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Bioatividade da matéria orgânica: efeitos sobre o crescimento vegetal

Arthur Fernandes Siqueira


Romulo Felix Boldrini
Thatiany Felix Pimentel

A matéria orgânica presente naturalmente no solo é constituída principalmente


por substâncias húmicas (SH). As SH são compostas de ácidos húmicos,
ácidos fúlvicos e humina, que se originam a partir de transformações
bioquímicas de compostos de várias substâncias como a celulose,
hemicelulose, lignina, aminoácidos, carboidratos e outros. O fracionamento das
SH se dá em função da solubilidade. Em função disso, os ácidos húmicos são
insolúveis em ácidos e solúveis em substâncias alcalinas, além de serem
menos estáveis. Já os ácidos fúlvicos, são solúveis em qualquer faixa de pH e
são mais estáveis. As huminas são substâncias que lembram a estrutura da
lignina e são insolúveis em qualquer faixa de pH. As substâncias húmicas têm
um papel fundamental no desenvolvimento vegetal, pois participam de
importantes reações no solo, que influenciam a fertilidade pela liberação de
nutrientes (principalmente N, P e S), detoxificação química de alguns
elementos, produção de substâncias fisiologicamente ativas e melhoria das
condições físicas e biológicas. Contribuem também, com o maior percentual da
capacidade de troca catiônica dos solos, além de formar complexos com íons
metálicos e tamponar as reações no solo em um amplo gradiente de pH, por
sua característica anfótera. Deste modo, as SH tornam-se um dos principais
fatores que governam a disponibilidade e dinâmica de nutrientes e
microorganismos no solo. A interação planta-microrganismos pode alterar a
estrutura e a conformação das substâncias húmicas, e pequenas unidades
portadoras de bioatividade podem estimular o crescimento e o metabolismo
dos organismos. Seis efeitos das SH são caracterizados sobre o metabolismo
das plantas: a influência positiva sobre o transporte de íons facilitando a
absorção; aumento da respiração e da velocidade das reações enzimáticas do
ciclo de Krebs, resultando em maior produção de ATP; aumento no conteúdo
de clorofila; aumento na velocidade e síntese de ácidos nucléicos; do efeito
seletivo sobre a síntese protéica e o aumento ou inibição da atividade de
diversas enzimas. O incremento da absorção de nutrientes proporcionado pela
presença de SH em solução tem sido justificado por um hipotético aumento da
permeabilidade da membrana plasmática (MP) por meio da ação surfactante
das SH e a ativação da H +-ATPase de MP. A ativação da H +-ATPase de MP
pode estar relacionada com o incremento da área radicular ao promover a
acidificação do apoplasto e o conseqüente aumento da plasticidade da parede
celular, possibilitando o processo de crescimento e divisão da célula vegetal.
Vários trabalhos avaliam a bioatividade das SH, principalmente das frações
solúveis em água ou de baixo peso molecular, devido acessarem mais
facilmente a membrana plasmática ou o interior da célula. Entretanto, certos
ácidos húmicos promovem o desenvolvimento vegetal numa mesma proporção,
quando não superior aos ácidos fúlvicos (substância húmica de baixo peso
molecular). Estudos realizados com SH extraídas de resíduos lignocelulósicos
como alternativa para fertilização orgânica avaliaram a germinação de
sementes de milho e o impacto no crescimento, desenvolvimento e nutrição
mineral em milhos cultivados em hidroponia. Observaram que houve um
aumento das raízes, incremento de massa seca e induziu o florescimento
precoce, aumentando o crescimento das raízes laterais ou secundárias que
apesar de menores eram mais ramificadas. Outro trabalho que aborda a
questão da bioatividade. Outras pesquisas utilizaram humatos (ácidos húmicos
associados à elementos metálicos como cálcio, magnésio e outros) de vermicomposto
de esterco de curral, avaliando seu uso sobre o desenvolvimento e metabolismo
de ATP em plântulas de alface. E na concentração de 25mg L -1 de humato
observou-se maior desenvolvimento do sistema radicular, havendo ainda maior
estímulo de hidrólise da ATPase e demonstrou ainda que as bombas de H + têm
sido utilizadas em estudos como marcadores da bioatividade das substâncias
húmicas. Outros estudos feitos pelo mesmo autor deste, com o objetivo de
avaliar a substituição de esterco por bagaço de cana e por resíduos de leguminosa
(Gliricidia sepium) e também a qualidade do vermicomposto no crescimento radicular
e atividade das bombas de H + isoladas de raízes de alface. Como resultados,
encontraram características distintas, incluindo a bioatividade para cada
tratamento, além de uma relação não esclarecida entre estrutura e bioatividade
de humatos. O tratamento que ofereceu maior estímulo no crescimento
radicular das plantas de alface foi o de esterco de curral associado a bagaço de
cana. E a inclusão de resíduos de leguminosas no processo de
vermicompostagem produziu humatos sem efeito sobre o desenvolvimento das
raízes de alface. Na grande maioria dos casos, a matéria orgânica e suas
substâncias húmicas têm mostrado um grande potencial como fertilizante orgânico,
influenciando positivamente na germinação, desenvolvimento radicular e
desenvolvimento de plantas cultiváveis e de grande importância para o mercado
agrícola. Os estudos que avaliam sua bioatividade são valiosos para entender
como todo esse processo de desenvolvimento e incremento de massa vegetal
funciona, e elucidam de forma satisfatória sua eficácia. Pesquisas para o
desenvolvimento de adubos comerciais são necessárias para que sejam
utilizados em grande escala, devido à sua facilidade de obtenção e custo baixo
de produção, tendo grande influência na economia agrícola do país.

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