Elas são bem temíveis,
possivelmente, para intimidar muitos de tentar até mesmo de fazer
qualquer coisa. Elas não são de minha invenção. Elas são óbvias a
qualquer um que preste atenção no assunto. Elas são as leis que
governam o trabalho do reformador filantrópico, da mesma maneira que
as leis da gravitação, do vento e do tempo, governam as operações do
engenheiro. É inútil declarar que poderíamos construir uma ponte
cruzando o Tay se o vento não soprasse, ou que poderíamos construir
uma estrada de ferro por um pântano se o pântano nos dispusesse de
uma fundação sólida. O engenheiro tem que levar em conta as
dificuldades, e faz delas seu ponto de partida. O vento soprará,
então a ponte deve ser feita forte o bastante para resistir a ele. A
areia é movediça; então temos que erigir uma fundação no coração do
pântano para em cima dela construir nossa estrada de ferro. O mesmo
ocorre com as dificuldades sociais que nos confrontam. Se agimos em
harmonia com estas leis nós triunfaremos; mas se nós as ignoramos
elas nos subjugarão com destruição e nos cobrirão com desgraça.
Mas, por mais difícil que a tarefa seja, não podemos negligenciar
nada. Quando Napoleão foi compelido a retirar-se sob circunstâncias
que tornaram impossível socorrer seus doentes e feridos, ele ordenou
aos seus médicos que envenenassem todos os homens no hospital. Esse
general preferia massacrar seus prisioneiros a deixá-los escapar. Os
Perdidos são os Prisioneiros da Sociedade; eles são os Doentes e
Feridos em nossos Hospitais. Que grito agudo surgiria do mundo
civilizado se fosse proposto administrar ao anoitecer a cada um
destes milhões uma dose de morfina para dormir e não despertar nunca
mais. Mas por mais que eles se preocupem, não seria muito menos
cruel dar cabo da vida deles do que permitir prolongar sua agonia
dia após dia, ano após ano, em miséria, angústia, e desespero,
comandados pelo vício e caçados pelo crime, até que finalmente a
doença os lance na sepultura?
55
Não alimento nenhuma ilusão sobre a possibilidade de inaugurar um
período da justiça, paz e felicidade [N.T. no original millenium]
pelo meu Esquema; mas os triunfos da ciência na reciclagem de
materiais tem sido tal, que eu não perco a esperança de que surja
também algo eficaz no sentido da reciclagem do homem. O lixo que era
uma droga e uma maldição para nossos fabricantes, quando tratado
pelas mãos do químico, foi o meio de nos prover uma quantidade de
tinturas que rivalizam em encanto e variedade com as cores do
arco-íris. Se a alquimia científica pode extrair cores bonitas do
refugo do carvão, o que dizer então da alquimia Divina no sentido de
habilitar-nos para extrair e desenvolver alegria e brilho a corações
agonizados e escuros, a vidas tristes, e sem amor de miríades de
condenados? Seria exagerado esperar que no mundo de Deus as crianças
de Deus sejam capazes de fazer algo, se elas resolvessem trabalhar
com vontade para levar a cabo um plano de campanha contra estes
grandes males que tornam nossa existência um pesadelo?
56
Estado, mas que estão vivendo à beira de desespero, os quais a
qualquer momento, sob circunstâncias adversas, podem ser compelidos
a buscar auxílio ou apoio de uma forma ou de outra. Então, eu me
limitarei no presente àqueles que não têm nenhuma ajuda.
A COLÔNIA URBANA.
Colônia Urbana significa o estabelecimento, bem no meio do oceano de
miséria do qual falamos, de várias Instituições funcionando como
Portos de Refúgio para todo e qualquer náufrago na vida, no
57
caráter, ou nas circunstâncias. Este Porto recolherá criaturas
destituídas pobres, proverá as necessidades urgentes imediatas
delas, fornecerá emprego temporário, inspirará nelas esperança para
o futuro, e de imediato dará início a um processo de regeneração
pela influência moral e religiosa.
A COLONIA RURAL.
A Colônia Rural seria estabelecida pela fixação de Colonos em uma
propriedade rural provinciana, onde obteriam apoio e trabalhariam no
cultivo. O constante e intenso fluxo de pessoas oriundas do Campo em
direção às Cidades tem provocado muita angústia. Uma parte
significativa de nosso remédio consiste na inversão desse fluxo, ou
seja, enviar estas mesmas pessoas de volta ao campo, e instalá-las
novamente no «Jardim» de onde vieram!
A COLÔNIA ALÉM-MAR.
Todos aqueles que prestaram atenção ao assunto concordarão que em
nossas Colônias na África do Sul, Canadá, Austrália Ocidental e em
outros lugares, há milhões de acres de terra útil que podem ser
obtidas gratuitamente, capazes de manter nosso excesso populacional
com um padrão de saúde e conforto mil vezes maior que o que estão.
Nós propomos adquirir uma área de terra em um destes países,
preparar o assentamento, regulariza-lo, governá-lo por leis
eqüitativas, dar assistência em tempos de necessidade,
estabelecendo-o gradualmente com pessoas preparadas, e assim criar
um lar para estas multidões destituídas.
58
CAPÍTULO 2. AO RESGATE!
A COLÔNIA URBANA
Cada um de nossos Armazéns, que podem ser vistos por qualquer pessoa
que se dê ao trabalho de visitá-los, tem dois departamentos, um que
59
lida com comida, o outro com abrigo. Ambos trabalham juntos e
auxiliam os mesmos indivíduos. Muitos que vêm buscar alimento não
vem buscar abrigo, embora a maioria daqueles que vem buscar abrigo
também vem buscar alimento, que é vendido em condições de cobrir, na
medida do possível, o preço de custo e despesas de funcionamento do
estabelecimento. Nossos Armazéns de Alimentos diferem das cozinhas
de sopa usuais.
Para crianças
Sopa Por Prato 1/4d
Sopa Com Pão 1/2d
Café ou Chocolate por copo 1/4d
Café ou Chocolate Com Pão e Geleia 1/2d
Para adultos
Sopa .. .. . Por Prato 1/2d
Sopa .. .. ... Com Pão.. 1d
Batatas .. .. .. .. .. 1/2d
Repolho .. .. .. .. .. 1/2d
Feijão .. .. .. ...... 1/2d
Pudim de Frutas .. .. 1/2d
Pudim de Ameixas .Cada.. 1d
Arroz .. .. .. .... .. 1/2d
Ameixa Cozida .. .. .. 1/2d
Frutas Cozidas .... .. 1/2d
Assado de Carne e Batatas 3d
Carne Bovina Seca. .. .. 2d
Carne de Carneiro Seca.. 2d
Café por copo 1/2d; por caneca 1d
Chocolate por copo 1/2d; por caneca 1d
Chá por copo 1/2d; por caneca 1d
Pão/Manteiga, Creme ou Marmelada 1/2d
Pote de Sopa, 1d cada.
60
companhia estranha e dissoluta, você pode ser roubado daquilo que
eventualmente restou de seu dinheiro. Inseguro quanto ao que fazer,
alguém que o vê nessa situação sugere que você deveria ir para nosso
Abrigo. Você não pode, naturalmente, ir para a Custódia Casual de
Workhouse, pois não tem dinheiro algum. Então você vem para um de
nossos Abrigos. Para entrar você tem que pagar quatro pences, e tem
acesso ao estabelecimento durante a noite. Você pode entrar mais
cedo ou mais tarde. As pessoas começam a chegar por volta das cinco
da tarde. No Abrigo das mulheres você nota que muitas chegam bem
mais cedo e ficam tricotando, lendo ou conversando nos quartos
simples mas bem aquecidos desde as primeiras horas da tarde até a
hora de dormir.
61
fim; mas o fato é que eles ficam. Toda noite entre as oito e as dez
horas você encontrará estas pessoas sentadas ali, escutando as
exortações, tomando parte, ou cantando, muitos deles, sem dúvida,
bem insensíveis, mas, não obstante, preferindo estar presentes pela
música e pelo calor, meio agitados, ou apenas curiosos, na medida em
que vários testemunhos são narrados.
62
Eu proponho desenvolver este Abrigos, para dispor a todo homem um
armário no qual ele poderia armazenar qualquer pequena preciosidade
que ele eventualmente possua. Eu também lhe permitiria o uso de um
aquecedor no lavatório com um forno secante quente, de forma que ele
pudesse lavar sua camisa a noite e vesti-la seca pela manhã. Só
aqueles que tiveram a experiência prática da dificuldade de buscar
trabalho em Londres podem apreciar as vantagens da chance de ter uma
camisa limpa desse jeito -- se tiver alguma. Em Trafalgar Square, em
1887, pouca coisa escandalizava mais o público do que o espetáculo
das pessoas pobres acampadas na Praça, lavando suas camisas nos
chafarizes, pela manhã. Se você conversar com qualquer homem que
esteve na estrada por um período prolongado, eles lhe falarão que
nada fere tanto o amor-próprio deles ou despeja mais fatalidade na
possibilidade deles arrumar emprego do que a impossibilidade de ter
suas poucas coisas arrumadas e limpas.
63
anos por roubo de gado. No total, passou 13 anos e onze meses na
prisão. Ele veio para a Inglaterra, e misturou-se aos ladrões e
vadios daqui, passou por vários períodos curtos na cadeia. Ele foi
auxiliado em sua libertação em Millbank por um velho amigo íntimo
(Buff) e pelo Capitão do Abrigo; instalado no Abrigo, foi salvo, e
permaneceu firme.
64
alcoólico. Ele arrumou vários empregos como mensageiro, destacou-se
pelos seus furtos secretos, dois anos depois estava com cinqüenta
xelins em dinheiro roubado, alcançou Middlesbrough através da
estrada. Arrumou emprego em uma fábrica de pregos onde permaneceu
durante nove meses, então roubou nove xelins de seu empregador, e
novamente pegou a estrada. Ele chegou a Birmingham, conseguiu uma
autorização e se alistou na Marinha. Ele foi chamado para passar
três anos em treinamento no Navio Impregnable, mas após um ano foi
considerado como «apto», e foi transferido para o Iron Duke nos
mares da China; logo começou a beber, foi detido e preso por conduta
revoltosa em quase todos os portos nas paradas. Ele quebrou navios,
e várias vezes desertou, e era um espécime completo de um péssimo
marujo britânico. Ele conheceu a prisão em Singapura, Hong Kong,
Yokohama, Canghai, Cantão, e outros lugares. Em cinco anos voltou
para casa, e, depois da licença, juntou-se à Belle Isle na estação
irlandesa. Foi quando o uísque deu cabo dele novamente, e o excesso
arruinou sua saúde. Licenciado casou-se, e foi com sua esposa para
Birmingham. Durante algum tempo ele trabalhou como varredor no
mercado, mas dois anos depois abandonou sua esposa e família, e veio
para Londres, fixou-se na vida de vadio, passou a viver nas ruas e
transformou as Custódias Casuais em sua casa. Eventualmente veio
parar no Abrigo de Whitechapel, e foi salvo. Ele é agora um rapaz
confiável, seguro; reconciliou-se com a esposa que veio a Londres
para vê-lo, ele tornou-se um homem útil.
65
E. G. -- Veio para a Inglaterra a serviço de uma família de posição,
e depois tornou-se mordomo e chefe dos empregados em várias casas da
nobreza. Adoeceu. Por muito tempo ele ficou completamente incapaz
para o trabalho. Ele tinha guardado uma soma considerável de
dinheiro, mas o custo dos médicos e as despesas de um homem doente
jogaram à ruína sua pequena fábrica, e ele foi reduzido à penúria e
à absoluta destituição. Durante algum tempo ele permaneceu em
Workhouse, até ser despejado, lhe aconselharam para que fosse ao
Abrigo. Ele estava terrivelmente doente, alquebrado em espírito,
quase desesperando. Lhe aconselharam amorosamente que entregasse
seus cuidados a Deus, e eventualmente ele foi convertido. Depois de
certo tempo ele conseguiu trabalho como zelador em um armazém da
Cidade. A assiduidade e a fidelidade por um ano o elevaram à posição
de caixeiro-viajante. Hoje ele prospera no corpo e na alma, ganhando
o respeito e a confiança de todos os que lidam com ele.
Nós poderíamos multiplicar estes registros, mas esses relatos
mostram o tipo de resultado obtido.
Não há nenhuma razão para pensar que essa influencia divina para a
salvação destes companheiros pobres não será igualmente eficaz se
aplicada em uma escala mais ampla e em uma área mais vasta.
A coisa a ser notada em todos estes casos é que não foi o mero
alimento que efetuou o resultado; foi a combinação do alimento com o
trabalho pessoal para com a alma individual. Ainda, se nós não os
tivéssemos alimentado, nós nunca conseguiríamos chegar perto o
bastante para ganhar qualquer acesso aos corações deles. Se apenas
os tivéssemos alimentado, eles iriam embora para retornar no dia
seguinte, mais revigorados para a vida predatória e vagabunda que
até ali conduziram. Mas quando nossas refeições, abrigos e armazéns
os trouxeram para as imediações, nossos oficiais puderam
literalmente toma-los pelos ombros e suplicar-lhes como irmãos que
tinham sido desencaminhados. Dissemos para eles que seus pecados e
tristezas não os isolava do amor do Pai Eterno que nos enviou para
ajudá-los com todo o poder de nossa forte Organização, da Divina
autoridade da qual estamos absolutamente seguros principalmente
quando ela vai buscar e salvar o perdido.
66
típico. Há centenas e milhares de tais candidatos. Qualquer um que
esteja familiarizado com a vida em Londres e em nossas outras
grandes cidades, reconhecerá aquela figura magra pedindo pão e
abrigo ou por trabalho pelo qual ele possa obter ambos. O que
podemos fazer com ele? Diante dele, a Sociedade fica paralisada,
aquietando sua consciência de vez em quando por uma doação ocasional
de pão e Sopa, variada com o tratamento semi-criminoso da Custódia
Casual, até que todo resquício de humanidade é esmagado dentro desse
homem, e você fica diante de um indiferente, desesperado, desalmado,
desprovido de qualquer aspiração para escapar de suas circunstâncias
miseráveis, coberto com piolhos e sujeira, mergulhando em um poço
sem fundo, até que finalmente ele é precipitado no rude invólucro
que o leva para uma vala comum.
67
Nossa Fábrica Industrial em Whitechapel foi estabelecida nesta
Primavera. Nós a abrimos em uma escala bem pequena. Desenvolveu-se
até termos aproximadamente noventa homens trabalhando. Alguns destes
são trabalhadores qualificados que estão engajados na carpintaria. O
trabalho particular que eles têm agora em mão é a fabricação de
bancos para o Exército de Salvação. Outros estão engajados fazendo
tapetes, alguns são sapateiros, outros pintores, e assim
sucessivamente. Este esforço experimental tem, de longe, respondido
admiravelmente. Ninguém é recebido permanentemente. Na medida em que
ele se dispõe a trabalhar pelo seu alimento ele é suprido com
matéria prima e orientado por superintendentes qualificados. As
horas de trabalho são oito por dia. Aqui estão as regras e
regulamentos sob os quais o trabalho é mantido no momento: -
68
cota importante de fundos pelos quais Criminosos ou trabalhadores
Pobres são sustentados. Tal ciúme é injusto em relação ao nosso
Projeto, na medida em que estamos empenhados em elevar o padrão do
trabalho e envolvidos em uma guerra mortal contra a exploração em
toda forma e sentido.
69
indispensável.
O homem que professa amar e servir a Deus receberá ânimo por causa
de tal profissão, e o homem que não faz nada receberá ânimo pela
perspectiva que ele vai, cedo ou tarde, em gratidão a Deus, fazer o
mesmo; mas não há nenhuma melancólica comiseração para com ninguém.
O Exército não possui nenhuma face santimoniosa. Nós falamos
livremente sobre Salvação, porque ela é para nós a verdadeira luz e
alegria de nossa existência. Nós estamos contentes, e desejamos que
outros compartilhem nossa alegria. Sabemos por nossa própria
experiência que a vida é uma coisa muito diferente quando achamos a
paz de Deus, e trabalhamos junto com Ele para a salvação do mundo,
em vez de trabalhar para a realização da ambição mundana ou para
acumular vantagens terrestres.
