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Biologia e Geologia 10º Ano

DOMÍNIO I – GEOLOGIA E MÉTODOS

3. Dos princípios do
raciocínio geológico à
tectónica de placas
Professora Glennda Pinheiro
3.1 Princípios do raciocínio geológico

• Desde a sua formação, há cerca de 4600 milhões de


anos que a Terra tem vindo a sofrer numerosas
transformações.
• Os geólogos, com o contributo de outras áreas da
ciência, têm procurado explicar as evoluções do nosso
planeta.

• Existem duas principais linhas de pensamento:


• uma, considera uma sucessão de acontecimentos
violentos (Catastrofismo);

• outra, considera uma sucessão tranquila de


acontecimentos (Uniformitarismo).
Catastrofismo

• Defendido por Georges Cuvier e outros cientistas do século XIX.

• As mudanças na Terra ocorrem de forma súbita e violenta,


originadas por catástrofes, podendo ter um carácter global.
• Foi influenciado pela interpretação dos textos religiosos.

• As mudanças bruscas são as responsáveis pela


extinção em massa de muitas espécies.
Uniformitarismo

Descontinuidade
• Elaborado por James Hutton, nos finais do século XVIII, Estratos ligeiramente inclinados de
estratigráfica
após observar o Siccar Point, um afloramento numa arenitos vermelhos, depositados num
antigo deserto, há cerca de 345 Ma, no
região costeira da Escócia. Devónico.
• Este afloramento levou Hutton a defender que as
mudanças na Terra ocorrem de forma uniforme e lenta e
não devido a qualquer intervenção sobrenatural.
Defendendo, ainda, que a Terra possui uma idade muito
superior à prevista na época.

• As catástrofes naturais são vistas como fenómenos


pontuais sendo incapazes de provocar as alterações na
Terra.

Estratos verticais de rochas contendo fósseis


marinhos e depositadas num oceano Siccar Point.
profundo, há cerca de 425 Ma, no Silúrico. Escócia
Charles Lyell seguidor de James Hutton também tinha uma perspetiva uniformitarista.
Uniformitarismo Ambos defendiam que As rochas ter-se-ão formado por processos físicos e químicos
semelhantes aos que existem atualmente na Natureza e as leis naturais são constantes no
tempo e no espaço, isto é, existe uniformidade nos processos e no ritmo com que eles atuam.

O Uniformitarismo engloba o Atualismo e o Gradualismo

Gradualismo Atualismo (princípio das causas atuais)


Os fenómenos geológicos ocorrem de forma lenta e gradual, Os processos que ocorrem na atualidade são os mesmo
como, por exemplo, a erosão, a deposição de sedimentos e os do passado, logo o seu estudo permite reconstituir o
movimentos tectónicos. passado.

“O presente é a chave do passado.”


Uniformitarismo

Em suma, o Uniformitarismo, proposto por Hutton e desenvolvido e aplicado por Lyell, acabou por
transformar o modo de “fazer geologia”, pois permitiu:
– interpretar os fenómenos geológicos sem recurso a explicações religiosas;
– romper com a crença de que a dinâmica terrestre do passado foi muito diferente da do presente;
– alterar a noção do tempo geológico;
– converter a geologia numa ciência moderna, fundamentada no raciocínio, na lógica e na observação
rigorosa;
– propor a existência de uma geodinâmica interna e externa.
Neocatastrofismo

• Já no século XX, deu-se um grande destaque os


fenómenos catastróficos que ocorrem na
atualidade, explicando-os com uma base
racional.

• Por exemplo: vulcanismo intenso, impacto


meteorítico, transgressões e regressões
marinhas.
• Não põe em causa os processos lentos e
graduais do uniformitarismo., mas inclui a
influência dos fenómenos catastróficos.
Correntes do pensamento geológico

Catastrofismo Uniformitarismo Neocatastrofismo

Princípio do Atualismo Geológico:


Os fenómenos geológicos, atuais e Acontecimentos súbitos e
Os fenómenos passados, ocorrem segundo as violentos também
geológicos ocorrem de mesmas leis naturais, pois estas condicionam a evolução da
forma súbita e violenta. são constantes no tempo e no Terra.
espaço.

Princípio do Gradualismo: Os
fenómenos geológicos são lentos
e graduais.
3.2. Da deriva continental à tectónica de placas

Hipótese da deriva continental

• Alfred Wegener propôs o mobilismo dos continentes no início


do século XX.
Pantalassa
• Segundo Wegener, as atuais massas continentais já estiveram
unidas num supercontinente denominado Pangeia, que se
fraturou em diversos continentes que se afastaram num
Pangeia
processo de deriva continental.
• Apoiou-se em diversos argumentos litológicos, morfológicos,
paleontológicos e paleoclimáticos para suportar a existência de
um supercontinente.
Hipótese da deriva continental

• A deriva dos continentes permitiu a sua


separação até à posição atual.

• Wegener não foi capaz de explicar o


mecanismo físico associado à deriva.

• A hipótese da deriva continental não foi


aceite pela comunidade científica da
época.
Argumentos de Wegener

Dados da cartografia
mostraram que formas de
massas continentais
Argumentos encaixam como peças de
puzzle.
morfológicos
© Fernando Correia

Semelhanças entre a origem e


formação de rochas entre
Argumentos diferentes continentes.

litológicos
© Fernando Correia
Argumentos de Wegener
O conteúdo fóssil presente
Argumentos em estratos em continentes
afastados, são uma forte
paleontológicos evidencia que estes
continentes estiveram
outrora unidos.

© Fernando Correia

Argumentos Em zonas atualmente


quentes existem vestígios
paleoclimáticos de ação de glaciares, o que
evidencia que essas regiões
teriam localizações
próximas dos polos.

