O Cristianismo é apresentado muitas vezes uma forma pomposa. Suas
doutrinas, seus ritos e mesmo seu Cristo são tão adornados que por vezes esquece-se a sua característica inicial, que é a simplicidade. Essa ornamentação tende a retirar – ou mesmo evitar – que a poeira do cotidiano esteja presente. Se por um lado isso torna a visão de mundo dos cristãos uma visão idealista, por outro lado pode afastar o interesse dos não-cristãos por essa mesma visão. Por isso, o interesse de Don Everts de resgatar a simplicidade devida a Cristo e ao Cristianismo. Dessa forma, o não-cristão, o cético, é convidado a ver Cristo como nunca viu. E o cristão, a relembrar como as coisas mais exatamente acontecem no cotidiano.
Temas como a oração, o arrependimento, a Igreja são trabalhados ao longo
do livro. Sua estrutura em “linhas de sentido” facilita a absorção desses temas. A essência da oração como o conversar com Deus, como o momento de expor a Ele nossa necessidade dEle mesmo, é resgatada. A forma como foi apresentado o papel do arrependimento não como uma manifestação de passividade, mas de atitude, é uma das mais surpreendentes. É muito importante o que Don Everts faz apresentando o arrependimento como algo possível e necessário, embora não menos doloroso. Mesmo porque o alvo do livro são os que não conhecem a Cristo e levá-los ao arrependimento. E deixar claro para o cristão que ele tem como e deve dar meia-volta sobre seus erros. Os cristãos (“alienígenas”) são colocados também no simples papel de oposição ao mundo, e por isso mesmo, são os revolucionários mais temíveis. Ou os alienígenas por excelência.
Outra característica muito importante da obra é a remoção do “verniz” da
linguagem ao se reportar a Cristo. Sim, ele é o glorioso, o que tem todo o poder, é o exaltado Filho de Deus. Mas ele é também o que se cansou e pediu água à mulher no poço de Jacó; é o mesmo que teve que pagar os impostos e o mesmo que se submeteu à condição de trabalhador. Essa proximidade de Cristo a nós é que nos constrange a sermos como Ele era. E essa verdade – por vezes ignorada por ambas as partes cristã ou não-cristã – é o que deveria fazer com que nos tornássemos mais íntimos, mais identificáveis com o Jesus, que embora tinha seus pés sujos, abaixou-se para lavar os pés igualmente sujos de seus discípulos.