70
original: Sweating Middlemen, estabelecimento em que os empregados
trabalham longas horas a salários de fome, além de outras más
condições de higiene e trabalho], que se aproveita dos
desafortunados exigindo trabalho tão pesado e por um pagamento tão
mínimo que os pobres diabos que caem em suas garras mal conseguem
manter unidos corpo e alma. Eu proponho mudar tudo isso
estabelecendo Registros que nos permitam ter em nossas mãos a
qualquer momento a relação de todos os homens desempregados em um
distrito e em qualquer profissão. Deste modo poderíamos nos tornar
um intermediário universal entre desempregados e aqueles que
procuram trabalhadores.
71
AGÊNCIA DE EMPREGO
Agência em funcionamento desde 16 de junho de 1890. O relatório
abaixo refere-se a pormenores de transações até 26 de setembro de
1890: --
Candidatos a Emprego --
Homens .... .. 2462
Mulheres ...... 208
Total......... 2670
====
Empregadores precisando de
Homens ........ 128
Mulheres ....... 59
Total.......... 187
====
Enviados
Homens .. .... 301
Mulheres . .... 68
Total......... 369
====
Empregos Permanentes.. .. .. ....... .. 146
Empregos Temporários, a saber:
Garçons, Faxineiros, etc. .. .......... 223
Enviados p/ Fábrica em Hanbury Street.. 165
====
72
Não é necessário ir muito longe para descobrirmos em cada cidade e
em cada país o elemento correspondente aos nossos trabalhadores
desempregados. Por um lado desperdiçamos mão-de-obra; e por outro
desperdiçamos produtos. Falarei no próximo capítulo sobre o
desperdício da terra. Vou me ater agora apenas com produtos
desperdiçados. Nesse aspecto temos meios para proporcionar emprego
imediato a um grande número de homens, muitos deles de forma
permanente.
73
correio. O mesmo que ocorre com restos de alimentos ocorre também
com trapos e ossos, ferro velho, e todos os escombros e entulhos de
uma casa. Quando eu era menino uma das figuras mais familiares nas
ruas de uma cidade rural era o homem que, com um pequeno carrinho de
mão ou carroça, fazia uma patrulha regular semanal por todas as
ruas, colecionando trapos, ossos, e todos os outros materiais que as
pessoas costumam lançar no lixo, até mesmo comprando-os das crianças
que os colecionam, não em moeda corrente de Sua Majestade, mas com
doces comuns, conhecidos como pirulitos [N.T. no original:
«claggum»] ou «maçãs do amor» [N.T. no original «taffy»]. Quando sua
familiar buzina era ouvida as crianças apareciam com suas
tranqueiras e as comercializavam da melhor forma que podiam com o
comerciante itinerante, resultando em que toda espécie de trastes
inúteis eram recolhidos, amontoados em algum lugar e reaproveitados.
Tudo isso seria coletado, digamos uma ou duas vezes por semana, ou
mais freqüentemente, de acordo com a época e as circunstâncias, e
transferido desses vários distritos para depósitos tão centrais
quanto possível.
74
comprando e vendendo coisas usadas, e que leva uma vida mais ou
menos precária, por visitas intermitentes, é olhado desconfiadamente
pelas donas de casa prudentes. Elas temem em muitos casos que ele
recolhe refugos para ter a oportunidade de encontrar algo de maior
valor enquanto «catam», e que ela seria descuidada e negligente se
não houvesse nenhuma autoridade a quem pudessem reclamar. Sob nossa
Brigada, cada distrito teria seu funcionário registrado subordinado
a uma administração superior, a quem poderia ser feita qualquer
reclamação, e cujo dever seria verificar se os funcionários sob sua
responsabilidade executam seu trajeto pontualmente e cumprem seus
deveres sem afronta.
75
entrega ao nosso artista treinado em couro e ao seu exército de
assistentes mil pares de botas e sapatos, verá que de mil pares de
sapatos com defeito pode construir quinhentos pares que, se não
perfeitos, estarão imensuravelmente melhores que as terríveis botas
que cobrem os pés de muitos pobres andarilhos sem trabalho, sem
falar das milhares de crianças pobres que estão agora em nossas
escolas públicas. Em algumas cidades foi estabelecido um Fundo para
Sapatos e Botas para prover à criança que vem à escola sapatos
suficientemente bons para não deixar entrar água entre a escola e a
casa. Você se lembra das 43.000 crianças famintas e subnutridas
informadas pelo Senso Escolar que freqüentam as escolas de Londres,
você não acha que há milhares delas que poderiam ser facilmente
disponibilizadas, com vantagem, de sapatos ressuscitados de nossa
Fábrica de Sapatos?
E assim por diante. As garrafas são uma fonte fértil de uma ligeira
preocupação doméstica. Quando você compra uma garrafa você tem que
pagar um centavo por ela; mas quando você a esvazia você não pode
recuperar seu centavo; não, nem até mesmo um farthing [N.E. Moeda
inglesa de cobre de um quarto de pêni]. Então ou você lança sua
garrafa vazia empoeirando, ou joga fora. Mas se nós pudéssemos
colecionar diariamente todas as garrafas desperdiçadas de Londres,
dificilmente não conseguiríamos transformar cada uma delas em um
belo centavo, lavando-as, ordenando-as, e despachando-as para um
novo ciclo. Lavar garrafas velhas manteria um número considerável de
pessoas.
76
resolver, e eu não tenho nenhuma idéia de como fazer isso.
Não exige uma imaginação muito fértil ver que quando tal visitação
casa-em-casa for regularmente estabelecida, e desenvolvida em todas
as direções; e estiver funcionando, como irá funcionar, em conexão
com nossas Fábricas Anti-Exploração e Colônia Industrial,
provavelmente logo se tornará o meio de negociar vários reparos
caseiros, como uma janela quebrada ou uma meia-calça estragada. Se
um zelador quisesse mover uma mobília, ou uma mulher quisesse limpar
janelas ou qualquer outro biscate, o Servo de Todos pediria o
77
serviço, verbalmente ou através de cartão postal, receberia a ordem,
e o interessado apareceria sem qualquer dificuldade adicional por
parte do dono da casa no momento combinado.
78
estradas de ferro constituem uma área vasta, capaz produzir o
suficiente para congestionar como nunca os mercados de Crosse e
Blackwell. Em quase todos os municípios da Inglaterra há fazendas
desocupadas, e, ainda em maior número, fazendas com apenas um quarto
de cultivo, que precisam apenas da aplicação de uma população
laboriosa que, trabalhando com o devido incentivo, produzirão duas
ou até mesmo quatro vezes mais do que elas rendem em um dia.
79
ou ocupação da terra por um indivíduo que nada deve por possuí-la,
ocupá-la, ou por ter direito a ela], sem ônus pendente, não está
disponível na Inglaterra, mas se um homem trabalhar na Inglaterra
como se trabalha no Canadá ou na Austrália, ele encontrará pouca
dificuldade em tirar sustento da terra tanto aqui como lá.
SEÇÃO 1. -- A FAZENDA.
Minha idéia presente abrange uma propriedade de quinhentos mil acres
não muito longe de Londres. Deve ser uma terra adequada para a
horticultura, deve ter alguma argila para fazer tijolos e para
plantações que requerem uma terra mais pesada. Se possível, deveria
não apenas estar no curso de uma linha de estrada de ferro
administrada por diretores inteligentes e progressivos, mas deveria
ter também acesso para o mar e para o rio. Deveria ser terra de
propriedade livre e alodial [N.E. algo semelhante a terra devoluta
no Brasil], e deveria localizar-se não muito longe de alguma cidade
ou aldeia. A razão para o desiderato posterior é óbvia. Nós devemos
estar perto de Londres por causa de nosso mercado e para o
transporte dos artigos coletados por nossa Brigada Caseira de
Salvamento, mas não deve estar perto demais de qualquer cidade ou
aldeia para que a Colônia possa estar livre de tavernas, dos
elementos perniciosos, da influência venenosa, mortal, que se
insinua pela árvore da civilização. Algo sine qua non da nova
Colônia Rural é que não haverá nenhum tolerância a bebidas
alcoólicas dentro de seus limites sob qualquer pretexto. Os médicos
terão que prescrever algum outro estimulante que substitua o álcool
aos residentes nesta Colônia. Mas será quase inútil excluir o álcool
com uma mão forte ou com regulamentos férreos se os Colonos
precisarem apenas de um curto passeio para dar de cara com «Leões
Vermelhos», «Dragões Azuis», «George Quarto», que abundam em toda
cidade do interior.
80
destacar, não é nenhuma grande ilusão imaginar que entre os
definhados e arruinados do mercado de trabalho não há nenhum
trabalhador de valor e que todos são inúteis. Eles são inúteis sob
as presentes condições, expostos às constantes tentações do
alcoolismo, nesse aspecto, sem dúvida eles são inúteis, mas alguns
dos homens mais luminosos de Londres, algumas das mãos mais
habilidosas, alguns dos cérebros mais brilhantes, estão neste exato
momento perambulando desamparados na lama, da qual nos propomos
salvá-los.
Eu não estou falando sem base neste assunto. Um dos meus melhores
Oficiais que tenho hoje foi como eles. Há um infinito potencial de
capacidade que repousa latente em nossos Botequins Provincianos e
Palácios do Álcool [N.T. no original Provincial Tap-roons e City Gin
Palaces] mas que precisam ser resgatados, e até mesmo aqueles que
carecem destas coisas, se você puder colocá-los em condições onde
não mais poderiam ser absorvidos pelos seus velhos hábitos
destrutivos, você poderia fazer grandes coisas com eles.
«O que?», alguém dirá, «Você acha que da escória dos habitantes dos
bairros pobres de Londres [N.T. no original Cockneydom] você pode
criar pioneiros agrícolas?» Vamos olhar por um momento para os
ingredientes que compõem o que você chama «escória dos habitantes
dos bairros pobres de Londres». Depois de exame cuidadoso e de uma
pesquisa cruzada dos Sem-Trabalho que já estão registrados em nossa
Agência de Emprego, achamos pelo menos sessenta por cento que é oriunda
do campo, homens, mulheres, meninos, e meninas que deixaram as casas
deles no interior e vieram para a cidade na esperança de melhorar
de vida. Eles não são de forma alguma «escória dos habitantes dos
bairros pobres de Londres», e eles não representam nenhuma escória
do país, pelo contrário, representam os espíritos mais luminosos e
mais aventureiros que tentaram corajosamente abrir o espaço deles em
novas e incompatíveis esferas e acabaram mergulhando na mais
terrível aflição. De trinta casos, selecionados ao acaso nos vários
Abrigos durante a semana que terminou em 5 de julho de 1890, vinte e
dois nasceram no interior, dezesseis eram homens que vieram a muito
tempo atrás, mas que aparentemente nunca obtiveram um emprego
regular, e quatro eram militares idosos. Dos sessenta casos
examinados na Agência e nos Abrigos durante a quinzena que terminou
em 2 de agosto, quarenta e dois vieram do campo; dos vinte e seis
homens que tinham estado em Londres por vários períodos; que
variaram de seis a quatro anos; nove eram rapazes com menos de
dezoito, que saíram de casa rumo à cidade; enquanto que quatro eram
ex-militares. De oitenta e cinco casos de albergueiros com quem
conversamos à noite quando dormiam nas ruas, sessenta e três eram
oriundos do campo. Uma proporção muito pequena de Sem-Trabalho são
genuinamente nascidos e criados em Londres.
81
homem que foi ensinado nas escolas mais rígidas para serem
habilidosos e talentosos, para fazer o melhor no trabalho mais duro,
e para não se considerar um mártir se lhe enviarem para uma
empreitada desesperadora. Eu digo freqüentemente que se nós
pudéssemos conseguir fazer com que pelo menos metade da devoção
cristã assumisse a forma prática e o senso de dever que anima Tommy
Atkins [N.T. no original commonest Tommy Atkins] que mudança seria
provocada no mundo!
Olhe para pobre Tommy! Um rapaz do meio rural que entra em alguma
dificuldade, está longe de casa, começa a afundar cada vez mais, sem
esperança de emprego, nenhum amigo para aconselhá-lo, e ninguém para
dar-lhe uma mão. Em completo desespero ele pega o xelim da Rainha e
entra nas fileiras do Exército. Ele é entregue a um sargento de uma
severidade inexorável, ele é compelido a alojar-se em quartéis onde
não há qualquer privacidade, os homens são misturados, muitos deles
com vícios, poucos desses companheiros são de sua própria escolha.
Ele adquire suas rações, e embora lhe digam que irá receber um xelim
por dia, há tantos obstáculos que ele freqüentemente não pega nem um
xelim por semana. Ele é esmagado, premido e mandado de lá para cá
como se fosse uma máquina, toda a alegria que ele tem, sem mesmo
considerar que haja qualquer sofrimento da parte dele, é trabalhar
estúpida e automaticamente para sua Rainha, para seu país, fazendo
seu melhor. O pobre diabo também está orgulhoso de seu uniforme
vermelho, e cultiva seu amor-próprio refletindo que ele é um dos
defensores de sua terra nativa, um dos heróis de cuja coragem e
resistência depende a segurança do reino britânico.
82
homens de cavalaria que conhecem o que um cavalo precisa para manter
uma boa saúde, há homens do departamento de transporte, para os
quais haverá bastante trabalho na transferência das montanhas de lixo
de Londres para nossos Depósitos na Fazenda. Porém, a propósito,
esta é uma digressão, um desvio do rumo do assunto principal.
83
Não há dúvida de que no conjunto das pessoas com as quais temos que
lidar haverá, até certo ponto, uma sobra residual de pessoas
mentalmente fracas ou fisicamente incapacitadas para se ocuparem de
labutas mais duras. Para estas pessoas é necessário achar trabalho,
e eu acredito que haverá um bom campo para o uso de suas energias
entorpecidas no cuidado de coelhos, na alimentação de frangos, no
cuidado das abelhas, em suma, fazendo todas aquelas pequenas obras
específicas, mas que não compensam o labor de homens sadios.
Todo homem que vai para nossa Colônia Rural faz isso, não para
adquirir fortuna, mas para obter o conhecimento de sua ocupação e o
domínio de suas ferramentas que lhe permitirão desempenhar seu papel
na batalha de vida. Receberá uma vestimenta [N.T. no original
uniform] barata que não acharemos nenhuma dificuldade em montá-la
das roupas velhas de Londres, e será difícil que tenhamos menos
sorte que o horticultor ordinário, que não tenhamos sucesso obtendo
lucro suficiente para pagar todas as despesas da fazenda, e deixar
algo para a manutenção dos desesperadamente incompetentes, e para
aqueles que, falando de uma forma crua, não valem o que comem.
84
O peso e a morosidade da vida rural, especialmente nas Colônias,
levam muitos homens a preferir uma vida de sofrimento e privação em
uma favela da Cidade. Mas em nossa Colônia eles estariam próximos
uns dos outros, e desfrutariam as vantagens da vida rural e a
associação e o companheirismo da vida urbana.
Mas depois que isso for feito permanecerá uma massa de alimento
imprópria para consumo humano, mas que pode ser convertida em comida
pelo simples processo de passá-lo por outro aparelho digestivo. O
pão velho de Londres, de aparência desagradável, passado, pode ser
usado como alimento dos cavalos que são empregados na coleta de
materiais. Ajudará alimentar os coelhos, cujos viveiros estarão
perto de toda cabana na propriedade rural, e as galinhas da Colônia
florescerão dos miolos que caem da mesa dos Dives. Mas depois de
servidos os cavalos, coelhos e frangos, ainda permanecerá um resíduo
de material orgânico que pode ser lucrativamente colocado a
disposição da voracidade dos porcos. Eu prevejo um aumento na oferta
de carne de porco, em virtude desse novo Projeto Social, que tornará
insignificante tudo aquilo que existe hoje na Grã Bretanha e na
Irlanda. Temos a vantagem da experiência internacional sobre a
escolha de raças, a construção de chiqueiros, e manejo dos estoques.
Há poucos animais mais úteis que o porco. Ele come qualquer coisa,
vive em qualquer lugar, e quase tudo dele, do nariz até a ponta do
rabo, é possível converter em um artigo vendível. Seu porco também é
grande produtor de adubo, e a agricultura é, no final das contas, em
grande parte, uma questão de adubo. Trate bem a terra e ela o
tratará bem. Com nossos porcos conectados com nossas Colônias Rurais
não haverá nenhuma falta de adubo.
