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Geologia

3.1. Princípio do raciocínio geológico

A fase inicial da afirmação das Geociências foi marcada pelo confronto entre duas perspetivas
acerca da natureza dos processos geológicos, o catastrofismo e o uniformitarismo.

De acordo com o catastrofismo as alterações verificadas na Terra ao longo do tempo constituem


o resultado de eventos súbitos, de grande violência, (como os vulcões em atividade,
inundações, terramotos, …) que assumem, por vezes, um carácter global. Esses acontecimentos
eram a causa de mudanças bruscas na superfície do planeta responsáveis pela extinção em
massa de muitas das espécies. Para os catastrofistas, os fenómenos catastróficos bem como as
mudanças por eles causadas teriam de ser rápidas.
O catastrofismo foi muito influenciado pela interpretação de textos bíblicos.

James Hutton apresentou os fundamentos do uniformitarismo. De acordo com esta perspetiva,


as alterações ocorridas na superfície terrestre resultam do efeito cumulativo de fenómenos
naturais que moldam a face do planeta de maneiro uniforme, lenta e gradual (gradualismo).
Para os uniformitaristas, o conhecimento dos fenómenos que alteram a Terra ao longo do seu
passado pressupõe a observação e a compreensão dos fenómenos que se verificam que se
verificam atualmente. De acordo com esta ideia, conhecida como atualismo, o presente pode
ser entendido com “chave do passado”.

As discussões sobre as causas das extinções em massa ajudaram a reabilitar o catastrofismo,


dando origem, no atualismo, a uma corrente designada por neocatastrofismo. Esta corrente de
pensamento geológico aceita os princípios do uniformitarismo (que integra processos graduais
e contínuos), mas admite a existência de catástrofes.

Catastrofismo: - Era defendido por Cuvier.

- As mudanças que ocorrem na Terra são o resultado de fenómenos bruscos e violentos;

- Foi influenciado pela interpretação dos textos religiosos;

- As mudanças bruscas são as responsáveis pela extinção em massa de muitas espécies;

- Não ocorrem com padrões ou ciclos.

Uniformitarismo: - Proposto por Hutton;

- Levou- o a defender que as mudanças na Terra ocorrem de forma uniforme e lenta e que a
Terra possui uma idade muito superior à prevista na época;

- As mudanças geológicas são cíclicas.

O uniformitarismo inclui:

▪ Gradualismo: Os processos geológicos, tais como, a deposição de sedimentos, a erosão


e os movimentos tectónicos, ocorrem de forma lenta e gradual, durante um longo
período de tempo.
▪ Atualismo: As causas que originam as mudanças geológicos atuais são as mesmas que
atuaram no passado (o presento é chave do passado).
Em suma, o uniformitarismo, proposto por Hutton e desenvolvido e aplicado por Lyell, acabou
por transformar o modo de “fazer geologia”, pois permitiu:

1. Interpretar os fenómenos geológicos sem recurso a


2. Explicações religiosas;
3. Romper com a crença de que a dinâmica terrestre do passado foi muito diferente da do
presente;
4. Alterar a noção do tempo geológico;
5. Converter a geologia numa ciência moderna, fundamentada no raciocínio, na lógica e
na observação rigorosa;
6. Propor a existência de uma geodinâmica interna e externa.

Neocatastrofismo: - Dá um grande destaque os fenómenos catastróficos que ocorrem na


atualidade, explicando-os com uma base racional. Por exemplo: vulcanismo intenso ou impacto
meteorítico.

- Não põe em causa os processos lentos e graduais do uniformitarismo.

✓ Alterações ocorridas ao longo da história da Terra

Exemplos de alterações lentas e graduais:

▪ Acumulação de oxigénio na atmosfera;


▪ Formação de montanhas;
▪ Evolução dos seres vivos.

Exemplos de alterações bruscas e repentinas:

▪ Queda de meteoritos gigantes;


▪ Erupções vulcânicas violentas e prolongadas.

(atividades do manual – páginas 43 e 60-61)*


3.2. Mobilismo geológico: hipótese da deriva continental e a teoria da tectónica de placas

A tectónica de placas defende o mobilismo geológico, contudo, o imobilismo constituía a


perspetiva dominante sobre a superfície terrestre. Esta visão defendia que a posição dos
continentes se tinha mantido constante desde a sua formação. Alfred Wegener pôs em causa
das ideias imobilistas, ao propor a hipótese da deriva
continental.

De acordo com a hipótese da deriva continental, os


continentes atuais teriam estado unidos, formando
o supercontinente Pangeia, rodeado por um único
oceano chamado Pantalassa. Após a fragmentação
da Pangeia, os continentes ter-se-iam deslocado, ou
seja, derivado lentamente até às suas posições.

Nota: Pangeia = “Pan” – Tudo / “Geia” – Terra

A separação da Pangeia terá sido provocada pela fracturação associadas à ascensão do magma
do interior da Terra em certos pontos deste continente.

Para apoiar a hipótese da deriva continental, Wegener, apresentou um conjunto consistente de


argumentos.

Argumento Litológico: Wegener encontrou correspondência entre rochas que se encontravam


de um e do outro lado o oceano.

