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Jesus de pés sujos – Don Everts

por Cidiney Silva

O Cristianismo é apresentado muitas vezes uma forma pomposa. Suas


doutrinas, seus ritos e mesmo seu Cristo são tão adornados que por vezes
esquece-se a sua característica inicial, que é a simplicidade. Essa
ornamentação tende a retirar – ou mesmo evitar – que a poeira do cotidiano
esteja presente. Se por um lado isso torna a visão de mundo dos cristãos
uma visão idealista, por outro lado pode afastar o interesse dos não-cristãos
por essa mesma visão. Por isso, o interesse de Don Everts de resgatar a
simplicidade devida a Cristo e ao Cristianismo. Dessa forma, o não-cristão, o
cético, é convidado a ver Cristo como nunca viu. E o cristão, a relembrar
como as coisas mais exatamente acontecem no cotidiano.

Temas como a oração, o arrependimento, a Igreja são trabalhados ao longo


do livro. Sua estrutura em “linhas de sentido” facilita a absorção desses
temas. A essência da oração como o conversar com Deus, como o momento
de expor a Ele nossa necessidade dEle mesmo, é resgatada. A forma como
foi apresentado o papel do arrependimento não como uma manifestação de
passividade, mas de atitude, é uma das mais surpreendentes. É muito
importante o que Don Everts faz apresentando o arrependimento como algo
possível e necessário, embora não menos doloroso. Mesmo porque o alvo do
livro são os que não conhecem a Cristo e levá-los ao arrependimento. E
deixar claro para o cristão que ele tem como e deve dar meia-volta sobre
seus erros. Os cristãos (“alienígenas”) são colocados também no simples
papel de oposição ao mundo, e por isso mesmo, são os revolucionários mais
temíveis. Ou os alienígenas por excelência.

Outra característica muito importante da obra é a remoção do “verniz” da


linguagem ao se reportar a Cristo. Sim, ele é o glorioso, o que tem todo o
poder, é o exaltado Filho de Deus. Mas ele é também o que se cansou e
pediu água à mulher no poço de Jacó; é o mesmo que teve que pagar os
impostos e o mesmo que se submeteu à condição de trabalhador. Essa
proximidade de Cristo a nós é que nos constrange a sermos como Ele era. E
essa verdade – por vezes ignorada por ambas as partes cristã ou não-cristã
– é o que deveria fazer com que nos tornássemos mais íntimos, mais
identificáveis com o Jesus, que embora tinha seus pés sujos, abaixou-se
para lavar os pés igualmente sujos de seus discípulos.

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