85
barcaças carregadas de ossos descendo o Tâmisa para a grande Fábrica
de Processamento de Ossos. Os melhores renderão material para cabos
de facas e botões, e inúmeros artigos que proporcionarão uma ampla
oportunidade nas longas noites de inverno para testar a habilidade
de nossos escultores da Colônia, enquanto que o resto irá
diretamente para o Moenda de Adubo. Haverá uma demanda constante de
adubo por parte de nossa crescente demanda por novas Colônias e
Fazendas Cooperativas, todo homem será educado na grande doutrina de
que não há nenhuma boa agricultura sem adubo em abundância. E aqui
haverá uma fonte infalível de provisão.
Com relação a tudo isso é óbvio que haveria uma demanda constante
por pacotes de embalagem, por barbante, corda, e por caixas de todos
os tipos; por carretas e carros; em suma, devemos em breve ter uma
comunidade completa praticando quase todo tipo de ofício, profissão,
ocupação, arte, que pode ser encontrado em Londres, exceto o setor
de bebidas alcoólicas, e funcionando integralmente em princípios de
cooperação, não aquela cooperação para o benefício do cooperador
individual, mas para o benefício da massa submersa que está por traz
dele.
86
após a terceira violação.
87
ao artigo mais perfeito que a maquinaria possa produzir.
88
necessárias contra qualquer infortúnio que destruiu as expectativas
de Ralahine.
Uma jornada ao ultramar é agora uma coisa muito diferente do que era
quando uma viagem para a Austrália consumia mais de seis meses,
quando os emigrantes eram abarrotados às centenas em navios a vela,
e cenas de abomináveis pecados e brutalidades eram incidentes
normais da passagem. O mundo ficou bem menor desde a descoberta do
telégrafo elétrico. Paralelamente ao encolhimento deste planeta sob
a influência das máquinas a vapor e da eletricidade surgiu um senso
de fraternidade e uma consciência de comunidade, de sociedade e de
nacionalidade por parte das pessoas de língua inglesa ao longo do
mundo. Mudar do Devon para a Austrália é em muitos aspectos como
mudar do Devon para a Normandia. Na Austrália o Emigrante encontra
homens e mulheres com os mesmos hábitos, o mesmo idioma, e na
realidade, as mesmas pessoas, excluindo aqueles que vivem ao sul. A
redução da taxa postal entre a Inglaterra e as Colônias, uma redução
que eu espero será seguida logo pelo estabelecimento do Universal
Penny Post entre as terras onde se fala o inglês, tenderá mais
adiante a minorar o senso de distância.
89
surgimento de novas remessas de homens aos portões das docas,
temendo que os novatos entrem em competição hostil com eles. Mas
nenhuma Colônia, e nem mesmo os Sindicalistas que governam Victoria,
poderiam contestar racionalmente a introdução de Colonos treinados
na terra. Eles veriam que estes homens se tornariam uma fonte de
riqueza, simplesmente porque eles se tornariam imediatamente
produtores como também consumidores, e em vez de reduzir salários
eles tenderiam a melhorar o comércio e assim aumentar a quantidade
de empregos aos trabalhadores agora na Colônia. A Emigração da forma
como foi administrada até aqui foi levada a cabo em cima de
princípios diretamente opostos a estes. Homens e mulheres foram
simplesmente lançados em direção a países sem qualquer consideração
sobre suas habilidades para conseguir sustento, por conseguinte
tornaram-se pesadelo, preocupação, despesa, fardo, às energias da
comunidade. O resultado é que eles circulam pelas cidades e competem
com os trabalhadores coloniais, forçando assim os salários para
baixo. Evitaremos esse erro. Não será necessário que australianos e
outros Colonos reclamem que seus países estão sendo convertidos em
um tipo de depositório de homens e mulheres totalmente inadequados
às novas circunstâncias em que são colocados.
90
SEÇÃO 1. -- A COLÔNIA E OS COLONOS.
Antes de tomar qualquer decisão, porém, serão obtidas informações
sobre a posição e as características da terra; a acessibilidade do
mercado para a compra de artigos; a comunicação com a Europa, e
outros particulares necessários.
Então uma nova leva de Colonos seria enviada para unir-se aos
primeiros, e de tempos em tempos outras levas, na medida em que a
Colônia esteja preparada para recebê-los. Mais adiante poderiam ser
escolhidos outros locais para estabelecer mais Colônias, e antes que
se passe muito tempo a Colônia seria capaz de receber e absorver um
fluxo contínuo de emigração de proporções consideráveis.
91
verdade, perseverança, diligência, assiduidade, atividade,
disciplina, temperança, esforço, sem os quais seria mera ilusão
qualquer esperança no sucesso deles. A Colônia Urbana receberia
homens e mulheres sem caráter, mas nenhum deles seriam enviados à
Colônia Ultramarina sem provar merecer esta confiança.
Eles seriam acostumados à vida dura e aos apuros que teriam que
suportar.
Muitos dos Colonos teriam amigos que os ajudariam com dinheiro para
custear a passagem, equipamentos, aparelhamento, aprovisionamento.
Os solteiros terão angariado algum dinheiro na Cidade e na Colônia
Rural que será suficiente para pagar a própria passagem. Com o
passar do tempo parentes que estão confortavelmente instalados na
Colônia, juntarão dinheiro, e ajudarão familiares a juntar-se a
eles. Temos exemplos claros na Austrália e nos Estados Unidos de
como esses países têm, desta forma, absorvido milhões de esforçadas
pessoas pobres vindas da Europa.
92
altamente qualificadas para um empreendimento dessa magnitude, e que
nos propomos executar. Mas é igualmente verdade que um grande
contingente de gente ignorante, malévola, odiosa, maliciosa, cruel,
maldosa, de nossas populações européias têm vertido desde então para
aqueles países sem afetar sua prosperidade, e esta Colônia Ultramar
teria a imensa vantagem inicial de surgir disciplinada,
administrada, cuidadosamente adaptada às mais peculiares
circunstâncias, e rigidamente compromissada [N.T.: no original,
enforced] em cada aspecto particular.
Para que não haja nenhum mal entendido com relação a esta Colônia
Ultramarina, é bom que fique bem claro que todas minhas propostas
aqui apresentadas são necessariamente tentativas e experimentos. Não
há nenhum problema de minha parte em aceitar quaisquer sugestões,
pareceres e considerações maduras, por parte de homens práticos, e
que contribuam para o aperfeiçoamento destas minhas proposições. O
Sr. Arnold White que já administrou duas levas de Colonos para a
África do Sul é um dos poucos homens neste país que têm experiência
prática das dificuldades reais envolvendo colonização. Eu tive, por
causa de nossa amizade, a vantagem revisar este Projeto com ele, de
acompanhar detalhe a detalhe, e eu me arrisco acreditar que não há
nada neste Projeto que não esteja em harmonia com o resultado da
experiência dele. Em um par de meses este livro será lido no mundo
inteiro. E resultará em uma abundante colheita de sugestões para
mim, e, eu espero que este livro preste um serviço valioso aos
muitos experientes Colonos em todo país. Na ordem devida das coisas
a Colônia Ultramarina é o última etapa a ser iniciada. Assim que
nosso primeiro grupo de Colonos estiver pronto para cruzar o oceano
eu estarei em melhor posição para corrigir e revisar as propostas
deste capítulo, por causa da sabedoria e da maturidade experimentada
pelos homens práticos de todas as Colônias no Império.
93
6. Espera-se que os agentes governamentais e outros empregadores --
que requisitam Colonos confiáveis a esta Agência -- ofereçam
condições favoráveis com respeito à passagem, emprego, e outras
vantagens.
Qualquer pessoa que alguma vez cruzou o oceano não consegue evitar
ficar impressionado com a dor que os emigrantes sentem em sua viagem
rumo ao seu destino. Muitas e muitas vezes garotas soçobram diante das
tentações que as atacam em sua jornada em direção terra onde esperam
encontrar um futuro mais feliz.
94
Para evitar estas conseqüências más, acredito que deveríamos ser
compelidos a ter nosso próprio navio o mais cedo possível.
95
obteríamos o serviço dos administradores do navio e da tripulação da
maneira mais barata, em harmonia com os usos e costumes do Exército
em todos outros lugares, homens que servem por amor e não como um
mero negócio. O efeito produzido pelo nosso navio singrando
lentamente para os mares do sul testemunhará a realidade de uma
Salvação para ambos os hemisférios, atracando em portos adequados,
constituindo um novo tipo de trabalho missionário, e angariando em
todos os lugares uma grande quantidade de verdadeira simpatia. No
momento a influência desses que navegam pelos mares nem sempre atuam
no sentido de elevar a moral e a religião dos moradores nos lugares
onde chegam. Porém, pelo menos, nosso barco representaria um
transporte cujo aparecimento não prediria nenhuma desordem, nem
daria origem a nenhum deboche, e do qual fluiria um Exército de
homens que, ao contrário de uma multidão de pés-de-cana e outros
espíritos licenciosos, se ocupariam em explicar e proclamar a
religião do Amor Divino e da Fraternidade Humana.
Nossos Emins têm o Diabo como guia, e quando nos aproximamos deles
constatamos que são seus amigos e vizinhos aqueles que os retém, e
eles são, oh, tão vacilantes! É necessário que cada um de nós seja
tão teimoso quanto Stanley, para vencer todos os obstáculos, e para
forçar nossa passagem diretamente para a direção correta, e então
labutar com os pobres prisioneiros do vício e do crime com toda
nossa força. Mas se o Comitê Expedicionário não fornecesse os meios
financeiros que permitisse a abertura de um caminho até o mar,
Stanley e Emin provavelmente até hoje ainda estariam presos no
coração da Tenebrosa África. Este Projeto é nossa Expedição Stanley.
Mas ai de nosso pobre Emin! Mesmo com a estrada já aberta, ele pára,
titubeia e duvida. Primeiro ele resolve ir, depois resolve não ir
mais, e nada menos que uma pressão irresistível de um amigável e
forte propósito o constrangerá seguir a estrada que foi aberta para
ele por um alto e sangrento preço. Então, eu passo a esboçar alguns
métodos pelos quais tentaremos salvar o perdido e salvar os que
estão perecendo em meio à «Tenebrosa Inglaterra».
96
selvagens da civilização espreitam e procriam. Todas as grandes
cidades no Velho e no Novo Mundo tem favelas, onde lixo, vermes,
homens, mulheres, e crianças se misturam. Elas correspondem aos
leprosários da Idade Média.
Algumas são mulheres que não temeram trocar o conforto dos bairros
ricos de Londres pelo serviço entre os mais pobres dos pobres, nem
residir em quartos pequenos e malcheirosos com paredes infestadas de
animais daninhos. Elas vivem a vida do Crucificado por causa dos
homens e mulheres pelos quais Ele viveu e morreu. Neste Exército,
elas formam uma frente à qual dedico meu mais profundo respeito. Elas
estão à frente; elas estão em luta corpo-a-corpo contra o inimigo. Para
aqueles que moram em casas decentes e que ocupam assentos almofadados
nas igrejas, ocorre algo estranho e pitoresco quando elas lêem a
Bíblia, elas usam uma linguagem que habitualmente se refere ao Diabo
como um personagem real, e à luta contra o pecado e a imundícia como se
fosse uma luta de vida ou morte contra as legiões do Inferno. Para
nossas pequenas irmãs que vivem naquela atmosfera pesada e maldita,
entre pessoas encharcadas com bebida, em becos onde o pecado e a
sujeira são universais, todas declarações Bíblicas são tão reais quanto
as cotações da Bolsa de Valores são para o homem de Cidade. Elas moram
bem no meio do Inferno, e em sua guerra diária contra uma centena de
diabos parece-lhes incrível que alguém possa duvidar da existência
desses dois lados em luta.
97
Nova Iorque. Mas estas Oficiais não vivem sob a égide do Exército. A
bandeira bordada azul é desfraldada longe da vista, seus uniformes e
bonés de pala larga são retirados, e não há nenhum tambor ou
pandeiro. «A bandeira sobre elas é a bandeira do amor», são pessoas
que vivem como as demais no mesmo plano de pobreza, sem usar nenhuma
roupa melhor, comendo comida ordinária e escassa, e dormindo em
camas duras ou no chão. As vidas delas são consagradas ao serviço de
Deus entre os pobres da terra. Uma delas é uma mulher no primor de
sua juventude, e a outra uma menina de dezoito anos. A mais velha
destas devotadas mulheres nos espera no quartel e será nossa guia.
«Eles fornecem uma desculpa para entrar em lugares que sem eles não
poderíamos entrar», explica Em.
98
para ouvir. Muitos aceitam os folhetos oferecidos, gradualmente a
multidão abre espaço, até que chegamos no fundo do salão. A
seriedade e a doçura se estampa na face de Em. Eu a sigo como uma
estrela, sem medo, e tomada por um grande sentimento de compaixão
pela tristeza daquelas vidas.
99
homem está evidentemente à beira da morte. Sete semanas atrás ele
pegou a tal «gripe». Agora está na última fase de pneumonia. Em
tentou convencê-lo a ir para o hospital, e ele balbucia seu desejo
de «morrer no conforto de minha própria cama». Conforto! A «cama» é
uma armação amontoada de trapos. Lençóis, travesseiros, roupas de
dormir não estão em voga nas favelas. Uma mulher dorme no chão sujo
com a cabeça debaixo da mesa. Outra mulher, que passou toda a noite
cuidando do doente junto com a esposa dele termina sua refeição
matutina de ostras assadas. Uma criança que parece nunca ter sido
lavada engatinha sobre o chão, caindo por sobre a mulher que dorme.
10
«doce e séria Em».
«Você está errada», disse a voz no centro, e «você sabe que está;
toda essa sua miséria e pobreza é uma prova disto. Você desperdiça
todo o dinheiro que lhe chega às mãos. Você está longe da casa de
seu Pai, e se rebela diariamente contra Ele, e não é por acaso que
passe tanta fome, opressão, e miséria. Mas apesar de tudo seu Pai
ama você. Ele quer que você volte para Ele; que se afaste de seus
pecados; que abandone suas más ações; que deixe a bebida e que páre
de servir ao diabo. O Pai deu seu Filho Jesus Cristo para morrer por
você. Ele quer te salvar. Venha aos pés dele. Ele está esperando. Os
braços dele estão abertos. Eu sei que o diabo quer acabar com você;
mas Jesus lhe dará força para vencê-lo. Ele o ajudará a dominar seus
hábitos ruins e seu vício da bebida. Vem agora a Ele. Deus é amor.
Ele me ama. Ele ama você. Ele nos ama a todos. Ele quer salvar todos
nós».
«Deus é amor». Aquela não era a voz de Deus ecoando nas ruas e
soprando nas favelas? Sim, verdadeiramente, e aquela voz não cessa e
não cessará, enquanto as Irmãs da Favela lutarem sob a bandeira do
Exército de Salvação.
10
Havia apenas uma pequena privada nos fundos para todos. Sobre a
sujeira, escreve uma Oficial: «Algumas casas estão tão imundas que
parece impossível limpá-las. As cinzas do fogão a lenha ficam
acumuladas por dias. A mesa muito raramente é, se alguma vez foi,
devidamente limpa, as xícaras e pires sujos permanecem amontoados, e
quando comem peixe, a mesa fica coberta de ossos e cabeças, com
pedaços de cebola misturados com restos de comida. O piso dentro da
casa está em piores condições que a calçada da rua, e quando
supostamente o limpam fazem isso usando um balde de água suja. Nas
raras vezes que lavam, o fazem como se fosse um trabalho
desnecessário, usando um ou dois baldes de água. Às vezes fervem
panos em alguma caçarola velha na qual cozinham a comida deles. Eles
fazem isto simplesmente porque não têm nenhum recipiente maior para
usar. As paredes e teto dos cômodos estão tão apinhados de baratas e
outros animais daninhos que quando passamos eles caem sobre nossa
cabeça. Algumas das paredes estão cobertas de marcas onde eles foram
esmagados. Durante o verão, devido ao calor e insetos dentro das
casas, muitos preferem passar toda a noite sentados do lado de fora».