© Fernando Correia
Expansão dos fundos oceânicos

• O conhecimento dos fundos oceânicos só foi


possível com o desenvolvimento tecnológico
dos sonares, após a Segunda Guerra
Mundial.

• O estudo aprofundado dos oceanos permitiu


estabelecer um modelo da morfologia dos
seus fundos com cadeias montanhosas com
um vale central, fossas profundas e planícies
abissais.
Rifte Dorsal médio-oceânica

© Nuno Farinha

Plataforma Planície abissal Fossa oceânica


continental
Montes submarinos
Talude
continental
Harry Hess procedeu ao levantamento da topografia do oceano Pacífico, tendo
obtido dados surpreendentes.

Hess apresentou informalmente, em 1959, o seu modelo que designou por


Hipótese da Expansão dos Fundos Oceânicos – a ascensão de magma do interior da Terra ao longo do vale de rifte forma crusta
oceânica, a qual se expande a partir da dorsal médio-oceânica em direção às fossas oceânicas, onde é destruída.

No rifte há acreção/adição de litosfera.


Na fossa oceânica, há subducção/destruição de litosfera.
Expansão dos fundos oceânicos

• O registo paleomagnético caracteriza-se pela


existência de um padrão de bandas de polaridade
normal a alternar com polaridade inversa, sendo
simétricas relativamente ao rifte.
• O paleomagnetismo permitiu concluir que ocorre
expansão dos fundos oceânicos nos riftes localizados
nas dorsais oceânicas.

• A idade das rochas aumenta com o afastamento ao


rifte.
Tectónica de placas
Na década de 60 do século XX, com o contributo de vários investigadores foi formulada a Teoria da Tectónica de Placas,
que integra a Hipótese da Deriva Continental de Wegener e o modelo da Expansão dos Fundos Oceânicos de Hess.
A superfície da Terra encontra-se dividida em dezenas de placas compostas por litosfera.

Crusta oceânica
Crusta continental

Manto
Litosfera litosférico
Manto
(rígida) litosférico

Manto
litosférico

Astenosfera
(plástica)
Tectónica de placas: limites divergentes

• Pode iniciar-se como um rifte intracontinental e levar


à fragmentação dos continentes, devido à atuação de
forças distensivas.

Limite construtivo
oceano-oceano

Vale de Rifte. Quénia


Limite construtivo
continente-continente
Tectónica de placas: limites divergentes
• Nos estádios mais avançados ocorre formação de placa oceânica ao nível dos riftes que se encontram nas dorsais
oceânicas.

• Formam-se bacias oceânicas profundas.


Tectónica de placas: limites convergentes

• Ocorre colisão de placas litosféricas, sendo limites destrutivos.

• As forças são compressivas.


Limite destrutivo
continente-continente

Tectónica de placas: limites convergentes

Continente-Continente

• Colisão de dois continentes, que não sofrem


subducção, pois são ambos pouco densos.
• Ocorre espessamento crustal.

• Intensa atividade sísmica em ambas as placas.


• Exemplos: Himalaias e Alpes
Limite destrutivo
oceano-continente

Tectónica de placas: limites convergentes

Continente-Oceano

• Subducção da placa oceânica mais densa.

• Forma-se uma fossa oceânica no contacto da


placa oceânica com a continental.

• Intensa atividade sísmica em ambas as placas.

• Intensa atividade vulcânica na placa continental.

• Exemplo: Andes
Limite destrutivo
oceano-oceano

Tectónica de placas: limites convergentes

Oceano-Oceano

• Subducção da placa oceânica mais antiga (mais


densa e mais fria).

• Forma-se uma fossa oceânica no contacto das


placas oceânicas.

• Intensa atividade sísmica em ambas as placas.

• Intensa atividade vulcânica na placa que não


subducta.

• Exemplos: Ilhas Aleutas e Indonésia


Tectónica de placas: limites conservativos

• Não ocorre construção nem destruição de placas litosféricas –


as placas deslizam horizontalmente.

• São comuns nas dorsais oceânicas perpendiculares ao rifte.


Tectónica de placas: limites
conservativos

• A falha de Santo André corresponde a


um limite conservativo ou
transformante.
• Nos limites conservativos ocorre
intensa atividade sísmica. Falha Santo
André
Limite conservativo
Em síntese, podemos mesmo referir que a Teoria da Tectónica de Placas associa a hipótese de Wegener à
hipótese de Hess, ao considerar que, em consequência da expansão dos fundos oceânicos, as placas
litosféricas transportam os continentes

© Fernando Correia

Fragmentação da Pangeia e Deriva Continental nos últimos 245 Ma


Numa panela de sopa ao lume verificamos o seguinte:
• o calor aplicado na base da panela aquece a sopa que se
expande, tornando-se menos densa do que a sopa fria;
• esta redução de densidade determina a ascensão da
sopa, da base da panela para o topo;
• perto da superfície, a sopa arrefece, pelo que se contrai,
ficando mais densa;
• este aumento de densidade determina a sua descida para
a base da panela, completando-se e reiniciando-se este
movimento cíclico.

Estes movimentos cíclicos designam-se por movimentos


convectivos ou de convecção. © Fernando Correia
De forma semelhante, (comparação útil para analogia, mas é necessário considerar as diferenças de composição
físico-química do manto terrestre). pensa-se que os materiais rochosos do manto terrestre também descrevem
estes movimentos cíclicos de convecção, porém de forma muito mais lenta, à escala de tempo geológico. Estes
movimentos são possíveis porque, à escala do tempo geológico, a astenosfera e a mesosfera, embora, no estado
sólido, se comportam como líquidos de alta viscosidade.

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