Argumento Morfológico: A cartografia tornou evidente que algumas margens continentais se


ajustam como as peças de um puzzle.

Argumento Paleontológico: Através do estudo dos fósseis Wegener encontrou vários


exemplares dos mesmos fósseis em continentes que, atualmente se, encontram afastados.

Argumento Paleoclimático: - Ciência que estuda os antigos climas;

- Wegener observou a existência de depósitos sedimentares, vestígios de glaciares (climas frios)


ou de carvão (climas quentes), hoje presentes em locais onde o clima não permite a sua
formação.

Todavia, a hipótese da deriva continental não foi bem aceite pela comunidade científica da
época, sobretudo devido à ausência de uma explicação satisfatória para a fragmentação da
Pangeia e para o posterior movimento dos continentes.

(atividades do manual – páginas 45-46)*

1. Qual o motor responsável pela deriva continental?

Wegener defendia que os continentes – menos densos – se deslocariam sobre os fundos


oceânicos – mais densos – flutuando de forma semelhante a icebergues. Defendia ainda que as
forças capazes de mover continentes proviriam da rotação da Terra e da atração exercida pelo
Sol e pela Lua.
Nota: Hoje a hipótese foi reformulada, à luz de novos dados da Ciência e é conhecida por Teoria
da Tectónica de Placas.

✓ Hipótese da expansão do fundo dos oceanos

Ao longo das décadas que seguiram a hipótese da deriva continental, foram recolhidas
evidências que permitiram demonstrar a mobilidade dos continentes. Antes da existência de
barcos equipados com sonar, acreditava-se que os fundos oceânicos eram planos e sem relevos
particulares.

O uso de sonares permitiu conhecer a morfologia detalhada dos fundos oceânicos. Com base
nesses dados, Harry Hess e Robert Dietz formularam a hipótese da expansão dos fundos
oceânicos. Permitiu estabelecer um modelo da morfologia dos seus fundos com cadeias
montanhosas com um vale central, fossas profundas e planícies abissais.

1. Rifte: Fratura ao longo da zona central de uma dorsal oceânica;


2. Dorsal médio-oceânica: Cadeia montanhosa submersa, que se prolonga por dezenas de
milhares de quilómetros;
3. Planície Abissal: Zonas horizontais e profundas do fundo oceânico;
4. Talude continental: Zona continental submersa com declive médio de 10o desde a
plataforma até à planície abissal;
5. Plataforma continental: Zona continental submersa com declive suave;
6. Fossa oceânica: Depressão profunda e alongada nos fundos oceânicos associada às
zonas de subducção;
7. Montes submarinos.

A expansão dos fundos oceânicos foi comprovada por estudos de paleomagnetismo baseados
nos registos magnéticos preservados nas rochas basálticas da crusta oceânica.
Paleomagnetismo

Nota: O paleomagnetismo é um campo magnético, invisível localizado na terra que faz sentir a
sua ação (ex. orientação da agulha da bússola).

2. Como será o campo magnético?

O material constituinte do núcleo externo encontra-se em movimento de rotação criando uma


corrente magnética que origina o campo magnético terrestre. O
núcleo é composto por um material condutor de eletricidade –
composição metálica.

O campo magnético terrestre muda os seus Polos Norte e Sul em


intervalos de tempo irregulares. Atualmente o Polo Norte Magnético
está próximo do Polo Norte Geográfico (polaridade normal), mas já
esteve perto do Polo Sul Geográfico (polaridade inversa).

Durante o arrefecimento do magma os minerais ferromagnetisados – magnetite – orientam-se


de acordo com a polaridade do campo magnético terrestre ficando magnetizados.

Nota: - Campo paleomagnético: campo magnético que fica registado nas rochas;

- Paleomagnetismo: Ciência que estuda os campos magnéticos terrestres.

- A direção e o sentido destes campos paleomagnéticos podem ser determinados por


magnetómetros – aparelhos que medem a sua intensidade.

O registo paleomagnético caracteriza-se pela existência de um padrão de bandas de polaridade


normal a alternar com polaridade inversa, sendo simétricas relativamente ao rifte.

O paleomagnetismo permitiu concluir que ocorre


expansão dos fundos oceânicos nos riftes localizados nas
dorsais oceânicas.

Nota: - A idade das rochas aumenta com o afastamento


do rifte;

- A espessura da camada de sedimentos no fundo


oceânico aumenta com a distância ao rifte, reforçando a
ideia crescente do fundo oceânico a partir da dorsal.

A intensidade do campo magnético em determinadas


zonas é superior à intensidade média atual, anomalia
positiva, e noutras zonas é inferior, anomalia negativa. Estes dados permitem traçar o perfil
magnético desses fundos.

(atividades do manual – páginas 49)*

A datação das rochas dos fundos oceânicos forneceu novos dados, que levaram à formulação
da hipótese da expansão dos fundos oceânicos.
Hipótese da expansão dos fundos oceânicos

A disposição simétrica das inversões de polaridade magnética registadas de ambos os lados do


rifte são perfeitamente compreensíveis, admitindo o alastramento dos fundos oceânicos a
partir dessa zona.