«Mas como não conseguem ficar por muito tempo sem beber, logo reúnem
a vizinhança para beber cerveja -- ai! nunca longe -- e ficam
andando de um lado para outro, bêbedos, cantando, gritando e
brigando, até três e quatro horas da madrugada».
10
alcoólicos; o marido era muito preguiçoso, só começou a trabalhar
quando começou a passar fome. Quando descobrimos o casal ambos
estavam desempregados, o barraco não tinha mobília, estavam cheios
de dívidas. Ela foi salva, e nossas moças oraram para ele arrumar
emprego. Ele conseguiu, e começou a trabalhar. Algumas semanas
depois ele saiu do trabalho, começou a beber novamente e espancou
sua esposa. Ela buscou emprego de faxineira, conseguiu, e desde
então trabalha regularmente. Ele também arrumou emprego. Agora é
abstêmio. Agora a casa está muito confortável, e eles estão pondo
dinheiro no banco.
10
O Oficial que forneceu os relatórios acima relata o seguinte: --
Por causa da bebida Brother e Sister X foram parar em um barraco de
favela. De uma vida de luxúria, eles despencaram para um barraco de
um cômodo bem no meio da Favela, cercados de alcoólicos, indivíduos
de mau caráter, e pessoas oprimidas pela necessidade e pela
privação. Suas adoráveis crianças estavam subnutridas, e eram
compelidas a ouvir palavrões, testemunhar brigas e querelas, e ai,
ai, não apenas dos quartos adjacentes, mas testemunhar tudo isso em
seu próprio barraco. Durante mais de dois anos eles viveram sob o
poder da maldição do álcool. Agora, o velho cortiço em que viviam é
coisa do passado, agora eles têm uma casa confortável. As crianças
dão evidências de uma completa conversão, e estão absolutamente
gratos pela salvação de seus pais. Um menino de oito anos disse no
último Natal, «eu me lembro quando tínhamos apenas um pão seco para
comer no Natal; mas hoje tivemos um ganso e dois pudins de ameixa».
Brother X. que antes de sua conversão caíra em desgraça em sua
profissão de caixeiro viajante; agora é administrador, homem de
confiança de um grande empresário.
Ele disse: --
Estou completamente convencido de que nas camadas mais pobres da
sociedade, mesmo encontrando trabalho, poucos estão dispostos a
trabalhar. Em sua precária e penosa existência muitos deles foram
tomados pelo desânimo, outros oscilam entre o banquete e a fome, e
os mais inteligentes acabam optando pelo crime.
Acredito que uma pequena carroça, puxada por um pônei, poderia ser
providenciada para transportar pessoas doentes e agonizantes, e
fazer uma ronda em meio a toda aquela desolação, com um par de
enfermeiras devidamente treinadas. Isso seria de imensa utilidade, e
não seria tão caro. Elas poderiam ter alguns instrumentos simples,
para arrancar um dente ou lancear um abscesso, e aqueles que são
absolutamente necessários para operações cirúrgicas simples. Um
pequeno fogão a gás para produzir água quente para preparar
cataplasma, fazer massagens, ou dar um banho, e várias outras coisas
10
necessárias àqueles que precisam de cuidados.
Uma pobre mulher em Drury Lane era paralítica. Não tinha ninguém
cuidando dela; ela permanecia em cima de um saco estendido no chão,
coberta com trapos de pano. Embora fosse inverno, ela muito
raramente tinha qualquer fogo. Ela não tinha nenhum artigo de
vestuário para usar, e quase nada para comer.
A outra pobre mulher, que estava muito doente, foi dado um pouco
dinheiro para sua filha pagar o aluguel da casa onde viviam e
comprar comida; mas freqüentemente ela não tinha força para acender
o fogo ou cozinhar seu alimento. Ela separou-se do marido por que
ele era muito cruel. Freqüentemente ela passa horas e horas sem uma
alma que a visite ou a ajude.
Outra mulher pobre foi encontrada muito doente, mas, por ter uma
família pequena, ela achava que tinha que se levantar e dar banho no
bebê. Enquanto dava um banho no bebê ela caiu e permaneceu caída
incapaz de qualquer movimento. Felizmente uma vizinha entrou para
fazer alguma pergunta e a viu caída no chão. Correu imediatamente e
foi buscar ajuda. Pensando que a pobre mulher estava morta, eles a
colocaram na cama e chamaram um médico. Ele disse que ela estava
subnutrida e precisava de repouso e alimentação. A pobre mulher não
tinha nem uma coisa nem outra por causa dos filhos. Algumas horas
10
depois ela se levantou. Ao descer a escada caiu novamente. Os
vizinhos a apanharam e a colocaram na cama onde permaneceu muito
tempo completamente prostrada. Os Oficiais assumiram o problema
dela, a alimentaram, e aqueceram, limparam o quarto dela, enfim,
cuidaram dela.
Antigamente, quando um homem era preso, ele era preso a uma pedra
dentro de sua própria casa [N.T. no original: the gaol stood within
a stone's throw of his home]. Uma vez livre, de uma forma ou de
outra estava perto de seus velhos amigos e relacionamentos, que o
acolhiam e lhe davam uma mão para começar uma vida nova mais uma
vez. Mas o que aconteceu que fez com que o governo construísse o
máximo possível de prisões? Os prisioneiros, quando condenados, são
enviados de trem a longas distâncias para as penitenciárias, e ao
retornar saem amaldiçoados com a marca da prisão. Assim, longe de
casa, ele perde o que eventualmente ainda lhe resta de caráter [N.T.
no original: character gone], sem ninguém para aconselhá-lo, ou
dar-lhe uma mão. Não é por acaso que a quantidade de vadios tenha
crescido tanto nas grandes cidades por causa de ex-presidiários que
se tornam moradores de rua e mendigos, na medida em que não lhes
resta outra alternativa.
10
antes fornecer uma certa cota à população prisional. A revogação de
uma lei injusta raramente é levada a cabo sem que certo número
daqueles que labutam para a aboli-la experimentem o sofrimento da
multa e da prisão. O Cristianismo nunca triunfaria sobre o Paganismo
da Roma antiga se os cristãos primitivos não provassem no calabouço
e na arena a sinceridade e a serenidade de alma que possuíam. Foi
com tais armas que confrontaram e venceram seus perseguidores.
10
4. Visitando os criminosos nas cadeias, oferecemos aceitá-los
imediatamente em nossas Casas. A regra geral é que eles assumam um
compromisso com velhos amigos ou companheiros, que ordinariamente
pertencem à mesma turma. De qualquer forma, seria uma exceção à
regra se tal amizade e companheirismo girasse em torno da confiança,
do conforto e do poder de um copo alguma bebida enebriante.
Consequentemente o companheirismo do bar é invariavelmente evitado,
por ser o local onde freqüentemente os crimes são planejados, essas
companhias fazem com que em poucas semanas o condenado retorne para
a prisão da qual há pouco saiu. Acostumado durante o confinamento
com a implícita submissão à vontade de outro, o prisioneiro
recém liberto é facilmente influenciado pelo primeiro que ganha sua
confiança. Agora, nós propomos nos antecipar com os velhos
companheiros para que traga o pássaro engaiolado para debaixo de
nossas asas e que fixe diante dele uma porta aberta de esperança no
momento em que ele cruze o limiar da prisão, garantindo-lhe que se
estiver disposto a trabalhar e a obedecer nossa disciplina, ele não
precisará de mais nada.
10
C. M. foi outro velho criminoso, cumpriu muitas penas. Foi induzido
a vir para a Casa, foi salvo, esteve lá para um longo período,
ofereceu-se para a obra, no Campo foi Tenente durante dois anos, e
eventualmente casou-se. Agora ele é um mecânico respeitável e
soldado de um Corpo em Derbyshire.
O «Velho Dan» cumpriu muitas penas, muitas delas bem longas. Ele
entrou na Casa e foi salvo. Lá ele administrou por muito tempo nossa
sapataria. Ele montou sua própria sapataria em Hackney, e está
casado. Faz quatro anos que trabalha em sua loja, é um homem
respeitável, e um Salvacionista.
10
da Casa da Porta de Cadeia [N.T.: no original Prison Gate Brigade
Home] onde ele verdadeiramente foi salvo; ele arrumou emprego como
pintor, profissão que aprendeu na cadeia, e se casou com uma mulher
que tinha sido antigamente uma cafetina, mas que passara pelo Lar
dos Pecadores Salvos [N.T.: no original, Rescued Sinners' Home],
onde mudou completamente de vida. Juntos enfrentam com bravura as
tormentas da vida, ambos trabalham diligentemente por suas vidas.
Agora, eles têm uma pequena casa própria onde vivem felizes, estão
indo muito bem.
110
instrumentalidade tem sido abençoada em resgatar aquelas almas das
chamas. O que permite elevar este trabalho a uma escala bem mais
extensa. Se qualquer outra organização, religiosa ou secular,
conseguir mostrar troféus semelhantes -- apesar de todas nossas
limitações -- entre a população carcerária, eu estou disposto a dar
lugar a eles. Tudo aquilo que eu quero é um trabalho bem feito.
Bárbara. -- Ela descera tão baixo quanto uma mulher pode descer
quando nós a encontramos. Desde a idade de dezoito anos -- quando
seus pais a arrancaram dos braços de seu amado marinheiro e a
forçaram casar-se com um homem «de bem» -- ela deu início a sua
jornada rumo ao inferno.
111
separações e retornos. E assim ela conseguiu viver apenas para uma
coisa: a bebida. A bebida era sua vida; e sua furiosa apetência
cresceu a níveis irresistíveis. A mulher que cuidou de Bárbara por
ocasião do nascimento do filho recusou quando ela pediu que lhe desse
uísque, assim, após fazer o que pode, deixou a mãe para descansar,
Bárbara escapuliu para fora da cama e rastejou lentamente pela escada
até o bar onde sentou-se, e passou a beber, com o bebê no colo, que
tinha nascido a menos de uma hora. Assim as coisas foram, até que a
vida dela se tornou tão insuportável que ela resolveu acabar com tudo.
Pegou as duas crianças mais velhas e desceu até o rio para
deliberadamente afogá-las e depois afogar-se.
«Oh, mama, mama, não faz isso!» lamentou a pequena Sarah de três
anos, mas ela estava determinada a fazer o que tinha resolvido, foi
quando, ao ver um barco se aproximando, percebeu que fora
descoberta. É tarde demais para fazer isso agora, pensou ela, e,
segurando ambas as crianças, nadou rapidamente para a costa. A
história que inventou sobre ter entrado na água satisfez o
barqueiro, e Barbara voltou para casa encharcada e confusa. Mas a
pequena Sarah não se recuperou do choque, e depois que algumas
semanas sua curta vida teve fim, foi levada para o Cemitério.
112
sangue tinham congelado rapidamente na terra, e Maggie ficara presa.
Depois de tentar tirá-la dali por diferentes modos, e recebendo como
recompensa uma salva de chingamentos e palavrões, uma das meninas
correu em busca de uma chaleira de água fervente, e vertendo tudo ao
redor dela, aos poucos tiveram sucesso derretendo o gelo e
colocando-a finalmente em pé! Mas ela veio para nossos Postos
Avançados, e foi profundamente convertida, e a Capitã foi
recompensada pelas noites e dias de labuta procurando transformá-la
em uma mulher sóbria.
Tudo corria bem até que um amigo pediu-lhe que fosse até a casa dele
para tomar um brinde juntamente com sua esposa recém-casada. «Você
não vai beber nada alcoólico», disse. «Brinde a mim com esta
limonada». E Maggie, sem nada suspeitar, bebeu, e enquanto bebia
percebeu que o conteúdo do copo era seu velho inimigo, o uísque! O
homem riu do desânimo dela, mas um amigo correu e contou toda a
história para a Capitã. «Ainda há tempo, ela não poder voltar a
beber»; e a Capitã correu para a casa, tentando amarrar seu chapéu
enquanto corria. «Não estou nada bem -- fique longe de mim -- não
quero vê-la, Capitã», lamentou Maggie «deixe-me em paz -- oh, eu
estou em chamas por dentro». Mas a Capitã foi firme, e levou-a para
casa, ela se trancou com a mulher, e sentou com a chave no bolso,
enquanto Maggie, meio furiosa e ansiosa, andava de um lado para o
outro como um animal enjaulado, prometendo e suplicando. «Nunca,
enquanto eu viver», era tudo o que a Capitã respondia; assim que ela
se distraiu, em questão de momento, ouviu um ranger de porta. A
Capitã viu a porta se abrir e Maggie escapar rapidamente! Acostumada
com todos os segredos e «evasivas», Maggie arrancou a fechadura da
porta, e saiu correndo para o bar mais próximo.
113
É surpreendente que a terrível, alcoólica, negligente, dissoluta,
vida que ela viveu não acelerou sua ida para a sepultura; mas afetou
sua razão, e durante três semanas ela foi recolhida em um Manicômio
de Lancaster, depois de ter passado por um período de fúria por
causa da bebida e do pecado.
Três meses depois de sua conversão houve uma grande reunião no maior
salão da cidade onde ela era conhecida por quase todos os
habitantes. Havia aproximadamente três mil pessoas presentes. Rose
foi chamada para dar seu testemunho de que o poder de Deus salva.
114
desafiado a ir ao Posto Avançado com as palavras «Você é Salvo?».
Ele foi, e o Capitão que o conhecia bem, pediu para que ele se
convertesse. S. o agrediu com um soco, e voltou ao bar. Porém, ele
ficou tão sensibilizado pelo que ouvira que não conseguiu beber, Ele
foi e voltou do bar para a reunião e da reunião para o bar por três
vezes. Ele não tinha sossego, e na terceira vez que voltou à reunião
os Soldados estavam cantando: --
115
que sejam acessíveis ao proletariado, ou a qualquer pessoa de
qualquer classe. O alcoolismo é nosso vício nacional, e exige nada
menos do que um remédio nacional -- de qualquer maneira, um remédio
em grande escala para que seja considerado nacional.
(3). Um custo de 10s. por semana será cobrado. Este valor será
revisto quando não houver qualquer possibilidade de pagá-lo.
116
da miséria. Não temos as estatísticas exatas com relação ao
atendimento em nossas Casas no exterior, mas em conexão com a obra
em nosso país, cerca de 3.000 delas já foram resgatadas, e estão
vivendo vidas virtuosas, com firme e habitual disposição para o bem.
Este sucesso tem sido gratificante não apenas por causa das bênçãos
trazidas a estas jovens mulheres, pela alegria proporcionada nas
casas em que foram restabelecidas, pelo benefício dado à Sociedade,
mas porque esse sucesso nos assegurou que maiores resultados desse
tipo podem ser conseguidos por operações administradas em escala
maior, e diante de circunstâncias mais favoráveis.
117
A próxima dificuldade que impede nossa expansão nesta área é o
desejo de situações satisfatórias e permanentes. Embora tenhamos
alcançado o maravilhoso sucesso de ter encaminhado até o presente
momento cerca de 1.200 garotas ao serviço doméstico, a dificuldade
nesse sentido é bem grande. As famílias revelam-se naturalmente
tímidas em receber estas pobres desafortunadas no que diz respeito a
afiançar a ajuda que elas precisam combinada com um caráter puro; e
nós não os podemos culpar.
Mas no plano que propomos há algo que alegrará estas meninas. A vida
na fazenda será atraente. Dali elas poderão ir para um novo país e
poderão começar tudo de novo, com a possibilidade de casar-se e ter
uma pequena casa própria algum dia. Com tal perspectiva, achamos que
elas provavelmente estarão bem mais dispostas a lutar contra a
escuridão e resistir às tentações do que no momento.
Ela tinha apenas dezenove anos. Uma menina do campo. Ela começou bem
cedo sua luta pela vida trabalhando em uma grande lavanderia, e foi
estuprada aos treze anos de idade. Após esse primeiro tropeço, sua
queda foi mais rápida, irrequieta, aflitante, e profunda do que
seria em uma cidade do interior, ela mudou-se para Londres.
O magistrado indagou se ela alguma vez passou por alguma Casa. «Ela
118
é muito velha, ninguém vai querer se responsabilizar», foi a
resposta, mas um Detetive, conhecendo um pouco sobre o Exército de
Salvação, adiantou-se e explicou ao magistrado que ele não
acreditava que o Exército de Salvação recusasse qualquer pessoa que
o buscasse. Ela foi entregue formalmente a nós em uma condição
deplorável, vestindo roupas escassas e sujas. Durante mais de três
anos ela deu evidência de uma mudança genuína, nesse tempo ela vive
de seu próprio trabalho.
119
Agora, queremos uma casa de verdade para elas -- uma casa para a
qual qualquer menina possa abrigar-se a qualquer hora do dia ou da
noite, onde seja recebida, cuidada, protegida do inimigo, e mantida
em segurança.
Agora, o que essa pobre gente pode fazer? Eles procuram à polícia,
mas a polícia não pode fazer nada. Talvez eles peçam ajuda ao
clérigo da paróquia, que também não pode fazer nada a não ser
encharcar seus ombros com as lagrimas da mãe desesperada, que
espera, que pede a Deus por notícias da filha, notícias que nunca
chegam. Ela teme o pior.
12
características particulares. A Busca seria imediatamente colocada
em prática, no sentido de localizar e, se for o caso, resgatar a
menina.
O MARIDO DESAPARECIDO.
A BUSCA.
A Sra. S., de New Town, Leeds, escreveu relatando que ROBERT R.
deixou a Inglaterra em julho de 1889. Ele viajou para o Canadá em
busca de uma melhor qualidade de vida. Ele deixou para trás a esposa
e quatro crianças pequenas. Foi embora dizendo que se tivesse êxito
os chamaria, caso contrário voltaria.
O RESULTADO.
Imediatamente começamos a procurar por algum passageiro que viera no
mesmo navio, depois de um pequeno lapso de tempo tivemos sucesso,
encontramos um.
A ESPOSA DESAPARECIDA.
A BUSCA.
F. J. L. pediu-nos para encontrar sua esposa que o deixara no dia 4
de novembro de 1888. Ele temia que ela estivesse vivendo uma vida
imoral; deu-nos a descrição e dois endereços onde provavelmente ela
seria encontrada. O casal tinha três filhos.
O RESULTADO.
Investigamos tais endereços e não extraímos nenhuma informação, mas
observando a vizinhança descobrimos o paradeiro da mulher.
Entramos em contato com o Sr. L.. Alguns dias depois ele nos enviou
um telegrama dizendo que tinha perdoado a esposa, e que novamente
estavam juntos.
12
Logo depois ela escreveu expressando profunda gratidão à Sra.
Bramwell Booth por ter se envolvido no caso dela.
A FILHA DESAPARECIDA.
A BUSCA.
ALICE P. fora raptada há dez anos atrás por Ciganos, agora deseja
encontrar os pais dela, e voltar a viver com eles. Ela acredita que
a casa dela está em Yorkshire. A Polícia teve este caso em mãos
durante algum tempo, mas falhou completamente.
O RESULTADO.
Anunciamos estas informações no «Brado de Guerra». A Capitã Green,
ao ver o anúncio, escreveu em 3 de abril que sua Tenente conhecia
uma família que se enquadrava nas descrições vivendo em Gomersal,
Leeds.
O RESULTADO.
Descobrimos que algumas pessoas respeitáveis de uma Igreja ajudaram
E. W. a emigrar, mas que não tinham nenhuma informação sobre seu
paradeiro após o desembarque.
A AMIGA PERDIDA.
A BUSCA.
A Sra. M. escreveu-nos, profundamente consternada, sobre esta
menina. Ela disse que ela era esforçada, mas que, arruinada por um
rapaz que a cortejou, e já com três crianças, continuamente
retornava ao «vil caminho», embora ocasionalmente tivesse algumas
semanas luminosas e felizes.
A Sra. M. disse-nos que Harriett teve pais bons, já mortos, mas que
ainda tem um irmão respeitável em Hampshire. A última vez que ouviu
falar dela foi algumas semanas atrás, quando estava num Abrigo para
12
Meninas em Bristol, mas que partira, e desde então nunca mais soube
dela.
Pediu-nos que a achássemos, e com muita fé nos disse, «eu acho que
vocês são os únicos que, tendo sucesso em localizá-la, poderão
resgatá-la e torná-la uma boa pessoa».
O RESULTADO.
Demos início à nossa busca, e no espaço de alguns dias descobrimos
que ela saíra de Bristol em direção a Bath. Em seguida soubemos que,
em um lugarejo chamado Bridlington, na estrada para Bath, ela
encontrou um homem com o qual conversou, e que a levou a uma
taverna.
Quando informamos sua amiga e seu irmão do sucesso, eles ficaram bem
contentes e gratos.
12
imediatamente o país. Ele já havia largado o emprego e recebido #16
de salário, mas foi obrigado a entregar essa quantia -- mais um
pouco do dinheiro que o pai lhe dera para a viagem -- para a mãe de
seu filho.
ENCONTRADA NA SELVA.
Há um ou dois anos atrás ela era uma respeitável garota holandesa
que poderia ter rapidamente construído seu espaço. Oriunda de uma
cidade da África do Sul, traída, desgraçada, expulsa de casa com
palavras de amargo desprezo, sem ter qualquer amigo no mundo que
oferecesse ajuda, pensou em suicidar-se lançando-se no rio. O que
poderia fazer além de mergulhar naquele rio, e acabar com tudo? Mas
Greetah temeu o «futuro», e resolveu passar a noite na escuridão,
miserável e só.
12
especialistas ou com Oficiais especialmente treinados para este
trabalho, que imediatamente atuam em cima de qualquer pista
fornecida pelos parentes ou amigos.
12
many consecutive minutes], consequentemente o tempo em que as
crianças ficam ali deve ser administrado por um método racional;
digamos, a primeira metade dos trabalhos da manhã deve ser dedicada
aos livros, e a outra metade a algum aprendizado industrioso; a
horticultura seria bem natural e saudável no tempo da colheita, no
tempo inadequado à horticultura haveriam oficinas.
Longe de mim tentar reformar nosso sistema Escolar com este modelo.
Mas eu acho que poderia testar a teoria praticando-a em uma Escola
Industrial na Colônia Rural. Eu provavelmente começarei com crianças
selecionadas pela qualidade e capacidade, visando dar-lhes uma
educação superior, ajustando-os assim para a posição de Oficiais em
todas as partes do mundo, com o objetivo especial de levantar um
corpo de homens completamente treinados e educados para, entre
outras coisas, levar a cabo todas as seções de obra social fixadas
neste livro, e capacitá-los a instruir outras nações dentro o mesmo
objetivo.
[...]
12
responsabilidade que podem perfeitamente pagar por um maior conforto
e privacidade. Continuamente eles nos dizem: --
Nesse sentido, as mulheres também vão querer algo melhor. E uma vez
iniciado esse processo temos que ir em frente. Até aqui minha
proposta abrange apenas homens solteiros e mulheres solteiras, mas
há algo que logo se fará sentir. Nossos esfarrapados, famintos,
destituídos, desempregados, quase sempre são casados. Quando eles
vem até nós, chegam sozinhos e são tratados como solteiros, mas
depois que você desperta nele aspirações para coisas melhores, ele
se lembra de sua esposa que provavelmente abandonou, e que passa por
privações. Assim que tal homem se encontra debaixo de boa
influência, estável, seu primeiro pensamento é voltar e cuidar da
«Patroa». Há muito pouca realidade sobre qualquer mudança de coração
em um homem casado, a ponto dele não demonstrar simpatia e desejo
pela sua esposa, e quanto mais bem sucedidos formos na lida com
estas pessoas, mais inevitavelmente seremos confrontados com pares
casados que, por seu turno, nos pedirão que providenciemos
habitações. Estas coisas nos propomos a fazer também em grande
escala. Eu antevejo um maior incremento nesta direção, o qual será
descrito no capítulo relativo a Habitações Suburbanas. A Casa Modelo
para Pessoas Casadas é, porém, uma dessas coisas que devem ser
providas como um suplemento dos Depósitos de Alimentos e dos
Abrigos.
12
segunda, ou terceira classe não é outra coisa senão paliativos da
angústia existente. Substituir a vida nas ruas pela vida em uma
pensão é, sem dúvida, um imenso avanço, mas não é de forma alguma o
limite máximo. Viver em uma pensão é melhor do que viver na rua, mas
está longe de ser a melhor forma de convívio humano.
Não posso me dar por satisfeito com estes imensos e feios blocos de
edifícios, que são apenas um tênue avanço desde o Sindicato da
Bastilha -- criador do Modelo Industrial de Habitações -- tanto na
moda no momento, como sendo uma resposta satisfatória à questão
ardente sobre como deve ser a habitação do proletariado. Como
contribuição a esta questão, eu proponho o estabelecimento de uma
série de Núcleos [N.T.: no original, Settlements] Industriais ou
Aldeias Suburbanas [N.E.: ou suburbanização. Migração das famílias
que procuram sair dos centros populosos e congestionados para os
subúrbios, onde supostamente há menor poluição e as condições de
vida são mais saudáveis e aprazíveis. Esses novos locais de moradia
são mais caros e exclusivos] pelo país afora, razoavelmente distante
de todas nossas grandes cidades, compostos de habitações e edifícios
de tamanho adequado, e com todo conforto e acomodação necessário às
famílias de trabalhadores, e cujo aluguel, juntamente com a tarifa
da estrada de ferro, e outras conveniências econômicas, deveriam
estar ao alcance de uma família de renda moderada.
12
Estrada de Ferro, em atenção à inconveniência e sofrimento que
infligem aos pobres, e contra os interesses dos mesmos, poderia
ser induzida a fazer os seguintes arranjos vantajosos: --
12
devida administração dos negócios deles, e perguntar para nós mesmos
porque o pobre não desfruta das mesmas oportunidades. A razão pela
qual o homem pobre não desfruta dessas oportunidades é óbvia. Prover
necessidade de rico é um meio de tornar-se rico; prover necessidade
de pobre é um meio de envolver-se em dificuldades na medida em que o
lucro não vale a pena. Os homens entram em negócios bancários e
outros negócios com o objetivo de obter aquilo que os humoristas
estadunidenses chamam de o comandante mor dos tempos modernos, ou
seja, os «dez por cento». O que os homens não farão para obter esses
dez por cento? Eles penetrarão nos intestinos da terra, explorarão
as profundezas do mar, ascenderão ao cume nevado da mais alta
montanha, ou navegarão pelo ar, desde que obtenham seus dez por
cento. Eu não arrisco sugerir que o Banco do Pobre renderá dez por
cento, ou mesmo cinco, mas acredito que poderia pagar suas despesas,
e o ganho resultante à comunidade seria enorme.
13
compreendido. O princípio da liberdade de um homem garantir com
segurança o reembolso de um empréstimo, comprometendo-se a trabalhar
em troca de alimento até reembolsar todo capital e juros. Uma ou
duas ilustrações explicarão o que eu quero dizer. Tomemos um
carpinteiro que vem ao nosso Abrigo; é um homem honesto, decente,
que por doença ou alguma outra calamidade perdeu tudo que tinha.
Gradualmente ele foi penhorando cada uma de suas coisas para manter
seu corpo e alma unidos, até que finalmente foi obrigado a penhorar
suas ferramentas de trabalho. Nós o registramos em nossa Agência de
Emprego, e alguém aparece pedindo um carpinteiro. Sugerimos o homem
imediatamente, entretanto surge uma dificuldade. Ele não tem nenhuma
ferramenta; o que fazer? Na situação em que se encontra, o homem
perde a oportunidade de trabalho e continua em nossas mãos.
No momento o que faz o pobre infeliz? Ele consulta seus amigos que,
possivelmente, não tem como ajudá-lo, ou busca dinheiro emprestado
aqui e ali. Naturalmente pode conseguir esse dinheiro com agiotas,
mas a juros completamente desproporcionais para o risco que correm,
e que usam sua posição vantajosa para extorquir cada centavo que ele
tem. Um grande livro negro pleno de cartas de lamentação, de luto, e
de aflição, poderia ser escrito relatando o sofrimento das vítimas
dos agiotas pelo mundo afora.
13
Há infinitas versões deste princípio, que não precisam ser descritas
aqui, mas antes de deixar esse assunto quero aludir a um mal que é
uma realidade cruel, ai! para uma multidão de homens e mulheres
infelizes. Refiro-me ao sistema da Compra a Prestação [N.T.: no
original, Hire System]. O homem ou a mulher pobre, decente, que
anseia ganhar a vida honestamente trabalhando com uma calandra,
máquina de costura, torno mecânico, ou algum outro instrumento
indispensável, mas que não tem as poucas libras necessárias para
comprar a vista, tem que comprar estas coisas a Prestação -- quer
dizer, um carnê que lhe permita pagar a máquina através de
crediário. Só que o preço que paga no total geralmente está acima do
preço de mercado e, por causa dos juros exorbitantes, paga uma
quantia dez ou vinte vezes maior do que seria uma taxa justa de
juros, e o pior de tudo é que se ele a qualquer momento, por
infortúnio, falhar no pagamento do carnê, o total já pago será
confiscado, a máquina tomada, e o dinheiro perdido.
13
comigo e cuide de mim, e se eu morrer ninguém vai nem notar»,
seguramente é um dos gritos mais amargurados que podem romper de um
coração. Um dos segredos do sucesso do Exército de Salvação é o fato
daqueles que não encontram amigos em parte alguma do mundo encontram
amigos ali. Não há um pecador no mundo -- não importa quão degradado
e sujo ele possa estar -- que meus camaradas não se alegrarão em
tomá-lo pela mão, orar com ele, labutar com ele, para assim trazê-lo
para fora, como um tição que resgata algo das chamas. Agora,
queremos fazer mais uso disto, e tornar o Exército de Salvação o
núcleo de uma grande agência que traga conforto e aconselhamento a
esses que estão à beira do desespero, e com a sensação de que no
mundo inteiro não há uma só pessoa a quem recorrer.
Claro que podemos fazer isto, mas imperfeitamente. Apenas Deus pode
criar uma mãe de verdade. Mas a Sociedade precisa de muitas mães de
verdade, muito mais do que meras progenitoras. Como uma criança
precisa de uma mãe a quem possa recorrer em suas tribulações e
dificuldades, a quem possa derramar confiantemente seu pequeno
coração, assim também homens e mulheres, cansados e sobrecarregados
pelas batalhas da vida, precisam de alguém a quem buscar quando
premidos pelo senso da injustiça sofrida ou cometida, sabendo que a
confiança deles será preservada inviolada, e que as declarações
deles serão recebidas com condolência. Proponho tentar seguir por
este caminho, estabelecerei um departamento no qual serão colocadas
as pessoas mais sábias, mais compassivas, onde serão colocados os
homens e as mulheres mais sagazes que puder encontrar do meu
pessoal, aos quais todos aqueles que estão em dificuldades e
perplexidades serão convidados a se dirigir. Não adianta nada dizer
que amamos nossos irmãos humanos a menos que tentemos ajudá-los, e
não adianta nada fingir solidariedade com os fardos pesados que eles
carregam em suas vidas a menos que tentemos aliviar e iluminar a
existência deles.
13
impomos a todos nossos convertidos, era a única confissão que nos
parecia ser uma condição de Salvação. Mas a sugestão agora é de um
tipo diferente. Não é imposta como meio de graça. Nem pretende ser
uma preliminar à absolvição que ninguém pode pronunciar a não ser o
próprio Senhor. É meramente uma resposta de nossa parte a uma das
mais profundas necessidades e desejos mais secretos das mulheres e
homens de nosso tempo, e daqueles que estão em contato diário
conosco em nosso trabalho. Por que alguém deveria deixar-se abater
pela miséria de seu pecado secreto, quando uma conversa direta e
clara com um homem ou mulher escolhido por sua experiência
espiritual, solidariedade e bom senso, poderia aliviar o peso dos
ombros daqueles que estão esmagados em sombrio desespero?
13
Tudo que dissemos se aplica igualmente, em termos gerais, aos órfãos
e pessoas sem amigos. Porém, nenhuma instituição nacional poderia
abarcar as necessidades de todos estes casos. Mas nós podemos fazer
algo, e nesses assuntos já abordados, como aqueles que envolvem
perda de propriedade, acusação maliciosa, criminosa, e daí por
diante, nós podemos proporcionar uma ajuda significativa.