Hess apresentou o seu modelo que designou


por Hipótese da Expansão dos Fundos
Oceânicos – a ascensão de magma do interior
da Terra ao longo do vale de rifte forma crusta
oceânica, a qual se expande a partir da dorsal
médio-oceânica em direção às fossas
oceânicas, onde é destruída. No rifte há adição
de litosfera. Na fossa oceânica, há
subducção/destruição de litosfera.

Tectónica de placas

A superfície da Terra encontra-se dividida em dezenas de placas compostas por litosfera. A


litosfera é riga sendo constituída por crusta (continental e oceânica) e manto litosférico.

3. Qual o motor da movimentação da tectónica de placas?

Numa panela de sopa ao lume verificamos o seguinte:

▪ O calor aplicado na base da panela aquece a sopa que se expande, tornando-se


menos densa do que a sopa fria;
▪ Esta redução de densidade determina a ascensão da sopa, da base da panela para o
topo;
▪ Perto da superfície, a sopa arrefece, pelo que se contrai, ficando mais densa;
▪ Este aumento de densidade determina a sua descida para a base da panela,
completando-se e reiniciando-se este movimento cíclico.

Estes movimentos cíclicos designam-se por movimentos convectivos ou de convecção.

Correntes de convecção térmica

Pensa-se que os materiais rochosos do manto terrestre também descrevem estes


movimentos cíclicos de convecção, porém de
forma muito mais lenta, à escala de tempo
geológico (milhões de anos).

O calor interno da Terra provoca correntes de


convecção térmica na astenosfera, onde a rocha
é menos rígida, embora esteja no estado sólido.
Estas correntes arrastam consigo a litosfera,
camada rochosa mais exterior, fria e rígida. Estas
forças acabam por partir a litosfera em pedaços
– as placas litosféricas. Elas são arrastadas,
afastando-se em alguns locais e chocando
noutros locais.
O movimento das correntes de convecção na astenosfera, para um lado e para o outro do
rifte, arrasta consigo as duas placas litosféricas em direções opostas. A abertura resultante,
no rifte, é preenchida por novo basalto que se forma pela consolidação de lava que ascende
da astenosfera. Nas zonas descendentes das correntes de convecção ocorre colisão ou
podem formar-se montanhas.

Limites tectónicos:

▪ Conservativo: as placas
deslizam lateralmente;
▪ Convergente: limites
destrutivos;
▪ Divergente: limites
construtivos.

(atividades do manual – páginas 50)*

Limites divergentes: - Podem iniciar-se como um rifte intracontinental e levar à fragmentação


dos continentes, devido à atuação de forças distensivas.

- Nos estádios mais avançados ocorre formação de placa oceânica ao nível dos riftes que se
encontram nas dorsais oceânicas.

- Formam-se bacias oceânicas profundas.

Limites convergentes: - ocorre a colisão e destruição de placas litosféricas.

Nota: estes limites também são considerados “limites destrutivos”.

O comportamento das placas litosféricas na zona de convergência é determinado pela sua


densidade. Nessas zonas, verifica-se, geralmente, o afundamento da placa mais densa, ou seja,
a sua subducção, por baixo da menos densa. Na zona de colisão de duas placas continentais
ocorre formação de cadeias montanhosas, pelo facto de a sua densidade ser semelhante.

Nota: - Crusta oceânica: basalto – mais denso

- Crusta continental – granito – menos denso

▪ Limite entre placas oceânicas: a placa mais antiga – mais fria e mais densa – sofre
subducção, formando-se uma fossa oceânica. Na placa que não sofre subducção ocorre
vulcanismo, formando-se um arco insular.
Ocorrem sismos nas duas placas.

▪ Limites entre placa oceânica e continental: desta convergência resulta a subducção da


placa oceânica – mais densa – ao longo da fossa oceânica. Formação de uma cadeia
montanhosa (orogenia) com intensa atividade vulcânica, na placa continental.
Ocorrem sismos em ambas as placas.

▪ Limite entre placas continentais: a colisão de duas placas continentais resulta no


espessamento crustal e na formação de uma cadeia montanhosa (orogenia). Ocorrem
sismos em ambas as placas.
Nos limites conservativos não ocorre construção nem destruição de placas litosféricas – as
placas são sujeitas a forças de cisalhamento, deslizando naturalmente, na horizontal, uma em
relação à outra ao longo de uma falha. São comuns nas dorsais oceânicas perpendiculares ao
rifte. Nestes limites ocorre intensa atividade vulcânica.

(atividade do manual – página 52)*

Tectónica de placas – teoria global:

✓ A mobilidade das placas litosféricas tem como consequência a mudança de localização


e configuração dos continentes e oceanos ao longo do tempo.
✓ Com base nessa mudança é possível compreender as alterações climáticas, de fauna e
flora.
✓ Os fundos oceânicos são gerados ao longo das dorsais e destruídos nas zonas de
subducção, por isso são mais recentes do que as rochas dos continentes.

A tectónica de placas e o ciclo das rochas

(atividades do manual – páginas 56-57)*

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