O fato de levar a cabo este propósito não significa que alguma parte
de nosso plano encoraje procedimentos legais contra outras pessoas,
ou que iremos providenciar recursos para isso. Todo recurso legal
seria evitado ou negociado, a menos que absolutamente necessário.
Mas onde a manifesta injustiça e a patente iniquidade são
perpetradas, e todo outro método de obter reparação falha, nos
valeremos da ajuda que a Lei dispõe.
Pouco antes de dar a luz seu sedutor fez com que ela assinasse uma
declaração de que ele não era o pai da criança que estava por
nascer. Em troca ele deu a ela algumas libras. A pobre menina entrou
em grande desespero e angústia. A pedido entramos imediatamente em
contato com o homem, e depois de negociações, para evitar mais
constrangimentos, foi compelido a afiançar uma pensão à sua infeliz
vítima para o sustento da criança.
ILUSÃO E ARMADILHA
A. foi induzida a deixar uma casa confortável para se tornar
governanta das crianças órfãs da mãe do Sr. G., o qual ela achava
ser um empregador amável e considerado. Depois de um curto período
nesse serviço ele propôs a ela uma viagem a Londres. Ela consentiu
alegremente, afinal ele havia oferecido um bom emprego a ela. Em
Londres ele a seduziu, e a manteve como amante até que, cansado
dela, mandou-a embora. «Faça como as outras mulheres fazem»,
disse-lhe.
#60 DA ITALIA.
C. foi seduzida por um italiano jovem e rico, que prometeu casar-se
com ela, mas pouco tempo antes do dia do casamento ele disse que
precisava viajar urgente a negócios para o estrangeiro. Ele prometeu
que voltaria em dois anos e se casaria com ela. Ele escrevia
ocasionalmente, até que finalmente ela teve o coração quebrantado
13
com a notícia de que ele havia se casado com outra, acrescentando o
insulto e a ofensa pela sugestão de que ela poderia vir e viver com
a esposa dele, mas na condição de empregada, oferecendo-se pagar
pelo sustento da criança até que crescesse o suficiente para poder
ser colocada aos cuidados do capitão de um dos navios pertencentes à
sua empresa.
COMPRA A PRESTAÇÃO.
Quanto mais pobres as pessoas são, freqüentemente mais cruéis são as
injustiças que sofrem quando resolvem comprar Mobília, Máquinas de
Costura, Calandras, ou outros artigos, a prestação. Fisgado pela
isca dos anúncios enganosos, o pobre é induzido a comprar artigos a
prestações semanais ou mensais. Eles se esforçam para obter as
quantias, e se submetem a todo tipo de sacrifício, mas quando
atrasam um pouco no pagamento os credores aparecem para tomar-lhe o
bem, que muitas vezes é sua ferramenta de trabalho da qual dependem
para viver, assim, por questões técnicas envolvendo cláusulas de
contrato, acabam sendo roubados. Em tais circunstâncias, o pobre
totalmente sem amigos, irremediavelmente se submete a estas
extorsões infames. Nossa Agência estará aberta a todos eles.
DEFENDENDO INDEFESOS.
Pouco a pouco o público se conscientiza de que um incontável número
de pessoas inocentes sofrem freqüentemente condenações por crimes e
transgressões, muitas vezes por mera inabilidade em efetuar uma
defesa eficiente. Embora hajam várias associações em Londres e no
interior que lidam com criminosos, e mais particularmente com
ex-prisioneiros, parece não haver gente afim de ajudar prisioneiros
ainda não condenados. Este trabalho nos propomos desenvolver com
coragem e determinação.
13
muita miséria, e possivelmente da ruína absoluta. O Sr. Justice
Field observou recentemente: --
Em cada caso será feita uma tentativa para assegurar, não apenas uma
mudança externa, a regeneração real completa das pessoas que
ajudamos. Será proporcionada uma atenção especial aos réus
primários, conforme descrito abaixo no ponto sobre «Departamento de
Correção Penal» [N.T.: no original, Criminal Reform Department].
Também devemos nos esforçar para ajudar, até o limite de nossas
possibilidades, as Esposas e Filhos de pessoas que estão pagando
pena, através de empenho para que obtenham emprego, ou caso
contrário, prestando-lhes ajuda. Centenas de pessoas nestas
condições mergulham na mais profunda angústia e desmoralização por
falta de uma ajuda amigável nas circunstâncias de abandono em que
elas ficam, com a condenação de parentes dos quais dependiam para
seu sustento, ou para proteção e direção nos negócios ordinários da
vida.
Falências
Letras de Câmbio
Instrumentos de Venda
Obrigações
Processo por Quebra de Compromisso Matrimonial
13
Dívidas
Penhora Ilegal
Divórcio
Casos de Expulsão
Ato de Responsabilidade de Empregadores
Deveres de Testamenteiros
Abuso de Empregador
Tentativa de Fraude
Venda de Facilidades
Perda de Garantia
Lei de Herança
Disputas entre Maridos e Esposas
Prisão Ilegal
Custódia de Crianças
Casos de Falta de Testamento
Intimações
Negligência
Ameaças de Morte
Lei de Vizinhança
A Lei de Sociedade
Inscrição e Infração de Patentes
Penhoristas e Penhores
Casos de Polícia
Provas
Taxas e Impostos
Interesses Contrários
Casos de Sedução
Demissão Injusta de Empregados
Xerifes
Seguranças
Salários
Disputas e Testamentos Não Comprovados
Crueldade com Mulheres
Queixas de Trabalhadores
13
Em segundo lugar, será o Advogado do Homem Pobre, dando a melhor
assistência legal sobre processos abertos contra ele nas várias
circunstâncias com as quais se defronta.
Quarto, agirá onde quer que seja chamado como Tribunal de Arbitragem
entre litigantes onde a decisão será de acordo com o patrimônio
líquido, e os custos reduzidos ao máximo possível. Tal Departamento
não pode ser improvisado; mas provido adequadamente para suas
funções. Tanto quanto possível, não pode falhar em gerar grandes
benefícios.
13
há nada na gama inteira de nossas operações que nos impeça de
acumular e registrar os resultados da experiência humana. O que eu
quero é adquirir a essência da sabedoria que os mais sábios juntaram
a partir da mais ampla experiência, e tornar tudo isso imediatamente
disponível para o trabalhador mais humilde na Fábrica Salvacionista
ou na Colônia Rural, e para qualquer outro trabalhador braçal em
semelhantes campos do progresso social.
Tudo isso é bem comum, e já foi dito por milhares de vezes, mas,
infelizmente, o assunto termina com a mera declaração. No que diz
respeito à distribuição, a Cooperação foi colocada em prática com um
sucesso considerável, mas a cooperação como meio de produção não
alcançou o sucesso previsto. Vez após vez foram iniciados
empreendimentos baseados nos princípios da cooperação que caminhavam
bem, e na opinião dos promotores, tinham sucesso; mas depois de um,
dois, três, ou dez anos, o empreendimento iniciado com tanto ânimo
foi mirrando, encolhendo, até o fracasso total ou parcial. No
momento, muitos empreendimentos de cooperação não são outra coisa
senão Comitês Acionários de Responsabilidade Limitada, parte dessas
14
Ações é assegurada em grande parte por trabalhadores, mas não
necessariamente, e às vezes nem mesmo por aqueles que são empregados
de fato no negócio que chamam de cooperativo. Agora, por que isto
acontece? Por que empresas de cooperação, fábricas de cooperação, e
as Utopias cooperativas sofrem tão freqüentemente com tantas
aflições? Eu acredito que a causa é um segredo aberto, e pode ser
discernido por qualquer um que olhe para o assunto com um olho
aberto.
14
cooperação forem continuadas na forma arcaica presente.
Não pode haver um maior engano neste mundo que imaginar que homens
contestem ser governados. Eles gostam de ser governados, contanto
que o governador tenha a «cabeça no lugar certo» e que ele esteja
pronto a ouvir, pronto a ver e a reconhecer tudo aquilo que é vital
aos interesses da comunidade. Assim, longe de ser inato ao gênero
humano recusar ser governado, o instinto para obedecer é tão
universal que até mesmo quando o governo é cego, surdo, paralítico,
podre de corrupção, e incompetente ao longo do tempo, ele ainda
inventa uma forma de manter-se vivo. Contra um Governo capaz ninguém
se rebela, apenas quando a estupidez e a incapacidade tomam posse da
cadeira do poder é que as insurreições começam.
14
indispensáveis da corte e do namoro que, mais que a maioria das
coisas, contribui para a felicidade ou para a vida. Mas em uma
grande cidade tudo isso é destruído. Em Londres no momento presente
quantas centenas, senão milhares, de rapazes e moças vivem fechados
em seus apartamentos, praticamente privados de qualquer oportunidade
do conhecimento mútuo, ou de conhecer qualquer pessoa do sexo
oposto! A rua, sem dúvida, é a substituta da praça da vila da
pequena cidade do interior, mas que substituta!
Mais ainda, por mais geralmente que isto seja reconhecido, um dos
termos pelos quais as conseqüências deste estado antinatural de
coisas é popularmente conhecido é como «o mal social», como se todos
os outros males sociais fossem relativamente desmerecedores de
atenção comparados com este.
14
dona de casa e de mãe de família. Gastar um mês antes do matrimônio
em uma casa de treinamento de administração doméstica vai conduzir
muito mais para a felicidade da vida de casada do que a lua de mel
que vem imediatamente após o casamento.
Uma conversa com colonos inspirou-me pensar se algo não poderia ser
feito para prover, em um sistema bem organizado, os milhares de
garimpeiros solteiros ou a multidão de homens solteiros que labutam
na selva nos limites da civilização, com esposas capazes que abundam
em nossas grandes cidades. Prover mulheres em quantidades adequadas
é a grande moralizadora da Sociedade, mas a mulher distribuída da
forma como está no Far West e nas estepes australianas, na proporção
de uma mulher para uma dúzia de homens, é uma fonte fértil de vício
e de crime. Novamente aqui temos que voltar à natureza, cujas leis
fundamentais nossos arranjos sociais têm rudemente jogado de lado e
sempre com terríveis conseqüências. Sempre nasceram no mundo, e
continuam nascendo, meninos e meninas em proporções bem iguais, mas
a colonização e o aventureirismo [N.T.: no original, soldiering]
levam embora nossos homens, deixando para trás um excesso
continuamente crescente de mulheres solteiras, que não podem
permanecer solteiras, e que não conseguem encontrar maridos. Este é
um vasto campo de discussão na qual eu não devo entrar. Deixo essas
discussões para os entendidos, talvez algum filantropo inteligente
encontre alguma solução; mas seria melhor não tomar nenhuma decisão
precipitada, e levar em conta todas as dificuldades e perigos
ocultos. Porém, obstáculos existem para ser superados e convertidos
em vitórias. Há uma certa fascinação pela dificuldade e pelo perigo,
que atrai muito fortemente todos aqueles que sabem que a dificuldade
aparentemente insolúvel contém em seu seio a chave para o problema
que você está buscando resolver.
14
Agora eu não cometeria a tolice de sonhar que é possível fazer
alguma mudança na Sociedade que permita ao homem pobre levar esposa
e filhos para uma curta estadia de uma quinzena, durante os dias
quentes de verão, ou aliviá-los de suas tarefas durante o inverno,
embora isto não seja menos desejável para eles do que para outras
classes mais favorecidas. Mas de vez em quando eu possibilitaria a
todo homem, mulher e criança, um dia para uma refrescante visita a
lugares interessantes. Para levar a cabo este plano, há algumas
dificuldades como a necessidade de uma grande redução no custo da
viagem. Para fazer qualquer coisa efetiva devemos propiciar a
qualquer homem de Whitechapel ou Stratford uma excursão para o
litoral pelo valor de um xelim.
14
nela haveria o cultivo de frutas, legumes, flores, e outros produtos
para o uso dos visitantes, tudo isso seria vendido bem baratinho. Uma
das principais providências para o conforto dos excursionistas seria
a ereção de um grande salão, dispondo de um amplo abrigo no caso de
tempo ruim. Nesta e em outras partes do lugar haveria a mais
completa oportunidade para ministérios de todas as denominações para
serviços religiosos relacionados a qualquer excursionista.
14
pode estar além de nossas possibilidades. Mas isso não está tão
manifesto a ponto de nos impedir desejar tentar. O que em si mesmo é
uma qualificação que não é compartilhada por nenhuma outra
organização -- no momento. Se podemos fazer isto temos um campo
inteiro para nós mesmos. As igrejas ricas não mostram nenhuma
inclinação para lutar pelo oneroso privilégio de fazer uma
experiência nesta forma definida e prática. Se temos ou não temos a
capacidade, temos, pelo menos, a vontade, a impetuosa aspiração de
fazer esta grande obra por causa de nossos irmãos, e nisso repousa
nossa principal credencial para confiar na realização deste
empreendimento.
Mas nisto repousa a grande dificuldade que se repete vez após vez,
os homens não têm aquela força de caráter que os constrange adotar
por eles mesmos os métodos de libertação. Nosso Projeto está baseado
na necessidade de ajudá-los.
14
Mas qual foi a resposta dos fatos diante destas predições dos
teóricos? A despeito da alegada impopularidade de nossa disciplina,
talvez por causa do rigor da autoridade militar na qual insistimos,
o Exército de Salvação cresceu ano a ano com uma rapidez sem
paralelo em toda moderna Cristandade, e apenas nos vinte e cinco
anos desde que nasceu, é agora a maior Casa e Sociedade Missionária
Internacional no mundo protestante. Nós temos quase 10.000 oficiais
sob nossas ordens, um número que aumenta diariamente, cada um deles
conduz o serviço na condição expressa que ele ou ela obedecerão sem
questionamento ou repúdio às ordens do Quartel General. Desses, 4.600
estão na Grã Bretanha. O maior número fora destas ilhas, mais que em
qualquer país, está nos Estados Unidos [N.T.: no original, American
Republic] onde temos 1.018 oficiais. Na Austrália democrática temos
800.
14
Veja quão útil nossa gente será unindo-se a esta classe. Mantendo
contato com eles. Vivendo na mesma rua, trabalhando nas mesmas lojas
e fábricas, e entrando em contato com eles em cada esquina e canto
da vida. Se não vive entre eles, é como se vivesse. Ele sabe onde
achá-los; são seus amigos do peito, companheiros de luta, e
camaradas para o que der e vier. Esta classe é o eterno desafio da
vida do Salvacionista. Ele sente que não há nenhum socorro para eles
nas condições em que se encontram no momento. Eles são tão
desesperadamente fracos, e suas tentações são tão terrivelmente
fortes, que soçobram ante elas. O Salvacionista sente isto quando é
atacado pelas tentações nos bares, nas ruas [N.T.: no original, low
lodging houses], ou em suas próprias tristes casas.
Então veja quão útil este exército de Oficiais e Soldados será para
a regeneração desta massa inflamada de vício e de crime, na medida
em que ela fica, digamos, ao nosso lado [N.T.: no original, in our
possession]. Todos os milhares de bêbedos, meretrizes,
blasfemadores, preguiçosos têm que ser refeitos, renovados no
espírito de suas mentes, e tornados bons. Será necessário uma
multidão de trabalhadores morais para realizar tal gigantesca
transformação. No Exército de Salvação já temos alguns milhares, de
qualquer maneira temos gente suficiente para começar, e o próprio
Projeto irá produzir mais. Olhe as qualificações destes guerreiros
para o trabalho!
14
apenas algumas libras, mas se o problema é drenar um escuro e vasto
pântano que se estende por muitas milhas, infestado por todo tipo de
pestilência, criadouro de todo tipo de malária mortal, que se mantém
e se multiplica, então é necessário não apenas uma soma bem
distinta, mas todo um sistema de investimento econômico.
Na medida em que o país gasta algo em torno de Dez Milhões por ano
com a Lei do Pobre e o Alívio Caridoso [N.T.: no original, Poor Law
and Charitable Relief] sem provocar qualquer real derrota ao mal,
duvido que o público não se apresse em prover a décima parte dessa
quantia. Considerando que o dez por cento mais pobre seja composto
por um milhão de pessoas, bastará uma libra por cabeça para cada um
daqueles que buscamos beneficiar, quer dizer, UM MILHÃO DE LIBRAS
ESTERLINAS dará ao presente Projeto uma chance justa de entrar em
operação prática.
15
por si mesma. Todos seus ocupantes terão que se engajar em alguma
ocupação remunerativa, e nós calculamos que, além disso, haverá um
dinheiro extra obtido daqueles que foram indiretamente beneficiados.
Mas para socorrer na prática os meio milhão de escravos da bebida, é
necessário ter dinheiro não apenas para manter nossas operações mas
também para ampliá-las.
Não haverá nenhum aluguel para pagar, pois propomos obter todos os
direitos sobre a terra. No caso de uma grande procura por terra,
porções adicionais poderiam ser alugadas, com opção de compra.
Naturalmente, a mudança contínua de trabalhadores exercerá um efeito
negativo na rentabilidade do empreendimento. Mas isto será
proporcionalmente benéfico para o país, pois cada pessoa que passa
por uma instituição de crédito representa um a menos na multidão
desamparada.
15
O aluguel de partes, porções, cotas, lotes [N.T.: no original, The
rent of Cottages and Allotments] constitui um retorno pequeno, mas
pelo menos paga o juro do dinheiro investido neles.
O salário dos Oficiais, que é bem pequeno, seria de acordo com o que
é determinado pelo Exército de Salvação.
15
reembolsados pelos Colonos através de prestações, que por seu turno
pagariam o transporte de outros ao mesmo destino.
Quando John Bull partiu para a guerra ele não levou em conta as
despesas. E quem ousa negar que chegou o momento de fazer uma
declaração de guerra contra os Males Sociais que parecem ter
expulsado Deus para fora deste nosso mundo?
15
posição permanente de relativo conforto, a única condição exigida é
que o receptor desse benefício tenha vontade de trabalhar e de agir
de acordo com a disciplina [N.E.: aqui vemos uma variação da máxima
comunalista de «dar a cada um conforme sua necessidade e exigir de
cada um conforme sua capacidade»].
15
descobertas, sem trabalho não há nenhuma base real para ânimo. A
caridade e todos os outros dez mil dispositivos são apenas
expedientes temporários, completamente insuficientes para suprir a
necessidade. O trabalho, aparte do fato dele ser o método de Deus de
prover os múltiplos desejos da natureza humana é, em todos os
sentidos, essencial ao seu bem-estar -- e neste Plano há trabalho,
trabalho honrado -- não o desmoralizante trabalho forçado, [N.T.: no
original, stone-breaking, or oakum-picking business] um negócio que
atormenta e insulta a pobreza. Todo trabalhador sentirá que ele
ocupa seu tempo não apenas em seu próprio benefício, qualquer
vantagem colhida em torno de sua atividade também servirá para
erguer algum outro pobre infeliz para fora da sarjeta.
Haveria trabalho para todo tipo de habilidade. Cada dom poderia ser
empregado. Por exemplo, leve cinco pessoas para a Fazenda --
padeiro, alfaiate, sapateiro, cozinheiro, e um agricultor. O padeiro
faria pão para todos, todos os artigos de vestuário ficariam aos
cuidados do alfaiate, os sapatos com o sapateiro, o cozinheiro
cozinharia para todos, e o agricultor plantaria para todos. Esses
que sabem fazer qualquer coisa que seria útil aos habitantes da
Colônia serão colocados para fazê-lo, e a esses que não sabem fazer
qualquer atividade ou profissão serão ensinados em uma.
Agora, olhe para a natureza das tentações que esta classe tem que
enfrentar. O que é que conduz pessoas de todas as classes, ricos
como também pobres, a fazer coisas erradas? Não é o desejo de pecar.
Eles não querem pecar; muitos deles nem mesmo sabem o que é pecado,
mas eles têm certos apetites ou preferências naturais, tem prazeres,
deleites dos quais se agradam, e quando o desejo pela satisfação
ilícita é despertada, sem consideração ou respeito à vontade de
Deus, aos seus próprios interesses mais elevados, ou ao bem-estar
dos seus companheiros, eles são levados de arrasto; apesar de todas
as boas resoluções feitas no passado. Aí vem a aflição.
Por exemplo, olhe para a tentação que tem a ver com o apetite
natural da fome. Eis aqui um homem que esteve em uma reunião
religiosa, ou recebeu algum bom conselho, ou talvez tenha há pouco
saído da prisão, com as recordações dos sofrimentos que sofreu ainda
frescos em seu corpo e em sua mente, ou com o conselho do capelão
tilintando em seus ouvidos. Ele decidiu não roubar nunca mais, mas
ele não tem nenhum meio de sustento. Ele sente fome. O que ele faz?
Ele é tentado por um pedaço de pão, ou mais provavelmente, por uma
corrente de ouro que ele pode transformar em pão. Começa uma luta
dentro dele, ele tenta esquecer estas idéias, mas seu estômago
ronca, e pode ser que também haja esposa e crianças famintas como
ele; assim ele cai em tentação, leva a corrente, e a polícia por seu
turno o leva.
Agora, este homem não quer ser mau, muito menos ir para a prisão. De
um modo sincero, sonhador, ele deseja ser bom, e se o caminho fosse
mais fácil, ele provavelmente o trilharia.
15
pertinho; os companheiros dele o estimulam; e ele se rende, e cai, e
talvez caia para nunca mais se levantar.
Dinheiro está sendo vertido como água, para prover tais atrações em
Museus, Palácios do Povo, e coisas assim, para a edificação e
melhoria da condição social das massas. Mas «Deus fez o campo, o
homem fez a cidade», e se nós levamos as pessoas aos quadros de
fabricação divina, esse deve ser um plano de qualidade superior.
Para este Projeto não há barreira que não possa ser superada por uma
vida industriosa e religiosa. Este Projeto não apenas conduz
multidões perdidas para fora da «Cidade da Destruição» em direção à
Canaã da abundância, como também as eleva ao patamar do mais
15
favorável privilegio do gênero humano, afiançando a salvação de suas
almas.
Tome um homem, faminto, com frio, que não sabe quando será sua
próxima refeição; ou melhor, talvez nem haja uma próxima refeição.
Tudo que ele pensa diz respeito ao pão necessário ao seu corpo. Tudo
que ele quer é um jantar. Os interesses de sua alma têm que esperar.
Tome uma mulher com uma família faminta que sabe que segunda-feira
tem que pagar o aluguel, se não pagar ela e seus filhos vão ser
jogados na rua, ela vai perder as poucas coisas que tem. No momento
presente ela não tem o dinheiro. Qual será o provável pensamento
dela quando passa desapercebida por uma Igreja, Salão Missionário,
ou Corpo do Exército de Salvação?
15
Devemos pois ser merecedores não apenas de uma cuidadosa
consideração mas de um perseverante auxílio.
Colocamos uma questão nos seguintes termos: -- «Se você fosse posto
em uma fazenda, e colocado para trabalhar em qualquer coisa que você
pudesse fazer, e fosse provido de comida, alojamento, roupa, com uma
perspectiva de caminhar pelos seus próprios pés sem depender de
ninguém, você estaria disposto a fazer tudo que pode?»
15
Ao serem interrogados sobre o desejo deles de trabalhar duro na
terra, eles responderam: «Por que não? Olhe para nós. Pode haver
alguma situação mais miserável que a nossa?» Por que não? Basta
olhar de relance para aquela gente para concluir que é difícil
encontrar alguma razão racional para uma recusa -- em trapos,
enxameados de piolhos, famintos, muitos deles vivem de restos de
comida, mendigando ou roubando, sem roupa suficiente para cobrir
seus pobres esqueletos, a maioria deles não tem nem mesmo uma
camisa. Toda manhã é a mesma sina, não sabem o que fazer para
conseguir alimento, ou os quatro pences necessários para dispor
novamente do humilde abrigo que desfrutaram naquela noite. A idéia
de recusar um emprego que cobriria as necessidades de uma vida
abundante, e abriria a perspectiva de se tornar, no decorrer do
tempo, proprietário de uma casa, com seus confortos e companhias, é
inconcebível. Não há dúvida que esta classe não apenas aceitará o
Projeto que queremos apresentar para elas, como também ficarão
imensamente gratos em fazer tudo que estiver ao seu alcance para que
tenha sucesso.
15
Conosco não há nada compulsório. Se qualquer menina desejar
permanecer, ela permanece. Se ela desejar ir, ela vai. Ninguém é
forçado a permanecer um minuto a mais do que deseja. Mas mesmo assim
nossa experiência mostra que, como regra, elas não vão embora. Mesmo
sendo bem mais inquietas, imprudentes e determinadas a mudar
(enquanto classe) do que os homens, quando as meninas aderem a essa
batalha, um número considerável delas dificilmente deserta. A média
de nossas Casas de Londres, durante os últimos três anos, abarcou
apenas 14 por cento delas, conforme elas mesmas dizem, enquanto que
durante o ano de 1889 eram apenas 5 por cento. E o número total
daquelas que partiram ou foram recusadas durante aquele ano, chega a
apenas 13 por cento do total.
16
possível), e elas passam a ser completamente mantidas pelos seus
próprios recursos. A maioria de nossas meninas que trabalham em
Londres, vivem em família, e os 6s., 7s., e 8s. por semana
constituem uma aceitável adição à renda da Casa; mas para serem
totalmente dependentes de seus próprios salários têm que receber
pelo menos 12s. por semana. Para que isso ocorra temos que pagar
salários mais altos que outros empregadores. Por exemplo, pagamos de
2 1/2d. a 3d. a mais que o mercado paga pela encadernação de
pequenos livros; não obstante, depois de pagar o salário do Gerente,
um homem casado, e do superintendente das máquinas, ainda há um
lucro de cerca de #500. O trabalho está melhorando. Todo trabalho é
feito por encomenda.
Dezoito mulheres se sustentam deste modo no momento, e estão se
dando muito bem. Algumas delas atuam como contramestre, e ministram
a Reunião de Oração às 12.30 hs., os Dois Minutos de Oração após as
refeições, etc.. A permanência delas na fábrica está condicionada ao
bom comportamento delas -- tanto em casa como no trabalho. Tivemos
alguma dificuldade com uma garota, mas mesmo nesse caso solitário a
menina arrependeu-se e foi perdoada, e está bem desde então. Eu acho
que, sem exceção, elas são Soldadas Salvacionistas, e freqüentam
quase todas as reuniões no Domingo, etc.. As encadernações das
publicações do Exército de Salvação -- «O Libertador», «Todo Mundo»,
o Pequeno Cancioneiro, etc., são quase todas feitas por nós mesmos.
Um pequeno trabalho para fora é executado todo fim de mês, mas que
geralmente não dá lucro nenhum, pagam muito mal.
16
esperamos, um dos primeiros grandes benefícios resultantes.
16
práticos e teóricos, familiarizados com os princípios que são a
essência da boa disciplina.
«Sim», responderão alguns, «mas isto funciona muito bem com relação
àqueles que estão completamente de acordo com seu modo de pensar.
Você pode comandá-los como quiser, e eles obedecerão, mas como é que
você pode provar sua habilidade no controle e na disciplina daqueles
que não pensam como você?»
«Você pode fazer isso com seus Salvacionistas porque eles são
salvos, como você diz. Quando os homens nascem novamente você pode
fazer qualquer coisa junto com eles. Mas a menos que você converta
todos os habitantes da Tenebrosa Inglaterra, que chance haverá deles
serem dóceis à sua disciplina? Se eles não fossem profundamente
salvos, não tenho nenhuma dúvida de que algo poderia ser feito. Mas
se eles não são salvos, estão perdidos. Como posso acreditar que
eles se sujeitarão à disciplina?»
16
ou palavrões. Nenhum policial é requerido; realmente duas ou três
noites de experiência são suficientes para transformar
freqüentadores regulares do lugar, por livre e expontânea vontade,
em Agentes da Ordem, contentes não apenas em manter os regulamentos
do lugar, mas obrigar que os outros o cumpram.
16
Pode ser objetado que ao mesmo tempo em que este Projeto socorre uma
classe da comunidade tornando-a indubitavelmente trabalhadora,
estável, industriosa, tem que prejudicar outras classes na medida em
que acrescenta uma grande quantidade de mão-de-obra nova no mercado
de trabalho, já tão seriamente abarrotado.
(1) Mas não há tal perigo, pois o número de mãos extras que lançaria
no Mercado de Trabalho Britânico deve ser necessariamente
insignificante.
SEÇÃO 5. RECAPITULAÇÃO.
Passo agora em revisão as características principais do Projeto, que
eu espero contribuir consideravelmente para a melhora das condições
dos mais baixos estratos da nossa Sociedade. Esse Projeto de forma
alguma professa ser completo em todos os seus detalhes. Qualquer um
pode em qualquer ponto mudar algo aqui ou ali, mudar uma ou outra
característica do Projeto, e mostrar algum vácuo que deve ser
preenchido para funcionar com eficácia. Porém, há algo que
seguramente pode ser dito como desculpa para depreciação do Projeto,
quer dizer, é necessário um plano perfeito e esperar pelo Milênio,
ora, quando o Milênio chegar já não haverá nenhuma necessidade de
projeto algum. Minhas sugestões, tão cruas como poderiam ser, tem,
não obstante, um elemento que proverá todas as deficiências a tempo.
Há vida nelas, enquanto ha vida há a promessa e o poder de adaptação
a todas as inúmeras e variadas circunstâncias da classe com a qual
temos que lidar. Onde há vida há um infinito poder de ajuste. Este
não é nenhum Projeto inflexível, forjado em um único cérebro e então
montado como um padrão para o qual tudo têm que se conformar. É uma
planta robusta, que tem suas raízes profundamente fincadas na
natureza e nas circunstâncias dos homens. Mais que isso, eu acredito
16
que ele está no coração do próprio Deus. Já cresceu muito, e vai, se
apropriadamente cuidado e zelado, crescer ainda mais, até que, como a
pequena semente de mostarda na parábola, se transforme em uma grande
árvore cujos galhos cobrirão toda a terra.
Mais uma vez quero destacar que não reivindico nenhum direito
autoral em qualquer parte deste Projeto. Realmente, eu não sei o que
há nele que seja ou não original. Antes de formular alguns planos,
que eu achava serem novos debaixo do sol, descobri que eles já
tinham sido experimentados em diferentes partes do mundo, e com
grande promessa. O mesmo pode ter ocorrido com outros planos, e
nisto eu me alegro. Não reivindico nenhuma exclusividade. A questão
é por demais séria para tal equívoco. Trata-se de milhões de nossos
semelhantes perecendo na arrebentação do mar da vida, colidindo e
despedaçando-se entre pedras afiadas, tragados por turbilhões de
redemoinhos de água, sufocados até mesmo quando pensam que chegaram
à praia por traiçoeiras areias movediças; para salvá-los desta
destruição iminente eu sugiro que estas coisas sejam feitas. Se você
tem algum plano melhor que o meu para efetuar este propósito, no
nome de Deus traga-o à luz e trate de levá-lo a cabo depressa. Se
você não tem, então me ajude com o meu, como eu me alegraria em
ajudar o seu se visse nele maior promessa de sucesso que o meu.
16
Oficinas, e outras agências serão de um benefício indizível, tal
ajuda temporária provavelmente os ajudará sair do fundo do poço onde
lutam. Os que precisam de ajuda permanente irão para a Colônia
Urbana, e ficarão diretamente sob nossos cuidados e controle. Aqui
eles serão empregados como descrevemos anteriormente. Muitos serão
enviados para amigos; e trabalho será encontrado para outros na
Cidade ou em outro lugar, se revelarem-se a altura, depois de prova
razoável sobre sinceridade e vontade de ajudar a si mesmos na
própria salvação, serão enviados para as Colônias Rurais onde o
mesmo processo de reforma e treino terá continuidade, e a menos que
algum emprego seja obtido, eles passarão para a Colônia Ultramar.
Todo tipo de trabalho até onde for possível será executado por
mão-de-obra. A atual fúria pelo maquinário, essa corrida do homem à
máquina, tende a produzir muita destituição na medida em que a
máquina ocupa o lugar da mão-de-obra. Nós queremos, até onde for
praticável, retornar da máquina ao humano.
Nenhum salário seria pago -- exceto uma ninharia para os que ocupam
cargos de confiança, ou a título de encorajamento pelo bom
comportamento e esforço -- para economizar, tendo em vista as
exigências de nosso Banco Colonial. Haveria um resíduo para não
deixar ninguém com os bolsos vazios.
16
grande de pessoas, muitos dos quais até então viveram uma vida
selvagem e licenciosa. Nossa principal confiança neste respeito é
que o espírito do interesse mútuo prevaleça.
A 2ª classe teria uma pequena mesada extra, uma parte da qual seria
dada aos trabalhadores para uso particular, e uma parte reservada a
contingências futuras, o pagamento de despesas de viagens, etc.
Desta classe deveríamos obter nossos sargentos, trabalhadores
assalariados, emigrantes, etc., etc.
16
para com o desempregado de Melbourne. Isto foi antes da grande
Greve. O Governo de Victoria praticamente entregou a nossos oficiais
a tarefa de negociar com os desempregados. O assunto foi debatido na
Casa da Assembléia, e ao fim do debate foi tomada uma assinatura de
um daqueles que tinham sido nossos oponentes mais extremos, e uma
soma de #400 foi entregue a nossos oficiais para impedir que pessoas
morressem de fome. Nossa gente encontrou nessa situação não menos de
1.776 pessoas, e está dispensando refeições ao preço de 700 por dia.
O Governo de Victoria durante muito tempo tem tomado a dianteira no
reconhecimento da obra secular do Exército de Salvação. A seguinte
carta foi enviada pelo Ministro do Interior ao Oficial encarregado
com a supervisão desta parte de nossas operações, e indica a estima
com que somos agraciados.: --
16
Projeto funcione tão bem como aqui em Londres. O acolhimento
carinhoso dispensado aos nossos Oficiais em Melbourne tende a
encorajar a expectativa de que o Projeto, pela sua seriedade, será
assumido em sua totalidade e entre rapidamente em operação ao redor
do mundo.
17
Não há nenhum espírito ditatorial ou arrogante no pedido desse
sinal. É uma necessidade. Nem mesmo Moisés poderia ter atravessado
os Filhos de Israel com os pés secos através do Mar Vermelho a menos
que o mar se abrisse para eles passar.
Esse foi o sinal que deixou claro o que fazer, que deu força à sua
fé, e que determinou sua ação. O sinal que eu busco é um pouco
semelhante. Dinheiro não é tudo. Não é de forma alguma a coisa
principal. Midas, com todos seus milhões, não pôde de forma alguma
fazer o que era necessário para vencer a batalha de Waterloo, ou
manter a Passagem de Thermopylae. Mas os milhões de Midas são
capazes de realizar grandes e poderosas coisas, se esses milhões
forem enviados para fazer coisas boas sob a direção da Divina
sabedoria e do amor de Cristo.
Quão difícil é para os ricos entrar no Reino dos Céus! É mais fácil
convencer cem homens pobres a sacrificar as vidas deles do que
induzir um homem rico a sacrificar sua fortuna, ou mesmo uma porção
dela, por uma causa que, em sua indiferença, ele parece acreditar.
Aqueles que até aqui me acompanharam decidirão por si mesmos até que
ponto me ajudarão a levar a cabo este Projeto, ou se não me ajudarão
em nada. Acredito que nem diferenças sectárias nem sentimentos
religiosos devem ser levados em conta nesta questão. Mesmo que não
gostem de meu Salvacionismo, seguramente ele é melhor que estas
multidões de miseráveis, infelizes, sem ter nem mesmo alimento para
comer, roupas para vestir, e uma casa onde possam repousar seus
ossos cansados após o fim de mais um dia de labuta. Mesmo que essas
mudanças sejam acompanhadas de algumas noções peculiares e práticas
religiosas, por parte desses famintos, nus, moradores de rua, e
descrentes de qualquer religião. Deve ser infinitamente preferível
que eles falem a verdade, sejam virtuosos, criativos, contentes, e
até mesmo que orem a Deus, cantem Salmos, e saiam por aí com camisas
vermelhas, fanaticamente, como vocês dizem, «buscando o milênio» --
do que permanecer ladrões ou meretrizes, sem nenhuma fé em Deus, um
fardo para a Municipalidade, uma maldição para a Sociedade, e um
perigo para o Estado.
17
métodos empregados, os estranhos uniformes usados pela tripulação do
barco salva-vidas, o barulho feito pelos motores, e os gritos de
entrosamento entre resgatados e resgatadores, tudo isso pode ser
contrário ao seu gosto e às suas tradições. Mas todas estas objeções
e antipatias são secundárias, nada disso pode ser comparado ao
resgate das pessoas para fora daquele mar de escuridão.
Se entre meus leitores há alguém que, ciente deste Projeto que aqui
apresento, mas que pelos mais variados motivos e meios se recusa
contribuir até mesmo com um único centavo que seja, a atitude dessa
pessoa é, pelo menos, vergonhosa. Pode haver quem acredite que os
homens que foram literalmente martirizados nesta causa enfrentaram a
morte por causa dos vis cobres que colecionaram para manter unidos
corpo e alma. Gente que pensa assim possivelmente não pode achar
nenhuma dificuldade em persuadir-se de que este Projeto não é outra
coisa senão mais uma tentativa de obter dinheiro para aumentar
aquela fortuna mítica que eu -- que nunca tirei um centavo dos
fundos do Exército de Salvação além de meras despesas corriqueiras
-- supostamente estou acumulando. Dessas pessoas peço apenas que
paguem pelo seu abuso, e asseguro que, por pior que falem de mim,
seriam mais brandos em suas infâmias se estivessem corretos na
interpretação de meus motivos.
2. Que ele (o objetor) está preparado com algum outro plano que
efetivamente alcançará a finalidade que meu Projeto contempla.
17
pouco de seu próprio dinheiro tentando ele mesmo fazer esse tipo de
trabalho. Após tal investigação acredito que haveria apenas um
resultado.
Será visto que este Projeto contém muitas sucursais. É provável que
alguns de meus leitores sejam incapazes de endossar o plano como um
todo, que alguns cordialmente aprovem algumas de suas
características. É provável que outros, embora o aprovem
cordialmente, não tenham nenhuma disposição de subscrevê-lo. Onde
isto ocorrer, estaremos alegres deles nos ajudar levar a cabo as
porções do empreendimento que mais especialmente são do agrado deles
e que é recomendável em seu julgamento. Por exemplo, um homem pode
acreditar na Colônia Ultramar, mas não sente nenhum interesse na
Associação Anti-Alcoólica; outro pode não simpatizar com a
emigração, mas pode desejar ajudar em uma Fábrica ou Casa de
Resgate; um terceiro pode desejar doar uma propriedade, ajudar no
Restaurante e no Abrigo, ou no ampliamento da Brigada da Favela.
17
Agora, embora eu considere o Projeto como uno e indivisível -- do
qual você não pode retirar nenhuma porção sem prejudicar o prospecto
como um todo -- é bastante praticável administrar a subscrição do
dinheiro de forma que os desejos de cada doador possa ser levado a
cabo. Então, as subscrições podem ser enviadas tanto para dentro de
um fundo geral do Projeto Social, como podem ser dedicadas de acordo
com a vontade do doador a quaisquer dos seguintes distintos fundos:
--
1. Colônia Urbana.
2. Colônia Rural.
3. Colônia Ultramar.
4. Brigada de Resgate Doméstico.
5. Casas de Resgate para Mulheres Caídas.
6. Associação Anti-Alcoólica.
7. Brigada Porta de Cadeia.
8. Banco do Homem Pobre.
9. Advogado do Homem Pobre.
10. Whitechapel Marinha.
17
Pode ser que você não consegue dirigir uma reunião ao ar livre, nem
administrar uma reunião em recinto fechado. Pode ser que a labuta
por almas seja uma coisa que você nunca fez até agora. Nas vinhas de
Deus, porém, há muitos trabalhadores, e não é necessário que todos
façam a mesma coisa. Se você tem um conhecimento prático de
quaisquer uma dessas variadas operações mencionadas neste livro; se
você está familiarizado com agricultura, entende sobre construção de
edifícios, ou tem um conhecimento prático de algum tipo de
indústria, há um lugar para você.
APÊNDICE(*)
(*) [N.E.: Por não termos acesso à versão impressa de
«The Darkest England and the Way Out» alguns dados
estatísticos aparecem embaralhados como na versão
eletrônica inglesa que dispomos]
O EXÉRCITO DE SALVAÇÃO
=======
17
O TRABALHO SOCIAL DO EXÉRCITO.
No Reino Unido --
17
Os Balancetes, propriamente elaborados por contadores profissionais,
são anualmente emitidos em conexão com o Quartel Internacional. Veja
o Relatório Anual de 1889 -- «Apostolic Warfare».
LIGA DE AUXILIO.
17
Sua bandeira está desfraldada agora em 34 países ou colônias sob a
liderança de quase 10.000 homens e mulheres cujas vidas estão
completamente dedicadas à obra, organizando 49.800 reuniões
religiosas todas as semanas, e assistidas por milhões de pessoas que
dez anos atrás ririam dessa possibilidade.
17
algum pedestal de dignidade para descrever a condição de decadência
dos membros da raça humana, na esperança de mantê-los distante de
sua pessoa, por um processo misterioso, ele vive uma vida melhor,
pelas ruas, de porta em porta, e de casa em casa, pondo suas mãos
naqueles que estão espiritualmente doentes, e conduzindo-os ao
Médico Todo-Poderoso. Em sua forma de falar e escrever o Exército
constantemente exibe esta mesma característica. Em vez de propor
teorias religiosas ou fingir ensinar algum sistema teológico, fala
bem ao estilo do velho Profeta ou Apóstolo, a cada indivíduo, sobre
seu pecado e dever, procurando trazer luz e o poder do céu a cada
coração e consciência, pois apenas assim o mundo pode ser
transformado.
17
América e da França, entre os bem treinados militares alemães, ou os
súditos da monarquia britânica. É notório que podemos enviar um
oficial de Londres, desprovido de qualquer habilidade
extraordinária, para assumir o comando de qualquer corpo de exército
no mundo, com a certeza de que ele encontrará soldados ansiosos em
atender suas solicitações, e sem um pensamento que questione seu
comando, soldados que tanto quanto ele continuam fiéis às ordens e
regulamentos sob os quais estão alistados.
18
seriam as conclusões a que chegariam. Meia hora gasta ao lado de
muitos de nossos oficiais seria suficiente para convencer, até mesmo
o trabalhador bem sucedido, que a vida não pode ser vivida com
felicidade em tais circunstâncias sem um pouco daquele poder
sobrenatural que tanto sustenta como alegra a alma, completamente
independentemente dos ambientes terrestres.
18
endereçados ao local acima, direcionadas à «Agência de Trabalho»,
etc.
Afetuosamente, etc.
Nome....................................................
Endereço.................................................
Ocupação..............................................
...........................................................
...........................................................
...........................................................
Assinado.....................................................
18
Corpo......................................................
Data............................ 189__.
PARA EMPREGADORES.
Estaremos gratos por qualquer doação, por menor que seja, para
ajudar a cobrir o custo de funcionamento deste departamento. Apenas
em casos especiais daremos recomendações pessoais, pois teremos que
lidar com um números muito grande de pessoas totalmente
desconhecidas. Por favor envie seus comunicados ou doações para o
endereço acima, assinalando «Agência Central de Emprego», etc.
18
despesas como prover placas para plaqueiros, alugar carrinhos de mão,
ou comprar equipamentos necessários.
Atenciosamente, etc.
AVISO.
Nome.......................................................
Endereço....................................................
...........................................................
Salário pretendido..............................................
-----------------------------------------------------------
I
Nome I
I
-----------------------------------------------------------
I
Idade I
I
-----------------------------------------------------------
I
Durante os últimos 10 anos você teve algum emprego regular?
I
-----------------------------------------------------------
I
Quanto tempo trabalhou?
I
-----------------------------------------------------------
I
Que tipo de trabalho?
18
I
-----------------------------------------------------------
Que trabalho sabe fazer?
I
-----------------------------------------------------------
I
Que faz nas horas vagas?
I
-----------------------------------------------------------
I
Quanto recebia quando estava regularmente empregado?
I
-----------------------------------------------------------
I
Quanto recebia quando trabalhava sem carteira assinada?
I
-----------------------------------------------------------
I
Você é casado?
I
-----------------------------------------------------------
I
Vive com sua esposa?
I
-----------------------------------------------------------
I
Quantos filhos tem e qual a idade deles?
I
-----------------------------------------------------------
Se você fosse colocado em uma fazenda para trabalhar naquilo que
pudesse, e fosse provido com comida, moradia, e roupas, com uma
perspectiva de andar pelos seus próprios pés, você faria tudo que
estivesse ao seu alcance?
-----------------------------------------------------------
«Na Baviera haviam leis que protegiam os pobres, mas elas eram um
incentivo à negligência. E a mendicância tornou-se generalizada». --
(Página 15.)
18
«Nas grandes cidades a mendicância tornou-se uma impostura
organizada, com um tipo de governo e polícia própria. Cada mendigo
tinha sua característica, com uma ordem hierárquica e promoções,
como ocorre com outros governos. Haviam batalhas para decidir
reivindicações contraditórias, e um bom caráter não era nenhum
incentivo ao matrimônio ou legado vantajoso». -- (Página 16.)
18
ruas, na expectativa de algum presente -- oficiais comissionados e
não-comissionados foram distribuídos pela madrugada em três
regimentos de infantaria em diferentes pontos de Munique para
esperar as ordens. O Tenente-General Count Rumford reuniu em sua
residência os principais oficiais do exército e os principais
magistrados da cidade, e comunicou a eles seus planos para a
campanha. Então, vestiu seu uniforme e, com suas comendas e
condecorações brilhando no peito, seguiu o exemplo do soldado mais
humilde, saiu pelas ruas, não demorou muito um mendigo se aproximou
desejando um 'Feliz Ano Novo', e ficou aguardando o presente. 'Eu
fui para perto dele', disse Count Rumford, 'coloquei minha mão
suavemente em seu ombro, e disse-lhe que a mendicância daqui para a
frente não mais seria tolerada em Munique; e que se ele estivesse em
necessidade, ajuda seria dada; e se ele fosse descoberto novamente
em mendicância, seria severamente castigado'. Então ele foi enviado
para a Prefeitura, seu nome e residência foi inscrito e registrado,
e ele foi designado para efetuar reparos na Casa Militar da Indústria
pela manhã do dia seguinte, lá ele encontraria refeições, trabalho,
e salários. Todo oficial, todo magistrado, todo soldado, seguiu o
exemplo determinado; todo mendigo que resistisse seria preso, bastou
um dia para que a mendicância fosse abolida da Baviera. A mendicância
foi banida do reino».
«O povo pobre foi generosamente pago pelo seu trabalho, mas apenas
pagamento em dinheiro era insuficiente. Era necessário o sentimento
de competição, o desejo de superação, o senso de honra, o amor à
glória. Não apenas pagamento, mas recompensas, prêmios, distinções,
foram dados aos mais meritórios. Foi dedicado um cuidado peculiar às
crianças. Primeiramente elas eram pagas pela simples presença, como
ociosos observadores, até suplicarem às lágrimas que lhes fosse
permitido trabalhar. 'Quão doces essas lágrimas eram para mim', diz
18
Count Rumford, 'não é difícil imaginá-las'. Certas horas foram
gastas por eles em uma escola, para a qual foram providos
professores».
18
tratado com frieza, ou pior que isso. Em uma ocasião o contorno de
sua sepultura foi desenhado da campina próxima à sua casa, e ele
temeu pela sua vida. Porém, depois de um tempo, ele ganhou a
confiança destes homens, eles se tornaram selvagens devido ao
maltrato».
18
tentativa em circunstâncias mais favoráveis». («History of a
Co-operative Farm».)
[. . .]
19
FIM DO LIVRO «NA TENEBROSA INGLATERRA E A SAÍDA».
ÍNDICE
PARTE I. A TENEBROSA INGLATERRA.
CAPÍTULO 1. Porque «A Tenebrosa Inglaterra»?
CAPÍTULO 2. O Lumpen
CAPÍTULO 3. Os Sem-Teto
CAPÍTULO 4. Os Desempregados
CAPÍTULO 5. Na Beira do Abismo
CAPÍTULO 6. Os Drogados
CAPÍTULO 7. Os Criminosos
CAPÍTULO 8. Os Meninos de Rua
CAPÍTULO 9. Qual a Saída?
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APÊNDICE
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